
O ESCRITOR
1º Encontro dos Escritores do
norte de Minas Gerais no ano de 1991
A Literatura é uma manifestação da alma. Por isso ela difere das Ciências Exatas. Vivendo em um País de Terceiro Mundo, subdesenvolvido, desigual, carente de saúde, de alimentos e principalmente de educação, desejamos que a nossa Literatura cresça e seja cada vez mais primorosa dentro dos padrões intelectualmente aceitos.
No entanto, se continuarmos com esse academismo seletivo que existe desde que o Brasil foi colonizado, podemos afirmar com segurança que a Literatura Brasileira representa realmente a cultura Brasileira?
A maioria dos brasileiros, principalmente os pobres, só concluem o Primeiro Grau de Ensino. Isso ocorre por várias razões. O jovem precisa trabalhar cedo para sobreviver e ajudar sua família também a sobreviver. Por estar desnutrido, ele não tem forças para trabalhar e estudar.
Qual é o estímulo que ele recebe da sociedade e principalmente
da Escola? Os assuntos apresentados nos currículos são totalmente
divorciados do seu dia a dia. A grande maioria que termina o Primeiro
Grau, o faz para conseguir cumprir uma exigência legal que o obriga a
isso. Comigo aconteceu isso e acredito que acontece com muitos dos
que estão aqui presentes neste Encontro.
Aquele que termina o Primeiro Grau é semialfabetizado. Ele
inicia uma nova etapa da vida, a vida profissional, em pleno vigor
físico. Cheio de vida e de encanto. Se a pessoa vive em Montes Claros,
não consegue ficar alheio a tanta beleza natural como os Montes
Claros que nos envolvem.
A pessoa não consegue ignorar o momento mágico da alvorada
e do entardecer, à solidão da Lua Cheia ou ao místico e enigmático
momento da Lua Nova. A pessoa semi alfabetizada, como todo ser
vivente, não resiste à beleza do Ipê em flor, ao cheiro do Alecrim do
Cerrado, ao canto do Sabiá, à beleza e a formosura dos nossos jovens
e ao esplendor e a grandiosidade do Criador, que através da Natureza,
tudo nos dá sem exigir nada em troca.
Ah! Como vivenciar tudo isso, sem mostrar suas impressões
aqueles que caminham ao seu lado? Somos cidadãos do Mundo. Pertencemos
ao Mundo. Vivemos no Mundo. Queremos registrar para
todos que existimos.
Queremos provar que sonhamos. Que amamos. Que somos
sensíveis. Que somos responsáveis. Esse é o grande drama dos Montes
Clarenses e porque não dizer de todos os brasileiros que conseguiram
decifrar as letras.
Nossa Cultura Popular é exuberante, rica e criativa. A grande
dificuldade é se comunicar e se expressar utilizando a Língua Pátria.
Os mais destemidos vão às Bibliotecas, consultam os dicionários, pedem
ajuda aos amigos para traduzir para a Língua Oficial, os seus pensamentos, suas emoções e seus sentimentos, porque a Escola não
lhes ensinou a fazer isso.
Qual é o papel da Escola e dos intelectuais nesse contexto? A
Alma do Brasil pulsa. Vive. É real. Negar essa realidade seria o mesmo
que negar a nossa existência como Nação. Não podemos continuar
dependendo de coragem para entrar no caudaloso rio que é a Literatura
Brasileira.
Precisamos o quanto antes descer das cátedras e levar ao povo a
educação e todos os instrumentos intelectuais que ele necessita para se
manifestar livremente. Como Escritores precisamos contribuir com as
nossas obras para que o conhecimento chegue até ao povo.
Precisamos contribuir para que as nossas crianças terminem o
Primeiro Grau, alfabetizado e com uma formação básica adequada
para o seu desenvolvimento profissional e cultural. Precisamos dar aos
jovens instrumentos úteis para que possam produzir, criar e manifestar
os seus pensamentos sem temor e com liberdade.
A Arte é uma manifestação da Alma. É o momento sublime que
o Ser Criado se assemelha ao Criador. Não podemos criar barreiras
para limitar a criatividade. Devemos derrubar as barreiras existentes
o quanto antes para que a Alma Brasileira possa brilhar como a claridade
do Sol.

O ARRAIAL DE FORMIGAS DO RIO
VERDE E A CONSTITUINTE DE 1823.
Convocada a 3 de junho de 1822, instala a 3 de maio de 1823 e dissolvida, por decreto de Dom Pedro I, a 12 de novembro do mesmo ano, a Assembleia Geral Constituinte e Legislativa de 1823 recebeu requerimentos e proposições de todas as regiões e províncias do Império. Dentre os pedidos feitos pelas câmaras municipais e procuradores do povo, consta um documento concernente ao norte da província de Minas Gerais e ao município de Montes Claros em especial.
Em 1823 o Procurador dos povos do Sertão dos Gerais e rio de São Francisco da parte de Leste, Thomaz da Costa Alcami Ferreira requisitou a Dom Pedro I a elevação do Arraial de Formigas do rio Verde à categoria de vila. A proposta foi encaminhada à Assembleia Constituinte, lida na sessão do dia 30 de julho pelo secretário Manoel José de Souza França e repassada à Comissão de Legislação e Estatística para estudos de viabilidade.
Com a “dissolução violenta” da Assembleia na tarde de 12 de novembro de 1823 e a prisão dos principais parlamentares por orAparecido dem do imperador (SOUSA, 1972, p. 410-420) o requerimento de
Alcami Ferreira sequer foi apreciado pela comissão responsável. No
entanto, a factibilidade do Arraial de Formigas do rio Verde tornar-se vila continuou a ser discutida em Ouro Preto pelos membros do
Conselho de Governo e do Conselho Geral da Província de Minas
Gerais. Os dados estatísticos do Plano apresentado em 10 de março
de 1826 pelo secretário de governo Luiz Maia Silva Pinto para a nova
organização civil da província de Minas Gerais comparada com o que
existia em 1823 indicam que o Arraial de Formigas era o maior da
região, contando com 192 fogos, tendo o seu distrito 1.972 almas e
500 fogos (CARVALHO, 1922, p. 71-99). O mapa da província de
Minas contendo o projeto de nova divisão civil e eclesiástica (criação
de municípios e freguesias), desenhado por Luiz Maria Silva Pinto
em 1826 apresenta os contornos do futuro município de Formigas.
O território da nova edilidade abrangeria os distritos de Formigas,
Bom Fim e Itacambira, tendo por limites os rios Pacuí, Verde Grande,
Jequitinhonha e Vacaria.
Os antecedentes da instauração da Vila de Formigas em 1832
envolveram esforços dos principais moradores da região, dentre os
quais Thomaz da Costa Alcami Ferreira que solicitou ao monarca a
criação do novo município em 1823. Apesar de alguns pesquisadores
afirmarem que o município criado em 13 de outubro de 1831 e instalado
em 16 de outubro do ano seguinte tenha sido uma imposição
pura e simples das instâncias superiores (governos provincial e imperial),
os debates no Conselho Geral da Província, os abaixo-assinados
e requerimentos dos fazendeiros da região demonstram que a fundação
das vilas de São Romão, Formigas, Curvelo e Januária atendeu
diretamente aos anseios dos grupos políticos regionais. A câmara de
Formigas, por exemplo, não foi ocupada por homens bons provenientes
de Ouro Preto, mas por indivíduos que desde meados do século
XVIII já eram proprietários de terras e grandes plantéis de escravos.

O FAMOSO BANDOLEIRO
O cordelista Rodolfo Coelho Cavalcante, baseado nos livros de Saul Alves Martins (Antônio Dó: o famoso bandoleiro do rio São Francisco) e Manoel Ambrósio Alves de Oliveira (Antônio Dó: o bandoleiro das barrancas), escreveu a história do maior bandoleiro norte-mineiro, Antônio Antunes de França, vulgo Antônio Dó, em cordel, detalhando as suas investidas contra o povo ordeiro do São Francisco. É uma narrativa interessante, curiosa e cheia de situações vividas perigosamente no cerrado mineiro, principalmente na cidade de São Francisco, nas beiradas do rio que lhe empresta o nome. Afinal, quem foi esse Antônio Dó?
Muito bem! Antônio Dó foi um trabalhador rural, que vivia do roçado de grãos e do que mais a terra lhe pudesse prometer. Criava o gado vacum e algumas vacas leiteiras, nos currais sem cercas, para o sustento exclusivo de sua família. Foi duramente atacado pela inveja e pelo ódio dos seus inimigos. O livro de Saul Martins, sobre a vida perigosa de Antônio Dó, traz a verdadeira história de um homem aguerrido no seu trabalho e que foi injustiçado por ser uma pessoa
honesta e temente a Deus. Até no último momento ele conheceu
o gosto da traição, quando foi abatido como um animal feroz, em
sua própria casa. Antônio Dó nasceu no ano de 1859, na cidade de
Pilão Arcado, no Estado da Bahia, de onde veio para a hinterlândia
januarense. Em pouco tempo ele construiu um razoável patrimônio
rural, e logo depois se envolveu em questões de briga por divisões
de terra. Preso por trinta dias, ele foi maltratado cruelmente, isso
na mesma época em que um de seus irmãos foi morto e o seu gado
era roubado por ladrões. A partir desse desencontro, ele passou a
atacar fazendas e povoados. Antônio Dó era um homem justiceiro e
vingativo. As suas atitudes de cabra corajoso lhe proporcionou uma
condição de continuar vivo, mesmo sabendo que a morte a todo
instante lhe rondava impiedosamente. Nota-se que o escritor Manoel
Ambrósio foi o primeiro a escrever as suas desventuras, enquanto isso,
os escritores Brasiliano Braz e seu filho Petrônio Braz, registraram em
livros, a saga heroica do bandoleiro do rio São Francisco com muita
perfeição e extrema competência.
Da literatura para a sétima arte foi um pulo. Em 1980, a
história do famoso bandoleiro foi apresentado nas telonas do cinema
em todo território brasileiro. Na sinopse do filme de Paulo Leite
Soares, que teve a participação impecável dos autores Luiz Linhares,
Nelson Xavier e Roberto Bonfim diz que “Antônio Dó, um pacato
fazendeiro da cidade de Januária, é preso e humilhado por um chefe
político local. Revoltado com a opressão sofrida não só por ele, mas
pelos habitantes da região, Dó forma um bando armado que, por
mais de 10 anos, combate os governantes corruptos na localidade”.
Ainda, neste sentido, é aguardado, com muita ansiedade, outro filme: “A saga de Antônio Dó”, que foi produzido por ilustre escritor Dr.
Petrônio Braz..
“Desfiando o rosário de tragédias que envolveu a trajetória de
Dó pelas malhas insidiosas do sertão bruto, pôde Manoel Ambrósio
descarregar quantas amarguras e desgraças saboreara ao longo de sua
luta contra a hipocrisia, a prepotência e a arbitrariedade, luta inglória
e aniquilante dos iluminados contra a mediocridade enraizada nos
cérebros obscuros e nas almas pútridas”. Ainda há muito o que se falar
sobre a vida e morte desse famoso bandoleiro. No Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros o prezado leitor encontra todos os
livros sobre o bandido-herói Antônio Dó, Vai lá!


APENDICITE AGUDA
COMPLICADA NUM IDOSO
O paciente tinha 75 anos e apresentou quadro súbito de Abdômen Agudo Inflamatório: dor abdominal de média intensidade, difusa, que se localizou no baixo ventre, à direita, náuseas, vômitos, febre baixa e parada de eliminação de fezes e gases.
À palpação abdominal notava-se o sinal da descompressão brusca dolorosa (sinal de Blumberg) e discreta contratura muscular na FID (fossa ilíaca direita).
O hemograma mostrou leucocitose moderada de 10.200/ mm³, com desvio para a esquerda (neutrofilia ou aumento dos neutrófilos), eosinopenia (diminuição dos eosinófilos) e a VHS aumentada. Urina rotina normal. O RX simples do abdômen mostrou a presença de níveis hidroaéreos no baixo ventre (íleo paralítico).
Foi feito um ECG de rotina, jejum e indicada a cirurgia de urgência, realizada com sucesso: apendicectomia, devido apendicite aguda supurada, limpeza e drenagem da cavidade.
O pós operatório transcorria normalmente quando, no 6º dia,
apareceram os sintomas e sinais de obstrução intestinal: vômitos frequentes,
distensão abdominal progressiva, queda do estado geral e
deiscência parcial (abertura) da incisão cirúrgica, com a ruptura de
pontos, devido aos esforços provocados pelo vômitos. O RX simples
do abdômen com o paciente de pé, mostrou níveis hidroaéreos difusos,
confirmando o diagnóstico.
Nova Laparotomia foi realizada, encontrando-se distensão generalizada
de todo o intestino delgado, com grande quantidade de
líquido de estase no seu interior, que foi exaustivamente aspirado,
através de sonda nasogástrica, perfazendo um total de 1,5 litro, sendo
usada a técnica da “ordenha” do íleo para o jejuno proximal, para
esvaziar as alças. A causa da obstrução foram as aderências no íleo
terminal, com angulação do mesmo.
O pós operatório, no CTI, foi complicado, pois o paciente
apresentou o temido íleo paralítico prolongado por dez dias, tendo-se
de se manter a sonda nasogástrica, com aspiração constante e medida
rigorosa do volume, dieta oral zero e hidratação venosa com nutrientes,
plasma e “papa de hemácias”. Houve ferimento da asa do nariz,
devido ao trauma da sonda, além da secura acentuada da língua e
garganta. As funções cárdio vasculares e renais se mantiveram boas e
a fisioterapia respiratória e dos membros inferiores, foram instituídas
precocemente.
Com o retorno dos movimentos peristálticos e eliminação de
gases, a sonda nasogástrica foi retirada e iniciou-se a alimentação oral,
com alta do CTI.
Mas, outra complicação surgiu com o paciente em casa, assistido
por Jansen e uma enfermeira prática: houve necrose parcial da
incisão cirúrgica, com deiscência (abertura) da parede parcialmente,
até ao nível da aponeurose, ficando tudo bloqueado, o que evitou a
evisceração.
A conduta, então, foi conservadora, passando-se para a feitura
de inúmeros curativos, com antibiótico local (Rifocina), antisépticos,
luvas, para evitar as contaminações. Todos os dias, no final da tarde,
ou à noite, lá ia Jansen para a residência do paciente, para os curativos
e controle da evolução do caso, até a completa cicatrização “por
segunda intensão”.
O paciente se recuperou totalmente, voltando a dirigir o seu
automóvel, após alguns meses, ficando como sequela uma Hérnia Incisional
(Eventração pós operatória) de médio volume, passando a
usar uma cinta abdominal.
Esse caso marcou, profundamente, a Vida Profissional do Médico,
despertando nele o sentimento de humildade, que deveria nortear
sempre tão nobre profissão!
CASOS DE TUBERCULOSE PULMONAR ANTIGA COM
TRATAMENTO DAS CAVERNAS RESIDUAIS

Na época havia 03 pacientes que foram tratados há mais de
vinte anos de Tuberculose Pulmonar e se submeteram à chamada Colapsoterapia
Pulmonar através de Pneumotórax Te-rapêutico (injeção de ar da cavidade pleural com aparelho apropriado), com a finalidade
de fechamento das cavernas residuais, provocadas pela doença
em estágio avançado. Era vulgarmente chamado de “isolamento do
pulmão” afetado.
Tais pacientes, naquela época já sofriam de certo preconceito
e, assim, procuravam esconder seu estado clínico e Jansen os atendia
discretamente, fazendo controles radiológicos e os encaminhava para
exame de escarro (pesquisa de baar: bacilo ácido álcool resistente)
agente causador da tuberculose, no SESP, com um Serviço qualificado
para aqueles casos.
O aspecto radiológico era, de certa maneira, impressionante,
com opacificação total do hemitórax afetado e desvio do Mediastino
para aquele lado e numerosas sinéquias (ade-rências), inclusive deformando
a cúpula diafragmática. Mais uma fonte de aprendizado!
CIRROSE HEPÁTICA ALCOÓLICA COM HIPERTENSÃO PORTA

Homem de confiança do Prefeito e funcionário antigo Municipal,
responsável pela parte financeira, fazia e datilografava os Contratos
relativos ao Hospital da Conferência São Vicente de Paulo, onde
Jansen trabalhava, chamou o Médico para atendê-lo na sua residência.
Numa cidade pequena as pessoas sabem muito bem dos hábitos
e vícios dos seus moradores e, sabia-se, à boca pequena, que aquele
senhor começava a ingerir cervejas super geladas às 6:00 horas da manhã
e depois do expediente, nos botecos ou em sua casa, diariamente,
apesar dos conselhos e ponderações da sua esposa. O casal não tinha
filhos.
Na anamnese, o paciente queixou-se de vômitos escuros (hematêmeses)
tipo “borra de café” e melena (fezes com sangue metabolizado,
com aspecto de “carvão”).
Mucosas ligeiramente hipocoradas, hipertensão arterial e frequência
cardíaca em torno de 100 bpm, dor à palpação do fígado
e esplenomegalia (aumento do baço) tipo 2, entre a reborda costal
esquerda e o umbigo, sem sinais de ascite (líquido na cavidade peritonial).
Com todos esses dados, a hipótese diagnóstica foi de Cirrose
hepática Alcoólica com Hipertensão Porta e sua consequência: as Varizes
de Esôfago, que se rompem e sangram, podendo levar ao óbito,
quando o sangramento é copioso!
Aquele episódio cedeu com o tratamento clínico de soroterapia
venosa, antieméticos e Vitamina K injetável (Kanakion IM).
Foi recomendado ao paciente procurar um Especialista em BH
o mais breve possível: Gastroenterologista, para os exames necessários,
mas se tratava de um doente rebelde que continuou, logo depois,
a ingerir as tais cervejas, diariamente.
Num fim de semana, durante a ausência do Médico, teve morte
súbita, devido a um provável IAM (Infarto Agudo do Miocárdio).
COLECISTITE AGUDA CALCULOSA COMPLICAD A COM
OBSTRUÇÃO INTESTINAL, APÓS 12 DIAS DA CIRURGIA

Tratava-se de um paciente de média idade, obeso (125 Kg), taxista,
sedentário e portador de um imenso volume abdominal, que já
se submetera à uma ressecção de Lipoma na nuca, sob anestesia local,
com Jansen, sendo seu cliente de longa data.
Era portador de Colelitíase, confirmada por radiologia, mas vinha
protelando a cirurgia, quando se iniciou um quadro súbito de
Colecistite Aguda, com dor intensa e contínua no Hipocôndrio Direito,
náuseas, vômitos, febre, parada de eliminação de gases e fezes e
icterícia moderada.
Foi internado de urgência, sendo realizados os exames rotineiros
de sangue, urina, ECG e RX de tórax em AP e Perfil e indicada a
Cirurgia.
Realizada a Laparotomia com incisão subcostal direita (Kocher),
confirmando-se a Colecistite aguda calculosa, com colecistectomia,
peritonização do leito vesicular e Colangiografia per operatória
para se afastar a presença de cálculo no Colédoco, que foi normal.
Drenagem subhepática com dreno de Penrose, exteriorizado por contra
abertura e fechamento da parede abdominal, por planos. O pós
operatório transcorreu normal, com alta hospitalar no 6º dia.
Mas, no 12º dia, o paciente foi trazido para o P.S do Hospital,
com um quadro de Obstrução Intestinal: dor tipo cólica intensa,
náuseas, vômitos, parada de eliminação de fezes e gases, distensão
abdominal intensa, sendo reinternado de urgência, para Jansen, que
solicitou uma Tomografia do Abdômen, com contraste, para se afastar
Pancreatite Aguda, confirmando-se aquele primeiro diagnóstico.
Quando o paciente foi levado para o bloco cirúrgico, acompanhado
pelo seu médico, Jansen ouviu um comentário da Enfermeira
de sala:” é, doutor, tem de ser muito macho para enfrentar um abdômen
desse”!
Realmente, nós Médicos, aprendemos com os nossos Mestres,
que devemos enfrentar qualquer situação, com o objetivo de beneficiar
os nossos pacientes, pois, o nosso comprometimento é: MISSÃO
E VIDA, título escolhido para esse Livro!
Nova Laparotomia foi realizada, com incisão longitudinal ampla,
pararetal interna direita subcostal, até abaixo do umbigo, devido
ao grande volume abdominal.
Constatou-se torção de íleo terminal que se aderiu na fossa da
vesícula biliar, retirada na primeira intervenção, com grande distensão
das alças do delgado e líquido de estase, que foi aspirado, desfazendo-se as aderências e recolocando o intestino nos seus lugares, com fechamento
da parede por planos. O pós operatório transcorreu normal
com o paciente recebendo alta hospitalar no 6º dia.
COLEPERITÔNIO PÓS COLECISTECTOMIA
O paciente de 50 anos de idade foi submetido à Colecistectomia
usual, devido ser portador de Colecistite crônica calculosa sintomática,
com crises frequentes de cólicas, náuseas, vômitos e intolerância
a alimentos gordurosos, confirmado o diagnóstico pela Radiologia
(Colecistograma oral).
Durante a cirurgia, foi realizada a rotineira Colangiografia per
operatória, para se afastar cálculo no colédoco e alteração da papila
duodenal, sendo normal.
O pós operatório transcorria normalmente quando, no 5º dia,
apareceu dor intensa no hipocôndrio direito, febre, calafrios e queda
do estado geral, com ligeira icterícia e o RX simples do Abdômen
em ortostatismo mostrou a presença de líquido acumulado no espaço
subhepático, apesar da presença do dreno de Penrose. O exame de
sangue mostrou leucócito se, com aumento dos neutrófilos, granulações
tóxicas e VHS aumentada.
Nova Laparotomia foi realizada, através da incisão anterior,
constatando-se o temido Coleperiônio (acúmulo de bile no espaço
subhepático), que foi devidamente aspirado lavando-se com soro fisiológico
morno em abundância.
A ligadura do coto cístico estava íntegra, bem como os ductos
hepáticos direito e esquerdo, hepático comum e colédoco, aventando-se a hipótese da existência de diminutos ductos hepáticos acessórios
na fossa da vesícula biliar (variação anatômica), que escoaram a bile
após a colecistectomia, anteriormente realizada. Colocado dreno tubular,
com exteriorização por contra abertura da parede abdominal.
Como foi dito, o Coleperitônio (peritonite biliar) é um processo
inflamatório grave, porque a bile não infectada exerce ação traumática
sobre os vários tipos de células, inclusive os leucócitos, por dissolução dos lipóides, baixando a sua tensão superficial e pertubando o seu
metabolismo normal, causando a ulterior desintegração dos mesmos.
A bile também interfere com a atividade fagocitária dos leucócitos e as
concentrações elevadas de bile destro- em completamente as células!
E mais, a bile é um ótimo caldo de cultura, propício para os
poucos germes existentes inicialmente proliferarem rapidamente,
provocando processo séptico secundário.
Todos aqueles efeitos nefastos citados são maiores em presença
da bile infectada peritonial!
Felizmente, a complicação foi resolvida em tempo hábil e o
paciente se recuperou totalmente. Satisfação geral!
UM CASO DE APENDICITE AGUDA SIMULANDO
COLECISTITE AGUDA
O paciente foi internado de urgência apresentando dor abdominal
intensa, ao nível do quadrante superior direito, vômitos, febre
moderada, parada de eliminação de gases e fezes e icterícia (conjuntivas
oculares amareladas), de início há 02 dias.
Os exames complementares foram solicitados, inclusive RX
simples de Abdome em ortostatismo (de pé), aventando-se a hipótese
diagnóstica de Colecistite Aguda, iniciando-se o tratamento clínico e
acompanhamento da evolução do caso.
Mas o quadro clínico se agravou, com aumento da icterícia e
leucocitose acentuada com presença de granulações tóxicas nos neutrófilos,
ausência de eosinófilos e VHS (velocidade da hemossedimentação)
elevada, tudo indicando a instalação eminente da temível “sepsis
abdominal”, ou seja a septicemia, com sua alta mortalidade!
Diante de situação tão grave, Jansen providenciou a remoção
imediata do paciente para um Centro de maiores recursos a cerca de
50 KM.
Lá o paciente foi submetido à Laparotomia Exploradora, encontrando-se peritonite purulenta generalizada, devido Apendicite
Aguda gangrenada e perfurada, com um detalhe: o apêndice cecal era
do tipo ascendente, comprido, cuja ponta alcançava o espaço subhepático,
explicando assim a simulação de uma Colecistite Aguda. O
paciente faleceu no pós operatório imediato, devido à septicemia. Ficou,
assim, aquele sentimento de frustação, para Jansen!

UM HOMEM DE VALOR!
Ao se comemorar amanhã os 100 anos de nascimento do meu tio Marcelo Mameluque Mota aproveito este espaço para falar dele e de uma viagem que fizemos em 1994 à cidade de São Francisco. Apenas ele e eu.
Nesta viagem passei a conhecer mais a personalidade e o “jeito de ser e de viver” do meu querido Tio Marcelo, irmão do meu pai, Pedro Mameluque Mota. Nascidos no Brejo do Amparo, em Januária, tiveram mais dois irmãos, Tio Batista e Tia Elza. Meu avô paterno faleceu aos 36 anos de idade. Vovó Dizia criou os filhos. Tio Marcelo mudou-se para Belo Horizonte visando estudar, trabalhar e vencer na vida. Venceu!!!
Seu primeiro emprego foi na Rádio Inconfidência, cursou o Centro de Preparação de Oficiais da Reserva do Exército brasileiro em Belo Horizonte e fez o Curso de Medicina Veterinária na Universidade Federal de Minas Gerais. Por Decreto do Presidente Getúlio Vargas foi nomeado para a SUVALE, Superintendência do Vale do São Francisco, em Pirapora. Depois foi nomeado para o Quadro Permanente
do Ministério da Agricultura onde merecidamente se aposentou.
Mas vamos falar um pouco da nossa viagem. Uma viagem que
seria de aproximadamente uma hora e meia foi feita em três horas.
Por que? Porque Tio Marcelo, culto e falante que era, fazia comentários
inteligentes, e solicitava algumas paradas, para falar de Mirabela, Brasília de Minas, São João da Ponte, Januária, Belo Horizonte e das
suas diversas viagens de carro e avião pelo estado a fora. Diferente dos
homens apressados de hoje, meu tio não tinha pressa. Era um homem “bom de papo”, companheiro, gentil e prestativo. Como radioamador
ajudou diversas famílias e diversas pessoas, em uma época em que
não existiam celulares, internet e uma comunicação ágil e eficaz. Ele
encurtava a distância entre as pessoas. Mas dentre as várias histórias
e estórias que ele me contou vou destacar apenas duas; em face do
espaço semanal.
Ele me contou que na pré-campanha à Prefeito de São Francisco
a rural vermelha de campanha capotou na Serra da Onça, nos idos
de 1970 e que chegar a notícia em Pirapora da morte do seu irmão
Pedro Mameluque. Um caminhoneiro chegou com a trágica notícia.
Tio Marcelo, acompanhado de alguns companheiros da SUVALE e
da Polícia Militar se dirigiram-se ao local do acidente, na perigosa
Serra da Onça. Avistou a rural capotada e Pedro Glorinha sentados na
beira da estrada. Ele aflito perguntou se estavam todos bens quando
meu pai respondeu: Estamos apenas empoeirados. Precisando de um
bom chuveiro quente!!! Não tiveram sequer um arranhão. Segundo
ele foi a proteção de Nossa Senhora Aparecida, sua Santa protetora.
A segunda estória é que ele teria ouvido, do quarto do hotel,
no Rio de Janeiro, o tiro que levou ao suicídio o Ex-Presidente Getúlio
Vargas. De fato, ele se encontrava no Rio de Janeiro na data do
ocorrido e uma semana antes havia sido recebido em audiência por
Getúlio e Tancredo Neves. Segundo ele Tancredo havia lhe oferecido
um “Licor de Jenipapo” que ele aceitara.

Marcelo Mameluque Mota
Conheci três homens muito inteligentes. Dois pelos livros;
outro pelos causos contados e histórias vividas: Os primeiros Darcy
Ribeiro e Dr. Petrônio Braz, o terceiro Marcelo Mameluque Mota.
Petrônio que tão bem conheceu Marcelo.
Foi uma viagem que muito ouvi e muito aprendi. Ele falava
com entusiasmo de Tia Maria e dos filhos Silvana, Athos, Aramis e Soraia.
Tinha muita alegria da trajetória vitoriosa de cada um dos meus
primos. Falava com carinho do nosso primo Márcio (Nem) de quem
era fã incondicional. Nem não deixava de “pregar peças” no saudoso
Tio Marcelo. Uma delas, uma das primeiras, quando Tio Marcelo
nos visitava na Avenida Ovídio de Abreu, Nem anunciara que o carro
do Tio estava se incendiando. Tio Marcelo se dirigiu apressado para
porta da casa e constatou que se tratava de um trote. Mas para terminar
vou repetir o que meu pai falou do seu amado irmão em crônica
publicada no “Jornal do Norte” de janeiro de 2002, portanto há 20
anos atrás:
“É tempo de agradecer. Tudo é dom de Deus: a vida, a saúde, a
família reunida, os amigos... você para mim antes de ser pai e irmão,
tem sido o melhor amigo: o amigo que acolhe, que compreende, que
perdoa, que está sempre presente nas horas alegres ou difíceis e tenho
certeza de que todos aqui concordam comigo: você é o meu amigo,
o irmão camarada, que chega primeiro, que sorri, e que chora junto,
que socorre, que apoia. A bíblia sagrada nos diz que o “amigo é uma
poderosa proteção. Aquele que encontrou um amigo, encontrou um
tesouro... Você é este tesouro para todos nós”.
Assino embaixo da fala do meu pai.

DARCY RIBEIRO
Este ano está sendo comemorado o centenário de nascimento do imortal montes-clarense Prof. Darcy Ribeiro. Uma das nossas maiores inteligências. Sendo assim falaremos um pouco do seu Romance: O mulo. O antropólogo Darcy se mostra completamente inteiro em “O Mulo”. Também considerado por muitos literatos brasileiros como um romance regional ele retrata o cotidiano do Sertão das Gerais, de Montes Claros a Cristalina de Goiás. Passa pela construção de Brasília-DF em um tempo de Coronéis, herança próxima dos Coronéis de Brasília de Minas, São Francisco, São Romão. Segundo Wanderlino Arruda, Darcy, sem demorar muito será reconhecido, como um dos grandes romancistas brasileiros do Século XX. Será, talvez, lembrado muito mais como romancista do que como o grande sociólogo, político, antropólogo e político questionador que foi. Somente para relembrar: “Assim cheguei a esse poço sem fundo de lembrança, que despejo em cima do senhor. Sou, hoje, um mulo cheio de reminiscências. Eu nem supunha que coubesse em mim, nem em ninguém, tanta lembrança como as aqui recordadas. Com surpresa vi quanta estava em guardada, soterrada, querendo sair, sopitar, sangrar.”
Sobre esta obra, Darcy Ribeiro escreveu em seu livro Testemunho“Ao contrário do chamado romance social que exalta humildes,
mas heroicos lutadores populares, em O Mulo eu retrato o nosso povo
roceiro, sobretudo os mais sofridos deles que são os negros, tal como
os vi, sempre mais resignados que revoltados. Além da espoliação de
sua força de trabalho e de toda sorte de opressões a que são submetidos,
nossos caipiras sofrem um roubo maior que é o de sua consciência.
O patronato rural se mete em suas mentes para fazê-los ver a si
mesmos como a coisa mais reles que há.”
“Guardo em mim recordações indeléveis das brutalidades que
presenciei em fazendas de minha gente mineira e por todos estes brasis,
contra vaqueiros e lavradores que não esboçavam a menor reação.
Para eles a doença de um touro é infinitamente mais relevante que
qualquer peste que achaque sua mulher e seus filhos. Esta alienação
induzida de nossa gente, levada a crer que a ordem social é sagrada e
corresponde à vontade de Deus, é que eu tomei como tema, mostrando
negros e caboclos de uma humildade dolorosa diante de patrões
que os brutalizavam das formas mais perversas. Tanto me esmerei na
figuração destes contrastes que um pequeno bandido político em luta
eleitoral contra mim fez publicar alguns daqueles meus textos de denúncia
como se expressassem minha postura frente aos negros“.
Darcy retoma o tema da velhice, da desilusão do fim de vida,
dos nossos raros momentos de reflexão. “O mulo” é uma obra de
questionamentos. Inicialmente incompreendido pelos críticos literários
e pela maioria dos leitores este romance regional vai se mostrando
cada vez mais universal à semelhança de “Grande Sertão: Veredas”.
Philogônio é a antítese do herói Riobaldo de Rosa.
Havia uma certa harmonia, um certo respeito do Senhor de Engenho
para com o negro e especialmente a negra das Senzalas. Negra
que se deitava com o Senhor. Negra ama de leite. E viviam em harmonia.
Em “o mulo” Darcy quebra esta lógica da” Democracia Racial”.
Permeando entre o bem e o mal.
Philogônio de Castro Maya (Maia com Y) é o seu último nome.
Inventado. Engendrado pelo recadastramento da Justiça eleitoral
goiana, porém, este nome teve diversos outros nomes: Já foi chamado
de ninguém, de coisa, de estrupício, de nada, fuso, qualquer um, Filó,
Terêncio Bórgia (que se julgava seu pai) e Terezo. Por fim: mulo.
“Uma madrugada que acordei estremunhado e saí porta a fora,
bati com o pé no moleque que vivia enrodilhado ali; acordando assustado
ele me perguntou gritando: Que é seu mulo? Quem é quem?
Perguntei eu. Aprendi ali, naquela hora, meu apelido”.
Maya nunca amou verdadeiramente qualquer pessoa. Talvez
um amor carnal por Emilinha; mas nem tanto porque a lançou aos
negros sedentos. Terminou sem a quem deixar tantas conquistas iniciadas
com arrieiro e depois tropeiro em Paracatu, sempre em direção
às águas limpas de Goiás. Tornou-se rico de posses, mas pobre de sentimentos
nobres. Fazia sua própria justiça, do seu jeito. E narra tudo
na fazenda Laranjos. Amigos? Talvez um único; Militão. Tão amigo
que coube a ele comprar o seu luxuoso caixão em Brasília-DF. Fim de
vida amargurado? Arrependido? De alguns pecados...
Darcy que tanto admirava a fé de Mestra fininha talvez tenha
convivido muito com Deus sem o saber. E poderia muito bem ter
colocado em suas “confissões” uma máxima do Poeta maior Fernando
Pessoa: Cheio de Deus não temo o que virá, pois venha o que vier,
nunca será maior do que minh’alma”. Obrigado Darcy!

O UNIVERSO CRIOU A SI MESMO
A PARTIR DO NADA
Stephen Hawking (1942/2018) físico teórico e cosmólogo britânico, nascido em Oxford, tornou-se um dos maiores cientistas de todos os tempos, responsável por grande parte das maiores descobertas, relacionadas a astrofísica moderna. Hawking foi importante para a ciência porque conseguiu difundir o interesse pela cosmologia, ramo da astronomia que se foca em estudar a origem, a evolução, a composição e estrutura do universo. Foi um dos que mais pesquisou sobre os “Buracos negros” que instigam a nossa imaginação e são debatidos pelos cientistas há mais de 100 anos. “Buracos negros” são regiões no espaço celeste com enorme força gravitacional. Apesar de dificuldades motoras, Hawking é autor e coautor de 15 livros científicos, entre os quais “Uma breve história do tempo”. Em suas últimas publicações, sentado numa cadeira de rodas, com respirador artificial e incapaz de falar após uma traqueostomia, ele usava um aparelho para se comunicar, através de um movimento do queixo para digitar, em média, uma palavra por minuto, afetado pela doença conhecida como Esclerose Lateral Amiotrópica (ELA).
Notoriamente ateu, o cientista declarou em várias oportunidades
que o “Universo criou a si mesmo a partir do nada”, descartando
completamente a existência de Deus na criação. Paradoxalmente,
num documentário recente, disponibilizado no YOUTUBE,
Hawking explica a formação do sistema solar, que acabou sendo noticia
em diversos sites internacionais, com uma série de informações
que coincidem com o relato bíblico de Gênesis sobre a criação.
Eis o relato descrito na Bíblia em Gênesis 1-14: “ Disse também
Deus: Haja luzeiros no firmamento dos céus, para fazerem separação
entre o dia e a noite; e sejam eles para sinais, para estações, para dias e
anos. ” Ou seja: o momento da criação do Sol, da Lua e das estrelas.
A tese do falecido Hawking tem como principal defensor o escritor
norte-americano Paul Hutchins, autor de livro sem edição em
português, cujo titulo em tradução livre significa “ Hubble revela a
criação.” Nessa obra ele se propõe a mostrar com base nas descobertas
feitas pelos super telescópios (Hubble) da Agência Espacial Americana
(NASA), evidências da narrativa de Gênesis 1. Hutchins relata
que as recentes descobertas da NASA, tem mostrado que os planetas
se formam em total escuridão, a partir de uma nuvem disforme de
poeira e detritos, exatamente como é mostrado no documentário. Isso
coincide exatamente com o relato de Gênesis 1.2a : “ E a terra era sem
forma e vazia.” Ainda na opinião do autor, a afirmação do verso do
mesmo Gênesis 1: “ Haja luz”, corresponderia ao momento em que o
sol começou a ser um astro plenamente formado,como demonstrado
no documentário de Stephen Hawking.
Por fim, não deixa de ser, no mínimo impressionante o fato de a
Bíblia um livro escrito há milhares de anos, conter uma narrativa que
tanto se assemelha ao que a ciência tem descoberto. Em uma época
de incertezas, esta é uma boa noticia. A palavra de Deus é luz na escuridão.
Pode se conhecer a Deus e ouvir a sua voz hoje pela leitura
do maior de todos os livros: a Bíblia. Deus fala conosco como um pai
fala com o seu filho ou como um amigo querido que nos escreve umacarta. O teólogo e arqueólogo Dr. Rodrigo Silva em um programa de
Ronnie Von na TV afirmou: “este livro consegue fazer algo que outros
livros não conseguem, e exemplificou: admiramos os clássicos de Machado
de Assis, sabemos que a educação enobrece, mas se colocarmos
os livros de Machado de Assis numa prisão, quantos presos abandonariam
as drogas e a criminalidade? Nenhum. Contudo, ao colocar
a Bíblia, vários teriam as vidas transformadas.” É um livro humano
de origem divina.” Estudá-lo é a mais nobre de todas as ocupações;
entendê-lo, o mais elevado de todos os objetivos.

“A MAÇONARIA NORTE-MINEIRA
NA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX”: UM SPOILER
Recebi com surpresa, e ao mesmo tempo com alegria, a honrosa missão de prefaciar a feliz e importante obra intitulada “A Maçonaria Norte-Mineira na Segunda Metade do Século XIX”, de autoria do querido Irmão e confrade Yury Vieira Tupynambá de Lélis Mendes, que registra a instalação da maçonaria no Brasil, em especial no Norte de Minas.
Fazer o prólogo de tão importante obra, pesa no ombro de quem se aventura em fazê-lo, pois é uma imensa responsabilidade, ainda mais em se tratando de um aprendiz, o qual sempre serei, no desbaste incessante da pedra bruta.
O autor, Yury Tupynambá, advogado e mestre em História Política pela Universidade Estadual de Montes Claros, é um escritor que, apesar de jovem, já figura entre a plêiade de intelectuais de Montes Claros e região, sendo membro efetivo do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros (Cadeira 96 – Patrono: Tobias Leal Tupinambá) e da Academia de Ciências, Letras e Artes de Coração de Jesus (Cadeira 09 – Patrona: Felicidade Perpétua Leal Tupinambá).
Recém-iniciado nos Augustos Mistérios da Arte Real, já se mostrou
comprometido com os ideais da Ordem Maçônica, honrando a memória
de seus antepassados que dela fizeram parte, como os Irmãos
Sebastião Mendes dos Santos (seu bisavô) e Capitão Camilo Cândido
de Lélis (seu tetravô).
Na referida obra, o autor registra os processos de constituição,
durante o século XIX, das Lojas maçônicas nas cidades de São Romão,
Diamantina, Grão Mogol, Sêrro, Januária, Paracatu e Montes
Claros, bem como a luta incessante de seus fundadores e membros
ilustres, que não mediram esforços para tornar a sociedade mais justa,
fraterna e igualitária.
Tal documentário nos remete ainda a fatos importantes, com
destaque para a participação da Maçonaria norte-mineira na política
da época, a exemplo da Conjuração Mineira, da Independência do
Brasil, da Guerra do Paraguai, da Abolição da Escravatura e da Proclamação
da República. Rememorar esses acontecimentos, muito nos
orgulha por fazer parte de tão distinta Instituição.
O autor ainda nos presenteia com a narrativa, em capítulos distintos,
sobre a fundação e acontecimentos históricos das Lojas Maçônicas:
1) “Atalaia do Norte” e “União Diamantinense” (Oriente de
Diamantina); 2) “Aurora do Progresso” (Oriente de Grão Mogol); 3) “Estrella do Oriente” (Oriente do Sêrro), “União e Segredo Januarense”
(Oriente de Januária) e “Nova Luz Paracatuense” (Oriente de
Paracatu); e 4) “Pureza” (Oriente de Montes Claros).
Logo no início, quando contextualiza o surgimento da Maçonaria
nas Minas Gerais, o autor traz a lume a existência da Loja Maçônica “Nova Estrella”, fundada ao Oriente de São Romão, no Norte
de Minas, em 16 de dezembro de 1843, funcionando sob o Rito Moderno.
A “Nova Estrella”, ainda segundo o autor, foi a pioneira oficina
maçônica nestas plagas, não tendo passado despercebida por Leon
Hyneman em seu World’s Masonic Register, de 1860.
Sobre a ARLS “Atalaia do Norte”, Oriente de Diamantina, Loja
mais longeva do Vale do Jequitinhonha, surgida entre 1867 e 1873,
o autor discorre sobre a fundação daquela oficina e sua primeira diretoria,
mas não sem antes relatar a passagem do Alferes Tiradentes no
Tijuco e sua participação na maçonaria local. O autor ainda empresta
destaque a cidadãos ilustres, tais como: Padre Rolim, Padre Belchior
Pinheiro de Oliveira, General Vieira Couto de Magalhães e Major
Domingos José de Almeida, bem como Coronel Josephino Vieira
Machado (o “Barão do Guaicuí”), João Moreira Maia, João Nepomuceno
Kubitschek (tio-avô materno de JK), Augusto Elias Kubitschek
(avô materno de JK), João César de Oliveira (pai de JK), dentre outros,
que iniciaram naquela oficina e que contribuíram sobremaneira
para com o desenvolvimento das Minas Gerais e do Brasil. O autor
aproveita o capítulo para relatar também um breve histórico sobre
a ARLS “União Diamantinense”, cuja origem é incerta mas que reergueu-se em 1873, durando pouco mais de 10 anos. Esta vetusta
Oficina seria novamente reerguida por maçons da “Atalaia do Norte”
em 21 de abril de 1998.
Da ARLS “Aurora do Progresso” nº 3, Oriente de Grão Mogol,
oficina também centenária, fundada em 1874, no apogeu da extração
de diamantes, o autor destaca a figura do Coronel Gualter Martins
Pereira, o “Barão de Grão Mogol”, idealizador e um dos fundadores
daquela auspiciosa Oficina, bem como de outros cidadãos ilustres,
que contribuíram com o desenvolvimento social e cultural de nossa
centenária Grão Mogol, e que, como “pedreiros livres”, não mediram
esforços para promover o progresso, a liberdade, a prática da virtude
e o patriotismo incondicional, pilares que norteiam o cotidiano dos
homens livres e de bons costumes.
Da ARLS “Estrella do Oriente”, ao Oriente do Sêrro, no centro-nordeste de Minas Gerais, Loja fundada em 14 de outubro de
1875 e regularizada em 08 de dezembro do mesmo ano, figurando
como idealizadores e fundadores o tenente-coronel Jacinto Pereira de Magalhães e Castro e o Dr. Joaquim José Ferreira Rabello (o “Barão
do Sêrro”), o autor enumera os feitos dos obreiros daquela Oficina,
em especial os fundadores, cidadãos que através de suas ações, muito
contribuíram para com o desenvolvimento político, cultural e social
daquela região.
Da ARLS “União e Segredo Januarense” nº 392, Oriente de
Januária, oficina fundada em 15 de dezembro de 1879 e regularizada
em 18 de novembro de 1883, portanto, também centenária, o autor
destaca o episódio de vandalismo, ocorrido em 1879, onde bandidos
liderados por Manoel Tavares de Sá, o “Neco”, invadiu o prédio da
Loja, destruindo acervos, decorações, mobília e incendiando livros,
arquivos e documentos, o que comprometeu o registro da história dos
primeiros anos daquela laboriosa Oficina.
Não obstante o truculento episódio ocorrido, a centenária “União e Segredo Januarense” seguiu firme no seu propósito, sob o
comando de grandes homens, dentre os quais se destacam o Coronel
Antônio José da Rocha, o Comendador Lindolpho Caetano de Souza
e Silva, o Coronel Benedicto Alves Ferreira e, principalmente, o Coronel
José Eleutério de Souza, o “Barão de São Romão”, que levaram
adiante a honrosa missão de promover o progresso e o desenvolvimento
de Januária e todo o Vale do São Francisco.
Da ARLS “Nova Luz Paracatuense” nº 394, ao Oriente de Paracatu,
no noroeste mineiro, Oficina fundada em 13 de março de
1880, no auge da exploração do ouro, ao que se sabe, por irmãos do
Oriente de Olinda-PE, o autor empresta destaque ao Irmão Júlio César
de Melo Franco, baluarte da maçonaria paracatuense, bem como
de outros laboriosos irmãos que não mediram esforços para alavancar
o progresso de Paracatu e todo o noroeste mineiro.
Da ARLS “Pureza” nº 250, Oriente de Montes Claros, oficina
fundada/regularizada em 21 de junho de 1894, sendo a mais antiga
de Montes Claros, o jovem autor ainda nos brinda com uma bela narrativa sobre sua fundação, figurando como seu líder maior, o Tenente-Coronel Celestino Soares da Cruz, e ainda discorre sobre a biografia
de cada um dos fundadores, grande parte deles portadores de patentes
militares, enfatizando os feitos do bravo capitão Camilo Cândido de
Lelles, seu tetravô.
O autor registra ainda os acontecimentos e a participação dos
Irmãos da “Deus e Liberdade” e da “Esperança do Norte”, unidos
em prol do soerguimento das colunas da Loja Pureza, atestando com
propriedade a liderança intelectual do principal executor do projeto,
o querido Irmão Carlos Américo Souto de Freitas.
Por fim, meus cumprimentos ao valoroso Irmão Yury Tupynambá,
que numa linguagem clara, simples e concisa, registra com
galhardia a história da instalação da Maçonaria no Norte de Minas, e
sua efetiva participação nos principais acontecimentos de Minas Gerais
e do Brasil.

O TREM E MINHAS LEMBRANÇAS
Sempre me vem à lembrança, o momento que ouço o trem chegando, geralmente vem acompanhado com sua buzina, soando alto, cá de casa, mas precisamente do meu quintal, em noite de poucas estrelas no céu, debaixo da goiabeira paro para escutar o trem, as vezes sento só pra ter o prazer de ouvi-lo passando, percebe-se que ele passa bem distante de minha casa, seu barulho é inconfundível, deslizando sobre os dormentes de madeira, rangendo as rodas nos trilhos, o motor acelerado, aos poucos, vai se aproximando em direção à estação.
Voltando no tempo, me veio a imagem de seu Jorge de dona Dilma chegando da cidade de Corinto, ele era funcionário da Rede Ferroviária naquela época, no momento em que ele se aproximava do bairro onde morávamos vizinho dele, o maquinista provavelmente, diminuía a velocidade, pra ele jogar sua bolsa, e bagagens na beira da linha, apeando antes do destino final, a estação, aquela cena pra mim ficaria marcada pra sempre, pura imaginação, na sua bagagem além das roupas de viagem, ele costumava trazer peixes, doces, queijos, e outras coisas que matavam a saudade de sua terra natal, lá se vai décadas,
tanto seu Jorge como nossa família nunca mais se viram, mas o
importante ficou: a nossa amizade.
O trem de ferro, sempre alimentou minha curiosidade, era fim
dos anos setenta, fomos morar no bairro Cristo Rei recém construído,
tudo novinho pintado de branco, a casa onde fomos morar não fazia
parte do Bairro Cristo Rei, na verdade era o prolongamento do Bairro
São Judas, mas era chique falar para as pessoas que morávamos no
Cristo Rei, fomos morar devido ao grande volume de chuva que caiu
incessante por quarenta dias, naquele ano de setenta e nove a chuva
bateu recorde e foi um verdadeiro dilúvio, estradas interditadas, rios
transbordando, lavouras se perdendo debaixo d água, e muitas casas
desabando, e este foi o que nos levou à mudarmos de bairro, a velha
casa na avenida Cula Mangabeira veio abaixo, era domingo, todo
mundo em casa, estávamos aproveitando a visita do sol que à dias não
dava as caras, e lá do meio da rua jogando conversa fora, assistimos
as paredes desabando, até irem literalmente pro chão, a alternativa foi
sair em busca de uma nova moradia, urgente.

No início após a nossa chegada, tudo era estranho, pessoas desconhecidas,
o bairro era praticamente desabitado, com isso, bateu a
curiosidade de ir até à beira da linha pra ver o trem chegar da capital,
era uma manhã ensolarada, eu e Ednaldo, meu irmão, subimos a
rua pra ver de perto o trem passar, vi pela primeira vez quando ele
surgiu na curva, acelerado e barulhento, soltando canudos grossos
de fumaça, os vagões de passageiros vinham abarrotados de pessoas,
todos espremidos nas janelas, observando a chegada na cidade, o local
ainda era despovoado, era mato pra todo o lado, do alto do barranco
a molecada jogava pedra nos vagões, era uma verdadeira festa pra eles,
não sabíamos que aquela cena já era rotineira para quem morava às
margens da linha, e assim fiquei conhecendo o trem e achei o máximo.
Foi inesquecível!
O trem baiano que circulou por décadas na nossa região, trouxe
desenvolvimento, encurtou caminhos, atraiu paixões e construiu famílias,
uniu culturas e costumes, e acabou desativado, segundo a empresa,
por motivos de retorno financeiro, e reestruturação da empresa.
Foi um choro sem medida, pessoas que dependiam do transporte ficaram
de pés e mãos atadas, a Estação Ferroviária, no centro de Montes
Claros, responsável pela entrada e saída de tanta gente, perdeu seu
glamour e nunca mais foi a mesma. Ficou deserta, sem vida, um entra
e sai de pessoas vindas de todos os cantos, com suas bagagens. Tudo
isso ficou mesmo só na lembrança, e nas narrativas de boca em boca.
Sempre que assisto a um filme, no qual aparece as imagens de
um trem, confesso que me faz voltar no tempo, as lembranças me
leva até à época dos filmes de faroeste americano, atores consagrados
davam o máximo de realidade nas cenas da telona, tempo bom sem
compromisso, as cenas nunca mais saíram de minha mente até hoje,
jamais esqueci, eram bandidos malfeitores, mocinhos valentes, índios
apaches selvagens defendendo seu território contra a invasão do
homem branco, e do outro lado soldados armados até os dentes , já
os passageiros, estes, no meio do fogo cruzado tentando se proteger, tudo faz paz parte do tempo que se foi há muito tempo, mas o trem
que vi pela primeira, não fazia parte das gravações de algum filme de
faroeste, ele era real, assim como a minha curiosidade.
Na obra de José Mauro de Vasconcelos, no livro O Meu Pé de
Laranja Lima, a amizade de Zezé e o Português, ficou marcada pela
amizade verdadeira, o convívio com a pobreza, o carinho e atenção
que o menino pobre não tinha dentro de casa, foi retribuída de sobra
pelo amigo ao qual ele ficou conhecendo. Mas o trem de ferro de
Mangaratiba foi cruel com o destino dos dois amigos, tirou a vida do
Portuga, impiedosamente, segundo relato da obra do escritor, o automóvel
do amigo de Zezé, foi atingido pelo trem, quando o mesmo
fazia a travessia pela linha férrea, o automóvel ficou destruído com o
impacto, ao saber da notícia, a criança adoeceu, ficou de cama, tinha
pesadelos e chamava pelo amigo à todo momento, o médico que o
consultou, revelou a família que o motivo da doença, provavelmente
seria emocional, mas isso só o pobre Zezé poderia responder.
O trem que conheci não se chamava Mangaratiba, e nem matou
nenhum amigo meu, ele era conhecido pelo nome de Trem Baiano,
que levava gente, mercadorias, sonhos, e esperança por onde passava
neste sertão afora, fui apresentado a ele, numa manhã, levado pelas
mãos da minha própria curiosidade.
Seu Jorge, aquele nosso amigo que pulava do trem em movimento,
este foi embora, para sua terra natal, sem notícias, como o barulho
da máquina que puxa os vagões de passageiros, a fumaça escura
dos motores, e a buzina potente que ecoava desde a entrada da cidade
rumo à estação, ainda ouço todos os dias, quer seja no meu quintal
de casa, na rua, pois toda forma de lembrar, é uma forma de viver
pensando, que tudo é bom enquanto dura.

FEIJOADA COMPLETA
Um rico comerciante da cidade resolveu fazer uma festa de arromba para comemorar duas datas importantes ao mesmo tempo: o aniversário da esposa e 50 anos de casamento.
Ao tomar conhecimento das excelentes qualidades de Petrônio como um mâitre caipira, contratou-o para fazer uma feijoada no capricho. Coisa para ficar na história. Era festa para mais de 200 convidados e o homem queria tudo do bom e do melhor. Se a festa for para 200 e não forem distribuídos convites pessoais, pode-se esperar pelo menos o triplo.
Foi um fim de semana memorável no sítio do comerciante. Bebidas havia de tudo que é tipo e marca. De cachaça curraleira de primeira, ao mais legítimo uísque escocês, passando por runs, espumantes, vinhos, cervejas e refrigerantes variados. Vodkas, só de primeira qualidade. Não havia aquelas tais de vodkas “entorta chifre”. Neco daquelas pingas que arrancam o couro do beiço.
Também havia deliciosos sucos de umbu, de maracujá silvestre,
de coquinho azedo, de jenipapo e até levanta defunto, um afrodisíaco
feito à base de ovo de codorna com casca, caracu, leite, manteiga de
requeijão e açúcar, tudo bem batido no liquidificador.
Mas dentre todas as atrações, a feijoada de Petrônio era a mais
esperada. E o nosso amigo feijoadeiro não fez por menos. Caprichou
na qualidade e na quantidade. Seis caldeirões de 50 litros cada, cheios
até a tampa da mais legítima feijoada brasileira.
O dono da festa esperava duzentos convidados ou mais. Ou
mais? Ou muito mais? Perderam a conta. Os duzentos talheres encomendados
foram higienizados várias vezes para atender os convidados,
não convidados, penetras e bicões. Um montoeiro de gente que
não acabava nunca.
Mas, quando o feijoadeiro dava a última mexida num dos caldeirões
de feijoada, o filho do dono da casa fez uma brincadeira de
tremendo mau gosto. Ele sabia que Petrônio era mais cosquento do
que burro da cara branca. Aproximou-se por trás com os indicadores
em riste e pegou o moleque pelas costelas, como se pega um cavalo
empacador nas esporas.
Quando Petrônio abriu a boca para dar um berro, as duas dentaduras
pularam dentro do caldeirão de feijoada como um nadador
pula na piscina. Já foram caindo e afundando. A panela estava quente.
Tentou enfiar a mão. Não deu. Com uma concha bem grande ele
tentou várias vezes resgatar as encrencas. Nada. E agora? Fazer o quê?
Jogar fora 50 litros de feijoada? Nunca! Tinham que pensar rápido no
que fazer. Ninguém ficou sabendo de nada. Apenas o filho do patrão
viu o insólito acontecimento.
O rapaz sugeriu que deixassem aquele caldeirão por último,
porque talvez não fosse preciso usá-lo. Ou, no caso de chegarem muitos
bicões, aquele seria servido apenas para eles. Os convidados de
honra, os bacanas, isto é, os primeiros a chegar comeriam das feijoadas dos outros caldeirões, sem o tempero das dentaduras sem escovar.
Petrônio saltou de banda.
- Cê é besta, rapaz? Eu vou ficar sem as minhas dentaduras até
o fim da festa? Vou servir logo este aqui, pra pegar as duas pererecas!
Quero nem saber se convidado é rico, se é bacana ou pé rapado. Vai
ter que comer é desta aqui! E você faça o favor de ficar calado. Se abrir
o bico eu jogo este caldeirão de feijoada no lixo agorinha mesmo.
- Tá bão, pode servir! Não vou falar nada com ninguém não.
- E tem mais - emendou Petrônio - se você comentar alguma
coisa eu conto pro seu pai que a sacanagem foi você quem fez. Foi por
sua culpa que as dentaduras caíram dentro do caldeirão!
- Não, não, respondeu o rapaz, não digo nada a ninguém.
Os convidados já estavam de prontidão esperando as delícias.
Petrônio foi enchendo as panelinhas de barro com a feijoada, mas
olhando cuidadosamente para não servir também as duas dentaduras.
Entregava aos garçons e esses levavam às mesas, como se não tivesse
acontecido nada. Em menos de quinze minutos, raspou o fundo e
achou as duas pererecas. Levou-as à pia, lavou e as colocou na boca.
Só depois, voltou a sorrir.
A galera não parava de enaltecer as qualidades da feijoada. Muitos
diziam que nunca haviam saboreado um prato tão delicioso como
aquele.

AÇÃO DE SANEANTES INDICADA
CONTRA O CORONA-VÍRUS
Antes de explicar a finalidade deste trabalho, apresento a mais consagrada Doutora Francine Souza Alves da Fonseca, filha de Vera Lúcia Santos de Souza, e do autor deste artigo do IHGMC, Landulfo Prado.
Inestimável pesquisadora servidora técnica do Instituto de Ciências Agrárias (ICA) da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), em Montes Claros. É licenciada em Química pela Universidade de Uberaba e em Ciências Biológicas pela Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes). É especialista em Química pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), Mestre em Ciências Biológicas (Unimontes) e Doutora em Ciências com ênfase na Química Orgânica pela Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Realizou pós-doutorado em Produção Vegetal pelo Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais. Recebeu do Instituto Nacional de Propriedade Intelectual (INPI) a primeira carta patente da Universidade Estadual de Montes Claros, relacionada a um Coletor de Folhas e Frutos de Macaúba. Atuou como docente no ensino superior ministrando disciplinas relacionadas à área das Ciências Naturais. Premiada por vários anos desde
o ano de 2011, atuação em grandes áreas das ciências exatas,
várias produções bibliográficas e formações complementares.
Resignada profissional altamente qualificada e com experiência
e servidora técnica federal, na sua sensibilidade de observações
de apuração, conjuga o pensamento bem compreendido em nosso
Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros (IHGMC), que é de desenvolver na história a inteligência, a ação que edifica no
trabalho da ciência existente dentro da Instituição de acesso a pesquisas
que gera um maior intercâmbio global de conhecimento, associado
a um crescimento da leitura e citação de trabalho do autor.
No panorama científico prova o progresso do conhecimento garantido
pelos instrumentos de serviço na experiência materializada,
revela os elementos necessários e dar-lhe pleno cumprimento no
momento que transcorre a epidemia 2019/2020. A ciência auxilia
na cooperação de encontrar em novas possibilidades disposição
de entender o conhecimento, na certeza de que renovamos ideias,
experiências e destinos, cada dia.
O extraordinário trabalho realizado pela digna pesquisadora,
e demais colegas, intitulado: “A química dos saneantes em tempos
de covid-19, você sabe como isso funciona? consistiu na identificação,
organização, e apresentação de informações publicadas em
artigos científicos, no sentido de adaptar os recursos da informação
às reais necessidades do leitor, tornando o acesso as informações
que lhe sirva como fonte de alimentação e suporte teórico. Os pesquisadores
enfatizaram o relevante papel da ciência de qualidade,
transformados em discernimento de fácil compreensão pelos autores
permitindo uma maior proximidade com o universo do conhecimento
e da cultura, cultivando novo entendimento inteirado na
matéria científica.
A abalizada pesquisa; ação de saneantes indicados contra o
coronavírus de Francine Fonseca, e demais pesquisadores, destaca que, desde o início da pandemia, foram divulgados dados sobre o
aumento dos casos de intoxicação com produtos de limpeza, além
do registro da alta procura por álcool em gel no mercado, embora
não seja o único produto eficaz contra o agente.
Doutora Francine Fonseca informa: o maior aliado do consumidor
contra as intoxicações está no próprio produto: o rótulo,
que reúne as principais informações sobre a composição e recomendações
de uso. Mas a excessiva linguagem técnica expressa
em textos de letra reduzida é um dos impedimentos para a compreensão
das recomendações. “A indústria de saneantes tem muita
preocupação em manter o controle de qualidade e o controle de
processo, e os rótulos deixam essas informações disponíveis. Mas
temos muitas críticas em relação a eles. Talvez seja o momento
de demandarmos das empresas que decodifiquem essa informação
para alcançar o público” Francine Fonseca, ainda elucida que em
maio de 2020, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA)
divulgou nota técnica em que informa o crescimento dos
casos de intoxicação com esses produtos. Apesar da quantidade de
informações confiáveis disponíveis, a pesquisadora chama atenção
para a divulgação de notícias falsas pelas redes sociais. “Muitos
procedimentos são condenados pela ANVISA. Mesmo assim, acabam
difundidos pelos aplicativos de mensagens. Orientamos que
os produtos sejam utilizados em concordância com as orientações
do fabricante”
O trabalho completo foi publicado no volume 43 da revista
Química Nova (http://quimicanova.sbq.org.br/detalhe_artigo.asp?
id=9104). Na publicação, são expostos os principais saneantes
de uso comum regularizados pela ANVISA. O documento reúne
detalhes sobre os álcoois, os sais quaternários de amônio, os fenóis
e compostos fenólicos, o cloro e seus derivados e os peroxigênios.
A pesquisadora chama atenção para as indicações de uso dos produtos. “O fenol, por exemplo, não é recomendado para ambientes
com crianças, embora seja encontrado em produtos de limpeza muito conhecidos. É um saneante eficiente, com ação contra o coronavírus,
mas é preciso cuidado com intoxicações”, aponta.
No caso da desinfecção de alimentos, Doutora Francine salienta
uma preocupação. “Não podem ser utilizados álcoois nem
fenólicos. O hipoclorito de sódio é recomendado e apenas em concentração
baixa” explicou. Além disso, não se deve usar vinagre ou
bicarbonato de sódio contra o novo coronavírus, pois esses produtos
não são recomendados pela ANVISA. Já os sais quaternários
de amônio são os indicados, de acordo com a pesquisadora, para
desinfecção de pisos e banheiros. “Trata-se de moléculas encontradas
em desinfetantes em geral”
Além de Francine, o artigo A química dos saneantes em tempos
de covid-19: É assinada pelos professores Maria Lair Sabóia,
do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Bahia,
Ramon Almeida, da Universidade Federal Rural de Pernambuco,
e Caroline Gonçalves da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila).
Doutora Francine Souza Alves da Fonseca, servidora pública
da UFMG, em seus estudos é sempre se atualizar através de pesquisa
e cursos, aprofundando em temas imprescindíveis no universo
da ciência, lida com as normas, sabe implementá-las na Instituição
e como adequar a elas e se destacar nesse universo o domínio
sobre a Inteligência em seu repositório institucional de trabalhos
publicados, se torna muito mais analítico e dimensional, ela passa
a ter uma visão 360º das pesquisas, tendo essa visão, ela prepara a
Instituição para lidar com o cenário analisado colher dados e reunir
informações estratégicas de forma competente.
A nossa gratidão a quem, todos os dias, se dedicam à evolução
da ciência e à saúde da população, construindo pontes entre a
comunidade científica e o público de forma ética e solidária!
Todos têm uma missão, cada um com sua responsabilidade.
Para alguns, pode parecer algo trivial, algo que serve apenas
para marcar o momento. Mas, com certeza para muitos, esta é uma
homenagem que vai além da simples frase e da imagem, constituindo
mais um estímulo para que todos sigam em frente na luta
contra a COVID-19.
O Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros registra
no volume da Revista XXVII, com muita honra e destaca o brilhante
trabalho da autora inicialmente apresentada e expressamos
nosso reconhecimento pelo Progresso do Conhecimento que têm
respeito duradouro em defesa da Ciência, Tecnologia e Inovação
na sociedade brasileira. Com a consciência no intuito de preservar
as instituições universitárias e científicas brasileiras, na construção
do processo civilizatório no Brasil.
O negacionismo em geral, e os recentes cortes nos orçamentos
federais para a ciência e tecnologia têm sido utilizados como
ferramentas para fazer retroceder os importantes progressos alcançados
pela comunidade cientifica brasileira nas últimas décadas.
Parabéns e sucesso nas suas atividades.


CASARÕES E SOBRADOS
O conceito básico desses dois tipos de edificação está em todos os dicionários e enciclopédias. Casarão é uma casa grande, é uma casa em seu grau aumentativo. Sobrado é uma casa de dois ou mais pavimentos; pode ser entendido também apenas como a parte superior ao pavimento térreo de um edifício. Não é pacífica a explicação da etimologia da palavra sobrado. Muitos estudiosos afirmam que o sentido deste termo tem a ver com sobra, o que não é essencial, que não faz falta. De nossa parte, preferimos aceitar a ideia de que se refere ao que está sobre, isto é, em cima de alguma coisa. Fica a discussão em aberto. O que caracteriza o casarão é o tamanho, enquanto o sobrado se define pela superposição de compartimentos, donde se conclui que um sobrado pode ser chamado de casarão, dependendo do seu tamanho, mas uma casa, ou mesmo um casarão, jamais será um sobrado, se possuir apenas um pavimento térreo.
Montes Claros vive um momento especial de ressurreição do passado, conservação do presente e preservação do futuro, pela valorização de seu patrimônio histórico, material e imaterial. Com
isso, ganharam notoriedade vários casarões e sobrados antigos, a
refletirem com fidelidade os valores culturais da época de sua edificação.
Infelizmente, alguns deles foram destruídos pelas intempéries,
e outros demolidos criminosamente, para ceder espaço à
ganância humana, sob falsos pretextos de evolução e modernidade.
Este nosso artigo sobre um assunto tão recorrente não passa de
uma pequena fagulha ao sabor do vento, sem destino certo para
propagar-se, ou mesmo para extinguir-se. De qualquer forma, fica
registrado o nosso posicionamento em favor da memória viva de
nossa cidade.
O naturalista francês Augusto de Saint Hilaire, em sua “Viagem
pelas Províncias de Rio de Janeiro e Minas Gerais”, afirma
que se encontrava na povoação de Formigas, no dia 3 de agosto
de 1817, onde assistiu a uma “procissão que lá, como em todas
as igrejas da província das Minas, se faz nesse dia, em honra da
virgem.” Ao descrever aspectos gerais da povoação, afirma que
ela “pode compreender duzentas casas e mais de oitocentas almas.”
Sobre essas construções, informa: “As casas são quase todas
pequenas, mais ou menos quadradas, baixas e cobertas de telhas.
Três ou quatro tem sobrado. Algumas são construídas de adobes,
as outras de barro e varas cruzadas.” Como se verifica com o narrador,
naquele povoado de então, antes de sua emancipação política,
nenhuma casa existia que despertasse sua atenção, salvo quando
afirma que “três ou quatro” dentre elas tinham sobrado.
A 13 de outubro de 1831, o povoado – ou arraial - se emancipou
politicamente, transformando-se na Vila de Montes Claros
de Formigas. Nessa condição, permaneceu até 3 de julho de 1857,
quando foi elevada à categoria de cidade, com o topônimo de Montes
Claros, tão somente.
Os historiadores mais antigos que escreveram sobre nossa
cidade foram o desembargador Antônio Augusto Velloso, que em
1897 publicou a monografia intitulada “Corografia Mineira-Município de Montes Claros”, e o agrônomo Urbino de Souza Viana,
que em 1916 publicou sua “Monografia Histórica, Geográfica e
Descritiva de Montes Claros.” Citamos aqui esses dois renomados
autores, para destacar que nenhum deles se referiu aos “três
ou quatro” sobrados noticiados por Saint Hilaire, em sua viagem
de 1817. O primeiro deles não trouxe qualquer informação sobre
os tipos de moradia existentes na cidade. Quanto a Urbino Viana,
apresenta uma descrição histórico-geográfica das praças e ruas de
seu tempo, citando algumas casas e sobrados, todavia sem qualquer
referência ao relatório do naturalista francês.
Por volta da década de 1950, surgem mais dois escritores em
Montes Claros, dispostos a garimpar e registrar a memória histórica
da cidade: o médico Hermes Augusto de Paula e o agrimensor
Nelson Washington Viana. Mais de cento e trinta anos depois de
Saint Hilaire, os dois se baseiam em velhos documentos e na tradição
oral, para esclarecer quais eram os três ou quatro sobrados
citados pelo viajante francês, em sua passagem por aqui em 1817.
Segundo Nelson Viana, em sua monumental obra “Serões Montesclarenses”,
publicada em agosto de 1972, os sobrados citados
por Saint Hilaire poderiam ser os seguintes: o Mirante no Largo da
Matriz, demolido ainda no final do Séc. XIX; o sobrado nº 99 da
rua Cel. Celestino, onde funciona atualmente a Secretaria Municipal
de Cultura; o sobrado nº 18 da praça Dr. Chaves, conhecido
como sobrado dos Mendes, ao lado do Centro Cultural Hermes de
Paula; e o chamado sobrado do Simeão, destruído por um incêndio
em 10 de junho de 1934, que se situava à altura do nº 145 da atual
rua Padre Teixeira. Muitas dúvidas e questionamentos existem sobre
esses quatro sobrados, inclusive em relação à sua antiguidade,
isto é, qual deles foi o primeiro a ser construído. Não sendo objeto
de nosso artigo esclarecer tal situação, deixamos essa dúvida à eventual curiosidade do leitor. De nossa parte, discutiremos a
existência de dois outros sobrados, com “registro de nascimento”
após a emancipação política de Montes Claros, em 13 de outubro
de 1831: o que hoje se localiza na rua Justino Câmara, nº 114 - que é o mesmo da rua Cel. Celestino, nº 140 – e o que existiu sob o nº
9, na praça Dr. Chaves, ou Praça da Matriz.
Faça-se um teste com um turista que pela primeira vez visita
Montes Claros e, após conhecer o entorno histórico da cidade, pergunte-se-lhe qual deve ser o sobrado mais antigo que encontrou.
Ele, certamente, não terá dúvidas e apontará o prédio da esquina da
rua Cel. Celestino com a rua Justino Câmara, pelas características
gerais de sua construção, pelo desalinhamento de sua estrutura,
pela falta de simetria de portas e janelas, enfim, pela ausência de
detalhes ornamentais em suas fachadas. De fato, ele foi o primeiro
sobrado a ser construído na Vila de Montes Claros de Formigas,
sob licença da Câmara Municipal, requerida pelo cidadão Antônio
Pereira dos Anjos, em 7 de outubro de 1852. Esse sobrado tornou-se o mais importante da cidade até o início do século seguinte,
com citação de alguns visitantes ilustres que ali se hospedaram.
Após servir de residência para seu construtor e familiares durante
muito tempo, tornou-se objeto de transações comerciais, vindo a
ser arrematado em leilão público pela professora Dulce Sarmento,
que ali residiu e exerceu suas atividades de educadora musical,
tão nobilitantes para o desenvolvimento cultural de Montes Claros.
Desse período, ficou o nome de Sobrado de Dulce Sarmento, como
ainda é conhecido em alguns círculos sociais da cidade. A ocupação
seguinte desse sobrado foi para acolher a então famosa Pensão
de Dona Geny, onde se hospedavam comerciantes e fazendeiros
bem posicionados financeiramente, quando a ideia de permanência
em hotel ainda não era tão valorizada em nosso meio. Passada essa
fase, o sobrado foi perdendo prestígio e entrando em decadência,
até ser adquirido pela Prefeitura Municipal. Essa transferência, todavia,
não evitou que se iniciasse um processo de degradação estrutural,
somente contida, em parte, pela colocação de tapumes em
suas portas e janelas, para impedir o acesso indevido de pessoas
inconvenientes. Foi nessa situação que o Instituto Histórico e Geográfico
de Montes Claros aceitou o desafio de ocupar o sobrado,
ainda que parcial e provisoriamente, com o compromisso de promover a sua revitalização e preservação, como importante marco
do patrimônio cultural da cidade. É necessário registrar que, ao
Instituto, desde a sua fundação em 27 de dezembro de 2006, nunca
faltou o apoio da Prefeitura Municipal. Mas agora, a partir de 6
de março de 2017, deu-se um passo decisivo para o estabelecimento
de sua sede, com direito a endereço exclusivo, na rua Cel.
Celestino, nº 140. Isso foi possível com o empenho da Diretoria
do Instituto, através do então presidente Lázaro Francisco Sena,
assessorado pelo diretor de museu Dário Teixeira Cotrim, junto ao
secretário municipal de cultura, João Carlos Rodrigues de Oliveira,
assessorado por sua diretora de patrimônio, Raquel Veloso de
Mendonça. E o sobrado, hoje, “tem a cara do Instituto”, conforme
feliz definição do saudoso confrade Magnos Denner Medeiros.
Que assim continue, pelos tempos além.

Sobrado de Dulce Sarmento, o primeiro a ser edificado na Vila de Montes Claros
de Formigas, após a sua emancipação política em 1831. Sede atual do Instituto
Histórico e Geográfico de Montes Claros-IHGMC.
Quanto ao sobrado que existiu sob o nº 9 da Praça da Matriz,
teve sua edificação solicitada a 23 de abril de 1853, pelo Cel.
João Alves Maurício, ocupando assim o segundo lugar, por antiguidade,
dentre as construções do tipo, ainda na Vila de Montes
Claros de Formigas. O histórico desse sobrado encontra-se, de
forma irretocável, no primeiro capítulo do livro de memórias do
Dr. João Valle Maurício, intitulado Janela do Sobrado. Mais do
que a lembrança do velho e desaparecido sobrado, ali se registra
o depoimento emocionado do bisneto de seu construtor. Como se
não bastasse a narrativa em prosa, o Dr. Maurício nos lega também,
já no segundo capítulo, o retrato versificado daquele edifício,
poeticamente designado como Sobradão, tão somente assim.
E ninguém desconhece, nas atuais tertúlias literárias de Montes
Claros, a presença marcante do Sobradão, na maviosa declamação
de Dórys Araújo, nossa jubilosa confreira do Instituto Histórico
e Geográfico da cidade. Alguma informação, contudo, precisa ser
questionada, como é o caso do livro “Montes Claros de Ontem e
de Hoje”, das acadêmicas Yvonne Silveira e Zezé Colares, edição
de 1995, onde consta, na página 28, a publicação de excertos do
poema Sobradão, vinculando-o ao prédio n° 99 da rua Cel. Celestino,
que hoje acolhe a Secretaria Municipal de Cultura. O histórico
desse último sobrado precisa ser redefinido e consolidado, com
base em documentos de valor probatório e não apenas em notícias
de caráter sentimental, como a que informa que ali se hospedou,
em 1817, o naturalista francês Augusto de Saint Hilaire. Diferentemente
de quase todos os pontos de pousada, em seu relatório,
não revela quem o hospedou na povoação de Formigas. Como ele
mesmo registra que naquele povoado já existia uma hospedaria,
não se descarta a hipótese de que ali tenha feito a sua pousada.
Talvez o equívoco dos historiadores tenha sido motivado pelo fato
de o cientista ter-se hospedado, a cinco jornadas antes de chegar
a Formigas, na fazenda Santo Eloy, de propriedade de Pedro Virciani,
também proprietário do aludido prédio n° 99. Saint Hilaire
muito elogiou a Pedro Virciani, pela hospedagem na Santo Eloy, mas nada disse sobre a sua pousada em Formigas. Enquanto isto,
fica o sobrado n° 99 da rua Cel. Celestino carente de retificação em
sua história, deixando irretocável o demolido “Sobradão” n° 9 da
Praça da Matriz, conforme bem o retratou em seu magistral poema
o Dr. João Valle Maurício.

Sobrado do Cel. João Alves Maurício, o segundo a ser edificado na Vila de
Montes Claros de Formigas, após sua emancipação política em 1831. Depois
de ser demolido, resta, como lembrança, o magistral poema SOBRADÃO, de
autoria de João Valle Maurício, bisneto de seu construtor.

EVOLUÇÃO MONETÁRIA NO BRASIL
Quando os portugueses chegaram ao Brasil, no limiar do século XVI, por aqui ainda não circulava dinheiro algum. Na falta de moeda disponível nas formas cunhadas ou impressas, ficou convencionado que a moeda seria o valioso pau-brasil, cortado e carregado pelos nativos (índios) na quantidade e outros ajustes entre as partes, principalmente na troca por espelhos, miçangas, facas, machados, anzóis, linhas para pescar, além de peças de roupas, alpercatas, chapéus e pouca coisa de uso doméstico. As moedas portuguesas, cunhadas, e o dinheiro em papel moeda só chegaram no início da colonização e, depois, as moedas e as notas espanholas, impressas em papel. Com as invasões dos franceses e holandeses, vieram outras moedas européias. Apesar da multiplicidade de moedas, elas eram insuficientes para atender as necessidades da Colônia. Boa parte das negociações até o século XIX, ainda era feita por meio dos famosos escambos, ou seja, trocas por produtos como açúcar, algodão, couro, cacau, fumo e aguardente, dentre outros.
A primeira Casa da Moeda do Brasil foi inaugurada em 1694,
em Salvador, para cunhar os réis portugueses, em cobre e depois, em
ouro, já no reinado de D. João V (1706 – 1750), em pleno ciclo do
ouro brasileiro.
Veio a independência, mas só no Segundo Império, a partir de
1833, surgiu o primeiro sistema monetário próprio. O real (cujo plural
era réis), mas conhecido por mil-réis. Foi essa a moeda oficial que
vigorou até 1942 no Brasil.
EVOLUÇÃO DO PADRÃO MONETÁRIO NO BRASIL
REAL: Período Colonial até 07/10/1833. O plural de REAL
era RÉIS. Símbolo: - R - , Vigência: até 07/10/1833. Paridade: R
1$2000 = 1/8 de ouro de 22k.
MIL RÉIS: Vigorou a partir do Segundo Império. Um conto
de réis correspondia a 1.000.000 de réis. Símbolo: Rs$. Vigorou a
partir de 08/10/1833 a 31/10/1942. Paridade: R 2$5000 = 1/8 de
ouro de 22k.
CRUZEIRO: Em 1942, com a inflação durante a 2ª. Guerra,
o Real Português vira Cruzeiro e 3 zeros são cortados. Símbolo: Cr$.
Vigorou de 01/11/42 a 12/02/67. 1.000 Réis = 1 Cruzeiro.
CRUZEIRO NOVO: Com a inflação, o poder de compra do
Cruzeiro é corroído, e mais 3 zeros são cortados. Símbolo: NCr$ Vigorou
de 13/02/67 a 14/05/70. 1mil Cruzeiros = 1 Cruzeiro Novo.
CRUZEIRO: Em 1970 o Cruzeiro Novo volta a ser chamado
de Cruzeiro (simplesmente). Símbolo Cr$. Vigorou de 15/05/70 a
27/02/86. 1 Cruzeiro Novo volta a ser chamado de 1 Cruzeiro.
CRUZADO: Em 28/02/86 o plano Cruzado corta 3 zeros da
moeda que passa a se chamar cruzado. Símbolo: CZ$. Vigorou de
28/02/86 a 15/01/89. 1mil cruzeiro passa a ser chamado de 1 Cruzado.
CRUZADO NOVO: Em janeiro/89, o Plano Verão congelou
os preços, criou o Cruzado Novo e corta 3 zeros. Símbolo: NCZ$. Vigorou
de 16/01/89 a 15/03/90. 1000 Cruzados passa a ser chamado
de 1 Cruzado Novo.
CRUZEIRO: Em março de 1990, o Presidente Collor de
Melo bloqueou as aplicações financeiras e a moeda volta a ser chamado
novamente de Cruzeiro. Símbolo: Cr$. Vigorou de 16/03/90 a
31/07/93. 1 Cruzado Novo passou a valer 1 Cruzeiro.
CRUZEIRO REAL: Em agosto/93, a moeda fica sem 3 zeros
novamente e vira Cruzeiro Real. Nos 11 meses de sua existência o
Cruzeiro Real acumulou uma inflação de 3.700 por cento. Símbolo:
CR$. Vigorou de 31/08/93 a 30/06/94. 10 Cruzeiros passou a valer
1 Cruzeiro Real.
REAL. Em julho/94, o Presidente Itamar Franco cria o Real,
cujo plural é Reais, e que está vigorando até os presentes dias. Este
plano foi o único que deu certo. Mas é sempre assim: depois da batalha
aparecem os heróis, aqueles que se dizem pais da criança.
Os falsos heróis lembram a estória de uma parábola da mosca
que pousou na cabeça do boi, que arava o campo. O boi trabalhou o
dia todo. No final do dia a mosca lhe disse: “Boi, trabalhamos bem
hoje!”. Ela queria elogio também.
As comunidades conhecem esses falsos heróis.
Antes que o plano entrasse em circulação, passou a vigorar uma
unidade de conta, não de troca, chamada URV (Unidade Real de
Valor), com variação diária. A economia era estimulada a usá-la comoreferência, até que, finalmente, o plano teve a sua consumação como
moeda forte, respeitada, segura e confiável universalmente.
APLAUDAMOS O NOSSO REAL !...


NADAR
HOMENAGEM A SABU
Ter morrido dormindo – uma espécie de condecoração já que infartar em idade avançada, 82 anos, enquanto se dorme é coisa para escolhidos, ou ter tido 19 filhos com a mesma mulher, Aulódia não foram marcas importantes. O que fez a diferença a Sabu – José Francisco de Oliveira foi ter sido ídolo de toda uma geração de frequentadores da Praça de Esportes de Montes Claros.
Sabu era o nome de um menino indiano protagonista de um filme na selva e que fora adotado pelo professor como apelido. O nadador era irmão de Porfírio de Sousa, um ativista político de esquerda preso pela Ditadura Militar, que vigorou no Brasil de 1964 a 1985.
Com a autoridade de Campeão Brasileiro de Natação em 1945, Sabu queria que fosse construído um estádio de futebol na cidade. Pelas suas mãos de instrutor de natação e de vôlei, muitos aprenderam a nadar e a jogar e alguns foram campeões. Seu curso técnico e treinamento foram no Minas Tênis Clube em Belo Horizonte, onde esteve em 1951. Também era técnico em contabilidade, formado em 1956 pelo Instituto Mineiro de Educação.
Os pais montes-clarenses que queriam que os filhos brilhassem
no esporte os encaminhavam ao local onde reinava Sabu. Alto, magro,
com pele escura e cabelos lisos penteados para trás, o porte atlético
e elegante do professor se distinguia no lugar, à borda da piscina
semiolímpica. Em volta dela havia um lava-pés e a exigência de uma
chuveirada antes do seu uso. Os vestiários possuíam estrados de madeira
em toda sua extensão, devido ao entra e sai de pessoas molhadas,
em roupa de banho após frequentar a piscina.
O centro do mundo não era a Praça de Esportes ou Montes
Claros Tênis Clube, mas poderia ter sido. Corria a década de 1960 e
a meninada não saía de lá, um lugar incrivelmente seguro, sem histórico
de acidentes sérios, ainda que tivessem árvores, piscinas, escorregadores
altos e onde se praticava todas as modalidades de esportes.
As meninas tinham aula de natação às 15 horas, e os meninos
uma hora mais tarde. As raias eram demarcadas apenas em dias de
competição. O aquecimento físico era feito a beira da piscina numa
turma com várias crianças e adolescentes. Apenas os exercícios da prática
de natação eram feitos na água. A borda interna da piscina era
finalizada de modo arredondado, propícia para ser segurada na altura
da cabeça de quem nadava, para evitar cortes e dar mais segurança em
casos de necessidade.
O treinamento de respiração era feito com os pés contra a parede
da piscina e as duas mãos agarradas à borda, girando a cabeça sempre
para o lado direito para pegar o ar pela boca e virando na direção
da lâmina d’água, para, pelo nariz soltar o ar na água. Depois desses
exercícios, os alunos ficavam um tempão indo e vindo longitudinalmente
na piscina batendo pernas e segurando uma madeira flutuante
de algo como 40x27cm. Dizia-se “bater tábua”. Hoje o artefato seria
chamado de prancha de natação. Assim se aprendia a flutuar, avançar
e esticar as pernas, posicionando-se de forma adequada sem se preocupar
em afundar, até saber nadar.
Aos sete anos, todos que tinham três meses de aulas, como era
o meu caso, já estavam nadando, mas eu tinha medo de me soltar
das bordas na piscina de adultos. Ao fim de uma determinada aula,
Sabu pediu a todos que, de um em um, saltássemos na água e nadássemos
em diagonal de uma parede a outra, próximos à borda, com
sua vigilância. Com receio me encolhi, me agachando. Ele me pegou
e, delicadamente, me avisando o que faria, me jogou na água, e eu
descobri que conseguia nadar, porque fiz o que ele me ensinou. Esse
gesto ousado do professor foi importante para me trazer confiança.
As décadas se passaram, os hábitos mudaram e cá estou eu lembrando-me de Sabu, o professor de natação de todos nós cuja lembrança
se perdeu no tempo, mas sem escapar da nossa gratidão.

Dados biográficos:
Sabu - José Francisco de Oliveira nasceu em São Lourenço,
zona rural de Brasília de Minas em 30 de março de 1926 e veio para
Montes Claros aos 13 anos de idade, sendo contratado pela prefeitura
para trabalhar na Praça de Esportes. Fazia cursos frequentes em Belo
Horizonte no Minas Tênis Clube. Faleceu numa tarde de 26 de março
de 2008.
Casado com Aulódia de Matos Oliveira - Lozinha tiveram 19
filhos, sendo doze homens e sete mulheres, cujos nomes eram seguidos
por Francisco, um sobrenome, ainda que as filhas tenham sido registradas
como Francisca: Aran, Alan, Avan, Adan, Ajan, Atan, Afan,
Azan, Alex, Marcelo, Luciano, Adriano, Leila, Liete, Leisa, Leide, Patrícia,
Shirley e Vera Lúcia.

José Francisco de Oliveira - Sabu

SORVETERIA PINGUIM
Uma esquina de gelo sabor. Presidente Vargas com Coronel Prates. Quantas vezes pedi a meus pais para me levarem à Sorveteria Pinguim. Se havia outra na cidade não me lembro. É bem provável que havia. Com certeza havia outras sorveterias. Mas meu sorver de menino da década de oitenta era todo da Pinguim. Um menino que adentrou nos anos noventa com a mesma predileção de sorvete. Até que subitamente a sorveteira se fecha para este século.
De creme de ovos. Era o preferido. Depois daquele creme amarelado o de chocolate. Também de flocos muito me agradava. E ali na Sorveteria Pinguim eu recebia com olhos gulosos a casquinha. Lembro-me de quando apareceu o tal de cascão. Era uma febre. Todos queriam o cascão. Experimentei confesso. Mas eu gostava mesmo era da casquinha. E comia ela todinha. Ainda me lembro do sabor do sorvete. E nem é preciso fechar os olhos para senti-lo. Como numa experiência sinestésica de memória e realidade.
Havia um hábito na família. Aos sábados íamos ao Bar do Gama saborear deliciosa feijoada. Ainda hoje esse ritual se preserva.Com algumas lacunas de sábados porém. Mas a feijoada do Seu Adair
ainda é real. Naqueles idos o Gama ficava no bairro Funcionários na
Rua Raul Correa. Hoje o Bar do seu Adair está em sua casa no Morada
do Parque bem atrás do Milton Prates. No retorno da feijoada
era parada obrigatória a Sorveteria Pinguim. Meus pais e meu irmão
comigo escolhiam cada qual seu sabor. O meu quase sempre era creme
de ovos. Havia uns banquinhos dentro da própria sorveteria para
sentarmos. Não era uma sorveteria dessas atuais as quais possuem
um atendente de mesa. Era pedir o sorvete sobre um balcão e sair
sorvendo. Contudo preferíamos sentar nos banquinhos que havia no
canteiro central da Coronel Prates. Esses banquinhos hoje também
são memória. Junto com a sorveteria eles se foram. Como muitas
casas que existiam imponentes na mesma Coronel Prates. O quanto
eu desejava descobrir o interior daquela construção de esquina que
depois me disseram ser um seminário para padres. Demolido para se
tornar um supermercado. Um outro lugar que tive o prazer de entrar
uma única vez foi a prefeitura velha. Ficava do mesmo lado que o tal
seminário. Hoje não mais.
A Sorveteria Pinguim nunca soube o tanto que me fez falta.
E ainda me faz. Após seu baixar de portas a esquina foi se tornando
muitos outros comércios. Mas ainda na minha lembrança os azulejos
brancos e toda uma estrutura que satisfez meu paladar. A Pinguim
não era só sorvete. Havia também os Gelos Pinguim. Gelos em cubo
ou em barra ou britados. Os gelos sobreviveram um pouco mais na
Avenida João XXIII. Todavia o gelo mais saudoso era o que se derretia
na boca.
Uma vez eu entrei na Sorveteria Pinguim e sorvi o meu último
creme de ovos. Quando foi isso não me lembro. Assim como também
não tenho a fresca data do seu fechamento. Só sei que a Sorveteria
Pinguim ainda vive no adulto que hoje sou. Uma vivência de sabor
de infância e adolescência. Uma certeza de experiência sensitiva. Uma
saudade que me bate com sabor de creme e de nostalgia.

MARIA DO SOCORRO
ROGÉRIO BRANDÃO
É maravilhoso perceber como o convívio com as pessoas é salutar!
Como disse o escritor e teólogo Thomas Merton, “Homem algum é uma ilha”. Formamos todos juntos um continente. Precisamos uns dos outros. E cada um deixa no outro uma lembrança, um sentimento, uma lição.
Há pessoas que vivem, sonham, sofrem, lutam, amam, agradecem, ajudam e, quando partem desta vida, presenteiam o ambiente em que viveram com marcas profundas e significativas. Sabemos que Bocaiuva teve, tem e terá homens valorosos que se destacaram e se destacam como brilhantes personagens da história de sua terra natal.
Entretanto, o nosso contexto agora é nos lembrarmos das mulheres bocaiuvenses, elas que, no seu silêncio, no seu trabalho incessante, disponível, desinteressado – mas edificante -, estão sempre participando da redação da história de sua comunidade. Conhecemos Socorro sempre ativa, em gestos que promovem a solidariedade: a mão estendida em apoio ou as mãos unidas em oração.
Maria de Socorro Rogério Brandão nasceu aos 16 de junho de
1933, filha do casal Joaquim Rogério de Souza e Maria Izabel de Azevedo,
que tiveram uma prole numerosa. Foram seus filhos:
José Rogério de Azevedo, Maria de Lourdes Rogério Silva,
Irineu Rogério de Azevedo, Martinho Cassimiro de Azevedo, João
Batista de Azevedo, Pedro Gerônimo de Azevedo, Maria do Socorro
Rogério Brandão, Antônio Agostinho Rogério, Vicente de Paulo
Rogério, Carlota Sofia Rogério da Silva, Francisco do Paulo Rogério,
Manuel de Jesus Rogério, Maria José Rogério Ribeiro, Socorro veio
de uma família muito unida e guerreira.
O pai faleceu prematuramente e, para apoiar a mãe, ela se viu
enfrentando dificuldades muito cedo.
Sua vida não foi fácil e, no decorrer dela, enfrentou muitos
desafios, que a fortaleceram, dando-lhe fé e coragem. Aos dez anos
já fazia todos os serviços domésticos. Aos quatorze anos, foi trabalhar
numa alfaiataria para ajudar no sustento da casa. Isto lhe valeu a
experiência de costurar e se tornou tão hábil, que sabia confeccionar
um terno. Costurava com arte e capricho. Na adolescência, ela, que já
conhecia e praticava o amor fraterno, conheceu outro tipo de amor,
também verdadeiro, na pessoa do Senhor Sílvio Brandão, que possuía
uma propriedade rural. Era uma pessoa simpática e brincalhona. Certa
vez, o pároco ligou para a casa deles e o diálogo foi assim:
- Senhor Sílvio, dona Socorro está por aí?
E ele respondeu:
- Uai, ela mora na igreja. Se o senhor não sabe, como é que eu
vou saber?
Estando com 20 anos, Socorro casou-se, aos 25 de fevereiro
de 1954. Eles, a princípio foram morar na Fazenda dos Furados. Lá,
ela trabalhou como professora rural, sempre desenvolvendo seu ofício
com responsabilidade, dedicação e amor.
A união de Socorro e Sílvio gerou 8 filhos, l6 netos e 03 bisnetos.
São eles, filhos: Eliane Maria Rogério Brandão de Carvalho,
Sílvio Geraldo Rogério Brandão, Maristela Rogério Brandão de Souza,
Ivone Maria Rogério Brandão, José Augusto Brandão,l Maria do
Socorro Rogério Brandão, Joaquim Rogério Neto, Maria Izabel Rogério
Brandão. Os netos: Anna Carolina Brandão de Souza Damásio,
Oliveira Rogério Brandão de Souza, Letícia Maria Librelon Brandão,
Sílvio Brandão Neto, Luiz Henrique Brandão de Carvalho, Ailton
Vieira de Souza Júnior, Carlos Eduardo Brandão de Carvalho, Sílvio
Rogério Brandão de Araújo, Ana Cecília Brandão de Carvalho, Vinicius
Brandão de Souza, Aryanne Brandão Coelho e Silva, Sabrina
Djanira Brandão de Araújo, Almir Alves Souza Junior, Sara Rogério
Brandão de Araújo, Maria Theresa Teixeira Brandão, Ana Lúcia Brandão
de Carvalho. Os bisnetos: David Rodrigues de Souza, Gabriela
Brandão Souza Damásio Soares, Matheus Henrique Alves Brandão
Os filhos crescendo, o casal veio morar em Bocaiuva para providenciar
ingresso na escola para eles.
Em Bocaiuva, ela trabalhou como serviçal na Escola Estadual
Gilberto Caldeira Brant, posteriormente, na Escola Estadual Professor
Gastão Valle. Serviu na cantina da escola, preparava a merenda
dos alunos que eram assistidos pela Caixa Escolar. Oferecia alimentos
saudáveis e atendia com solicitude, simpatia e acolhimento. Foi então
que conhecemos seu valor profissional e vimos, com grande admiração,
o amor com que ela se dedicava ao serviço que lhe foi confiado,
sempre com um sorriso estampado no rosto, atendendo com presteza, às vezes cantava para alegrar o ambiente. O trabalho não a assustava.
Estava preparada para qualquer função que lhe coubesse.
A oportunidade aconteceu e ela prestou concurso administrativo
no Estado de Minas Gerais. Foi aprovada e nomeada, passando
a trabalhar na área da saúde, no Posto Sérgia Alkmim, onde ficou até
se aposentar. Foi muito gratificante para ela. Gostava de servir. Nesta
função, ela pode experimentar a alegria de poder amenizar o sofrimento alheio. Mostrou então toda a capacidade de seu coração de se
condoer com os males e as carências das pessoas.
Socorro sempre foi prestativa, carinhosa, companheira, amiga.
Católica fervorosa, participou de todas as pastorais da Paróquia do Sagrado
Coração de Jesus. E participou com amor, com eficiência, com
espírito de serviço. Realizou ações relevantes na comunidade religiosa.
Quando a saúde fraquejou, ainda assim, participava orientando
equipes, dando sugestões quando solicitadas. Nunca desanimou
diante das tristezas que, às vezes, os reveses da vida nos fazem sentir.
Sua fé sustentou toda a sua existência. Enfrentou os dissabores com
serenidade. Infelizmente, para nós, Socorro se foi neste ano de 2022.
A lição maior que ela deixou para as pessoas com as quais conviveu
foi que precisamos viver com amor.
No universo familiar, ela foi boa filha, desde a infância, preocupada
em ajudar a família. Como esposa e mãe, ela era o esteio do
lar, apoiando o marido e tentando compreender e ajudar cada filho.
Foi professora rural e deu o melhor de si para seus alunos. Costureira,
ela se aperfeiçoou, executando com boa vontade e carinho as suas
costuras. Trabalhou na cantina da escola, pondo bom humor e afeto
no que fazia.
Enfim, atendendo doentes, homens, mulheres e crianças carentes,
encontrou nesse ofício uma oportunidade de servir os semelhantes
com simpatia e solidariedade. No serviço da Igreja, esforçou-se
para testemunhar o Evangelho de Jesus Cristo.
Sabemos que existem pessoas que fazem seu trabalho simplesmente
para fazerem jus ao salário.
Ela nos ensinou que, colocando alegria no que fazemos, o trabalho
se torna mais agradável. Faz-nos lembrar a canção do Padre
Zezinho, que diz: “ ao chegar ao fim do dia, eu sei que dormiria muito
mais feliz”
Conhecemos pessoas cujo nome caracteriza plenamente o seu
caráter, mas Maria do Socorro, esse nome tão bonito, resume toda
a vida dessa personagem que ainda vive e viverá na lembrança e no
coração dos que a conheceram.

Socorro e Silvio

Maristela, Socorro e Izabel


PEDRO MAMELUQUE MOTA
UM EXEMPLO DE VIDA
Januária, 13 de maio de 1932: na casa de Joãozinho e Dízia um movimento diferente acontecia. Parteira chamada às pressas, anunciava-se a hora que mais um filho iria chegar. Desconfiados, os meninos Marcelo, João Batista e a menina Elza, sabiam que algo do mundo dos adultos ia acontecer e ficam obedientes, à distância. De repente um choro de bebê enche a casa, revelando que mais uma vida acabara de vir à luz. No quarto escuro, iluminado apenas pelas lâmpadas de azeite que ardiam numa vasilha, o recém-nascido mal arriscava abrir os olhos, já que tudo era uma novidade, após os nove meses encolhido e protegido no ventre da mãe. Já arrumado, pois que naquele tempo vinha logo o banho na bacia passada em água fervente e álcool, é mostrado aos irmãos que não se continham de curiosidade. O pai orgulhoso anuncia: “É um menino”, e o pequerrucho se aconchega nas mantas e toucas cobertas de rendas que a mãe preparou com carinho.
Não é difícil imaginar a cena passada há 90 anos, que foram se desenrolando cheios de experiências, de alegrias, de tristezas, de fracassos e de vitórias, assim como a vida de qualquer pessoa.

Pedro Mameluque Mota
O menino ia crescendo, caçula dos irmãos, correndo no quintal
cheio de árvores, onde cada um tinha a sua: pés de caju, de manga, de
banana, de laranja, numa grande variedade de espécies. Ao lado um
pequeno curral, de onde tiravam o leite que servia de alimento para a
família e mais tarde para ajudar nas despesas da casa.
Aos cinco anos, uma grande tristeza: perdeu o pai, ainda novo,
com 37 anos, vítima de tétano; e ele e os irmãos se desdobraram para
ajudar a mãe. O pequeno Pedro ia de porta e porta vendendo frutas
do quintal e leite que ajudava a tirar, para ajudar no sustento da casa,
mas quando em idade escolar, era aluno aplicado do Grupo Escolar
Bias Fortes.
Aos 15 anos muda-se para Belo Horizonte para continuar os
estudos, indo morar, estudar e trabalhar no Colégio Marconi, uma
das paixões de sua vida. Contava-me que ao sair de Januária, a bordo
do vapor Barão de Cotegipe, que tinha um apito bonito e saudoso,
deixou sua mãe chorando no porto.
Formado em Direito pela UFMG , é convidado para trabalhar
em São Francisco e a sua vida sofre uma guinada, ao encontrar o
amor de sua vida, num ataque fulminante de “amor à primeira vista”.
A timidez fica de lado e vai conquistando a cada dia a sua amada; daí
veio o casamento, os quatro filhos, a vida de Prefeito daquela cidade
com apenas um ano de casado, o que veio a se repetir em um segundo
mandato anos depois. Querido e acolhido por todos, com sua educação
esmerada, sua caridade estampada nos pequenos gestos, seu amor
e carinho aos mais pobres.
Mudando-se para Montes Claros, aumentou o desejo de servir,
participando da criação do Encontro de Casais com Cristo, da Pastoral
Familiar, da Pastoral Carcerária e do Menor, do Projeto Viver
(Meninos de rua) aos quais se dedicou até o final de sua vida.
Presidente do Conselho Penitenciário Regional e advogado atuante
nas causas dos menos favorecidos, mereceu o título de Cidadão
Honorário e Cidadão Benemérito de Montes Claros e ainda várias
medalhas concedidas pela OAB e pelo Tribunal de Justiça de Minas
Gerais.
Vitimado pelo Mal de Alzheimer, deixou esse mundo em 08 de
dezembro de 2015, dia da Família e da Justiça, dois dos seus maiores
amores, a quem dedicou a sua vida.
Mas o maior legado que deixou para seus filhos e netos, foi uma
vida de trabalho, honestidade e valorização dos princípios morais e
cristão. E assim se expressaram seus filhos em depoimento transcrito
em livro que narra sua vida:
“Obrigado por me mostrar através do exemplo o caminho reto
e limpo, que a vida simples, a fé, a caridade e o amor ao próximo, com
total desprendimento ainda estão ao alcance dos homens.” (Gustavo)
“Que este livro, que relata um pouco da rica história deste menino,
alinhavado por quem lhe conhece em toda a plenitude e intensidade,
sirva como registro da existência, em nosso mundo, de uma
alma boa e caridosa, que agrada aos homens e ao Senhor e que faz do
exercício de sua vida diária, mesmo com o pesar dos anos, um exemplo
a ser seguido” (Leopoldo)
“Não canso de agradecer a Deus por ter você ao nosso lado. O
senhor é nossa fortaleza, nosso porto seguro, nos mostrando com seu
exemplo o caminho a seguir” (Christina)
“Pensar em você é simplesmente resgatar tudo que hoje está
perdido na humanidade: dignidade, respeito, humildade e honestidade.”
(Patrícia)
E eu, nos seus últimos dias, cantava para ele: “Dorme, menino
grande, que estou perto de ti... sonha o que bem quiseres, que não
sairei daqui...”

80 anos, com os netos

HARLEN SOARES VELOSO
Pesquisador estudioso, entusiasmado com a história e o Universo. Mais uma vítima do coronavirus deixou enlutados nossa família, seus colegas e amigos. O falecimento de Harlen Soares Veloso ocorreu em dois de abril de 2021, numa sexta-feira santa.
Em consideração e em homenagem póstuma ao meu filho Harlen Soares Veloso, analista judiciário no TRT-MG (Tribunal Regional do Trabalho), abalizado genealogista, que estudou, pesquisou e trabalhou rigorosamente para encontrar dados dos ascendentes de Antônio José Versiani (até a quinta geração da família), dados de vários fatos históricos em nossa cidade, registros culturais e dados de monumentos relevantes de nossa região, (inclusive já publicados em edições desta revista e em outras pesquisas); surge este registro.
Nasceu em 3 de maio de 1974, meu filho e de minha esposa Zelita Maria Soares Veloso. Ele iniciou os seus estudos na Escola Estadual Deolinda Ribeiro, posteriormente frequentou o Colégio Marista São José, e o Colégio Biotécnico. Como prêmio e reconhecimento pelo dedicado estudo, foi promovido em Concursos Públicos como,
por exemplo, o Prêmio Interestadual sobre Abolição da Escravatura,
promovido pela Direção do Banco do Nordeste do Brasil S/A,
quando era ainda adolescente. Em Belo Horizonte, foi aprovado no
Concurso da Aeronáutica. Mais tarde, ao fazer os exames de saúde, fez
opção por continuar os estudos aqui em Montes Claros, uma vez que
a insuficiência visual o impossibilitaria de pilotar.
Aos 18 anos, após passar no Concurso da Empresa Brasileira de
Infraestrutura Aeroportuária (INFRAERO), lá trabalhou até tomar
posse no TRT. Foi aprovado para Técnico Judiciário nesse órgão inicialmente,
dando então seguimento a seus estudos e posteriormente,
graduou-se em Direito pela Universidade Estadual de Montes Claros
(UNIMONTES). Após a conclusão do bacharelado, participou novamente
do mesmo concurso, agora para o cargo de Analista Judiciário,
tendo sido aprovado e admitido no Tribunal Regional do Trabalho,
onde trilhou carreira. Participou ainda de diversos cursos de pós-graduação
ao longo da sua vida profissional, em que sempre teve desempenho
destacado.
Sua vida na sociedade foi muito participativa, tanto através de
seu ofício, como ainda através de competições esportivas em corridas,
grupo de ciclismo, festas e encontros de família, ações religiosas, organização
de Pesquisas Genealógicas, estudos astronômicos, entre muitas
outras atividades. Podemos citar também que ele foi um exímio
instrutor dos Escoteiros no Colégio Marista. Assim, foi conquistando
respeito e gratidão de muitas pessoas na nossa cidade.
Quero deixar aqui registrado que no nosso convívio ele veio nos
ensinar a bem viver nestes seus quase 47 anos. Esta tarefa de escrever
sobre este filho maravilhoso é ao mesmo tempo triste, mas, o maior
sentimento é a gratidão, por tudo que nos presenteou e nos ensinou
na convivência diária e através da sua vida de dedicação à família, ao
trabalho e à sociedade, como por seu esmero em deixar um exemplo
da correta conduta em tudo que participasse.

Harlen Soares Veloso
Harlen foi convidado pelo Presidente do Instituto Histórico
Geográfico de Montes Claros, Sr. Dário Teixeira Cotrim, a ajudar nos
trabalhos de pesquisa e estudos históricos e tomou posse em janeiro
de 2018.
Ao escrever seu primeiro artigo, dedicado ao Sr. “Soarinho”:
Um homem zeloso Pelo Bem Comum”, Harlen certificou-se, tenho
certeza, de que ele vinha realizando em sua vida ações em que procurava
seguir o exemplo de seu bisavô. Podemos ainda garantir a sua
dedicação a nós, seus pais, com muita atenção e carinho, bem como
ações visando nossa felicidade. Mais uma vez nosso reconhecimento e
eterna gratidão.
No dia 26 de setembro de 2003 casou-se com Érika Soares
Caldeira, médica e professora na Faculdade Pitágoras, sendo exemplo
de mãe de família com muita dedicação e amor na formação de
seus filhos. Foram três: Beatriz Soares Caldeira Veloso, Rodrigo Soares
Caldeira Veloso e Mariana Soares Caldeira Veloso Prates. A formação
cristã dos mesmos foi uma prioridade em sua conduta. Em tudo que
Harlen fazia, procurava ser o melhor possível e, com sua família, demonstrava
mais ainda como amava a cada um.
Na sua trajetória ele viveu intensamente e conseguiu escrever
seu nome no livro da vida com amor a Deus e a sua família.
Em um dos seus registros, disse Harlen: (...) “Tenho certeza
de que valeu a pena todo o trabalho! E tenho certeza que alimentará
o sentimento de gerações futuras também, de amor pela família, de
valorização das origens”.

MEGAFAUNA
CONTEXTO HISTÓRICO UMA ÊNFASE NOS ACHADOS FÓSSEIS NO NORTE DE MINAS GERAIS.
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho tem como objetivo descrever os achados fósseis no Norte de Minas Gerais dentro de um contexto histórico. No qual será possível constatar desde a presença de fósseis de megatério do período Quaternário até um Titanossauro (Tapuiassaurus macedoi) referente ao período Cretáceo.
A realização deste estudo justifica-se devido aos constantes relatos de diversos moradores das cidades norte mineiras, que noticiam ter encontrado “ossos grandes”, neste caso específico “fósseis”, mas, entretanto não o sabem. Partindo desse princípio é que após o ano de 2015, ao ouvirmos vários relatos de diversas pessoas e em cidades diferentes percebemos a necessidade de estudar o tema para um melhor entendimento e esclarecimento de tais fatos. E nesse contexto partimos para fazer visitas em locais com possibilidade de encontrar fósseis, segundo o relato de moradores destas cidades. Estivemos em várias cidades, onde se ouviu falar em Dinossauros, percebemos que tais contos eram verdade e a partir desse momento fizemos diversas visitas in-lócus, para observar se
tais relatos seriam confirmados. Ficamos surpreendidos em diversos
locais, pois foi possível observar o afloramento de fragmentos
de fósseis de forma visível e exposto ao processo erosivo, devido
as chuvas e a baixa cobertura vegetal. Em uma destas viagens conhecemos
o Sr. Ubirajara Alves Macedo, residente na cidade de
Coração de Jesus – MG. Este mesmo, nos informou sobre a ocorrência
de fragmentos fósseis em uma comunidade local.
Foram visitados vários municípios dentre eles podemos citar:
Janaúba – MG, Francisco Sá – MG, Coração de Jesus – MG,
Brasília de Minas – MG e São João do Pacuí e Montes Claros –
MG. Todos estes municípios com possibilidade de se empreender
pesquisas e estudos acadêmicos sobre o tema. Mapa do Norte de
Minas com as cidades supracitadas.
FIGURA 1: MAPA - NORTE DE MINAS GERAIS. (ADAPTADO)

Fonte: Lopes, Ricardo Fernandes.
Este trabalho é de grande relevância para a comunidade científica
e acadêmica pois abordaremos os principais achados fósseis.É possível a partir deste despertar o interesse da comunidade científica
nacional e internacional, pois será proposto um trabalho dentro
do contexto histórico de pesquisas no Norte de Minas, demonstrando
o potencial fossilífero da região. A partir deste estudo possibilitaremos
a comunidade científica e acadêmica como também as
comunidades locais um melhor conhecimento sobre a megafauna
existente em períodos como o quaternário e cretáceo no Norte de
Minas Gerais. Que foram objeto de estudo de vários pesquisadores
no século XIX e XX, visto que o presente estudo poderá ser utilizado
por gerações futuras para estudos científicos. Ao passo que a
comunidade científica poderá voltar o seu olhar para a nossa região
devido ao seu potencial fossilífero. Mas, ao mesmo tempo, carente
de estudo e pesquisas na área de Paleontologia. Com a publicação
deste trabalho é possível abrir novos espaços para fomentar o
turismo local e regional; como visitas aos sítios paleontológicos
por pesquisadores e grupos de estudantes locais, no qual ocorrerá
a geração e conhecimento para as gerações futuras e dessa forma
será possível preservar estes sítios paleontológicos.
Para tal, será utilizado a metodologia de revisão bibliográfica
de artigos, monografias, teses, livros e demais estudos, publicados
em sites e revistas de relevância na comunidade científica
nacional e internacional.
DESENVOLVIMENTO:
1. O CONTEXTO HISTÓRICO DOS ACHADOS FÓSSEIS NO
SÉCULO XIX.
O Norte de Minas compreende toda a mesorregião do Norte
do Estado das Minas Gerais, comumente, a denominação sertão
mineiro é usada para delimitar uma região ainda mais ampla ao longo de todo o curso do rio São Francisco dentro do Estado. A
região se caracteriza por ser plana, composta por pastagens e matas
além do cerrado e da caatinga. De acordo com (FARIA, C. 2021).
“O domínio das caatingas estende-se sobre a porção semiárida
nordestina, e é caracterizada pela escassez e pela irregularidade
de chuvas, pela predominância de intemperismo físico e de solos
pouco profundos intercalados por terrenos pedregosos e afloramentos
rochosos”. (SILVA et al. 2016, p.189).
Segundo FARIA, C. A colonização da região ocorreu por
volta de 1690, através de dois movimentos distintos: o dos vaqueiros
vindos a Bahia que seguiram o curso do Rio São Francisco e
dos bandeirantes paulistas, dentre eles Matias Cardoso, Gonçalves
Figueira e Januário Cardoso, estabelecendo-se assim os primeiros
povoados, alguns com os seus respectivos nomes em homenagem
ao bandeirante fundador. Desenvolveu na região, primeiramente a
criação de gado favorecida pelo regime de Sesmarias[1]. Esta região
pertencia à capitania de Pernambuco, a margem esquerda do
Rio São Francisco e a margem direita pertencia a Bahia. Junto com
a pecuária desenvolveu-se a agricultura de subsistência e a caça
facilitada pelas grandes reservas de salitre, matéria prima para a
fabricação da pólvora, na região de Formigas[2], Januária, Contendas[
3] , Coração de Jesus e Manga.Para (CAMPOS, 1983), esse produto, ‘salitre’, formado no
interior das grutas com a contribuição dos dejetos dos morcegos,
era levado de Formigas (atualmente Montes Claros- MG) para outros centros, a fim de ser preparada a pólvora. O seu comércio era
uma das riquezas da região.
___________________________________________
[1] Sesmaria: eram terrenos abandonados pertencentes a Portugal e entregues para a ocupação, primeiro
em território português e, depois, na colônia, o Brasil, onde perdurou de 1530 até 1822. O
sistema foi utilizado desde o século XII nas terras comuns, comunais ou comunidade. O nome
sesmaria deriva de sesmar, dividir.
[2] Formigas. Atual Município de Montes Claros-MG.
[3] Contendas. Atual Município de Brasília de Minas-MG.
___________________________________________
Sendo este um dos objetivos da visita ao sertão norte mineiro
dos naturalistas viajantes. Para (SAINT-HILAIRE, 1938),
a sua permanência em Formigas era de grande importância, pois
aproveitou o tempo para ir ver uma grota ou ‘gruta da Lapa Grande’
de onde se extraia o salitre, provavelmente a única da região
que, por essa época, ainda fornecia a substância. Seria para desejar
que algum geólogo visitasse com cuidado as grotas do deserto. Encontrariam
aí provavelmente ossos fósseis, pois que me deram em
Vila de Fanado um dente de mastodonte, que está atualmente no
Museu de Paris, e me disseram ter sido encontrado em um terreno
salitrado do sertão. Não sei bem mesmo se não me falaram de ossadas
gigantescas descobertas nesta região.
Em Viagem pelo Brasil (1817 – 1820), (SPIX E MARTIUS, 2017.
p. 105) descreve. “Estas grutas também eram de grande interesse
para nós, porque deviam conter ossada de enormes animais
desconhecidos, dos quais já muitas vezes nos haviam falado no
sertão”, segue descrição. “A mais importante, porém, entre todas,
pareceu-nos a Lapa Grande, porque nela foram encontradas as
tais ossadas de animais primitivos”.
Conforme (SPIX E MARTIUS, 2017) em sua visita a gruta
Lapa Grande em Formigas no Sertão. No fundo dessa gruta, subimos
por dezoito degraus quase regulares, igualmente recobertos de
carbonato de cálcio, estendendo-se em forma de cascata. Foi aqui,
sobre um dos degraus de cima, que um dos nossos guias achou, há
sete anos, uma costela de seis pés de comprimento e outros restos
de ossadas de um animal primitivo. Cavamos na argila fina, que
reveste esta região da caverna com uma camada de 4 a 8 polegadas,
e foi grande a nossa alegria, ao acharmos, não ossos grandes,é verdade, mas alguns fragmentos, que nos deram a certeza de se tratar de restos de um Megalonix[4] sobretudo achamos vértebras,
metacarpos e últimas falanges. Nunca as ossadas estão incrustadas
na própria pedra calcária, porém, jazem mais ou menos encobertas,
soltas e sem ordem, na terra.
Os naturalistas viajantes que percorreram, com denodo, um Brasil
misterioso e particularmente desconhecido, especialmente no
século XIX, deram as primeiras informações sobre a existência
de ossadas de enormes animais desconhecidos no sertão mineiro
merecendo referência os bávaros João batista von Spix e Carlos
Frederico von Martius. (CAMPOS, 1983, p. 37).
1.1 FÓSSEIS EM JANAÚBA:
Segundo, OLIVEIRA, L. L. A criação da Superintendência
do Desenvolvimento do Nordeste (SUDENE), criada pela lei n°3.692, de15 de dezembro de 1959. Foi com o objetivo de desenvolver
a região e diminuir a desigualdades entre o Nordeste e o
Sudeste. A causa imediata da criação do órgão, pode-se citar uma
nova seca, a de 1958, que aumentou o êxodo rural e o desemprego
da população. Sua área de atuação era em todos os Estados do Nordeste
e parte de Minas Gerais (Norte de Minas Gerais).
“Por sua real identificação com a região nordestina, foi incorporada à Área do Polígono das Secas (DNOCS)[5] e posteriormente
a na área de atuação da SUDENE”. (PIRES, 1979, p. 244).
___________________________________________
[4] “Megalonyx (grego, “garra grande”) é um gênero extinto de preguiças terrestres da família Megalonychidae,
nativa da América do Norte durante a época do Pleistoceno. Foi extinto durante o
evento de extinção do Quaternário no final do Rancholabrean do Pleistoceno, vivendo de ~ 2,4
Mya - 11.000 anos atrás. A espécie-tipo , M. jeffersonii , media cerca de 3 metros (9,8 pés) e pesava
até 1.000 quilogramas (2.200 lb). [2] Megalonyx é descendente de Pliometanastes ,um gênero
de preguiça terrestre que chegou à América do Norte durante o Mioceno Superior, antes do Great
American Biotic Interchange . Megalonyx teve a distribuição mais ampla de qualquer preguiça
terrestre norte-americana, tendo uma extensão que abrange a maior parte dos Estados Unidos contíguos,
estendendo-se ao norte até o Alasca durante os períodos quentes”. (WIKIPEIDA The Free
Encyclopedia, 2021).
[5] DNOCS: Departamento Nacional de Obras Contra as Secas.
___________________________________________
Atualmente, como o aumento intensivo, graças à SUDENE, DENOCS
da fronteira pecuária da região, busca-se corrigir as condições
adversas do meio, fazendo água, abrindo-se com tratores
tanques (barreiros no Nordeste) nas regiões mais baixas, argilosas,
junto às corridas de água das chuvas, ao lado de perfurações
de poços tubulares. Tem sido frequente, na abertura de tanques, o
encontro de ossadas petrificadas, de milhões de anos, em profundidade
média de três metros. Chegamos a constar quase que um
verdadeiro cemitério de tais fósseis na região do Rio Gorutuba,
em Janaúba. Atribuímos esse fato a ter sido o local de uma antiga
lagoa, há milhões de anos, em que os animais, refugiando-se em
procura de água, morreram em uma catastrófica época de grande
seca. (PIRES, 1979, p. 249).


No Município de Janaúba, na Fazenda de Moisés Lacerda, vamos
encontrar uma ocorrência do tipo cacimba[6]. . Trata-se agora de
uma barragem, em cujos terrenos aluvianos, em época anteriormente
a seca, foram identificados e coletados restos de fósseis de
megatérios, também da fauna pleistocênica. (CAMPOS, 1983, p.
181).
Em conversa com o Senhor Francisco Lacerda filho do Senhor
Moisés Lacerda “in memoria”, antigo proprietário da fazenda
supracitada, podemos confirmar os fatos. (INFORMAÇÃO VERBAL)[7].
___________________________________________
[6] Cova aberta em terreno úmido ou pantanoso, para recolher a água presente no solo que
nela se acumula por ressumarão. (GOOGLE, 2021).
[7] “Francisco Lacerda relatou que no ano de 1964, em um período de seca houve a necessidade
de cavar a mina d’água, pois a mesma já estava secando e com esse trabalho de escavação
foram descobertos os fósseis. (Ou ossos grandes como dito). Eles não sabiam de que animal
se trava, então correu a notícia pela região e nesse interim veio geólogos de Belo Horizonte
que recolheram o material e disseram ser tratar de um possível fóssil de mastodonte”.
___________________________________________
Em seu livro A Arte Rupestre (COTRIM, 2018), descreve a
Megafauna extinta no Norte de Minas e cita as cidades onde foram
encontrados: Montes Claros – MG. Preguiça (terrícola). Jaíba – MG. Preguiça gigante. Itacarambi – MG. Preguiça (terrícola).
Janaúba – MG. Preguiça gigante. Toxodon (com porte de um rinoceronte).
Francisco Sá – MG. Mastodonte. Preguiça gigante. Montalvânia – MG. Preguiça (terrícola). Curvelo – MG. Mastodonte.
Tigre dente-de-sabre. Coração de Jesus – MG. Dinossauro[8] e Preguiça
gigante. Sendo estes pertencentes ao Período Quaternário,
conforme tabela abaixo.
FIGURA 4: GEOLOGIC TIME SCALE

Fonte: National Park Service. (Adaptado, recorte).
1.1.1 AFLORAMENTOS NO VALE DOS DINOSSAUROS –
PIRI PIRI:
Seguindo as notícias, desloquei até a cidade de Coração de
Jesus –MG. Segundo matéria (Estadão, 2005). Um sujeito chamado
Zezinho encontrou um osso saindo da terra, curioso, retirou-o
e levou para a sua casa. Dias depois recebeu a visita de um Oficial
de Justiça, que tinha o objetivo de apurar os fatos. Dentre uma conversa e outra, eles não sabiam o que fazer com aquele osso. Foi
assim que resolveram procurar o “Bira”[9], a enciclopédia viva da
cidade, se alguém pudesse descobrir de onde vinha aquele osso era
ele.
___________________________________________
[8] Tapuiassaurus macedoi. (Tapuiassaurus homenagem aos índios que viviam nesta região.
Macedoi, homenagem a Ubirajara Alves Macedo).
___________________________________________
Partindo desse princípio, resolvi verificar tais fatos. Chegando
no Município conheci o “Bira”, que em (conversa verbal) relatou-me este e outros fatos relacionados à fósseis. Realizei visitas
in-lócus, ver foto a seguir. Coordenadas. 16º40’ 09.41” S, 44º37’
09.22” W. (Google Earth Pro).
FIGURA 5: FAZENDA PIRI PIRI

Foto: autor. Processo erosivo seguido de afloramento
Foi verificada uma condição necessária a esta ocorrência o
afloramento de acordo com a (SIGEP, 2021). Afloramentos naturais
são as exposições da rocha devido a ação de processos naturais, como erosão e deslizamento de solos, em rios, cachoeiras e
escarpas. Já o afloramento artificiais são devidos à ação do homem.
Sendo neste último um dos processos de maior degradação do solo
no Município de Coração de Jesus, favorecido pela gradeação[10]
de terras para fazer pasto para o gado bovino.
___________________________________________
[9] Ubirajara Alves Macedo. Natural de Coração de Jesus – MG, hoje está com 75 anos de
idade, ele relata que iniciou a caça aos dinossauros no ano de 1958 na companhia de seu Pai
José Alves Macedo. Bira é um profundo conhecedor de plantas medicinais do cerrado, explorador
de cavernas, fotógrafo profissional, com um acervo de aproximadamente 15.000 fotos.
Artista plástico, homem sisudo naturalista nato com um conhecimento de invejar a muitos
biólogos e geólogos. (Informação verbal).
___________________________________________
Trecho entre Coração de Jesus-Ibiaí, fornecem exemplos dos litótipos
presentes na borda oeste da Serra da Embira Branca. Os dois
afloramentos aqui designados de Ibiaí1 e Ibiaí 2, exibem rocha
clástica, maiormente arenitos, com estruturas cruzadas diversas,
uma característica exclusiva deste setor de sucessão sedimentar
estudada. A granulometria dominante é o arenito fino, o qual se
mostra distinto de outras áreas devido ao alto grau de seleção granulométrica
(menos de 10% da matriz). (PIRES-DOMINGUES,
2009. p. 31,31).
Sendo realizado nesta região em específico no Alto Paracatu,
o primeiro estudo estratigráfico e tafonômico de detalhes em três
bone-beds[11] de dinossauros. Com sucessão sedimentar portadora
de fósseis quanto à ocorrência de dinossauros, é inédita na Bacia
do São Francisco. Descrita em detalhes por (PIRES-DOMINGUES,
2009).
___________________________________________
[10] Processo de aragem da terra.
[11] Os leitos ósseos são acúmulos notáveis de ossos e dentes modernos ou fósseis de mais de
um indivíduo que ocorrem em um estrato geológico ou uma superfície de solo, o termo é
mais frequentemente usado em referência a ocorrências antigas, em particular, ossos fósseis
de animais grandes como dinossauros e mamíferos. (THE CANADIAN ENCYCLOPEIDA,
tradução nossa).
___________________________________________

Fragmentos de fósseis encontrados por moradores locais
(Fazenda Piri Piri) e doados ao Museu Senhor Macedo, localizado
na cidade de Coração de Jesus – MG. (Informação verbal). É nesse
contexto que foi encontrado o Tapuiassaurus macedoi, espécie
descrita e catalogada.

Conforme, (BITTENCOURT, 2015. Apud, ZAHER, et al.
2011), foi descrito o titanossauro Tapuiassaurus macedoi, coletado
na região de Coração de Jesus – MG. Sendo o holótipo desta espécie
e todo o material coletado associado são os primeiros fósseis de
vertebrados do Norte de Minas Gerais. O crânio do T. Macedoi é
o mais completo até o momento para titanossauros, comprovando
assim o potencial paleontológico da Bacia do São Francisco, para
estudos biogeográficos, sedimentológicos e bioestratigráficos.
Para (DA SILVA, 2013), o material coletado e descoberta de
uma nova espécie de dinossauro em Coração de Jesus, apontam
para a possibilidade de que esta região seja praticamente inexplorada
na Bacia Sanfranciscana e tenha uma relevância paleontológica
significativa para o entendimento da diversificação dos terópodes
no continente, ampliando assim o registro e a ocorrência de
dinossauros no Brasil.
CONCLUSÃO:
Conforme levantamento bibliográfico verificamos que as notícias
e relatos dos moradores do Norte de Minas se tornaram fatos,
visto que, no início do século XIX, com a colonização da região e a
busca pelo salitre como matéria prima para a produção da pólvora,
sendo um dos principais motivos que chamou a atenção de brasileiros
e estrangeiros há visitar o Sertão.
A partir desse período é que se tomou conhecimento da realidade
existente, pois estas visitas foram descritas em livros de
publicação nacional e internacional. Destacando a megafauna do
período Quaternário encontrada nas Cavernas do Sertão. “A exemplo
a Gruta da Lapa Grande”, localizada no Município de Montes
Claros-MG. Onde foram encontrados fósseis de Megatério.
Já no século passado, observamos vários achados fósseis no
Sertão Mineiro, dentre os quais citamos vários registros tais como:fósseis encontrados em Janaúba-MG, na atividade de escavação de
tanques “Megatério”, “Mastodonte”; Francisco Sá-MG, “Mastodonte”.
Dentre outros citados no texto.
No período presente foi possível verificar in lócus, a existência
de tais fósseis. Seguindo os passos dos naturalistas viajantes,
estive em várias cidades das supra citadas no texto. Sendo realizadas
várias prospecções em campo e grutas. Destaco aqui a visita
realizada na Fazenda Piri Piri, localizada no Município de Coração
de Jesus -MG, com o Sr. Ubirajara Alves Macedo: onde observei
uma área de afloramento com rochas expostas e fragmentos de fósseis à vista. É nesse contexto que os moradores do Sertão Norte
Mineiro convivem, pois a cada ano que se passa isso se torna mais
visível devido às condições climáticas da região e a ação antrópica.
Concluímos que, dentre as notícias e os fatos se tornaram realidade,
ao ser consultada a bibliografia e após verificação in lócus
em algumas cidades e conversas informais com moradores antigos,
podemos comprovar a existência de fósseis em várias cidades do
Norte de Minas, sendo de uma quantidade de sítios Paleontológicos
ainda não georeferênciados e com um potencial de pesquisas
incalculável.
Destarte, foi possível fazer a relação proposta inicialmente
no presente artigo, visto que, foi descrito animais pertencentes a
megafauna do Quaternário, cujos fósseis foram objeto de descrição
em literaturas diversas. Mas, foi observado também a presença de
fósseis do período Cretáceo, com estudos publicados e pesquisas
divulgadas nacionalmente e internacionalmente, em específico o T.
macedoi. (Vide artigos citados no corpo do texto).
Neste contexto, fica uma lacuna em aberto, pois ainda há
muito a ser pesquisado no Norte de Minas Gerais, em específico
na área da Paleontologia, pois temos uma carência enorme de
profissionais para desenvolver tais trabalhos de relevância social e
científica.

CARTA DE DESPEDIDA
25 de novembro de 2021. Hoje cedo, a partida para o mundo maior.
Um breve “até logo”, minha querida e amada Olímpia.
Um marcante momento de despedida, depois de mais de 72 anos de convivência, início de quando ela ainda não tinha treze anos e eu ainda não tinha quinze. Só de vizinhança de travesseiros, como ela costumava dizer, são mais de 64 anos. Não sou capaz de dizer de mais Amor ou mais Amizade. O mais firme e positivo encontro e reencontro e compromisso do ser e do viver. Eu sempre trabalhando muito, estudando muito, tentando realizar muito. Ela só alegria, sorrisos mais do que sempre, existindo para criar bem os nossos filhos e dar carinhos aos netos, agora, em final, também aos bisnetos. Olímpia, a linda morena de olhos verdes, o bom senso em tudo. O mais sensato sentimento da razão de existir, sempre na vontade de Deus. Cada dia é para ser vivido, sentido, preenchido. Amizade incondicional. Queria que todos sorrissem, vivessem com alegria. Jamais se considerou melhor do que qualquer outra pessoa, mesmo as mais humildes ou mais modestas.
Tinha muita noção de hierarquia, mas não considerava ninguém
melhor do que o outro. O que contava era forma de ser e de
agir de cada um. Valia sempre o bom trato, a finura de tratamento,
a capacidade de trabalho. Cargos para ela era só encargos. Valia a
atuação.
Amizade com todas as pessoas, em casa, no trânsito, em todos
os lugares, principalmente nas viagens, mesmo nas internacionais.
Viajando do Canadá para os Estados Unidos, ela sentou-se ao
lado de uma senhora italiana, entenderam-se tanto, mesmo não falando
uma a língua da outra, a italiana ficou tão amiga de Olímpia,
que quando veio ao Brasil, passou um dia aqui conosco em Montes
Claros, um momento de intensa alegria.
Grande capacidade física e espiritual para enfrentar situação
difíceis. Sempre com fé. Grande poder de adaptação, fosse em família,
com as amigas, em reuniões institucionais, no exterior. Foi
assim em Portugal, na França, na Itália, no Uruguai, na Argentina,
no Paraguai, na Bolívia, no Panamá, no Canadá, principalmente
nos Estados Unidos, que conheceu praticamente de ponta a ponta.
Centenas de reuniões, sempre a mesma Olímpia, segurança e simplicidade.
Lembro bem da nossa participação de um Congresso do Rotary
International/Nações Unidas, em Buenos Aires, ela viveu e
conviveu com grande alegria, com absoluta simplicidade e firmeza.
No mais famoso teatro da América do Sul, o Colón, quando
chamei a sua atenção sobre a importância de estarmos ali, ela somente
brincou: “E daí?”
Foi uma grande conselheira, falando tão diretamente ao coração
das pessoas que a procuravam, que ela mesma ficava admirada
de como surgiram tantas palavras de valor.
Jamais contou vantagens, em qualquer época da vida. Para
tudo, sempre houve uma razão de ser. A vida sempre uma missão
divina, uma obrigação a ser cumprida.

Olímpia Rêgo Arruda
Sempre encantada com a beleza das crianças, a inteligência
delas, a espontaneidade. Quase todos os dias eu mostrava para ela,
no computador, a beleza infantil, e ela adorava cada foto, conversava
com elas, em tom de carinho, como se fossem reais. Todo
encantamento com a beleza.
O que mais me encantava em Olímpia era a gratidão que ela
tinha pela vida. Uma fé em Deus, com toda a harmonia do ser e do
viver!
Que as nossas lembranças, minhas como eterno companheiro,
de todos os amigos e admiradores, seja a da alegria, do contentamento
de ser como era e queria ser, uma pessoa do bem e do
amor! Por tudo isso e por muito mais, os meus mais profundos
agradecimentos ao Pai Celestial por essa maravilhosa temporada
de vida ao lado de Olímpia. Muitas as esperanças de novas oportunidades
e novas chances de aprender mais.
No momento em que Wladênia julgou necessário levá-la
para a Santa Casa, ela, ainda deitada, olhou-me com firmeza, e eu
a vi, com seus olhos verdes, com a beleza máxima, como eu nunca
havia visto nos 72 anos de convívio. Era a hora da despedida, do
meu sentir e viver o mais eterno e verdadeiro amor. Uma luz mais
do que mágica!
Meu bom Deus, receba Olímpia com toda a claridade e a
força da tua Luz e do teu infinito Amor. Sabemos, Senhor, Tu e eu
que ela muito merece!



Wanderlino e Olímpia


DOLOROSO ADEUS A HAROLDO LÍVIO
No coração, a dor profunda do adeus ao grande amigo, mais que amigo, irmão, Haroldo Lívio. A sua tristíssima partida, da qual só tivemos notícia através do artista plástico e amigo Hélio Brantes, quase às 22h00 de sábado, dia 02 (estávamos ausente da cidade no dia 1°, quando ele se foi), e porque o contato telefônico nosso (entre eu e ele ou eu e sua grande esposa Maria do Carmo, Duca) mais frequente era o da Secretaria de Cultura, na sexta-feira fechada. Duca nos disse foram muitas as tentativas infrutíferas de nos avisar. O que importa mesmo, no entanto, lembrou, foi termos participado tanto do convívio familiar, não somente aqui, mas também na bela casa da família em Grão Mogol, junto a Ana Bárbara, que o admirava muito também e por quem tinha grande carinho. Ela havia se encontrado com ele poucos dias antes, na entrada da Secretaria de Cultura, quando ele saia, depois de mais uma preciosa visita ao nosso setor e, em meio a cumprimentos, a última conversa gentil, cortês, atenciosa, afetuosa e elogiosa, com ele falando alegremente, com muita consideração e estima, palavras que se tornaram para ela inesquecíveis!...
Liguei para o também grande e querido amigo-irmão (hoje
também saudoso), Magnus Medeiros, no sábado, e ele, que tanta
força e apoio proporcionou à família do amigo comum, Haroldo
Lívio, antes e depois de sua partida, relatou-nos os fatos. Disse ter
optado por não nos avisar, porque sabia quanto ficaria abalada. E
concluímos que Deus sabe o que faz, porque não sei se suportaria
- embora lamente muito não ter podido estar ao lado da família o
tempo todo naquele triste momento - despedir-me dele pessoalmente,
em sala da Santa Casa, que em nada lembra o seu lar cheio
de vida, verde, arte e beleza, distribuídos por todos os cantos e recantos,
de forma harmoniosa e aprazível, por Duca. A bela casa no
Todos os Santos sempre decorada, em momentos especiais ainda
mais, com o extremo bom gosto e habilidade artística da amada
esposa e mãe de três filhas de ouro, Clarissa Mônica, Fabíola e
Luciana, a mais nova e que vinha levando o pai ao Cartório que
mantinha em Porteirinha, depois de delicadas intervenções cirúrgicas
pelas quais passou.
Falando no belo casal Haroldo Lívio e Duca, foram quarenta
e oito anos de uma união exemplar, cercada pelas graças e bênçãos
de Deus e pelo amor, desvelo, vigilância, cuidado e carinho extremados
de Maria do Carmo, que se esquecia, muitas vezes, de si
mesma, a partir das primeiras horas da manhã, para zelar por tudo
que a ele dizia respeito, desde os remédios às refeições, auxiliada
de perto pelas grandes filhas, chegando a se levantar oito, dez vezes à noite, para ver como ele estava, para resolver o que faltara;
para pensar, detalhar e programar o que fazer por ele e para ele no
dia seguinte!...
No coração a dor, na mão, “Nelson Vianna, O Personagem”
(Matéria de Jornal) - Edições Cuatiara -, dedicado a seus queridos
pais José Luiz e Dalva (in memoriam), exemplar que dele recebi
em 18.06.1996: “Para a querida amiga Raquel, com o maior apreço
e admiração, oferece o autor”. O Prefácio de jornalista do valor de um Oswaldo Alves Antunes, de cujo O Jornal de Montes Claros
saiu a seleção de crônicas ali elaboradas e publicadas, lembra, o
que também fica claro nas palavras sempre especiais de Waldyr
Senna Batista. Oswaldo Antunes define: “Haroldo mostra em seu
livro, às vezes com carinhosa ironia, outras com lirismo e saudade,
a parte mais amena do labor jornalístico: relata casos, referência
pessoas e fatos históricos, como se lhe estivesse dando fé-de-ofício.
(...)”, livro que contou com participação de Antologia da lida e
elogiada obra “Montes Claros - sua história, sua gente, seus costumes”,
do também grande e saudoso historiador, escritor, folclorista
e médico, Hermes Augusto de Paula (Minas Gráfica Editora - 2a.
Edição - 1979).
Lá no alto, Haroldo deve ter sido recebido, em seguida à
bela, sublime e festiva cerimônia de entrada organizada pela comitiva
celestial, cercada de seresteiros da terra a entoarem “Amo-te
muito” e “O Bardo”, além de tantas outras belas (“As mais belas
do mundo...”) modinhas de João Chaves, por nomes como Dr. Veloso,
Urbino de Souza Vianna e Hermes de Paula, aos quais tocou
a tarefa, segundo Haroldo Lívio em seu livro, de cadastrar, minuciosamente,
todos os dados históricos registrados desde a fundação
dos primeiros currais de gado que deram origem à cidade. Ao lado
deles, a também grande historiadora, que partiu do plano terreno
aos 98 anos de idade, Ruth Tupinambá Graça, a nossa muito amada,
querida e admirada Rutinha, que se foi logo após o genial “roqueiro
de Moc”, poeta e compositor Elthomar Santoro Júnior, e o
grande, musical “Sapo na Muda”, seu primo apressado Peré. Sem
contarem outros tantos amigos e familiares idos. Claro, ao lado deles,
o cronista, justa e merecidamente homenageado, Nelson Washington
Vianna, já a partir do comentário do autor: “...dificilmente
surgirá alguém que possa sobrelevá-lo em seus méritos de estilista
e observador arguto dos acontecimentos que fazem o cotidiano da
vida encantadora de uma cidade.”
Nada melhor, pois, para lembrar e homenagear o grande cronista,
escritor, jornalista e extraordinário historiador que ora nos
deixa, que transmutar Nelson Vianna, o Personagem, nas palavras
de abertura do importante livro, no próprio Haroldo Lívio de Oliveira:“Como sempre acontece na vida real, um belo dia o autor
deixa a pena e se muda em personagem - como acaba de suceder
com o imortal Haroldo Lívio -. Os sinos dobram finados anunciando
o desaparecimento de uma das pessoas mais admiradas, conhecidas
e reconhecidas de Montes Claros. Finou-se - precocemente
- aos setenta e seis anos de idade, cercado do respeito e reconhecimento
ao valor de sua vida e obra, o notável escritor e historiador
Haroldo Lívio de Oliveira, brasilminense de estirpe fidalga, que
dedicou toda a força de seu amor e sua inteligência de escol à missão
de garimpar o nosso passado. Montes Claros o pranteia porque
foi ele, sem nenhum favor, um dos autores mais lidos da literatura
montes-clarense, entre todos que mourejaram nas letras, aqui residindo
e recolhendo a história local da boca do próprio povo”, em
conversas aprazíveis, entrevista a entrevista.
Além disso, a Haroldo coube pesquisar a fundo a história
da cidade! E ninguém melhor do que ele havia para relatá-la, caso
a caso, data a data, personagem a personagem, de forma sempre
fiel, precisa, inteiramente pertinente e profundamente fundamentada
em fatos reais! Tanto que, volta e meia, junto a ele tirávamos
dúvidas as mais diversas, muitas vezes em atendimento a alunos de
todas as séries e escolas, mestrandos, doutorandos, de Montes Claros
ou não, interessados em inúmeros nomes e acontecimentos que
permearam a rica e pacífica - vezes conturbada, via Rua de Baixo
versus Rua de Cima - história de Montes Claros, informando os
seus telefones (fixo e celular) e endereço eletrônico, residencial a
meia cidade e meia, para dirimirem dúvidas sobre os fatos históricos
mais complexos, porque a ele “coube o laborioso e paciente
recenseamento - histórico e cultural - de nossa Montes Claros de
seu tempo e dos tempos de antanho”! Osvaldo Antunes completa, magistralmente: “... e dizer que através da janela desse Nelson
Vianna, o Personagem, nós, retirantes do tempo, contemplaremos
paisagens humanas vivenciadas ou cuidadosamente pesquisadas
por Haroldo Lívio, - também memorialista de primeira água -, que
se coloca entre seu personagem Nelson Vianna e seu quase conterrâneo
Niquinho Teixeira, de memórias análogas.”
Aqui deixou Haroldo, além de sua maravilhosa família, inconformados,
milhares de admiradores e amigos, entre os quais
eu e minha filha nos incluímos! Era um ser humano excepcional,
querido por todos que o conheciam, liam ou dele recebiam sempre
as mais corretas e completas informações históricas ou lições. A
ele encaminhávamos muitos e muitos pesquisadores, quando os
questionamentos ultrapassavam as fronteiras de nosso tempo e conhecimento. Foi nosso Mestre Maior nas aulas de História!...
Agora o que fazer, além de reverenciar para sempre a sua
memória, o seu imenso legado, seu nome, trabalho e história honrados,
inapagáveis?! Quando alguma dúvida surgir ou faltar algum
dado precioso, indispensável para compor os mais de trezentos
anos de história “montesclarina”, restar-nos-á olhar para os céus e
lhe pedir, com a atenção, gentileza e interesse de sempre, lançar as
informações complementares em forma de gotas ou fartas chuvas
de sabedoria - que tinha de sobra! - pelas janelas a ele abertas do
paraíso, e que se materializarão, como por milagre, aqui na terra,
em mentes e corações ansiosos para espiritualmente recebê-las!
Obrigada por ter existido em nossas vidas (e trabalho) amigo
Haroldo! Não estava autorizado a nos deixar tão cedo - eu lhe
cobrei muitas vezes a mais longa “vida longa” ou longevidade do
mundo! -, mas Deus haverá de dar à sua família e amigos sinceros,
fiéis e verdadeiros toda a força, fé, conforto e consolo necessários,
para aprenderem a viver sem a sua presença apenas física, porque,
não há dúvida, você continua e continuará sempre mais vivo
e mais amável do que nunca entre nós, eternamente encantado e preparado para contar e recontar, todo o tempo, histórias memoráveis,
antológicas, inesquecíveis da cidade que teve a honra de tê-lo
como um de seus filhos de coração mais ilustres, insignes, sérios,
corretos e éticos!...
Sei que se foi excepcionalmente bem composto, sob todos os
aspectos, trajado, arrumado, nos mínimos detalhes (o terço branco
da pureza entre as mãos...), para uma grande festa de gala e louvor
eternos nos céus, como poucos no mundo o são, mais um mérito
da esposa amada Duca, Maria do Carmo, e sob o som de todos os
cânticos, credos e orações (a grande cantora lírica Maristela Cardoso
estava lá!), ao lado de nomes como Dona Yvonne de Oliveira “Centenária” Silveira - Salve “Olintho da Silveira Setentão”, uma
de suas belas e brilhantes crônicas -, que o homenageou em poéticas,
harmoniosas, emocionadas palavras e ao segurar, firmemente,
alça do seu último berço; Maria Luiza Silveira Telles, a nossa extraordinária
escritora, país e mundo afora; o amigo de longa data,
Paulo Narciso, que, soube, regou o tronco de uma árvore com suas
lágrimas de dor e adeus, e tanta gente mais, porque você queria e
teve pra lá de “um milhão de - fiéis e devotados - amigos!...”
Adeus então, como em crônica falou ao seu pai super-herói,
o montes-clarense da atual Rua Gonçalves Figueira, parte do
Centro Histórico da cidade, José Luiz de Oliveira, Imperador do
Divino das Festas de Agosto de Montes Claros, sonho irrealizado
de Darcy Ribeiro! Adeus então, querido e sábio companheiro de
trabalho de cunho histórico; admirável e inesquecível Irmão-Amigo,
a quem, não por acaso, eu chamava “Mestre” e lhe beijava a
mão na despedida, após conversas próximas ou no Café Galo, bem
como no setor de Patrimônio Histórico e Cultural de Montes Claros,
na Secretaria Municipal de Cultura, por tudo que era e reuniu
sobre a verdadeira história da cidade, cujos filhos, legítimos ou
legitimamente adotivos ou afetivos, o aplaudem, longa e demoradamente
e, penhoradamente, agradecem-lhe toda a atenção, interesse e ensinamentos, para sempre e alegremente em pé, embora
chorando a perda de um mestre, de um amigo insubstituíveis, que
permanecerá eternamente vivo!...

É realmente incalculável a sua imensa contribuição à cultura,à história, à literatura e imprensa do município e região inteira!
Muito ainda haveria a dizer ou destacar sobre você, mas só não
podemos, neste momento, deixar de dizer, alto e bom som: Viva
Haroldo Lívio! Viva!... Para sempre, Viva!...

O PRAZER É FEITO DE
PEQUENINAS COISAS
Era um domingo ensolarado de novembro de 2011. Encontrávamo-nos em Manaus, em visita à filha e aos netinhos que
ali passaram a residir. Na procura do que fazer na cidade
ainda desconhecida, veio a ideia deum passeio no Jardim Zoológico.
Nada mais convidativo do que o contato com a natureza da
selva amazônica, podendo-se conhecer novas espécies de animais
e de aves em pleno cenário de floresta.
A sugestão teve pronta acolhida por parte dos adultos, porém
o netinho de sete anos de imediato protestou: “Não gosto deste tipo
de programa, por isso prefiro ficar em casa.” Mas, isso não seria
possível!! Não havia com quem ficar e todos apostaram na tese de
que ele iria se descontrair quando visse as atrações do Zoo.
Sob protesto, o passeio aconteceu e foi tudo muito bonito e
surpreendente. Os animais selvagens a rosnar para os estranhos;
os macaquinhos saltitantes em busca do que comer e receptivos às brincadeiras; as aves exóticas a grasnar e mostrar a exuberância das suas asas coloridas; os passarinhos, ao alto, também a se exibirem
no livre voar. Tudo isso, integrado ao painel verde das árvores
centenárias.
E o netinho? Ah, este continuava de cara amarrada e, se
consultado quanto à sua satisfação, respondia contrariado: “Odeio
quando vocês me obrigam a fazer o que eu não quero”.
Final de passeio, fome a ameaçar. Procurou-se, então um restaurante
que dispusesse de espaço e estrutura de lazer para as crianças.
O que encontramos oferecia um “Clube da Criança”, onde o
netinho emburrado soltou o sorriso enfim, feliz com os videogames.
Ali reencontrou o seu mundo e a partir de então a dificuldade
passou a ser o querer sair.
Aquela situação tocou-me o coração e levou-me a questionar
a real essência dos prazeres da infância no mundo atual. O brincar,
no seu sentido pueril e ingênuo, também parece ter cedido seu espaço
à virtualidade. Hoje só se fala no virtual! E, lamentavelmente,
a virtualidade já vem reprimindo as nossas crianças nos seus
impulsos do querer se soltar, brincar, correr, saltitar, fazer amigos
e sorrir. Elas estão se tornando crianças robotizadas, entre quatro
paredes, prisioneiras de seus equipamentos de lazer que são os celulares,
os computadores, os tabletes, o smartphone, a internet, os
jogos de vídeo, o Nitendo64, o X-Box, os playstations e outros
mais que fogem ao meu conhecimento. É por isso que pouco querem
conversar e tanto resistem às situações novas. Passam o tempo
todo conectadas e sob o domínio e linguagem de equipamentos
eletrônicos. Com eles tornam-se super-homens, pois o importante é competir, vencer, mostrar que é mais capaz...
Mas, e as emoções próprias do ser criança? Também tornaram-se virtuais? Como será isso?
Nessa hora, me veio a nostalgia do que foi ser criança lá nos
anos “enta”, em Montes Claros. Lá, a essencialidade da infância brincar. E, como a escolarização só começava aos sete anos, a
liberação era geral e o lema das crianças era brincar, brincar e só
brincar. Havia compromissos também – as chamadas “obrigações”
–, mas era um trabalhar brincando. A tecnologia ainda se mostrava
remota: meios de comunicação acessíveis, só o rádio e o telefone– leia-se, telefone fixo. Os recursos também eram limitados:
presentes, só no Natal. Por conseguinte, cabia às próprias crianças
criarem os seus brinquedos, adaptarem os seus ambientes, procurarem
suas companhias. Era na criatividade que os meios tornavam-se múltiplos e as formas variadas. E o relevante era que pequenas
coisas geravam satisfação e a ingenuidade prevalecia...
Seria possível traduzir o mundo infantil dos anos “enta”? No
que alcança a memória, alguma coisa dá pra resgatar...
A socialização começava por um processo natural logo na
primeira infância. É que já se nascia no coletivo das famílias sempre
numerosas, sem falar nos parentes agregados, o que favorecia
o contato humano. O colo de mãe era temporário, o que impedia
a superproteção e a relação de dependência. Os mais velhos assumiam
o cuidar dos mais novos, o que inibia o ciúme e estimulava
a cooperação. O brincar era o movimento, as cores, o barulho, o
olhar.
O crescer, mesmo ainda na imaturidade cognitiva, levava os
interesses e os instintos a se manifestarem. A necessidade de maior
contato e a ânsia de novas descobertas induziam as crianças a procurarem
algo mais a fazer e com quem fazer, onde quer que fosse. Conforme idade e afinidades, os grupos de amigos iam naturalmente
se formando. Não faltava companhia, pois, além do núcleo
familiar, tinha também a vizinhança da rua que era a extensão da
família. No coletivo, as brincadeiras, a imaginação e a criatividade
tornavam-se mais elaboradas. Os meninos, mais aptos na capacidade
física e motora, logo se ligavam ao correr, à bola, aos animais.
As meninas, já revelando o instinto maternal, procuravam o“brincar de casinha”. E os brinquedos eram de fabricação própria:
bonecas de pano, panelas de barro, carrinhos de madeira entalhada,
sabugos de milho feito boizinhos de carro, bolinhas de gude, pião
de madeira e outros que a imaginação alcançasse.
As cantigas de ninar logo evoluíam para as cantigas de roda,
saindo do fundo do quintal para as ruas tranquilas ao anoitecer.
Era no querer dançar e cantar que se formavam os grupos de roda
a cantarolar as eternas canções daquela fase infantil: “Ciranda, cirandinha,
vamos todos cirandar...”; “O cravo brigou com a rosa...”;
“Fui no Tororó beber água, não achei. “Apareceu a Margarida, olê,
olê, olá...”; “Atirei o pau no gato tó...”. A coreografia do ir e vir, do
destacar-se ao centro com sapateado próprio e do puxar o cordão
formando alas seguia o ritmo e a inspiração de cada momento.
A animação fluía por si só e contagiava a todos sem precisar de
animador. Difícil quem não retorne a sua infância ao ouvir essas
canções, pois elas a todos marcaram e se tornaram eternas.
Os jogos e as brincadeiras de rua também se afirmavam no
coletivo, evoluindo as suas complexidades a depender do desenvolvimento
físico e motor e da capacidade mental da criança. Os
menores se estabeleciam em brincadeiras mais simples como pular
corda, esconde-esconde, pega-pega, batata quente, cabra cega,
boca de forno, quente ou frio. Os maiores já procuravam a competição
mais logística dos jogos e do esforço físico da queimada, da
porta-bandeira, da amarelinha, das corridas de saco e outras tantas.
Todos os divertimentos tinham regras a serem cumpridas e, em
geral, havia o vencedor e o perdedor, bem como líderes e comandados.
E todos tinham que se ajustar a essas condições sem apelo
ou proteção. Essa era a forma espontânea de se auto disciplinar, de
respeitar o limite do outro e de criar as próprias defesas.
O esforço físico das brincadeiras e dos jogos requeria intervalos
para relaxar. Pedagogicamente falando, era o momento de “volta à calma”. A galera procurava as calçadas ou o alpendre (hoje varanda) de alguma das casas da rua para espairecer, o que acabava
virando um exercício grupal da fala. Era o momento de contar
histórias e estórias ouvidas das mães e dos professores, e de passar
adiante os “causos” de assombração captados das conversas dos
adultos. Ainda sobrava tempo para testar as adivinhações e para as
piadas de salão, estas saídas da boca dos mais espirituosos.
A leitura também era fonte de diversão. Até então, os livros
não eram lidos por obrigação, mas pelo prazer da leitura. No circuito
havia mães-professoras e o acesso aos livros era estimulado.
O ler possibilitava à criança viajar na imaginação e penetrar noutros
mundos. A preferência era pelos contos imortais do mundo
mágico dos irmãos Grimm, Perrault, Andersen, chegando à criação
do nosso compatriota também eterno, o Monteiro Lobato. Os personagens
e os cenários da Gata Borralheira, Branca de Neve, Bela
Adormecida, João e Maria, Chapeuzinho Vermelho, Pequeno Polegar,
Gato de Botas, Pinóquio, Sítio do Pica-Pau Amarelo, entre
outros, levavam as crianças ao devaneio, à fantasia e à emoção. As
narrativas também geravam aflições, pois sempre havia os vilões
personificados nos gigantes, nas bruxas, nas madrastas, nos lobos
maus, a fazerem o mal. Porém, com poder maior, havia as fadas e
os heróis que apareciam a tempo, nem que fosse no último segundo,
para salvar as vítimas encurraladas e indefesas Se o imaginário
levava a sonhos irreais e impossíveis, pouco importava! Importante
era que o vilão sempre terminava derrotado, o bem vencia o mal
e todos eram felizes para sempre. Difícil é se desprender totalmente
de um conto de fadas enquanto existir alegria e esperança!
O domingo era o dia mais esperado! É que a liberdade era
ainda maior e os entretenimentos expandiam para além da casa
e dos amigos da rua. Até a comida era especial. A galinha caipira
apresentava-se como o prato principal do dia, complementada pela
macarronada e pelo tutu de feijão, com direito à sobremesa.
O dia começava com a missa das crianças, logo no início
da manhã, na Igreja Matriz. Era uma obrigação cristã que todos
levavam a sério. Sem necessidade da companhia de adultos, as
crianças tornavam-se público exclusivo daquela missa, portanto,
os rituais eram a elas adequados e as mensagens a elas dirigidas.
A maioria fazia parte da “Cruzada Infantil” - movimento organizado
pela igreja para estimular a participação da criança na comunidade
cristã e também catequizá-la. A interação dentro do grupo
e o preparo permanente do catecismo estimulavam a sensibilidade
e o comprometimento das crianças, tornando-as mais receptivas
aos ensinamentos religiosos e mais dispostas a partilhar. As missas
eram sempre participativas e entoadas por cânticos. No último
domingo do mês, ou em datas comemorativas, os “cruzadinhas”
compareciam com seus uniformes brancos e faixas amarelas com
o símbolo da cruz, o que emprestava ar de solenidade à cerimônia.
Quem coordenava tudo era o Padre Dudu - eterno pároco da igreja.
Com seu perfil enérgico, às vezes exagerava ao difundir para
as crianças a imagem de um Deus vigilante e punitivo com o não
cumprimento dos seus mandamentos. Mas, nunca deixava faltar a
imagem do Deus amigo e protetor das crianças e o sentido do amor
cristão. E foi aquela sementinha que despertou a espiritualidade de
todos a crer num Ser Superior “que sempre nos rege, nos guarda e
nos ilumina”.
Emoção também do domingo eram as matinês logo no início
da tarde. Como ninguém tinha mesada, os pais selecionavam
previamente os que iriam, com base no melhor comportamento.
Algumas crianças se ofereciam como baleiro circulante – uma boa
forma de ter acesso aos filmes. As sessões de cinema sempre começavam
pelo seriado Zorro, em que rápido se formava uma torcida
geral pela vitória do vingador mascarado. Os filmes principais
variavam de gênero a cada semana, ora passando filmes de ação,
orafaro estes americanos estilo Matar ou morrer, ou algum de espionagem
com o agente secreto James Bond, como Moscou Contra 007 -, ora épicos históricos, estilo Quo Vadis ou Os dez mandamentos,
até chegar aos filmes cômicos de Zé Trindade e Grande
Otelo. Aventura, de fato, era dar A volta ao mundo em 80dias. E,
quem não tivesse medo de assombração, podia até encarar o suspense
do Alfred Hitchcook.
Também, em conformidade com a censura, podia-se alcançar
os filmes românticos da época, à moda do Candelabro Italiano – cantem Al di Lá, de Quando setembro vier e de E o vento levou.
A sensualidade era pouca explorada, beijos só de “bico selado” e o
amor mostrava-se puro...Até então, o cinema já tinha evoluído do
mudo para o falado e legendado, do preto e branco para o “technicolor”
e o “cinemascope”. Os recursos dos estúdios de “Holliwudy”
ainda eram limitados, mas grandes galãs já se tornavam ídolos.
Os passeios do domingo à tarde eram as visitas aos familiares
e amigos – avós, tios, primos, comadres. A distância, a poeira
e o calor até chegar ao destino não se mostravam como obstáculos
ao lazer. No colo da mãe ia o filho mais novo, outros agarrados à
barra da sua saia, os demais segurando-se as mãos. O cansaço se
desfazia com a alegria do encontro com os visitados. Crianças e
adultos se dividiam em seus grupos próprios, uma vez que todos
tinham com quem se ajuntar, conversar e se divertir. E o lanche
nunca podia faltar, sempre regado ao farto café mineiro com queijo,
biscoitos de polvilho, bolo de fubá, além dos doces caseiros
feitos no tacho de cobre.
Daqueles inesquecíveis passeios, vêm à mente inúmeros cenários:
- Os vastos quintais das casas feitos pomares com árvores
frutíferas das mais variadas espécies; às vezes tinha até um fio
d’água correndo lá no fundo. Neles, o brincar não era só subir e
balançar nos galhos das árvores, mas, competir quem alcançava
o topo mais alto, quem não escorregava nos troncos roliços dos mamoeiros, quem pulava de galho em galho imitando os macacos.
Depois do pula-pula era o sentar-se debaixo das árvores e deliciar-se com as mangas maduras caídas do pé e com as jabuticabas
pretas retiradas do tronco das jabuticabeiras. Era uma comilança
só, sem se lembrar da obstrução certeira das vias intestinais no dia
seguinte, por conta de tanta semente engolida;
- A subida à ladeira para chegar lá no Alto dos Morrinhos,
donde se avistava toda a cidade. Quem por ali passasse não podia
deixar de entrar na colonial Capela do Nosso Senhor do Bomfim,
subir à sua torre para badalar o sino e, por obrigação, rezar uma
Ave Maria para ser abençoado;
- O corre-corre para ver o trem passar, quando a maria-fumaça
ecoava de longe um apito uivante. E lá vinha ela, com toda sua
imponência, a soltar fumaça, abrindo passagem. E todos a acenar
aos passageiros, desejando-lhes boa viagem;
- A corrida atrás do carro de boi– aquele de eixo com duas
rodas de madeira puxado pela junta de bois amordaçados e atiçados
pelo ferrão do malvado carreiro. Para a garotada, o insistente
nhem-nhem-nhem produzido pelo movimento das rodas era o gemido
lamentoso dos bois que, cabisbaixos, mostravam-se sofridos
e humilhados. Os gritos da galera se confundiam no incitar os bois
e no repudiar a maldade do seu condutor.
Mas, aventura no seu sentido nato de proeza e de risco ocorria
de fato nos saudosos piqueniques, sempre à beira de um rio.
O São Francisco mostrava-se distante, apesar de Montes Claros
estar no seu Vale, mas havia os seus afluentes – ou subafluentes –
mais acessíveis. O rio Carrapato era o preferido! Era também aos
domingos que a gurizada se aboletava na caçamba de seu Zé e da
dona Antônia, desprendidos organizadores dos passeios, para curtir
as paisagens da mata. A viagem, não obstante os sacolejos nas
estradas de terra esburacadas, era só alegria e algazarra! Quando o rio era avistado, ninguém mais se segurava. Os mais afoitos se
jogavam logo às suas águas transparentes e começavam a fazer dos
galhos das árvores trampolins para saltar nos poços mais fundos. O
dia era de integral e exclusivo contato com a natureza e com direito
a toda espécie de traquinagens, como armar alçapões para pegar
sabiás (a ordem era depois soltá-los), pescar piabas, catar conchas
de caramujo, correr atrás das lagartixas, catar flores e sementes.
Incrível como tudo era encanto! Os adultos se inquietavam,
preocupados com a segurança das crianças, mas estas pareciam ter
o seu anjo da guarda próprio. Prova: apesar dos escorregões, quedas
e arranhões, ninguém fraturava nada. E, ao fim do dia, todos
voltavam para casa são e salvos!
Havia também passeios a fazendas. Dos vizinhos fazendeiros,
os mais receptivos eram o seu Luiz Maia e a dona Ceci, que
ao irem com a família à fazenda Cabaceiras, de sua propriedade,
davam oportunidade aos amigos dos seus filhos. Era um privilégio
participar daquela caravana! O destino, por ser mais distante, tinha
como meio de transporte o trem. E qual mineiro não gosta de viajar
de trem?! Por isso, as emoções já se manifestavam no embarque
na estação ferroviária. Anunciada a saída, todos se sentiam partindo
para uma viagem internacional. O trem nada tinha de corredor
e ainda por cima fazia muitas paradas. Mas, pensando bem, era
melhor que fosse assim, já que o que se queria mesmo era ampliar
a viagem e conhecer os vilarejos e as paisagens ao longo do caminho.
A estadia de três a cinco dias na fazenda levava todos a situações
novas: o convívio com os bois no curral, o andar a cavalo, o
catar os ovos de galinha escondidos; as trilhas a percorrer. À noite,
o curtir era apreciar a lua e as estrelas, tentando definir a fase da lua
e as figuras formadas pelo aglomerado de estrelas lá no céu. Como
as constelações ainda não eram conhecidas, cada um interpretava
o desenho das estrelas conforme sua imaginação.
O tempo ia passando, as crianças crescendo e uma metamorfose
se anunciando. Algo começava a mexer no corpo e no emocional
daquela moçada, era a puberdade que vinha chegando. Mas,
lá nos anos “enta” essa mutação se processava mais lentamente, o
que tornava a infância mais prolongada. Por isso, o querer brincar
persistia. Ainda havia tempo para os meninos ampliarem seus espaços,
soltarem suas pipas, jogar em peladas de futebol em campos
improvisados e fazerem suas pescarias de forma mais aventureira.
As meninas, mais recolhidas e fantasiosas, davam vazão à imaginação
na arte da música e da representação. E, no fluir da liberdade
de criação, o teatro também ganhava a sua vez, atraindo como público
até os adultos das redondezas.
De fato, dentro dos seus limites e possibilidades, a meninada,
ainda inspirada pelas estórias do mundo mágico, conseguia dar
vida aos cenários e personagens dos contos de fada. A adaptação e
a montagem eram próprias: tablado improvisado com pneus e pedaços
de madeira; cenário formado por papel de embrulho pintado
com aquarela; cortinas improvisadas com lençóis e toalhas. Roupas
e fantasias podiam ser feitas de papel, mas as do fundo do baú
também eram reaproveitadas. Quanto ao efeito cênico e sonoro,
esses dependiam da capacidade de interpretação de cada um. Traduções
mais comuns eram as estórias do Chapeuzinho Vermelho,
do João e Maria, da Gata Borralheira. Mas também se interpretava
as peças da Maria Clara Machado, como o inesquecível Pluft, o
fantasminha, A bruxinha que era boa e o Rapto das cebolinhas.
Com fantoches, dava-se interpretação aos habitantes do Sítio do
Pica-Pau Amarelo. Era nas apresentações e representações que todos
revelavam a sua espontaneidade e o seu interior.
Enfim, é de tamanha simplicidade a gerar tanta satisfação e
tanta alegria que se pode depreender que o prazer é feito de pequeninas
coisas.
E, voltando às crianças do Século 21, só me resta fazer um
apelo: Meu Deus, não deixe que os desejos infantis escapem das
nossas crianças. Desperte sempre nelas a sensação do brincar, do
correr, do gritar e do sorrir. Não permita que se tire delas o encanto
pelo mundo, nem os sonhos com a fantasia. Impeça a sociedade de
lhes cobrar mais saberes do que suas mentes alcançam. E, acima de
tudo, não deixe que as máquinas antecipem nelas a vida de adulto.

ARTESANATO DE MONTE AZUL
NORTE DE MINAS
A arte artesanal acompanha a cidade de Monte Azul, localizada no norte de Minas Gerais, há várias gerações.
A beleza natural é uma das grandes inspirações dos artesãos que fizeram dos recursos naturais e materiais regionais, símbolo de beleza e terapia artística. Essa técnica começou com uma forte abundância de argila e solos férteis. Que se deu a criatividade da confecção de vasos de argilas e trabalhos artesanais com identificação profunda com o Folclore e características de produtores rurais, que utilizavam materiais para uso doméstico, como vasilhas de cerâmicas, vasos, potes e entre outras peças.
A cidade de Monte Azul carrega a originalidade e identidade pela cultura de um povo criativo e modesto, tudo isso através da arte e da valorização da matéria-prima. A partir de sua relevância, a nossa cidade busca aprimorar, não somente sua história artesanal, mas, também, levar para as atuais e futuras gerações a importância da arte local, capacitando as crianças e adolescentes, através de

grupos de convivência e fortalecimento de vínculos, o gosto pelo
artesanato. Além de desenvolver projetos sociais, para a prática de
artesanato nas escolas municipais, no qual aprende a reciclar e cuidar
do meio ambiente, eles ainda produzem com extremo carinho
as pinturas em garrafas, com o reaproveitamento das embalagens
e da conscientização de reciclagem. Também fazem os bordados
regionais, pintura em vasos de argila, confecção de peças de linhagem
e entre outras, tudo com a bela arte do bem fazer. Todos esses
materiais são desenvolvidos pelos alunos, principalmente aqueles
que estão em amparo social, prestando-lhes oportunidades com o
desenvolvimento sustentável, além de oferecer uma agradável terapia
mental.
Ademais, o artesanato local é uma autentica simbologia da
história de Monte Azul, desde dos seus antepassados, em distintas épocas, até nos dias atuais. Que são aprimorados nos costumes e
no estilo artístico de grupos de artesãos e artesãs, que fazem da arte
artesanal uma fonte de cultura e renda, para o desenvolvimento
regional sustentável.

A CIDADE DE JEQUITAI
APONTAMENTOS HISTÓRICOS
As cidades, às vezes envelhecem precocemente, mas podem renovar-se, surtos de processo dão-lhe feição nova, tornando-as mais esperançosas.
A cidade de Jequitai, nos dias que correm, atravessa essa fase de esperanças, de renovação, embora sua vida típica do garimpo tenha ciclos em que os dados estatísticos se confundem com as marcas sismográficas.
Mas, o atual prefeito da cidade, Sr. José Maria de Aquino, moço idealista e realizador, estima o faiscador como motivação de um movimento progressivo ondulante, e orienta sua administração no sentido positivo do ressoerguimento de todos os setores da vida municipal, como sejam instrução primária, saúde e transportes.
O orçamento do município para o exercício de 1968, a seguir, mostra o primeiro plano de governo de seu novo Prefeito, dentro dessas nossas assertivas.

PARECIMENTO DA CIDADE
Com elementos que nos forneceu o coronel Daniel da Fonseca
Junior, um dos mais ilustres filhos de Jequitai, cuja idade provecta é um valioso acervo de serviços prestados a sua terra, vamos
tentar o registro de alguns informes a respeito do aparecimento da
cidade de Jequitai, cidade que, ao contrário das demais de Minas,
ou maioria delas, não nasceu à sombra de uma cruz e nem ao redor
de uma ermida, mas do achado ocasional de4 alguns diamantes
mas praias do rio do mesmo nome.
No ano de 1872, o tenente coronel Cipriano de Medeiros
Lima, mais tarde Barão de Jequitai, atingia o apogeu do maior latifundiário
nas terras das Minas Gerais, comandando suas vinte e
cinco fazendas, tendo como piloto a mais importante delas, o Brejo
Grande, onde residia, e que ficava pouco distante da hoje cidade
de Jequitai.
As propriedades do Barão, segundo minuciosas pesquisas
realizadas pelo engenheiro e professor Simeão Ribeiro Pires, de Montes Claros, mediam-se por 65.660 alqueires geométricos, todas
elas em franca prosperidade agrícola e pastoril. Trinta mil rezes
era o rebanho; os braços de duzentos escravos sustentavam
laboriosamente o dinamismo do Barão.
Homem de pouca instrução, mas ativo e inteligente, Cipriano
de Medeiros teve como primeira atividade a profissão de ferreiro,
de que se gabava ser um perfeito artífice. Nunca fora o ferreiro da
maldição, porque sempre tinha o ferro e tinha o carvão...
Progrediu mais na traficância de escravos e, assim, suas fazendas,
como era óbvio, foram as mais produtivas da época.
No Brejo Grande, segundo “Os Engenhos de Cana de Açúcar
em Minas Gerais” publicação do Instituto Nacional do Açúcar e
do Álcool, teria financiado na dita fazenda o primeiro e precário
complexo dessa indústria rural, de tão nefastas consequências na
formação social do século 19. Verdade é que açúcar era só para
adoçar os rigores das leis proibitivas do fabrico de aguardente. A
publicação citada, de cunho oficial, não assegura contudo em que
região, em que bandas, ficava o Brejo Grande. Fala, por alto, em
Filgueiras, ou Formigas.
A história recúa, deste modo, no século 18. A primeira usina
de açúcar em Minas Gerais, e nesse récuo vamos encontrar na
região o rei dos emboabas, o famoso Francisco de Nunes Viana -
correto é Manuel Nunes Viana – procurador de Izabel de Brito, da
dinastia tabaroa da Casa da ponte, em plena atividade no rio das
Velhas, de Sabará à Barra do Guaicuí, sendo de se acrescentar que
na barra do rio Jequitai no São Francisco, ainda se veem as ruinas
da sede da fazenda “Engenho Velho”, de Nunes Viana.
O professor Simeão Ribeiro Pires, que citamos, fala da arrematação
por parte de Cipriano de Medeiros das fazendas que
pertenceram a Antônio Caetano Nunes de Macedo e sua mulher,
dona Ludovina da Costa Ferreira, dentre as quais destaca-se a do Brejo Grande. A citação deu-nos a telha escarafunchar os motivos
da medida judiciária, uma vez que a informação é de que os
imóveis arrematadas constituíam legados do casal que não tinha
herdeiros e por isto sido instituído a favor de seus escravos. De
indagações e indagações, fomos inclinados a pensar que o casal
Antônio e Ludovina não compreendia o instituto da escravidão,
não se conformavam com as restrições da igualdade humana entre
brancos e pretos. Desconhecemos a legislação da época, mas cremos
que o escravo não era pessoa jurídica, não podendo receber
por instrumento testamentário, ficando assim frustrada a intenção
dos testadores.
No ano de 1872, como íamos comentando, o garimpo do alto-médio Jequitinhonha fez migrar das minerações do Medanha
e Inhaí levas de garimpeiros que desceram e foram faiscando rio
abaixo, para afinal se deterem nas ricas lavras do Pau D’óleo, Tambadouro,
Peixe-cru, Quebralinhas e muitas outras nas cercanias de
Terra Branca.
Por aí moravam os Gero, família numerosa e de influência no
meio, e por um dia do mesmo ano de 1872, mandaram a fazenda do
Brejo Grande dois escravos levando uma carta a Cipriano de Medeiros,
em que pediam certa quantia em dinheiro para o comércio
de diamante. Os Gero eram capangueiros. Dias depois os escravos
chegavam à beira do rio Jequitai, no ponto certo onde deviam atravessar
o rio a vau, bem próximo à fazenda Brejo Grande. Quando
comiam a matula, verificaram que o esmeril negro, os sexos rolados,
de mistura com o marumbé, a forragem de agulha, o caboclo
e outros testemunhos do diamante, eram os mesmos ocorrentes nas
grupiaras e praias do rio Jequitinhonha, nas lavras de Terra Branca.
Foram recolhendo e reduzindo o material, levando nos chapéus
de couro, servindo de bateia. Pegaram dois diamantes de quatro
quilates e dois de dois quilates.
No mesmo dia alcançaram a fazenda Brejo Grande, onde foram
prontamente atendidos, recebendo à importância pedido pelos
Gero.
- Yôyô Cipriano – disseram os escravos – nós estamo indo
embora com a boca cheia dágua pra dá um experimento de garimpo
na beira do rio Jequitai. E mostraram as quatro pedras encontradas.
- Quatro estrelas! – exclamou Cipriano de Medeiros.
Os olhos do tenente brilharam com mais intensidade do que
brilhavam as quatro estrelas que faiscavam em suas mãos tremulas.
E naquele instante Cipriano rabiscou algumas linhas e entregou
aos escravos. Pedia aos Gero que mandassem quinze escravos,
bem equipados com todo material necessário a uma grande exploração
de diamantes. Não faltaria dinheiro e munição de boca era
farta.
Aos dois escravos Cipriano de Medeiros ordenou que fossem
fornecidas duas bestas de sela arreadas, para o regresso.
***
E, ASSIM, COMEÇAVA A ODISSEIA DA CIDADE DE JEQUITAI.
O topônimo já existia, nascera antes, da cachoeira a jusante,
onde os jequis traiçoeiros eram armados entre os canais de pedra
para a pesca, e que passariam a fornecer a principal alimentação a
uma população ocupada com a riqueza fácil e ilusória que o diamante
costuma dar, e indiferente às atividades de uma vila produtiva
e racional.
Um ano depois, 14 de novembro de 1873, a lei provincial
1995, elevava o lugarejo à categoria de vila de Jequitai, com sede
no arraial do Senhor do Bom Fim (Bocaiuva), do município de
Montes Claros. Em 1881, era a sede transferida para seu território já então em condições de funcionar com seus próprios recursos, já
sob o nome de vila de Nossa Senhora da Conceição de Jequitai.
Três anos mais tarde, a lei provincial de número 3.273, de 30 de
outubro de 1884, elevava a vila nascente à categoria de cidade. No
dia 17 de abril de 1890, por motivos políticos pouco discutíveis, a
lei estadual número 44, despojava Jequitai de seus fotos de cidade,
passando a distrito de Montes Claros e depois de Coração de Jesus
(*).
Quarenta anos decorreram, quando os filhos de Jequitai, de
que mais se destacaram coronel Daniel da Fonseca Junior, coronéis
José Coelho de Araújo, Sandoval Coelho de Araújo, Dr. Carlos
Messias de Aquino e outros, reivindicam os direitos de emancipação
política e administrativa de sua terra, a que se converte na
lei estadual número 336, de sete de dezembro de 1948, sancionada
pelo presidente Milton Campos.
No seu curto espaço de vila, de cidade, esteve sob a jurisdição
da Comarca de Montes Claros a cidade de Jequitai, onde
várias vezes esteve a serviço do cargo o Dr. Jeronimo de Castro,
casado com a senhora Joana de Castro, neta de Francisco Ferreira
Leal, instituidor do patrimônio e fundador da cidade de Coração
de Jesus.
Dirigiu o Conselho Municipal, com eficiência e muito civismo
o tenente Francisco Coelho de Araújo.
_____________________________________
(*) Vila Nova de Jequitai.

EDUARDO GOMES
Faleceu as 6,30 horas de hoje, dia 20.02.2022. Era o quinto filho de José Gomes de Oliveira (Zé Gomes) e Maria das Dores (Dorzinha) Guimarães Gomes, de um total de seis. Quando morre alguém assim, a sua morte nos leva junto, roubando um pouco de nosso passado e apagando uma presença forte no futuro. Ao perdermos os melhores, a sensação é a de que recomeçamos do zero. Eduardo fará muita falta. Do seu jeito de ser, grandes lições de humildade. Do seu abraço ao aperto de mão, a certeza de um irmão presente, de um esposo que exalava o seu carinho e transbordava de afetividade, de um avô afetivo, de um pai austero, mas amoroso, de um tio querido, de um cunhado atencioso, de um primo e de um amigo querido. Do seu olhar, a transparência de um ideal que foi o de viver em paz. Da vida, a alegria, a caridade e tudo mais de bom que transmitia. A vida promoveu um empate entre os que já se foram e os que ficaram daquele lar edificado com tanto amor. Nos bons tempos, éramos oito. Hoje somos, apenas, quatro remanescentes. É o ciclo da vida. Eduardo era casado com Goretti Zuba e deixa três filhos e cinco netos. Médico Veterinário
e Professor universitário na Faculdade de Agronomia e Veterinária
da UFMG, ele tinha, em seus alunos, uma legião de admiradores
e, em seus amigos, incontáveis irmãos. Esta página tem dedicado
um espaço, sempre que solicitada, para noticiar o falecimento de
alguém, a fim de que os amigos e parentes possam ter uma derradeira
chance de homenagear aquele ente querido que concluiu sua
jornada terrena. Em um mundo no qual as notícias se sucedem,
sem tempo de serem absorvidas, hoje quem lamenta a morte de um
irmão, sou eu. Tive o privilégio de experimentar a sensação maravilhosa
do convívio, da afeição, das lições e da luz que meu irmão
Eduardo Gomes emanava. Hoje a parte física desse convívio, no
entanto, meus amigos, já se encontra no passado. Depois de quase
quarenta dias lutando, meu irmão de sangue e de alma, deu por
encerrada sua missão e nos deixou. Quem já perdeu um só de seus
afetos sabe muito bem o que essa imensa dor significa. No entanto,
não serei ingrato em dar peso maior à dor do que a todas as boas
lembranças que ele me deixou. E assim segue a vida. Na foto, ele
aparece ao lado de sua esposa Goretti.

UMA HOMENAGEM IMPORTANTE!
O Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, atendendo ao honroso convite do comandante do 55º Batalhão de Infantaria, o coronel Hidelgard Borba de Vasconcelos, nas pessoas dos associados Dário Teixeira Cotrim (Diretor de Museu) e José Francisco Lina de Ornelas (Presidente do IHGMC), recebeu em noite festiva o notável Diploma “Amigos do 55º Batalhão de Infantaria Dionísio Cerqueira” – ato de outorga registrado sob o número 20220053, às folhas de número 2, do Livro de Honra dos Amigos do 55º Batalhão de Infantaria Dionísio Cerqueira, em reconhecimento aos relevantes serviços prestados à comunidade de Montes Claros e ao Exército Brasileiro. Além do Diploma, o presidente Chico Ornelas ainda recebeu a Medalha em laurel ao Dia da Arma de Infantaria - data natalícia do Brigadeiro Antônio Sampaio – Foi um momento de muita alegria para o nosso IHGMC.

