COLÉGIO
DIOCESANO 1951
Não
me canso de ter saudades do tempo bom e gostoso das aulas
do Colégio Diocesano, de quando podíamos, todos
os dias, sentir e ouvir a alegria de Monsenhor Osmar, a braveza
do Padre Agostinho e a terna amizade de Monsenhor Gustavo.
É de fato um momento inesquecível, de quando
cada gesto era uma lição, cada atitude uma experiência
de seres em luta e em paz com a vida. Os três juntos,
ou cada um em particular, eram para nós, meninos-rapazes,
o grau mais alto da sabedoria, a fonte inesgotável
de conhecimento, os degraus por onde alcançar a segurança
do futuro. É claro que, particularmente, um por um
tinha o seu grupo de seguidores, dependendo da esperteza ou
do grau de inteligência de cada aluno, ou mesmo da maturidade
ou falta de juízo, como podíamos encontrar nos
mais sérios como Geraldo Miranda e Nivaldo Neves, ou
nos mais afoitos como Pai da Mata e João Doido. Em
órbita havia gente de todo jeito, tipo Tereziano Dupin,
Renato Pobre, Renato Almeida, Dezinho Dias, Ivan Guedes, Lazinho
Pimenta, Raimundo Santana, José Maravilha, personalidades
marcantes que iam do folclore à poesia, do trabalho
sério à justa compenetração.
Cada dia era um novo esquema de novidades, de surpresas, uma
sensação de estarmos construindo o mundo, preparando-o
para a nossa geração e para todas as outras
que poderiam vir depois de nós. Ninguém fugia
da luta, tirar o corpo de banda, em qualquer tarefa, era um
sacrilégio. Matar aulas era pecado capital. Durante
a semana não valia nem cinema nem namoro. A ordem era
estudar! Uma únicatransgressão era permitida
e só ao Miranda, porque ele havia inovado o sistema,
inventado uma saída, namorando com a professora Lourdes,
inteligentão que era. O Dezinho Dias, já mais
velho, falava de fazendas, de vez em quando ou toda hora.
O Raimundo Santana era mais importante do que nós,
porque tinha bicicleta e tomava uísque antes das provas
de matemática. Ivan impunha grande respeito, e já
era destaque: de vez em quando jantava em restaurante, depois
do grêmio e até em dias de semana, quando ganhava
boas gorjetas
aplicando injeções. A maioria, como eu, não
tinha dinheiro nem para picolé ou quebra-queixo, e
quando muito, bebíamos caldo de cana. Cafezinho era
luxo para pouquíssimos!
Professor bom mesmo era o Pedro Santana, vibrante, grã-fino,
dominante nas cadeiras de História, Ciências
e Inglês, um terror para quem não tivesse as
matérias na ponta da língua, a capacidade de
responder, falando ou escrevendo, sem gírias. Pedro
era tão imponente, que não repetia ternos e
gravatas durante um mês, cada dia uma nova cor, hoje
um três-botões, amanhã um jaquetão,
tudo dentro do melhor figurino de Vavá ou Wilson Drumond.
O cabelo, ah! O cabelo era que merecia o maior cuidado! A
barba, de um barbear diário na barbearia de Antônio
Guedes, com massagem facial, na mesma hora em que também
estavam sentados os intelectuais Júlio de Melo Franco
e Nelson Vianna, fregueses de manhã cedinho. Errar
com Pedro ou com o Padre Agostinho - outro elegante - era
imperdoável. A nota menor que um bom aluno podia tirar
era dez. O nove era um (de)feito vergonhoso! Havia outros
professores famosos e entre eles o Tabajara, a Terezinha Pimenta,
Doutor Carlyle, Maria Inês Versiani, D. Rosita Aquino.
O professor Belizário falava latim, declamava admiravelmente,
e tinha o cabelo à Castro Alves. Em certas ocasiões,
o
bispo Dom Antônio, simples e simpático, chegava
a assistir a algumas aulas, sentado conosco, perguntando e participando,
como se não soubesse de tudo! D. Antônio, muito
querido de todos os alunos, era a maior inteligência da
época, uma cultura universal, um poder oratório
que Montes Claros nunca teve igual, nem com Simeão Ribeiro,
ou com os doutores Maurício e Georgino. Tudo era um admirável
mundo novo, principalmente para mim, que sem ternos e sem paletós
- o primeiro foi o Vadiolando Moreira que me deu - achava tudo
aquilo um sonho em realização. Maravilhosamente
encantado, sedento de aprender, nunca cedendo o primeiro lugar
a ninguém, a ninguém mesmo, uma coisa me marcou
profundamente a diretiva na vida e me tem servido constantemente
de bom exemplo: a alegria de viver de Monsenhor Osmar Novais
de Lima, nosso diretor!
HOTEL SÃO JOSÉ 1954
Sempre foi bom e importante para as minhas lembranças
o percorrer, aos poucos, a rua Doutor Santos, desde que recebi
um pedido do meu amigo Elton Jackson, também em obediência
a um esquema tempo/espaço traçado desde as minhas
primeiras crônicas sobre o centro de Montes Claros. O
meu objetivo era chegar à Rua Bocaiúva e, aí,
em atendimento a um sonho de minha amiga Nailê, fiel cobradora
de minhas lembranças de vizinho, falar de quando ela
era criança, quase menina moça, dos tempos de
nascimento do João Wlader e de Danilo. Passo a passo,
saí do Hotel São Luiz, de D. Nazareth Sobreira,
e do Bar de Adail Sarmento, no início da rua, até
chegar ao Hotel São José, de D. Laura, e depois,
de D. Emília e o inesquecível Juca de Chichico,
e do eterno gerente Geraldo. São lembranças agradáveis,
grandemente gratificantes de um jovem que alcançava a
idade adulta, já hóspede em hotel, com uma individualidade
e uma privacidade nunca antes imaginadas como morador de pensões.
No Hotel São José, cuja placa dizia ser o maior
e o melhor, ser hóspede já era um grande privilégio,
marcava, quer queira quer não, um status de matar de
inveja os estudantes de repúblicas, ou aqueles que viviam
desprezados nas casas de parentes, muitos em barracões
de fundo de quintal. Foi lá que tive, pela primeira vez,
um quarto só meu, com pia e guarda roupa, inicialmente,
no térreo, do lado de dentro do pátio, na ala
da praça Cel. Ribeiro, e, depois, no primeiro andar,
quase de frente para os dois mais importantes endereços
internos: os apartamentos de Ademar Leal Fagundes e do diretor
do DNOCS, de quem não me lembro mais o nome. Foi uma
melhoria de situação social que quase não
tinha limites, quando comprei, duas calças de tropical,
uma meia dúzia de camisas sociais, novas meias e... realização
de velho sonho, um rádio de segunda mão, rabo
quente, que tocava músicas e dava notícias todas
as manhãs. O Hotel São José era um mundo
à parte, bom, alegre, importante, chique, principalmente
depois que “seu” Juca assumiu a direção
e realizou uma grande reforma. A saudade marcada com a ausência
de D. Laura foi compensada com a elegância de D. Emília
e a descontraída presença dos filhos, principalmente
de uma menina que era a mais bonita da rua Doutor Santos, a
Mercesinha, já quase em início de namoro com o
João Walter Godoy. Zé de Juca, Lauro, Bernadete,
todos eram também bastante simpáticos com os hospedes.
A hora do jantar era quase sempre uma festa, exigindo-se a melhor
roupa de cada participante do banquete diário, uma etiqueta
fiscalizada de perto pelos garçons, principalmente pelo
Fernando, que, até hoje, trabalha
na profissão. Poucos foram os estudantes que conseguiram
a permanência no quadro de hóspedes. Um a um ia
saindo, pedindo ou recebendo as contas, depois de uma brincadeira
mais forte, ou do não respeito à posição
da gente importante e seria como era o sisudo e culto fazendeiro
Ademar Leal, o milionário Manoel Rocha, a mais graduada
figura do Exército na região, o sargento Moura,
o advogado José Carlos Antunes, que falava inglês
fluentemente, Lagoeiro,
músico chefe da regional da Rádio Sociedade, o
diretor do IBGE, e o próprio dono, seu Juca, o único
montes-clarense, na época, a ter feito uma viagem internacional
de muitos meses pela Terra Santa e pelo Mundo Antigo. Pode ser
exagero de minha parte, mas, para nós, lá era
o centro da cidade e da cultura. Bons tempos aqueles, justamente
quando iniciava atividades, já com os pés no chão,
O jornal de Montes Claros, não sei bem certo, parece-me
já com nova direção, pois o ano em que
estamos é o de 1955, quando recebi das mãos do
Waldyr Senna a presidência do Diretório dos Estudantes
e quando foi eleita a nossa rainha dos estudantes mais bonita
de todos os tempos, nenhuma outra igualada em elegância
e nobreza, nem antes nem depois: Cibele Veloso Milo!
ROTARY CLUBE MONTES CLAROS-NORTE
A primeira vez que ouvi falar do Rotary Clube Montes Claros-Norte
foi pela voz educada e amiga de Nathércio França,
no mês de março de 1969, quando ele me convidou
para fazer parte da lista de fundadores. Era Nathércio
o encarregado de tomar todas as providências para a organização
do quadro de sócios e apresenta ção
dos documentos constitutivos, assim como do levantamento das
possibilidades de serviços à comunidade pelo novo
clube. Trabalho difícil, suado, mas nunca impossível
para o dinamismo diplomático de Nathércio. A confiança
nele depositada pelo Rotary International seria muito antes
do tempo previsto, um elogiável sucesso, com o clube
oficializado já em maio, com as primeiras reuniões
no Automóvel Clube. Foi o saudoso Benoni Gomes da Mota
o presidente provisório, conhecido e reconhecido empresário
que, no dizer dos jovens repórteres da década
de cinquenta, havia sido o melhor presidente da Câmara
Municipal de Montes Claros. Éramos trinta e dois os sócios,
representantes de quase todos os campos profissionais da cidade,
hoje presentes no Clube apenas Victor Hugo Marques Pina e eu.
Lembro-me perfeitamente do zelo com que Nathércio França
ensinava aos novos companheiros toda a trajetória de
trabalho que deveríamos seguir, de forma a fazer do Rotary
Norte um modelo de integração, com todas as possibilidades
de firme prestação de serviços. O cuidado
dele em semear a boa semente era tanto, sua sincera pregação
de filantropia era tão grande, que muitos dos convidados
menos decididos preferiram afastar-se logo, nem chegando a oficializar
a admissão. O Rotary Norte teria de seguir o exemplo
de energia do Rotary Montes Claros, campeão de progresso
em todos os setores, decididamente um dos melhores clubes entre
os dois mil e quinhentos existentes no Brasil. Estava lançado
um enorme compromisso, iniciada uma entusiasmada luta. Dos velhos
companheiros do tempo de recebimento da carta constitutiva,
dos muitos que trabalharam pela afirmação do clube
na primeira fase, olho hoje a relação, e pouco
mais posso ver que uma imensa saudade. Quanta distância
o tempo tem provocado! De uns, uma eternidade: Antônio
Augusto Barbosa
Moura, José Comissário Fontes, Ricardino Francisco
Tófani e Antônio Brant Maia. Muitos como José
Carlos Pereira, Antônio Jorge, Padre Aderbal Murta e Nelson
Vilas Boas, que chegaram depois, também já frequentam
outro Rotary do mundo maior, deixando entre nós um incomensurável
vazio. De outros, que a vida ainda nos faz companheiros, inclusive
em outros Rotary Clubes, uma vontade sincera de que voltem para
o nosso convívio a cada semana, a cada dia de atividades,
com um recomeço de alegrias. Tenho certeza de que a felicidade
de ontem seria a mesma de hoje! Em 2019, o Rotary Cube de Montes
Claros - Norte completou oficialmente seus primeiros cinquenta
anos de plena atuação. Está sendo uma oportunidade
de muito relembrar, perfilando velhas histórias tão
gratas a nossos corações, muitas delas com amplitude
nacional e internacional. Que bom viver toda a tradição
rotária dos Montes Claros! Um mundo de cultura e de serviços
comunitários realizados pelo bom companheirismo de várias
gerações. Afinal, foi na Montes Claros de 1926,
o local de fundação do terceiro Rotary Clube brasileiro,
sonho de Niquinho Teixeira, que, sem dúvida, muito deu
certo.
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE MONTES
CLAROS
Depois do amor e da fome, prevalecem nas cabeças e nos
justos corações - mais do que tudo - a vontade
estética e o interesse de ser imortal.
É o ideal do artista, como pessoa e como construtor do
mundo e das existências do mundo. Proust, o autor de “La
recherche du temps perdu”, saudosista de costumes e pragmático
em acontecências, ressaltou que não haverá
- na arte ou em qualquer outro setor intelectual - realidade
mais profunda que aquela onde personalidades procuram encontrar
expressões e ações da vida. Nada mais exato,
porque a função da arte é principalmente
a de descobrir verdades e reconstituir valores da consciência
coletiva.
Por todas estas razões, escrita na terceira pessoa como
narrador, porque assim deve ser feito, começa a ser escrita
pelo primeiro presidente, Wanderlino Arruda, a história
do Instituto Histórico e Geográfico de Montes
Claros, um livro para ser lançado até junho de
2017.
“Em vinte e sete de dezembro de 2006, amigos da História,
da Geografia e do Jornalismo, convidados por Wanderlino Arruda
e Dário Teixeira Cotrim, reuniram-se para a fundação
do Instituto Histórico e Geográfico de Montes
Claros. Foi uma noite bastante agradável na residência
do anfitrião, Rua São Sebastião, Todos
os Santos. Grupo pequeno, íntimo nas vivências
intelectuais e no magistério, precisava ser pequeno,
de modo a facilitar as discussões. Todo o tempo sem formalidades,
sem anotações para ata, sem assinatura de protocolo,
mesmo se tratando de evento histórico. Vivo, mais do
que vivo o entusiasmo, principalmente para Haroldo Lívio,
hoje na Geografia máxima de uma eterna saudade. Participaram
do grupo fundador, por ordem alfabética, Amelina Chaves,
Dário Teixeira Cotrim, Gy Reis, Haroldo Lívio
de Oliveira, Juvenal Caldeira Durães, Luiz Ribeiro, Wanderlino
Arruda, Yvonne de Oliveira Silveira e Zoraide Guerra David.
Primeiramente, a exposição de Wanderlino, que
tinha um velho desejo de fundar uma academia de história,
composta por escritores, jornalistas e professores, quadro efetivo
com residentes em Montes Claros e em município do Norte
de Minas. A turma grande de Belo Horizonte e outras cidades
comporia o setor de correspondentes.
A ideia de instituição nos moldes de academia
foi apenas para esclarecimento inicial, porque em entendimentos
anteriores, o escritor Dário Teixeira Cotrim informou
estar autorizado pelo Instituto Histórico e Geográfico
de Minas Gerais a fundar, em nossa região, uma instituição
semelhante. Mais ainda: o Instituto Histórico e Geográfico
de Montes Claros poderá ter a certeza do apoio e da orientação
dos confrades de Belo Horizonte, que sugeriram um quadro de
cem associados.
Projeto aceito, a primeira providência do grupo foi indicar
a Comissão Fundadora, que ficou assim composta: Dário
Teixeira Cotrim, Haroldo Lívio de Oliveira, Luiz Ribeiro
e Wanderlino Arruda. Já nesse primeiro encontro foram
aprovados vários nomes para o início da formação
da equipe: Luiz de Paula Ferreira, Marta Verônica Vasconcelos
Leite, Petrônio Braz, Ivo das Chagas, Lázaro Francisco
Sena, Itamaury Teles de Oliveira, Hélio de Morais, Regina
Peres, Raquel Mendonça, Milene Coutinho Maurício,
Magnos Medeiros, José Geraldo Freitas Drumond, Waldyr
Sena Batista, Felicidade Patrocínio, Felicidade Tupinambá
e Luís Carlos Novais. Marcada uma nova reunião
para dez dias depois, todos seriam convidados e tanto quanto
possível a escolha da diretoria de implantação.
A escolha dos nomes dos patronos – em número de
cem - ficou a cargo de Haroldo Lívio e Wanderlino Arruda,
com aprovação final pela assembleia de fundação.
Primeira
Diretoria:
• Presidente de Honra - Dr. Luiz de Paula Ferreira
• Presidente – Dr. Wanderlino Arruda
• 1º Vice-presidente – Dr. Dário Teixeira
Cotrim
• 2º Vice-presidente – Dr. Haroldo Lívio
de Oliveira
• Diretora Executiva– Profa. Marta Verônica
Vasconcelos Leite
• Diretor-Secretário – Dr. Petrônio
Braz
• Diretor-Secretário-adjunto – Cel. Lázaro
Francisco Sena
• Diretor de Finanças – Prof. Juvenal Caldeira
Durães
• Diretor de Finanças-adjunto – Historiador
Hélio de Morais
• Diretora de Protocolo - Profa. Regina Maria Barroca
Peres
• Diretora Cultural – Profa. Raquel Veloso de Mendonça
• Diretora de Biblioteca – Escritora Amelina Chaves
• Diretora de Museu - Escritora Milene A. Coutinho Maurício
• Diretoria de Relações Públicas
-Dr. Itamaury Teles Oliveira
• Diretoria de Jornalismo - Jornalista Luiz Ribeiro
Conselho Consultivo
• Prof. José Geraldo de Freitas Drumond
• Prof. Paulo César Gonçalves de Almeida
• Profa. Yvonne de Oliveira Silveira
Comissão de História e Arqueologia
• Profa. Marta Verônica Vasconcelos Leite
• Profa. Yara Maria Soares Costa da Silveira
• Prof. César Henrique de Queiroz Porto
• Profa. Felicidade Patrocínio Comissão
de Geografia e Ecologia
• Prof. Ivo das Chagas
• Profa. Anete Marília Pereira
• Profa. Ana Ivânia Alves Fonseca
• Profa. Aparecida Costa
Comissão
de Antropologia, Etnografia e Sociologia
• Prof. Gy Reis Gomes Brito
• Profa. Cláudia Regina Almeida
Comissão de Classificação e Admissão
de Sócios
• Jornalista Paulo César Narciso Soares
• Profa. Miriam Carvalho
• Dra. Felicidade Vasconcelos Tupinambá
• Profa. Zoraide Guerra David
BANCO DO BRASIL EM MONTES CLAROS
Há muitos anos um fazendeiro já idoso, magrinho,
alegre, radiante de simpatia, sóbrio no vestir e elegante,
entrou na Agência de Montes Claros, do Banco do Brasil,
e fez uma oferta ao gerente, que deu muito o que pensar e, parece,
mudou temporariamente os destinos de muitos funcionários.
Rápido e preciso, muito prático, o homem chegou
e foi logo ao assunto: fora um dos primeiros clientes da Agência,
no início de 1932, quando precisou de um empréstimo,
e recebera tratamento excelente e imediato, o que lhe resolvera
um grave problema de família e de negócios.
-
Nunca me esqueci da confiança que o Banco do Brasil teve
em mim, naquela época em que eu era apenas remediado.
Foi uma bênção! É por isso que eu
venho oferecer-me para ajudar na festa de comemoração
dos cinquenta anos. Os senhores podem dispor do que precisar
e estiver ao meu alcance!
A visita do antigo cliente, amigo agradecido de meio século
foi o sinal de partida para a preparação do programa
de aniversário dos cinquenta anos do BB de Montes Claros.
Administração e funcionários ficaram conscientes
de que a festa teria que ser um grande evento, uma marca inesquecível
na história da cidade e da região. Afinal, sempre
fora o Banco do Brasil, em todos esses anos, a grande locomotiva
a puxar os carros do progresso nos trilhos deste sertão,
ajudando e orientando na formação de milhares
de propriedades e de negócios em todos os ramos da economia.
Na verdade, ninguém poderia prever o que seria de Montes
Claros e do Norte de Minas não fosse o Banco do Brasil,
a maior instituição brasileira desde D. João
VI, como temos costume de dizer, duzentos e muitos anos de honestidade
legítima, uma das empresas mais respeitadas do mundo.
As primeiras providências para a grande festa foram agendadas
pelo jovem gerente Itamaury Teles de Oliveira. Antigos clientes
e funcionários foram convocados para a tarefa de organização,
coleta de documentos, levantamento da história e das
estórias, relatos de alegria e gratidão de tudo
que o Banco proporcionou e recebeu. Uma história rica
de detalhes e muito dinheiro de lutas ingentes cronometradas
pelo rigor das horas e dos minutos, numa contabilidade que nunca
falhou. Podia até existir alguma instituição
tão séria quanto o Banco do Brasil, mas mais responsável
e correta nunca foi possível. O Banco tem sido o padrão,
tem sido um modelo maior do que permanece de nobreza neste País.
Como
era eu o detentor dos primeiros documentos da primeira semana
de funcionamento da Agência de Montes Claros, salvos há
uns trinta anos de um processo de incineração
de arquivo, emprestei-os para uma exposição. São
até hoje papéis preciosos também à
história da cidade, com assinaturas de Sebastião
Sobreira, Hélio Thompson (o primeiro gerente). Daniel
da Fonseca Júnior (Danielzinho de Jequitaí, foi
uma das principais personagens de Guimarães Rosa), Mário
Versiani Veloso, Godofredo Guedes, Geraldo Lourenço de
Oliveira (o primeiro recibo de salário), Levindo Dias,
José Dayrel, Genésio Tolentino e Cândido
Canela. São documentos de ordens de pagamento, cheques,
tomadas de empréstimos, depósitos (eram selados),
compra de cerveja para os operários da reforma do prédio
(Rua Governador Valadares, ao tempo, ainda Coração
de Jesus)
e reconhecimento de firmas. Tinha eu também carta do
amigo Necésio de Morais, uma memória privilegiada,
que muito esclareceu pormenores do início de funcionamento
da agência.
Em janeiro de 1990, quando foi realizada a grande comemoração
do primeiro centenário do BB, das personagens do primeiro
mês da agência só duas estavam ainda em circulação:
José Pereira de
Souza e Cândido Canela. Souza (tio do Samuel Figueira
e cunhado
de Efigênia Parrela), de cabelos mais que branquinhos,
visita Montes
Claros com grande alegria. Veio rever parentes e amigos.
FEIRA
DE ARTES DE MONTES CLAROS
Foi em 1974, numa conversa com Konstantin, que me surgiu a ideia
de uma feira de arte em Montes Claros. Feira ou exposição
ao
ar livre, numa praça, em dia de sol, todos os artistas
juntos, arte e artesanato. Uma associação organizada,
mas sem estatuto, sem presidente, sem secretário, sem
tesoureiro, sem qualquer sonho de diretoria. Todos iguais, um
ao lado do outro, sem escolha de posições. Claro
que com disciplina, mas a disciplina da amizade, do companheirismo,
da consideração, ninguém mandando em ninguém.
O que mais Konstantin pediu foi que nunca pensássemos
em registro de cartório. Tinha que ser uma sociedade
livre, para que os artistas pudessem entrar e sair sem pedir
licença. Quer participar? Quer expor? Apareça
no local e no horário, e tudo bem. Nem pensar em inscrição.
Um único cargo, nada mais do que um, apenas o coordenador,
porque pelo menos para dar informações, precisava
de alguém. Discutidos os nomes, acabei sendo este alguém.
Mas sem votação. Ele me indicou e pronto!
Não é a feira de arte a lembrança mais
antiga que tenho de Konstantin, pois amigo ele foi sempre desde
os meus tempos de estudante no Instituto Norte Mineiro, estudantes
passando na frente da casa dele, na Rua D. João Pimenta,
e ele dando conselhos, falando como irmão, uma consideração
muito carinhosa com os jovens. Lembro-me dele fazendo ilustrações
para revistas de Montes Claros e de Belo Horizonte, lá
de vez em quando colaborando com edições comemorativas
de alguma coisa pelos jornais da cidade. Lembrome dele médico
sério e famoso na Santa Casa, cirurgião do maior
respeito. Lembro-me muito da muita admiração que
as moças casadoiras tinham por ele, um rapagão
louro, de cabelos compridos sem ser demais, barba europeia ariana,
olhos claros, perfil de um possível
marinheiro viking, financeiramente já bem posicionado,
tipo de genro que toda futura sogra desejaria para a sua filha.
A
vida continua e Konstantin Christoff também continua
na história de Montes Claros. Sempre admirado, sempre
amado, um ícone das nossas artes maiores, pintura, escultura,
desenho, a cada dia mais competente, a cada temporada com mais
estudos teóricos, sabedor de tudo, estimulando jovens,
criticando velhos, sugerindo sempre. Uma enciclopédia
das artes e dos seus valores. Como era gostoso estar vendo ao
mesmo tempo Konstantin e Godofredo Guedes, no estúdio
de Godô, na Rua Rui Barbosa. Um completava o outro. Godofredo,
um clássico, põe todo academicismo que ainda é
pouco, escolha rigorosa de cores, pintura no mesmo movimento
da
escrita, da esquerda para a direita, de cima para baixo, se
hoje como uma moderna impressora colorida de computador. Godô
nunca abria mão dos detalhes, mínimos que fossem.
Konstantin, não, um revolucionário, um iconoclasta,
nada de detalhismo, nada de cores obedientes, traço rápido,
um quase simplismo brincalhão, às vezes até
puxado para a caricatura. Para Godofredo, Konstantin era um
louco genial, um anarquista. E quanto o admirava!
O tempo passa e sempre Konstantin é um vencedor. Alguém
mais do que um mestre. Uma assinatura sua é capaz de
fazer uma folha de cartolina, uma tela vazia serem consideradas
obras de arte. Um mágico fenomenal. Ontem e hoje bem
aceito. Com exposições nas cidades maiores deste
e de outros países, tornou-se um bem-visto pela imprensa
especializada. Nosso orgulho!
Agora, que você se despede de uma multidão de amigos,
uma quase infinitude de admiradores, receba o meu abraço,
de amigo e de irmão, Konstantin Christoff! Inesquecível
Konsta!
LABOR CLUBE DE MONTES CLAROS
Na opinião de Andrés Segóvia, a beleza
estética consiste essencialmente em um ato de amor entre
o artista e seu meio de criação. E é esse
sentimento que se comunica ao público quando nos momentos
de contato, este se vê diante de uma obra de arte, seja
essa um filme, uma peça teatral, uma pintura, ou texto
em livro ou na Internet. Um simples flirt ou uma concentração
profunda estabelecerá a interação entre
os dois, da qual surgirão os mais inusitados ou diferenciados
sentimentos. Na maioria das vezes, é aceitar ou não
aceitar, absorver ou não absorver, prazer ou felicidade.
Em linguagem menos nobre, é pegar ou largar...
Juventude, companheirismo e serviço; notável exercício
de cidadania, ideal de servir; ontem e hoje, muitas as lembranças
por traz dos altos e baixos dos casarios de Montes Claros. Gratas
memórias de Geralda Magela de Sena Almeida e Sousa em
que a música da jovialidade coloria um tempo de sadios
prazeres, tudo sonhos, tudo interesses no viver e conviver gostosamente.
Arquitetura de história e estórias urdidas e bordadas
em liderança inesquecível, moças e rapazes
até hoje reconhecidos por dotes de inteligência
e talento. Belezas deixadas e continuadas pelos cantos e recantos
da vida, neste século espalhadas por infinidade de territórios
da entidade chamada Brasil, quando dá gosto reviver os
tempos do Labor Clube de Montes Claros.
Foi o Labor, ao lado de outros clubes similares – Orbis,
Rotary, Lions –que deram força e coragem para o
engajamento na construção e transformação
de vários segmentos da sociedade montes-cla rense,
uma passagem linda do individual para o coletivo. Parece-me,
a primeira vez, que jovens de lares abastados descobriram que
nem todas as famílias faziam feira ou iam aos armazéns
e vendas, nem todas as crianças dispunham de livros e
materiais escolares, nem todos os idosos podiam ir às
farmácias. De uma hora para outra, apareceulhe um novo
mundo de necessidades e carências, que com um pouco de
esforça pessoal e coletivo, poderiam ser remediadas.
Pela primeira vez, o gesto solidário deixava de ser basicamente
religioso, passando para a área institucional da filantropia,
dos serviços à comunidade. A solidariedade como
dever maior, gente conhecendo gente, gente ajudando gente. A
responsabilidade passou a ser de todos com o novo espírito
do Labor.
As ricas pesquisas feitas por Geralda Magela de Sena Almeida
e Sousa vêm realmente atender o chamamento histórico
dos 150 anos de Montes Claros, que não podiam ficar restritos
a 2007, mas ter uma sequência natural falada e escrita
por todos que viveram ou estudaram a última metade do
Século XX. É assim que ocorre um importante resgate
de duas décadas, quando foram destaques além da
própria Magela, Julinha Lafetá, Rosália
Gomes, Fátima Mendes, Branca Dias Neto, Carmem Lúcia
Antunes, Marinilza Mourão, Wanda Carvalho, Lídia
e Lúcia Teixeira, Josefina Pereira, Felicidade Patrocínio,
Mabel Morais, Márcia Melo Franco, Magna Casasanta, Almerinda
Tolentino, Iranildes Cardoso, Wilma Sanches, Miriam Veloso Milo,
Zulma Ribeiro, Maninha Cardoso, Lúcia e Laíce
Arruda, Beatriz Maia, Lúcia Lopes, Beatriz Santos, Elizabeth
Brant,
Marilda Veloso, Neusa Linda e Verônica de Paula, Regina
Malveira. Como não lembrar carinhosamente das presenças
de Selda Cabral, Regina Malveira, Márcia Valadares, Ceres
Pimenta, Aparecida Costa, Alda Nogueira, Carmem Tupinambá,
Dorinha Mendes, Iolanda Fróes, Eugênia Brito, Joelita
Leão, Laurita Ruas, Maninha Cardoso, Maria Augusta, Evangelina
Miranda, Renata Brito, Raquel e Cristina Peres, Renata Brito,
Luíza Freire? E por que não registrar também
os nomes dos rapazes Giovane Santa Rosa, Paulo de Paula, Ildemar
Mendes, Antônio Carlos Amaral?
Mesmo longe das atividades do Labor e do Orbis, porque já
casado e no meu tempo de Câmara Municipal, como jornalista
sempre acompanhei as atividades dessa moçada importante
no tempo de entusiasmo que seguiu o primeiro centenário
de Montes Claros. Louvo de alma e coração o trabalho
perfeito da professora Geralda Magela, minha ilustre companheira
no Instituto Histórico e Geográfico. Sinceros
aplausos por sua minuciosa e bem-feita pesquisa, pelo registro
realmente bem redigido, importante subsídio para os que
também vierem estudar e historiar os sucessos montes-clarenses.
O livro LABOR CLUBE DE MONTES CLAROS é e será
um ícone luminoso de uma época mais do que luminosa.
Os que vão viver saberão disso!
A VOZ DO ESTUDANTE
Sob a orientação do nosso saudoso Monsenhor Osmar
de Novais Lima, órgão do Grêmio Lítero-Esportivo
“D. João Antônio Pimenta”, circulava
em agosto de 1942 no antigo Ginásio Municipal de Montes
Claros, direção de Antônio Augusto Athayde,
redação de Luiz G. Prates, o jornal A VOZ DO ESTUDANTE,
número 17 ano III, nova fase. Seis alentadas páginas,
bem impressas, feitas pelas
Oficinas Gráficas Simões, constituem, hoje, uma
gostosura de passado histórico, interessante registro
de uma época de patriótico respeito por instituições
e costumes, uma como que quase revelação de pureza
d’alma de jovens estudantes, ciosos e compenetrados na
luta por um futuro melhor.
A colaboração farta contava também com
o professor Alfredo Coutinho e, segundo me parece, com alguma
cousa do dr. João Antônio Pimenta, tal a seriedade
de conceitos, que só o velho mestre sabia imprimir. Outros
nomes, alguns ainda bem lembrados, outros esquecidos, representam,
hoje, curiosidade: Barulas Alves Reis, Vivaldo Macedo, Ione
Feitosa, Eunice Fialho, Zilca Miranda, Adelaide Barbosa, Manoel
J. G. Calaça, Antônio Franco Henriques, Célia
A. Neto, além de Geraldo G. Prates e de um misterioso
A., tudo indica ser o mesmo Antônio Augusto Athayde, autor
de outro artigo vazado em idêntico estilo e entusiasmo.
Interessante é a coluna de aniversários. Vejam
os nomes de quem naquela época já andava frequentando
ginásio: Aristides B. Braga, 1ª série; Péricles
A. Andrade, José A. Guimarães, José Braga,
2ª série; os terceiranistas eram Rosália
Pinto, José Romualdo Torres, Carlúcio Athayde;
ainda do segundo ano, Elton Rocha e Artur Fagundes Oliveira.
“A todos, principalmente ao Padre Gustavo Ferreira de
Souza, os votos de felicidades de “A VOZ DO ESTUDANTE”
– dizia a nota.
A colaboração principal parece que era mesmo a
do diretor Antônio Augusto Athayde, que ainda escrevia
o sobrenome sem o “h” e o “y”, como
o fazia também o Carlúcio, seu parente. Coisas
de garotos... Antônio Augusto tinha boa redação
e muita riqueza de adjetivos e verbos de perfeito gerúndio.
Os períodos eram longos, cheios de subordinação,
bem temperados à moda de Rui Barbosa, Castro Alves e
Padre Antônio Vieira. Seria influência de muitas
leituras? Por exemplo: “Em nossa memória tenra
ainda, períodos como os que agora atravessamos ficarão
gravados para jamais esquecermos dos tempos bons de nossa florida
adolescência – tempos que não voltam mais...”
Outro trecho: “Enquanto do alto dos céus, os raios
fulgentes do sol sertanejo banham os vastos pátios do
Ginásio...” etc.
Tempo bom, tempo ótimo, coisa linda de tempo, Antônio
Augusto! Nada mais coerente que a voz da juventude – espontânea,
pura, colorida, limpa de coração... É pena
que a realidade da vida nos tire tanta poesia e beleza. É
pena que a crueza do dia-a-dia nos tire tanto da jovialidade
dos primeiros anos de vida...
Mas, afinal, é bom ter motivo de saudades...
RUAS DE MONTES CLAROS
Vínhamos do Bairro São José para o Todos
os Santos e lá, pela altura dos fundos da Praça
de Esportes, sem ser solicitado, emiti uma instrução
para o colega João Leite, dono e motorista do carro:
“Siga em frente e entre na Rua do Marimbondo”. É
claro que ele se espantou, primeiro porque não estava
me perguntando nada, segundo, porque não sabia que danada
de rua era essa, do marimbondo. Tive de explicar: a rua mencionada
era a que ele conhecia pelo nome de Rua Altino de Freitas, aliás
Rua Cel. Altino de Freitas, um famoso delegado municipal, pai
do Deba, o mais poderoso chefe político que a cidade
já teve. Logo adiante, pedi ao João Leite para
olhar à esquerda, para que pudesse conhecer também
a Marimbondinho, até há
pouco tempo uma tremenda barra-pesada. Falei de outras ruas
depois disso, mas nem sei se o companheiro estava interessado
em dados históricos desta fermentada cidade dos Montes
Claros.
Em casa, à noite, para me instruir mais no assunto de
nomes antigo de ruas, fui em busca do auxílio de Hermes
de Paula, no seu famoso “Montes Claros, sua História,
sua Gente e seus Costumes”. Não era a primeira
vez que eu o consultara no assunto, mas esta foi muito importante,
possivelmente pela motivação de novo interesse.
Tudo bastante curioso. Por exemplo, a Rua do Marimbondo, além,
desse nome, teve também o de Costa Carvalho, de Oriente,
Xavier de Mendonça, Marquês de Paranaguá.
O Costa Carvalho foi um erro na confecção da placa,
pois a lei homenageava um dos fundadores da cidade, o Alferes
José Lopes de Carvalho. Por azar, o Lopes passou a Costa.
Hoje, isso não tem importância, porque várias
camadas de denominações soterraram o engano.
Um teste para você, leitor. Qual seria a Rua da Cagaiteira?
Quais seriam as ruas da Assembleia, do Pedregulho, do Bate-Couro,
do Pequizeiro, do Jatobá? Vejamos pela ordem estabelecida
por Doutor Hermes. A rua da Cagaiteira, também chamada
depois de Rua Sete de Setembro, é a atual Camilo Prates,
que perdeu parte desse nome para João Souto, no segmento
logo depois da Praça Cel. Ribeiro.
Da Assembleia (por causa de uma famosa reunião de boêmios)
era a Afonso Pena; do Pedregulho, chamada mais tarde de Ocidente,
Joaquim Nabuco, que hoje se chama Gonçalves Figueira;
do Bate-Couro, mais tarde Coração de Jesus, é
a atual Governador Valadares; do Pequizeiro e também
Juramento, a Rua Cel. Antônio dos Anjos; e a do Jatobá
que, em outros entretantos, foi chamada de Avenida Estrela,
claro, é a Cel. Prates, que perdeu as extremidades para
a Praça Portugal e para a Avenida Mestre Fininha, porque
hoje ela só é Cel. Prates dos fundos da Nau Catarineta
(igrejinha do Rosário) até a praça da Santa
Casa.
A rua São Francisco, bipartida para dar nome a D. Tiburtina
(depois do Automóvel Clube), chamava-se da Soledade.
A Doutor Santos era todinha Bocaiúva, antes chamada de
Floresta. A Doutor Veloso era a Rua Direita, enquanto a atual
Presidente Vargas havia passado por Rua Maria Souto e depois
Quinze de Novembro. A Praça Doutor Chaves era a Largo
da Matriz, e a Padre Augusto era a São Paulo. Por causa
da antiga Santa Casa, a Praça Doutor Carlos era o Largo
da Caridade.
O mais interessante deixei para o final. A Rua Simeão
Ribeiro, antes Rua do Comércio, era a mesma Justino Câmara
que desembocava ou começava na Rua da Raquel, que, por
sua vez, teve os nomes de General Osório e depois Padre
Teixeira, nome atual. Como nos velhos tempos montes-clarenses,
nenhuma rua tinha nome de gente (pode haver exceções
que não sei), fiquei intrigado com o nome de Raquel.
Veio em meu socorro o próprio dr. Hermes de Paula, explicando
que Raquel foi uma famosa hetaira nos bons tempos. Aí
danou tudo, tive que ir ao dicionário para ver o que
significa hetaira. Caldas Aulete, sem mais nem menos, remeteu-me
para outro vocábulo: Hetera. Aí estava a explicação:
Hetera quer dizer cortesã, mulher dissoluta na Grécia
Antiga, prostituta elegante e distinta.
Falou, dr. Hermes !...
COLÉGIO SÃO JOSÉ
Wladênia chega e me diz que a professora Neide Pimenta
quer que eu fale para seus alunos do segundo grau do Colégio
São José. O dia e a hora já estão
marcados, dependendo do meu tempo disponível. No auditório
estarão mais de cem alunos de várias turmas, tudo
indica, interessados em conhecer mais um pouco sobre Marília
de Dirceu, principalmente com relação ao conflito
de estilos de Gonzaga na sua obra mais famosa. É que
Gonzaga, como Machado de Assis o fez mais tarde, tinha por hábito
assenhorar-se das habilidades do seu século, voltando
ao passado e fazendo investidas no futuro, de modo a ser barroco,
neoclássico e um incorrigível pré-romântico.
De pronto, já sei que Neide, excelente professora de
língua e literatura portuguesas, deve ter ensinado tudo
ou quase tudo, querendo apenas um respaldo para aumentar o entusiasmo
da moçada.
Pergunto a Wladênia o tema indicado, possíveis
variantes, receptividade dos seus colegas ao assunto, gosto
deles pela literatura, relacionamento com a professora. Pergunto
mais: como a Neide tem abordado a matéria, qual o seu
ponto de vista pessoal sobre estilos de época, quais
as diferenças que ela faz de um para outro como elementos
de ênfase didática. Pergunto mais ainda: que livro
é adotado pela professora de literatura do Colégio
São José e qual a atenção que os
alunos têm dado a esse livro. Wladênia vai me informando
de tudo sobre professora e sobre os colegas de trabalho. Não
fico satisfeito completamente e peço seu caderno de anotações
em classe, pois desejo saber a ordem imposta ou sugerida pela
mestra. Ela me mostra o livro e todas as orientações
escritas. Parece muita exigência de minha parte, mas minha
experiência de antigo político me diz que devo
conhecer
todos os dados possíveis antes de enfrentar um auditório,
principalmente do São José, escola a quem tributo
legítimo respeito. Tudo em mãos, preenchidas todas
as condições, adaptado o horário, confirmo
e faço o compromisso. Inicia aí uma nova batalha,
a parte mais complicada, a busca dos elementos que possam enriquecer
os cinquenta minutos de intercâmbio com meus jovens ouvintes.
Por força de hábito profissional, Tomás
Antônio Gonzaga já esmiuçado outras tantas
vezes, ele sempre passivo nas letras dos livros, mas um fiel
orientador desde os meus muitos anos de estudos e de magistério.
Imediatamente, procuro o exemplar anotado de “Marília
de Dirceu”, a Introdução à Literatura
Brasileira, de Afrânio Coutinho, um dicionário
de literatura, um dicionário sobre deuses e heróis
do mundo greco-romano, mais uns dois compêndios escolares
de nível médio, além do manual adotado
em classe.
Está iniciada a fase de pesquisa e todas as horas disponíveis
serão ocupadas com o novo assunto. Que grande prazer
é voltar a “Marília de Dirceu”! Com
que sofreguidão me encaminhar no ritmo e na musicalidade
da lira do Gonzaga! Quão gratificante é esse trabalho-ilusão,
essa busca de poesia, essa viagem de reencontro com o que há
de mais belo na literatura de nossa língua! Ver, sentir,
compreender, acompanhar alegrias e tristezas! Analisar de perto
o amor, as tramas do apaixonado, do lírico, do quarentão
que se embeiça pela Marília, menina de somente
dezessete. Que bom!
Três dias depois, chego ao Colégio São José
para falar a um auditório de garotas e garotos quase
da idade de Marília, muitos com o mesmo tempo de vida
da jovem de Vila Rica. Eu, mais vivido que Gonzaga. Mas, com
um tema tão bonito, confesso que me senti mais novo,
bem mais, quase também um adolescente...
TIRO DE GUERRA 87
“Aprendemos não para a escola, mas para a vida”,
pensamento latino utilizado no velho Colégio Diocesano,
aulas de latim de Monsenhor Gustavo, que muito têm servido
a muitos ao longo da existência. No meu caso, realmente,
nunca estudei só para a escola, só com o objetivo
imediato de ganhar boas notas, embora uma nota mais alta cause
sempre em um adulto uma alegria quase infantil, situação
importante em qualquer fase da vida. Quero agora falar sobre
resultados, sobre alegria íntima, lembranças de
inesquecíveis tempos do Tiro de Guerra 87, espaço
de civismo do meu saudoso mestre, Sargento Moura. Idos de 1953,
turma de quase cem rapazes, todos da mesma idade, todos com
o mesmo sonho, povoando por vários meses a poeirenta
Praça da Estação, terreiro público
onde hoje a Rodoviária incomoda o formigueiro humano
que entra e saia de Montes Claros. O prédio de Tiro de
Guerra, localização privilegiada, esquina da Rua
Tiradentes com a Praça e a Rua Melo Viana, tinha grande
espaço de manobras até a estátua de Francisco
Sá, no meio de pequeno jardim, no início das outras
avenidas. Casa enorme, com salas e salões, tinha nos
fundos a moradia do Sargento Moura e um quintal onde um por
um havia de montar guarda, dividindo a segurança com
um camarada, que ficava na porta de entrada. Não havia
cadeiras; havia bancos, duros e pesadões, separados com
razoável distância para evitar cotoveladas e outros
tipos de brincadeiras tão normais entre a rapaziada.
De todos os lados, menos à direita, janelas e mais janelas,
que existem até hoje no prédio que veio alguns
anos depois, quando o TG saiu para o Bairro Edgar Pereira, mudou
de instrutor e permaneceu lá até a chegada do
55 BI. O Sargento Moura, altão, moreno, elegante, imponente,
falador sempre, era o dono incontestável do tempo e da
turma, primeira e última palavra em qualquer situação,
só humilde nas eventuais inspeções ou no
exame final do mês de outubro, quando vinha um capitão
ou um major, uma espécie de imperador ou professor-chefe,
que passava a centralizar todo o nosso interesse e cuidado.
O Sargento Moura só era muito sério nas horas
de instrução, pois extremamente exigente nas ordens
de comando. Nas outras partes do dia, quando íamos ao
Tiro para qualquer assunto, ou quando nos encontrava na rua
ou em nosso local de trabalho, era como se fosse um colega mais
velho, bondoso, amável, sempre um grande amigo, brincalhão,
a colocar a mão no ombro de cada um em tom de conselheiro.
Como bom professor, sabia de tudo, todos os assuntos eram do
seu domínio, pertenciam ao seu mundo de cultura e de
experiência humana. Dos companheiros de caserna, se podemos
chamar de caserna um local que nos segurava apenas em parte
de cada manhã e em algumas horas a mais nos domingos,
dos companheiros, temos muito que lembrar. Afinal, havia gente
de todo jeito para povoar toda um universo de lembranças,
principalmente
os mais extrovertidos que deixam marcas pela quase eternidade.
Isso para não dizer das influências e notícias
de turmas passadas e futuras que - queira ou não - surgem
e ressurgem da saudade. No meu tempo, os mais compenetrados
eram os dois Renatos, o Veloso e o Almeida, por sinal, os mais
capazes, do RDE aos exercícios de marcha e de tiro. Os
mais malandros eram o Pamplona e o Souto, os dois terrivelmente
imprevisíveis, tanto para nós como para o Sargento.
O Souto, hoje muitissimamente conhecido, gostava mais de ser
chamado de Humberto, sem o Guimarães, principalmente
depois de eleito deputado estadual e federal, depois de ser
ministro e prefeito, sem favor nenhum, um político sério,
um dos mais honestos que o Brasil
já teve. Havia os caladões, os resistentes, os
corajosos, uns que queriam aparecer, e alguns poucos bem desligados.
A maioria, com o máximo de interesse, sempre vibrantes.
Bons tempos, com tantas lembranças, que acho terei de
voltar ao assunto em outras oportunidades. De alguma forma,
fico muito grato ao bom tempo de TG, evocação
de importantes e saudáveis momentos de vida. A todas
as Semanas do Reservista, até hoje, tantos anos passados,
dedico-as à memória dos que passaram pelo inesquecível
tempo de vida militar no velho Tiro de Guerra 87. Os destaques
são sempre para o Sargento Moura e seus sucessores. E
pelo muito aprendizado e experiência! Última lembrança:
o ano era o de 1953.
RUAS E PRAÇAS DE MONTES CLAROS
Há vários caminhos para a gente saber os nomes
de ruas e praças de Montes Claros: percorrer a cidade
de ponta a ponta ou folhear o catálogo telefônico
na parte dos endereços, lendo e anotando os destaques
em negrito. Primeiramente, logradouros sem nomes, ou somente
com números, Rua 1, Rua 2, etc., até começar
pela Rua Abel Sena e terminar pela Rua Zulma Antunes Pereira,
bem no finzinho do alfabeto. Uma delícia a viagem, a
pé, de pé, assentado, dependendo do percurso escolhido
e de como fazê-lo. Na prática, não adianta
você ter pressa, porque o gostoso mesmo é ver e
sonhar frente a cada denominação, seja nome de
gente, de santo, seja de palavras que indicam pedras, metais,
flores, cidades, províncias, países e até
continentes. Há ruas e praças com títulos
de coronéis, padres, engenheiros, príncipes, deputados,
donas, irmãs, doutores. Trinta infinitos dou tores,
onze donas, cinco engenheiros. Viúvas somente duas: Viúva
Francisco Ribeiro e Viúva Paculdino, a primeira no centro,
a segunda no Jaraguá II, coisa de incrível machismo,
porque, merecendo a homenagem, deveriam ter nas placas os próprios
nomes e não os dos maridos. Dou um doce a quem encontrar
os nomes delas nas famosas
listas dos 150 x 2, da Prefeitura, e dos 300 da acadêmica
Milene. Apesar de ser normal que nomes de vias públicas
sejam de pessoas já do outro lado da vida, pelo menos
três montes-clarenses receberam homenagem em vida: Mestra
Fininha, Teófilo Pires e Hermes de Paula. Hermes chegou
a ter três ruas, mas tendo reclamado o excesso, ficou
com apenas uma. A Rua Simão Ribeiro, quarteirão
fechado, ao contrário do que muita gente pensa, não
é de Simeão Ribeiro Pires, mas de Simeão
Ribeiro dos Santos, o tio. Bem curiosos os casos de algumas
praças com nomes e apelidos: a Doutor Chaves é
praça da Matriz; a da Santa Casa é Honorato Alves;
a da Catedral é Pio XII; a da Estação é
Raul Soares; a do Automóvel Clube é a Doutor João
Alves; a Doutor Carlos que era praça do Mercado, hoje
é Doutor Carlos mesmo. Wanderley Fagundes nunca poderia
ter seu nome na
praça onde está e acabou tendo por teimosia do
seu amigo e prefeito Toninho Rebello. Ela está no centro
do bairro Todos os Santos, local de somente destacados apóstolos
e famosos figurantes do calendário da Igreja. De nada
adiantaram as reclamações à época,
porque Wanderley acabou, com justiça, canonizado por
Toninho. O Brasil tem seis ruas, Brasília e as Guianas
três. Bélgica, Bolívia, Argentina e Colômbia,
duas cada uma, além de mais algumas antecedidas pela
palavra República. A capital de estado com mais ruas
é Porto Alegre, com três, mesmo tanto que tem Lazinho
Pimenta. A flor mais homenageada é a violeta, com quatro.
Há ruas da Boa Esperança e da Boa Vista, da Sorte
e da Felicidade. Ruas com os nomes de João, José,
Maria, Nosso Senhor e Nossa Senhora, Santo e Santa são
muitas e muitas. São muitas também as começando
por Lagoa, inclusive Lagoa do Bagre e Lagoas Cabalana e Canacari,
que nem Haroldo
Lívio devia saber o que significa. Quatro ruas Esmeralda,
quatro Pedra Azul, três de Coração de Jesus,
cinco dos barões. Uma de Tu Peixoto, uma de Janete Clair,
uma de Ivete Vargas e duas de Urbino Viana. Duas do Cruzeiro,
nenhuma do Atlético. Daniel Costa já mudou duas
vezes: era praça, onde está o Shopping Mário
Ribeiro (Shopping popular), passou para o lado da Santa Casa
e depois, para ceder lugar para o Cel. Luiz Pires, foi para
o Jardim São Luiz. Dezenas de ruas têm o nome de
Francisco, Geraldo e Geralda; cinco dos índios Guaranis,
sete do governador Magalhães Pinto. Nota final, realmente
triste: Antônio Lafetá Rebello poderia ter ficado
no centro, mas foi para o Santa Lúcia II; pior para os
admirados doutores Alfeu Gonçalves de Quadros e Pedro
Santos, até o momento, zerados na lembrança cívica.
Uma pena!
MONTES CLAROS, CIDADE DA ARTE E DA CULTURA
Enquanto muitos cuidam do viver e outros cuidam do sonhar, Montes
Claros cumpre, como vem cumprindo há muitos anos, a função
de cidade da arte e da cultura, epíteto que Reginauro
Silva criou lá pelos idos de 1978, quando escreveu -
parece-me - a sua primeira peça de teatro. Isso mesmo:
Montes Claros, Cidade da Arte e da Cultura, com todos os substantivos
com iniciais maiúsculas, destaque mais do que merecido,
principalmente agora que iniciamos as comemorações
do sesquicentenário, exatamente cinquenta anos depois
do grito histórico de Hermes de Paula, quando tudo mudou
para melhor em termos de reconhecimento e progresso.
Terra de muito trabalho, de múltiplas iniciativas, marcada
a cada dia pela independência e pela ousadia, Montes Claros
é realmente uma cidade de vida e de sonhos, já
com escola para a formação de professores em fins
do Século XIX. Em 1926 teve em funcionamento a estação
ferroviária e inaugurou, com toques internacionais, o
terceiro Rotary Clube fundado no país. Pouco tempo depois,
bancos particulares, Banco do Brasil, aeroporto, telefone, difusora
de rádio, postes de luz elétrica, redes de água
e de esgotos na parte de baixo e na parte de cima, ou melhor
da Avenida Cel. Prates até o Roxo Verde, da Rua Dona
Eva até a Rua Bocaiúva, onde ensaiava e tocava
a Euterpe Montes-clarense. Daí para a criação
do Clube Montes Claros, na Rua Doutor Veloso com a Presidente
Vargas, foi um pulo.
Progresso para fazer muita inveja! Insaciável no encontro
do real e do fantástico, Montes Claros foi sempre fonte
de trabalho e estúdio de criação artística,
principalmente na poesia.
Em qualquer encontro valia um discurso, escrito ou de improviso.
Faceira, romântica, apaixonada, o suor do ganha-pão
nunca foi menor que as serenatas, o aboio dos vaqueiros, o cantarolar
de viajantes ou o sapatear do lundu. Ano após ano, muito
de coroações nas igrejas, muito de catopês,
muito de pastorinhas. Todas as cores que o folclore e a saudade
marcam direto. Quem quiser saber mais, melhor perguntar ao meu
amigo Nivaldo Maciel, que no alto dos seus oitenta e tantos,
ainda canta e aboia como ninguém. Vale todo o progresso
que chegou a partir de cinquenta. Sudene, batalhões da
Polícia e do Exército, Companhia Telefônica,
escolas de francês e de inglês, associações
e sindicatos, Corpo de Bombeiros, Lions, Elos Clube,
Academia de Letras, Parque de Exposições, jornais
diários, revistas quase mensais. De duas ruas calçadas
em 1951, o prefeito Enéas Mineiro espalhou paralelepípedos
do centro comercial até a Praça da Estação.
Depois de 1955, com a vinda da Cemig, energia elétrica
em tempo contínuo. Por esse mesmo tempo, Banco do Nordeste
para ampliação de financiamentos, curso científico
do Colégio São José para que rapazes e
moças tivessem permanência com suas famílias,
não precisando sair para estudar em outras cidades.
A partir da década de sessenta, com a fundação
da Fafil, Fadir, Famed e Fadec e a criação do
Conservatório de Artes Lorenzo Fernandez, do Automóvel
Clube, nada mais segura Montes Claros, porque o desenvolvimento
tem garantia, principalmente depois da Unimontes e mais seis
conjuntos de escolas superiores, que hoje fazem da capital do
Norte de Minas uma verdadeira cidade universitária. Que
o Instituto Histórico e Geográfico - que acabamos
de fundar - seja a fonte de todos os registros e a marca da
evolução física e humana de tudo que deveria
ter sido sonhado pelo bandeirante Antônio Gonçalves
Figueira nos idos de 1707.
FACULDADE DE DIREITO DO NORTE DE MINAS
Muitas saudades marcaram os meus cinco anos de Faculdade de
Direito, saudades em leque com todos os tipos de alegrias e
sensações de volta a um gostoso tempo de juventude.
Cinco anos: pequeno e longo período, com uma boa percentagem
o tempo de vida. Cinco anos com as preocupações
de acompanhamento de programas, estudos constantes nem que fossem
em época de provas, estágios, concursos, seminários,
um universo de atividades das quais ninguém conseguiu
escapar, bastou ter passado no vestibular e feito matrícula.
Período de amadurecimento de ideias, afirmação
do que é certo e do que é errado, do que deve
ou não deve, do que pode ou não pode ser feito
por alguém com consciência de cidadania. Cinco
anos de excelentes amizades, algumas rusgas, pintadas aqui e
ali de
desentendimentos, para depois tudo correr num oceano psicológico
de boa navegação.
Tempo
de saudades, por que não? Afinal, tem que ser muito importante,
principalmente com os colegas que são as feições
mais constantes, passageiros da mesma condução,
gente por todos os lados, uns tímidos, uns por demais
aparecidos, alguns sempre abertos em sorrisos, faladores num
humor de encantar, outros desconfiados, arredios como quem daria
um reino por um momento de silêncio ou de esquecimento.
Com os mestres, um intercâmbio menor, porque nenhum acompanhando
a turma o tempo todo, os cinco anos, alguns apenas por dois
semestres, outros parecendo fugazes cometas de passagem rápida,
em substituição aos titulares em viagens. Como
o professor é um entre muitos, da cara dele ninguém
se esquece, o
semblante fica gravado a existência inteira.
Tempo bom de Faculdade de Direito, com jovens donzelas quase
impúberes, moços no dealbar dos 18, jovens senhoras,
balzaquianas, pais de família na fase dos 30, cavalheiros
que começam a vida (a vida começa aos 40!), cinquentões,
e até um sexagenário, ora pois! Um corte bonito
no perfil social, amostra importante para crítico nenhum
botar defeito, nem antes nem depois. Quem desejar experimentar
um cadinho de esforços humanos e sobre-humanos, chegue
para perto de uma turma de universitários de Direito,
meça o
valor das partes e do conjunto, observe as reações,
sinta os dramas, pergunte sobre os compromissos para com o futuro,
penetre no mundo ideológico, intercepte entusiasmos.
Quem estiver querendo encurtar distâncias para um conhecimento
mais rápido, pergunte aos professores, que eles saberão
dizer muito pelo muito acompanhar em
cada aula.
Quatro anos e meio depois, volto à minha estimada Faculdade
de Direito, cuja fundação pude participar ativamente
em 1964, e não me contenho de contentamento ao encontrar
os mentores e amigos de quem eu tinha tantas saudades. Não
mais nas salas de aula, não mais a separação
hierárquica professor/aluno, mais ainda um respeito profundo
a cada um, consideração que nunca poderá
faltar, mestre eternamente mestre. Com que prazer, encontro
e reencontro o nobre Georgino Jorge na cadeira de diretor, solene,
respeitabilíssimo, oferecendo grandeza ao cargo, presença
visível de sabedoria mercê de muitos estudos. Emoções
ao cumprimentar, na secretaria, Raul e Cleonice; na sala dos
professores, entre muitos, os mestres Adão Múcio,
Sebastião Vieira, Danilo Borges, José Carlos,
Clídio, Noraldino, Alciliano, Castro, Álvaro,
Rita, Paulo César, Geraldo Barbosa, para dizer apenas
os que lecionaram na minha turma. Que grande falta as ausências
de doutor Mourão e do sempre mestre Simeão Ribeiro!
Valeu a pena passar por lá.
O FOLCLORE DE MONTES CLAROS
Com o terceiro artigo a respeito de Hermes de Paula e do seu
livro sobre a história de Montes Claros e de sua gente,
espero ter cumprido a obrigação de despertar muitos
de nossos leitores do JORNAL DE DOMINGO para uma necessidade
cultural de relembrar outros do vasto leque de interesse folclórico
e genealógico de que dispomos nesta velha terra de Gonçalves
Figueira. Creio que falar de Hermes de Paula, suas vivências,
seus costumes, suas gentes é o melhor caminho para a
construção do edifício histórico
de Montes Claros. É bem verdade que muita coisa ainda
deve e precisa ser escrita, no presente e no futuro, mas, mais
verdade ainda é que ninguém poderá fazê-lo
sem partir primeiro do alicerce erigido pelo mestre doutor Hermes.
Com Hermes, vemos e revemos o bumba-meu-boi, as folias de Reis,
a dança de São Gonçalo, as marujadas, os
catopés, as cavalhadas, as penitências para chover;
com Hermes, ouvimos e aplaudimos as cantigas de ninar, as rezas
e benzeduras, as cantigas de roda. Com ele, sentimos a dureza
das secas de noventa, noventa e nove, trinta e nove, o tempo
bom e o tempo brabo. Com ele, visitamos as lapas, lapinhas,
laponas, que não são poucas; vemos os gambás,
os caxinguelês, os tamanduás, os saruês.
Com ele, reconhecemos todos os tipos de madeiras das nossas
florestas tamboril-de-cheiro, violeta, sucupira, pau d’arco,
pau-de-abóbora, jacarandá-muxiba, catinga-de-porco,
candeio. No seu livro, aprendemos as virtudes de todas as nossas
plantas medicinais, entre elas a losna, a salsa, a alfavaca,
o manjericão, a quina-de-barroca e a catuaba, estas últimas,
no dizer do povo, mui valentes afrodisíacos, excepcionais
para levantar coragem.
Sobre a arruda, planta que dá sorte, diz Hermes de Paula
que é santo remédio para cólica, como chá
ou queimada na cachaça; serve como linimento usando a
folha pura; o sumo é próprio para dor de ouvido
e, no geral, atacado e varejo, é tiro-e-queda para benzer
contra
quebranto e mau-olhado. Esqueceu-se, no entanto, de dizer que
arruda, folha ou galho, evita feitiço e é um tremendo
escorregamenino, na hora de parto de qualquer mulher.
“Montes Claros, Sua História, Sua Gente e Seus
Costumes” é um repositório de ótimas
informações sobre tudo que é Montes Claros:
fundação de clubes sociais, de escolas, de hospitais,
instalação de comércio e de indústrias,
fundação de órgãos de imprensa,
movimento religioso, incêndios maiores e até informações
sobre o dia em que alguém, por aqui, chupou o primeiro
doce gelado, também chamado de picolé. Algumas
observações curiosas do livro: os jovens Antônio
Augusto Veloso e Antônio Augusto Tupinambá foram
os últimos que ganharam discursos e festas no dia da
chegada depois da formatura do curso superior. Pedro Santos,
o famoso Pedrão 70, senhor de muitas lendas, não
é de Montes Claros porque nasceu em São João
da Ponte e estudou em Ouro Preto, Juiz de Fora e Niterói.
Curioso é que Pedrão foi o maior campeão
de corridas de todos os tempos, jamais batido em duzentos, quatrocentos
e seiscentos metros, o que o levou a ser também um bom
craque do futebol nacional.
Tendo sido eu um dos colaboradores da segunda edição
do “Montes Claros Sua História, Sua Gente e Seus
Costumes”, editado pela Loja Maçônica Deus
e Liberdade, sinto-me dono de uma gratificante tarefa, contente
e bem recompensado pelo alto valor do livro. Afinal, não
é todo dia que podemos ser companheiros de páginas
de tão ilustrada companheiragem, principalmente de Hermes
de Paula, premiado com medalhas dos governos de Minas e São
Paulo e detentor da mais vasta soma de conhecimentos sobre Vital
Brasil, conferencista elogiado e aplaudido em muitas capitais,
homem do sertão e das serenatas, defensor do pequi e
do pequizeiro, intelectual e pragmático, sem dúvida
alguma, o melhor fazedor de arroz-de-tropeiro e de quentão
do mundo...
HERMES DE PAULA, A HISTÓRIA DE MONTES CLAROS
Montes Claros e Hermes de Paula, suas histórias, suas
gentes e seus costumes, que formidável grande amor! Como
sabe esta cidade gostar deste homem e como pode este homem amar
tão carinhosamente esta cidade! Para Montes Claros, Hermes
é o filho, o irmão, o companheiro, o amante, a
extremosa dedicação do pulsar constante em seu
favor o bem-amado, o sempre amado. Em toda parte, Hermes de
Paula: na medicina, na seresta, na literatura, nos serviços
comunitários, na sociedade, na história, no folclore,
em tudo. Para Hermes, Montes Claros a melhor cidade do mundo
e o encontro sagrado e existencial, plenitude de beleza, de
bem-entender, lembrança passado-presente, vivência
plena em ritmo de eternidade.
Perfeitamente definíveis o homem e o historiador, pois,
Hermes de Paula em Montes Claros nasceu e se criou, filho de
Basílio de Paula, nome de rua, e de D. Joaquina Mendonça,
nome de gente que espalhou família por um mundão
sem porteiras. Aqui estudado, aqui casado, aqui vivido. Se saiu
de Montes Claros por algum tempo, foi para fazer cursos no Colégio
Arnaldo, em Belo Horizonte, e no Granbery, em Juiz de Fora.
Dos anos morados em Niterói, para a Faculdade de Medicina
e para o estágio científico, para cá voltou
correndo logo depois de sabedor de tudo sobre cobras, soroterapia
e microbiologia, aprendido com o papa do ofidismo, Vital Brasil,
seu quase sogro.
Hermes
de Paula, um homem de sorte, formado pela inteligência,
mas também por efeito de um prêmio de loteria,
sem o que talvez não pudesse ter aqui saído ou
à Faculdade não ter chegado. Hermes de Paula foi
sempre um ativista da cultura, ligado, ligadão ao povo
de sua terra. Sanitarista do Estado, chefe do Posto de Saúde,
diretor da Santa Casa, do Instituto Antônio Teixeira de
Carvalho, da Sociedade de Proteção à Infância.
Fundador da regional da Associação Médica,
idealizador do Pentáurea Clube, do Grupo de Serestas
João Chaves, hoje nacionalmente famoso, também
ajudou na criação do Colégio São
José, do Rotary Clube Montes Claros, do Elos Clube, da
Fundação Norte Mineira de Ensino Superior, da
Faculdade de Medicina, da Academia de Letras, do Cassimiro de
Abreu e do Ateneu. Professor de muitas escolas, professor de
todas as escolas, membro da Comissão Mineira de Folclore,
do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais,
da Sociedade Brasileira de Folclore, da Sociedade Sul Americana
de Genealogia.
Foi Hermes de Paula quem fez a igrejinha do Rosário,
a nau catarineta da Praça Portugal. Foi Hermes quem inspirou
a construção da igreja do Morro do Frade, aquela
que Pedro Santos mandou fazer virada para a fábrica de
cimento. E não seria por causa de Hermes de Paula que
ainda existem catopês, marujos, caboclinhos, canjica,
paçoca, festa de São Pedro, fogueira, quentão,
licor de pequi, folclore, um tudo de tradição
de nossa Montes Claros? Será que sem ele nossa memória
poluída e industrial já não teria enterrado
todos os velhos costumes?
Um ótimo documento do seu trabalho e da sua vida, um
perfeito e representativo retrato é o livro “Montes
Claros, sua história, sua gente e seus costumes”,
que é mais do que tudo Hermes de Pau la,
Montes Claros e bom povo que a construiu. Lançado em
1957, quando o centenário da cidade, que ele “inventou”,
o livro de Hermes de Paula tem sido uma espécie de bíblia
muito sagrada para quantos estudam nossa história e nossas
estórias e desejam saber os segredos do nosso progresso.
Ler o livro de Hermes de Paula, além de aumentar grandemente
nossos conhecimentos, é, sem dúvida, uma tirada
de doces férias numa sentimental viagem pelo passado.
Uma doçura para o coração!
LOJA MAÇÔNICA DEUS E LIBERDADE
Vivo-vivo só se encontra entre nós o bom Amigo
e Mestre Professor Athos Braga. Todos os seus companheiros de
fundação da DEUS E LIBERDADE já gozaram
do direto de uma nova iniciação no Oriente Eterno,
deixando para os que vieram depois apenas a lembrança
do bom exemplo, da coragem e da fé no trabalho e no estudo.
Um a um, como tinha de acontecer, foi deixando a vida e entrando
para a história, cada qual marcando a sua participação
na Loja, assinalando uma hora importante do progresso da Oficina.
José Esteves Rodrigues, Sebastião Sobreira de
Carvalho, Álvaro Marcílio, todos, cada um a seu
modo e com a força e o prestígio que tinham. Foram
acrescentando o “algo mais” que tanto valor tem
somado à nossa Instituição aqui em Montes
Claros nestes cinquenta anos de tantas lutas e louvores da Maçonaria.
Que poderia eu dizer de setembro de mil novecentos e trinta
e dois, quando só dois anos depois eu iria nascer na
quase escondida cidadezinha
de São João do Paraíso? Quem dos leitores
poderá dizer também com conhecimento de causa,
uma história presenciada, com testemunho ocular dos que
acontecia naqueles tempos bons e difíceis? Não
acredito que seja possível falar muito de Maçonaria
sem ser maçom, uma vez que a Ordem nem sempre divulga
os seus feitos ou anuncia a sua realização, ficando,
na maioria das vezes, a mão esquerda sem saber o que
realiza a direita, como bem manda o figurino evangélico
desde os tempos apostólicos. Avessa à publicidade,
a Maçonaria é pouco vista do lado de fora, só
aparecendo o trabalho que, de forma alguma, pode ficar escondido.
Assim, muita coisa dos cinquenta anos da DEUS E LIBERDADE permanece
apenas na memória dos seus protagonistas, dos que tomaram
parte direita nos próprios acontecimentos.
Houve tempo, é certo, que nada poderia ser feito sem
passar antes pela Loja e pelo Rotary, duas reuniões semanais
que reuniam a maior parcela de liderança de Montes Claros.
Do Rotary eu sei que cada reunião me dava quase totalidade
da matéria de um jornal, nos meus tempos de repórter
convidado por João Souto e Luiz de Paula, no salão
dos jantares do velho Hotel São Luiz. Como entrecruzavam
associados das duas organizações, entre muitos
o Nozinho Figueiredo, o Henrique Baendel, o João e o
Luiz de Paula, posso concluir que a tradição de
Gentil Gonzaga e Sebastião Sobreira, maçons e
rotarianos, haveria de ser continuada num e noutro lugar, com
duplo apoio para acrescer a força de reivindicação.
Na verdade, quase nada teria realização sem que
uma palavra de ordem fosse comandada pelo movimentar dos malhetes.
A nossa tradição local de maçons continua
ainda apoiada na memória de Athos Braga, de José
Gomes, de João de Paula, de João Murça
Júnior, os mais antigos, de iniciações
mais remotas, todos na década de quarenta. Toninho Rebello,
Júlio Pereira, Hélio Athayde, Geraldo Novais,
Walter Suzart, João e Terezo Xavier e mais um punhado
de outros vieram depois de cinquenta, e contam assuntos mais
recentes bem depois da longa administração de
Chico Tófani e de Sobreira. Poucos ainda estão
aí, vindos antes de mim, eu que venho acompanhando os
fatos a partir de agosto de sessenta e três. Como eu olhava
com respeito aquele pessoal de avental vermelho, do grau dezoito,
que se assentavam mais perto do Venerável. Os do grau
trinta e três só vieram tempos mais tarde, quando
José Gomes foi ao Rio de Janeiro a chamado urgente e
foi depois um sucesso! O próprio tempo de ir igualando
os mais velhos e, pelos idos de setenta e oito também
eu cheguei ao fim da escada, ao lado de grandes amigos, entre
eles o Georgino Jorge, que chegou depois.
Muito teremos de escrever sobre a história da DEUS E
LIBERDADE. Espero que o futuro não me negue o tempo!
NOMES
DE RUAS
Ora, pois, nomes de ruas! O Haroldo Lívio, agora, trabalha
como memorialista e escreve sobre nomes de ruas de Montes Claros.
E, ainda por cima ressuscita áureos tempos políticos
de Cândido Canela! Logo sobre assunto dos mais controvertidos
da nossa equipe legislativa municipal, sem nenhuma dúvida,
o mais elevado acervo de serviços da edilidade no campo
da cultura histórica...
Haroldo começou como quem não queria nada e, de
modo muito direitinho, buscou fatos comprovados, pesquisou e
redescobriu áureas
iluminuras da lei e da autonomia popular, nos mais recônditos
escaninhos de sua privilegiada memória. Foi até
bom, porque nome de rua, que deveria ser sempre assunto sério,
pois objeto da lei e da sanção, foi tratado de
forma descontraída e açucarada. Uma espécie
de doce néctar servido por ele e por Cândido a
leitores amantes das amenidades.
É claro que o assunto, na realidade, nunca foi levado
muito ao sabor dos grandes respeitos. Um ou outro projeto de
lei, para dizer a verdade, muito poucos, tiveram o sagrado cunho
da legítima homenagem ao valor histórico do homenageado.
Dou meu testemunho, porque eu também, nos meus tempos
de Câmara Municipal, cometi alguns projetos, cujas placas
esmaltadas hoje são testemunhas em paredes várias;
muitos dos nomes provam que o açodamento na atribuição
legal nem sempre fizeram justiça ou tinham razão
de ser, não passando às vezes de ressarcimento
de dívidas eleitorais.
Das estórias mais engraçadas, nem todas foram
praticadas no recinto da Edilidade, na ordem do dia anunciada
solenemente pelo presidente dos vereadores. Algumas aconteceram
nas sociedades de amigos dos bairros, outras em bate-papos de
esquinas, algumas até em balcões de botecos depois
de boas talagadas de pinga. Muitas placas de ruas formam imaginadas
em sagrados recintos das melhores famílias, amadurecimento
de frutos de tradição e da cultura, gestos de
humana fraqueza da vaidade de uns tantos, principalmente dos
portadores de nobres sobrenomes. Os casos mais graves, os da
volúpia política ou da ânsia de homenagear
parentes, estes todos sabem, não é preciso falar.
De lado e de quebra, ficam ainda os de interesse comerciais
de donos de loteamentos, mas a gente não tem nada com
isso...
Quem
tiver boa dose de curiosidade olhe os catálogos na parte
dos endereços! Há casos incríveis, interessantes,
gostosos, que só nós, os sonhadores, podemos entender,
para quem conheça realmente a cidade, é ainda
melhor e mais gozado. Que miscelânea! Gentes, pedras,
flores, elementos químicos, cidades, santos, religiões,
um mundo genial. Gente viva, muito viva, gente que era vida
e já morreu, gente que nunca conheceu Montes Claros ou
dela ouviu falar! O mais interessante é que muitos nomes
foram modificados pelos fazedores de placas, por puro erro ou
a propósito de correção. Há nomes
nas leis que não estão nas ruas e nomes nas ruas
que não estão nas leis. Há ainda as adaptações
populares, umas por amor verdadeiro, outras por simples analogia.
Haroldo citou exemplos.
Cito, hoje, apenas o caso da Rua Monte Prano (com “r”),
no Bairro Santa Rita, pelo lado de lá dos trilhos da
central. O projeto foi apresentado a pedido de um líder,
o Rosendo, juntamente com várias outras denominações,
entre elas a da Príncipe Regente, Presidente Castelo
Branco, Monte Castelo. Todos estes nomes ficaram de acordo com
a encomenda, mas o da Monte Prano falhou e, por isso, o dr.
Raimundo Deusdará, até hoje quando me encontra,
dá uma gozeira: diz ele que o dono da fábrica
de placas achou que o vereador era analfabeto e consertou o
projeto, pondo tudo em letras bem claras – MONTE PLANO.
Acontece que a palavra é italiana e é escrita
mesmo com o “r” ...
Paciência!
O BAR GUARANI DE VADINHO
Elton Jackson ao me fazer um pedido para escrever sobre a Rua
Doutor Santos, deixou-me na liberdade de voltar ao assunto quantas
vezes forem necessárias, pelo menos até a hora
em que eu chegar na esquina do Hotel São José,
onde morei muito tempo. Na primeira crônica, como não
podia de ser, procurei avivar todas as lembranças que
marcaram a história recente do quarteirão do Hotel
São Luiz, quando ficava de um lado o Bar de Manoel Cândido
e, do outro lado, o Banco de Crédito Real, tudo muito
próximo da área dos aflitos. Fui subindo, esquina
por esquina e, agora, já estamos entre as ruas D. Pedro
II e Dom João Pimenta, pedaço de mundo que me
marcou profundamente, pois, ali passei alguns dos melhores momentos
de minha vida de estudante e comerciário, de jovem repórter
e de soldado do Tiro de Guerra, além das muitas atividades
como radialista amador e como líder estudantil no Diretório
dos Estudantes. Foi neste quarteirão que, de 1951 a 1954,
morei nas pensões de D. Ismênia Porto e D. Duca
Guimarães, levantando-me sempre pelas madrugadas para
aprender as matérias das provas do Colégio Diocesano
e do Instituto Norte Mineiro.
Era quase na esquina da Rua D. João Pimenta que ficava
o Bar Guarani, um boteco alegre e bem frequentado desde os dias
de sua fundação, pelos idos de 1950. pequeno,
de poucos metros quadrados, quase que de centímetros,
tão curtas eram as dimensões pelo lado de dentro
e pelo lado de fora. Quando passava de uns cinco fregueses,
necessário era que alguns já ficassem de pé,
no passeio, encostados ou não na parede velha e pintada
de verde. Havia umas duas mesas pequenas e algumas cadeiras
para o pessoal que gostava de jogar damas, tomando cerveja ou
bebendo pinga.
Foi
por volta de cinquenta a cinquenta e um que o Vadinho, Vadiolano
Moreira, chegou a Montes Claros, um dos poucos rapazes de Taiobeiras
que não veio para cá para estudar, mas, para ganhar
dinheiro. Renato, Murilo, Nenzinho, Dedé, Valtinho, Alfredão,
Tone, Quincas, eu, todos nós viemos para enfrentar a
realidade e os sonhos dos livros. Vadinho não. Vadinho
veio para trabalhar muito, trabalhar dia e noite, trabalhar
o quanto fosse necessário para ficar rico, se possível
muito rico. Foi assim que o Vadinho botou o olho no Bar Guarani,
simpático, gostoso, e não teve dúvida,
ali estava a primeira mina de sua vida montes-clarense.
Nunca conheci melhor comerciante que o Vadinho. Costumo dizer
que, se ele instalar um boteco, um barzinho ou mesmo um restaurante
em cima de um pé-de-mandacaru, ainda assim teria constantes
e eternos fregueses e amigos para todas as horas. É que
ele vive cada momento, participa interessadamente de todos os
assuntos, respeita reverente a alegria ou a tristeza de todos
que dele se aproximam. Quando o Vadinho comprou o Bar Guarani,
fez as primeiras mudanças, ampliou-o com mais um espaço
lateral, foi como se uma luz nova iluminasse a paisagem e iniciasse
um novo sistema vivencial para velhos e novos, pobres e ricos,
principalmente para os que gostavam de futebol e de cervejas
e batidas de limão. Por lá passavam obrigatoriamente
os hóspedes e moradores de todos os hotéis e de
todas as pensões do centro da cidade. Nenhum estudante
que se prezasse poderia deixar de ir lá pelo menos aos
sábados e domingos, antes ou depois do cinema. Uma coisa
era muito importante: na hora do futebol no rádio, nos
momentos dos gols, o Bar Guarani era o epicentro do mundo, o
lugar mais barulhento da terra.
Mas,
como sempre existe o lado contrário de tudo, o Bar Guarani
também teria de ter um fim. O seu último dia de
real movimentação foi o dia em que Vadinho o vendeu.
Vendeu-o por um preço de fazer inveja, por ser o lugar
de melhor frequência de Montes Claros. A essa altura dos
acontecimentos, Vadinho já era um fazendeiro rico!
QUARENTA ANOS DO ROTARY-NORTE
Dos quarenta anos de vida do Rotary Clube Montes Claros, em
trinta pelo menos tenho acompanhado a sua trajetória
de trabalho e de lutas em favor da cidade e da região.
Tenho seguido de perto as gerações de homens e
de mulheres da Casa da Amizade que, juntos num esforço
comum jamais negaram colaboração ao progresso.
Lembro-me muito bem da primeira vez que fui a uma reunião
rotária, no velho Hotel S. Luiz, ali onde fica a Minas
Caixa, atendendo a um convite de João Souto, que enaltecia
naquele tempo o meu trabalho de repórter deste JMC. Foi
uma surpresa ver o conteúdo de interesse daquele povo
bem vestido e bem representativo de poder de mando em todas
as classes sociais.
O Rotary Clube Montes Claros foi sempre uma organização
de invejável sobriedade, comedido como deve ser um grupo
de pessoas conscientes do seu próprio valor. Sempre houve
nele um conteúdo de nobreza, difícil de encontrar
em outro clube ou em qualquer outra entidade social ou de prestação
de serviços. Muito me tem sido útil acompanhar
o Rotary desde 1954, como jornalista ou como membro do seu quatro
social, porque Rotary foi sempre uma grande escola, em todos
os pontos de vista, que o leitor possa imaginar. É um
bom e agradável
convívio de todas as semanas, sempre com assuntos novos,
uma perspectiva de amor à humanidade, uma busca de ângulos
que projetam a paz e a concórdia entre as pessoas e as
nações.
Quando cheguei ao Rotary Clube Montes Claros, e isso era notável
para mim, porque dava notícias e comentários para
quase toda a edição do JMC – constituiu
a melhor fonte de informações fornecidas por quem
tinha autoridade de falar em nome da cidade. Como repórter
era só anotar e organizar tudo, considerando que naquele
tempo não havia a malícia e os desvios conceituais
tão próprios dos políticos de hoje. Havia
muito mais sinceridade, muito mais amor à causa pública,
sem segundos interesses e tanta vontade de ludibriar a opinião
dos menos avisados. Era uma universidade de civismo.
Agora que o Rotary Clube Montes Claros completa quase meio século
de interesse por Montes Claros, com feitos notáveis em
todos os campos, será que não poderia este JMC
fazer um levantamento do noticiário, relembrando o valor
dos homens que ajudaram a fazer a história de Montes
Claros nestas quatro décadas? Creio que seria muito bom
e de bastante interesse, além de servir de exemplo, às
novas gerações. Muita gente quer hoje ser dono
das coisas e a falta de divulgação da verdade
sempre causa transtornos e erros. Valerá a pena, não
tenho dúvidas. Mais do que uma homenagem a pioneiros
será uma boa informação, de que é
mestre e sempre foi este JMC.
“O MULO”, DE DARCY RIBEIRO
O lançamento do segundo romance de Darcy Ribeiro- “O
MULO”- na Academia Montes-clarense de Letras, numa descon
traída
noite de quinta-feira de dezembro, foi um reencontro de alegria
e de contrastes, com um amado e temido filho da terra a derramar
nos ouvidos o mel e o fel de santas heresias e virtudes. Ora
terno, doente de romantismo, saudoso filho de dona Fininha Silveira,
ora demolidor, prenhe de força belicosa, irmão
de Mário Ribeiro, ora compulsivamente criativo, primo
espiritual de Konstantin Christoff. É que Darcy Ribeiro
nasceu pouco adaptado ao modo e ao jeito dos mineiros, nunca
afeito ao silêncio, ao retraimento, mas, ao contrário,
incômodo para inteligências e sentimentos preguiçosos,
bisturi ou látego e sempre a si mesmo proclamado.
Ao contrário de Ciro dos Anjos, outro montes-clarense
famoso no mundo das Letras, este sereno, machadiano, universalista,
acomodado como um velho funcionário público, a
curtir um silêncio invisível, Darcy Ribeiro é
e afigura-se agitado, fogoso, tropicalmente brasileiro, aquecido
de alma e corpo, de lufa e de luta, instintivo, felino como
um condor. De inteligência selvagem, incontida, Darcy
raciocina como uma ventania de amor a tudo que é cultura.
Curtido primitivamente no sol e no solo do sertão de
Montes Claros, fruto teórico de ternura e de instinto,
de voluptuosa ambição de mundo. Darcy é
um caldeirão efervescente de ideias como a querer viver
em uma só vida todas as vidas. Mortal, tem pretensões
de imortalidade e imortal se fez pelos feitos multifeitos.
Bem brasileiro, latinamente apaixonado, traz na alma o Mulo
Darcy retalhos de peles de todas as cores: a cor do índio,
a cor do negro, lembranças atávicas do misticismo
dos celtas, aguerrida força de velhos godos, gosto de
mando da alma ibérica, uma noção tão
grande de espaço e de glória que só navegadores
fenícios poderiam ter impregnado o sangue de marinheiros
do velho Portugal. Tem mais: Darcy
é lúbrico como um cristão novo, fogoso
como um nômade cavaleiro árabe. Na verdade, é
um homem com a alma da raça, e não só da
portuguesa, da índia e da africana, misturadas no cadinho
brasileiro. E da raça humana, pois portador de muitas
virtudes e de muitos defeitos, um caldo bem temperado de sêmens
jorrados do chuveiro eterno, não sei porque nascido em
Montes Claros.
O MULO é esta cidade sedenta de força humanamente
parceira de Deus na distribuição da vida e da
morte; divinamente sequiosa na busca de amor, criadoramente
envolvente na caça do mando e do poder. Sensual, oportunista,
material, religiosamente mística, faminta da novidade,
sonhadora de futuro. O MULO é um pedaço de cada
criatura que viva ébria da própria terra natal,
homem ou mulher. O MULO tem muito de João Valle Maurício
na palavra e na sutileza, muito de Konstantin no arregalo da
anatomia, no desenhar das forças; muito de Crispim da
Rocha no faro do homem do mato, forte e inteligente; muito de
Filomeno na sede do ter e do governar; muito de Plínio
Ribeiro, no misticismo, no gosto do idear, no ser e não
ser da vida. O MULO é Darcy e é Mário Ribeiro,
inconsequentes
e perseverantes, sempre determinados.
O MULO, centro de uma bem romanceada trama de Realismo e Naturalismo,
barroco talvez pelos contrastes, hereditariamente marcado pelo
destino, fruto do amor e do desamor, sem peias, sem origem e
sem destino produto da terra e da carne, somos-isso é
verdade-todos nós, pequenas grandiosas criaturas no sofrer
e no gozar.
E que Deus nos perdoe. Amém!
MONTES CLAROS, SUA HISTÓRIA, SUA GENTE E SEUS COSTUMES
Permita-me continuar alguns comentários sobre o Livro
“Montes Claros, Sua História, Sua Gente e Seus
Costumes”, do nosso companheiro Hermes de Paula, o maior
amado-amante da cidade, um dos melhores, montes-clarenses de
todos os tempos. Foi, aliás, outro bom montes-clarense,
hoje ausente morando no Rio, o Newton Prates que, prefaciando
a obra na primeira edição afirmara ser o relato
histórico de Hermes de Paula um trabalho valioso, um
modelo de honestidade. “Do alvorecer aos dias atuais,
o livro é um quadro colorido, cheio de vida, um testemunho
palpitante da força criadora de gerações”.
Para ele, “o livro não é apenas de interesse
regional, é uma contribuição para o estudo
do folclore, dos usos e costumes, da marcha da civilização
no interior do Brasil”, pois, “Montes Claros é
o milagre do sertão”. “Quem nela viveu nunca
a esquecerá. Se está distante, a lembrança
da cidade querida permanecerá sempre ao seu lado carinhosa,
fiel”.
Como Newton, também o seu parente Juca Prates, famoso
pelo amor a Montes Claros, é personagem de Hermes de
Paula. Também estão no livro Gonçalves
Chaves, Honorato e João Alves, Celestino Soares da Cruz,
o Cel. Antônio dos Anjos, José Correia Machado,
Honor Sarmento, os dois xarás Simeão Ribeiro dos
Santos e Simeão Ribeiro da Silva, além do atual
Simeão Ribeiro Pires, todos ou quase todos, hoje, nomes
de ruas da cidade. Homens e mulheres foram um contínuo
desfile de trabalho e de saudade e Hermes os traz para o nosso
convívio em ameno bate-papo, lembrando velhos tempos
quando a televisão ainda não ocupava o lugar principal
em nossas horas antes de dormir.
Com
Hermes de Paula, vemos chegar a Montes Claros o primeiro “bicho
caminhão”, em 1920; ouvimos os tiros de pré-revolução
de 6 de fevereiro de 1930; vemos acender as luzes dos lampiões
de querosene, de 1912, e da usina hidrelétrica do Cel.
Francisco Ribeiro, em 1917. Aparamos águas nas bicas
do século passado e nas torneiras do século presente,
no sonho finalmente concretizado depois de 82 anos. Com ele,
assentamos os primeiros paralelepípedos, na rua 15, e
os primeiros “blockrets” na Rua Rui Barbosa e na
Praça Dr. Chaves; em 1950, com o Doutor Alpheu de Quadros;
em 1955, com João F. Pimenta; e em 1957, com Geraldo
Athayde. Com Hermes de Paula, pavimentamos até o pavimento
a que ele não quis se referir, as muitas ruas calçadas
pelo Capitão Enéas Mineiro de Souza, seu adversário
político na campanha para prefeito de 1950.
Com Hermes, ficamos sabendo de velhos nomes de logradouros públicos:
Rua do Pedregulho, atual Gonçalves Figueira, ex Joaquim
Nabuco; Rua da Assembleia, atual Afonso Pena; do Bate-Couro,
a Governador Valadares; do Pequizeiro, a Cel. Antônio
dos Anjos; Largo da Caridade, a nossa Praça Dr. Carlos;
do Urubu, a ainda velha Floriano Peixoto. É ele quem
afirma ser o esdrúxulo nome do Roxo Verde proveniente
de personagem de Alexandre Dumas da literatura francesa, etimologicamente
Rochefort. É Hermes que põe o nosso saudoso Pedro
Mendonça fundando a Malhada de Santos Reis, dividindo
as terras em lotes para evitar a solidão. É Hermes
que faz funcionar uma liga contra o alcoolismo e a faz acabar
com as licenças dos associados de goelas secas. É
ele quem põe o povo entregando um relógio de ouro
ao Dr. João Alves, depois da terrível epidemia
de gripe espanhola em 1918.
É
por isso que ninguém sabe onde é maior o amor,
se em Hermes de Paula, se em Montes Claros, uma vez que o autor
se mistura com as personagens, numa paixão de nunca acabar.
QUEM NÃO GOSTA DE MONTES CLAROS?
Montes Claros, uma cidade bonita, agradável, gostosa,
muito perto do nosso coração. Uma cidade para
a gente viver e amar, viver todos os dias e anos da vida, nos
embalos da mocidade, na idade madura e na velhice. Montes Claros,
sim, uma cidade gostosa, de muito charme, um lugar que marca
sincera saudade. Se Montes Claros fosse gente, seria, por certo,
uma mui querida namorada.
É preciso aprender a amar Montes Claros, caminhá-la
vagarosamente nas manhãs de domingo, num dia de sol bem
claro, quando as cores ganham brilho da própria felicidade
de ser. É preciso ver Montes Claros, senti-la, percebê-la
numa noite de verão, amena, fresquinha, o sentimento
das ruas mesclando com o doce calor humano dos barzinhos cheios
de viva alegria, da conversação amiga que ninguém
mais sabe fazer acontecer do que nós mineiros. Ali estão
os jovens vestidos de jeans de todas as cores, cabelos ao vento,
suas máquinas em silêncio passageiro, proseando
e sonhando sonhos de amor.
Quem não gosta de Montes Claros, de onde mais vai gostar?
– canta Nivaldo Maciel, canta Adélia Miranda, canta
João Leopoldo, cantou Clarice, que hoje, bem longe, deve
morrer de saudades. Montes Claros de Hermes de Paula, de Dulce
Sarmento; Montes Claros de todos que a veem pelo menos uma vez
na existência. Querida, admirada, jamais esquecida, ontem
e hoje muito rigor e muita ternura, sempre uma cidade de muito
amor, uma cidade toda coração.
Existe no mundo um lugar mais bonito do que a praça Dr.
Chaves, numa tarde depois de chuva? Pergunte isso a Célia
Machado Colares, pergunte a Benjamin Rego, pergunte ao meu amigo
Antônio Augusto Ataíde, que lá fica sentado
como se estivesse no meio do céu! Passe devagarzinho
pela praça Honorato Alves, entre Cândido Canela
e a Santa Casa, em frente à casa de Edgar Santos, sinta
que gostosura! Tudo um encanto: a brisa, o perfume, a sombra,
a algaravia dos passarinhos de Reivaldo! Entre na Praça
de Esportes, entre sem pressa, veja o bonito da natureza e da
juventude!
Há muitos lugares belos, isso é que há:
o bairro Jardim São Luiz e o bairro Todos os Santos estão
cobertos de verdes dos flamboyant, das espatódeas, das
bougainvilles, das acácias de intenso amarelo quase ouro.
Há lugares bonitos como a praça da Estação,
a Cel. Ribeiro, a Dr. Carlos, o Parque Municipal, a casa de
Konstantin, o sobradão do Jair Oliveira, o beco estreitinho
de João Maurício. Há o coreto, há
a velha casa de Mário Veloso, aquele mundão de
árvore de Yara e Benjamim Moura, a capelinha dos Morrinhos,
a Catedral, lá longe as Quebradas de Pedro Veloso e Arinha,
e, bem alta, a fazendinha de Ivan e Mercês.
Cidade de progresso, de poesia, de serestas, de trabalho bem
proveitoso, tem na hospitalidade a maior virtude. Montes Claros
repito, não é apenas uma cidade, é uma
declaração de amor!
SAUDADES DO MERCADÃO
Para ter saudades do velho mercadão da Praça Dr.
Carlos é preciso ter algo mais de trinta anos, uma certa
idade de jogador de futebol que já anda querendo deixar
ou ser deixado pelo clube. Gente de menos de vinte anos de Montes
Claros ou não conheceu ou não se lembra do velho
casarão, que marcou tanto a nossa vida de jovens, pois
lugar obrigatório de passagem diária ou de trabalho
e ganha-pão. Velho, sujo, defeituoso, profundamente marcado
pelos anos era, entretanto, uma construção feita
com ar de suntuosidade, grandalhona, cheia de grandes portas
e largas janelas, escura e clara ao mesmo tempo, dependendo
do ângulo de observação. Muito largo e espaçoso,
tomava conta de toda a pracinha entre as ruas Rui Barbosa e
Cel. Antônio dos Anjos, entre a São Francisco e
a Dr. Carlos, onde hoje fica o “pimentão”.
Celeiro de vida movimentada, o Mercado começava o barulho
a partir das cinco da manhã, quando cavalos, burros,
bestas e jegues de carga, resfolegando, eram amarrados nas árvores,
nas argolas e nos moirões a eles destinados pela Prefeitura.
As bruacas, os embornais, os jacás eram carregados calmamente
para as laterais do lado de fora e do lado de dentro, cada um
julgando-se dono do lugar, pela tradição ou simplesmente
porque havia chegado primeiro. Fila não existia, quando
muito uma carreira no chão, formando montinhos de maxixes,
de panãs, de pequis, saquinhos de andu, de feijão
de rama, de arroz com casca, de remédios, ou montões
de raízes de mandioca, de batatas, de melancias, de abóboras
de porco ou morangas. Era um colorido de fazer gosto, onde eram
incluídas as laranjas, o bacupari, as tangerinas, limões
verde-amarelinhos, a pimenta-de-cheiro. Havia
também barracas de lona, com toscas mesas, onde eram
vendidas as talhadas de requeijão e doce-de-cidra, pedaços
de queijo e rapadura. Normalmente, havia também um pote
com copos feitos de latas e folhas de flandres para vender moreninha
com bicarbonato, coloridas e transparentes de dar gosto! Para
não esquentar, as garrafas e os litros ficavam sempre
na sombra, assim como os copos de vidro, mergulhados numa bacia
de alumínio cheia d’água. Quando o freguês
queria beber, o vendedor tirava o copo, sacudia-o para jogar
fora as gotas de sobra e punha o bicarbonato com uma colherinha
de chá. Para despejar o refresco, subia bem a vasilha,
fazendo uma linda espuma.
Do lado de dentro, principalmente nas portas da Cel. Antônio
do Anjos e da Rui Barbosa, os vendedores de carne, com varais
e mesas engorduradas, cheias de panos de toucinho, de tripas,
de sebo e de fressuras. A carne de sol e mesmo a carne fresca
eram penduradas nos ganchos como o mais natural dos mostruários.
No chão, os ossos grandalhões, as cabeças,
os entrecostos, os mocotós, as rabadas, os miúdos
vermelho-escuros. Bonito mesmo eram os pedaços de bucho
branquinhos, bem limpos, convidativos, ao lado da carne de porco
e das passarinhas. De vez em quando, uma oferta de caça,
uma cotia, um quarto de veado, um tatu, uma zabelê ou
uma codorna. Peixe quase sempre ficava separado para não
misturar os cheiros, sendo os mais bonitos os dourados e as
pencas de lambaris, normalmente já secos e salgados.
O mais interessante, porém, era a paisagem humana, gente
de toda espécie, num vaivém de se admirar, quase
sempre numa interminável pechincha. Havia também
muitos botecos, onde a cachaça corria solta, pura ou
misturada com remédios ou folhas para dar cor mais agradável.
Lembro-me, com saudade, das vendas de Jonas Almeida e de Tiano,
parece as mais movimentadas, onde os fregueses eram atendidos
com mais amizade e podiam deixar os tarecos enquanto faziam
a ronda para encontrar vizinhos, amigos e conhecidos ou, simplesmente,
para dar uma olhada nos acontecimentos. Tudo muito familiar
como uma grande casa de parentes, onde o barulho e a algazarra
conviviam com a pressa de donas de casa que compravam as verduras
pouco antes do almoço. Será que vale a pena buscar
a marca da saudade?
RUAS DO TODOS OS SANTOS
É claro que no Bairro Todos os Santos, como o título
indica, só deve haver ruas com nomes santificados, longe
da humana intimidade, nunca sem uma necessária reverência.
Quem isso inventou foi um homem inteligente, culto e estudioso
que, por força de linha familiar, já tem garantida
em placas da rua mais central uma definitiva lembrança.
Quem criou o Todos os Santos foi Simeão Ribeiro Pires,
autor do projeto sonhador que caprichou, noites, tardes e manhãs,
no melhor da hagiografia, parte pelo prestígio dos santos,
parte por uma definida preferência pessoal. Simeão,
como Lúcio Costa, autor de Brasília, deve ter
dividido o futuro bairro com uma cruz, criando inicialmente
um ponto de apoio, uma espécie de eixos definidores:
Rua Santa Maria e Rua S. José. bem ao lado do Orfanato,
o centro nevrálgico, onde ele mesmo fez pulsar a primeira
força de construção.
As ruas que ficam na posição de acompanhamento
do rio Vieira, assim solidárias com o próprio
rumo da cidade, só teriam lugar para os santos machões,
fortes componentes da hierarquia celeste. As outras, em perpendicular,
isto é, as que vão da cidade para os rumos das
atuais Faculdades de Medicina e Direito estas seriam todas eternamente
femininas, com suaves intitulações de angélicas
figuras de mulheres: só santas teriam lugar. Assim, a
partir da futura avenida Sanitária, hoje Esteves Rodrigues,
as ruas São Roberto, São Sebastião (fui
o primeiro a nela morar), São Carlos, São José,
São Pedro, São Paulo, São João e
Santo Antônio, São Mateus, São Marcos, de
certo modo preferidos, ficaram mais para o fim, perto de São
Geraldo. São Lucas não ganhou nada. Do lado esquerdo
da Santa Maria, Santa Lúcia, Santa Bernadete, Santa Terezinha.
Do lado direito, a Santa Luzia e uma que ficou esquecida (acho
que o terreno não era da família) e mais a Santa
Cruz (esta não mulher, mas feminina) onde orgulhosamente
(no bom sentido) vivem há muito tempo D. Maria do Carmo
e Haroldo Lívio.
Quando Paulo Rodrigues Avelar ia construir sua casa, depois
da Santa Luzia, desbravando novo território, na hora
de registrar os papéis na Prefeitura, foi um deus nos
acuda, uma vez que, de oficial, só tinha o registro da
antiga fazenda Bois. Chamar um amigo vereador e pedir um projeto
lei seria motivos de grandes demoras e ainda sujeito à
sanção do Prefeito, o qual, numa primeira vez,
poderia negar a assinatura. Sem nome não poderia começar
os alicerces e muito menos as paredes. Era urgentemente necessária
uma providência de grande autoridade. E o que fazer? Chamar
o Simeão Ribeiro Pires para outra vez se debruçar
no Calendário dos Ritos? Nada disso, a solução
seria outra.
Homem prático, decidido, conhecedor profundo da natureza
tanto humana como divina, Paulo tomou uma alta decisão,
imedia tamente
deliberou. Encomendou, no mais bonito que pôde, bem esmaltada
e com letras de um intenso azul, a mais nova placa do bairro
Todos os Santos. O nome seguia na carta de pedido para a fábrica
e, com toda clareza feito a nanquim, no projeto de construção
agora entregue à Prefeitura. Era uma denominação
sonora, trissílaba, paroxítona, devidamente antecipada
pelo título de santa, como exigia o figurino. Uma justa
homenagem a quem de muito merecimento, detentora de sua mais
elevada admiração: a mãe de seus filhos,
sua esposa e companheira de lutas: D. Coqui.
E por isso que a rua é chamada de Rua Santa Clotilde.
AGOSTO DE 1953
Quando Celso Brant dedicou toda a revista “Acaiaca”
de agosto de 53 a Montes Claros, comandavam esta cidade o Capitão
Enéas Mineiro de Souza e o Coronel João Lopes
Martins, duas patentes ainda bem vivas na lembrança de
leitores mais velhos, cada uma delas com personalidade bem forte,
à moda da época, revolucionários e conservadores,
marcantes de paixão, um tanto próximos do caudilhismo
com feição regional. A Câmara Municipal,
dirigida pelo fleugmático João F. Pimenta, tinha
a respeitabilidade da década, uma saudosa coerência
de bom comportamento, fato que dos quinze cidadãos com
acento na casa, oito ainda estão aí para servirem
de testemunhas. Mas já não temos o juiz Ariosto
Guarinello, o bispo Luiz Victor Sartori, o delegado José
Coelho de Araújo, nem os colaboradores da revista padre
Agostinho Beckhauser, Nelson Vianna, Alfred Hannemann, José
Monteiro Fonseca, Neném Barbosa, Pedro Sant’Ana,
Irmã Rudolfa e os poetas Geraldo Freire e Dulce Sarmento.
Deste time, já ninguém mais para contar a história.
Todos na longa viagem da eternidade...
Com trinta e três anos passados, é bom que ainda
reste a lembrança de amigos como o professor Belisário
Gonçalves, figura e estilo tão próximos
de Castro Alves, e o repórter José Prates, o primeiro
jornalista de rua e de redação deste O JORNAL
DE MONTES CLAROS. Felizmente, bem vivos ainda, temos Felicidade
Tupinambá, João Vale Maurício, Konstantin
Christoff, Flora Pires Ramos, Luiz de Paula, Cândido Canela,
Irmã de Lourdes, Yvonne Silveira, Orestes Barbosa e Lourdes
Martins. Também, embora distantes, mas em lugares certos
e sabidos, Áflio Mendes de Aguiar, Afonso Pimenta e Feliciano
Oliveira. Todos juntos, formaram um belo corpo editorial, de
prosa e poesia e desenho, agradáveis, bem feitos, até
com um lindo toque de romantismo pelo muito amor a terra montes-clarense.
Confesso que o mais gostoso na velha revista “Acaiaca”
é o conjunto de anúncios, alguns até de
página inteira, muitos com ilustrações
interessantíssimas. Os leitores mais vividos que me digam
se estou ou não falando a verdade, se é ou não
salutar o direito de ter saudades. Quem não lembra, por
exemplo, do Big-Bar, do Salão Rex, do Assombro da Pirotécnica,
de Marcianinho Fogueteiro, da Turmalina, do Instituto de Beleza
Gilda, da Casa Paulino, da Alfaiataria Ribeiro, do Macarrão
Iracema, do Bar de Tito Versiani? Quem não tem ainda
gravados na memória nomes tão conhecidos como
Hotel São Luiz, Casa Para Todos, Construtora, Ayres Alfaiate,
Joalheria Cyma, Transportadora Armênio Veloso, Farmácia
Americana, Maternidade Santa Helena? São gratificantes
pedaços de lembranças, coloridos no tempo e nos
sonhos...
Tudo
na revista é interessante, mas o sensacional mesmo são
as fotografias feitas pela mão de mestre de José
Figueiredo Pinto, também inesquecível. Na página
infantil, retratos dos garotos Jorge Enéas e Catarina.
Nas páginas de esportes, flagrantes de momentos históricos
das atletas do Montes Claros Tênis Clube, Moema, Zembla,
Glória, Eunice, Ilza, Marlene, Shirley, Wilma, Norma
Maria, Stela, Zenaide, Clarissa, Consolação. No
bloco da educação, fotos de alunas e professoras,
do Colégio Imaculada. Como fechamento de ilustração,
bonitos exemplares das raças gir e indubrasil das fazendas
de Dominguinho Braga, Augusto Otávio Barbosa, Antônio
e Geraldo Ataíde.
Naquele tempo, o Banco do Estado de Minas Gerais ainda era chamado
de Banco Mineiro de Produção.
ALGUNS CONSTRUTORES DE MONTES CLAROS
Uma cidade é construída por muitas pessoas, com
muitas ideias, muito planejamento e um trabalho praticamente
infinito. Da primeira casa, primeira igreja, primeiro largo
ou arruamento até a limpeza pública dos bairros
mais distantes muita energia administrativa e política
teve que ser utilizada. Em múltiplos setores, pessoas
e grupos exercitaram o dia-a-dia e o processo histórico,
uns mais do que outros, dependendo – é claro –
do amor à cidade e da visão de progresso. Poderes
executivo, legislativo, judiciário, cada qual no seu
papel.
Quais os momentos e quais os destaques mais marcantes na vida
de Montes Claros? Quando, quem, o quê, quanto, como e
por quê?
Importantíssima a decisão de construir a catedral
bem depois do Largo de Cima, que é hoje a Praça
Doutor Carlos, não só pela ousadia do empreendimento
– igreja para três mil fiéis - exatamente
o mesmo número de habitantes da pequena cidade, isso
lá pelos dias de mudança do século XIX
para o XX. Pouco mais de duas décadas depois –
1926 - a chegada da Central do Brasil e a fundação
do Rotary Clube, primeiro de Montes Claros, terceiro do Brasil.
A partir de 1939, a continuação da linha de ferro
para ligar Sul e Norte, encontro de trilhos com a Nordeste do
Brasil em Monte Azul. Entre os diversos prefeitos, palmas para
o bom trabalho do dr. Alpheu Gonçalves de Quadros.
A partir de 1951, o Capitão Enéas Mineiro de Souza,
fundador de cidades, administrador notável, a cidade
que tinha apenas duas ruas calçadas de paralelepípedos:
a Presidente Vargas e a Simeão Ribeiro – teve todo
o seu centro vital pavimentado, poeira acabada até a
Rua Barão do Branco. Comemoração do Centenário,
a cidade ganha alma nova, respondendo ao chamado do historiador
Hermes de Paula, prefeitura, industriais, comerciantes, fazendeiros,
gente do povo – todo mundo trabalhando a todo vapor. Calçamentos
de blockret, abertura da Avenida Geraldo Athayde, trabalho para
inaugurar o Parque João Athayde com o grande formato
da exposição agropecuária, que perdura
até hoje. A partir de 1966, a maior revolução
administrativa, quando assumiu o prefeito Antônio Lafetá
Rebelo, candidato único e sem compromissos políticos
partidários, o que lhe oportunidade de expandir a cidade
em todas as dimensões, com a construção
do Parque Municipal, da Rodoviária, da Avenida Plínio
Ribeiro, Avenida João XXIII, e mais do que tudo da Avenida
Esteves Rodrigues, a espinha dorsal do novo projeto urbano.
Com Toninho
(dois mandatos), tivemos o incentivo à inteligência
e à arte, com o que ele considerava um presente, o até
hoje moderno Centro Cultural, na Praça da Matriz.
João F. Pimenta, Simeão Ribeiro Pires, Pedro Santos,
Moacir Lopes, Luiz Tadeu Leite, Mário Ribeiro, Athos
Avelino Pereira e até os substitutos de curta duração,
José Maia Sobrinho, João Melo, Ivany Pereira,
Iran Rego, Cristina Pereira, como presidentes da Câmara
ou como vice-prefeitos, todos tiveram os seus momentos de considerável
trabalho para o desenvolvimento da cidade. Simeão merece
louvor pela visão cultural, pela ajuda à fundação
do Conservatório Lorenzo Fernandes, pela fixação
de normas para a construções de casas e de prédios,
a melhor delas o afastamento de três metros do alinhamento
das ruas e as distâncias entre uma construção
e outro. Luiz Tadeu Leite com a cobertura de grande parte da
Avenida Esteves Rodrigues, de grande efeito urbanístico,
a construção do prédio da prefeitura, o
ginásio poliesportivo, muito de pavimentação
dos bairros. Mário Ribeiro com a construção
da maior parte da Avenida Sidney Chaves e a abertura para o
que hoje é chamada de administração solidária.
Notável a administração de Jairo Athayde,
com grandes feitos, entre os mais importantes a Avenida José
Correia Machado. Athos Avelino Pereira realizou muito e muito
no centro da cidade e deixou em grande parte implantada um bom
número de avenidas sanitárias, embora passíveis
ainda de acabamento. Uma marca especialíssima é
a de Ivany Pereira: foi ele que assinou o convênio para
a vinda da Copasa, em substituição à Caemc
e à Caene, já defasadas para a situação
da sua época. Ele atendeu a uma reivindicação
de representantes da Loja Maçônica Deus e Liberdade
e dos Rotary Clubes de Montes Claros, de que eu tenho uma lembrança
perfeita, porque deles fiz parte.
Mas
nem só de prefeitos vive uma cidade. Com o pedido de
perdão por algum esquecimento, temos que agradecer muito
as lideranças culturais e práticas de Plínio
Ribeiro, José Esteves Rodrigues, Dulce Sarmento, Artur
Jardim de Castro Gomes, Sebastião Sobreira, João
Chaves, Athos Braga, José Gomes de Oliveira, Geraldo,
João Alencar e Antônio Augusto Athayde, Osmane
e Neném Barbosa, Nozinho Figueiredo, Francolino Santos,
Georgino Jorge de Souza, Antônio Loureiro Ramos, João
Vale Maurício, Júlio de Melo e Franco, Carlos
Gomes da Mota, Valdeir Correia, Olyntho e Yvonne Silveira, Luiz
de Paula Ferreira, Maria Luiza Silveira, Fábio Lafetá
Rebello, Marina Lorenzo Fernandez, João Bosco Martins
de Abreu, Jamil Cury, Alexandre Pires Ramos, Raimundo Nonato
de Freitas Júnior, Sérgio Quadros, Gilson Caldeira,
entre muitos. Permita-me terminar dando um parecer muito pessoal,
porque sempre achei que a melhor apresentação
da sociedade Montes clarense é devida ao trabalho da
imprensa, entre os redatores Waldir Sena Batista e Décio
Gonçalves, e entre colunistas o trabalho magnificamente
iniciado por Lazinho Pimenta, Theodomiro Paulino e Magnus Medeiros.
E que Deus nos proteja!
LEMBRANÇAS DA RUA QUINZE
Dentro do possível, tenho procurado escrever sobre pessoas
e fatos ligados à recente história de Montes Claros,
com os acontecimentos e os lugares de alguma forma jungidos
à minha própria experiência. Isso, nos últimos
quase trinta e seis anos, desde a noite em que cheguei de Taiobeiras
na boleia do caminhão de Dudu Cunha e fiquei
hospedado na Pensão de Dona Ismênia, ali pertinho
de onde fica hoje o posto de Antônio Barreto, na Praça
de Esportes. A primeira aventura foi exatamente no dia da chegada,
quando, para marcar o terreno, percorri cautelosamente alguns
pedaços de ruas, indo e voltando atrás para não
correr o perigo de me perder e ficar, depois, envergonhado.
Nesse vai-e-vem, o mais longe que fui foi até o Restaurante
do Valério, na Simeão Ribeiro, onde paguei vinte
e cinco cruzeiros por um jantar, um preço tão
caro para aquela época, que me expulsou por muitos anos
de qualquer casa de pasto mais grã-fina.
À Rua Quinze não consegui chegar, naturalmente
intimidado pela clareza das luzes, pelo pessoal desinibido,
bem vestido, gesticulante, demasiadamente alegre, que eu podia
reparar de longe. Passear por lá, no primeiro dia de
Montes Claros, seria uma façanha fora de pretensão
para quem chegava com roupas feitas por alfaiate de província
pobre e sapatos com excesso de meias-solas. Não dava,
não dava mesmo! Por isso, deixei para o dia seguinte,
no horário de trabalho, que aí a cidade é
de todo mundo e a beleza das pessoas causa menos impacto, sem
os perfumes, sem a performance dos momentos de ócio,
sem o burburinho das horas de passeio. A Rua Quinze que eu vi,
pela manhã, era uma rua bem diferente, bem mais vazia,
embora ainda tivesse muita gente despreocupada a discutir política
e futebol, a seguir, com olhos cobiçosos, uniformizadas
donzelas de longas saias azuis e cabelos de tranças.
Foi depois de contar estórias da vida na Rua Quinze,
que tive a grata alegria de receber uma carta do meu colega
e amigo Nicomedes Almeida Teixeira, ministro-chefe da Secretaria
da Fadec, companheiro de muitas lutas na Fafil, em quatro longos
anos do Curso de Letras, quando frequentou minhas aulas de português
e de linguís tica.
Se a lembrança dos meus dias de Rua Quinze era um gostoso
desfiar de saudades, a carta do Nicó me veio trazer uma
suave afirmação de compromisso com o passado,
uma certeza de que nenhum ato de nossa vida, simples ou sem
importância, passa esquecido ou desfigurado de valor,
sem o mérito do ter acontecido. Não vou interpretar
a correspondência do meu intérprete. Passo-a ao
leitor assim como chegou às minhas mãos. Tem o
gosto de um grande amor a Montes Claros e ao tempo de nossa
mocidade.
“Amigo Wanderlino, ao ler o seu artigo publicado, no domingo
último, intitulado “Rua Quinze”, não
pude deixar de me envolver em uma onda nostálgica, pois
ali passei boa parte de minha infância. Em fins de 1951,
meu pai comprou, em sociedade com mais dois irmãos, o
Big-Bar, ponto de encontro obrigatório para os boêmios
da época. Ali passei momentos marcantes em minha vida,
discutindo futebol, convivendo com os artistas de rádio
trazidos à cidade pelo Airton Serpa, vendo os cartazes
de cinema colocados na calçada da loja de “seu”
Ramos. Embora criança, vivia o movimento noturno da Rua
Quinze, auxiliando meu pai no bar, ou frequentando o salão
de sinuca do Tio Hélio (não havia ainda rigor
no policiamento a menores).
Tempo bom que me voltou à memória graças
a você. Você se lembra do Bolo Esportivo, do Serpa?
Dos bailes de carnaval do “Clube dos Bancários?”
Quando o “footing” da Rua Quinze acabou, foi com
se apagassem as luzes de uma parte da cidade. Os outros “footings”
nunca foram os mesmos (ou será que foram as luzes de
minha infância que se apagaram, em parte?). De toda forma,
o seu artigo me fez reviver esse tempo, tempo bom! Obrigado”.
E você, leitor, está com saudades também?
Nunca houve tempo melhor!
CARMELO E O GRUPO LISIEUX
Em quatro décadas, o Grupo Lisieux, fundado em 1976,
recebeu e foi mantido por gente realmente ilustre, braço
direito do Carmelo Maria Mãe da Igreja e Paulo VI. A
primeira reunião foi realizada no Palácio Episcopal,
presenças de Dom José Alves Trindade e das Irmãs
Maria Margarida do Coração de Jesus, priora do
Carmelo de Belo Horizonte; de Maria Angélica da Eucaristia
e Ana Letícia do Coração de Jesus, além
de uma dezena de mulheres arrojadas, gente boa da sociedade
montes-clarense.
O nome escolhido para o Grupo Lisieux foi sugerido por Ruth
Mota, como homenagem à terra natal da Carmelita Santa
Teresinha do Menino Jesus. Santa Teresinha de Lisieux, ou Teresa
Martin, nasceu em dois de janeiro de 1873, em Alençon,
Normandia, norte da França. Nome de batismo: Marie Françoise
Thérése Martin.
A filosofia do Grupo Lisieux é a mesma do Rotary International:
“Dar de si antes de pensar em si”, uma pérola
de citação que merece uma reflexão mais
apurada de todos que pensam e agem no bem.
Com quarenta anos de trabalho e muita confraternização,
o Carmelo Maria Mãe da Igreja e Paulo VI, de Montes Claros,
tem em sua direção a nossa ilustre amiga e companheira
Lili Brant Penido. Em nome dela, nós cumprimentamos todas
as confreiras do egrégio sodalício.
A Ordem se liga, no Antigo Testamento, ao Profeta Elias, que
residia numa gruta do Monte Carmelo, na Palestina. Ao longo
dos séculos, este grupo de contemplativos atravessou
oceanos e se estendeu pelo mundo inteiro. A finalidade do Carmelo
é atrair do céu as graças, através
da oração contínua e do sacrifício
material ou espiritual.
As carmelitas, em número de sete, vieram dos Carmelos
de Belo Horizonte e de Três Pontas para construir a primeira
comunidade montes-clarense. A Priora foi Madre Maria Angélica
da Eucaristia, uma querida montes-clarense. A espiritualidade
das Irmãs Carmelitas encontra em Maria Santíssima
o modelo especial de oração e de trabalho.
E quando em 1976 surgiu a intenção de se fundar
em Montes Claros um mosteiro da Ordem Contemplativa das Carmelitas,
tornou-se necessário um Grupo de Apoio que divulgasse
a ideia e trabalhasse na comunidade pela concretização
do Carmelo. Assim, a primeira reunião foi no dia 23 de
junho, contou com o entusiasmo de Dom José Alves Trindade,
tendo nele - um homem de reconhecida bondade - o incentivo natural,
com a sinceridade de quem muito amava comunidade de Montes Claros.
Daí a ajuda sincera às senhoras Hilda Athayde,
Terezinha Gomes Pires, Neuza Athayde, Geralda, Wilma e Terezinha
Reis, as primeiras a colocar o máximo de esforço
na implantação. Muito importante foi contar com
a ajuda e orientação do Padre Henrique Munaiz.
O Grupo Lisieux conta com cerca de quarenta participantes e
inúmeras simpatizantes, senhoras de várias atividades
e setores. São donas de casa, mães de família,
mulheres de negócios, professoras e profissionais dos
mais diversos ramos, mas que sempre encontram tempo para o trabalho
em favor do Carmelo e da comunidade. Além de suas reuniões
de trabalho, promove palestras, tardes de reflexões,
conferências e encontros, procurando sempre o crescimento
pessoal. Fazem
de suas reuniões de trabalho uma convivência amena
e agradável.
O Carmelo de Montes Claros iniciou suas atividades no Bairro
do Cintra, nas instalações da antiga Casa Paroquial,
gentilmente cedida pelo padre João Machado Gomes. A pedra
fundamental para a construção definitiva foi lançada
em 1978, em um terreno de 15.000m2 doado por Deraldo Rodrigues
Soares.
RUA SÃO TOMÉ
Se o assunto está espichando muito, a culpa pode ser
debitada ao leitor. A culpa ou o mérito, porque o leitor,
em primeira e última análise é quem determina
o caminho que deve ser seguido pelo cronista. Quando escrevemos
em jornal, nosso maior prêmio é a leitura imediata,
a apreciação do conteúdo, os comentários
que fazem amigos e adversários, conhecedores, doutores
ou simplesmente curiosos. Não adianta escrever para não
ser lido. Quem escreve para si mesmo não deve publicar
o que produz e os escritos poderão continuar guardados,
em gavetas ou dentro de folha de livros, embora esse ato possa
prejudicar a um virtual leitor, muitas vezes necessitando de
uma talvez preciosa informação.
Mas qual é mesmo o assunto que eu estou espichando? Nomes
de ruas, uai!... Esse manancial que Montes Claros oferece a
mancheias, rico, quase folclórico, divertido, de certo
modo até com características históricas,
o que poderá ser útil, no futuro, a alguém
que deseje inventariar ou associar fatos da vida da cidade.
Combinei
com Haroldo Lívio para ele escrever o que sabia, já
que ele foi o puxador do samba, mas o meu caro amigo e colega,
num terrível silêncio, bateu asas e voou para um
congresso de oficiais de cartórios em plena realização
na bela Fortaleza do Ceará. Pode ser que, de lá,
o Haroldo mande pelo menos um postal para o Lazinho,
dizendo não ter se esquecido dos tão saudosos
Montes Claros dessa iniciante primavera.
Minha
história de agora é ainda do bairro Todos os Santos,
pedaço de terra que o Simeão Ribeiro Pires santificou
desde o papel vegetal do projeto-piloto, quando ele tinha escritório
ao lado do Colégio Imaculada, naquele velho prédio
da fábrica de tecidos de sua família. Digo minha
história, porque nesta eu tomei parte, parte ativa. Foi
uma pacata sessão de nossa Câmara Municipal, com
todos os senhores vereadores presentes, num dia em que alguém
disse não poder o bairro Todos os Santos ter uma rua
com o nome de Antônio Narciso, não sendo ele santo
de papel passado, embora membro de uma tradicional e respeitável
família, a mesma do colega Paulo Narciso, o homem da
FM. Haveríamos, então, de achar um nome de santo,
para a rua que hoje é chamada de São Tomé.
A primeira sugestão de projeto partiu de Jonas Almeida,
que propôs o nome de São Judas Tadeu. Neco Santamaria
não gostou da ideia e protestou na hora: São Judas
não podia ser, porque é nome de traidor, que tinha
vendido o chefe para os judeus. Não sei se foi o Humberto
Souto que tentou um conserto de situação, indicando
o nome de São João Nepomuceno. Ainda aí,
Neco não concordou, dizendo que esse nome também
era suspeito, muito complicado. Explicado, tudo muito bem explicado,
que S. Judas Tadeu era outro que não os Iscariotes, que
São João Nepomuceno era até nome de cidade,
tão
bom que era, o Neco continuou irredutível. Além
disso, havia muita rua com o nome de São João,
inclusive no bairro. Que arranjássemos um outro.
Foi nessa hora que me lembrei de um velho amigo que, antes da
abertura da rua, já morava naquele local, atrás
do campo do Cassimiro de Abreu. Era um ajudante de pedreiro
muito bom, alegre, trabalhador, casado com uma senhora muito
distinta, boa lavadeira, boa doceira, prestativa, D. Pedrelina.
Nunca ninguém jamais havia ouvido falar mal dele, era
bom companheiro e bom vizinho, e tinha um nome muito sugestivo,
de santo muito conhecido: chamava-se Tomé. Tomé
de que, não sei. Tomé nome de santo. Neco protestou,
ainda, dizendo que esse santo não tinha fé, e
precisou de colocar o dedo na ferida de Jesus Cristo para acreditar
na verdade. Não teve jeito, a Câmara estava decidida.
Convencemos o Neco, que esse São Tomé era muito
bom, tinha até os méritos das ciências exatas,
porque queria ver e tocar para crer. A decisão não
demorou e foi unânime. Hoje a rua se chama RUA SÃO
TOMÉ, e tem moradores importantes e famosos como os meus
amigos Felix Pimenta, José Sales Peixoto e Afonso Avelar.
PRIMAVERA
Montes Claros, estação das flores, tempo de beleza
e colorida beleza. Praças e avenidas, luminosas de vermelho-laranja
e amarelo-ouro dos flamboyant verde-esmeralda. Praças
Doutor João Alves, Doutor Carlos, Doutor Chaves, Doutor
Honorato... Praças e avenidas Coronel Ribeiro, Coronel
Prates, João Catone, Geraldo Athay de, Dulce Sarmento,
Rua Cel. Francisco José Souto, o nosso antigo Corredor
do Pequi, por toda parte, um celeiro bendito de flores, das
espatódeas de vermelhão-francês ao intenso
brilho de acácia amarelo-claro. Tudo lindo, lindo de
morrer, machucando mesmo...
Vale a pena visitar Montes Claros, sempre valeu, como explica
o Waldemar de Oliva Brandão, saudoso e apaixonado montesclarense
de Brasília, capital. Vale muito mais visitar Montes
Claros, agora neste meio de Primavera, com o superávit
de verde, carregado de chuva e de brilho, folhas envernizadas
e movimentadas pela brisa ou pelo vento bem comportado. Tudo
aqui, para quem gosta de plantas, está agradável,
muito agradável, mais do que nunca, graças ao
trabalho que a administração municipal vem tendo
com todos os jardins, fato que, mesmo se fosse isolado, já
merecia os nossos aplausos. Aliás, é bom mesmo
que, o Prefeito Toninho, o Secretário Wanderley Fagundes
e todos os que trabalham diretamente no urbanismo continuem
com esse elogiável amor às plantações,
fazendo a cidade cada vez mais grata aos olhos e ao coração.
Passando pela praça Doutor Carlos, dê uma olhada
nas tamareiras, leitor. Lá estão elas verdinhas,
imponentes, com seus cachos de dourado-escuro, espalhados em
profusão, como era de agrado a Jair Oliveira e Mário
Veloso, como é de agrado a Haroldo Lívio e a Novaisinho.
Por sorte, também a buganvília branca, cenário
e teto dos lambe-lambe, lá está segura e florida
como guirlanda em tarde de fim de noivado e princípio
de casamento. Por sorte, lá estão as arálias,
os imbés, as dracenas, as roseiras, até o tapete
de grama de verde inglês. Tudo brasileiro muito brasileiro...
Há outros lugares bonitos, nesta cidade, que você
precisa ir para ver buganvílias de todas as cores. Onde
tem mais é no Bairro Todos
os Santos e no Jardim São Luiz. Lindas: amarelas, rosas,
roxas, brancas, cor de goiaba, lilás quase azuis. Não
deixe de ver é bom para a saúde mental. Outro
lugar bonito está sendo a avenida Mestra Fininha, de
subida vistosa como uma via romana em sopé de colina.
Lá os jardins estão majestosos e insinuantes,
principalmente os da Escola Normal. Os de Yede e Konstantin
estão quase selvagens, tropicais, grandiosos. Uma beleza
de se ver os de José Levy, Doutor Rametta/Maria de Jesus.
Elias Siuffi; um encanto a visão dos bairros Morada do
Sol e Ibituruna. Vá lá!...
Venha, leitor, venha ver Montes Claros. Mas venha antes do final
da Primavera. Venha ver uma cidade bonita, nossa cidade. Os
que estiverem em casa, saiam à rua. Os que estiverem
em outros lugares, longe, perto, corram para cá, venham
correndo. Estamos esperando...
ROUBARAM DE NOVO O MEU TOCO
Para mim, mesmo como brincadeira de jovens, é um ato
de violência tirar, na calada da noite, o meu toco de
doze anos de serventia. E um pedaço de madeira velha,
estragada pelo sol e pela chuva, sofrido pelos maus tratos da
meninada, pisado, rolado, empurrado. É tudo muito primitivo,
com profundas fendas do próprio corte a machado, sem
casca, um eterno banco de fim de rua, mas é meu, da minha
família, incluindo as moças que moram em nossa
casa. Explico melhor: quando mudamos para a nova casa, também
na rua São Sebastião, próxima ao Corredor
do Pequi (perdoe-me Iara, Rua Cel. Francisco José Souto),
na confecção de duas mesas, sobrou-nos um
pedaço
roliço de madeira, não usado por não ser
de boa qualidade e estar um pouco estragado. Fora de uso, foi
colocado na porta da rua em cima do passeio, bem colado ao muro,
como se fosse um banco ou um cepo deitado. Foi uma beleza, útil
todos esses anos, um ótimo lugar para se bater um papo
com a vizinhança, um ponto para as secretárias
namorarem, uma recepção avançada dos rapazes
e moças para os seus amigos também jovens.
Durante doze anos, nosso toco ficou ali, como uma fortaleza,
uma garantia de bons encontros, um marco de muita felicidade
doméstica. Os vizinhos se acostumaram com ele. Servia
até de referência quando a gente chegava de táxi:
“- Pare naquele portão, onde está o toco”.
E os motoristas entendiam logo. Pois um dia aconteceu o pior,
e o nosso toco sumiu. Enquanto eu viajava de Brasília
para Montes Claros, na noite de seis para sete de setembro,
quando vinha comemorar os meus cinquenta anos de vida e os da
pátria, já de madrugada, dei-me por falta dele.
Foi uma tristeza! Quando os de casa acordaram, mesmo atarefados
com a festa, sentiram o mesmo trauma, uma falta importante e
constrangedora: o toco sumiu, sumira misteriosamente...
Já refeitos da perda, consolados todos, acostumados a
uma ausência, Olímpia vai a Belo Horizonte e, lá,
Wladênia dá-lhe a notícia que lera no jornal.
O toco havia sido apreendido por soldados do Exército.
Estava preso, retido ou depositado na Delegacia de Polícia,
ao que tudo indica como objeto de uma possível conspiração,
uma sabotagem ao desfile da Independência. É que
rapazes, parece que dois, estaturas médias, cabelos lisos,
aparentemente de 22 anos, de óculos, montados num Gol
branco, haviam levado o toco para a avenida em frente ao Colégio
Imaculada, justamente onde o desfile ia
passar. E como a segurança precisava da passagem livre,
deu uma carreira nos brincalhões (ou sabotadores, quem
sabe o que se esconde nos corações), e levou o
estranho objeto para a cadeia da Dr. Veloso, anunciando o acontecido
para ser devidamente apurado. Foi assim, quase assim, que o
jornal contou...
Pois bem, de volta a Montes Claros, eu ainda em Brasília,
Olímpia conta-me a estória pelo telefone. O nosso
toco estava preso e precisava de libertação. Um
caso complicado na Justiça, ou melhor, na Polícia,
envolvendo problemas de segurança. Deveria ou não
deveria acionar o advogado da família, libertando nosso
toco das malhas da lei? Claro que isso é que seria o
correto, respondo-lhe. O João Wlader não é
advogado? É uma boa causa, se não rendosa, pelo
menos interessante: que ele coloque os seus conhecimentos jurídicos
em defesa do nosso toco... Que vá conversar com o senhor
Delegado, uai! A pátria e nós somos vítimas
de uma injustiça, de um ato impensado dos jovens do Gol
branco. Agora, além de nosso, o toco é patrimônio
nacional!
O João Wlader, doutor, foi, conversou, explicou, muito
disse de nosso amor pelo velho companheiro de doze anos. Sério,
a princípio, como autoridade, o Delegado acabou achando
graça de tudo que aconteceu. Todo mundo, na Delegacia,
parece, sabia só de uma parte do acontecido e o desfecho
foi uma alegria! O toco veio de volta como uma pessoa querida
que marca saudades! Uma festa e quantos e quantos sorrisos,
inclusive o meu, na volta a Montes Claros! E a velha estória
da ovelha perdida...
Mas
sabe o que aconteceu? O destino pregou-nos outra peça:
quando chegou a Primavera, em outra madrugada, alguém,
de novo, levou o nosso toco! A frente da nossa casa está
limpa, desmobilada. Também
uma parte secreta do nosso coração... Parece que
a nossa sorte é ficar sem!
Paciência...
A SEMANA DA CULTURA DE 1999
Dezoito de outubro, salão nobre do Automóvel Clube,
sessão magna para abertura da Semana da Cultura, em parceria
com o Consulado de Portugal, com a Sociedade das Amigas da Cultura
e Elos Clube de Montes Claros.
Mesa diretora: Yvonne Silveira, presidente; Miriam Carvalho,
presidente das Amigas da Cultura; Victor Hugo Marques Pina,
presidente do Elos Clube; Florinda Ramos Pina, representando
a cônsul Fernanda Ramos; Iara Souto, secretária
de Cultura; João Carlos Sobreira, representando o prefeito
municipal; Maria José Colares Moreira, presidente do
Comitê Internacional para o Festival de Folclore; Clarice
Sarmento, representando o Conservatório Lorenzo Fernandez.
Seguiu-se uma apresentação do Coral Lorenzo Fernandez,
com os títulos Carmina Burana e Aleluia. Também
uma declamação da professora Thaísa Terence
Martins, a leitura dialógica da Carta de Pero Vaz de
Caminha pelo ator Cláudio Prates e a apresentação
de mensagem da cônsul Fernanda Ramos pela professora Florinda
Marques Pina. Final com trechos da ópera O Guarani, pelos
professores Antônio Carlos Lima e Maria Amélia,
com acompanhamento da pianista Maria Lúcia Macedo.
Dezoito,
vinte, 21 e 22 de outubro, no salão nobre do Centro Cultural
Hermes de Paula, para mais uma etapa da III Semana da Cultura,
em parceria com o Consulado de Portugal, com a Sociedade das
Amigas da Cultura e Elos Clube de Montes Claros.
A abertura, dia dezoito, no Automóvel Clube, teve na
presidência Yvonne Silveira, cerimonial de Regina Peres,
secretaria de Antônio Felix. Na mesa de honra, os representantes
das entidades parceiras.
A palestra sobre “Portugal e Brasil descobrindo-se há
500 anos” foi feita pelo professor Marcos Fábio
Martins de Oliveira, da Unimontes. Logo depois, o jogral “Brasil”,
de Ronaldo de Carvalho.
Vasta a programação, também com participação
de Milene Coutinho Maurício, Cláudio Prates, Antônio
Carlos Lima, Maria Amélia e Maria Lúcia Macedo.
Cerimonial da professora Edite Bastos, da Sociedade das Amigas
da Cultura.
Dia vinte, no Centro Cultural Hermes de Paula, presidência
do sr. Victor Hugo Marques Pina, com o tema “Portugal
e Brasil descobrindo-se há 500 anos”, pelo professor
Marcos Fábio Martins de Oliveira.
Várias apresentações: “Brasil”,
de Cassiano Ricardo, jogral dirigido pela professora Lygia Braga;
“Cantando o Brasil e Portugal”, pela professora
Maristela Cardoso, acompanhamento da professora Maria Lúcia
Macedo. Mestre de Cerimônia, a elista Regina Barroca Peres.
Dia 21, no Automóvel Clube, na presidência a professora
Miriam Carvalho, presidente das Amigas da Cultura. Lançamento
do livro “Raízes e Asas”, da professora Maria
Lúcia Becattini Miranda, com
apresentação pela acadêmica Yvonne Silveira.
Poemas declamados pela professora Dóris Araújo.
Canções italianas pelo professor Roberto Júnior,
acompanhamento da professora Maria Luísa Correia Pires.
Cerimonial de Raquel Avelar, das Amigas da Cultura.
Dia 22, no Elos Clube de Montes Claros, abertura pela presidente
Yvonne Silveira, da Academia Montes-clarense de Letras. Mestre
de Cerimônia, o acadêmico Antônio Felix. Palestra
“A Herança Cultural Portuguesa” pelo acadêmico
Wanderlino Arruda. “Cantando Portugal e Brasil”
pelos professores Raquel Ulhoa e Roberto Júnior. Poesias
portuguesas e brasileiras pela acadêmica Zoraide Guerra
David. O encerramento foi de um intenso brilho, com o Coral
do Elos Clube, dirigido pela maestrina Clarice Sarmento.
ACADEMIA MONTES-CLARENSE DE LETRAS - 50 ANOS
A fundação da Academia Montes-clarense de Letras
aconteceu em uma agradável tarde de 13 de setembro de
1966, em reunião convocada para acontecer no primeiro
pavimento do Sobradão da Rua Coronel Celestino - em uma
sala da Faculdade de Direito. Inspirado pelo sonho do dr. Plínio
Ribeiro dos Santos em criar de uma entidade de cultura em Montes
Claros, o doutor Alfredo Marques Vianna de Goes, presidente
da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais, chegou
a Montes Claros com a decisão de criar uma instituição
literária, a exemplo das existentes em Belo Horizonte.
Sempre apaixonado por Montes Claros, pois aqui nascido em 1908,
Vianna de Goes valeu-se do prestígio acadêmico
e sentiu-se vitorioso pela presença de excelentes companheiros
das lides de escrita e de publicações,
um vistoso elenco de intelectuais montes-clarenses: professor
José Raimundo Neto, dr. Antônio Augusto Veloso,
dra. Maria Ribeiro Pires, dr. João Valle Maurício;
padre Joaquim Cesário dos Santos Macedo dra. Heloísa
Neto de Castro, professora Dulce Sarmento, dr. Hélio,
Oscar Vale Moreira, dr. Avay Miranda, dr. Geraldo Avelar, dr.
Francisco José Pereira, o cronista Orlando Ferreira Lima
e o historiador Hermes Augusto de Paula. Um alinhado grupo,
realmente importante nas publicações em livros
e na imprensa, na oratória, no magistério, na
política, em instituições sociais e de
cultura, o melhor em disponibilidade naquele momento e que,
naturalmente, pôde atender ao convite para o encontro.
Ao todo, treze, que no final da reunião, foram considerados
– ou se consideraram os fundadores.
Tudo discutido, muitos detalhes aprovados, lista de presenças
assinada, foram indicados para a tarefa de organização
o professor José Raimundo Neto, o dr. Antônio Augusto
Veloso, a professora Maria Ribeiro Pires e o dr. João
Valle Maurício. Indicada a professora Maria Ribeiro Pires
para a direção, e não tendo ela aceito,
foi realizada a eleição para a nova diretoria.
Vitorioso, assumiu a presidência o dr. Antônio Augusto
Veloso. O local para as reuniões e assembleias ficou
para ser discutido na primeira oportunidade, provavelmente uma
sala do Conservatório de Música Lorenzo Fernandez,
ou mesmo uma sala da Fafil ou da Fadir, antigo e tradicional
centro de cultura da parte histórica de Montes Claros.
Pouco dias depois – 26 de outubro – constou da pauta
a discussão e aprovação dos Estatutos e
do Regimento Interno, estabelecendo em trinta o limite de cadeiras.
“Após a aprovação, o sr. presidente
solicitou um voto de louvor para o acadêmico dr. Hélio
Oscar Vale Moreira, que elaborou o Regimento dentro do prazo
estipula do”.
“Pelo acadêmico Hermes Augusto de Paula foi apresentado
um rol dos prováveis patronos, com as correspondentes
justificativas. A discussão da matéria ficou em
suspenso, aguardando novas sugestões. O número
de cadeiras foi fixado em trinta”.
CAJUEIRO, CAJUEIRO!
De quando eu vi mais cajueiros, na minha vida, foi viajando
com Olímpia, entre Fortaleza e a cidade de Apodi, no
Rio Grande do Norte. Não somente dez, vinte ou cem, mas
uma floresta, uma mata, um reflorestamento de cajueiros, uma
dessas ajudas que o homem presta à Natureza, aumentando
a beleza e a utilidade, no espaço e no tempo. Três
pintores, mestres e amigos, o Konstantin Christoff, o Godofredo
Guedes e o Samuel Figueira muito me ensinaram a respeito de
tonalidades do verde, principalmente o Godofredo que é
um apaixonado pelas paisagens e pelo exato matiz de troncos
e de folhas. Mas, nenhum deles poderia imaginar quanta luz,
quanta transparência poderia existir numa mataria de cajueiros
do Nordeste, desde o verde róseo-amarelado ao quase negro,
tinto e retinto, e ao de tom ferrugem com tendência ao
branco de prata, tudo uma miscelânea de gostoso colorido,
sedutor-gratificante, só encontrável em faixas
do litoral.
Fruto de leituras, beneficiário ou vítima da divulgação
moderna, cada vez mais repetitiva, a minha paixão chega
a provocar saudade de seres que não conheço, entre
eles três cajueiros, dois das letras, o primeiro de Humberto
de Campos, em Parnaíba, e os outros, de Rubem Braga e
de Roberto Carlos, ambos em Itapemirim, no Espí
rito
Santo. Lembro-me de um dia, num jantar do Rotary de Teresina,
quando cheguei a combinar com o prefeito de Parnaíba
uma viagem, para conhecer o velho companheiro e filho vegetal
de Humberto, mas não tive a sorte de poder cumprir a
promessa. Tenho desse cajueiro, entretanto, um presente material,
auxiliado por minhas próprias mãos de plantador:
eis que o meu amigo Francisco Narciso, Chiquinho Almeida Castro,
me trouxera, de uma das suas viagens, algumas castanhas, que
plantadas, já se veem duas árvores do meu quintal.
Lindas, lindas.
Mas não é dos cajueiros de longe que eu quero
falar, quero deitar as minhas lembranças, quero sonhar
os meus sonhos. A minha saudade de hoje é do cajueiro
da pensão de D. Duca, aqui mesmo em Montes Claros, na
rua Dr. Santos, casarão com um comprido corredor, quartos
de um de outro lado, salas e cozinha no fundo, antes de pátio.
Ali existia o mais amigo de todos os cajueiros da minha mocidade,
esguio, durão, solícito, de tronco flexível,
com galhos tão bem proporcionados na distribuição,
que mais parecia uma escada ao prazer, momentos de férias
de cada manhã e de cada tarde, depois do trabalho. Eu
o chamava planta da benevolência, porque, em nenhuma parte
do ano, faltava-me com os seus frutos. Não me lembro
de ter tido qualquer decepção com ele, assim como
um amigo de todas as horas.
Outros companheiros de pensão, estudantes, como o Enock
Sacramento, o José Jorge, o Passarinho, o Deoclides,
também aproveitavam de vez em quando, se eu dava alguma
folga. Até os sisudos Wilson Bessa, Luiz Gonzaga e Pedroso
chegaram a tirar proveito, disso tenho certeza. Uma só
coisa me intriga: depois de tanto tempo, e me pergunto se D.
Duca ou o “seu” João Guimarães não
se impor tavam
com esse muito xodó que tínhamos pelo seu cajueiro,
coisa até de desconfiar...
LUIZ DE PAULA E A “VENDA DO MEU PAI”
Luiz de Paula Ferreira é um milagre. Tudo na sua vida
deu certo. Tudo: sonhos e realidade, jeito de ser e de viver.
Comportamentos, atitudes, hábitos, numa receita sábia,
e manhosamente aviada desde os velhos tempos de Roma: “Não
basta ser, é preciso parecer”. Luiz – em
todos os decênios que marcaram a idade do menino, do jovem
e do adulto – foi e pareceu inteligente, intensa e fervorosamente,
quase por um dever de fé e destinação.
Querendo - quem sabe - até sem querer, jamais pôde
fugir das luzes de uma generalizada admiração
de próximos e distantes. Conservador e revolucionário,
sempre teve como medida o comedimento, coisas de antigo PSD,
que não fazia reunião sem antes de tudo estar
resolvido. Luiz sabe ver e antever, vestido e revestido de inigualável
poder de avaliação. Sabido, tranquilo e limpinho
como um gato, no dizer do nosso saudoso João Valle Maurício.
NA VENDA DO MEU PAI – conjunto fantástico
de retalhos intensamente coloridos da vida interiorana brasileira
do Século XX – Luiz de Paula é narrador
e personagem, iluminador e fotógrafo, ao mesmo tempo
retratista e retratado em cenas que ele próprio sempre
se inseriu. Dono de poder material e imaterial, agora produz
um texto mais do que vivo - do seu e do nosso agrado –
encarnando e reencarnando uma tradição oral de
esperteza, que muito será discutida no futuro, quando
as máquinas e os chips ocuparem com primazia a
diretiva
humana. Os relatos, as crônicas, a prosa poética,
até os contos que ele - por segurança e sabedoria,
diz de ficção - representam o que a Literatura
pode ter de melhor na fixação de imagens e vivências,
conteúdo importante porque só possível
aos que o viveram com entusiasmo.
Li, reli e tresli as três divisões – NA
VENDA DO MEU PAI, SANFONA DE OITO BAIXOS e ALGUMAS HISTÓRIAS.
E quando lia e revivia cenas da vida de menino do interior,
testemunha real e virtual de tudo que acontece, pensei calculadamente
em registrar no prefácio que escrevi as dezenas ou centenas
de nomes de pessoas e de lugares, antecipando para o leitor
o cheiro e o gosto de todas as acontecências, assim como
as cores e a sensação táctil de cada paisagem.
Um pouco mais novo que Luiz, tendo vivido pelo lado de dentro
e de fora de uma casa comercial - ouvinte e visualizador atento
- bem sei do quanto o relar o umbigo no balcão valeu
para nós. Ali nada passava despercebido no universo das
pessoas e das coisas, seja ouvindo uma sanfona de oito baixos,
seja engraxando sapatos ou controlando os movimentos sinuosos
dos bêbedos. Era a vida imitando a vida, para criar memórias
que só o livro pode fixar. Com este livro, Luiz eterniza
Maria Velha, Maria Suruca, Mariazinha Palpitosa, o lambe-lambe
Vitorino, Chico Boa Palavra, João Velho, João
Raposa, Gregório Barba à-toa, além –
é claro – um amplo universo de situações
que marcam a malícia e a esperteza do dia-a-dia de Várzea
da Palma, de Montes Claros e deste pedacinho gostoso do sertão
mineiro. Resumindo, um musicar e um cantarolar de lembranças
que só um narrador bom como o Luiz consegue pôr
no papel.
Plurissignificativa,
a Literatura faz com que certas personagens e situações
ofereçam liberdade na interpretação dos
textos, poucas vezes os mostrando imutáveis ou ensinando
uma aceitação pura e simples. As palavras e o
encadeamento de palavras sugerem visões que nunca pertencem
somente àqueles que as escrevem. Uma vez materializado,
o texto pertence mais ao leitor, à sua forma de pensar
e agir, influenciado pela experiência linguística
e pela cultura de cada um. Assim, “NA VENDA DE MEU PAI”
veio para marcar época, com lembranças e vontades
mais do que gratas para quem as viveu e para quem gostaria de
as ter vivido. Não há fotos em preto e branco,
não há figuras esmaecidas ou distantes: tudo é
colorido, cada movimento tem uma surpresa como se estivesse
acontecendo e sendo vivido agora. Luiz é um cinegrafista
sortudo – pode-se dizer com efeito Kirlian – que
além de gravar o visível e tangível, consegue
divisar nuances que só aos privilegiados Deus permite
contemplar.
Bom para ele, melhor para nós!
MONTES CLAROS – 3º ROTARY DO BRASIL
O terceiro Rotary do Brasil e o primeiro de Minas foi fundado
em Montes Claros, em 1926. As reuniões aconteciam no
Grande Hotel, próximo à Praça Doutor Carlos
Versiani, onde foi tirada a foto do Conselho Diretor logo após
a eleição. Da esquerda para a direita, o farmacêutico
e fazendeiro Antônio Augusto Teixeira, o advogado José
Correa Machado, o comerciante José Proença e o
advogado e professor Alfredo de Souza Coutinho que nesse dia
foram admitidos por unanimidade”. “A primeira diretoria
teve como presidente José
Correia Machado, o vice Antônio Augusto Teixeira, o secretário
Alfredo Coutinho, subsecretário José Proença
Costa, tesoureiro Cícero Pereira, diretor de protocolo,
Rubens dos Reis Teixeira. Sem contar os diretores José
Tomaz de Oliveira, Marciano Alves Maurício e Mário
Versiani Veloso; e os suplentes Arthur Vale, Fróes Neto
e Antônio Ferreira de Oliveira. Médicos, farmacêuticos,
advogados, juiz, jornalistas, professores, comerciantes, fazendeiros,
gerente de banco, sem qualquer dúvida, gente do máximo
prestígio, hoje nomes de avenidas, ruas e praças
de Montes Claros”.
O Rotary Club de Montes Claros, nessa primeira fase, não
teve vida longa. “A cidade era pequena, de quinze mil
habitantes, enclausurada no alto sertão mineiro, dedicando-se
a uma agricultura rudimentar, cujos produtos eram transportados
em carros de bois e lombo de animais. Uma pecuária de
corte ainda de pequena expressão. Era ainda cedo para
um clube rotário”, contou Luiz de Paula. Somente
vinte anos depois, o clube de serviços ressurgiu com
vigor e fôlego para prosperar, no dia 31 de dezembro de
1945. Ele foi fundado pelos médicos Hermes de Paula,
Levy Lafetá e Antônio Moreira César. Os
três se uniram e decidiram indicar o farmacêutico
e fazendeiro Antônio Augusto Teixeira para presidente.
Uma homenagem, afinal, Niquinho Teixeira, como Antônio
era conhecido, foi quem trouxe os ideais de Paul Harris para
o sertão norte-mineiro. Com o propósito de melhorar
a comunidade, a primeira iniciativa do Rotary Club Montes Claros
foi organizar a Biblioteca Pública Antônio Teixeira
de Carvalho. A proposta de criação de um Batalhão
do Exército também partiu do Rotary. O pedido
foi entregue ao presidente da República Costa em Silva,
em 1968, pelo, então, deputado federal Luiz de Paula.
Ele havia sido presidente do clube de serviços entre
1954 e 1955. “O Rotary está envolvido em ações
de combate à pobreza, ao analfabetismo, na prevenção
de doenças, fornecimento de água limpa, saneamento
básico e desenvolvimento econômico. Tudo ou quase
tudo do progresso de várias décadas na cidade
foi feito pelo Rotary ou por rotarianos”. Através
do Rotary Club de Montes Claros outros foram criados dentro
e fora da maior cidade do Norte de Minas, participando ativamente,
por exemplo, em 1949, da fundação do Rotary de
Diamantina. Depois vieram os de Curvelo, Pirapora, Francisco
Sá, Brasília de Minas, Bocaiúva e outras
dezenas que ajudaram a compor o Distrito 4760, que no ano rotário
2016/2017 celebra uma importante conquista, que é a aprovação
do Projeto AVC Madre Teresa de Calcutá pela Fundação
Rotária. O objetivo
do Projeto é salvar vidas ao oferecer condições
para o atendimento rápido de vítimas de Acidente
Vascular Cerebral, principal causa de mortes no mundo. O Projeto
destinou um milhão de reais para o treinamento e compra
de equipamentos para atender com agilidade os pacientes. A unidade
funciona na Santa Casa de Montes Claros. A novidade foi bastante
elogiada e festejada entre os dias 6 e 9 de abril durante a
31ª Conferência Distrital, apogeu do ano rotário.
É o fechamento do ano rotário, momento de celebrar
a amizade, de fazer um balanço das ações
e traçar diretrizes para o futuro. Este ano, cerca de
mil rotarianos dos 84 clubes que compõem o Distrito 4760
estiveram presentes no grande encontro, que aconteceu na histórica
cidade de Tiradentes.
FAFIL, PRIMEIRA FACULDADE
Creio que o grande laboratório de ideias a usina dos
sonhos tenha sido mesmo as salas de aulas da Universidade Federal
de Minas Gerais, onde moças montes-clarenses terminavam
diferentes cursos, tão distantes uns dos outros que iam
da História à Pedagogia, das Letras à Matemática,
da Geografia às Ciências Sociais. Diplomatas, portadoras
de muito saber e incentivo de antigos professores da capital,
Isabel Rebelo de Paula, as irmãs Baby e Mary Figueiredo,
Sônia Quadros Lopes, Florinda Ramos Marques, Dalva Santiago
de Paula, ansiosamente, se uniram a outros idealistas, e o resultado
foi o nascimento da Faculdade de Filosofia, Ciências e
Letras do Norte de Minas aqui em Montes Claros. Verdade é
que não houve oposição ao seu trabalho
e até não faltou crédito ou aquele sempre
necessário voto de confiança. Todo mundo acreditou
nelas, com o Colégio Imaculada Conceição
cedendo espaço físico e moral, a Fundação
Educacional Luiz de Paula fornecendo recursos e entusiasmo,
professores como Jorge Ponciano Ribeiro, dando logo a sua quota
de serviços.
Foi uma beleza o começo, um sucesso o primeiro cursinho
de Montes Claros. Lembro-me bem, da primeira aula de francês
que tivemos com a professora Baby Figueiredo, com texto solto,
impresso fora de livro, uma novidade! Lembro-me do Adélia
Miranda elaborando, como secretária, os primeiros relatórios,
apertando os primeiros alunos retardatários para não
atrasarem no pagamento das mensalidades ou início das
aulas. Era uma experiência interessantíssima com
passagens de se emocionar!
Era
tanta sabedoria nova, um conhecimento tão organizado,
uma perspectiva de aprendizagem tão grande, que problemas
apareciam a toda hora, todos querendo aproveitar de tudo, sorver
de vez todo um alimento que por não existir antes, estava
sendo negado a quem muito o desejava. Acontecia então
o troca-troca de salas, uma espécie de mineração
de assuntos, um descobrir quem era o melhor professor um abeberar
de toda uma nova filosofia de vida. Não posso contar
tudo sobre as aulas de nossos cursos, nos primeiros dias do
semestre, porque os acontecimentos vinham aos borbotões,
quase sufocando a curiosidade, até confundindo as cabeças.
Era como se fosse um vasto ciclo de conferências de palestras,
um eterno comício. Hamilton Lopes, calouro, ensaiava
os primeiros passos da política estudantil, João
Valle Maurício, José Nunes Mourão, Hélio
Vale Moreira, Mauro Machado Borges, alunos mais vividos, mostravam
uma
compenetração pouco natural de estudantes. D.
Yvonne Silveira, esta numa santa vaidade de literata, se desmanchava
em sorrisos e sutilezas numa alegria quase infantil.
Tudo foi uma longa festa intelectual, uma corrida de muita sede
à fonte, todos considerando um grande privilégio,
uma oportunidade a mais de vencer na vida, em campos profissionais
já longamente seguidos. Pela primeira vez, vimos professorinhas
ensinando para ver elenco de construtores do futuro!
Olhado de longe, vinte e sete anos depois, quase uma loucura.
Mas que maravilhosa loucura! Que o diga Isabel Rebelo de Paula,
a primeira diretora.
HISTÓRIA E DESENVOLVIMENTO DE MONTES CLAROS
Com prazer, faço a apresentação da “História
e Desenvolvimento de Montes Claros”, do escritor e historiador
Henrique Oliva Brasil, homem de fé e de coragem, manancial
de fortaleza e boa vontade, frente a tudo que é difícil
na vida. Henrique Oliva Brasil, meu velho companheiro de Academia
Montes-clarense de Letras, tem sido para mim um exemplo de capacidade
de trabalho e de ousadia, um atestado existencial do que a força
de caráter, o desprendimento e o dinamismo pessoal podem
realizar. Nos muitos janeiros pelos quais tem passado, nem os
minutos nem as horas têm sido fronteiras no seu trabalho
e no esforço incansável de homem estudioso. Cada
dia tem o seu objetivo, é uma meta de alcançar,
pouco importa a dificuldade, de nada valem os empecilhos de
qualquer espécie. De cabeça erguida, marcha sempre
em frente e, olhando o futuro com a segurança de um jovem,
segue esperançoso e confiante.
“História e Desenvolvimento de Montes Claros”
é fruto de minuciosa pesquisa, de longos períodos
de estudo, que só um minerador do ouro dos acontecimentos
poderia conseguir fazer. Foi tarefa de muito tempo e de muito
lutar, resultado e cadinho do amor de um sertanejo que deseja
deixar bem marcado seu traço de vida no conhecimento
e nas consciências de todos nós, também
amigos desta cidade e do seu progresso. É livro que faz
justiça ao nosso processo histórico, sempre dinâmico
e de acordo com o esforço pioneiro de um bom punhado
de gerações, normalmente voltadas com sincera
afetividade para os valores humanos e humanizadores, sentimentos
que engrandecem e eternizam cada um e todos os momentos da própria
História.
“A
História e Desenvolvimento de Montes Claros”, só
não traz em seu bojo todos os acontecimentos, todas as
personagens, quando isso não foi possível por
falta de dados ou por falta de espaço. Segui, de perto,
sua longa elaboração e sei que Henrique Oliva
Brasil jamais poupou esforços ou qualquer tipo de sacrifício
para chegar ao alvo da exatidão, ao centro da verdade,
é pureza da isenção. Cada levantamento
foi revestido de exaustiva pesquisa, muito próxima da
mais acurada exigência da moderna ciência histórica.
O fato de não ser o autor graduado em História,
alicerçado em diploma universitário, nunca impediu
que o intelectual buscasse o que há de melhor no estudo
documental e na observação interessada, fatores
valiosos para a perfeição dos resultados. Acima
de tudo, o historiador teve sempre a honestidade de propósitos,
uma santa vaidade de quem se compraz com o exato cumprimento
de qualquer missão, por mais espinhosa que seja.
Espera que o leitor também participante da nossa História,
se sinta satisfeito com a leitura ou o estudo deste volume sobre
a gostosa vida de Montes Claros. Mais do que isso: espero que
o leitor se faça também presente no incentivo
e no apoio a este homem que, no seu comedimento, é um
dos maiores apaixonados por esta cidade e por toda a região,
pedaços de terra ligados á sua própria
existência. Mais do que o presente, estou certo, o futuro
e nós teremos de lhe dar razão, de lhe fazer justiça,
de lhe proporcionar o prêmio do mérito de viver
e materializar em livro nossos principais acontecimentos.
PRAÇA CORONEL RIBEIRO E ADJACÊNCIAS
Uma vida não basta ser vivida. Ela precisa ser sonhada.
Mário Quintana
No dizer de Howard Whitman, “todos nós temos três
necessidades emocionais básicas: sentirmo-nos estimados,
importantes e seguros. É preciso que alguém goste
de nós. Precisamos sentir que valemos alguma coisa. E
precisamos sentir-nos a salvo de incertezas”. Esta uma
preciosa lição que aprendi em uma Seleções
de setembro de 1952, pouco menos de dois anos depois da minha
chegada para viver e muito conviver em Montes Claros. Tenho
absoluta certeza de que foi uma página da maior importância
em todos os momentos de minha vida, principalmente na observação
e no acompanhamento das pessoas que realmente gostam e desfrutam
desta cidade, como é o caso da escritora Palmyra Santos
de Oliveira, irmã do meu amigo José Gomes e mãe
de quase uma dúzia de moças e rapazes, que tanto
bem têm feito a este mundo de meu Deus. D. Palmyra é
árvore, é ramo, é flor e também
é fruto de um tudo de bom que a vida oferece e nos pode
oferecer. Gosto dela, de como é, de como se mostra, de
como administra cada minuto de existência. Amada-amante
de todas as realidades e de todos os sonhos!
O livro ETAPAS DE MINHA VIDA, segundo da lavra de D. Palmyra,
que você, leitor/leitora, vai ler, em seguida, é
um fiel atestado do muito que ela sabe e da enormidade de bons
sentimentos com que ela viveu bons tempos de Montes Claros e
excelente tempos de Porteirinha, sedes dos seus domínios
de amor, de serviços à cultura e
de um importante plantar de amizades e carinhos. Tudo tem sido
como um abrir janelas e respirar todos os azuis dos dias e das
noites de uma vida de encantos. Tudo uma luminosa saudade para
colorir santas lembranças, santíssimos sentimentos
que ela soube nutrir em cada olhar que teve e que provocou,
em cada passo que deu ou que chamou para perto de si. Nenhum
mistério, porque a realidade tem que ser bonita, tem
que ser visível, à luz do sol ou ao pisca-piscar
da lua e das estrelas... Que cidade agradável e gostosa
era a Montes Claros dos seus tempos de menina e de menina-moça:
ricos quintais, doces brinquedos na porta da rua, vizinhos alegres
e bem informados, tudo um universo para aprender e ensinar,
eterno palco em meio de um empolgado auditório, ninguém
sabe se mais de crianças que de adultos, hoje somatório
de lembranças com dezenas de nomes de pessoas e de famílias:
D. Consuelo, D. Inhá, Fani Maurício, Neusa, Nivaldo
e Benedito Maciel, Juca de Chichico, Natália Peixoto,
Píndaro, Maria Inês, Tatá, Umbelina, Artimínia,
os tios Ulisses e Ambrosino, o avô Viriato, o pai Manuel,
a mãe D. Laura...
História, estórias, casos e causos, muito ou tudo
da mineiridade de D. Palmyra, tudo. Lindos momentos de pura
amizade, evocações de sabores, evocações
de saberes, sons e cores, afirmações de fé,
perspectivas que só a paixão montes-clarense de
início de século pode aflorar. Neste livro a autora
não faz economia de amor, não deixa qualquer sentimento
para depois. Tudo, tudo mesmo, é um constante hoje, um
agora, uma sempiterna visão de quem sabe apreciar o mais
apreciável de cada segundo vivido e amado. A Rua Doutor
Veloso, o largo São Sebastião, mais tarde Praça
Coronel Ribeiro, a Rua Bocaiúva, o centro da cidade,
os bairros, as cercanias, as subidas e descidas, assim como
as casas de comércio e as residências, cada coisa
tem
um valor, marca um sentimento, representa uma virtude. E as
pessoas mais próximas do seu relacionamento – como
a Gringa, José Galinha, Francisca, Tereza, Niqueda, Santa,
Silvéria, Maria Violão, Bela, D. Josina, assim
como a feira, a viagem a Bom Jesus da Lapa, os passeios, os
fatos surpreendentes, até os registros de genealogia,
que
coisa mais interessante! O tempo não para, mesmo que
a saudade faça as coisas pararem ou as fixe para a eternidade
de quem ama e, em verdade, gosta de amar. Um momento de poesia
vale tanto quanto um milênio de sentires, principalmente
quando esse momento é escrito e descrito por minha amiga,
D. Palmyra, autora e dona deste Livro. O segredo – bem
lembrou Mário Quintana - não é cuidar das
borboletas, mas cuidar do jardim. Havendo jardim, muito haverá
de borboletas. Importante que o valor seja dado ao que realmente
importa! Devemos sairmos à rua ou ao mundo abertos aos
caminhos e ao caminhar, sempre dispostos ao que possa acontecer
- melhor dizendo - dispostos às venturas e aventuras.
Penso em D. Palmyra na mesma medida que penso em Cora Coralina,
porque para ambas a vida seria curta ou longa demais - e sem
sentido - se não tocasse o coração das
pessoas. Marcante é o colo que acolhe, o braço
que envolve, a palavra que conforta, o silêncio que respeita,
a alegria que contagia, a lágrima que corre, o olhar
que acaricia, o desejo que sacia, o amor que promove. E isso
não é coisa de outro mundo, é o que realmente
dá sentido à vida. É e será! E que
este livro da minha companheira de Instituto Histórico,
mãe do presidente Itamaury, seja um precioso presente,
um importante momento de leitura para você, leitor/leitora,
acredito gente boa também do meu coração!
Parabéns,
sempre menina-moça, PALMYRA SANTOS – Santos, Teles,
Oliveira - glória de Montes Claros, magnífica
glória de Porteirinha, cidade mãe dos seus filhos
Irani, Itamar, Iolanda, Itajahy, Iracy, Ítalo, Ilacir,
Itamaury, Isani, Ivan e Ilmar.
A INTERNET NO NORTE DE MINAS
No princípio, nada. Nem mesmo um sonho. Quando muito
um pouco de ideias, esparsas ideias de alguma coisa que pudesse
chegar por aqui, nas distâncias dos grandes centros. Há
dez anos, para comprar um simples micro, o cidadão ousado
tinha que ir a São Paulo ou ao Rio de Janeiro. E, depois,
quando havia necessidade de qualquer pequeno conserto, ainda
estavam em São Paulo ou no Rio as primeiras oficinas,
os primeiros entendidos com conhecimento mais completos ou recursos
à mão. Por aqui, quando muito, poucos curiosos,
pessoas que davam assistência a um ou outro banco, que
também começava a usar informática. Ninguém
tinha um HD de mais de 10 mega. E isso já era um exagero.
Na verdade, só de uns sete anos para cá, quando
da liberação das importações, é
que os computadores surgiram à luz do dia, deixaram o
esconderijo da informalidade, encontraram corredores de entrada
que não mais o Paraguai ou os esquemas de Miami. Aos
poucos, as escolas de informática foram surgindo em Montes
Claros, primeiro a Escola Técnica, o Senac, depois uns
poucos pioneiros da iniciativa particular, quase sempre na base
da improvisação. Internet? Nem pensar, isso seria
coisa praticamente inimaginável, a um custo quase estratosféricos
da telefonia interurbana, como ainda acontece até
hoje em países árabes, que as conexões
são feitas por DDI e só acessíveis aos
príncipes e às princesas.
Como a Terra sempre girou e continua girando, também
um dia, a Internet tinha que chegar por aqui. De início,
quase que um posto de BBS, em seguida a Infoarte, depois a Connect.
Tudo em Montes Claros, só em Montes Claros, com um mínimo
de usuários, estes quase sempre em residências
em que os pais presenteavam os filhos, com a esperança
de que eles pudessem fazer pesquisas para as escolas. Hoje,
a realidade é outra, inclusive com dois provedores, em
Montes Claros e um em Janaúba, todos juntos com quase
duas mil assinaturas, não podendo, de maneira alguma,
desprezar um trabalho também pioneiro da Unimontes, que
atua por canal independente.
O futuro é promissor. A velocidade de conexão
aumenta, novas homes pages são ativadas, os endereços
de e-mails chegam aos milhares. Já podemos dizer, sem
sombra de dúvida, que podemos servir de exemplo até
a regiões que sempre foram privilegiadas. Nossa qualidade
de serviço é realmente admirável. Muitas
e muitas consultam provenientes de muitas cidades estão
surgindo para a instalação de provedores. Já,
já, o Norte de Minas representará um maravilhoso
exemplo para outras partes do país.
RUA DOUTOR SANTOS VISTA DE PERTO
A Rua Doutor Santos começava mesmo era no Bar de Manoel
Cândido, onde fica hoje a Caixa Econômica Estadual,
e no Banco Crédito Real onde funcionam as Pernambucanas.
Depois era o barzinho de Adail Sarmento, mais café do
que qualquer outra coisa, pois,
lugar pacato, sério, onde nem viajante do Hotel São
Luiz podia fazer barulho e conversar alto, tudo com muito respeito
ao lado de um mini restaurante em que alguns estudantes mais
bem postos na vida – como o Ivan Guedes – podiam
tomar semanalmente um pequeno lanche, com gorjeta para o garçom.
Pensando bem, o bar ou café de Adail Sarmento era um
quase sucesso, com tiras de bilhetes de loteria e açúcar
refinado retirado do vidro com colherinhas compridas, bem ao
olho do dono reclamador dos exageros. Quando um dia um viajante
encheu a xícara todinha de açúcar, Adail
perguntou a ele por que gostava de café tão amargo...
De lá saíam muitas estórias para a portaria
do hotel no outro lado, onde muitos anos depois, ainda falavam
de saudades do bom Sebastião Sobreira, que de tão
bom, no dia em que morrera, os pobres choraram nas ruas no meio
de muitos lamentos pela perda do amigo e protetor. Era no Hotel
São Luiz, nas quintas-feiras, à noite, a reunião
do Rotary Clube, a mais fina nata da aristocracia montes-clarense,
lugar em que pontificavam inteligências e interesse pelo
bem público, como João Souto, Nozinho Figueiredo,
Moreira César, Niquinho Teixeira Fontes, Cel. Coelho
Gentil Gonzaga, Chico Tófani e Nathércio, entre
os que se foram, e Luiz Pires, Antônio Augusto Athayde,
João Valle Maurício, Lezinho, Baendel, Geraldo
Guerra, Luiz de Paula, Levy Peres, entre os muitos que ainda
estão muito vivos.
Luiz de Paula, no meu acompanhamento de jovem repórter,
foi o melhor presidente que conheci, quando uma noite no Rotary
dava tanto assunto que, no dia seguinte, eu escrevia todo o
JMC, com exceção da página de polícia.
Até para crônica social do A. R. Peixoto, e, mais
tarde, dos J. e J., eu fornecia dados para fazer sucesso. Era
uma festa e tanto, e nenhum assunto importante poderia ser sugerido
ou resolvido sem passar por lá. Um pouco acima ficava
a farmácia do Juca de Chichico, com ele sempre muito
falante, alegre fazendo trocadilhos, mexendo com um e com outro
que passava, bem vestido, já não muito novo, mas
bastante saudável para viver intensamente como gostava.
Dele me lembro muito bem nos dois extremos da rua, porque encontrávamos
também muitas vezes por dia no Hotel São José,
lá no fim, na praça Cel. Ribeiro. Era a única
farmácia da Rua Doutor Santos, antes de Montes Claros
ser o maior paraíso de farmácias da face do planeta
Terra. À frente, o Banco Hypothecário e Agrícola,
de Mauro Moreira e Lidehir, com placa ainda escrita com “y”
e com “th”, contrastando já com certa modernidade
dos bancos de João Damásio, que era chamado de
Barroso, e de “Seu” Armando, o Bancomércio,
onde trabalhavam Gil Meira, o Luizão Martins e Theodomiro
Paulino, o Theo quase menino. O barulho ficava por conta da
loja de rádios e eletrolas e geladeiras e discos de 78,
do Dizinho Bessa, uma precursora das modernas lojas de muita
propaganda, aonde muitas vezes fui buscar anúncios para
o Jornal. Era um contraste com a linha de grande elegância
e silêncio da “Renner” de Nathércio
França, com camisas de colarinhos trubenizados e os ternos
vindos prontinho de Porto Alegre, da maior elegância,
juntamente com passagens aéreas a antiga Nacional de
voos diários para Belo Horizonte e Salvador. Nathércio,
com João Leopoldo brotinho, cantor da jovem D-7 e com
testes na Rádio Nacional do Rio, era o melhor e mais
ponderado papo de tudo que cheirava ao atual da cidade e do
país. Creio que, além de ternos e passagens de
avião, a gente poderia comprar lá também
gravatas, lenços e cuecas samba-canção,
em grande evidência naquele tempo.
Como
veem, não chegamos ainda nem ao JMC, que ficava em frente
à Padaria Santo Antônio, onde o cheirinho de pão
quente era uma gostosura...
TEMPOS DE CASSINO
Não havia a Rua Lafetá, desembocando ali na rua
Carlos Gomes. O que havia lá era só o esplendor
do Alhambra, casa de mulheres grã-finas, chefiada com
mão de ferro por Ana Reis, uma organização
de dar gosto. A rua Lafetá só foi aberta já
no fim da administração de Capitão Enéas
Mineiro, quando este a ligou com a rua Visconde de Ouro Preto,
que até hoje conserva o nome. Era nesse encontro de esquinas
que ficava o cassino, casa de festas, de jogos, de encontros,
que tinha na placa o respeitável nome de Clube Minas
Gerais. Ao lado, em volta, pertinho, longe, dezenas de casas
de mulheres, com janelas apinhadas de propaganda viva, contida
algazarra de quem precisava acatar as exigências das famílias
vizinhas. Durante o dia, certo respeito. A noite, agora sim,
é hora de se divertir, pode levantar o tom da música
que é tempo de prazeres. Todos os homens, tendo dinheiro,
estão convidados!
Foi por causa do cassino que não pude ficar morando na
Pensão de D. Ismênia, na Praça de Esportes.
Menino ainda, não ficava bem passar, toda hora, em frente
das casas ditas de tolerância, subisse pela rua S. Francisco,
pela Carlos Gomes ou pela Altino de Freitas; pela rua Lafaiete,
aí nem podia pensar, era lá o centro de tudo,
a capital do pecado. Sabedor mestre da situação,
Dr. Carlyle Teixeira, meu conselheiro, mandou-me para a rua
Afonso Pena, no beco do Padre Marcos,
para a pensão de D. Tonica, lugar de gente muito mais
séria. De lá para a Imperial, durante o dia, ou
para o Diocesano, durante a noite, era um pulinho, e bem a salvo
da malandragem ou da perdição... Assim era mais
seguro, pensava ele.
Engraçado é que, apesar de todo esse cuidado,
por ser amigo de Anibal Rego, que era amigo de Ana Reis, raro
foi o dia em que eu não passava pelo Alhambra, para ouvir
rádio ou escutar conversas do mulherio de luxo, não
sei que tempo eu encontrava para isso. O cassino eu via por
cima, da sacada, lá dentro a orquestra ou um tipo de
regional dirigido por Godofredo Guedes, um mestre da clarineta,
a dedilhar e soprar boleros, tangos e velhas músicas
de jazz. Com dezesseis anos, entrar na festa estava fora de
qualquer cogitação. Este direito ficava com os
rapazes mais velhos como Geraldo Borges, Geraldo Avelar, Dudu
Cunha, Ildeu Gonzaga, Carlúcio Athayde, ou meninos ousados
como Bebeto Prates.
De todos os frequentadores das casas de mulheres, o mais importante,
o maior galã, era Dudu Cunha. Grã-fino, rico,
bonitão, vivia a época de ouro dos donos de caminhão.
Na noite em que ele chegava de Taiobeiras, toda a Pensão
de D. Ismênia só falava nas suas aventuras, no
cuidado que ele tinha com as roupas, com os sapatos, com o perfume,
no demorado barbear. Os filhos de Nego do Ó, que vinham
de Salinas, Gildásio Ramos, que parece, já morava
em Montes Claros, todos ficavam alvoroçados para acompanhá-lo,
tirando uma casquinha do seu sucesso. Era um espetáculo
para todos nós, os mais novos, mais sensacional do que
um episódio de seriado do Cine Cel. Ribeiro. Dizem que,
com Dudu, até Nivaldo e Benedito Maciel, os donos da
noite, ficavam ofuscados. Montes Claros se curvava perante Taiobeiras!
Fora
daí, num outro circuito de que eu só ouvia falar,
as estórias corriam por conta de um rico comerciante
chamado Kalil, de Ludendorff, de José de Souza Zumba,
de Benjamim Moura, e de jovens doutores bem conhecidos, entre
eles Mário Ribeiro, João Valle Maurício
e Konstantin Christoff, todos grã-finos, elegantes e
bem postos na vida...
INSTITUTO HISTÓRICO E CULTURAL DOS POLICIAIS CIVIS DO
NORTE DE MINAS
Os policiais civis do Norte de Minas passaram a contar desde
sábado com seu Instituto Histórico, criado com
o objetivo de fomentar a atividade cultural e intelectual e
ainda resgatar a história do trabalho dessa corporação
na região. A instituição é uma iniciativa
da escrivã Gessiléia Soares Cangussu e teve meu
apoio e tutoria do Instituto Histórico de Minas Gerais
e Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.
A reunião de aprovação do estatuto foi
realizada com a participação de dez policiais
civis da ativa e aposentados. A entidade cobrirá os 86
municípios do Norte de Minas.
A mentora Gissiléia Soares Cangussu explicou que desde
2012 tem o projeto de fomentar a atividade cultural entre os
vários segmentos da Polícia Civil no Norte de
Minas, que chegam a aproximadamente 500 membros, sendo 300 na
ativa e 200 como aposentados. No final do ano, o seu esposo
André Luiz a incentivou a criar o Instituto Histórico,
com apoio do Instituto Histórico e Geográfico
de Montes Claros. Foram iniciadas as reuniões e a proposta
teve adesão, pois de imediato, vinte pessoas decidiram
participar, como por
exemplo, os delegados Manoel Messias e Biancart José
Monteiro que são escritores e historiadores. O Instituto
Histórico dos Policiais Civis é inédito
em Minas Gerais.
“O escritor Wanderlino Arruda assumiu a função
de tutor, ficando responsável pela organização
do seu estatuto e regimento interno, além de direcionar
as medidas no aspecto intelectual. Ele carrega a experiência
de membro do Instituto Histórico de Minas Gerais, criador
do Instituto Histórico e Geográfico do Norte de
Minas, criador da Academia Maçônica de Letras do
Norte de Minas e da Academia de Letras do Banco do Brasil. Está
em processo de criação da Academia de Artes, Ciências,
Letras e Cultura de Francisco Sá e do Instituto Histórico
de Guanambi. É membro da Academia de Letras de Montes
Claros.” (texto de uma relatora)
O Instituto Histórico e Cultural dos Policiais Civis
do Norte de Minas foi instalado na noite de sexta-feira, durante
evento realizado no auditório da Área Integrada
de Segurança Pública em Montes Claros, quando
o delegado aposentado e escritor Manoel Messias Oliveira tomou
posse como presidente. O Instituto é o primeiro do Brasil
na área policial e tem como foco resgatar a história
da corporação policial. O chefe do Departamento
da Polícia Civil, Renato Henrique Nunes e o delegado
regional Jurandir Rodrigues César Junior participaram
da solenidade.
O presidente empossado esclarece que de imediato o Instituto
Histórico e Cultural dos Policiais Civis do Norte de
Minas terá o Boletim Mensal, com informações
sobre as atividades da entidade; depois uma revista semestral,
sempre com artigos dos seus associados e por fim, um livro,
que deverá ser publicado uma vez por ano. Com a experiência
de ter seus textos aproveitados pela Rede Globo em novelas,
Manoel Messias afirma que o Instituto Histórico e Cultural
dos Policiais Civis do Norte de Minas começa com 12 membros,
dois benfeitores e dois correspondentes, o que dá um
total de 16 associados.
O chefe do Departamento da Polícia Civil, Renato Henrique
Nunes explica que a criação do Instituto Histórico
e Cultural dos Policiais Civis do Norte de Minas tem apoio da
corporação por ser o primeiro desse ramo no Brasil
e ainda por ser uma forma de preservação da história
da corporação, pois um povo sem memória
é sem cultura. Renato Henrique afirma que todas as ideias
como essa merecem total apoio.
MESTRES KONSTANTINIE SAMUEL
Leio o bonito e completo texto do meu amigo e irmão Samuel
Figueira sobre o nosso amigo Konstantin Christoff, que acabou
nos deixando pela força dos 85 anos de vida, e me lembro
perfeitamente da primeira exposição de pintura
do Samuca, no prédio da Rua Justino Câmara com
Padre Teixeira, e da apresentação que fiz, com
palavras que soam até hoje na minha consciência,
como se aquele julgamento fosse eterno. Afinal, era a história
de um menino genial, que, adulto, se tornava mais genial ainda.
Abaixo, um pouco do que escrevi sobre o artista, a sua vida
e a sua arte.
Um dia o garoto toma coragem, veste a sua melhor roupinha, põe
na cara o melhor dos sorrisos, e corre pressuroso em busca do
elogio e do incentivo do já famoso futuro colega Konstantin
Christoff. Leva o mais trabalhado dos quadros, aquele mais acadêmico,
mais certinho, de pinceladas bem cuidadas. Pede a opinião
e baixa a vista, modesto, temendo, antecipadamente, as palavras
de louvor. Mas tudo sai ao contrário, Konstantin, jovem
e fogoso, não sabe mascarar a verdade. Não gostando,
diz sinceramente ao menino que não gostou. Faz mais:
mando-o ir embora, esquecer o entusiasmo, jogar fora os pincéis
e as tintas e tentar fazer outra coisa mais condizente com a
sua vocação, que, de natural, pelo que via, não
seria a de pintor. O menino revolta-se, fica com o espírito
em brasa, assustado, coça a cabeça e, em princípio,
resolve aceitar o conselho, a sugestão por mais terrível
que fosse. Chateado, chateadíssimo, sai e volta para
casa. Triste e meditativo, raciocina melhor e conclui que está
diante de um grande desafio, o que até pode ter sido
esse o desejo de Konstantin. Analisa o passado, entrevê
o futuro, e toma uma decisão: nem Konstantin nem ninguém
pode ou vai sufocar o seu destino, sua vontade de ser artista.
Se com aquelas palavras Konstantin estava mesmo é
querendo despertá-lo, desafiá-lo, provocá-lo,
ele iria ver, iria conhecer a sua reação de menino-homem,
um grito de luta em busca de novo mérito. E quem sabe,
até de elogios!
O que fez então o menino? Voltou a sua energia em direção
ao próprio Konstantin, crítico ou conselheiro,
produzindo, de súbito, a sua primeira e revolucionária
composição moderna, uma mescla de variações
geométricas e instrumentais, em cores robustas e enérgicas,
pinceladas marcantes. Para compor o rosto, desenhou uma chave
inglesa, representando todo o conjunto facial; para traduzir
o cachimbo, enfiou-lhe um machado bem tosco na boca. Resultado:
uma figura chocante, mas de grande efeito. O crítico
Konstantin gostou. Gostou tanto, que o aconselhou agora a buscar
de novo, e com muito amor, os velhos pincéis baratos.
E que o garoto partisse para a realização de novas
e muitas tentativas. Procurasse ser menos Godofredo e muito
mais Samuel.
Data daí a nova fase da vida do artista Samuel. Pouca
produção, muito cuidado, mais procura de melhor
qualidade. Ideias sobre ideias. Formas sobre formas, transparências
e coloridos novos. Entusiasmo comedido, decidida concentração,
firmeza no ideal. Sem favor nenhum, pode-se considerar, em face
do tempo, que Samuel Figueira, também meu mestre e crítico,
é e será sempre um excepcional desenhista e pintor,
artista de primeiríssima linha. Graças à
inteligência, força de vontade e talento, dos melhores
da história de Montes Claros. Sempre ele agradeceu isso
ao amigo e colega Konstantin Christoff. E eu também!
PROFESSOR CÍCERO PEREIRA, UMA INSTITUIÇÃO
O espírito se enriquece com aquilo que recebe;
o coração com aquilo que dá. (Victor Hugo)
Construir pontes de amizade e entendimento, dialogar por toda
a continuidade da vida, ser simples e autêntico como bom
norte-mineiro - otimista, alegre, motivado sempre e sempre –
acredito foram qualidades primordiais do professor Cícero
Pereira, personagem e tema do livro PROFESSOR CÍCERO
PEREIRA, do irmão, companheiro e amigo Antônio
Felix da Silva.
Natural de Grão Mogol, Cícero dos Santos da Silva
Pereira viveu vida plena e consciente com todos os coloridos
de uma encantadora espiritualidade, só possível
a seres iluminados por muitos méritos.
Foi homem sem metades, sem lacunas, alma e corpo por inteiro,
cristão em tempo integral da primeira à última
hora. Todas as qualidades de um ser humano incomparável
no seu tempo ou em qualquer tempo.
Conheci muito Cícero Pereira em muitos e muitos dedos
de prosa com a sua irmã Lisbela, querida amiga. Conheci
Cícero através do seu irmão Ezequiel, este
dileto amigo de longo convívio na Fraternidade Espírita
Canacy, instituição espírita fundada pelos
dois, lá pelos idos de 1920. O professor Zeca dizia que
o primeiro contato dele e de Cícero com o Espiritismo
ocorreu na adolescência, quando passando pela rua Rui
Barbosa, em Montes Claros, encontraram dentro de uma valeta,
uma mensagem psicografada, que lida em voz alta, foi um despertamento
imediato, como se tivessem minerado um tesouro. Em uníssono,
disseram mais do que imediato:
- Vamos seguir esta doutrina. É boa demais da conta!
Conheci Cícero Pereira também através da
história de Montes Claros, estudando gentes e costumes.
Cícero foi o primeiro gerente do Banco da Lavoura de
Minas Gerais, de início localizado na esquina da São
Francisco com a Praça Daniel Costa, coração
e centro comercial. Homem bom por natureza, servir no banco
ou na vida era uma atitude mental, um lema da existência.
Em Cícero como em Ezequiel e Lisbela, o Evangelho tinha
sentido real, era norte para todas as ações, em
casa, na rua ou no trabalho. Não bastava conhecer a virtude,
era preciso possuí-la e colocá-la em prática.
Tudo sempre a favor, tudo sempre em melhoria das pessoas e das
fases de progresso. Espírito consciente do próprio
valor tem que ter virtudes multissecular, produzir e ensinar
felicidade. “O amor não está no outro, está
dentro de nós mesmos. Nós o despertamos, mas para
despertá-lo, necessitamos
do nosso próximo, do outro, de outrem. Não podemos
deter o progresso... O Amor é difícil para os
indecisos, assustador para os medrosos, avassalador para os
apaixonados, para os que sabem o que querem. Nunca desistir
da busca de ser feliz é para poucos”. Palavras
de Cecília Meireles.
Cícero Pereira, nasceu em Grão Mogol aos 14 de
novembro de 1881, fez curso primário em São José
do Gorutuba e curso de magistério na Escola Normal de
Montes Claros, onde chegou ao cargo de diretor. Casou-se com
Guiomar Lellis em março de 1903. Ela e ele professores,
ele além de professor, guarda-livros, taquígrafo,
bacharel em Ciências Jurídicas e Sociais e poliglota.
Foi também um bom esperantista. Em Grão Mogol,
a partir de 1909, exerceu o magistério e foi prefeito,
coletor estadual e colaborador assíduo da imprensa. Ali,
levantou a bandeira do Espiritismo, conseguindo reunir elevado
número de adeptos, mercê de sua simpatia, cultura
e talento de grande orador. Em 1927, mudou com a família
para Belo Horizonte, e lá fundou “O Tempo”
e dirigiu o “Espírita Mineiro”. De junho
de 1937 a junho de 1940, foi presidente da União Espírita
Mineira. Avesso à vaidade, sempre recusou medalhas e
comendas. Nasceu, viveu e morreu pobre de bens materiais.
Cícero conviveu com espíritas exponenciais de
Minas e do Brasil, entre eles Manoel Quintão, Guillon
Ribeiro, Carlos Imbassahy, Leopoldo Machado, Clóvis Tavares,
Pietro Ubaldi, Pedro Machado, Virgílio Pedro de Almeida,
Rubens Costa Romanelli, Bady Elias Couri. Francisco Cândido
Xavier era tido como um filho muito querido de Cícero
e Guiomar. É dele este depoimento: “Achava-me em
graves dificuldades no desdobramento de minhas atividades mediúnicas,
após a publicação do “Parnaso de
Além Túmulo”, em 1932, e
precisava ouvir um companheiro que me auxiliasse nos esclarecimentos
de que necessitava. Nosso caro Professor não só
me recebeu com imensa bondade, como também me franqueou
a própria moradia, onde por muitas vezes tive o privilégio
de ouvi-lo, tanto quanto a sua querida esposa Dona Guiomar,
sobre os mais variados problemas da vida, com o que ambos me
fortaleceram a fé, no estímulo ao trabalho de
que foram exemplos vivos, em nosso mundo”.
O nome de Cícero Pereira está ligado a centenas
de instituições espiritas em Minas Gerais. Nome
de rua em Montes Claros, tem o seu nome uma das mais prestigiosas
entidades espíritas de Brasília-DF, o Centro Espírita
da Fraternidade Cícero Pereira. Sem qualquer dúvida,
um nome nacional.
Como dizia o seu irmão Ezequiel, haverá eternamente
um caminho a percorrer. Perfeccionistas, para eles não
bastava fazer coisas boas, era preciso fazê-las bem. Lembro-me
do professor Zeca, já com seus 84 anos, setenta de Espiritismo,
estudando cada livro, anotando -os em latim, em esperanto, em
inglês ou mesmo em português cada palavra, cada
trecho importante.
- Por que não somente lê, professor? Desses livros,
acredito que o senhor sabe tudo...
- Nada, Wanderlino, aprendo para o agora e para a vida espiritual,
que já vem perto. É preciso aprender mais e mais.
Estudo do mesmo jeito que estudava sempre o meu irmão
Cícero. O aprender não tem fim...
Louvo de todo o meu coração este livro de Antonio
Felix da Silva. Louvo o seu amor a Montes Claros e ao Norte
de Minas, concentrando-o todo na memória sobre a excepcional
existência do pro fessor
Cícero, o melhor e o maior exemplo de expansão
do bem e da fé raciocinada. Uma forma perfeita para também
divulgar a doutrina espírita que aprendemos com o inesquecível
professor Ezequiel, que como o irmão Cícero, era
reconhecidamente inteligente e dinâmico, persistentemente
didático na ação e na divulgação
de bons princípios. Um e outro capazes de perceber cada
degrau evolutivo, cada etapa da melhoria espiritual.
Espero que este livro do meu samideano no Montes Claros Esperanto
Klubo e confrade da Academia Montes-clarense de Letras, Antônio
Felix da Silva, seja, ao mesmo tempo, memória e documento
de uma das maiores personalidades do Espiritismo brasileiro.
Bem haja!
_______________________________________________________
Este livro foi composto na tipografia Adobe Caslo Pro em
corpo 12 e Helvética Neue, impresso em papel offset 75g/m2
. Montes Claros, novembro de 2020.
Impresso
na oficina da
GRÁFICA EDITORA MILLENNIUM LTDA.
Rua Pires e Albuquerque, 173 - Centro
39.400-057 - Montes Claros - MG
E-mail: mileniograf@hotmail.com
Telefone: (38) 3221-6790