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curricilo
 

 


Igreja de Pedra Senhor Bom Jesus do Matozinhos do distrito Barra do Guaicuí /MG.



NOTAS DOS
COORDENADORES DA EDIÇÃO

A ordem de publicação dos trabalhos dos associados efetivos obedeceu à sequência alfabética dos nomes dos autores. Em seguida, foram ordenados os trabalhos dos associados correspondentes e convidados;

A Revista não se responsabiliza por conceitos e declarações expedidos em artigos publicados, nem por eventuais equívocos de linguagem nela contidos. A revisão dos originais foi feita pelos próprios autores dos artigos publicados.

FINS DO IHGMC

Art. 2º - O IHGMC tem como finalidade pesquisar, interpretar e divulgar fatos históricos, geográficos, etnográficos, arqueológicos, genealógicos e suas ciências e técnicas auxiliares, assim como fomentar a cultura, a defesa e a conservação do patrimônio histórico, artístico, cultural e ambiental do município de Montes Claros e região Norte de Minas.


PEDE-SE PERMUTA
PIDESE CANJE
WE ASK FOR EXCHENGE
ON DÉMANDE D’ÉCHANGE

Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
Rua Coronel Celestino, 140 – Corredor Cultural padre Dudu
Montes Claros – Minas Gerais – 39400-014

REVISTA DO
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE MINAS GERAIS
(FUNDADO EM 27/12/2006)

Ano 17 Redator-Chefe
Dário Teixeira Cotrim
Volume XXXI
Montes Claros
2023
(2006-2023)
Presidente do IHGMC
José Francisco Lima de Ornelas

Diretor e Editor
Dário Teixeira Cotrim

Conselho Editorial
Dário Teixeira Cotrim
Wanderlino Arruda
Hermildo Rodrigues
Mara Yanmar Naciso Cruz

Registro fotográfico
Silvana Mameluque Mota
Norivaldo Alves da Silveira

Editoração, Diagramação e Impressão:
Gráfica Editora Millennium Ltda.

Fotografias:
Antônio Felix da Silva, Carlúcio Gomes Ferreira, Dário Teixeira Cotrim, Silvana Mameluque, Hermildo Rodrigues, José Ferreira da Silva, Aldo Mineiro de Souza, Mara Yanmar Narciso da Cruz, Ricardo Fernandes Lopes, Wanderlino Arruda, Landulfo Santana Prado Filho e Internet.

Impressão
Gráfica Editora Millennium Ltda.
ISBN: 978-65-86024-98-2


Capa: Igreja de Pedra Senhor Bom Jesus do Matozinhos do distrito Barra do Guaicuí /MG.


SUMÁRIO

Antônio Felix da Silva
Uma reunião diferente – 21

Carlúcio Gomes Ferreira
Dr. Pedro Santos – 24

Dário Teixeira Cotrim
Zé Lú: O forrozeiro – 42

Daniel Oliva Tupinambá Lélis
Tutti Buona Gente – 45

David Ferreira dos Santos
Montes Claros: a outra face - 51

Glorinha Mameluque
Isabel Corby – Uma tarde de cultura – 55

Guilherme Martins Silva Peixoto
Darcy Ribeiro: um mineiro de Montes Claros para o mundo -57

Gustavo Mameluque
A garganta das Minas – 65

Hermildo Rodrigues
Todos caminhos levam a Roma – 68

José Jarbas Oliveira Silva
Fazenda da Solidariedade São Franciso de Assis - 71

José dos Santos Neto
Uma tragédia, mais uma, mais uma... - 80

José Ferreira da Silva
Dona Maria de Jesus - 85

José Geraldo Souza Soares
O que tenho para dizer! - 87

José Ponciano Neto
Dia Mundial do meio ambiente e da ecologia - 91

Landulfo Santana Prado Filho
Morros Dois Irmãos de Montes Claros - 95

Lázaro Francisco Sena
Dobrado para um herói - 101

Mara Yanmar Narciso da Cruz
Santa Casa de antigamente - 104

Maria Inês Silveira Carlos
Ana Valda Xavier Vasconcelos - 109

Osmar Pereira Oliva
João Alencar Athayde - 112

Ricardo Fernandes Lopes
A arte rupestre... - 115

Wallison Oliveira Santos
Resenha de “O Povo Brasileiro: formação e o sentido do Brasil” de Darcy Ribeiro - 127

Wanderlino Arruda
Manoel Messias Oliveira - 135

ASSOCIADO CORRESPONDENTE
Manoel Hygino dos Santos
O dia 6 de fevereiro de 1930 - 137

CONVIDADOS
Luís Carlos Bill
Urbino Vianna: O primeiro paramirinhense a escrever e publicar um livro - 142

Vera Lúcia Santos de Souza
Avelino Pereira - 147

 

DIRETORIA DO INSTITUTO HISTÓRICO E
GEOGRÁFICO DE MONTES CLAROS

Fundado em 27 de dezembro de 2006.

COMISSÃO FUNDADORA 2006-2007
Dr. Dário Teixeira Cotrim
Dr. Haroldo Lívio de Oliveira
Dr. Wanderlino Arruda

DIRETORIA 2022 - 2023
Presidente de Honra
Presidente
1º vice-presidente
2º vice-presidente
1º Diretor Secretário
2º Diretora Secretária
1º Diretor de Finanças
2º Diretor de Finanças
Diretora de Protocolo
Diretora de Comunicação Social
Diretor de Arquivo, Biblioteca e Museu
Presidente de Honra
Presidente
1º vice-presidente
2º vice-presidente
1º Diretor Secretário
2º Diretora Secretária
1º Diretor de Finanças
2º Diretor de Finanças
Diretora de Protocolo
Diretora de Comunicação Social
Diretor de Arquivo, Biblioteca e Museu

CONSELHO CONSULTIVO
Membros Efetivos
Maria de Lourdes Chaves
Teófilo Azevedo Filho
Virgínia Abreu de Paula
Membros Suplentes
Juvenal Caldeira Durães
Gessileia Soares Cangussu
Dorislene Alves Araújo

CONSELHO FISCAL
Membros Efetivos
Carlos Renier Azevedo
André Luiz Lopes Oliveira
Eduardo Gomes Pires
Membros Suplentes
Maria do Carmo Veloso Durães
Maria da Glória Caxito Mameluque
João Nunes Figueiredo

COMISSÃO DE GEOGRAFIA E ECOLOGIA
Hermildo Rodrigues
José Ponciano Neto
Abigail Maria Ataíde Marques Dias
Antônio Félix da Silva
Ildeu Soares Caldeira Júnior
Carlos William Pereira dos Santos

COMISSÃO DE HISTÓRIA E ARQUEOLOGIA
Eduardo Gomes Pires
José Dirceu Veloso Nogueira
César Henrique Queiroz Porto
Paulo Hermano Soares Ribeiro
Leonardo Alvarez Rodrigues
Ana Paula Maria Costa Durães

COMISSÃO DE ANTROPOLOGIA,
ETNOGRAFIA E SOCIOLOGIA

Carlota Eugênia Narciso Soares
Lúcio Roosevelt Guimarães Maldonado
Orozimbo Veloso Prates
Frederico Assis Martins
Eliane Maria Fernandes Ribeiro
Ricardo Fernandes Lopes

COMISSÃO DE CLASSIFICAÇÃO E DE
ADMISSÃO DE SÓCIOS

Dário Teixeira Cotrim
Leonardo Linhares Drumond Machado
Juvenal Caldeira Durães
Zoraide Guerra David
Landulfo Santana Prado Filho

COMISSÃO DE DOCUMENTAÇÃO E PUBLICAÇÃO

Marilúcia Rodrigues Maia
Norivaldo Alves da Silveira
Ivana Ferrante Rebello e Almeida
Daniel Tupinambá Lélis
Maria Clara Vieira Lage

COMISSÃO DE GEOGRAFIA E ECOLOGIA
Hermildo Rodrigues
José Ponciano Neto
Abigail Maria Ataíde Marques Dias
Antônio Félix da Silva
Ildeu Soares Caldeira Júnior
Carlos William Pereira dos Santos

COMISSÃO DE VISITA E APOIO
João de Jesus Malveira
Edvaldo Aguiar Fróes
José Ferreira da Silva - Coordenador
Norivaldo Alves da Silveira
Sebastião Abiceu dos Santos Soares

COMISSÃO DE PROMOÇÕES E EVENTOS
Osmar Pereira Oliva
Marcionílio Martins Rocha Filho
Teófilo de Azevedo Filho (Téo Azevedo)
Maria de Lourdes Chaves (Lola Chaves)
Augusta Clarice Guimarães Teixeira (Clarice Sarmento)
Mara Yanmar Narciso da Cruz

COMISSÃO DA LITERATURA DE CORDEL
Carlos Renier Azevedo (coordenador)
Teófilo Azevedo Filho
João Nunes Figueiredo
Amelina Chaves
Sebastião Abiceu dos Santos Soares
Guilherme Matias Silva Peixoto

ESTAGIÁRIA
Samara Abreu Silva

ASSOCIADOS EFETIVOS
CD
ASSOCIADOS EFETIVOS
PATRONOS
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
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97
98
99
100
Edvaldo de Aguiar Fróes
Leonardo Alvarez Rodrigues
Waldomiro Alves Santos
Maria do Carmo Veloso Durães
Dorislene Alves Araújo
Marcos Fábio Martins Oliveira
Syomara Tereza Dias Rocha
Gessiane Aparecida Medeiros Mota
Daniel Gonçalves Rocha
Maria Florinda Ramos Pina
Sebastião Abiceu dos Santos Soares
Antônio Augusto Pereira Moura
Cesar Henrique Queiroz Porto
Norivaldo Alves da Silveira
Magda Ferreira de Souza
Gilsa Florisbela Alcântara
Carlos William Pereira dos Santos
Frederico Assis Martins
Paulo Hermano Soares Ribeiro
Felicidade Maria do Patrocínio Oliveira
Terezinha Gomes Pires
Silvana Mameluque Mota
Landulfo Santana Prado Filho
José Ponciano Neto
Isabela de Andrade P. Miranda
Orozimbo Veloso Prates
Eduardo Oliveira Ferreira
Guilherme Matias Silva Peixoto
Carlúcio Pereira dos Santos
Jonice dos Reis Procópio
Augusta Clarice Guimarães Teixeira
Carlota Eugênia Narciso Soares
Wanderlino Arruda
Andrea Cristina Gomes Milo Simões
Hermildo Rodrigues
Roberto Wilton Garcia
Evaldo Jener de Fátima
Maria Inês Silveira
José dos Santos Neto
Maria da Glória Caxito Mameluque
Reinine Simões de Souza
José Geraldo Soares de Souza
Leonardo Linhares Drumond Machado
Roberto Carlos M. Santiago
Gustavo Mameluque
Eliane Maria F.ernandes Ribeiro
Abigail Maria Ataíde Marques Dias
Virgínia Abreu de Paula
José Ferreira da Silva
Antônio Félix da Silva
Osmar Pereira Oliva
Maria de Lourdes Chaves
David Ferreira dos Santos
José Dirceu Veloso Nogueira
Lázaro Francisco Sena
Ivana Ferrante Rebello e Almeida
Marilúcia Rodrigues Maia
Maria Ângela Figueiredo Braga
Márcio Adriano Silva Moraes
Joaquim Fernandes Pena Soares
Ildeu Soares Caldeira Júnior
José Jarbas Oliveira Silva
Carlos Renier Azevedo
Ana Paula Maria Costa Durães
Laurindo Mekie Pereira
Fabiano Lopes de Paula
Marcionílio Martins Rocha Filho
Benjamim Ribeiro Sobrinho
Lúcio Roosevelt Guimarães Maldonado
José Roberval Pereira
Manoel Pereira Fernandes Neto
Larissa Paixão Durães
Terezinha de Souza Campos Neves
Filomena Alencar Monteiro Prates
Eduardo Gomes Pires Manoel
Aparecido Pereira Cardoso
Maria Denize de Oliveira Barros
Gilberto Aparecido Soares Medeiros
Antônio Pereira Santana
Isau Rodrigues Oliveira
Juvenal Caldeira Durães
José Afonso Gomes Cordeiro
Daniel Oliva Tupinambá de Lélis
Ricardo Fernandes Lopes
André Luís Lopes Oliveira
Zoraide Guerra David
Elzita Ladeia Teixeira
João de Jesus Malveira
José Francisco Lima de Ornelas
Teófilo Azevedo Filho
Wesley Soares Caldeira
Jaime Kenji Takei
Dário Teixeira Cotrim
Gessileia Soares Cangussu
Carlúcio Gomes Ferreira
Walisson Oliveira Santos
Oneide Ribeiro de Queiroz Torres
Mara Yanmar Narciso da Cruz
João Nunes Figueiredo
Maria Clara Lage Vieira
Alpheu Gonçalves de Quadros
Alfredo de Souza Coutinho
Antônio Augusto Teixeira
Antônio Augusto Veloso
Antônio Ferreira de Oliveira
Antônio Gonçalves Chaves
Antônio Gonçalves Figueira
Antônio Jorge
Antônio Lafetá Rebelo
Antônio Loureiro Ramos
Ary Oliveira
Antônio Teixeira de Carvalho
Ângelo Soares Neto
Arthur Jardim Castro Gomes
Ataliba Machado
Athos Braga
Armênio Veloso
Brasiliano Braz
Caio Mário Lafetá
Camilo Prates
Cândido Canela
Carlos Gomes da Mota
Carlos José Versiani
Celestino Soares da Cruz
Corby Corbiniano R. Aquino
Cyro dos Anjos
Dalva Dias de Paula
Darcy Ribeiro
Demóstenes Rockert
Dona Tiburtina
Dulce Sarmento
Edgar Martins Pereira
Enéas Mineiro de Souza
Eva Bárbara T. de Carvalho
Ezequiel Pereira
Felicidade P. Tupinambá
Francisco Barbosa Cursino
Carlos Francisco Sá
Gentil Gonzaga
Georgino Jorge de Souza
Geraldo Athayde
Geraldo Tito da Silveira
Godofredo Guedes
Heloisa V. dos Anjos Sarmento
Henrique Oliva Brasil
Herbert de Souza - Betinho
Hermenegildo Chaves
Hermes Augusto de Paula
Irmã Beata
Jair Oliveira
João Alencar Athayde
João Chaves
João Batista de Paula
João José Alves
João Luiz de Almeida
João Luiz Machado Lafetá
João Novaes Avelins
João Souto
João Vale Maurício
Soares Jorge Tadeu Guimarães
José Alves de Macedo
José Esteves Rodrigues
José Gomes Machado
José Gomes de Oliveira
José Gonçalves de Ulhôa
José Lopes de Carvalho
José Monteiro Fonseca
José Nunes Mourão
José Rodrigues Prates Júnior
José Tomaz Oliveira
Júlio César de Melo Franco
Lazinho Pimenta
Lilia Câmara
Luiz Milton Prates
Ambrósio Alves de Oliveira
Manoel Esteves
Mário Ribeiro da Silveira
Mário Versiani Veloso
Mauro de Araújo Moreira
Miguel Braga
Nathércio França
Nelson Viana
Newton Caetano D’angelis
Newton Prates
José Coelho de Araújo
Patrício Guerra
Pedro Martins de Sant’Anna
Plínio Ribeiro dos Santos
Robson Costa
Romeu Barcelos Costa
Sebastião Sobreira Carvalho
Sebastião Tupinambá
Simeão Ribeiro Pires
Teófilo Ribeiro Filho
Terezinha Vasquez
Tobias Leal Tupinambá
Urbino Vianna
Virgilio Abreu de Paula
Waldemar Versiani dos Anjos
Wan-dick Dumon

ASSOCIADOS HONORÁRIOS

Alberto Gomes Oliveira
Carlos Henrique Gonçalves Maia
Expedito Veloso Barbosa
Irany Telles de Oliveira Antunes
Itamaury Teles de Oliveira
João Carlos Rodrigues Oliveira
José Antônio Corrêa Mourão
José Catarino Rodrigues
José Emídio de Quadros
Josecé Alves dos Santos
Lorena Álvares da Silva Campos
Monalisa Álvares da Silva Campos
Noriel Cohen
Paulo Roberto Xavier da Rocha
Pedro Ribeiro Neto
Raquel Veloso de Mendonça
Valeriano Wandeick

ASSOCIADOS EMÉRITOS
Amelina Fernandes Chaves
Maria das Dores Antunes Câmara
Maria Jacy de Oliveira Ribeiro
Milene Antonieta Coutinho Maurício
Petrônio Braz
Waldir Sena Batista

ASSOCIADOS CORRESPONDENTES
Adilson Cézar
Alan José Alcântara Figueiredo
André Kohene
Antônio de Oliveira Mello
Avay Miranda
Carlos Lindemberg Spínola Castro
Célia do Nascimento Coutinho B
Clarice Maciel Souza Chaves C
Daniel Antunes Júnior E
Dêniston Fernandes Diamantino
Eustáquio Wagner G Gomes
Felicíssimo Tiago dos Santos
Fernanda de Oliveira Matos
Fernando Antônio Xavier Brandão
Helson Jorge
Honorato Ribeiro dos Santos
Ivonildo Teixeira
Jeremias Macário de Oliveira
João Martins
Jorge Ponciano
José Walter Pires
Liacélia Pires Leal
Manoel Hygino dos Santos
Maria do Carmo de Oliveira
Maria Teresa Parrela
Moisés Vieira Neto
Neide Almeida da Cruz
Paulo Roberto de Souza Lima
Pedro Oliveira
Silio Jader Noronha Brito S
Tânia Dias Freitas Santos
Terezinha Teixeira Santos
Tiago Valeriano Braga
Valdivino Marques da Silva
Virgínia de Lima Palhares
Wellington Caldeira Gomes
Yury Vieira Tupinambá de L Mendes
Zanoni Eustáquio Roque Neves
Zélia Patrocínio Oliveira Seixas
Zilda de Souza Brandão (Bim)
Sorocaba - SP
Macaúbas - BA
Caetité - BA
Pato de Minas - MG
Brasília - DF
Belo Horizonte - MG
Belo Horizonte - MG
Campo Grande - MS
Espinosa - MG
Januária - MG
Belo Horizonte - MG
Rio Pardo de Minas - MG
Caetité - BA
Belo Horizonte - MG
Caratinga - MG
Carinhanha - BA
Vila Velha - ES
Vitória da Conquista - BA
Guanambi - BA
Brasília - DF
Brumado - BA
Feira de Santana - BA
Belo Horizonte - MG
Porteirinha - MG
Hoogenbom D - Holanda
Várzea da Palma - MG
Feira de Santana - BA
São João Del Rei - MG
Várzea da Palma - MG
São Paulo - SP
Monte Azul - MG
Guanambi - BA
Jacaraci - BA
São João da Ponte - MG
Belo Horizonte - MG
Belo Horizonte - MG
Porto Alegre - RS
Belo Horizonte - MG
Aracajú - SE
Belo Horizonte - MG



EPITÁFIO
PARA UM TÚMULO DE AMIGO

‘‘ A morte vem de manso, em dia incerto e fecha os olhos dos que têm mais sono...’’
(Alphonsus de Guimaraens - ossa mea, I.)


PALAVRAS PRELIMINARES

Já tem, pois, algumas décadas que estamos comprometidos em promover o entretenimento entre os associados do IHGMC, divulgando, resgatando e preservando a história de nossa terra e de nosso povo, com o lançamento da Revista do Instituto. O respeito e a credibilidade de nossas publicações, têm superados as nossas expectativas, principalmente com a participação daqueles que bisbilhotam gavetas, arquivos e livros raros, em busca de informações em documentos antigos. Não foi por acaso que Leonardo Alvarez Rodrigues, Chico Ornelas, Hermildo Rodrigues, Glorinha Mameluque, Silvana Mameluque e outros tantos como eu, realizamos viagens ao velho mundo, com o objetivo maior de trazer novas notícias sobre as nossas origens familiares. Por isso, pode-se dizer que estamos no caminho do conhecimento, quando visitamos cidades milenares na Europa e em outras partes do mundo.

É nesse sentido que estamos finalizando a Revista do Instituto, volume XXXI, agradecendo os associados efetivos: Antônio Felix da Silva, Carlúcio Gomes Ferreira, Dário Teixeira Cotrim, Daniel Oliva Tupinambá Lélis, David Ferreira dos Santos, Glorinha Mameluque, Guilherme Martins Silva Peixoto, Gustavo Mameluque, Hermildo Rodrigues, José dos Santos Neto, José Ferreira da Silva, José Jarbas de Oliveira, José Geraldo Souza Soares, José Ponciano Neto, Landulfo Santana Prado Filho, Lázaro Francisco Sena, Mara Yanmar Narciso da Cruz, Maria Inês Silveira Carlos, Osmar Pereira Oliva, Ricardo Fernandes Lopes, Walison Oliveira Santos e Wanderlino Arruda. Do mesmo modo, os convidados Manoel Hygino dos Santos (de Belo Horizonte), Luís Carlos Bill (de Paramirim/Ba) e Vera Lúcia Santos de Souza, que gentilmente ofereceram-nos os seus escritos importantes sobre o passado de nossa história, enriquecendo com louvor as nossas publicações semestrais.

Assim, o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros vem cumprindo todos os seus objetivos propostos pelo seu Estatuto. Nesse sentido, é por demais gratificante, para todos os que participaram neste projeto. O lançamento de mais uma Revista, que é a mola mestra de nossa caminhada para o futuro, irá acontecer no dia cinco de janeiro do ano que vem. Por outro lado, nunca é muito repetir que estamos esperando a colaboração dos associados para as próximas Revistas, haja vista que o nosso trabalho nunca tem fim, uma vez que a história se renova dia a dia, pois ela é uma ciência, uma arte, uma ética e mais do que isso, uma verdadeira história de vida. Para nós, historiadores, ela é um exame de consciência.

Nota-se que o historiador português, João Ameal, no prefácio do seu livro: a História de Portugal, ele nos diz que “a história nos fez; agora, somos, nós que a fazemos”. Certamente que deveremos refletir sobre essa oportuna afirmação do historiador João Ameal que, acabará por nos dar a grande história erudita do nosso tempo, coroa de uma atividade multiforme em todos os altos domínio da cultura. Montes Claros nunca se viu fora desse processo de resgate histórico e, agora, com a criação do seu Instituto Histórico e Geográfico ela está cada vez mais presente aos acontecimentos do passado e do presente, com visão arregalada para ao futuro. Agora estamos numa estrada larga e brilhante, como se nós o víssemos surgir o sol na imensa distância e ganhar honraria nos momentos de vitórias. Um amplexo e boa leitura!


UMA REUNIÃO DIFERENTE


Valdivino Marques da Silva, José Afonso Gomes Cordeiro, Andrea Cristina Gomes Milo Simões, Walissom Oliveira Santos, Waldomiro Alves Santos, Eduardo Oliveira Ferreira, José Francisco Lima de Ornelas, Amelina Chaves, Syomara Tereza Dias Rocha, Norivaldo Alves da Silveira e Dário Teixeira Cotrim

Uma reunião festiva do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, aconteceu no Auditório Pequizeiro do 10º Batalhão de Polícia Militar de Minas Gerais, no dia 30 de junho de 2023, em uma noite típica de inverno, apesar de estarmos em pleno outono.

Essa reunião teve como objetivo, entregar os Diplomas aos novos associados (Valdivino Marques da Silva, José Afonso Gomes Cordeiro, Andrea Cristina Gomes Milo Simões, Walissom Oliveira Santos, Waldomiro Alves Santos, Eduardo Oliveira Ferreira, Syomara Tereza Dias Rocha, Norivaldo Alves da Silveira) e a associada emérita (Amelina Chaves), o lançamento da Revista número trinta do Instituto, o lançamento do livro Obituário do IHGMG, volume II, do escritor Dário Teixeira Cotrim e a entrega do Informativo do Instituto do mês de julho de 2023.

A reunião poderia ter sido como tantas outras, mas não foi. As pessoas que compareceram ao evento estavam descontraídas, alegres e comunicativas. O Mestre de Cerimônia Wanderlino Arruda, parecia que atuava pela primeira vez na vida e deu um verdadeiro show de competência e simpatia, com informações importantes sobre alguns associados, sempre com alegria e descontração. A Confreira Amelina Chaves, foi a estrela da noite, recebendo o título de associada emérita.

O Confrade Lázaro Francisco Sena, fez a apresentação do livro “Obituário do IHGMG”, volume II e discorreu de forma brilhante sobre o primeiro e segundo volume do Obituário, deixando bem claro para todos nós, que estamos de passagem nesse mundo e que os Obituários, fazem um registro precioso das personalidades que foram sócios do Instituto.

O Confrade Dário Teixeira Cotrim, um sócio sempre atuante nas atividades do Instituto, apresentou a Revista número trinta, com vinte artigos dos associados, comprovando que essa Revista é um verdadeiro
registro histórico e cultural de nossa região.

Como me referi no início, a Reunião foi diferente das demais, com a presença de mais de sessenta pessoas, que se confraternizaram alegremente. Durante o coquetel conversamos, ficamos nos conhecendo, e abraçamos os velhos amigos presentes, deixando na maioria, a impressão que os associados do Instituto, necessitam ter mais contato, se conhecer melhor como pessoas, para uma convivência
cada vez mais fraterna.


DR. PEDRO SANTOS,
MEMORÁVEL PONTENSE, CELEBRADO
PREFEITO DE MONTES CLAROS

São João da Ponte, MG, registra na sua história a marcante presença da família de Jorge Santos e Dona Julieta Pereira dos Santos, seus filhos Alcebíades de Souza Santos (Dr. Bibi), que teve a primazia de ser o primeiro Prefeito do Município, e Homero Santos, aviador que também prestou relevantes serviços ao Município no seu avião teco-teco, enquanto expressa gratidão com esta homenagem ao célebre Dr. Pedro Santos.

O que mais poderia um modesto filho de São João da Ponte escrever sobre Dr. Pedro Santos? Pouco ou quase nada teria a acrescer ao que já foi escrito e publicado em jornais, artigos, monografias, revistas e livros, entre os quais Jornal Gazeta do Norte, Jornal Mineiro em Revista, Montes Claros 160 Anos, Liberdade o outro nome de Minas, Montes Claros no Túnel do Tempo. Sua história, sua gente, volumes 2,3,4 e 5 em que Valeriano WanDEICK descortina para essa e gerações futuras a magnifica história de uma terra, sua história e sua gente, nesse contexto está inserido o ilustre e querido pontense Pedro Santos.

Igualmente, menções em Prefeitos Notáveis, Coletânea biográfica de ex-prefeitos de Montes Claros. Dr. Pedro Santos também por Walleriano WanDEICK, Crônicas, Contos, Causos e um Poema, José Luiz Rodrigues e Convidados, sobre essa expressiva personalidade, que em muito orgulha a nossa terra e aos seus filhos por sabê-lo conterrâneo que muito estimava São João da Ponte, fazia inseri-la no seu invejável currículo e em nenhuma circunstância negava a sua naturalidade, fato de primeira menção em todas as publicações sobre ele.

Em todas estas publicações as suas qualidades pessoais, exercício da medicina, trajetória política são enaltecidas pela sua personalidade de muita humildade, maior atenção às camadas populares, estar sempre ao lado do povo, por isso sempre lembrado como o Prefeito do povo.

Por outro lado suas administrações foram marcadas por obras, que contribuíram para o progresso e desenvolvimento de Montes Claros, de passagem algumas destacadas pelo Jornalista, Escritor, Historiador e Editor do Jornal Mineiro em Revista: Primeiros sinais regulares de televisão, Implantação do Distrito Industrial de Montes Claros, O Colégio Agrícola Antônio Versiani Ataíde, Dulce Sarmento, Colégio Polivalente, cessão de terreno .para a construção da Unimontes; instalada a sede do atual 10º BPM, obras do Aeroporto de Montes Claros, iniciado o serviço de transporte coletivo urbano da cidade, através do apo do Deputado Luiz de Paula Ferreira, foi inaugurada na cidade uma unidade do Exército Brasileiro “Batalhão Dionizio Cerqueira”, inaugurado o Ginásio Darcy Ribeiro, na Praça de Esportes de Montes Claros, no início de 1.971.

Ao seu crédito administrativo também figura o Corpo de Bombeiros, respeitabilíssima corporação militar, que prima por sublimes missões e principalmente salvar vidas, bem ao espírito humano do médico e político.

Esse carismático político e impar figura humana tem a sua naturalidade registrada nesta terra, filho de Jorge Santos e dona Julieta Pereira dos Santos, seu pai conforme Nelson Viana em Efemérides de Montes Claros, nasceu em 4 de agosto de 1.880, foi fazendeiro e comerciante em Montes Claros, faleceu em 15 de junho de 1.935, conquanto notoriamente sabido, de sua presença aqui nesta terra como fazendeiro, antes de se transferir para Montes Claros.

Pedro Santos cresceu e viveu com simplicidade em contraponto aos lugares, ambientes e as várias conquistas, que envaideceriam a muitos, tornou-se atleta, formou-se em medicina, no ano de 1.938, profissão que exerceu com humildade e simplicidade, sempre dispensando atenção aos menos favorecidos, com a qual ganhou reconhecimento pelos feitos prestados à cidade de Montes Claros e região e também o inseriu no contexto político montes-clarense.


Na política elegeu-se Vereador no ano de 1.947, sendo reeleito em 1.950, no ano de 1.958 se elege Vice-Prefeito de Simeão Ribeiro Pires, teve mais votos que o candidato a Prefeito, fato inédito porque votava-se separado em Prefeito e Vice, chegou ao apogeu elegendo- -se Prefeito Municipal de Montes Claros, a maior cidade do Norte de Minas e uma das maiores do Brasil, por dois mandatos, (1963/66 e 1.971/72).

Em 1.974 candidatou-se a Deputado Federal, embora não tenha sido eleito, como suplente representou o Município de São João da Ponte como majoritário, ao vencer aqui outro ícone da política nacional Deputado Francelino Pereira.

ELEIÇÕES DE 1974 EM SÃO JOÃO DA PONTE

São João da Ponte se preparava para as eleições de 15 de novembro de 1.974 quando seriam votados Senadores, Deputados Federais e Estaduais, o grupo situacionista liderado Prefeito Anízio Ferreira Queiroz e pelo Ex-Prefeito Denizar Veloso Santos manteriam apoio aos candidato Francelino Pereira como Federal e Artur Fagundes como Estadual, entretanto, no cenário desponta o jovem Antônio Dias e os acenos e tratativas são céleres, Anízio Queiroz deseja apoiar Antônio Dias e Francelino Pereira, Denizar Veloso reage e não abre mão da candidatura de Dr. Artur Fagundes, cria-se o impasse e ocorre o cisma que vai mudar os rumos da política pontense futuramente.

Naquele ano Dr. Pedro Santos se lança como candidato a Deputado Federal e de início tinha o apoio de Dona Alice Campos aqui na cidade, contexto em que Denizar Veloso Santos, sua mãe dona Lulú Veloso e seus aliados de primeira hora iniciam conversas com o médico candidato e consolidam apoio a ele, formando-se assim a dobradinho Artur Fagundes e Pedro Santos x Dias e Francelino.

Abertas as urnas o resultado em São João da Ponte é amplamente favorável aos candidatos Artur Fagundes e Dr. Pedro Santos, porém, no geral Francelino Pereira é eleito com 65.754 votos e Pedro Santos fica na suplência com 26.568, Antônio Soares Dias obteve 31.334, enquanto Artur Fagundes de Oliveira obteve 30.347 votos, em 9º e 10 lugares respectivamente são eleitos entre os 37 deputados à Assembleia Legislativa de Minas Gerais naquele pleito. (Dados coletados dos dados estatísticos 11 volumes das eleições Federais e Estaduais realizadas no Brasil em 1.974 – Biblioteca Digital da Câmara Federal).

Diante desse resultado e pelos critérios políticos adotados Dr. Pedro Santos mesmo suplente é majoritário no Município, todos os assuntos e decisões no âmbito federal relativas à São João da Ponte passariam pelo seu crivo e aprovação. Contexto dos mais interessantes, em que houveram acirradas disputas políticas, as demandas locais eram levadas pelos dois lados aos seus representantes, inclusive para transferência do Sargento que comandava a Policia Militar no município.

Mas, não tão somente estes aspectos sobressaem na sua vida, além disso e o que que se escuta, está estreitamente entrelaçado na grande figura humana de tantos feitos e bondades, no seu jeito humilde de tratar e se relacionar com as pessoas, na sua marcante personalidade franciscana, tornando-o inesquecível e sempre lembrado em fatos, feitos e histórias, casos verdadeiros registrados em fotos e escritos.

Outros causos repercutidos na oralidade popular, de muita criatividade, mas verossímeis, que passam de geração para geração, em contínua preservação da sua memória, história e cultura regional. Então daqui da sua terra teríamos a reportar algumas das muitas lembranças, ditas por pessoas do nosso tempo que tiveram a oportunidade de conhecê-lo, travar relações, privar da sua atenção e atendimento onde quer que o encontrassem, na rua, no seu consultório, no Gabinete da Prefeitura Municipal de Montes Claros.

Assim encontramos por aqui relatos interessantíssimos de um povo simples, que ele gostava, que registramos como retribuição e homenagem a ele e à sua família em especial ao seu filho Jorge Antônio
dos Santos (Toni Santos) que muito gentilmente nos recebeu em residência para colhermos outros detalhes que nos faltavam.

Impressionante as semelhanças ente pai e filho, ali na companhia do pontense Dr. José Jarbas Pimenta a conversa versou sobre ele, Dr. Pedro Santos, em nuances de boas e saudosas lembranças, não faltaram um causo ou uma faceta a causar bons risos. Desse modo, assim reportamos nosso périplo:

Jarbas Pimenta

José Jarbas Pimenta cidadão pontense de privilegiadíssima inteligência, logo cedo mudou-se para Montes Claros para continuidade dos estudos onde graduou-se em Direito, servidor público aposentado como Auditor Fiscal da Receita Federal, sempre exercitou seus direitos políticos ativos e passivos, vertente sobre o qual versa seu relato de uma passagem com Dr. Pedro Santos.

Candidato a Vereador pelo PMB de Montes Claros, do qual também era presidente, que no ano de 1.988 lançou 30 candidatos a Vereadores, enquanto Mario Ribeiro, Jairo Athayde, Pedro Santos, Luís Chaves e Marina Queiroz disputavam a cadeira de Chefe do Executivo como candidatos a Prefeito.

O PMB, não lançou candidatura própria e optou em apoiar Jairo Athayde, situação que obrigou o pontense Jarbas Pimenta a seguir a diretriz partidária, quando sua vontade seria apoiar Mário Ribeiro, pai de Ucho Ribeiro, colega de Receita Federal, seu fraterno e admirado amigo, mas política tem dessas particularidades.

Nas suas andanças político eleitorais pelas ruas de Montes Claros José Jarbas passa por uma senhora que estava adoentada e lhe pede ajuda para uma consulta, ele lembrou que estava perto do consultório de Dr. Pedro Santos na Rua Gabriel Passos, mas ele apoiava Jairo, mesmo assim levou a senhora ao consultório explicou ao Dr. Pedro, ali detalhadamente a situação ao médico e candidato Pedro Santos, que lhes atendeu prontamente.

Terminada a consulta, Doutor Pedro Santos, falou para a senhora, que votasse em José Jarbas para vereador e em Jairo Athayde para prefeito em atenção a ele, que a levou até o seu consultório.

Geraldinha do Duzinho

Sra. Geralda Cordeiro da Silva, conhecida Geraldinha do Duzinho, mãe de 11 filhos, três dezenas de netos e bisnetos, pessoa simples, humilde, de pouco estudos, mas muito corajosa e possuidora de alguns dons para as artes, tem no bordado que faz com perfeição uma fonte complementar de renda, muito religiosa é uma benzedeira muito requisitada. Ela passou por muitas dificuldades na vida, mas encontrou amparo em Dr. Pedro Santos, a quem hoje expressa toda a sua gratidão:

Conheceu Dr. Pedro Santos e sua família na cidade de Montes Claros, relembra com satisfação o caminho político do médico Pedro Santos, segundo ela Dr. Simeão Ribeiro, foi aconselhado pelos aliados a colocá-lo para seu vice-prefeito, que assim ganharia a eleição,dito e feito são eleitos, fatos que tem nítidas lembranças até do entusiasmo e vibração dos eleitores naquelas eleições, em que ele se candidatou e saiu-se vitorioso.

Geraldinha destaca que Dr. Pedro era muito bom para os pobres, assim, quando em São João da Ponte, com filhos pequenos, necessitando de um lugar para morar, procurou por ele para alugar uma pequena casinha que ele tinha em um terreno na área urbana da cidade, ele prontamente, não só arranjou a casa, como disse-lhe que não precisaria pagar aluguel, neste local ela vive até hoje com sua família.

Estabeleceu-se uma estreita relação entre eles, Dr. Pedro sempre vinha na sua humilde casa, trazia uma feira de um tudo, desde o café, até goma, pois gostava muito do biscoito de panela, naquela sua santa simplicidade ali ele comia e compartilhava bons momentos com ela e sua família, nunca deixou faltar-lhes remédios para ela e para os seus filhos.

Certo é que no falecimento de Dr. Pedro, alguns do povo disseram-lhe, agora que seu pai morreu como é que vai fazer? Alusão ao terreno em que moravam prometido por ele, mas ainda não documentado. Ela respondia-lhe, Dr. Pedro era mais que um pai!

Não houve nenhum problema, o que ele doou em vida, foi cumprido pela família através do filho Toni Santos. Por tudo isso tem dr. Pedro nas suas lembranças e gratidão que propaga todos, o mantém em suas preces e orações extensivas à família, sem se esquecer que mandou celebrar uma missa em sufrágio da sua alma na Catedral de Nossa Senhora Aparecida de Montes Claros, por ocasião do seu passamento.

Naide Gusmão

Educadora e professora aposentada, ex-presidente da Associação de Professores Pontenses, diz-nos, falar do Dr. Pedro Santos, é assunto muito abrangente, pois ele era sobrinho da sua amada vó dona Babita, a quem ele visitava constantemente, ou dava uma passadinha, para pedir-lhe a sua bênção, como era muito agradável, sempre vinha com uma saca de laranjas, mangas, ou bananas, além das frutas também não faltavam frangos, queijos e requeijões de presentes.

Admirava-o pela simplicidade de um renomado médico e grande político. Alto, magro, usava chapéu de massa, fato que a lembrava do seu meu saudoso pai. Salienta, ainda, que vez ou outra dona Babita e ela visitavam a Sra. Silvia Santos, esposa de Dr. Pedro Santos ali na Rua Belo Horizonte.

Finaliza, que para sua felicidade teve a oportunidade da proximidade e boa convivência com aquela distinta família através da sua querida madrinha Vanda Alkmin, prima do Dr. Pedro Santos filha de Bárbara Teixeira de Souza, Vó Babita e tia de Dra. Nilzinha Maurício, filha de Waldomiro Pereira de Souza primo do Dr. Pedro Santos.

João Queiróz

O saudoso João Sapateiro, senhor de grande aptidão para o trabalho em diversas atividades, versátil artista, relembrou do tempo em que morou na cidade de Montes Claros, quando em criança sofreu um acidente, que causou-lhe uma séria lesão no joelho, sem recursos para tratamento procurou e foi socorrido pelo médico Pedro Santos, que gratuitamente fez procedimentos médicos que evitou a cirurgia e o curou.

Sempre foi grato ao médico por quem tinha estima e admiração, sendo também seu eleitor de carteirinha e título eleitoral conforme seu próprio comentário em uma postagem: “Dr. Pedro Santos! Tive a oportunidade de conhecê-lo, parabéns meu amigo Carlúcio enchi meu título eleitoral, votando nele e o guardo até nos dias de hoje”. 17/06/2021 Facebook.

Hélio da Silva Pereira

Hélio de dona Loura, Ex-Gerente do BEMGE e profundo conhecedor da história pontense, também faz a seguinte menção “ Dr. Pedro tinha muito carinho para atender pacientes oriundos de São João da Ponte.

Zé da Barraquinha

Zé da Barraquinha e Dona Maria, casal de vendedores ambulantes, chamados de mascates por grande parte dos pontenses, oriundos da cidade de Montes Claros, migraram para São João da Ponte, onde mantinham uma barraca de vendas de confecções, bijuterias e coisas afins, na Av. Getúlio Vargas, na cidade ganharam freguesia e conquistaram muitas amizades. Com ele a passagem com o Dr. Pedro Santos se deu bem assim;

Numa tarde de sábado Dr. Pedro Santos, para sua Veraneio na Av. Getúlio Vargas, com seu jeito simples entra na Farmácia de um amigo seu ali localizada, cumprimenta os presentes com os tradicionais apertos de mãos, enquanto dialoga com o farmacêutico, chega seu Zé da Barraquinha, trajando calça tradicional e camisa de mangas compridas, ambas na cor clara, descontraidamente cumprimenta o médico seu conhecido, com ele trava um interessante diálogo.

_ Dr. Pedro estou com um calombinho, um carocinho aqui nas costas, fui a Montes Claros o médico me pediu R$ 1.200,00 para a cirurgia. Voltei aqui para a Ponte e o Dr. Sebastião também me pediu um valor menor, mas longe das minhas condições. Será que o senhor não pode dar uma olhadinha para mim?

Prontamente respondeu-lhe:

_ Sim meu filho! Tire a sua camisa para eu olhar.

Ali mesmo na presença dos demais, o Doutor fez uma rápida análise, passou a mão sobre o caroço e disse.

- Ah. É bem simples, vou retirá-lo agora.

Doutor Pedro vira para o farmacêutico e pergunta-lhe, se ali tem uma lâmina gilete novinha, produtos de limpeza e assepsia? Tinha todos menos a lâmina.

Dr. Pedro pede ao moço para ir comprar.

Ele faz uma cara de medo e pergunta:

- Dr. Pedro, eu acabei de almoçar agora, será que não tem problema?

A consulta

Por aqui também se ouve o causo daquela famosa consulta de uma senhora na presença do suposto marido, mas no final das contas não era, cujo desfecho provoca risadas e comentários bem-humorados, porém, numa verossímil narrativa em tons que retratam com propriedade as características de simplicidade e compreensão do Dr. Pedro Santos e de seus clientes.

O Contador pontense Valdivino Marques da Silva relembra, que no ano de 1.966 trabalhava na Companhia de Água e Esgotos de Montes Claros - CAEMC, antecessora da COPASA, que tinha como presidente o também pontense Dr. Manoel Paulino de Oliveira, quando numa roda de conversa entre os funcionários Antônio de Pádua Abreu, Geraldo Lima de Jesus, Altino Teixeira de Carvalho, José Divino Teixeira de Carvalho e Antônio Leão, ouviu do detetive aposentado Tininho, eleitor, amigo e admirador do médico e político a seguinte versão da inusitada consulta.

Por volta da década de 1.950 Dr. Pedro Santos tinha o seu consultório numa esquina da Rua Doutor Veloso, constituído de sala de espera e consultório propriamente dito, local de em que atendia sua clientela, foi nesse ambiente que a consulta se deu.

Ao que se recordava o narrador, foi num período de uma Copa do Mundo, sem ser preciso se no Brasil ou na Suíça, mas em razão do horário dos fatos e da diferença de fuso horário tudo indicava, que tenha sido o Mundial de 1.950, pois, por volta das 16:00 horas, o médico deixou o seu consultório para ouvir ir ouvir um jogo noutro local, ao sair recomendou à sua secretária, que ao término do seu expediente
ela poderia ir embora e deixar a porta da recepção aberta, pois retornaria.

Terminada a partida de futebol ele volta ao consultório, como recomendara, a secretária já tinha ido embora, mas na sala de espera um homem e mulher o aguardavam devidamente assentados, o médico na sua santa simplicidade e jeito peculiar cumprimentou a ambos e adentrou para sua sala, antes, porém chama a mulher para atendê-la, olha para o homem e diz o senhor também pode entrar.

Ali no consultório realiza o procedimental atendimento à mulher, na presença do homem que a tudo acompanhou atentamente, finalizada a consulta preencheu a receita e a entregou para o homem, mas este olha entre surpreso e espantado para Dr. Pedro Santos, como se dissesse porque o senhor está entregando para mim?

- Então Dr. Pedro perguntou:

- Ela não é sua é sua esposa?

Diante da negativa, pergunta novamente:

- Mas porque não me falou? Deveria ter me avisado!

- Bem, o senhor não me perguntou, só atendi o seu chamado.

Dr. Pedro se volta para a mulher, mas a senhora poderia ter me avisado!

Ela olha para um lado e para o outro, depois explica na maior simplicidade do mundo.

- Pensei que o senhor, chamou o moço aí para presenciar a consulta pelo avançado da hora e por encontrarmos sozinhos no consultório, para não gerar outra interpretação.

Outro causo interessante

Sobre Dr. Pedro Santos versam várias histórias, causos que ganharam o domínio popular, alguns podem ser fruto de pura imaginação, mas pela criatividade e verossimilhança, ficam impregnados a cultura Norte Mineira e o tornam lendário. Um deles que é contado por aqui, merece repercussão.

Numa noite de muita chuva, época das águas, batem à porta do médico dos pobres, ele aparece e um senhor se apresenta como morador da zona rural de Montes Claros, conta-lhe o motivo da vinda a sua procura.

Seu irmão havia sido esfaqueado e precisava de atendimento, não o trouxera pela falta de transporte adequado somados as precárias condições da estrada, mas viera em um cavalo e trouxera outro, para que o caridoso médico o acompanhasse até a localidade.

Dr. Pedro mune-se dos seus apetrechos médicos, cobre-se com uma capa e prontamente ruma para a pequena propriedade rural, quando chegam lá, o ferido estava sobre uma cama em estado crítico. Pacientemente faz uma minuciosa avaliação, sob expectativa da família
que aguardava na sala ao lado. Observa que a situação é muito delicada, homem certamente não sobreviveria, nem aguentaria uma viagem até a cidade para atendimento em Hospital.

Toma a seguinte decisão, pede a mãe rapaz para ferver uma água, colocar numa bacia esmaltada, com a água quente e seus instrumentos
realiza a assepsia do ferimento, com presteza e habilidade costura, para que o homem tivesse um final com maior dignidade e não falecesse sem um merecido atendimento.

Coloca a família a par da situação, pede fé e oração e retorna para sua casa sem nada cobrar por aquele ato de caridade. Dois anos depois, o médico está em seu consultório no atendimento rotineiro, porém é época de eleição para as qual era candidato, a fila é enorme, com o passar do tempo vai atendendo a todos, até que chega um senhor, senta-se e o cumprimenta efusivamente.

Dr. Pedro pega o estetoscópio, o aparelho de medir pressão, pede ao homem para tirar a camisa e olha espantado para a cicatriz e irregularidade do corte e dos pontos que foram dados no abdômen daquele homem.

_ Rapaz, esse médico que fez esta cirurgia, quase lhe matou!

_ Não, não Dr. Pedro, foi Deus e o senhor que me salvou! Vim aqui não foi consultar não, foi para dizer para o senhor que o meu voto nessa eleição é do senhor.

Doação de terreno para Clube na Ponte

Nos idos anos de 1.980, um grupo de pessoas decidiu criar um Clube Social em São João da Ponte, oportunidade em que foi eleito para presidente Antônio Júlio Campos, que me tinha como Secretário, a entidade privada recebeu a denominação de Clube Social Cultural e Recreativo de São João da Ponte, as primeiras iniciativas foi procurar um terreno para sediá-lo e construção de instalações adequadas as suas finalidades.

Nesse fim Júlio Campos procura Dr. Pedro Santos postulando a doação de uma área em terreno de sua propriedade, muito atencioso imediatamente sensibilizou-se com a causa, e disse-nos que da sua área de 4 alqueires, doaria 2 alqueires para o Clube, bastaria que regularizássemos a escritura do terreno adquirido em Alice Campos.

Todas as tratativas e serviços de procuratórios foram feitos, escritura lavrada, é levada a Dona Alice Campos e ao sr. João Fernandes para a respectiva assinatura, para surpresa de todos o Sr. João Fernandes do Santos, disse-nos que estava pronto para assiná-la, mas havia um impedimento, a área descrita não coincidia com área do terreno. Que providenciássemos medir o terreno e a devida retificação para a sua assinatura.

Noutro dia topógrafo foi contratado e realmente a área era menor, só dois alqueires, tão logo feita a escritura correspondente esta foi assinada, que ao ser levada ao Sr. Dr. Pedro Santos, este, ponderou, que em razão da área menor só poderia destinar ao Clube uma área de 1,00 ha. Área que atenderia suficientemente ao Clube.

A escritura para o Clube foi feita, embora, embora este tenha sofrido revezes na concretização das suas finalidades, o terreno doado por Dr. Pedro Santos está devidamente registrado no Cartório do Registro de Imóveis da Comarca em nome da entidade.

O grande ser humano

Muito gratificante mergulhar na bonita história para este registro como uma modesta homenagem de todos nós Pontenses ao ilustre conterrâneo e família, por todos os feitos e legados deixados pelo legendário médico e político, mas, sobretudo pelo grandioso ser humano, que durante vida exercitou caridade no mais sublime espírito altruísta, por onde passou deixou a marca da sua bondade, lá em Montes Claros entre suas inúmeras obras estão as Casas de Apoio Dr. Pedro Santos e Dona Maria Dora, relevante trabalho social continuado pela família.

VIAGEM DOS SONHOS À MONTES CLAROS E SUA PRAÇA DE ESPORTES

A Praça de Esportes de Montes Claros, (MCTC), importante Patrimônio Público que transcende os limites da cidade provoca lembranças de marcantes momentos e bonitas experiências, como os vividos por um grupo de pontenses há 50 anos.

Por volta de 1968 o futebol de salão chega à São João da Ponte, cidade pequena com poucos atrativos para seus jovens, adolescentes e crianças, quando Maria Aparecida Campos assume a direção do Ginásio Estadual Professora Filomena Fialho e o Prefeito Olímpio Campos fez construir uma quadra de cimento para melhor desenvolvimento das aulas de educação física naquele estabelecimento de ensino.

Sob predominância do futebol de campo, o então futebol de salão (futsal) com apenas cinco jogadores de cada lado, bola diferente em tamanho, peso e regras inimaginadas, imediatamente caiu nas graças de todos, virou mania entre os alunos da escola, enquanto crianças e jovens de toda a cidade passaram a praticá-lo com entusiasmo.

O momento mais esperado era as aulas de educação física sempre às primeiras horas da manhã, mas em todas as tardes, sábados e domingos a quadra fervilhava de jogadores e torcedores, quando equipes alternavam naquela tradicional combinação de 2 dois gols ou 10 minutos, saliente-se que as vezes havia uma briga por horários com as meninas do vôlei.

Empolgados com a rápida adesão e gosto pelas modalidades de futsal e volley a diretora Aparecida Campos e o professor de Educação Física Aroldo Sena marcam uma viagem à cidade de Montes Claros para um confronto entre os novatos daqui e os experientes atletas da Praça de Esportes.

Muita expectativa e preparativos para viagem, chega o grande dia, às 4:00 h. da manhã as equipes de volley, futebol de salão e alguns torcedores no interior do caminhão caçamba da Prefeitura Municipal rumam por cascalhadas e poeirentas estradas até cidade de Montes Claros.

Puro encantamento, quando por volta das 9:00 h. o caminhão Chevrolet adentra nas ruas da Princesinha do Norte, para na frente da Praça Esportes, num verdadeiro sonho começam a conhecer suas instalações e dependências e o palco do jogo o moderno Ginásio Darcy Ribeiro.

Quanta beleza da Praça toda cercada por telas e cerca vivas, contornada por largas e movimentadas avenidas de onde até os sons das descargas de dos veículos eram observados, no seu interior o campo de futebol com um gramado verde muito bem cuidado, quadras secundárias, clube e sede, encantadoras piscinas de águas cristalinas a transparecer o seu fundo em um azul celeste e trampolins de onde jovens davam saltos magistrais, por todos os lugares crianças alegres, jovens e adultos tão descontraídos, gente bonita a desfrutar das maravilhas daquele paraíso.

Muitos pontenses residentes naquela cidade como Til do Gentil Gomes, Eustáquio e Netinha Campos, Waldimar Gomes foram lá,recepcionar e prestigiar os pontenses, para a alegria de muitos Artur do Xixo também se encontrava por ali com o seu carrinho de picolés da Sorveteria Sibéria, logo foi rodeado pelos conterrâneos com de pedidos nos diversos sabores oferecidos, naquele dia vendeu Artur bateu o seu recorde de vendas dois carrinhos de picolés.

Os jogos começam no ginásio de quadra de tacos de brilho amarronzado, em que tênis ou kédis com travas tipo kichute não eram permitidos. No volley uma inesquecível derrota pelo placar de 2 sets a 0, a equipe pontense formada por Iris, Socorrinha, Izilda, Bety, Zair Maia e Edite não teve o sabor de pontuar.

Já a partida de futsal para surpresa de todos foi empolgante, o time da Ponte entrou em quadra com Jordan, Toninho Muniz, Valdir da Terezinha, Carlito e Zezinho do Juquinha para enfrentar a fortíssima equipe da Praça que tinha entre os escalados o bom jogador Zezinho da Jega e o craque Dimas Figueiredo, sobre os quais Til orientou cuidados especiais e forte marcação.

Jogão os meninos da Ponte não se intimidaram, bola lá e cá, mas o time da Praça abre o placar calando a pequena e entusiasmada torcida pontense. Jogo corre solto Dimas Figueiredo fazia jogadas espetaculares, que paravam no paredão Jordan, que ganhara a posição minutos antes do jogo, porque o titular Gera da Merinda ferira o joelho nas britas ao lado do Ginásio, enquanto aguardava o jogo.

Zezinho da Jega que tentava tomar conta do jogo, sofre entrada duríssima do xará Zezinho do Juquinha, sai da quadra com suspeita de fratura, nesse momento vem da arquibancada o importante apoio, Netinha e outros torcedores incentivavam o time, Eustáquio ex-goleiro do Ateneu, percebendo falhas no goleiro adversário, passou a orientar o time para chutar de longe que ele aceitaria, não deu outra, do meio da quadra Carlito dá um chute forte e é gol, goooooool para o time da Ponte.

Muita vibração o empate que era um excelente resultado. No gol “fornalha” como era chamado Jordan, fechou o gol, tomou conta da sua área e com defesas espetaculares, motivadas pelo apoio do pai Sr. Antônio Abreu que não contentou em incentivar das arquibancadas, com sua elegante calça branca de linho, camisa manga comprida também na cor branca, seu inseparável chapéu, subiu naquela divisória de canos e aos gritos de: “Pega Jorda”, “Segura Jorda”, “Boa”, “Boa”…. Marcação cerrada e o time da Praça não conseguiu mudar o placar do jogo. Empate com s

Ainda deslumbrados se despedem-se da praça já com saudades dos emocionantes momentos passados ali, contar tintim por tintim tudo que aconteceu no restante do dia alongaria em muito a narrativa, mas também não poderia faltar algumas passagens que marcaram a memória de todos.

E lá vão eles para o almoço na casa de Aparecida Campos, na Rua Coração de Jesus com Praça Capitão Enéas, passam pela Praça Dr. Carlos, Rua Dr. Santos, Praça Cel. Ribeiro, Rua João Souto e General Carneiro todas calçadas de bloquetes ou paralelepípedos, muito limpas, comércio fervilhante de pessoas alegres, bem-humoradas, despreocupadas seguindo e ditando moda, fluxo intenso de veículos, fachadas comerciais com vistosas placas, muros com letreiros de propagandas, coisas jamais vistas por alguns acanhados pontenses em terras montes-clarinas. Encantados com tudo que viam, vão descortinando caminhos e registrando imagens de concessionárias de veículos, muitos prédios, sobrados, bonitas casas residenciais, lojas e vitrines, mil e um produtos de roupas a brinquedos, farmácias, padarias,
cinemas, cartazes nas esquinas anunciam filmes com artistas famosos, jornaleiros e carrinhos de picolés, hotéis e pensões, restaurantes, churrascarias, bancas de revistas, praças muito bem cuidadas com plantas em verdes gramados onde uma plaquinha pedia educadamente,
favor não pisar na grama. Tudo isso era conhecido de alguns, mas novidade para muitos outros.

Ainda faltava a cereja do bolo, após o almoço em grupos e acompanhados pelo professor Aroldo, dirigem-se ao próximo destino “Cine São Luiz”, ambiente luxuoso de confortáveis poltronas, tela gigante, som impecável com direito a prefixo e lindas músicas, dinâmico
canal 100 com notícia, entretenimento e lances espetaculares de jogos de futebol e trailers que antecederam ao filme “Essa gatinha é minha” com Jerry Adriano e Pery Ribeiro, que assim indica a Sinopse “(...) a vida atribulada de dois ídolos da jovem guarda em meio ao agradável ritmo do iê-iê-iê contagiante." (ALSN/DFB-LM).

Claro que aqueles já ambientados na cidade cuidaram de apresentar a alguns outros a Catedral, Praça da Matriz, Rodoviária e Estação com seus trens de ferro, mas um que se arriscou em sair sozinho, se perdeu e foi encontrado aos prantos na porta do Cine Cel. Ribeiro.

Nessas idas e vindas, aqui, acolá percebia-se os olhares de estranhamento, vez por outra ouvia-se um gracejo, uma pilhéria, do meio do povo uma ou outra voz se destacava em tom de galhofa “a cadeia furou”, “onde vai ser a festa”, coisa de somenos para as prazerosas descobertas por aquela turma de meninos e meninas na cidade de Montes Claros.

Tardezinha e início de noite todos de volta para casa naquela caçamba Chevrolet, contentes não se sentiam cansados nem percebiam a poeira, ventos e frio durante a viagem marcada pelas brincadeiras sobre as gafes (os foras), comentários sobre a cidade, a praça e os jogos entre as tradicionais cantorias de músicas da época.

Lá pelas 10:00 h. da noite a chegada em São João da Ponte, correm direto para a cama para um sono reparador e de bons sonhos sobre aquela viagem de muitas emoções, no dia seguinte narram aos pais, vizinhos e colegas tudinho que vivenciaram.


ZÉ LU: O FORROZEIRO

Quando recebi o jornal de Notícias desta quarta-feira, pela manhã, uma publicação deixou-me sem chão, dizia assim: “Norte de Minas perde o sanfoneiro Zé Lu”. Havia uma tristeza que sorrateiramente invadia-me o coração e a alma. Era que Zé Lu, no tempo em que trabalhávamos como diretor da Biblioteca Pública do Centro Cultural, na companhia do saudoso Ildeu Braúna, o amigo José Luiz Pereira da Silva alegrava todos os eventos culturais daquela época. Em razão disso, ficamos muitos amigos, até porque a magia do seu acordeon lembrava-nos o nosso Zé do Campo (Geraldo Rodrigues Antunes) que era primo em primeiro grau de minha Júlia). Zé Lu Forrozeiro sabia o caminho da música nordestina, sabia produzir o som do baião-original de Luiz Gonzaga nas festas juninas e, em vista disso, não se pode olvidá-lo em tempo algum.

E o tempo passou... Há muito que eu não via o nosso Zé Lu Forrozeiro. Hoje, tristemente, com a sua partida inesperada para a eternidade, ele deixa órfão a música-raiz de nossa terra. Enquanto isso, ao lado de Ildeu Braúna, Zé do Jeep, Zé do Campo e tantos ou...

tros que passaram para o lado de cima, ele está em continua festa celestial misturado com os amigos de Luiz Gonzaga. Aqui, continuamos nós todos saudosos e tristes sem o som magistral de sua mágica sanfona em noites enluaradas. Os companheiros Nilo Rocha (Marcionílio Martins Rocha Filho) e o mestre Téo Azevedo (Teófilo Azevedo Filho), dois ícones da música nordestina brasileira e, também, associados do egrégio Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, fazem a justa homenagem ao forrozeiro Zé Lu, tocador de sanfona do distrito de Aparecida do Mundo Novo, na hinterlândia do município de nossa cidade. O nosso associado Nilo Rocha declarou para o jornal de Notícias que “Zé Lu foi um grande artista, um ser humano espetacular e um dos maiores instrumentistas. Foi uma grande referência para mim e para todos os sanfoneiros de Montes Claros e região”.

Lembro-me ainda, que certa vez eu lhe mostrei uma sanfoninha antiga da Hering, de outo baixos, que ele ficou tão entusiasmado que eu fui obrigado a lhe vender. Sempre que nós nos encontrávamos, a sanfoninha era motivo de conversa e gargalhada, haja vista o seu cuidado em conservá-la como apetrecho prazenteiro na sala de sua casa. A relação de amizade, no trabalho ou fora dele, fazia de Zé Lu Forrozeiro uma pessoa simples, educado, sorridente e otimista. Na verdade, ele era sinônimo de alegria, nunca havia tristeza quando aparecia para uma apresentação musical. Era o forró-baião contagiante
na vida das pessoas.

No final de cada apresentação, Zé Lu Forrozeiro sempre despedia do público dizendo: “Esse é o meu jeito de levar alegria até vocês, através do ritmo diferente que a gente faz para vocês. Espero que vocês gostem, um grande abraço a todos que curtem o meu trabalho e muito obrigado pelo carinho”. Abanava o chapéu de couro para o seu público, contumaz, com um sorriso de felicidade nos lábios, prometendo, reiteradamente, retornar numa outra oportunidade. Zé Lu Forrozeiro, obrigado pela sua alegria constante dos tempos pretéritos, pois agora a sua nostálgica sanfona chora, e chora muito numa nota musical de despedida, com o doce carinho sempre dedicado, por você amigo leal, aos montes-clarenses. Adeus! Zé Lu, descanse em paz!


“TUTTI BUONA GENTE”
ITALIANADA EM CONTENDAS E MONTES CLAROS

Sem entrar no mérito das razões, é sabido que um dos maiores fluxos migratórios ocorridos no Brasil foi o de italianos no século XIX. A partir de 1870, surgem as primeiras colônias de italianos no sul do país, embora o sudeste (São Paulo) tenha sido a região que mais recebeu italianos no Brasil. Posteriormente, se expandiram por Minas Gerais, Espírito Santo e Rio de Janeiro.Assim aconteceu com os irmãos Anna Maria e Vincenzo Scognamiglio que, na segunda metade do século XIX, deixaram a pequena Villamare, na comuna de Vibonatti¹, na província de Salerno, região da Campânia, e rumaram ao Brasil, em busca de uma nova vida. Ao que tudo indica, não desembarcaram no porto de Santos e sim em Salvador. E o mais curioso... foram residir em Lençóis do Rio Verde, atual Espinosa. A razão mais provável da escolha dessa localidade para fixar residência, quando o

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1. Vibonati, uma antiga vila medieval ainda intacta em sua estrutura característica, fica entre os dois vales esplêndidos da Fontana e Anafora. Suas colinas inclinadas para o mar oferecem ao visitante um espectáculo único, para o mar do Golfo de Policastro, teatro de remotas rotas marítimas e encruzilhadas de antigas passagens terrestres.
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natural seria o sul do país ou São Paulo, foi, muito provavelmente, a influência do Padre Caetano de Ângelis² que tinha se fixado no Sertão do Rio Pardo, depois de residir um tempo no interior da Bahia. O padre Caetano era avô do Cônego Newton de D’Ângelis, este patrono da Cadeira nº 83 do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros (IHGMC), à qual ocupo com muita honra. Os irmãos Anna Maria e Vincenzo Scognamiglio eram filhos de Biage Scognamiglio e Maria Felicia Magaldi.

Os irmãos eram casados: Anna Maria Scognamiglio com Antônio Parrela e Vincenzo Scognamiglio com Fortunata Cabuzia. Embora não se possa precisar a chegada deles ao Brasil, é certo que foram os primeiros italianos a residir em Espinosa.

A chegada de Vincenzo Scognamiglio com a esposa e seu cunhado, Antônio Parrela (Anna Maria viria depois) em Lençóis do Rio Verde, é calculada por volta de 1863 a 1870.

Vincenzo Scognamiglio e Fortunata Cabuzia eram pais de Maria Felicia Scognamiglio³, Antonnia Scognamiglio e de Brás Scognamiglio.

Antônio Parrela e Anna Maria Scognamiglio eram pais de Vincenzo Parrela e Brás Parrela. Pai e filho mais velho vieram sem Anna Maria, que chegou ao Brasil posteriormente. Nesse ínterim, Antônio Parrela se amasiou com Teodora Nunes de Siqueira e tiveram os filhos João Chrisóstomo Parrela e Antônio Parrela Júnior (Totônio).

Por volta de 1877, Vincenzo Scognamiglio e família, juntamente com sua irmã Anna Maria Scognamiglio e família, se transferiram

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2. O Padre Caetano de Ângelis foi o 14º vigário de Rio Pardo. Teve com Maria Francisca da Assunção quatro filhos: José, Maria, Pedro e Aristides D’Ângelis, que é pai do Cônego Newton Caetano D’Ângelis.
3. Batizada em Lençóis do Rio Verde em 1873, pelo padre Antônio Joaquim da Silva Itaparica.
4. Era pai de Maria Laurita Parrela, que foi cunhada de Henrique de Oliva Brasil
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de Lençóis do Rio Verde para Contendas (atual Brasília de Minas), por razões até hoje desconhecidas. Curioso ressaltar que justamente nesse ano, chega em Espinosa Matteo Salviolo, avô materno do xará, primo, amigo querido e primoroso escritor, Daniel Antunes Júnior. Embora os “Scognamiglio” tenham sido os primeiros italianos a residir em Lençóis do Rio Verde, os “Salviolo” foram os primeiros italianos a fixar raízes e deixar descendência naquela terra.Em Contendas, Vincenzo Scognamiglio passou a ser chamado de Vicente Italiano. Seu sobrinho Vincenzo Parrela passou a ser chamado de Vicente Parrela Brasileiro. A união das famílias era tão grande que Vicente Parrela Brasileiro se casou com sua prima “carnal”, Maria Felícia Scognamiglio, filha de Vincenzo Scognamiglio (Vicente Italiano) e Fortunata Cabuzia.

Tiveram vários filhos:
1) Maria Augusta (Marocas), casada com Antônio Augusto Corrêia Machado.
2) Maria Amélia (Maroquinhas), casada com o dentista Crispim Felicíssimo ;
3) José Antônio Parrela, casado com Herotildes Salviolo ;
4) José Álvaro Parrela, casado com Joanita da Palma;
5) Maria Amália (Maricas), casou-se com o viúvo de sua irmã Maroquinhas.

A exemplo de seu pai, Vicente Parrela Brasileiro constituiu uma segunda família, com a bela Cassiana, com quem teve os seguintes filhos: Joaquim Parrela, Eloína Parrela e Geraldo Parrela. Como homem público, Vicente Parrela Brasileiro ocupou diversos cargos importantes em Contendas, chegando a Presidente da Câmara e Agente Executivo Municipal (Prefeito).

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5. Crispim Felicíssimo posteriormente se mudou para Montes Claros, onde veio a ser Presidente da Câmara e Adjunto de Promotor.
6. Neta de Matteo Salviolo. Os pais de Herotildes foram Veridiel Rodrigues Lima (de Contendas) e Filomena Miglio Salviolo (Minucha).
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A outra filha de Vincenzo Scognamiglio (Vicente Italiano), Antonnia Scognamiglio, se casou em Contendas com o Cel. Theófilo Lopes de Silqueira , natural de Capelinha/MG, filho de Sizenando Lopes de Silqueira e Maria Angélica da Silva. Da união advieram vários filhos:

1) Ramiro Lopes de Silqueira, casado com Odília Afonso Rodrigues.
2) Alfredo Lopes de Silqueira, casado com Júlia Veloso.
3) Maria Angélica Lopes de Silqueira (Lilía), casada com Ramiro José Rodrigues;
4) Eliza Lopes de Silqueira (Lizoca);
5) Fortunata Lopes de Silqueira (Natinha);
6) Genesco Lopes de Silqueira;
7) José Milo Silqueira (Juca Milo), casado com Elza Geralda Veloso.

E, aqui, fica evidenciado o jeito italiano de ser da “famiglia”, pois todos gostavam de dançar, cantar, conversar e fazer festas. Era a família que animava as festas e as serenatas de Contendas. Anntonia Scognamiglio (Dona Tônia, minha trisavó) cantava modinha e tocava violão. Seus filhos, igualmente, tinham pendores musicais. Ramiro tocava diversos instrumentos e foi regente e um dos fundadores das duas bandas da cidade. Alfredo tocava clarinete muito bem. Genesco e Juca fizeram parte das bandas de música. Lilía (minha bisavó), Natinha e Lizoca cantavam e tocavam violão, sendo a alegria nas reuniões festivas da cidade.Sobre Vincenzo Scognamiglio, conhecido em Contendas como Vicente Italiano, há uma passagem no livro UM CASO ANTES DE NOVENTA, de Antônio Augusto Teixeira (Niquinho Teixeira).

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7. Fez parte da 1ª Câmara de Vereadores de Contendas, como vereador especial, quando da emancipação do município em 1894.
8. Juca Milo foi pai de Cibele Veloso Milo, servidora da UNIMONTES, e Ricardo Veloso Milo, médico, ambos em Montes Claros, dentre outros filhos.
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“Em 1884, mais ou menos, deu-se um fato digno de nota para a família Teixeira. Naquela época, os fazendeiros, pais dos alunos ou mesmo, outros, mandavam muitos presentes ao professor e sua mulher. Os presentes desse tempo eram coisas de utilidade imediata: capados, quarto de boi, vaca parida.

Ainda me lembro de um presente com penosa recordação. Na rua de baixo em Contendas, nós morávamos em uma casa em terreno elevado; em frente, do lado de baixo, a rua alargava, formando uma pracinha, que a nossa casa dominava. Do outro lado, em uma casa grande, residia Seu Vicente Italiano, homem rico, de grandes negócios: tropa, fazenda, etc. Aconteceu que Seu Vicente adquiriu grande cavalhada, um lote de mais de cem animais novos, para serem vendidos nas matas de Catriongongo, hoje Pedra Azul. E os animais, na passagem, ficaram reunidos na pracinha em frente às nossas duas casas. O rico italiano aproximou-se da nossa casa, onde toda gente tinha vindo para as janelas a fim de ver os animais irrequietos ali estacionados e disse para minha mãe: _ Comadre

Geralcina, escolhe aí um cavalo para seu cilhão. Minha mãe reparou bem a tropa e da janela onde estava apontou: _ Aquele ali, compadre, baio, das crinas pretas. Seu Vicente deu ordem a seu escravo Vitorino para pegar o cavalo escolhido. Meu irmão, José Augusto, e eu ficamos brincando para segurar o cabresto do cavalo. Venceu José Augusto e para garantir amarrou o cabresto do cavalo na cintura e assentou-se na porta de batente alto. Não sei onde encontrei um comprido prego, ponta de Paris e vim de lá e enfiei no nariz do cavalo. Ah! O animal partiu arrastando meu irmão por ali abaixo, no meio da tropa. Houve um momento de pânico, gritos. Quando ele veio de lá nos braços de uma pessoa estava todo ensanguentado. Isto me serviu de lição para a vida toda.”

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9. TEIXEIRA, Antônio Augusto. Um caso antes de noventa. O Lutador, 1975. Belo orizonte/MG
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Assim sendo, estavam os Scognamiglio bem estabelecidos em Contendas, onde deixaram vasta descendência.

Anna Maria Scognamiglio e Antônio Parrela posteriormente se transferiram para Montes Claros, onde passaram os seus últimos dias de vida.

Vincenzo Scognamiglio e Fortunata Cabuzia, meus tetravós, permaneceram em Contendas, onde morreram e foram sepultados. Ela em 1911, e ele tempos depois. Foram os primeiros italianos a residir, morrer e deixar descendentes em Contendas.

Hoje, em Brasília de Minas, entre as diversas grandes famílias existentes na cidade, há os Silqueiras e os Parrelas, e muitos nem sabem que ambas provém dos Scognamiglio, que junto a outros tantos migrantes, deixaram a Europa e cruzaram os mares para fazer a América!
ARRIVEDERCI!


MONTES CLAROS: A OUTRA FACE

O livro, Montes Claros: A outra Face, tem como finalidade mostrar os fatos acontecidos na sociedade da cidade nos últimos anos. A pesquisa feita procurou abordar a figura do ser humano que vive as margens da sociedade, para tanto a pesquisa procurou saber sobre a sua vida social, sua educação, assistência social em todos os aspectos, formação e cidadania. A outra Face mostrará: Pessoas em Situação de Rua, Malabares de sinal, Catadores de Recicláveis, Garis, Idosos, Agressão contra a Mulher, Pessoas em Vulnerabilidade, Acessibilidade, Pessoas com deficiências, Os Cabarés, Motéis, Casa de Shows e Rede Sociais, Carroceiros, Animais abandonados, os Hippies, os vendedores ambulantes, alcoólatras anônimos, Clínicas e Casas de recuperação, As favelas de Montes Claros e os Encarcerados. Para tanto a narrativa inicia na Prefeitura, através da Secretaria de Assistência Social, o que ela contribui para este público, através da Casa da Cidadania, CRAS, CREAS, ajustado no que prevê o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania.

O Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania: É responsável pela articulação interministerial e intersetorial das políticas de promoção e proteção dos Direitos Humanos no Brasil. Os direitos humanos visam garantir a dignidade e a integridade da pessoa, especialmente frente ao Estado e suas estruturas de poder, e a cidadania assegura o equilíbrio entre os direitos e deveres do indivíduo em relação à sociedade e da sociedade em relação ao indivíduo.

O livro de “Montes Claros a outra face”, tem como finalidade de abordar os seguintes assuntos: Pessoas em Situação de Rua nas suas diversas nuances, Malabares de sinal de trânsito, os catadores de recicláveis, fins de garantir o acesso aos direitos das populações vulneráveis, através das políticas públicas.

A atuação dos garis na limpeza urbana de Montes Claros; o cuidado com os Idosos na saúde através do CRESI e Conselho do Idoso e suas Famílias, Unidades de Acolhimento: Casa Lar, Abrigo Institucional, República, Residência Inclusiva, Casa de Passagem e Família Acolhedora, internação e recolhimento nos asilos masculino e feminino, com parceria com o governo.

A vulnerabilidade da mulher por sofrer violência: psicológica, física, patrimonial, sexual e moral; vulnerabilidade da criança e dos adolescentes, junto ao conselho antidrogas COMAD; Acessibilidade dos cadeirantes, pessoas com deficiência; idosos, o que diz o Plano diretor da cidade de Montes Claros sobre a acessibilidade desse público e sobre os serviços prestados pela CEMIG quanto a distribuição e colocação de poste na via pública e COPASA sobre os córregos e esgotos ao céu aberto.

A vida noturna da baixa meretriz, do homossexual, travesti, do profissional do sexo, quais os tipos de violência sofridas; os cabarés, motéis, casas de show e rede sociais no contexto da cidade; a comunidade LGBTQIA+ e suas associações; os carroceiros e as suas condições de trabalho e o trato com o animais; como vivem os Hippies na cidade de Montes Claros; como é a vida dos vendedores ambulantes
no centro e na periferia da cidade; os alcoólatras anônimos (A.A), como se tratam, aonde se reúnem e como participar de suas reuniões; a população carcerária nos presídios Alvorada e Jaraguá, como se dá a visita dos detentos e a sua recuperação na APAC; o papel da 11ª RISP, do 10º e 50º Batalhão de Polícia de Montes Claros; Guarda Municipal, os agentes e fiscais da prefeitura; como funciona o consultório nas ruas; o SAMU; como é abordagem dessa população nos hospital da cidade: Santa Casa, Haroldo Tourinho, São Lucas e Hospital Universitário; o apoio das entidades civis e religiosas, a pessoas em situação de rua, as casas de apoio, as clinicas de recuperação, as comunidades terapêutica e as associações de Montes Claros; os serviços de ajuda a população feita pelos anônimos e os grupos independentes e individuais. Observando os serviços que a prefeitura da cidade oferece a essa população, e os órgãos não governamentais (ONGS), entidades civis e eclesiásticas como Rotary, maçonaria, associações e projetos como Isac, Campelo, Vovó Clarice, Leão de Judá, igrejas evangélicas, católicas e espiritas.

A participação da prefeitura através da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social de Montes Claros (SMDS), Sistema Único da Assistência Social (SUAS), cujos serviços abarcam crianças, adolescentes, adultos e idosos em situação de rua. As unidades da Assistência Social são: Centro de Referência de Assistência Social (CRAS),

Centro de Referência Especializado de Assistência Social (CREAS), Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro POP), Centro-Dia de Referência para Pessoa com Deficiência, além desses órgãos há atuação do Sistema Único de Saúde (SUS), Casa da Cidadania e seus Conselhos Municipais, Estratégia da saúde e Família (ESF) e as Associações de Bairros. O grande gargalo em relação as pessoas em situação de rua são: Necessidade de Levantamento da quantidade de pessoas em situação de rua, moradia, Casa pós alta com médico, 90% dessa população são usuários de drogas. Direitos da população de rua, Grupos, e andam sozinho, em acolhimento, Presídio, Pastoral de rua, falha no poder Público que não trabalham com essas pessoas nos feriados e finais de semana. Diretores de hospitais para internação, Ouvidoria e assistência social.


ISABELA CORBY:
UMA TARDE DE CULTURA

O Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros viveu uma tarde de cultura e aprendizado, como talvez nunca tenha vivido. Isabela Corby, advogada, mestra e doutora, pesquisadora dos fatos da Inquisição e da História do Direito em Minas, no Século XVIII, discorreu de forma brilhante e inteligente sobre o tema proposto, deixando a todos encantados com sua fluência e domínio sobre o tema.

O que muito me encantou em Isabela, além dos seus profundos conhecimentos, frutos de muitos anos de pesquisa, foi a forma como dividiu o tempo em duas etapas.

Na primeira prestou uma homenagem a seu avô Corbiniano Aquino, patrono de sua cadeira, não só como homem das letras, advogado militante, professor, escritor e poeta, industrial e comerciante, mas como seu bisavô, a quem tratou carinhosamente como “bisa”, relatando fatos ligados a ela e à sua família.

Encantou-me sobremaneira, porque nos tempos em que estamos vivendo, a afetividade que une em laços as famílias, estão sendo deixada de lado. Ela demonstrou na sua fala, apesar de grande cultura jurídica e literária, o amor e carinho que nutre ao seu famoso e importante bisavô, Corbiniano Aquino.

Na segunda parte, deixou a todos extasiados, pela maneira que apresentou de forma resumida, mas perfeita, o tema de suas pesquisas,
com desenvoltura e brilhantismo. O Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros se torna mais rico com a diplomação de sua nova sócia, Dra. Isabela Corby.

Tive o privilégio de conhecer, não só o seu bisavô, mas também ooutro avô, Dr. Caio Marcio de Amorim Pena, advogado brilhante e grande intelectual. Portanto, ficou bem claro o adágio popular: “Filho de peixe, peixinho é”, e por extensão: “Bisneta e neta de peixe, peixinho é.” De parabéns a Dra. Isabela Corby e mais ainda o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, por ter proporcionado aos seus membros, uma tarde de cultura e conhecimento.


DARCY RIBEIRO: UM MINEIRO DE
MONTES CLAROS PARA O MUNDO

A história da Antropologia brasileira é marcada por figuras proeminentes que contribuíram significativamente para a compreensão da diversidade cultural e social do país. Dito isso, destaca-se Darcy Ribeiro, um dos mais notáveis antropólogos e intelectuais brasileiros do século XX. Nascido em Montes Claros, Minas Gerais, em 26 de outubro de 1922, sendo filho do Farmacêutico Reginaldo Ribeiro dos Santos e da Educadora Josefina Silveira Ribeiro (Mestra Fininha). Cursou os estudos fundamentais e secundário no Grupo Escolar Gonçalves Chaves e no Ginásio Episcopal de Montes Claros.

Em Belo Horizonte cursando medicina, porém, ao cursar disciplinas sociais, optou por essa área. Formou-se em 1946, em Ciências Sociais, pela Escola de Sociologia e Política de São Paulo, dedicando seus primeiros anos de recém formado aos estudos dos índios do Pantanal, do Brasil Central e da Amazônia (1946 – 1956). Sua trajetória de vida e obra transcenderam fronteiras geográficas e acadêmicas, deixando um legado inestimável para a Antropologia e para a compreensão da complexidade da identidade brasileira (Porfírio, 2018).

Investigar a vida e obra de Darcy Ribeiro, destacando sua relevância para a Antropologia brasileira e internacional, e compreender a influência de suas origens em Montes Claros na construção de sua identidade intelectual e trajetória acadêmica.

Contribuições de Darcy Ribeiro para a Antropologia Brasileira

Darcy Ribeiro, reconhecido como um dos mais proeminentes antropólogos brasileiros do século XX, deixou um legado intelectual significativo para o campo da Antropologia no país. Suas obras e teorias
abordaram questões fundamentais sobre a diversidade cultural brasileira e influenciaram o desenvolvimento do conhecimento antropológico (BRITO, 2017).

Ele produziu uma vasta obra que abrangeu diversos temas, desde a questão indígena até a formação étnica e cultural do Brasil. Dentre suas principais obras, destacam-se “O Povo Brasileiro” e “Os Índios e a Civilização”, nas quais ele explorou a complexa formação étnica e cultural do povo brasileiro e as interações entre sociedades indígenas e o contexto civilizatório ocidental. Nessas obras, Ribeiro propôs uma análise profunda da identidade brasileira, considerando a pluralidade étnica, cultural e regional do país (RIBEIRO, 2022).

Darcy Ribeiro, também desenvolveu uma abordagem antropológica holística, que de acordo com Frias (2019), busca compreender as dinâmicas socioculturais em sua totalidade. Ele utilizou uma perspectiva
multidisciplinar, incorporando conhecimentos da Antropologia, Sociologia, Psicologia e outras áreas das ciências sociais em suas análises. Suas pesquisas etnográficas foram fundamentais para descrever e interpretar a diversidade cultural brasileira, resultando
em um enfoque pluralista e não determinista em suas análises.

Além disso, Ribeiro valorizou a participação e a escuta ativa das comunidades estudadas, priorizando a construção de relações de onfiança e respeito mútuo. Essa postura metodológica permitiu uma maior compreensão das realidades socioculturais das populações pesquisadas, evitando interpretações simplistas.

As contribuições dele foram de extrema relevância para a Antropologia brasileira, proporcionando um olhar mais profundo e abrangente sobre a complexidade da identidade nacional. Suas pesquisas e teorias ajudaram a romper com visões homogeneizadoras do Brasil e a evidenciar a riqueza cultural presente em suas múltiplas expressões (BRITO, 2017).

O enfoque holístico e pluralista de Ribeiro influenciou toda uma geração de antropólogos brasileiros, inspirando-os a adotar uma abordagem mais sensível e contextualizada em suas próprias pesquisas. Além disso, suas obras contribuíram para o reconhecimento da diversidade cultural como um elemento fundamental na construção da identidade nacional e na defesa dos direitos das populações indígenas e tradicionais.

Darcy Ribeiro deixou um legado duradouro para a Antropologia brasileira, incentivando a busca contínua pela compreensão das múltiplas vozes e culturas que compõem o Brasil. Sua trajetória intelectual e suas contribuições teóricas reafirmam a importância da Antropologia como uma disciplina essencial para a compreensão e valorização da diversidade humana em sua totalidade (FELDMAN-BIANCO, 2013).

Darcy Ribeiro e a Identidade Cutural Brasileira

Sua trajetória foi marcada por uma profunda preocupação com a diversidade e riqueza cultural da nação, além de sua inabalável crença no potencial transformador da educação (FERREIRA; CARVALHO, 2016).

Uma das contribuições mais notável de Darcy Ribeiro foi seu trabalho como antropólogo, pesquisando e documentando diferentes culturas indígenas brasileiras. Ao conviver com várias etnias e tribo, Darcy desenvolveu um profundo respeito pela sabedoria desses povos, percebendo que a verdadeira identidade do Brasil está enraizada em suas raízes ancestrais. Essa consciência levou-o a defender os direitos dos povos indígenas, tornando-se um dos principais defensores de suas causas e lutas (COELHO, 1998).

Além disso, Darcy Ribeiro teve um papel fundamental na construção da Universidade De Brasília (UNB), onde atuou como reitor em dois períodos distintos, foi ministro da Educação e ministro-chefe da Casa Civil. Seu projeto educacional inovador buscava não apenas formar profissionais capacitados, mas também indivíduos conscientes de sua responsabilidade social e comprometidos com o desenvolvimento do Brasil.

Para ele, a educação era o caminho para a construção de uma identidade cultural sólida e para o desenvolvimento integral do país (HEYMANN,2012).

Outra contribuição de Dary foi sua participação na criação do Museu do Índio, no Rio de Janeiro, em 1953. Esse espaço foi concebido como um lugar de respeito e preservação das culturas indígenas, reconhecendo a importância desses povos na formação da sociedade brasileira. O museu se tornou um marco importante na luta pela valorização e proteção das tradições culturais dos indígenas, um símbolo da diversidade que compõe a identidade brasileira (FERREIRA; CARVALHO, 2016).

Ao longo da sua vida, Darcy Ribeiro escreveu diversas obras literárias que se tornaram referência no estudo da identidade cultural do Brasil, entre elas destacam-se: Culturas e línguas indígenas do Brasil, 1957; Arte plumária dos índios Kaapo, 1957; O processo civilizatório – etapas da evolução sociocultural, 1968; As Américas e a civilização – processo de formação e causas do desenvolvimento cultural desigual dos povos americanos, 1970; Os brasileiros – teoria do Brasil, 1972; O dilema da América Latina – estruturas do poder das forças insurgentes, 1978; os romances Maíra, 1976; O mulo, 1981; Utopia selvagem, 1982; Migo,1988; O Povo Brasileiro, 1995, em que aborda a formação histórica, étnica e cultural do povo brasileiro, com impressões baseadas na sua vida; e por último Confissões, autobiográfico, publicado em 1997.

Em seus livros, como “O Povo Brasileiro” e “Maíra”, ele explorou a formação do povo brasileiro e a complexidade da nossa identidade, que abrange uma multiplicidade de origens étnicas, históricas e culturais. Sua escrita contundente e apaixonada revela sua busca incessante por entender o que nos torna brasileiros e, assim, oferece uma visão única sobre a alma do país.

A identidade cultural do Brasil, segundo Darcy, é uma síntese única de culturas, resultado de um caldeirão de etnias e tradições que se misturaram e se enriqueceram ao longo dos séculos. Essa diversidade é o que torna o país tão singular e vibrante, mas também representa um desafio na construção de uma identidade nacional sólida. Para ele, era fundamental reconhecer e defender todas as culturas presentes no Brasil, promovendo a igualdade e o respeito entre os diversos grupos étnicos e sociais.

Contudo, o legado de Darcy Ribeiro nos convoca a refletir sobre a atualidade e os desafios que ainda enfrentamos na construção e preservação da identidade cultural brasileira. Em um mundo globalizado,
onde a homogeneização cultural é uma realidade, é urgente reafirmar nossa diversidade e elevar nossas raízes, evitando assim a perda de elementos essenciais que compõem a nossa identidade coletiva.

Portanto, é importante lembrar e celebrar o trabalho de Darcy Ribeiro como um guia para compreendermos a nossa história e extrairmos a essência de ser brasileiro. Sua visão humanista e sua dedicação ao estudo da identidade cultural nos inspiram a olhar para o futuro com esperança e construir uma sociedade mais justa, inclusiva e consciente das suas raízes. Que possamos seguir seu exemplo, valorizando a diversidade e abraçando a riqueza cultural que nos torna únicos, como povo e nação.

Conclusão

Pode-se notar que a trajetória intelectual e as contribuições de Darcy Ribeiro para a Antropologia brasileira são de inestimável valor, deixando um legado significativo que transcendeu fronteiras e se estabeleceu como referência para a compreensão da diversidade cultural do Brasil. Ao longo de sua carreira, Ribeiro dedicou-se incansavelmente a desvendar as complexidades da identidade nacional, utilizando uma abordagem holística e pluralista que valorizava a riqueza cultural presente nas múltiplas expressões do povo brasileiro.

Sua abordagem participativa e respeitosa com as comunidades estudadas reforçou a necessidade de uma Antropologia engajada e comprometida com o diálogo intercultural, estabelecendo um importante exemplo para as futuras gerações de antropólogos brasileiros. Darcy Ribeiro influenciou não apenas a academia, mas também o cenário político do país, atuando de forma ativa na defesa dos direitos das populações indígenas e na formulação de políticas públicas para a preservação da diversidade cultural. Sua relevância para o desenvolvimento da Antropologia no Brasil transcende o âmbito acadêmico, impactando também na construção de uma identidade nacional mais plural e respeitosa com suas raízes culturais. O legado de Darcy Ribeiro nos convida a compreender e valorizar a complexidade e riqueza das culturas brasileiras, reconhecendo a diversidade como um elemento essencial na construção da identidade coletiva.

Pode-se concluir que, Darcy Ribeiro foi um indivíduo que alçou voos extraordinários para o mundo acadêmico, influenciando a Antropologia brasileira e além com suas ideias e pesquisas. Sua dedicação à compreensão da diversidade cultural e sua luta pelos direitos indígenas permanecem como um inspirador legado, incentivando o contínuo engajamento na preservação e valorização das inúmeras culturas que formam o mosaico da nação brasileira.


Darcy Ribeiro

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REFERÊNCIAS
BRITO, C.A.G.D.E.A. Antropologia de um jovem disciplinado: a trajetória de Darcy Ribeiro
no serviço de proteção aos índios (1947 – 1956). Rio de Janeiro: [s.n.], 2017.
COELHO, Haydée Ribeiro. A crítica cultural de Darcy Ribeiro. Revista do Centro de Estudos
Portugueses, v. 18, n. 23, p. 223-238, 1998.
FELDMAN- BIANCO, B. Desafios da antropologia brasileira. Brasília: ABA, 2013.
FERREIRA, Antonio Celso; CARVALHO, Leonardo Dallacqua. Raça e Teorias Raciais nos
estudos de Darcy Ribeiro. Projeto História: Revista do Programa de Estudos Pós-Graduados
de História, v. 56, 2016.
FRIAS, R. R. Metamorfoses identitárias de lideranças religiosas não iorubás inspiradas
no convívio com lideranças religiosas iorubás. São Paulo: [s.n.], 2019
HEYMANN, Luciana Quillet. O arquivo utópico de Darcy Ribeiro. História, Ciências,
Saúde-Manguinhos, v.19, p. 261-282, 2012.
PORFÍRIO, F. Darcy Ribeiro. [S.I]: Mundo Educação, 2018.
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. Global Editora e
Distribuidora Ltda, 2015.
RIBEIRO, Darcy. Maíra. Global Editora e Distribuidora Ltda, 2015.
RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro-edição comemorativo, 100 anos. [S.I.]: Global, 2022.
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A GARGANTA DAS MINAS

Comecei a saborear com grande interesse os “Ensaios da História Regional” A GARGANTA DE MINAS do ilustre historiador e associado do IHGMC/UNIMONTES Aparecido Pereira Cardoso. São dez ensaios, mas por questão de tempo me ative apenas ao Garganta das Minas. O ensaio nos traz um profundo e detalhado trabalho de pesquisa documental junto ao Arquivo Público do Estado da Bahia e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, apresentando-nos a dinastia de Matias Cardoso, região do norte de Minas que hoje leva o mesmo nome. Leitura obrigatória e necessária para quem deseja entender e compreender um pouco a formação do nosso sertão. Passamos conhecer as primeiras investidas dos paulistas sobre este nosso grande sertão veredas. Ao mesmo tempo tomei conhecimento das barbaridades cometidas pelos “desbravadores” contra os povos indígenas Anayoses e demais gentios brasílicos dos sertões.

“Antes da guerra empreendida por Cardoso a partir de 1684, os Anaiós foram combatidos e, em parte, exterminados e escraviza-

dos entre 1674 e 1679, quando habitavam a barra do rio Salitre e imediações do Rio São Francisco”. Lembrando que os Jesuítas eram absolutamente contra a escravização dos indígenas em terras brasilis. “O Senhor da Casa da Torre, Francisco Dias de Ávila, com ordens do Governador da Bahia, foi autorizado a agregar ao seu contingente os índios dos missionários capuchinos para “reprimir o furor dos selvagens
que, numa noite, mataram, no rio de São Francisco, oitenta e cinco pessoas, tanto portugueses como negros, em suas próprias casas” (Martinho Nantes).

Os índios Anaiós haviam dominado todas as fazendas da região, dos dois lados do rio, uma extensão de cerca de trinta léguas e que, em atos de resistência, promoviam mortes e destruição de rebanhos. Após tenaz perseguição empreendida pelos homens de Francisco Dias de Ávila, os Anaiós atravessaram o Rio São Francisco a nado, de modo que as flechas, que traziam nas costas, lhes escaparam, sendo levadas pelas correntezas. (Martinho Nantes). Depois de cinco dias de descanso, os membros da comitiva cruzaram o rio, os portugueses em pequenas canoas e os índios e cavalos a nado. Acompanhamos as pegadas do inimigo, que foi encontrado nesse pequeno lago, ou brejo, no interior da terra. Estavam quase sem arma e morto de fome. A rendição dos Anaiós foi completa desde que lhes poupassem a vida. Mas os portugueses, obrigando-os a entregar as armas, os amarraram e, dois dias depois, mataram, a sangue frio, todos os homens de arma, em número de quase quinhentos, e fizeram

escravos seus filhos e mulheres. O Padre Martinho de Nantes, que acompanhou de perto as ações da expedição, afirmou que, “ por minha felicidade não assisti a essa carnificina; não teria suportado, por injusta e cruel, depois de haver dada a palavra de que lhes seria poupado a vida”.

Os Anaiós permaneceram nas imediações do São Francisco, onde foram combatidos e, em parte, dominados e exterminados por Matias Cardoso
de Almeida entre 1648 e 1688. Em carta emitida do Arraial e Rio de
São Francisco, com data de 06 de junho de 1721, Januário afirmou ao governador-geral que “o meu pai o mestre de campo Matias Cardoso de Almeida foi quem destruí e extinguiu os bárbaros anajoses (anayoses) que impediam o povoar deste rio de SãoFrancisco. (...) há trinta e sete anos. (Januário Cardoso de Almeida).

Enfim são muitas histórias trazidas por Aparecido Cardoso que nos fazem refletir sobre como foi brutal as bandeiras paulistas em solo mineiro, à mando de El Rey de Portugal, em total desrespeito e agressão aos povos nativos Anaiós e Xacriabás, legítimos e verdadeiros
donos desta nossa terra de Santa Cruz e também das águas e terras que margeiam o Rio São Francisco. Agradeço ao Historiador ilustre Aparecido Pereira Cardoso por nos apresentar de maneira tão didática a ferida aberta no sertão catrumano, no sertão ribeirinho, no sertão mineiro.


TODOS OS CAMINHOS LEVAM A ROMA

Reavivando a frase de Santo Agostinho que afirmou: “O mundo é um livro, e as pessoas que não viajam só leram uma página”, lá fui eu com a filha e esposa Eunice, descendente de italianos, pela segunda vez, com destino ao velho continente: ROMA-Itália. Confesso que não foi fácil superar o estresse de doze horas e meia de voo do Rio de Janeiro a Paris, e mais um hora e meia de Paris a Roma.

Ao desembarcar, recordei-me do antigo ditado: “todos os caminhos levam a Roma”. Essa citação remete ao fato de que durante o 1º século, Roma chegou a ter 80.000 km, de estradas e vias de comunicação, entre as diversas e imensas regiões do império, que iam da Bretanha (Inglaterra), até a Pérsia (Irã). Historiadores, afirmam que esse período foi de 27 a.C, com Otávio Augusto, e se estendeu até 476 d.C. com o último imperador, Rômulo Augusto.

Graças a minha filha Renata que fez todo o planejamento e sua fluência em inglês, em Roma, até os ônibus nos “tour”, têm letreiros em inglês, visitamos atrações históricas em oito dias, que escureciam a partir das 20h.

A visita ao Coliseu é uma das que mais impressionam. São dezenas de grupos, divididos de acordo com a língua do país de origem. No meu grupo de 30 pessoas, havia duas de Montes Claros/MG. Antecedendo a entrada ao Coliseu, fomos conduzidos pelo guia ao remanescente da Roma Antiga: Arcos de Constantino e Tito, Senado Romano, a casa onde Júlio César foi assassinado, os templos dedicados ao deus Saturno, a Augusto e de Vesta, a Cúria e a Via Sacra, o trono dos Imperadores, a casa onde o apóstolo Paulo ficou prisioneiro, o mirante Marco do Palatino de onde se avistava toda a cidade antiga.

Ao adentrarmos ao Coliseu, somos impactados pela sua grandiosidade. São quase dois mil anos a nos contemplar. É um dos maiores símbolos de poder do Império Romano. Foi inaugurado em 80 D.C, com o objetivo de promover espetáculos e oferecer entretenimento para a população. A parte externa e interna da construção estão danificadas, atingidas por um terremoto no 5º século que afetou a estrutura e outros terremotos que abalaram a cidade provocando rachaduras. Ao tocar nas paredes verifiquei que a mesma foi edificada com tijolos semelhantes aos nossos tijolinhos, embora mais compridos e estreitos. Causa ainda admiração pela resistência da argamassa utilizada tijolo a tijolo, vez que naquele tempo não havia cimento. O piso da arena que não sobreviveu, mostrava a descoberto as galerias de onde saia os gladiadores, animais selvagens e os cristãos jogados as feras. No final de agosto logo quando chegamos, foi encontrado no esgoto do Coliseu, “intactos congelados por séculos”, fragmentos de animais ferozes e uma moeda de ouro com o rosto do Imperador Marco Aurélio, cunhada para uma celebração entre os anos 170 e 171 D.C entre outras 50 moedas menos valiosas.

Vale ressaltar, que o Império Romano não perseguiu os cristãos como política do estado, mas porque esses se recusavam a adorar deuses romanos ou participar de rituais em nome do imperador. Assim, ao longo de 300 anos , dezenas de cristãos foram detidos ou atirados às feras e mortos no Coliseu, em macabro espetáculo ao público romano. Não era fácil ser cristão naquele tempo. Até para enterrá-los eram usados túmulos subterrâneos chamados de “Catacumbas” onde poderiam entoar canções que manifestava sua confissão, religiosa. Mas essa saga de martírio ajudou o Cristianismo a se firmar.

Em geral as edificações de Roma não ultrapassam seis andares, guardando uma certa uniformidade e beleza. A visita ao Vaticano foi também marcante: a Praça e Basílica de São Pedro, grutas, galerias, monumentos, a Capela Sistina no teto com obras primas de Miguel Ângelo, representando nove narrações bíblicas como a criação de Adão, Eva, do sol, o dilúvio, e ao longo das paredes, quadros pintados como a “passagem do mar vermelho” de Rossseli, “a morte de Moisés” de Signorelli. Com os ataques dos aliados na 2ª guerra mundial (1939/45) sobre Roma, só recentemente foi divulgada carta de 30/08/1943, do Papa Pio 12, ao Presidente Americano, revelando a extensão da angústia do Vaticano na preservação de seus tesouros culturais/arquitetônicos.

Por fim, foi no reinado do Imperador romano Otávio Augusto, que nasceu Jesus Cristo, naquele que acabou sendo estabelecido como o ano 1 da Era Cristã. O NATAL está chegando, quando celebraremos o nascimento e o aniversário de Jesus. Ele é a única razão do NATAL. A alegria existe porque Jesus é o presente que Deus nos concedeu. Desde já, aos meus queridos leitores formulo votos de um FELIZ NATAL E UM PRÓSPERO ANO NOVO.


FAZENDA DA SOLIDARIEDADE
SÃO FRANCISCO DE ASSIS,
ARQUIDIOCESE DE MONTES CLAROS

Frei Valdomiro Soares Machado, carinhosamente chamado Frei Valdo. Nasceu em Nova Esperança, Distrito de Montes Claros, Estado de Minas Gerais, em 4/8/1948 – data em que, também, se comemora o “Dia do Padre”. Data da festa de São João Maria Vianney, desde 1929, quando o Papa Pio XI o proclamou: “homem extraordinário e todo apostólico, padroeiro celeste de todos os párocos de Roma e do mundo católico”.

Seria predestinação ou Providência Divina? Para Frei Valdo, Deus já o havia escolhido desde o seu nascimento.

Ainda criança miúda mudou-se com a família para comunidade de Miralta, também distrito de Montes Claros, de onde guarda um paiol de lembranças da sua infância e adolescência, tanto nas ruas de Miralta quanto no pequeno sítio da família. “Miralta, já naquela época, era alvissareira, muitas casas, armazéns, cartório, correios, lojas, bares, geradores de energia elétrica e uma igreja paróquia, onde aconteciam os casamentos e batizados de toda a região. Quando por volta de dez horas da noite, os geradores já sinalizavam com um pis

car das lâmpadas que a energia seria desligada e, pouco antes das dez, saiam todos, apressados, para casa, pois a cidade estava preste a demudar para uma imensa escuridão.” Lembrou Frei Valdo.

Filho de Alvino Pereira Machado e Ana Soares da Silva, proprietários de um pequeno sítio de onde, “no cabo das enxadas”, tiravam o sustento da família cultivando arroz, feijão, milho, amendoim, algodão, entre outros. “Éramos oito filhos, eu fui o segundo a nascer: Adair Soares Machado, Valdomiro Soares Machado, Afonso Soares Machado, Arnaldo Soares Machado (falecido), Zélia Soares Machado (falecida), Maria das Dores Soares Machado, Maria do Socorro Soares Machado e Antônio Carlos Soares Machado. Levávamos uma vida muito simples, de parcos recursos, muito humilde, mas éramos muito, muito felizes. As noites eram animadas pelo meu pai que era músico e folião, tocava sanfona, viola, violão e rebeca e ele mesmo fabricava artesanalmente seus instrumentos de corda”. Diz sorrindo Frei Valdo.

Ainda adolescente veio, sozinho, estudar em Montes Claros, ficou hospedado em casa dos pais de Padre João Batista Lopes, seus parentes. Perguntado se sofrera influência do Padre João e das Freiras irmãs do Padre João, para o seu ingresso na vida religiosa, ele respondeu: “Não. O que me influenciou foram os Missionários Redentoristas que realizavam as Santas Missões trabalhando com casais, jovens e adolescentes, e eu ficava encantado com as atividades deles, isso me cativou, e eu pensava: é isso que eu quero ser.” E completou: “Mas como um pobretão da roça, trabalhador na enxada, poderia ser padre? Ia pagar com quê?”

Em Montes Claros Frei Valdo estudou no Colégio São Norberto. Em 1970 nós servimos o Tiro de Guerra 87, o famoso TG 087 (Exército Brasileiro). Eu fui o fuzileiro 148 da Turma Sampaio, comandado pelo Sargento Baumer, mas fui excluído, por perda de pontos, três ou quatro meses depois, enquanto Valdomiro Soares Machado foi o fuzileiro 229 da Turma Brasil, comandada pelo Sargento Camargo, que Frei Valdo assim o definiu e revelou: “Era um sargento muito exigente, disciplinador, mas muito bom, eu era muito querido por ele, e confiava muito em mim, tanto que quando ele viajava eu ficava tomando conta da casa.” E completa: “O Tiro de Guerra para mim foi muito mais importante do que o meu noviciado, do que os meus estudos para padre, por quê? Por que foi mais importante? Porque ali eu aprendi a vida, o sofrimento, a dureza da vida, pegar um fuzil, fazer tiro, rastejar; então, a garra que tenho até hoje vem dessa experiência que tive a serviço do Tiro de Guerra.” E continua: “Terminado o Tiro de Guerra e com o falecimento de meu pai no Distrito de Miralta, onde se encontra sepultado, minha mãe vendeu todos os seus parcos bens e mudou-se para Montes Claros, indo morar no bairro Santos Reis, portanto a minha paróquia, e onde a minha mãe ainda reside.”

Diante das dificuldades financeiras em que se encontravam numa casa não muito digna, sem água, luz, numa verdadeira pobreza, Valdomiro, com apenas 23 anos, decidiu ir para o Rio de Janeiro em busca de melhores recursos, e, assim, poder ajudar a família. Contudo, não abandonou a ideia de ser padre, porém, a sua consciência lhe dizia que primeiro era preciso amparar a sua família.

No Rio conseguiu um emprego na Bolsa de Valores e do seu salário retirava o necessário para a sua subsistência, o restante enviava para a sua mãe; tempos depois foi trabalhar na Wolkswagen do Brasil, melhorando ainda mais a sua remuneração. O que pouca gente sabe, e para mim foi surpresa, é que concomitantemente ao trabalho, Valdomiro começou a fazer teatro nos palcos das noites cariocas, a sua verve artística o levou a acreditar na possibilidade de desenvolver a sua arte cênica. Disse ele: “Cheguei a trabalhar junto a grande estrela Rosa Maria Murtinho e o sensacional Grande Otelo entre outros. Fiz, inclusive, algumas pontas em novelas.” Ousei perguntar se não tentou a carreira de cantor, vez que sabia que ele gostava de cantar. Foi categórico: “Cantar, não. Minha voz é rouca, muito grave. Eu até gosto de cantar, mas não tenho voz para tanto.” Ainda assim, insisti: Já o vi cantando num encerramento de Encontro de Casais com Cristo da Paróquia São Sebastião, enquanto os casais seguiam para o ato final do encontro. Eu e Ana Maria éramos Casal Ligação Setorial do ECC e estávamos lá, ficamos encantados com seu desempenho, que emocionou a todos. Sorriu e concluiu: “Bondade sua, mas não sou cantor.” E completou: “Com o passar dos anos e os recursos que eu enviava, minha mãe pode melhorar a casa e até comprar um telefone para nos comunicarmos mais facilmente. Mas veja só o que aconteceu: Era o ano de 1977, eu tinha 29 anos quando recebi uma proposta para transferir-me para a Alemanha, país sede da empresa Siemens, com imensuráveis vantagens financeiras e profissionais. E o que eu fiz? Disse não! Abandonei tudo! Tudo! Tudo! Emprego, teatro, colegas de trabalho, amigos. Taxaram-me de louco!” e continuou:

“Mas, a minha decisão tinha um motivo especial, pois fui aceito para a vida religiosa, e essa vontade me acompanhava desde menino, era o que eu sempre quis: tornar-me um franciscano.”

Lembrei-me da passagem bíblica: Mt 16.24-25 24Então Jesus disse aos discípulos: “Se alguém quer me seguir renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e me siga. 25 Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; mas quem perde a sua vida por causa de mim, vai encontra-la.” Eu disse ao Frei Valdo: o senhor tomou uma decisão muito forte, uma renúncia total. Ele disse: “Foi mesmo, renuncia total, renunciei a tudo, voltei à estaca zero, voltei à pobreza total, mas ganhei o mundo. Ingressei na Ordem dos Frades Menores Franciscanos, também chamada Ordem dos Franciscanos. Foram quatro anos de filosofia pura na Universidade Federal do Brasil, no Rio de Janeiro. Teologia eu estudei na PUC Pontifícia Universidade Católica de Belo Horizonte; outros quatro anos, tive excelentes, famosos, mas polêmicos professores como: Leonardo Boff, Luiz Boff, Lina Boff, Bussol e outros. Eram considerados polêmicos porque eram defensores da Teoria da Libertação que estava em plena evidência na América Latina, naquela época. Ordenei-me padre no ano de 1985 e voltei para o Rio de Janeiro onde fui trabalhar.”

Perguntei ao Frei Valdo: O senhor foi para o Rio de Janeiro no auge da ditadura militar, conviveu no meio artístico tão “perseguido” àquela época, o senhor não teve nenhum problema com os militares? “Na época em que fazia teatro eu não, mas depois de ordenado, trabalhávamos com os jovens em situação de riscos, e nos reuníamos com eles em Copacabana, sob a vigilância dos militares armados de fuzis; queriam saber o que estávamos ensinando a esses jovens. Isso nos deixou certa revolta, certa magoa, por isso, que desde que me ordenei padre eu só trabalho em prol dos mais sofridos, mais machucados, menos favorecidos, dos mais necessitados. Mas foi bom passar por todas essas situações e sair ileso, sem qualquer problema.”

“Interessante que eu trabalhei com crianças, numa parceria com a Polícia, no Quartel General. Os policiais buscavam as crianças nas favelas, levavam-nas para o quartel, onde recebia alimentação, educação, banho e, logo após o jantar retornava às suas casas; alguns já inclusos na vida de marginalidade, com pequenos furtos, os chamados “trombadinhas”, e nós conseguimos tirar muitos deles do caminho do crime. Fizemos um grande trabalho social. Depois, ainda no Rio de Janeiro, construímos uma creche para 120 crianças de “rua”, carentes, muito carentes, retirando-as da rua, eram acolhidas, alimentadas, tomavam banho, e as educava. Esta entidade, ainda hoje, existe na cidade de Araruama/RJ.” E completou: “Foi o meu último trabalho no Rio de Janeiro, aí eu vim embora.”

O senhor veio direto para Montes Claros? Qual foi o motivo para o seu retorno? “Numa das visitas à minha família, eu encontrei com Dom Geraldo Magela de Castro, Bispo Diocesano de Montes Claros, ocasião em que ele me disse achar um absurdo, sendo eu montes-clarense, a cidade precisando de padres, e eu trabalhando no Rio de Janeiro, então, ele me chamou; e também a minha mãe se encontrava bastante fragilizada, e ela exigiu que eu viesse ficar mais perto, e eu estou aqui até hoje.” E quando foi isso? Foi no ano de 2004.

E como foi esse retorno? O senhor foi para onde? “Na verdade eu tive que deixar a Ordem Franciscana, e foi um processo muito difícil, doloroso, porque ser Franciscano estava no meu sangue, era o meu sonho, mas tive que deixar.” E continuou: “Quando eu cheguei Dom Geraldo, a principio queria que eu assumisse a Paróquia do Alto São João, mas não deu certo, então Ele enviou-me para a cidade de Bocaiúva/MG, para auxiliar o Padre Maia, muito querido do povo bocaiuvense que pensou que eu iria substituir o Pároco da cidade, mas,
na verdade, não era esse o objetivo, todavia, reclamaram tanto que Dom Geraldo desistiu da ideia.”

Qual é a máxima da Teoria da Libertação? Povo unido jamais será vencido! Recusado em Bocaiúva, qual foi o seu destino?

“Aconteceu que os Jesuítas comandavam a Paróquia de São Sebastião, mas eles estavam indo embora, então Dom Geraldo Magela nomeou-me Pároco da São Sebastião.”

O senhor fez um belo trabalho lá.

“Fizemos sim. Começamos na Vila Telma, construímos diversas casas para famílias que moravam debaixo de árvores, pontes, em passeios, em barracos de lona.”

E a Fazenda da Solidariedade? “É muito interessante. Era 2009. Certa vez eu passava pela Avenida... aquela que passa na prefeitura no sentido São Judas... ah! Avenida João Luiz de Almeida. Então, eu passava por essa avenida, um pouco adiante da Ponte Preta, e vi uns adolescentes usando drogas. Aquilo mexeu comigo, me machucou. fiquei pensando: meu Deus o que nós pudemos fazer para ajudar os jovens dependentes químicos? Aí, numa missa, eu disse que eu precisava de um espaço digno para construir uma unidade terapêutica decente destinada a acolher dependentes químicos, que até então não havia em Montes Claros. Uma senhora levantou-se e disse que tinha esse espaço e, para esse fim, poderia empresta-lo. Marcamos uma visita ao local para conhecermos. O local é na estrada que vai para a cidade de Juramento, uma área de seis alqueires.

“Meu Deus!” Sorriu e continuou: “O lugar tinha uma casa antiga, bem maltratada, cascalho puro, a água vinha de um poço artesiano de um vizinho que fornecia e cobrava uma taxa. Eu disse a ela...”. Antes que respondesse atalhei perguntando: O senhor lembra o nome dessa senhora Frei Valdo? “Lembro, lembro muito... é Dona Dora, ela é uma dentista aposentada.” E prosseguiu: “Eu disse a ela: e se for para senhora vender quanto custa? Pensou um pouco e respondeu: sessenta mil reais divididos em seis parcelas de dez mil reais. Falei para mim mesmo: Meu Deus! Sessenta mil, eu não tenho nem um centavo, onde é que vou arrumar dez mil por mês? Olhei nos olhos de Dona Dora e disse: Está bem, Dona Dora! Eu compro o terreno. Graças a Deus, os nossos paroquianos trabalharam muito, mas nós demos conta de pagar.”

Frei Valdo completou com um largo sorriso nos lábios: “Veja o que é Deus! Compramos seis alqueires, quando o agrimensor mediu para passar a escritura, a área tinha nove hectares, ou seja, Deus nos deu três alqueires a mais. Além disso, a Dona Dora, que já estava aposentada, doou o seu gabinete dentário para a Fazenda da Solidariedade.”

Com o terreno nas mãos, a tão sonhada Fazenda da Solidariedade, que neste ano de 2019 completa dez anos de fundação, saiu da imaginação transformando-se numa realidade juridicamente constituída e reconhecida de utilidade pública, pelas três esferas de governo (municipal, estadual e federal), tornando-se apta a receber colaborações e firmar convênios com as instituições públicas. “Essa semana fiquei sabendo que só no ano passado nos atendemos 2.580 pessoas, na fazenda e no Bamsol – Associação Cristã Banco da Solidariedade que é o nosso centro administrativo. Não é uma alegria? Diz Frei Valdo com o seu sorriso peculiar.” De minha parte restou-me dizer: Dádiva de Deus.

Segundo Frei Valdo entre 65 e 70 por cento dos acolhidos na Fazenda da Solidariedade foram recuperados, entre eles muitos empresários e profissionais liberais, outros ainda permanecem na Fazenda, agora como funcionários, trabalham como monitores, motoristas, professores, etc. e são exemplos vivos para os novos acolhidos. Segundo ainda Frei Valdo são muitas as inscrições, mas as vagas são poucas, e a seleção é realizada através de uma triagem, que passa por psicólogos, psiquiatras, exames médicos, e principalmente a vontade própria de se tratar, porque o tratamento começa por aí, a pessoa tem que querer, ninguém é obrigado, ninguém vai à força para a Fazenda da Solidariedade, mas todos tem um membro da família que é o responsável.

Perguntei ao Frei Valdo se não havia muita indisciplina, discussões e brigas entre os acolhidos, ele disse-me que não muita, porque lá existem regras que devem ser seguidas, dentre elas o respeito, e essas regras são muito rigorosas. Por exemplo: as discussões e uso de palavrões, ou ofensas ao colega ou qualquer funcionário contratado ou voluntário é passível de no máximo três advertências, na terceira o acolhido é imediatamente desligado, no caso de agressão física o desligamento é imediato. Mas isso pouco acontece, pois são muito cordiais uns com os outros. Quis saber mais sobre a estrutura e o funcionamento da Fazenda, e Frei Valdo nos informou que antes de colocar a Fazenda em funcionamento ele passou algum tempo na Fazenda da Esperança, na cidade de Guaratinguetá/SP, que é uma comunidade terapêutica, considerada a maior obra da América Latina, que regenera vidas e famílias, sem que ninguém soubesse que ele era padre, pois desejava ver de perto qual era o tratamento dispensado aos acolhidos e não queria que a, digamos, profissão de padre influenciasse de alguma maneira. Disse ainda que essa experiência foi muito importante, porque conhecendo o sistema lá aplicado ele pôde adaptar à realidade na nossa região.

Uma dessas realidades é que em Guaratinguetá eles têm condições de pagar muitos funcionários, enquanto aqui nós só temos condições de pagar uma psicóloga que a administradora de tudo, do Bamsol e da Fazenda da Solidariedade, mas conseguimos bons voluntários, e completou: “você sabe que os voluntários trabalham com muito mais vontade do que se fossem remunerados, pois trabalham com o coração”. Disse ainda: “As nossas despesas são muitas: alimentação, energia elétrica, gasolina, folha de salário, encargos sociais...
por isso precisamos e contamos, graças a Deus, sempre com as doações recebidas da população, dos empresários, de nossas atividades
da Padaria da Solidariedade, a CODEVASF nos abriu um poço artesiano, e tempos depois nós perfuramos outro, também alguns deputados mineiros têm nos conseguido bens e verbas para suprir as nossas necessidades. Este ano, por exemplo, o Estado assumiu quinze dos nossos acolhidos, destinando à Fazenda da Solidariedade uma verba mensal de R$17 mil reais.”

Perguntei ao Frei Valdo como é a chegada e a saída de um membro acolhido na comunidade, ele nos disse que quem faz o acolhimento são os próprios acolhidos, é uma alegria enorme, pois o sentimento é de que chegou mais um para ser curado, ser salvo das drogas, qualquer que seja ela; e quando completa o período de longos nove meses, tal como na gestação humana, ao ver sair daquela comunidade terapêutica uma pessoa, agora totalmente recuperada, a alegria é ainda maior, é o milagre de Deus estampado naquela pessoa.

Com um sorriso largo acompanhado da frase: É o fruto de um trabalho de acolhimento regado com muito amor, Frei Valdomiro Soares Machado, o Carismático Frei Valdo, põe a cabo a nossa conversa.

Obrigado, Frei Valdo!


UMA TRAGÉDIA,
MAIS UMA, MAIS UMA...

Lá por volta de 1967/68 ocorreu uma sequência de tragédias em nossa região que não pode deixar de ser registrada. Ela chocou e comoveu pela dramaticidade. Entretanto, por falta de órgãos de informação a notícia ficou quase que totalmente no anonimato. Depois caiu no esquecimento.

Apesar de já se ter passado mais de meio século, eu ainda me lembro dos fatos e vou agora colocá-los no papel. Pelo menos para que sirva de lição e outras pessoas não venham a cometer as mesmas imprudências. Peço perdão para um eventual lapso de memória que me leve a omitir alguma informação ou detalhe, mas vou tentar reconstruir a história exatamente como ela aconteceu.

Um pequeno sitiante lá na região do Lajeado, resolveu abrir uma cisterna em sua propriedade. O Lajeado fica a aproximadamente uns 30 quilômetros a sudoeste da Jaíba. Era muito comum a abertura de cisternas em locais afastados dos rios. Normalmente a água ficava em torno de 12 a 15 metros de profundidade e era farta. Mais do que suficiente para saciar a sede dos animais e as necessidades
dos humanos.

Foram contratados, o cisterneiro e o ajudante. Eles colocaram mãos à obra. A coisa funciona assim: até à profundidade de um metro e meio o cisterneiro cava o buraco e joga a terra para fora com a pá. Daí em diante, o serviço tem que ser feito obrigatoriamente a dois. Instala-se o sarilho com corda e balde. O cisterneiro cava, coloca a terra no balde e o ajudante puxa para fora. O ajudante tem que ser pessoa forte e de absoluta confiança, porque o cavador fica lá embaixo, totamente vulnerável. Se o balde de terra escapulir, é muito difícil que o cisterneiro sobreviva. Serviço perigoso.

Muitos trabalhadores e habilidosos, os dois homens deram início ao serviço. O proprietário era amigo e compadre do cisterneiro e ficava sempre por ali para o caso de alguma necessidade ou emergência. O trabalho prosseguia normalmente. De hora em hora, o cisterneiro saía por alguns minutos para repor o oxigênio, porque dentro do buraco o ar é rarefeito. Depois de duas semanas de serviço pesado, o buraco já estava com aproximadamente 12 metro de profundidade e quase chegando à água.

Aí veio a primeira tragédia. O cisterneiro gritou desesperado:

_Jogue a corda depressa! Deu gás!

A ocorrência de gás é um fenômeno não muito raro na abertura de cisternas no norte de Minas. Na maioria das vezes o cisterneiro consegue sair às pressas e fica vários minutos recebendo massagem para se livrar do gás tóxico que lhe invade os pulmões. O serviço é abandonado, aquele buraco é entupido e procuram outro lugar longe dali, sempre vigilantes. Mas naquela hora não deu tempo.

O ajudante jogou a corda com o pedaço de pau amarrado na ponta para o cisterneiro se sentar, e ele puxar rapidamente. Mas infelizmente não foi possível. O gás que vazou foi muito forte e o homem morreu na hora. Desesperado, o dono do terreno e compadre do cisterneiro pegou uma corda e desceu com intenção de amarrar o amigo pela perna e puxá-lo para cima. Também não conseguiu e morreu envenenado junto com o outro. O fedor de gás veio à boca da cisterna e ninguém conseguia chegar perto.

Com os dois homens mortos lá embaixo, as famílias foram ao desespero. Ninguém sabia o que fazer. A notícia se espalhou como fogo em pólvora. Em pouco tempo havia dezenas de pessoas querendo mostrar sabedoria, dando palpites. Parecia uma Torre de Babel.

Já era noite quando alguém se lembrou que apenas os homens do Corpo de Bombeiros possuem equipamentos especiais de segurança e máscara de oxigênio. Assim, só eles, os bombeiros teriam treinamento, equipamento e condições de chegar ao fundo da cisterna para resgatar os mortos. Mas o Corpo de Bombeiros mais próximo ficava em Montes Claros, a 240 quilômetros de distância e com estradas péssimas.

Telefone, naquele tempo era um sonho distante. Na manhã seguinte, alguém pegou uma bicicleta e foi para a Jaíba com intenção de arranjar carona, seguir para Janaúba e lá pegar o ônibus que o levaria a Montes Claros para solicitar a ajuda dos bombeiros. A atual cidade de Jaíba era apenas uma colônia com casas de madeira, muito pobre. Não havia veículos. O único meio de transporte para Janaúba era o caminhão da empresa Rio Verde Agromadeirense, localizada no Gado Bravo. Duas vezes por semana ele passava pelo povoado indo a Janaúba levar madeira para a estrada de ferro.

O caminhão tinha passado para a fazenda e com certeza, voltaria no dia seguinte. O portador ficou esperando, angustiado. Por fim, a tão esperada carona chegou. Os passageiros viajavam amontoados em cima da carga de madeira. A estrada era péssima. Da Colônia da Jaíba seguia pela margem esquerda do Rio Verde até Cachoeirinha, atual Verdelândia. Lá, o carro atravessava o Rio Verde e seguia pela mesma estrada ruim até Janaúba. Do momento da tragédia até chegar a Janaúba se passaram mais de dois dias.

Lá no Lajeado a situação era desesperadora. Na manhã do dia seguinte ao acontecimento, o fedor de gás diminuiu e já foi possível às pessoas se aproximarem da boca do buraco. Era perfeitamente possível avistar os dois homens mortos lá embaixo, um sobre o outro. Enquanto os bombeiros não chegavam alguém teve uma ideia e a colocaram em prática. Amarraram um pedaço de vergalhão em forma de anzol na ponta de uma corda, na tentativa de “pescar” os
mortos.

Depois de muitas tentativas, o anzol “pescou” o pé de uma das vítimas. Tocaram o sarilho devagarzinho, fazendo o morto subir dependurado, de cabeça para baixo. Quando o corpo chegou a borda do buraco, descobriram que o vergalhão o sustentava apenas pela ponta do pé. Ao tentarem envolver a perna com outra corda, e pé escapuliu e o homem desceu de ponta se rebentando sobre o outro morto.

Virou uma bagaceira só. A cabeça dele afundou no corpo da outra vítima. O crânio se achatou e se abriu em dois, formando uma figura horrorosa. Com a cabeçada que recebeu o corpo do outro quase se dividiu em dois. Quebrou todas as costelas, partiu a coluna, fez explodir fígado, pulmões, coração, estômago. Esparramou tripa para tudo que é lado.

O mensageiro que foi buscar socorro só chegou a Montes Claros três dias depois do desastre. Com o pedido de socorro, o comandante dos Bombeiros agilizou a providências para mandar uma boa equipe. Para cobrir os 240 quilômetros de estradas péssimas até o local, o carro dos Bombeiros levou mais de 8 horas e já chegou à meia
noite.

Quase quatro dias já tinham se passado. Era madrugada quando os homens do Corpo de Bombeiros conseguiram resgatar os destroços que restaram dos dois homens. Deixaram os dois junto a umas moitas de capim seco. Além da decomposição natural, o contato com aquele gás fedorento, deixou os bagaços dos corpos com um fedor insuportável.

Ninguém, a não ser o bombeiro com máscara de oxigênio conseguia chegar perto. Naquela lufa-lufa, a lanterna do bombeiro ficou no fundo da cisterna. Os corpos fediam demais. Alguém sugeriu que se jogasse gasolina sobre os dois para neutralizar o fedor e os deixassem lá mesmo até o amanhecer, quando providenciariam o sepultamento. Tiraram do carro 10 litros de gasolina. O bombeiro com a máscara jogou o produto sobre eles.

Por uma má sorte tenebrosa, a tampa do galão de gasolina caiu no chão. Com a lamparina na mão, o bombeiro displicentemente se abaixou a procurá-la. O bico da lamparina caiu. Ouviu-se um grande estrondo. Por pouco o bombeiro não morreu queimado. A língua de fogo se levantou a vários metros. Os dois corpos já em adiantado estado de decomposição, impregnados pelo gás venenoso e com suas roupas encharcados de gasolina se transformaram em excelente combustível. A água mais próxima ficava a mais de duzentos metros.

Os cadáveres se transformaram em brasas. O calor das chamas foi tanto que ninguém conseguia aproximar-se para jogar água. Quando as pessoas conseguiram debelar o fogo os dois corpos já estavam quase reduzidos a cinzas.

Acidentes ou tragédias não marcam hora nem lugar, mas aquele acontecimento com certeza foi uma das coisas mais tristes que já aconteceu em nossa região. Na época, o episódio não teve repercussão
na imprensa. Talvez por causa do descuido do bombeiro para pegar a tampa do galão que acabou por provocar o incêndio, o próprio pessoal do Corpo de Bombeiros se negava a dar informações sobre o ocorrido. Não há notícias de qualquer publicação sobre aquele fato, mas ele ainda está bem vivo na memória dos antigos moradores da região.


DONA MARIA DE JESUS

Maria de Jesus, nasceu no Município de Rio Pardo de Minas, no dia 08 de Março de 1910, às 13:00 Horas, sendo a mesma registrada no Município de Porteirinha, sob o n° 32. 308, Fl. 46, do Livro A nº 41. Filha de Adriano de Souza e Virgínia Maria de Jesus, seus avós paternos são: Sipriano de Souza e Maria de Jesus, os maternos são Mônica Maria de Jesus e Ronério de Tal. Dª Maria mudou-se para Porteirinha em 1939, época em que ocorreu uma grande fome causada pela seca, em algumas regiões do país. Foi morar na Fazenda Lagoa do Mato de propriedade do Senhor Abel Mendes da Silva (Seu Sula), próximo à cidade de Porteirinha. Casou-se no ano de 1946, com idade de 35 anos, com o Senhor Galdino Ferreira da Silva, que na época, já era viúvo por duas vezes;. Ambos viveram apenas 19 anos, interrompido pela morte (Galdino), com 78 anos. Dona Maria foi batizada pelo padre Julião e seus padrinhos sr. Abel e esposa, já com a idade avançada para nossa religião. Apesar da idade ela concebeu seis filhos: Geralda Maria de Jesus em 1947; Maria das Dores 1948; José Ferreira 1949, João Ferreira 1951; Maria das Graças 1952

e Glória Dimara Silva 1955. É importante salientar que Dona Maria apesar de sua pequena estatura física, alimentava com abundância seus seis filhos e paralelamente outras crianças da cidade. Mulher forte e destemida no trabalho do dia-a-dia, principalmente torrando café para mais de trinta famílias, lavando roupa para muitos e às vezes fazendo faxina, etc. Mulher simples, alegre, humilde, honesta e firme nas palavras. Não sabia ler nem escrever, porém educou seus filhos na religião, trabalho, educação, com rigidez e muito amor. Possuía um grande dom divino, era exímia benzedeira na cura de algumas doenças transmitidas por maus olhares. Era dotada da mística cristã, pois participava de todas as missas matinais e noturnas presididas pelo Padre Julião Arroyo Gallo e posteriormente pelos padres Antônio Rocha e Monsenhor Gustavo de Montes Claros. Foi a grande responsável pela minha sobrevivência ao interceder à Deus pela cura de uma convulsão que somente o milagre poderia me salvar. Portanto sou muito grato, pelo que ela fez por mim e por muitos desta terra. Faleceu no dia 10 de Abril, de 1989, em Montes Claros, com 79 anos.


O QUE TENHO PARA DIZER!

Foi uma noite memorável, o auditório do centro cultural Dr. Hermes de Paula, abriu suas portas para que então, eu pudesse fazer o lançamento do meu livro, aquilo tudo era novidade pra mim, e foi assim, diante de uma plateia de amigos e familiares, que eu pude sentir o gosto de ver o meu projeto saindo de simples rascunhos, até a impressão do meu livro, foram anos de dedicação, sem ao menos imaginar que um dia, esses meus rascunhos chegariam até uma editora, se tornando realidade, e esse dia chegou, me senti um pouco acanhado e surpreso, como todo marinheiro de primeira viagem, quando se vê diante da imensidão do mar aberto, mas meu mundo neste momento, não era um oceano, e sim o espaço sagrado da cultura da cidade de Montes claros, e diante de todos, li um pequeno discurso, elaborado do meu jeito, à minha maneira, que começa assim.

Pensei, pensei... e de repente me deparo com o meu livro Reminiscências, que quer dizer “imagem lembrada do passado, o que se guarda na memória” esses significados, são a base do meu livro e

minha inspiração, no decorrer da leitura, o leitor vai me conhecendo, descobrindo algo sobre minha personalidade, muitos por sinal, acabam se identificando com o conteúdo do livro, várias pessoas, até então, tem me relatado o reencontro delas e suas histórias de vida.

O encantamento pela vida jamais me passou despercebido, aliás nunca estive tão apegado com os fatos que presenciei e guardei comigo durante minha infância, meus antepassados e suas histórias de vida, revelaram pra mim algo marcante e inesquecível, as dificuldades e os desafios não os afastaram do foco principal, trabalhar a terra, tirar o sustento da mesma, e formar uma família, à qual me orgulho de pertencer.

E foi também, no transcorrer de várias páginas, que procurei homenagear a figura de meu Pai, fatos que ilustraram sua breve passagem por este mundo de forma rápida e inesperada, palavras sinceras, frases e mais frases, definiram muito da admiração por essa pessoa, que mal cheguei a conhecer, sei que faltaram muita coisa para completar essa minha homenagem pra ele, mas o tempo que me espere, eu peço! peço que o mesmo não vá tão depressa e me dê essa chance, quem sabe esse tempo maluco e cruel, atenda o meu pedido.

E o que dizer de mãe, que veio de casa com discurso anotado pra contar um pouco de sua vida e dificuldades, simplesmente ela ignorou o que estava escrito e tirou de letra no momento de se dirigir a todos com naturalidade e desenvoltura, agradecendo por tudo que a vida lhe ofereceu, e foi com essa pessoa que me deu a vida, que aprendi muita coisa, com sua determinação, sua garra, fazendo de tudo para que as coisas não saíssem do controle, não me esqueci da mesma durante meus relatos, pois mãe, sempre foi minha inspiração e minha consultora, para assuntos das memórias que procurei mostrar ao longo das páginas do meu livro, e era assim, eu perguntava, e ela me contava, contava, contava... assim como em tempos idos, onde as famílias se reuniam às portas das casas à noite e passavam horas e horas falando deles mesmos e sobre eles mesmos, pena que hoje, os tempos são outros, o tempo suprimiu muito dos costumes de outrora, famílias reduzidas, esparramadas e distantes, essas coisas nos transformaram em pessoas procurando espaço e oportunidade pelos quatro cantos do mundo, longe de nossas origens.

Apresento o meu livro, cuja capa traz a foto de meus netos, Elis maria, Arthur e Matteo, de maneira simples, sutil e reveladora de um cotidiano o qual eu vivo, e me tornei um apreciador sem limites, das coisas simples da natureza, da seca brava, da ventania do mês de Agosto, da explosão e a beleza do amarelo dos ipês, do canto dos passarinhos, em especial aquele que mais admiro, o Bem-te-vi, da chegada da chuva, e do barulho do trem que chega e sai desta cidade de concreto e aço que não para de crescer, e essa gente! de tantos causos sem hora marcada pra começar e terminar seus assuntos, gente de alma pura, escrevendo sem saber sua própria história, no seu dia a dia de maneira real e despercebida por eles mesmos.

Agradecimentos, só não basta, eu quero me render de coração, e desejar um muito obrigado, aos meus filhos Vanessa, Jéssica e Fernando Lucas, com suas anotações expressando todo o carinho por este pai coruja, Antônio meu irmão marcou presença no palco e fez relatos sobre a nossa família de forma emocionante, mencionando mãe e sua grande missão de criar a família sozinha.

Aos presentes que tiraram seu tempo me prestigiando nesta noite de lançamento do meu livro, contribuindo para que as coisas fluíssem de maneira harmoniosa, sem a presença de vocês, provavelmente, nada disso teria acontecido, já Carlão, um amigo de longa data com seu dom natural de artista, levando emoção e alegria à multidões por onde leva seu show, ouvi-lo cantando utopia do padre Zezinho foi demais, a emoção maior ainda, foi ver a plateia cantando com toda emoção a música que retrata tão bem o valor de se ter uma família, pra todos vocês meu sincero muito obrigado, à nossa fotógrafa Fernanda minha sobrinha, parabéns pelo trabalho nota dez,ao Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros na figura do Sr. Dário Teixeira Cotrim, que acreditou no meu trabalho e me aceitou como membro do IHGMC, tornando possível a publicação do meu livro, gratidão.

Quanto à minha família, cunhados, sobrinhos e minhas irmãs, gratidão e muitos beijos, vocês são mais que especiais pra mim.

À minha esposa Eremita Soares Barbosa, obrigado pela dedicação, por fazer tanta coisa linda acontecer em minha vida.

Tudo isso demorou pra acontecer, mas chegou em momento oportuno, reescrevendo uma nova página em minha vida, mas valeu a pena esperar.


DIA MUNDIAL DO
MEIO AMBIENTE E DA ECOLOGIA

Estão distorcendo a teoria de preservação ou conservação como constituísse uma conspiração contra o desenvolvimento econômico.

Estão usando O SANTO NOME EM VÃO! - Como exemplo: de forma midiática... e não é assim! O Meio Ambiente está em todo lugar: no campo, na floresta, na cidade e em sua casa.

Desde final dos anos 60 - início da década seguinte, um novo olhar sobre o meio ambiente vem trazendo para o homem o repensar de ações que sejam menos agressivas ao meio ambiente, ações fundamentadas nos preceitos de todas as formas de vidas e seres vivos que possuem valor intrínseco. E por isso, têm direito ao respeito, independente do valor unitário para a humanidade!

A partir daí esta visão ganhou força nos meios políticos e administrativos no Brasil e no mundo, sendo verdadeiramente holística (globalizadora) e passamos a compreender melhor o meio ambiente e a forma de tratá-lo com respeito.

Aprendemos as dimensões da sociedade que deve possuir sustentabilidade e ser a expressão da convivialidade, não só dos humanos, mas, de todos os seres entre si.

Precisamos recuperar - conservar e preservar nosso ambiente, temos que acabar com a forma antropocentrista de pensar que o ser humano é o rei e o centro do universo, e que os demais seres só existem para nos servir - estão aqui disponíveis a nosso bel-prazer.

Face deste antropocentrismo que até hoje somos testemunhas indubitáveis dos crimes contra os nossos recursos naturais. Além dos desmatamentos da nossa cobertura vegetacional - a “pirataria” está ACABANDO com a nossa fauna e já nos tirou o direito à soberania dos “princípios ativos” dos recursos medicinais da nossa flora.

O pior, é que as empresas degradadoras do ecossistema não se preocupam com a legislação ambiental, pois, a morosidade dos processos criminais os instigam a recorrerem das punições por meios administrativos ou pela justiça – esses processos podem arrastar-se por anos e anos. A absurdidade, é que algumas delas são outorgadas com o prêmio “Mérito Ambiental” pelo o Codema local.

Veja o nosso cerrado... Ele abriga a “mais rica savana do mundo”, tem uma grande biodiversidade – endemismo e recursos hídricos valiosos. Contudo, a importância do nosso cerrado não é reconhecido como deveria. Há muitos anos (décadas) o cerrado é vítima dos silvicultores que, por meio da monocultura do eucalipto e/ou pinus vêm destruindo essa riqueza.

Neste momento que estamos discorrendo a política de preservação do meio ambiente, é muito oportuno falar do “ouro azul”! Até poucas décadas pretéritas, a água era considerada como um “recurso natural renovável” – em geral, um recurso abundante, que poderia atender sem restrições a quase todas as demandas que viessem a ser requeridas. Até então, sua carência era sentida apenas nas regiões semiáridas – fato considerado grave, porém natural! Entretanto, a partir da Conferência de Dublin na Irlanda em Janeiro de 1993 (há 30 anos), a água passou a ser considerada como um recurso infinito e, sobretudo, vulnerável diante das mudanças climáticas. A água hoje faz parte da pauta mundial de discussões, um bem econômico cada dia mais valorizado, e para preservar esta preciosidade é necessário o envolvimento da sociedade para que possamos implementar uma gestão integrada que visa a conservação e a preservação do Meio Ambiente e consequentemente a qualidade de vida.

Precisamos de pessoas comprometidas com o inter-retrorelacionamento de todos os Sistemas, ou seja, com a ecologia. Não podemos acreditar em oportunistas e pseudos-ambientalistas que creem que o meio ambiente é uma moda bonita - e só!

Muitos andam pregando o que não sabem na hora de agir arredam da responsabilidade por falta do compromisso com o meio ambiente ou mesmo o conhecimento. Se não cuidarmos do planeta como um todo - poderemos submetê-lo em grave risco de destruição de parte da Biosfera – no final, inviabilizar a própria vida na terra, transformando-a num deserto – ossuários e tumba da natureza!

Em 2025 iremos chegar na 30ª Conferência das Partes - Convenção- Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP 30) que será realizada no Brasil. Estarão discutindo as mesmas questões anteriores acerca das degradações que impactam o meio ambiente suscitando as mudanças climáticas.

Esperamos que as discussões na COP-30 não fiquem somente na defesa das Florestas Amazônia – mas, nas proposições compostas para a defesa dos biomas: Cerrado, Caatinga e a Mata Atlântica. Será importantíssimo que a COP-30 estabeleça as condições técnicas e institucionais estratégicas para o desenvolvimento sustentável, visando estimular o capital produtivo, de forma aperfeiçoar a utilização dos recursos naturais substituindo os métodos vorazes da destruição, por outras mais sustentáveis ecologicamente corretas e socialmente justas.

Em tempo: “A Terra está falando, ela nos diz que não temos mais tempo”. (Txaí Suruí).


MORRO DOIS IRMÃOS DE MONTES CLAROS
O morro “Dois Irmãos” de Montes Claros é parte do patrimônio tombado pelo Conselho Municipal de Patrimônio Artístico e Cultural de Montes Claros (COMPAC). Pela preservação do futuro e valorização de seu patrimônio histórico, material e imaterial.
Na bandeira do município de Montes Claros e no brasão estão inseridos sua imagem de relevância histórica, cultural e natural da cidade.
Morro significado Monte. Ambos parceiros. Claros que clareia brilhante com muita luz natural, do sol que nasce no horizonte leste pela manhã. E Oeste lado situado os dois montes onde o sol se põe no horizonte. Visto ter por fim rasgar os horizontes do nascer ao morrer. Horizontes não longínquos.
Diante da janela de minha residência tenho uma visão privilegiada de avistar os dois montes. A beleza e a harmonia do horizonte da serra tomam conta da natureza. Evidencia o estado que se acha o mundo no presente momento. Natureza idealizada pelo Senhor dos

mundos, com tudo o que ela tem de bom para nos dar e apreciar e
dela fazer bom e proveito uso, gozar deste fruto da criação.
Vislumbra
com tanta apoteose os últimos raios do sol do mês de maio, que
descamba além do horizonte se escondendo, atravessa
para traz da
espalda esquerdo do morro irmão menor. Com esta conjugação; é o
mais perfeito modelo de concisão, verdadeira ‘obra-prima’ de sublimidade.
Encanto das paisagens emitindo colorações
e muitos outros
elementos da natureza.
Minha residência situada topograficamente do terreno de aclive,
região mais alta de Montes Claros, Bairro Independência. Formato
de uma planície superior, parte entorno, na divisa muito elevada
como se estivesse subindo morro. Declividade de um zênite.
Do ponto de vista histórico e geográfico especificamente minha
residência, localiza geograficamente na parte mais alta territorialmente
do bairro, espaço aberto, que alcança olhar uma vista
panorâmica e ser observada toda a cidade, local um verdadeiro mirante,
um zênite com toda a vista do centro da cidade de Montes
Claros, visão de boa parte da serra do Parque Estadual Lapa Grande.
Uma área de proteção ambiental natural, privilegiada para contemplação
das belas paisagens, dos montes, e da formação no lado
abaixo, ‘prados’ nos entremontes, onde se encontra com a zona urbana
da Cidade.
A cidade norte mineira me acolhera com todo o afeto, como se
fosse um irmão de quem se tem muitas saudades. “Prados nos entre
montes”.
Logo, o resultado dessa junção derivada dos dois nomes próprios
relacionados, originários do Prefácio intitulado “Prados nos
entremontes” afluente concurso do estimado historiador e cronista
montes-clarense dr. Dário Teixeira Cotrim – 2021.
Etimologia: Prado; vale planície nos montes, ou seja, prado entre
os montes claros – brilhante e luminoso.

Prados nos entre montes esmeram em cheganças tamanhas,
paulistano de nascimento e montes-clarense por vivência. Revela um
símbolo social no Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.
O Morro “Dois Irmãos” tem muito mais significado quando
elevado e reconhecido por toda a natureza oferecida pelo criador
supremo, majestade divina, os bens mais preciosos um ato de amor
dos dias consagrados.
Ao cair da tarde apresso, prontamente, um pouco logo ao
poente tudo observo o morro Dois Irmãos testemunha de uma sabedoria
de Deus, harmonia do universo na esfera da natureza. Meu
plexo solar se põe em receptividade com luminosos raios do sol em
confluência com os dois morros. Se desdobram com tanta harmonia,
inspira elevados pensamentos.
O esplendor neste instante do entardecer dos meses de maio
junho, representando pensamento que avulta da terra ao céu e me
concita a dizer: “Assim é Deus”. A minha alma cai em letargia e penetra
na região da luz, e digo ao meu iniciador: “Deste modo é Deus”.
Deus dentro de nós fazendo brilhar a luz e viver em paz com a consciência
e em união a consciência divina. Nobres motivos
para dirigirmos
ao Senhor nossas preces em pequenos arroubos
de misticismo
entro no silêncio da mais íntima comunhão com Deus criador, que é
sempre o bem para todas as criaturas. Uma nova harmonia ‘em todas
as obras’ da criação. Desde o raminho de erva minúscula e o pequeno
inseto até os astros que se move no espaço, o nome se acha inscrito
de um ser soberanamente grande e sábio. Por toda a parte se nos depara
a prova de paternal solicitude. No cosmo reina uma harmonia
absoluta a beleza e a elegância se manifesta. Onde tudo é perfeito e
nada falta, grande manancial de harmonia é Deus, o logos solares.
Havendo criado os mundos, os fez e os criou de sua própria essência
e substância e semelhantes a sua imaginação. O dispensador de
todas as graças, e possuidor de todos os bens, o Senhor absoluto de
uma vontade incomensurável, mas o acrisolador do mais puro e pe

regrino amor, idealizou, criou e materializou em várias e sucessivas
rondas, o cosmos com tudo o que ele tem de bom e agradável. Vibração
de harmonia que nos desperta a íntima união com Deus Criador.
Sentimento religioso apresentando sinal de maturidade suficiente
para compreender um criador. Condições de assimilar o conhecimento
transcendente, compreendendo a unidade de Deus. Irradiação
e beleza na magnífica
visão da imagem do sol e o morro Dois
Irmãos. Símbolo da luz divina, por si já é uma verdade, símbolo da
luz universal. Pequeno desprendimento, à meditação conseguimos
transpor as zonas imediatas.
Quadros que ficam gravados em nossa
mente, sempre pelo desejo de desvendar o espaço infinito. Pus-me a
mirá-lo, querendo perscrutar o que existe ocultamente nas imagens
em seu interior e desvendar o segredo de seu misterioso e interessante
iluminação solar. O disco solar, representação solar e o reflexo,
de sua própria imagem a qual se oculta muito além deste sol; necessário
se faz saber que é com os pés apoiados na terra, mas com
o Coração, os pensamentos e os sentimentos voltados para Deus,
que o homem chegará a ser o dono e herdeiro da terra e senhor
dos elementos. Por essa razão devemos estar sempre de sobre aviso,
perscrutando a nossa alma, para animar-se de toda a imperfeição e
fazê-la moldável ao ideal superior de nossa origem divina.
Se me afigura estar no centro desta bela e radiosa luz solar
o nosso ideal – Deus – o que me satisfez a representação exotérica.
Mostra-nos e aponta-nos a chegar a ver Deus e senti-lo, dentro de
nós, isto é, como podemos chegar a receber o Santo Batismo de uma
iniciação exotérica e bela exposição e excelentes ideias e intentos.
Conforme, pois, as circunstâncias e o tempo, somos guiados aclarando
o caminho terreno que tem por iluminação a gama de todas
as cores reunidas e subdivididas, representando cada um deles os
vários caminhos pelos qual trilhamos. Também múltiplos são os caminhos
que teremos que escolher para vislumbrar estes planos ou
o caminho que nos levará de regresso à casa do pai sem, entretanto
sabermos qual seja. Em Montes Claros, grande é o número
de companheiros ideais e afetos amigos que me rodeiam e desfrutam os prazeres
que o mundo nos oferece e entrever a esplêndida
e brilhante
explanação. Prazer que nos dá tanto entusiasmo
nos desperta, sem
distinção de classe e grau de amizade. Algo sublime.
Após esta hora o dia começa a morrer. O horizonte se tinge de
cores tristes e esbatidas, lembrando uma grande e magnífica aquarela.


O morro Dois Irmãos e os prados; planície entre os montes. Generosamente os prados se espalham sobre as margens da serra num clima agradável a presença humana.

Todas as vezes que observo o cair de uma linda e radiosa tarde,
levando horas a fio, divagando e devaneando a chegada neste momento
da ora angelical. O sol descamba no horizonte, o céu se tinge
de um azul violáceo que comove e transporta-nos aos paramos angelicais.
Hora sagrada do ângelus.
A obra de Deus é colaboracionista e ninguém pode viver só
para si, como diz São Paulo. Todos fazemos parte desta grande família
que tem por Pai comum, Deus e por Mãe, a sábia Natureza.
É esta, uma rápida descrição, a interpretação da figura que
ilustra esta matéria e dar publicidade de uma gloriosa e silente hora
angelical, com o crepúsculo transmite estas páginas de amor e compreensão.


DOBRADO PARA UM HERÓI

Durante o XXXIII Encontro Nacional dos Veteranos da FEB, realizado em Montes Claros no período de 13 a 16 de julho de 2023, foi comemorado o centenário de nascimento do cabo Geraldo Martins de Santana, ocorrido no dia 29 de março deste mesmo ano. A homenagem ao herói montes-clarense morto em combate na Segunda Guerra Mundial, dia 9 de novembro de 1944, foi promovida e coordenada pelo professor Júlio César Guedes Antunes, do Instituto Federal do Norte de Minas, em parceria com o 55º Batalhão de Infantaria do Exército Brasileiro e outras entidades representativas da sociedade local. Como parte das solenidades, foi executado, pela banda de música daquele BI, o Dobrado Cabo Santana, de autoria do maestro Aldo Mineiro e Souza que, em visita ao Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, ofereceu uma cópia das partituras, para constar de nosso arquivo histórico.


BIOGRAFIA

ALDO MINEIRO E SOUSA, filho de Antônio Sobrinho e Adelaide Barbosa de Sousa, nasceu em Rio Pardo de Minas-MG, no dia 19 de novembro de 1954. Em 1958, mudou-se para Porteirinha-MG, onde, aos cinco anos de idade, começou o estudo de Música com seus pais, antes de ser alfabetizado. Ao ingressar na Polícia Militar, foi indicado para a banda de música do 10º BPM.

Após fazer o curso de cabo, comandou o destacamento de Engenheiro Dolabela. Voltando para Montes Claros, foi direto para a mesma banda de música, onde exerceu as funções de arquivista e secretário, além de tocar diversos instrumentos, de acordo com as necessidades da banda. Após ser transferido para a reserva da Polícia Militar, fundou a banda de música municipal de Montes Claros, hoje extinta. Foi convidado para fundar a banda de música do 55º BI, que se encontra em atividades até o presente momento. Já compôs 14 dobrados, 1 polaca e 1 maxixe. Atualmente, presta serviço voluntário no 55° BI, no Programa Força no Esporte-PROFESP, ministrando aulas, no intuito de formação de uma banda de música com jovens.


SANTA CASA DE ANTIGAMENTE

Hoje com 150 anos e 450 leitos, sendo 80% do SUS, a Santa Casa de Montes Claros foi criada em 21 de setembro de 1871 pelo primeiro médico da cidade, Dr. Carlos Versiani e o Cônego Antônio Gonçalves Chaves. Faz parte das Casas de Misericórdia, com fins humanitários. O endereço foi no Largo de Cima, depois chamado Praça Dr. Carlos Versiani. Mudou-se para a Avenida Coronel Prates, então Rua Jatobá, em pequena sede, depois foi construído um novo prédio que vem ampliando-se e adquirindo anexos, num tal crescimento que se tornou o hospital mais importante do norte de Minas. Foi administrada pela Congregação das Irmãs do Sagrado Coração de Maria de Berlaar, e de 1911 a 1952 teve em seu comando a holandesa Irmã Beata – Irmã Maria Beatrix - Wilheumina Lawen, uma importante figura da entidade.

Minha mãe Milena Narciso estudou medicina de 1969 a 1974, ano em que se formou pela primeira turma da FAMED - Faculdade de Medicina do Norte de Minas, pertencente à FUNM – Fundação Norte Mineira de Ensino Superior, depois Unimontes – Universidade

Estadual de Montes Claros. Logo nos primeiros anos, a ligação da FAMED com a Santa Casa foi grande, com os acadêmicos frequentando o local. Comecei o curso de medicina no ano em que minha mãe finalizava o dela. Quando Milena era chamada para fazer um parto no hospital onde trabalhou como obstetra por 28 anos, eu ia com ela, que queria incutir em mim o gosto pela obstetrícia. Cheguei a fazer muitos partos, inclusive dois deles gemelares; meu interesse cumpria as cargas curriculares e, estive por mais de um ano frequentando a maternidade de indigentes.

O termo é deplorável, mas naquele tempo as pessoas eram categorizadas ao chegar ao hospital. Nas acomodações mais simples, ficavam as pessoas do Fundo Rural e os indigentes; na outra ala os doentes do INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica e Previdência Social. Nos apartamentos ficavam os pacientes particulares. Quase não havia empresas de convênios médicos.

A Irmã Maria Thaís – Albertina Dias Correia era a diretora da Santa Casa; Irmã Veerle – Maria Juliana Wandekeybus comandava a Pediatria, Irmã Malvina a Maternidade, Irmã Irene a Enfermaria de Homens e na Enfermaria de Mulheres, houve um rodízio de freiras.

Os médicos com os quais eu me entendia nos estágios do sexto ano de medicina eram Athos Avelino Pereira, Osmar Avelino Pereira, Cláudio de Souza Lima Pereira, Geraldo Mota, Walter Lima, Paulo Denucci, Maria de Jesus Santos Rametta, Christina Peres, Milena Narciso, José Rametta, Lício Fábio Gonçalves, Ivan Lopes, Aroldo Tourinho, Konstantin Christoff, Tancredo Macedo, e outros.

Os medicamentos e materiais hospitalares ficavam em móveis metálicos brancos com a chave dependurada na porta. Caso funcionários da administração, médicos, acadêmicos, atendentes de enfermagem (quase não havia técnicos e apenas uma enfermeira no setor da maternidade, que naquela época coordenava as internações) precisassem de algum item, inclusive para usar em si mesmo, era só pegar. Os remédios controlados (não havia tarja nem prazo de validade) ficavam fechados.

Não havia AIDS – Síndrome de Imunodeficiência Adquirida, assim tudo era reutilizado após ser lavado e mergulhado em antissépticos. As agulhas ficavam rombudas e reutilizadas ad eternum. As seringas eram de vidro e fervidas para a reutilização. As luvas de látex eram lavadas, remendadas com partes de outras luvas e coladas, então, ficavam secando à janela, depois entalcadas e colocadas em caixas de alumínio com comprimidos de formol.

As parturientes vinham com a barriga e a roupa do corpo. Eram paupérrimas em seu vestidinho curto e sandálias de borracha remendada. Nada traziam, e quando a criança nascia era preciso que as freiras arrumassem uma roupinha de doações para vestir o recém-nascido.

As crianças com gastroenterite chegavam morrendo no Pronto Socorro. A doença principal era fome. Pareciam crianças da Somália ou Biafra, mas eram brasileiras. As mães miseráveis eram tão famintas quanto suas crianças. Muitas delas nem chegavam a ser internadas.

Vinham dar o último suspiro na porta do hospital. Nada havia para fazer, mas Irmã Veerle fazia mágicas dentro da sua enfermaria, com seu jeito enérgico de estrangeira que nunca aprendeu a falar o Português, operava milagres, muitos deles presenciados por mim naquela época de estudante e depois quando por lá trabalhei durante dez anos.

A Doença de Chagas grassava pelos campos. Pessoas jovens chegavam
sem fôlego e inchadas por insuficiência cardíaca ou com megacolon chagásico, sem eliminar fezes por meses. Também eram comuns os casos de esquistossomose com as apavorantes hematêmeses, os vômitos que enchiam bacias de sangue. A morte era quase certa, porque não havia endoscopia ou recurso eficaz para parar a hemorragia.

A leishmaniose cutânea era assustadora e deformante. Um jovem perdeu quase todo seu nariz e ocultava seu rosto deformado com um pano sujo de sangue. Outro homem tinha hanseníase e perdeu todo o seu pé. O técnico em enfermagem colocava o doente sentado à beira da cama, com o pé dentro da bacia de água e ia retirando os pedaços dormentes e quase soltos.

Uma mocinha tomou veneno de rato. Não havia CTI. Ficou num respirador primitivo na enfermaria por alguns dias. Pela sua boca saiam pedaços da sua garganta. Por fim morreu. Uma mulher foi mordida por cachorro contaminado e pegou hidrofobia. Não havia medicação específica. Ficava sedada trancada num quarto. Não a vi. Era impossível lidar com ela sem medo.

Athos Avelino Pereira era um médico muito humano e examinava os doentes com um respeito impressionante. Geraldo Mota era o mago do diagnóstico. Sentava-se ao lado do leito, com sua mão sobre a barriga do doente e ficava pensando. Não havia ultrassom.

De repente ele dizia: vamos abrir. É apendicite. E era. São vivências da medicina de muitos anos atrás, quando entrei nesse mundo médico.


Santa Casa em 1978

Mesa ao ar livre

Orfanato Nossa Senhora do Perpétuo Socorro


ANA VALDA XAVIER VASCONCELOS

Adeus amiga irmã, descanse em paz! Ana Valda nos legou seu exemplo de dinamismo, dedicação e alegria de viver. Inúmeros amigos e amigas lamentam sua partida.

Fostes muito cedo certamente, por ter vivido intensamente todos os momentos de sua vida.

Ana Valda Xavier Vasconcelos nasceu em 10 de julho de 1946 em Francisco Sá MG. Seus pais biológicos Jacy Rodrigues de Vasconcelos e Violeta Rodrigues Xavier. Pais adotivos: José Trindade e Maria das Dores Xavier.

Estudou o Curso Primário na Escola Eliseu Laborne, em Francisco Sá, o Curso Ginasial em Diamantina e o Magistério na Escola Normal em Montes Claros.

Iniciou sua vida profissional lecionando no Curso Noturno para adultos na Escola Estadual Eliseu Laborne. Foi Coordenadora do Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL). Com a fundação da Fafil (não sei direito o nome), hoje Unimontes, graduou-se em Ciências Naturais e passou a lecionar na Escola Estadual Tiburtino Pena até se aposentar.

Na área política foi a primeira vereadora a ocupar uma cadeira na Câmara Municipal de Francisco Sá e primeira presidente e foi conduzida à Câmara pela segunda vez. Ocupou o cargo de Secretária Municipal de Cultura, quando fez um extraordinário trabalho, ultrapassando os limites de Francisco Sá. Irrequieta, curiosa e muito sensível, transitou por todos os meios artísticos e culturais do Norte de Minas. Ao seu querido Francisco Sá, Brejo, levou e realizou diversas atrações artísticas, tais como, recitais, concertos vocais, e instrumentais, encontros de corais, óperas, musicais, teatros, música popular de variados estilos e gêneros, orquestras eruditas, bandas, artes visuais, artesanatos, grupos folclóricos, serestas, folias, festas juninas, carnavais, grupo de poesias, sem esquecer o notável Projeto Circulador das Veredas.

Participou da fundação do Coral Brejeiro, sendo sua diretora administrativa. Colaborou com o Coral Universitário da Unimontes, ano de sua fundação em 1993 a 1996, também do Coral em Cy, Coral Coração em Coração de Jesus, em Várzea da Palma e do Seminário Maior. Locutora de rádio em Francisco Sá e Montes Claros. Associada do Rotary Club de Francisco Sá-Norte e Associação das Damas de Caridade de Francisco Sá. Presidente do Elos Clube de Montes Claros, membro do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Várias outras colaborações e grande incentivadora de ações culturais, artísticas e sociais.

De Colunistas Sociais, recebeu todos os prêmios e honrarias. Há muito mais a falar e exaltar dessa grande mulher, cujo dinamismo extrapolava e atingia limites extraordinários!

Viva e reviva Ana Valda!


JOÃO ALENCAR ATHAYDE

João Alencar Athayde nasceu em Coração de Jesus no dia 02 de fevereiro de 1919 e faleceu no dia 21 junho de 1969. É o patrono da Cadeira 51 do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros – IHGMC.

Filho de Antônio Versiani Athayde e Pedrelina Alencar Nobre; neto paterno de Francisco de Souza Athayde, açoriano que emigrou para o Brasil aos 25 anos de idade, fixando-se inicialmente no Rio de Janeiro, onde se tornou comerciante e conheceu Jerônimo Fernandes, filho de Luiz Afonso Fernandes e de Mariana Versiani de Castro, montes-clarense que fazia negócios naquela cidade, em 1882, conforme o historiador Hermes de Paula. Francisco de Souza Athayde casou-se com Augusta, neta de Jerônimo Máximo de Oliveira e Castro¹, com quem teve 8 filhos: Francisco, Feliciana, Luiza, Antônio, Maria Augusta, Maria da Conceição, Jerônimo e Alda.

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¹Jerônimo Máximo de Oliveira e Castro, natural de Ouro Preto – MG, cursou Direito em São Paulo. Em Montes Claros, onde foi o primeiro juiz, casou-se com Mariana Versiani, filha de Pedro José Verciani e Angélica Cláudia Pereira Pena, com a qual teve quatro filhos: Jerônimo, Mariana, Feliciana e Sérgia. Enviuvando-se, casou-se com Joana do Carmo Orsini e Castro, natural de Contendas, atual Brasília de Minas, filha de Lourenço Orsini Grimaldi. Jerônimo Máximo e Joana do Carmo foram pais de Torquato, o qual se casou com Rita Câmara, sendo pais de Ambrosina, Elisa, Torquato, Nelson, Artur, Olinto e Luiz.
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Antônio Versiani Athayde casou-se primeiro com Pedrelina Alencar, com quem teve apenas João Alencar Athayde. Segunda vez casou-se com Alíria Prates, filha do professor Benício Antunes Prates e Olegária Barbosa Prates. Antônio e Alyria foram pais de 6 filhos: Yolanda, Antônio Augusto Athayde, Hilda, Neuza, Hildeu e Maria Aparecida.

João Alencar Athayde diplomou-se em Direito pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG; pertencia a um dos principais escritórios de advocacia de Belo Horizonte, de onde, em 1944, retornou definitivamente a Montes Claros para colaborar com seu pai, Antônio Versiani Athayde, já então um dos maiores pecuaristas da região. Atuou pouco tempo como Prefeito municipal de Coração de Jesus e, em Montes Claros, a convite de ruralistas locais, assumiu a presidência da Associação Rural de Montes Claros, quando projetou um dos melhores Parques de Exposições do país – Parque de Exposições João Alencar Athayde. Ainda nesse período, o então presidente liderou a criação e a construção da Cooperativa Agropecuária de Montes Claros e do Frigonorte. O historiador Nelson Viana acrescenta: foi também diretor da CAMIG e, como diretor da FAREMG, atual Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais – FAEMG, estava sempre presente nas suas reuniões e da Confederação Rural Brasileira e integrava o Grupo de Trabalho para a Pecuária de Corte no Norte de Minas e do Vale do Jequitinhonha.

Outras ações de João Alencar Athayde merecem destaque: foi presidente do Lyon’s Clube de Montes Claros, participando de serviços humanitários para contribuir com o bem-estar das pessoas carentes.
Participou, ainda, ativamente, sob a liderança do bispo Dom Luiz Victor Sartori, do movimento para a vinda da CEMIG para Montes Claros a fim de minimizar os problemas de energia elétrica da cidade.

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Fontes
BRASIL, Henrique de Oliva. História e desenvolvimento de Montes Claros. Belo Horizonte: Lemi, 1983.
VIANNA, Urbino de Sousa. Montes Claros: breves apontamentos históricos, geográficos e descritivos.
Belo Horizonte: Imprensa Oficial do Estado de Minas Gerais, 1916.
VIANNA, Nelson. Efemérides Montesclarenses, parte I. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti Editores, 1964. Edição fac-símile.


A ARTE RUPESTRE:
AS MARCAS E EXPRESSÕES DO HOMEM
PRÉ-HISTÓRICO NORTE MINEIRO

1. INTRODUÇÃO

A elaboração deste trabalho parte do princípio que existe a necessidade da comunidade Verdelândense1 em despertar o interesse pela preservação do Sítio Arqueológico existente em seu Munícipio, sítio este com uma gama de figuras rupestres expressas nas paredes rochosas da Serra, a qual pertence a formação da Serra Geral do Norte de Minas Gerais. Sendo composta por mais dezesseis (16) municípios, dentre ele a Cidade de Verdelândia – MG.

Descreveremos a geomorfológica do local, identificando os tipos de rochas existentes, tipos de solos presentes e descrição dos períodos geológico no qual estão inseridos este fragmento da Serra Geral. A caracterização da evolução será discutida em duas vertentes: sendo a primeira vertente com ênfase no criacionismo, onde os seres vivos têm origem divina com forma única e imutável. Já a segunda vertente discutiremos o processo evolutivo das espécies proposto por Darwin, fazendo uma correlação com outros autores que se baseiam em experimentos genéticos com a utilização do gene FOXP2, sendo este gene responsável diretamente pelo desenvolvimento do canto das aves e da voz humana. Deixando a percepção que em algum ponto do passado remoto houve uma ramificação das espécies.

As Figuras Rupestres serão analisadas e caracterizadas de acordo as suas formas geométricas, tipo da cor, formação de misturas para produção de tintas. Será realizado medição para verificar a posição em que o homem pré-histórico estava produzindo as pinturas. Para tais comprovações foi realizado visitas no Sitio Arqueológico por diversas vezes visto que o local é de difícil acesso. Nestas visitas, foram feitas fotos das figuras, (ver fotos) medições com o objetivo de verificar a altura das figuras, com relação ao solo. Os materiais utilizados foram; fita métrica, câmera de alta resolução, caneta, papel, programa Google Earth Pro, analise de livros, periódicos, GPS Geodésico e pesquisa em sites eletrônicos, para a realização deste trabalho.

2. DESENVOLVIMENTO

1. CARACTERIZAÇÃO GEOMORFOLÓGICA

O município de Verdelândia – MG, está localizado na mesorregião do Norte de Minas Gerais², incluído na micro região de Montes Claros. Às margens do rio Verde Grande afluente do Rio São Francisco, com acesso a região pela MG – 401 que liga o Município a Janaúba – MG (Sul) e Jaíba – MG (Norte). Sendo o município constituído por um fragmento da Serra Geral. Local este onde se desenvolveu o presente trabalho.

A formação geológica do sitio pesquisado é pertencente a Província São Francisco³, pertencente ao Éon Proteozóico a Era Neoproteozóica, Período: Criogêniano que varia entre os 850.000,000 à
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2. Coordenadas geográficas: 15° 35’ 20” S, 43° 36’ 10” O.
3. Segundo CPRM: SERVIÇO GEOLÓGICO DO BRASIL.

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650.000,000 milhões de anos, descritos pelas sigas NP3tm (CPRM, 2023), pertencente ao Grupo Bambuí, Formação Três Marias (tm): constituído de arcóseo , siltito e argilito . Também composta por grupo NP2bp (CPRM, 2023), NP2LJc (CPRM. 2023), Formação Lagoa do Jacaré com constituição de calcário, calcarenito, marga, siltito e rocha ígnea, descritos na sequência.

Calcário: rocha sedimentar constituída de carbonato de cálcio, pode ter presença em outros compostos. Quando submetida ao metamorfismo, passa a denominar-se mármore, com cor cinza escura. Calcarenito: rocha calcárica composta predominantemente por detritos carbonáticos. 50% granulometria areia, fragmentos oóide, conchas, corais, intraclastos calcáricos, fragmentos mais antigos, cor predominante clara. Marga: solo cimentado resultante da mistura de um solo argiloso com carbonato de cálcio, 35% a 60% de argila. Cor clara. Siltito: rocha sedimentar clástica formada pela deposição e litificação de sedimento com grãos de tamanho silte, intermediários entre a areia e a argila. Cor clara. Rocha ígnea. Rocha magmática ou rochas eruptivas. A formação da rocha ígnea vem do resultado da consolidação devido ao arrefecimento do magma derretido. Com cor escura preta. (WIKIPÉDIA. 2023).

Mapa 1: Carta Geológica do Brasil ao Milionésimo: Brasília. (Recorte adaptado)

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4. Arcóseo. É um arenito com quantidade relativamente alta de feldspato. No geral, os arenitos são constituídos apenas por grãos de quartzo (quartzo – arenito), mas quando apresentem feldspato em grandes quantidades, passam a serem denominados arcóseos ou arenitos feldspáticos. (Didático, 2023).
5. Siltito. É uma rocha sedimentar clástica. (WIKIPÉDIA, The Free encyclopedia, 2023).
6. Argilito. Rocha compactada produzida pela compressão de argilas e clivando-se segundo planos de estratificação. É também chamada argila xistosa. O argilito é uma rocha mais dura que as argilas comuns ou os folhelhos, e mais mole que as ardósias. (Guerra, 2011).
7. Oóide. É uma concreção pequena, esférica elipsoidal de carbonato de cálcio que geralmente se formou em torno de um núcleo como um fragmento de casca ou um grão de quartzo. A palavra oóide tem origem grega e significa ovo. (WIKIPÉDIA, The Free encyclopedia, 2023).

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Fonte: Disponível em https://rigeo.cprm.gov.br/xmlui/handle/ doc/2385. Acesso em 20 de fevereiro de 2023.

Arcóseos acinzentados, quando frescos, localmente avermelhados, maciços, com estratificações planas e com estratificações cruzadas de porte métrico. A granulometria é variável com clastos esparsos tamanho seixo, subarrendados, de quartzo e quartzitos suborndiandamente ocorrem siltitos e argilitos laminados cinza esverdeados a amarelados ou avermelhados quando alterados. Toda a unidade é rica em micas detríticas. Sigla NP3tm. Disponível em: https://geoportal. cprm.gov.br/geosgb/. Acesso em 21 de fevereiro de 2023.

1.1 PROCESSO EVOLUTIVO HUMANO UM BREVE HISTÓRICO.

Partindo do pressuposto de que há varias teorias evolutivas para serem discutidas na contemporaneidade, optamos por citar apenas duas e discorrer sobre uma delas com uma maior ênfase. Sendo a primeira teoria: o Criacionismo onde todos os seres vivos foram criados em pôr um ser superior “Deus”, no qual todos permanecem de forma imutáveis até o presente. De acordo com (Braick, 2010). Teoria está defendida por muitos religiosos.

Segundo o livro do Gênesis, em seu capitulo Primeiro e versículos 24, 25, 26 e 27, está descrito: ”E disse Deus: produza a terra alma vivente conforme a sua espécie; gado, repteis, e bestas-feras da terra conforme a sua espécie. E assim foi. E fez Deus as bestas-feras da terra conforme a sua espécie, e o gado conforme a sua espécie, e todo o réptil da terra conforme a sua espécie. E viu Deus que era bom. E
disse Deus: façamos o homem, conforme à nossa semelhança. E criou Deus o homem à sua imagem; à imagem de Deus o criou; macho e fêmea.” (Gn 1).

Contrapondo a teoria do criacionismo apresentamos a segunda teria: o evolucionismo de Darwin, que vem afirmar que o homem e os outros seres vivos se originaram de organismos mais simples, sofrendo assim uma transformação ao longo do tempo, conforme (Braick, 2010).

Para (Amabis, 2010), todo ser vivo em algum ponto no passado, compartilha o mesmo ancestral e a sobrevivência desses indivíduos e o seu sucesso reprodutivo depende de sua adaptação no meio em que estão inseridos. Parafraseando Darwin.

Amabis, 2010. Ainda descreve quatro fatos observados na natureza por Charles Darwin.

Fato 1: as populações naturais de todas as espécies tendem a crescer apidamente, pois o potencial reprodutivo dos seres vivos é muito grande. Isso pode ser erificado, por exemplo, quando se criam determinadas espécies em cativeiro: garantindo condições ambientais favoráveis ao desenvolvimento, sempre se observa elevada capacidade reprodutiva. Fato 2: o tamanho das populações naturais, a despeito do seu enorme potencial de crescimento, mantém-se relativamente constante ao longo do tempo, sendo limitada pelo ambiente (disponibilidade de alimento e de locais de procriação, presença de inimigos naturais e parasitas). Fato 3: os indivíduos de uma polução diferem quanto a diversas características, inclusive aquelas que influem na sua capacidade de explorar com sucesso os recursos naturais e de deixar descendentes. Fato 4: grande parte das características apresentadas por uma geração são herdadas dos pais. (Amabis, 2010. p. 148).

A teoria evolucionista de Darwin foi formulada durante os anos de 1831 a 1836, em viagem no navio Britânico HMS Beagle, ao qual tinha o propósito de observar e catalogar novas espécies na América do Sul. (Quammen, 2009). Inclusive com passagem pela Amazônia.

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8. Charles Darwin: (...foi um naturalista, geólogo e biólogo Britânico. Ele estabeleceu a ideia de que todos os seres vivos descende de um ancestral comum, argumento agora amplamente aceito e considerado um conceito fundamental no meio cientifico. Propôs a teoria de que os ramos evolutivos são resultados da seleção natural e sexual...) Disponível em https://pt.wikipedia.org/ wiki/Charles_Darwin. Acesso em 22 de fevereiro de 2023
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(Grifo do autor). Nesse período Darwin escreveu A Origem das Espécies,
cujo título completo era Da Origem das Espécies por Meio da Seleção Natural, ou a Preservação das Raças Favorecidas na Luta Pela Vida. (Quammen, 2009). Nesse postulado Darwin descreve as suas observações e define a sua teoria: a seleção natural, pela qual os indivíduos mais bem adaptados de cada população sobrevivem e deixam descendentes, ao contrário dos menos adaptados.

Figura 2: Representação de uma hipótese de filogenia (Recorte adaptado).

Foto. Autor. Fonte: (AMABIS, 2010. p. 210).

Atualmente têm sido feitas comparações detalhadas entre ácidos nucleicos e proteínas dos mais diversos seres vivos. No caso de espécie humana, os resultados das análises comparativas mostram que, de fato, os chimpanzés são mais semelhantes a nós, do ponto de vista molecular, que qualquer outro ser vivo atual. (Amabis, 2010. p. 203).

Para (Braick, 2010), o evolucionismo tem suas bases em pesquisas genéticas e nos estudos dos fósseis , sendo a teoria que a comunidade cientifica tem maior aceitação na contemporaneidade.

Em A Origem Das Espécies, Darwin cuidou de não fazer nenhuma menção à maneira como a sua teoria iria estender tal semelhança de modo a incluir os seres humanos. Uma década depois, porém, ele enfrentou a questão em A Descendência do Homem. Ele ficaria maravilhado ao saber que certo gene, o FOXP2, é crucial no desenvolvimento normal tanto da fala das pessoas como do canto das aves. Em 2001, Simon Fisher e seus colegas da Universidade de Oxford descobriram que uma mutação nesse gene ocasiona defeitos de linguagem nas pessoas. Mais tarde, eles demonstraram que, nos camundongos, o mesmo gene é necessário para o animal cumprir sequencias de aprendizado de movimentos rápidos. Em seguida, Constance Scharff, da Universidade Livre de Berlim, comprovou que esse mesmo gene se torna mais ativo em uma região do cérebro de um filhote de diamante- mandarim Taeniopygia guttata na época em que a ave começa a cantar. Com engenhosidade, a equipe de Constance infectou o cérebro desses mandarins com um vírus especial, portador de uma cópia invertida de parte do gene FOXP2, bloqueando assim a sua expressão natural. Em consequência, as aves cantavam de modo mais variado que o normal e não conseguiam imitar o pior dos adultos. (Ridley, 2009).

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9. Fóssil. Resto ou vestígio de seres orgânicos (vegetais ou animais) que deixaram suas pegadas na rocha da crosta terrestre. Constituem a ampulheta geológica. A idade das camadas não é uma idade absoluta em anos, o que seria impossível, mas uma idade relativa, ou seja, o lugar ocupado pela camada em relação às outras. Nas camadas mais recentes, as espécies de fósseis são idênticas às espécies atuais, enquanto nas camadas mais antigas são bem diferentes, a tal ponto que podemos dizer que são tão mais diferentes quanto mais antigo for o fóssil. Graças aos fósseis podemos identificar, por exemplo, a idade de um terreno na América do Norte, na Europa, na Ásia, na Austrália etc., e dizer qual a sua posição na coluna geológica. (Guerra, 2011).
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Segundo Enard, no artigo Evolução Molecular do FOXP2, ele demonstra que tal gene contem alterações e codificações de aminoácidos padrões com polimorfismo nos nucleotídeos, ele também sugere que este gene foi alvo da seleção durante o processo evolutivo humano.

1.2 MARCAS E EXPRESSÕES

A arte rupestre é assinalada no Brasil desde o século XVIII, sendo os sítios de Minas Gerais mencionados por Saint Hilaire e Piter Lund nos primeiros anos do século seguinte. Segundo (Proust, 1980).

As pinturas rupestres são encontradas em superfícies rochosas ao ar livre e nas paredes das cavernas. Estes desenhos representam animais e cenas de caçada. Sendo provável que estas pinturas tenham sido utilizadas com um tipo de linguagem que favorecia a comunicação entre os diferentes tipos de grupos de humanos. Conforme Braick, 2010.

O homem primitivo do Norte de Minas, a exemplo de outros, procurou deixar suas ideias desenhadas nas paredes de determinados abrigos e grutas. São o que nós chamamos de pinturas rupestres, inscrições rupestres – designações mais populares – pictogravuras, pictogramas ou simplesmente sinalizações rupestres, que englobam tanto as inscrições como as pinturas. (Campos, 1983, p. 71).

As Marcas e Expressões do Homem Pré-Histórico Norte Mineiro está presente em diversos municípios mineiros, como: Varzelândia-MG, Montalvânia-MG, Januária-MG, Montes Claros-MG, Coração de Jesus-MG, Brasília de Minas-MG, Janaúba-MG, entre outros não citados. Verdelândia-MG é um caso atípico, pois não foi encontrado descrições na literatura pesquisada relatando figuras rupestres neste município, é encontrado somente uma descrição de duas cavernas a margem da MG – 401, descrita por (Campos, 1983). “Essa arte primitiva se manifestou através de padrões gráficos parcialmente decifrados, para expressar ideias e valores de sociedades hoje extintas” (CETEC, 1982). “O que faz com que haja estilos diferentes na expressão gráfica é que as regras gerais são praticadas de modos diferentes e ligadas a um contexto especifico pelo grupo cultural que as realiza”, conforme (LINK, 2008).

No sitio arqueológico pesquisado foram encontradas figuras nas formas geométricas, traços, traços duplos, traços triplos, pontos escalonados, figuras representativas humanoides, figuras representativas de plantas entre outras. Grifo do autor.

Segue abaixo fotos destas figuras.

“No sentido estético de ordem superior, pode dizer-se que a arte rupestre é a aplicação das qualidades ou faculdades superiores do homem e da ciência, para a realização daquilo que se concebeu, imaginou ou projetou”. (DOS SANTOS JUNIOR. 2020). Nesse sentido observa-se que existia a necessidade de se expressar ou marcar o ambiente de forma expressiva com um indicativo de posse ou demarcação.

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10. Fotos feitas pelo autor. Latitude,15°32’46.19”S, longitude, 43°35’20.39”O.
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Os motivos geométricos – os mais confusos de todos – são, de uma maneira geral, os seguintes: linhas retas, horizontais, verticais, paralelas, interrompidas (ou quebradas), simples ou duplas. Tais linhas muitas vezes são cortadas em diversos pontos por traços menores, dando uma ideia de escadas. Há também círculos, simples ou concêntricos; espirais; retângulos; e triângulos. (CAMPOS, 1983. p. 73).

O homem primitivo em seu processo evolutivo demonstra uma habilidade extraordinária com o manuseio da química, pois para pintar a rocha e demarcar seu espaço era necessário um conhecimento de misturas, neste caso especifico percebemos que essa sociedade dominava essa técnica. Como descreve Cotrim , em sua obra “A Arte Rupestre na Pré-história do Médio São Francisco”.

A cor utilizada pelos homens pré-históricos nas épocas mais antigas (entre 29.000 e 9.000 anos atrás) era unicamente o vermelho ocre, que era obtido da hematita (oxido de ferro). As diferentes tonalidades, como o vermelho claro, médio e o escuro da cor vermelha são, tão somente, o resultado da concentração de corante. Essas tonalidades diferentes eram obtidas graças ao aquecimento do oxido de ferro. COTRIM, 2018. p.73).

Para Cotrim, houve uma evolução a partir de 9.000 anos atrás, onde o homem pré-histórico, começou a utilizar novas cores, fazendo novas misturas e obtendo as cores amarela, branca, cinza e a cor preta. Tendo como base o uso de minerais existentes no solo Norte Mineiro em grande abundancia. Tais como: a goetita, a gipsita, a hematita dentre outros.

A área prospectada na referente pesquisa é de aproximadamente 500 metros de cumprimento, há uma altitude de 650m (Google Earth Pro), tendo em vista que, não foi possível ainda registrar todas as figuras, visto que a área que foi habitada é muito grande,

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11. Cotrim. Dário Teixeira Cotrim é um advogado, memorialista e pesquisador brasileiro, membro de diversas Academias de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, do qual foi presidente. Fonte: Wikipédia.
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sendo necessário dar sequência nos trabalhos para obter novos registros. Estas marcas e expressões como registro pré-histórico deixado por nossos antepassados vem comprovar que houve habitação
neste local, sendo esta área perfeita para moradia, pois na altitude supracitada, existe pequenas cavidades, que conferem proteção e abrigo, logo abaixo está o Rio Verde Grande, com grade potencial e oferta de água e peixe, ao Sul do outro lado da Serra Localiza-se a Lagoa do Sapé riquíssima com sua fauna e flora abundante.

3. CONCLUSÃO

Portanto, no presente trabalho foi verificado que nas cavidades rochosas há presença de fragmentos rochosos e placas rochosas que não foram deslocadas do teto das cavernas, visto que não há indícios de desmoronamento, pois os tetos analisados têm formação uniforme. Tais fragmentos e placas tem formas geométricas variadas e tamanhos diferentes. Cavidades estas que medem entre três metros a dez metros de extensão. Local perfeito para a habitação e proteção do grupo, certamente estas placas eram utilizadas para fechar as entradas das cavernas no período noturno, protegendo os grupos de predadores e de possíveis inimigos.

Conclui-se, que as figuras pesquisadas in locus fazem parte de uma nova descoberta, pois são únicas, sendo que não há superposição nas figuras. Entende-se ser de um povo que exerceu domínio na região por muito tempo. Na bibliografia pesquisada não foi encontrado figuras semelhantes.

Em se tratando de processo evolutivo, foi verificado que as pinturas nos paredões rochosos foram feitas por indivíduos na posição ereta. Ao analisar a ação do intemperismo no local percebe-se claramente isso, está exposto a fragmentação das rochas e o deslocamento das mesmas. Foi encontrado a base inicial onde inicia-se as pinturas bem próximo das cavidades. Fizemos medições para com provar a possível posição do artista na construção da Arte Rupestre; a primeira medição a figura encontra-se a 3,20 metros de altura em relação a base da rocha, nós direcionamos a noroeste e deslocamos 100 metros, encontramos mais figuras, realizamos a medição, estas estão a uma altura de 3,10 metros. Identificamos que há um alinhamento das figuras com relação a base da rocha. Com essas medições concluímos que seria impossível para uma pessoa “em tempos modernos” ou hominídeo “no passado remoto” fazer tais pintura a essa altura, sem estar apoiado ou em cima de uma base solida.

Constata-se que o “Homem Verdelândense” (Grifo do autor), tinha uma capacidade cognitiva diferenciada, tais como: o conhecimento em química, produzindo misturas de elementos para a formação de tintas, capacidade em se expressar com formas geométricas, traços, e outros elementos presentes nas rochas. Capacidade para identificar o local perfeito para a habitação do grupo, com condições plenas para a sobrevivência; presença de água em abundância, alimento, madeira para produzir artefatos, rochas com as características para fazer o lascamento e produzir ferramentas, que seriam utilizadas na caça, pesca e proteção do grupo.

As marcas e expressões deixadas na rocha é uma forma de se expressar culturalmente, marcação do tempo, períodos de luas ou rituais realizados pelo grupo. Servindo com identificação ou demarcação de posse do local.

Estre trabalho não esgota o tema e sim abre um leque para novas pesquisas na área da arqueologia no Município de Varzelândia-MG.


RESENHA DE “O POVO BRASILEIRO:
A FORMAÇÃO E O SENTIDO DO BRASIL”,
DE DARCY RIBEIRO

RIBEIRO, Darcy. O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil. 2. ed. São Paulo: Companhia das Letras, 1995.

A obra O povo brasileiro: a formação e o sentido do Brasil, de Darcy Ribeiro, publicada em 1995, aborda a história da formação étnica e cultural do povo brasileiro, com especial enfoque nos povos indígenas. O livro está estruturado em cinco partes, nomeadamente “O novo mundo”, “Gestação étnica”, “Processo sociocultural”, “Os Brasis na História” e “O destino nacional”, sendo composto por 17 capítulos e totalizando 480 páginas.

No prefácio da primeira edição, lançada em 1995, o autor montes-clarense descreve a redação do livro como seu maior desafio, tendo dedicado 30 anos à sua elaboração. Ribeiro argumenta que a obra unifica uma teoria baseada em dados empíricos sobre as classes sociais no Brasil e na América Latina, além de oferecer uma tipologia das diferentes formas de exercício do poder e de militância política.”

O novo mundo

Os índios Tupi se estabeleceram ao longo da costa Atlântica e Amazônica, formando o que conhecemos como a ilha Brasil. Inicialmente, não eram considerados uma nação, mas sim um conjunto de grupos com o mesmo dialeto. A chegada dos europeus introduziu uma nova dinâmica, caracterizando-os como brutos e doentes, que escravizaram os índios, tomaram suas terras e comercializaram as relações de produção, unificando língua e costumes e dando origem ao povo brasileiro.

Antes da chegada dos europeus, aproximadamente 1 milhão de índios viviam na costa, divididos em várias tribos que praticavam a agricultura, domesticavam plantas como a mandioca, milho, feijão e tabaco. Eles enfrentavam períodos de escassez e abundância e se estabeleciam em locais com abundante caça e pesca para garantir sua sobrevivência.

Os Tamoios, aliados dos franceses na baía, lutaram contra os portugueses, mas foram derrotados pelas tropas indígenas jesuítas após várias batalhas. As tribos frequentemente guerreavam entre si, disputando os melhores locais para viver, e, em algumas ocasiões, recorriam à antropofagia com os inimigos derrotados.

A chegada dos europeus trouxe mudanças significativas, incluindo a urbanização crescente e a influência da Igreja Católica e do Conselho Ultramarino nas decisões. A expansão europeia, impulsionada por novas tecnologias, como velas de barco, bússolas e canhões, levou ao surgimento do mundo eurocêntrico e das correntes religiosas católica e protestante.

A bula “Inter Caetera” estabeleceu que os indígenas não eram escravos e conferiu direitos aos latifundiários. A chegada dos europeus foi vista com espanto pelos índios, que não sabiam se eram benéficos ou maléficos. As doenças introduzidas pelos europeus causaram estragos nas populações indígenas, levando à extinção de muitas tribos. No entanto, os índios resistiram à imposição dos eu ropeus, optando por lutar ao lado deles em vez de retornar às suas rotinas tribais. Os índios acreditavam que tudo na natureza era dado por Deus e viam os europeus como pecadores e exploradores.

Enquanto os europeus eram forçados a trabalhar, visando o lucro, os índios produziam artefatos por prazer e para demonstrar sua habilidade. A chegada dos europeus trouxe doenças como a varíola, que dizimou a população indígena.

Os índios passaram de uma visão inicial de inocência e simplicidade para o canibalismo, devido às influências e conflitos com os europeus. A colonização do Brasil levou ao desenvolvimento de uma sociedade mestiça, inicialmente dominada pelos portugueses e baseada na exploração de recursos naturais e escravidão.

O processo civilizatório, aliado à revolução tecnológica, possibilitou a expansão das navegações e a formação de impérios mercantis. A colonização resultou em novas formações socioeconômicas e configurações culturais, com a população indígena contribuindo para o conhecimento europeu e o desenvolvimento de grandes empresas por meio das navegações.

No Brasil, a colonização portuguesa teve um impacto profundo, resultando em uma sociedade mestiça e urbana. O país se desenvolveu
como uma nação conhecida pela miscigenação, em contraste com as sociedades tribais que, em sua maioria, não sobreviveram à colonização.

Gestão étnica

O cunhadismo foi uma instituição social crucial na formação do povo brasileiro, permitindo a incorporação de estrangeiros às comunidades indígenas. Os índios tinham um sistema de parentesco classificatório que englobava todos os membros de sua tribo. Os europeus que chegaram à costa podiam entrar em casamentos de cunhadismo e, assim, serem integrados às colônias indígenas. Esse sistema também servia para fazer prisioneiros de guerra, que poderiam ser resgatados em troca de mercadorias em vez de serem mortos.

O cunhadismo desempenhou um papel fundamental na formação da numerosa população mestiça que ocupou o Brasil, resultando na criação de comunidades mestiças. Os europeus adotaram costumes indígenas, como a perfuração de orelhas e boca, a participação em rituais e a aprendizagem da língua e cultura indígenas. Isso levou à formação de uma sociedade mista que trabalhava na agricultura e trocava mercadorias. A coroa portuguesa, em busca de seus interesses, implementou o sistema de donatarias, impulsionando a economia colonial. Os donatários enfrentaram desafios, incluindo conflitos com os indígenas.

O primeiro governador chegou ao Brasil em 1549, trazendo civis, militares, jesuítas e outros. No entanto, em 1550, também chegaram à Bahia pessoas que se autodenominavam “moços perdidos”, causando tensões na convivência.

A coexistência igualitária do cunhadismo deu lugar a uma comunidade mais disciplinada e religiosa, com os jesuítas tentando conter os excessos eróticos. Os registros mostram um aumento na escravidão indígena, que predominou durante o primeiro século de colonização. Os atos administrativos proibiam o cativeiro, mas os índios podiam ser escravizados se fossem capturados. Os brasilíndios ou mamelucos, filhos de pais brancos e mães índias, desempenharam um papel importante no processo de colonização, principalmente em São Paulo.

Os mamelucos eram considerados servos e impositores da dominação, embora fossem heróis civilizadores para alguns. O processo de formação das comunidades neo-brasileiras levou à integração de diferentes grupos em uma única identidade étnica brasileira.

O idioma Tupi foi amplamente falado pelos neo-brasileiros até o século XVIII. A substituição pelo português como língua materna foi gradual.

A formação dos povos americanos e sua relação com a revolução industrial apresentam desafios para a explicação. Alguns povos progrediram rapidamente, enquanto outros se atrasaram na modernização.

O Brasil começou a se identificar como uma nação com base em suas diferenças em relação a Portugal e a outros grupos étnicos. Os brasilíndios, mestiços na carne e no espírito, foram os primeiros a se reconhecer como brasileiros.

A economia brasileira estava centrada na produção de açúcar e gado. Os brancos colonizadores aumentaram principalmente devido à multiplicação de mestiços e mulatos. Os negros cresceram devido à introdução contínua de escravos, reposição de mão de obra e aumento do estoque disponível.

Processo sociocultural

A revolta dos Cabanos teve componentes de conflito de classes e de raças, assim como a de Palmares, que focou mais na luta racial. Já a revolta de Canudos envolveu três ordens de conflito: classes sociais, raça e religião.

Conflitos interétnicos entre tribos indígenas existiram historicamente, mas muitas vezes não tiveram consequências significativas. As lutas surgiam quando brasileiros capturavam índios como escravos, e os índios preferiam a morte à escravidão.

A Guerra dos Cabanos, de caráter genocida, tinha como objetivo eliminar as populações caboclas, sendo um exemplo evidente de confronto interétnico.

Conflitos raciais eram comuns, com as três principais matrizes da sociedade (indígena, branca e negra) frequentemente em desacordo devido a preconceitos raciais. Os negros, ao chegarem ao Brasil, lutavam por igualdade racial, já que enfrentavam opressões e não se integravam plenamente ao resto do mundo.

Outro motivo de conflito era a luta de classes, com brancos privilegiados donos dos meios de produção e negros trabalhadores enfrentando desigualdades.

No Brasil, quatro ordens de ação empresarial surgiram: a empresa escravista, focada na produção de açúcar e mineração, com mão de obra africana; a empresa comunitária jesuítica, baseada no trabalho servil dos índios; e a multiplicidade de microempresas que produziam alimentos e gado para subsistência.

As cidades começaram a se formar, com Lisboa sendo a primeira e Bahia, Rio de Janeiro, João Pessoa, São Luís, Cabo Frio, Belém e Olinda surgindo nos primeiros séculos. A vida urbana se interiorizou no terceiro século.

As cidades eram centros de dominação colonial criados pela Coroa, com uma classe alta composta por funcionários, militares, sacerdotes e negociantes. Havia também uma camada intermediária de brancos e mestiços livres.

A economia extrativista levou à criação de pontos de exportação na Amazônia, com uma rede de vilas e cidades auxiliares.

O processo de industrialização e urbanização estava interligado, com a industrialização proporcionando empregos urbanos. No Brasil, vários fatores, como o monopólio da terra e a monocultura, levaram ao inchaço das cidades e à migração da população rural. A sociedade brasileira tem divisões profundas entre classes ricas e pobres, refletidas na segregação social e cultural entre elas.

A “braquiação” dos brasileiros, o processo pelo qual mestiços euro-indígenas se tornaram mais claros, é uma explicação para a discrepância no desenvolvimento populacional entre brancos e negros. As diferenças sociais e a natureza social são os principais fatores que separam as duas raças.

A imigração europeia foi um fator importante na população brasileira, com cerca de 5 milhões de imigrantes entrando no país no último século.

A transfiguração étnica é o processo pelo qual os povos nascem, se transformam e morrem. Envolve quatro instâncias: biótica, ecológica, econômica e psicocultural, que podem resultar em mudanças radicais nas populações.

Os Brasis na História

Segundo a perspectiva de Darcy Ribeiro, a história cultural do Brasil pode ser dividida em quatro principais modos de existência:

1. Brasil Crioulo: Inicialmente centrado na economia açucareira, esse modo de vida abrangia a produção de açúcar, comércio e agricultura. O açúcar, que antes era um produto exótico, tornou-se mais comum à medida que sua produção cresceu e seu preço caiu. As principais características das plantações de açúcar incluíam vastas extensões de terra, cultivo intensivo de cana-de-açúcar, concentração de mão de obra, alto investimento financeiro e foco na exportação.

2. Brasil Caboclo: Nesse modo de existência, a tecnologia indígena foi preservada, com comunidades surgindo ao redor de centros de autoridade e comércio. Os colonizadores enfrentaram limitações em suas perspectivas de riqueza devido ao crescimento das reduções indígenas.

3. Brasil Sertanejo: Essa vasta região semiárida apresentava vegetação escassa e pastagens secas. A população sertaneja se especializou na criação de gado, com uma cultura fortemente marcada por essa atividade, dispersão geográfica e traços distintos em seu modo de vida.

4. Brasil Caipira: A população de São Paulo se adaptou a uma economia de pobreza, sem grandes plantações de açúcar ou escravidão negra. Essas circunstâncias a tornaram mais propensa a tarefas desesperadas e saques do que à produção. Esse modo de vida refletiu as regressões sociais do processo deculturativo.

Cada uma dessas áreas culturais tinha características distintas, o que resultou em uma notável heterogeneidade cultural no Brasil, tanto entre elas como em relação a outras regiões do país. Isso destaca a riqueza e a complexidade das influências culturais que moldaram a identidade brasileira ao longo da história.

O destino nacional

Ao longo de sua história, o Brasil atravessou diversos estágios de desenvolvimento que ajudaram a moldar sua identidade única: No início, o país viveu a “Era da Feitoria Escravista”, uma fase tropical onde a economia girava em torno das plantações de cana-de-açúcar e dependia fortemente do trabalho escravo, envolvendo índios nativos e negros trazidos da África.

Em seguida, entramos na fase do “Consulado e Diversidade Étnica”, na qual a população mestiça, formada por descendentes de africanos e indígenas, se viu subjugada como uma classe trabalhadora em sua própria terra. A economia cresceu rapidamente, muitas vezes além das necessidades do mercado externo, enquanto a força de trabalho enfrentava condições precárias e negligência em relação a seu bem-estar.

Durante esse período, a população mestiça, conhecida como mulatos e caboclos, uniu-se pela língua portuguesa e desenvolveu uma visão compartilhada do mundo, contribuindo para a formação da etnia brasileira e a integração do país como uma nação. No entanto, muitos imigrantes estrangeiros demonstraram desprezo e falta de compreensão em relação à população pobre do Brasil, frequentemente atribuindo erroneamente sua pobreza a fatores raciais. Isso incluiu estereótipos relacionados à preguiça, que foram indevidamente atribuídos a índios e negros, bem como às classes dominantes.

O Brasil difere da África, onde ainda ocorre um processo de europeização e desenvolvimento de liderança própria. Hoje, o Brasil enfrenta o “desafio tecnológico”, buscando dominar tecnologias que o tornem uma potência econômica autossuficiente, reduzindo sua dependência de terceiros para alcançar o progresso econômico e social.


MANOEL MESSIAS OLIVEIRA

Natural de Porto Novo, (Santa Maria da Vitória), Bahia, delegado de polícia aposentado, 79 anos, nos deixou com todas as nossas saudades em julho de 2023, agora no Cemitério Parque dos Montes, onde foi sepultado com grande acompanhamento, depois de velado durante um dia inteiro na Loja Maçônica Deus e Liberdade, em que era maçom atuante e notável historiador, autor de “Maçonaria Simbólica -Manual do Orador” e “Loja Maçônica Pureza 250”. Foi também membro da Loja Maçônica Pureza, a mais antiga loja maçônica de Montes Claros.

Manoel Messias Oliveira também autor dos importantes romance“Janaína”, “Madalena”, “Na casa do major”, Os peregrinos” e “Arraial do Porto Novo do Corrente” e do livro “A Crise Hídrica”, sobre a seca, um dos maiores problemas do semiárido brasileiro. Foi integrante do grupo de fundadores da AMALENM, Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas e do Instituto Sócio Cultural dos Policiais Civis do Norte de Minas, do qual foi o primeiro Presidente. Membro atuante do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros (Cadeira 60).

Estudioso em tempo integral, tornou-se perfeito em redação no próprio trabalho em processos da Polícia Civil, sempre buscando, com rigor, a realidade dos fatos. Suas lembranças de menino do interior da Bahia, margem do São Francisco, fizeram-no um conhecedor profundo do vocabulário regional, e, por essa razão, pôde contribuir com a TV Globo no uso das palavras da novela “Velho Chico”, que marcou saudades.

Veio para Montes Claros ainda jovem. Ingressou na Polícia Militar e foi promovido ao posto de sargento. Depois de alguns anos, graduado em Direito pela Unimontes, deixou a corporação, fez concurso para delegado de Polícia Civil e foi aprovado. Com seu jeito simples de ser, ele atuou com transparência, cumprindo sua missão de contribuir com a segurança pública, através da Polícia Judiciária, atuando por vários anos nas Delegacias de Trânsito, Acidentes de Trânsito, Crimes Contra a Pessoa e foi também delegado regional adjunto da PC no Norte de Minas.

Manoel Messias deixa a esposa Irene Lopes de Oliveira com quem era casado há mais de 60 anos, os filhos, o médico Alysson Guilherme Lopes de Oliveira, a bióloga Gisele Lopes de Oliveira, e a advogada Mayane Lopes de Oliveira, residente em Brasília-DF, além de quatro netos. Ele residia há anos no bairro Santa Rita.


O DIA 6 DE FEVEREIRO DE 1930

O dia 6 de fevereiro de 1930
está marcado a ferro e fogo na memória de Montes Claros

Há datas que marcam a família, cidade, província ou estado, uma nação, um povo. Seis de fevereiro de 1930 foi aquele dia que assinalou a cidade de Montes Claros, no distante sertão mineiro, chamando atenção do Brasil. A cidade já gozava de prestígio na política e na economia, principalmente com o início de operação da rede ferroviária, a Estrada de Ferro Central do Brasil, em 1926.

Crescera com a chegada de famílias de várias regiões do país. Renascera a esperança de futuro luminoso, de progresso municipal e de riqueza para os que lá se instalaram. Repercutiam ainda os reflexos do governo Artur Bernardes, em suas escaramuças com o Palácio do Catete. Com Washington Luís na presidência da República, acentuaram-se os ânimos políticos, enquanto se expunha à consideração do eleitorado a proposta de poder da dupla café-com-leite alternando-se a chefia nacional: em quatriênio um paulista, um mineiro a seguir.

Controvertido e prepotente, Washington Luís apresenta Júlio Prestes, de São Paulo, para sucedê-lo, com eleição marcada para 1º de março de 1930. É quando se apresenta à cena o presidente mineiro Antônio Carlos, com credenciais históricas, opondo-se tenazmente ao Catete.

Formou-se, então, a Aliança Liberal com apoio do Rio Grande do Sul e Paraíba, que lançaram os nomes de Getúlio Vargas e João Pessoa, representantes do Sul e do Nordeste, para a presidência e vice.

Milene Antonieta Coutinho Maurício, com um livro premiado, sintetiza: “Estava assim definida a competição eleitoral que, muito logo, assumiu marcas de facciosismo do Governo Central, o que, muito logicamente, acendeu o estopim de conflitos que passaram a ocorrer nos diversos pontos do País”.

No Norte de Minas, consubstanciando um projeto antigo, agendou-se para 7,8 e 9 de fevereiro um Congresso de Algodão e Cereais, acentuando-se seu viés político e reunindo várias cidades da região, sob Presidência de Honra de Fernando de Mello Vianna, vice-presidente
da República e ex-presidente de Minas, de Manoel Thomaz de Carvalho Brito e do Conde Alfredo Dolabela Portela, chefe da Concentração Conservadora.

Nas principais estações pelas quais passava a composição férrea, havia manifestações em favor dos candidatos à presidência da República, Júlio Prestes e Mello Vianna, ao Palácio da Liberdade. Muitos discursos e foguetes até que se chegou a Montes Claros, sede do congresso, que deveria ser do Algodão e dos Cereais. Pelo menos, era o que se propagava.

Prevendo possíveis choques com adversários, os próceres e autoridades de Montes Claros soltaram boletins pedindo à população que evitasse comparecer aos eventos programados e se envolver em discussões de qualquer natureza e escaramuças. Mas os ânimos se exaltavam.

A escritora Milene Antonieta revela que foi enorme o comparecimento à chegada do candidato à estação da Central. Era a primeira vez que visitava o sertão mineiro um vice-Presidente da República, em campanha para o governo de Minas. Terminada a recepção tão festiva na gare, formou-se uma passeata que percorreria as ruas, com um itinerário definido. Uma banda de música tocava o dobrado 220, secundada pelo foguetório, por gritos e vivas a Prestes e Mello Vianna. Um grupo de rapazes, à frente, atirava bombas, e gritava vivas com estribilho em favor dos candidatos da Concentração Conservadora.

Sem se saber por que, o percurso da passeata foi mudado, convergindo
à direita, para percorrer a Praça Gonçalves Chaves, onde residia o chefe aliancista, João Alves. Era em torno de 23 horas, um pouco mais quando desfilavam em frente à residência sobremodo conhecida. João Alves e Mello Vianna eram velhos conhecidos. O médico desejava demonstrar publicamente não ter receio. Foi quando alguém do cortejo gritou: “Morra a Aliança Liberal”. O médico e político levantou um lenço vermelho e gritou tranquilo: “Viva a Aliança Liberal”.

Incontinenti, uma bomba explodiu a seus pés. Ele, hipertenso, sofreu uma hemorragia, com crise de tosse e sufocamento, parecendo ferido a bala. Simultaneamente, um rapazinho que ele criava, a seu lado, levou um tiro na cabeça e caiu ao solo. Nunca se soube de onde e de quem partiu o primeiro tiro. Parecia que todos ali se achavam armados e prontos para uma batalha. Eram, muitas dezenas na multidão, alguns se jogaram ao chão, outros corriam afoitamente para fugir ao tiroteio. Havia a notícia de que um grupo de jagunços de Granjas Reunidas, onde havia um grande empreendimento industrial dos Dolabella, se tinham infiltrado. O pânico na transposição de um dia para outro se estabeleceu, de 6 para 7.

Foram apenas minutos, mas o tumulto deixou estigmas. Corpos tombados foram transportados à residência antes festiva de João Alves e Tiburtina, que prestaram os primeiros socorros, enquanto o marido ainda sofria efeitos da crise cardíaca. Ela acomodava na dependência da casa os feridos e os mais nervosos. Aos ensanguentados dava assistência emergencial. Enfim, o violento choque deixara seis mortos e muitos feridos. Lá fora, os remanescentes escaparam às carreiras à estação ferroviária e o trem começou a fazer a viagem de volta em marcha-à-ré.

O episódio trágico ganhou dimensões nacionais. Uma das vítimas fatais fora Rafael Fleury da Rocha, como o poeta João Soares da Silva, aquele secretário particular do vice-presidente, ferido com um tiro na cabeça e com estilhaços do projétil disseminados em derredor, inclusive Mello Viana.

Washington Luís, no dia seguinte, se manifestou: “São Paulo como todo o Brasil Republicano e civilizado, profliga indignado o bárbaro atentado que à semelhança de uma Emboscada de Bugres, ensanguentou a nobre terra de Minas”.

O padre Aderbal Murta, da Academia Montes-clarense de Letras, escreveu: “De início, no calor das paixões enfurecidas, na insegurança das dúvidas, na irresponsabilidade das interpretações irrefletidas, o episódio de Montes Claros chegou a ser o estopim da Revolução de 1930, de proporções nacionais e decisivas para a própria história do Brasil”.

Neste 2023, registra-se o aniversário de Tiburtina Andrade Alves, nascida em 10 de agosto de 1873, na pequenina São João Batista, hoje Itamarandiba. São decorridos 150 anos de profundas transformações no Brasil. O nome dela permaneceu vivo e lembrado. De D. Tiburtina, esposa do líder aliancista de Montes Claros, se falou tudo o que de mal se poderia: Uma pessoa perversa, que perpetrara o episódio macabro do Norte de Minas, causador de tantas mortes e lágrimas às famílias.

Houve, entretanto, veementes contestações, inclusive da Imprensa: Assis Chateaubriand, diretor dos Diários Associados, se expressou, publicamente:

“A presença daquela senhora me deixara surpreso. Aquela mulher que eu tinha ante os meus olhos, em atitude de tal energia, me fazia recordar certos personagens de lendas de que eu ouvira falar quando menino”.


URBINO VIANNA
O PRIMEIRO PARAMIRINHENSE
A ESCREVER E PUBLICAR UM LIVRO

A história é definida como o olho da ciência voltado para o passado, o presente e o futuro. Quando se trata de passado, o paramrinhense Urbino de Souza Vianna é uma referência nacional e internacional. Os frutos da sua lavra continuam vivos e cada vez mais presentes como fontes de consultas na mesa daqueles que pesquisam os fatos ocorridos no Alto Sertão da Bahia nos primórdios de sua história.

Natural das barrancas do Paramirim, onde nasceu por volta de 1880, Urbino Vianna é neto pelo lado materno do minerador Manoel José Vianna. Seus pais Manoel do Bonfim e Souza e Carolina de Magalhães Viana falecidos, respectivamente em 09 de novembro de 1907 e 31 de janeiro de1889 integram a descendência das primeiras famílias que povoaram a antigo território do Morro do Fogo na época da mineração do ouro naquelas paragens.

Casou-se em primeiras núpcias com Maria Emerenciana de Brito, filha do Capitão Júlio Bernardo de Brito e Maria Sthephania de Brito. Sem ter procriado filhos, perdeu a esposa em 10 de janeiro de 1904, com pouco tempo de casado. O seu segundo matrimônio se deu com Amélia Tunis da Silva, provavelmente filha de Licínio de Magalhães Tunis com Ana Francisca de Magalhães e Silva, portanto, neta materna do Cel. Liberato José da silva. Desse enlace nasceram os filhos: Alfonso Tunis Viana, Paulo Coriolano Tunis Viana, Maria Yara Tunis Viana, e João Bosco Tunis Viana, os quais geraram vários netos.

Depois de ter exercido alguns cargos públicos na vila de Paramirim e participado do movimento político em prol da transferência da sede do antigo município de Agua Quente para esta povoação, projeto este concretizado pela Lei estadual n° 460, de 16 de julho de 1902, Urbino Vianna muda-se para a cidade de Montes Claros, onde publica em 1916 uma Monografia sobre este município, baseada na obra de Antônio Augusto Veloso, projetando-se assim no mundo literário, como grande conhecedor da história do Norte de Minas e do Alto Sertão da Bahia. Após ingressar no Ministério da Agricultura, no qual exerceu vários cargos, passa a residir no Rio de Janeiro, na época capital da República. Nesta cidade era mais conhecido como professor Urbino Vianna dentro do vasto círculo de amizade que construiu.

Sobre a sua obra principal “Bandeira e Sertanistas Baianos” sabe-se que foi publicada em 1935 pela Companhia Editora Nacional – São Paulo, com 207 páginas, representa o 48° volume da Coleção Brasiliense. Aborda a contribuição dos baianos no processo de ocupação do interior brasileiro. O texto destaca como o chamado Ciclo Baiano foi responsável pela penetração dos colonizadores pelo Vale do Rio São Francisco graças à atividade pastoril. Integra roteiros elaborados pelo conhecido Jesuíta André João Antonil – o caminho entre Salvador e as minas do Rio das Velhas – e por Quaresma Delgado, explorador contratado pelas autoridades coloniais para investigar e mapear o norte de Minas e o sertão da Bahia na década de 1730.

Com a publicação dessa obra, considerada de grande valor histórico, o cidadão Urbino de Souza Vianna, farmacêutico diplomado pela Faculdade de Medicina e Farmácia da Bahia, no início do século XX, pode e deve ser considerado o primeiro paramirinhense a escrever e publicar um livro, figurando-se assim na galeria dos vultos de nossa história como legitimo detentor deste privilégio Sobre a sua morte, ocorrida no Rio de Janeiro, em 09 fevereiro de 1945, o Jornal Correio da Manhã, na sua edição de 11 do mesmo mês e ano, pagina 21, assim noticiou: “Faleceu em sua residência à rua Moreira Sampaio, 12, no Meyer anteontem o professor Urbino Vianna, funcionário do Serviço de Estatística do Ministério da Agricultura, conhecido e recatado historiador. O extinto que ultimamente fora designado para servir na Fundação Brasil Central, era um velho servidor público e estudioso de todos os nossos problemas. O enterramento do Sr. Urbino que deixa viúva e filhos maiores, realizou-se na tarde de ontem no Cemitério Inhaumam”.

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Para complementar as notas informativas de Luís Carlos Bill, sobre o historiador Urbino Vianna de Souza, registramos aqui que a cidade de Montes Claros o homenageou denominando uma rua do centro com o seu nome, que por coincidência é o endereço da Câmara Municipal de Montes Claros. Também o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros tomou emprestado o seu nome para patrocinar a cadeira de número 97 e, recentemente foi inaugurado a “Biblioteca Urbino Vianna de Souza”, no IHGMC, com livros de autores montes-clarenses e da região norte-mineira.
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O VELHO URBINO VIANNA

Autor desconhecido

Era um dos mais constantes nas conversas da José Olímpio, o que sempre trazia boatos, o que sabia de coisas do passado, o que conhecia homens e fatos da nossa história com detalhes e informações absolutamente exatas. Fora amigo de Capristano de Abreu, e aí estava a grande arma que usava nas contendas sobre sertanistas. O erudito Urbino Vianna nos dera um livro de boa erudição histórica sobre as penetrações baianas como bandeirantes. Nunca o ouvi falar de sua obra tida como de primeira qualidade no que dizia respeito à vida colonial, ao surto expansionista dos começos da nossa formação. Mas, o Urbino, bom de conversa, era o que nos contava fatos da sua província, do seu sertão, o que nos falava do patriarcalismo, da sua infância, da política local, do velho Luiz Vianna, de José Marcelino, de Seabra, dos chefes do seu tempo e das intrigas e peripécias dos choques partidários. Nesse sentido conversa de Urbino não cansava. Era uma reportagem, ao natural, de uma vida quase morta. O homem pobre que tudo tinha botava nos livros, fazia ginásticas tremendas para poder comprar o livro que lhe enchia às vistas. Dizem que até os cobres que trazia para o almoço, guardava para completar a quantidade necessária a uma aquisição no livreiro. Vivia Urbino nas livrarias. A sua viagem pelas ruas da cidade era sempre um correr de sebos a sebos, de livrarias a livrarias. Tinha crédito por toda a parte. Quando recebia os minguados vencimentos, saía a pagar dívidas pelos quatro cantos da cidade. Era está a sua vida. Quando encontrava uma roda feita, caía em cima para contar casos. Às vezes não agradava, mas não perdia cliente por isso. No outro dia aparecia o mesmo, sem mágoas, todo alegre, todo ancho de suas novidades. Não eram o forte de Urbino os boatos sobre a ávida atual. Era ótimo nos mexericos de um passado que fosse muito remoto. Contar o processo do Luiz Viana era uma das suas boas peças.

Soube na morte do bom velho no sábado de carnaval. Tinha estado conosco, não havia muitos dias. A venda dos seus livros muito amados andava a sangrar-lhe como uma ferida aberta. Vendera a razão de ser da sua vida, para liquidar uma dívida, para pagar os restos da casa onde morava, lá vivera Urbino Viana fazendo a sua biblioteca, na paz do subúrbio, com a imagem de Capristano. Como seu mestre tutelar. Teve um enterro de seis pessoas, na tarde de sol, com as lágrimas da família. Contaram-me que, antes de morrer, abriu os olhos e chamou um parente. O velho Urbino queria saber se os Russos já haviam entrado em Berlim. Se tivesse mentido para o bom velho, afirmando a notícia que ele esperava como a grande notícia da sua vida, morreria com uma grande vitória. Este homem que não triunfou que foi sempre uma sombra pelos corredores da fama, tinha, nos últimos tempos de sua vida, um entusiasmo de todas as horas. Era a confiança na derrota do fascismo. Urbino, nos dias terríveis das marchas de Hitler e Mussolini, era sempre um homem que não desesperava. Sempre o encontrei com uma notícia de rádio que só ele escutava, com vitórias de que só ele tinha notícia. Morreu antes do grande dia. É pena que não tivesse ficado para a festa da liberdade. Dizia ele, a Castilho, o seu amigo Castilho, que tinha uma garrafa de champagne para o dia da grande vitória. Castilho não acreditava na garrafa de champagne. Era mais uma conversa como as notícias do rádio do velho.

Agora já não o temos para as conversas e os boatos. Os russos estão à porta de Berlim. Urbino podia ter feito mais força e mostraria a Castilho que tinha o seu bom vinho guardado para maior regozijo de todos nós.


AVELINO PEREIRA

É merecida a informação do escritor montes-clarense Doutor Hermes de Paula, da característica clássica da genealogia intitulada Avelino Pereira.

Assim a bisneta de Jose Avelino Pereira, Vera Lucia Santos de Souza, inicia-se a reconstruir racionalmente sua história, esforça demonstrar o fato histórico para sustentar a memória, que seria impossível e sem denominação.

Evidência histórica descrita genealogicamente pelo autor, constituídas em nossas mais queridas afeições. Um recurso para dar conhecimento da pureza da genealogia materna.

Valendo-se como entende o especialista e escritor Doutor Hermes de Augusto de Paula, em sua obra clássica (1979, p.11 e 12), dando informações consolidadas – membros dos Avelino Pereira enumeraram onze (11) descendentes. Nesta parte, vale ainda destacar mais duas filhas que assim esclarece com os mesmos procedimentos informados.

Predizer para a posteridade o devir histórico das tradições genealógicas sobre o destino de cada descendente, encontra-se em sua obra intitulado: Montes Claros - sua história, sua gente, seus costumes, volume dois (2) de 1979, no acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros (IHGMC). Foi dado informações sobre algumas das principais famílias que construíram, através do tempo, a nossa comunidade montes-clarense. Num grupo seleto José Avelino Pereira é a família ligada à crônica da cidade. Como se segue:

Avelino José Pereira nasceu em São José do Gorutuba, comarca de Grão Mogol, em 08.01.1880, sendo seus pais Cel. Eduardo José Pereira e Maria Francisca Pereira. Casou-se com Joaquina Pereira da Silva (quininha), filha do Capitão José Miguel da Silva e Joaquina da Silva.

Dentre os filhos: destaca-se a mãe de Dona Jandira Rosa dos Santos (Cf. certidão de casamento, nº 264, fls.99, livro nº. 17- comarca de Montes Azul-MG). Dona Jovelina Rosa da Silva casada com Senhor José Avelino de Souza, e tiveram sete (7) filhos.

Dona Jandira Rosa dos Santos casado com Senhor Joaquim Pereira dos Santos tiveram doze (12) filhos sendo que dois (2) morreram em tenra idade. Em ordem de nascimento a primeira foi Vera Lucia Santos de Souza, hoje casado com o autor da obra Landulfo Santana Prado Filho. Com uma filha e uma neta.


 

 
 

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