PRESIDENTES
Wanderlino
Arruda
2007-2009 / 2014-2015 |
Dário Teixeira Cotrim
2010-2011 / 2018-2019
2020-2021 |
Itamaury Teles
2012-2013 |
Lázaro Francisco Sena
2016-2017 |
|
Francisco Ornelas
2022-2023 / 2024-2025 |
PRESIDENTES
DE HONRA
Luiz
de Paula Ferreira
2006 - 2020 |
Palmyra
Santos Oliveira
2020 - 2023 |
Terezinha
Gomes Pires
2023 |
EDITORIAL
Dário Teixeira Cotrim
Editor Chefe da Revista do Instituto
Há 18 anos era lançado o Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros. Desde esse tempo que
estamos publicando a Revista do Instituto, com textos de
seus associados, atendendo o que pede o seu artigo segundo,
na preservação, divulgação e
resgate dos fatos passados. Já são trinta
e três edições, com mais de cinco mil
páginas de registros históricos.
Por essa razão estamos no caminho do conhecimento
com a concepção do trabalho histórico-cultural
realizado. Não podemos desanimar. A tarefa é
árdua, porém gratificante. O sucesso do nosso
empreendimento se resume plenamente na dedicação
de todos associados, que nunca deixaram de contribuir com
os seus artigos inerentes à nossa história,
valorizando-a e, complementando-a para melhor entendimento
dos fatos decorridos em tempos pretéritos. Nesta
edição participaram os seguintes associados:
Ana Paula Maia Durães, Antônio Felix da Silva,
Carlúcio Gomes Ferreira, Daniel Oliva Tupinambá
de Lélis, Dário Teixeira Cotrim, Guilherme
Matias Silva Peixoto, Hermildo Rodrigues, João Nunes
Figueiredo, José Jarbas Oliveira Silva, José
Geraldo Soares de Souza, José Ponciano Neto, Lázaro
Francisco Sena, Leonardo Alvares Rodrigues, Lola Chaves,
Mara Yanmar Narciso, Márcio Adriano Moraes, Sebastião
Abiceu soa Santos Soares, Teddy Marques Farias, Terezinha
Campos, Walisson Oliveira Santos, Wanderlino Arruda, Petrônio
Braz. Assim sendo, convidamos a todos para uma leitura agradável
da nossa Revista. Bom proveito!

ZÉ
GOMES: UM EXEMPLO DE VIDA E VIRTUDE
José Gomes de Oliveira, meu patrono no Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros, é uma figura proeminente,
um homem de múltiplas facetas cuja presença marcante
e carisma permanecem vivos na memória de todos que tiveram
a honra de
conhecê-lo e de conviver com ele.
Nascido em 7 de abril de 1916, José Gomes – carinhosamente
conhecido como Zé Gomes – irradiava simplicidade
e sabedoria.
Sua habilidade singular de conectar-se com as pessoas, compre
endendo suas dores e alegrias através de um olhar sereno
e acolhedor, refletia sua essência profunda. Seu jeito simples
e coração generoso fizeram dele uma referência
em Montes Claros, sua cida de natal.
Os testemunhos sobre Zé Gomes revelam um homem de ca
ráter irrepreensível, cuja palavra era um compromisso
firme. Suas ações eram pautadas pela ética
e pelo respeito ao próximo, consolidando-o como um bastião de integridade, alguém
em quem se podia
confiar sem reservas. Além de seu senso de justiça,
seu espírito alegre e contagiante também se destacava.
Sempre pronto para uma conversa agradável, cativava todos
com suas histórias e riso fácil. Sua presença
tornava a vida mais leve, e seu entusiasmo acendia uma chama
nos corações ao seu redor.
Escrever sobre Zé Gomes é um verdadeiro privilégio.
Embo ra não tenha tido o prazer de conhecê-lo pessoalmente,
sinto-me honrada por poder compartilhar um vislumbre da essência
deste
homem extraordinário, cujas ações e palavras
deixaram um lega
do duradouro. Mesmo sem o contato direto, a admirável
trajetória de Zé Gomes se revela através
dos relatos e memórias daqueles que tiveram a honra de
conhecê-lo e de compartilhar um pouco dessa aventura que
chamamos de “vida”. Sem dúvida, uma figura
querida na sociedade, um exemplo de humanidade e bondade que
continuará a inspirar muitas gerações.
Além de suas qualidades pessoais, Zé Gomes era
um visioná rio notável. Como ressaltado por seu
filho, José Geraldo Gomes, sua
trajetória inclui trabalho como alfaiate e comerciário,
bem como
contribuições significativas para o esporte em
Montes Claros e
na região norte mineira, inclusive como atleta. Foi funcionário
da
Prefeitura de Montes Claros e ingressou nos Correios e Telégrafos como servente, ascendeu ao cargo de telegrafista concursado
e agente postal telegráfico, atuando em Montes Claros,
Porteirinha, Rio Pardo de Minas, Monte Azul e Espinosa. Destacou-se
também como membro da “Loja Maçônica
Deus e Liberdade”, onde exer ceu o cargo de Venerável,
e como um dos fundadores do Rotary Clube de Montes Claros-Norte,
onde prestou relevantes serviços à cidade. Ademais,
foi o fundador e primeiro presidente da Apae em Montes Claros.
Recebeu diversas condecorações ao longo de sua
vida, evidenciando seu impacto e compromisso com a comunidade.
Embora seja essencial reconhecer essas contribuições
notá veis para compreender a magnitude de sua trajetória,
neste brevetexto
busco destacar as virtudes que verdadeiramente definiram sua
essência, conforme registradas por aqueles que tiveram
o privilégio de conhecê-lo e conviver com ele.
cada
novo detalhe sobre Zé Gomes, especialmente revelado na
obra “Zé Gomes, Simples Assim”, organizada
por seu filho Wag ner Gomes, demonstra sua dedicação
incansável ao bem-estar da comunidade. Sua disposição
em oferecer ajuda a quem necessitava e seu espírito filantrópico
eram amplamente reconhecidos e admirados. A vida de Zé
Gomes exemplifica um verdadeiro altru ísmo e devoção
ao próximo.
Em cada palavra e em cada lembrança, Zé Gomes
persiste. Sua presença permanece na memória daqueles
que tiveram o privilégio de estar ao seu lado em sua
trajetória, nos gestos de gentileza que espalhou e na
história que ajudou a construir. Ao escrever sobre ele,
contribuo para preservar a importância de sua trajetó
ria, garantindo que seu legado continue a inspirar e influenciar
as gerações futuras.

José
Gomes de Oliveira

CASA
DE SIMEÃO RIBEIRO PIRES:
18 ANOS DE PRESERVAÇÃO E VALORIZAÇÃO
DA HISTÓRIA E CULTURA DE MONTES CLAROS
É com imensa alegria que celebramos os 18 anos do Instituto
Histórico e Geográfico de Montes Claros, a ilustre
“Casa de Simeão Ribeiro Pires”. Desde sua
fundação em 27 de dezem bro de 2006, o Instituto
tem se dedicado com incansável empenho à preservação
e promoção da rica história e cultura de
Montes Cla ros e da região Norte de Minas Gerais.
Ao longo dessas quase duas décadas, o Instituto tem sido
um farol de conhecimento e um guardião do nosso valioso
patrimônio cultural. Suas pesquisas, a interpretação
dos eventos históricos e geográficos, e a divulgação
de conhecimentos relevantes têm de sempenhado um papel
fundamental na preservação da memória de
nossa terra. Os eventos realizados, as exposições
cuidadosa mente planejadas e os documentos preservados são
provas tangíveis do comprometimento com a valorização
de nossa herança.
O Instituto transcende suas atividades internas, conectando-se
com a comunidade e inspirando novas gerações a
valorizar e
proteger o nosso legado cultural. Seu trabalho é um reflexo
do
amor e da dedicação à preservação
da nossa história, fornecendo uma base sólida
para a construção de um futuro mais enraizado
em nossas tradições e valores.

Neste aniversário de maioridade, rendemos homenagens
a todos que, ao longo desses anos, dedicaram seu tempo, conhecimento
e paixão para o sucesso do Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros. Que esta celebração
sirva como um momento de reflexão sobre as conquistas
alcançadas e um estímulo para enfrentar os desafios
que se avizinham. Parabéns, IHGMC, por 18 anos de dedicação
e zelo pela história e cultura de Montes Claros e região.
Que os próximos anos sejam igualmente frutíferos
e que o Instituto continue a ser um farol de sabedoria, um pilar
de nossa
cultura e um exemplo de perseverança e devoção
à nossa terra.
Viva o Instituto Histórico e Geográfico de Montes
Claros!

A
FORÇA DE UMA IDEIA
A
Literatura Brasileira é única no mundo, porque
ela está centrada na contribuição das línguas
Portuguesa, Africana e Ameríndia, condicionada à
nossa realidade. A região Norte-Mineira, banhada pelos
rios São Francisco, Jequitinhonha e inúmeros afluentes,
envolvida pelas Serras Azuis, a caatinga, o cerrado e o nosso
sertão, imprime na alma de seus moradores, a
poesia e o lirismo, que afetam a sensibilidade de seus habitantes,
levando-os a uma intensa produção literária.
Atualmente, muitos escritores do Norte de Minas são reco
nhecidos e respeitados em todo Brasil e até no mundo.
Dentre tantos, podemos citar Cyro dos Anjos e Darcy Ribeiro,
membros da Academia Brasileira de Letras.
As dificuldades econômicas do nosso país, impedem
que os escritores publiquem e divulguem os seus trabalhos literários,
para serem analisados e reconhecidos. Foi dentro dessa ralidade,
que surgiu em 1993, o GRUPO LITERÁRIO OFICINA DAS LETRAS,
com
o objetivo de publicar os trabalhos literários dos Escritores
do Norte de Minas. Esse Grupo Literário, surgiu da ideia
de Ildeu Braúna, também poeta e escritor, que
na época era o Secretário de Cultura de Montes
Claros.
Uma ideia simples, porém, genial. Ele reuniu quinze escritores,
alguns com obras publicadas, outros não e propôs
o seguin te: cada escritor pagaria um certo valor por mês
e a cada dois me ses, um dos escritores receberia, por sorteio,
300 exemplares do
seu livro publicado, com 100 páginas, capa colorida,
impresso por uma editora competente.
Desde o início, o Grupo Literário contou com a
presença e a colaboração de Dário
Cotrim e Ildeu Braúna. De acordo com os sor teios realizados,
foram publicados os seguintes livros: Flor Cigana (Crônicas)
de Lúcia Mendes; Respingos (Poesia) de Marijó;
Razões para Viver (Crônicas) de Castelar de Carvalho;
Farnot (Crônicas) de Waldir de Pinho Veloso; Empatia (Poesia)
de Antonio Felix da Silva; Passaporte de Vida (Crônicas
e Poesias), de Maurílio Arruda; Catrumano (Contos) de
Ildeu Braúna; e, Sonhos de Algodão (Ro mance)
de José Catarino Rodrigues.
Nos meses seguintes foram lançadas as obras literárias
dos seguintes escritores: Manoel de Oliveira (Tio Manoel); Waldir
de Pinho Veloso (Balcão e Coniína); Denise Magalhães
(Corpus); Dário Teixeira Cotrim, (GUANAMBI: Aspectos
Históricos e Genealógicos); Carlos Alberto Alves
Pereira; Dorislene Alves Araújo (A Dança das Palavras)
e Amelina Chaves (Jagunços e Coronéis).
Com os trabalhos literários publicados pelo Grupo Literá
rio Oficina das Letras, o movimento cultural do Norte de Minas,
tornou-se mais intenso e mais rico. Para se ter uma ideia, para
cada livro publicado pelo Grupo Literário Oficina das
Letras, outros dois livros foram publicados no período,
por escritores da região, sobre os mais diferentes assuntos.
Seria apenas coincidência?
O Grupo Literário Oficina das Letras concluiu a primeira
etapa, com um segundo grupo literário já constituído.
É o resul tado de uma ideia poderosa, que se tornou realidade.
O escritor Waldir de Pinho Veloso, escreveu no Jornal do Norte,
em 1994, a respeito do Grupo Literário Oficina das Letras:
“Não há como negar: a ideia, mais do que aprovada, foi sacramentada, consagrada
e ficará como a história de um tempo”.
Nós, participantes do Grupo Literário Oficina
das Letras, concordamos com ele e vamos continuar trabalhando
para que a
nossa realidade, continue a ser cantada em prosa e versos, com
provando a força que uma boa ideia tem.

Na foto: Dário Cotrim, Júlia Cotrim,
Antônio Felix da Silva, Denise Magalhães, Maurilio
Arruda, Dores Araújo, Ildeu Braúna, Waldir de
Pinho Veloso, Carlos, Castelar de Car valho Leite. Sentados:
Marijô, Suely Leite, José Catarino Rodrigues, Professor
Dema, Amelina Chaves e Helson Jorge.
__________________________________________
(*)Esse artigo foi publicado originalmente no JORNAL DO NORTE
de 30 de março de 1995, página 2. Agora estou
republicando, atualizado.
__________________________________________

LINDAS
PALMEIRAS! TANTO LÁ, QUANTO CÁ!
Um
dia Padre Geraldo Zuba professor de Português no Colégio
São Norberto de Montes Claros, enquanto celebrava a missa
de ressurreição do jovem Murtinha, à época
Secretá rio do Colégio, que fora vítima
de um acidente de carro, disse: “As coisas no mundo são
cíclicas, vão e voltam”, deu vários
e apropria dos exemplos para ilustrar situações
em que as coisas se repetem de tempos em tempos.
Muito antes, a Lei da Conservação das Massas ou
Lei de La voisier, considerado o pai da química moderna,
popularmente reconhecida pelo enunciado “Na natureza nada
se cria, nada se perde, tudo se transforma”, já
Abelardo Barbosa, o incomparável
comunicador Chacrinha, não deixou por menos e nos seus
programas televisivos, usava o bordão “na televisão
nada se cria, tudo se copia”, nessa toada nós do
povo em tom de crítica a alguma situa ção
repetimos; “nada se cria, tudo se copia”.
Pois bem, sirvo-me desse introito, para ilustrar a história
de palmeiras plantadas em tempos e lugares equidistantes, uma
na
Praça Matriz de Montes e de algumas outras na Praça
Olímpio Cam pos de São João da Ponte, mas
que, tiveram destino semelhante.
Nesse contexto valho-me do renomado escritor/historiador Nelson
Vianna em seu livro Serões Montes-clarenses (1972. p.
196), ao registrar os Velhos Sobrados de Montes Claros, construídos
no século 19, narra com muita propriedade e estilo próprio,
a bonita e interessante história de um mirante, em que
numa parte dele residiu o Professor João Antônio
Gonçalves Chaves e sua família, e, da mencionada
palmeira que foi plantada à frente da casa dele numa
tarde de 25 de novembro de 1872.
A fiel descrição de como era linda e enfeitava
a Praça com suas verdes palmas, com sua elegância
fidalga, até a tarde de 18 de fevereiro de 1948, quando
foi sadicamente sacrificada por mãos profanas, do sentir,
da afeição das lembranças e recordações
da infância do poeta montes-clarense João Chaves,
que o leva a produzir e dedicar à velha palmeira uma
inspirada poesia de fundo sentimental, que se encontra transcrita
às folhas 197 do livro histórico, que se impõe,
compartilhar:
Tombaste. E a brisa, tua doce amiga,
Com quem, entre carícias conviveste,
Ao crepúsculo modula uma cantiga,
De tristeza e amargor, por que morreste.
Os Corações de todos nós que amamos,
Mesmo extinto, o teu porte sedutor,
Tocam agora enquanto nós choramos
A triste marcha fúnebre da dor.
Os pássaros, minúsculos cantores,
Desferiam por entre tuas palmas, À tardinha ou à hora dos albores,
Canções que comoviam nossas almas.
Tu me viste em meu tempo de criança,
Tu me viste crescer e envelhecer;
Embalaste meus sonhos de esperança...
E quantos sonhos meus viste morrer?!
E agora tu dirias se pudesses:
Tendo morrido tanta gente amada, - Eu mesma é quem
pedia, em minhas preces,
Que eu fosse posta ao chão e exterminada.
E dirias também: --- quantos pesares
Soluçam aqui perto, à minha beira?!
Que fizeram dos donos desses lares?
Que fizeram da Velha Palmeira.
Supus que, quando a morte me levasse,
Ainda __ forte e esbelta __ viverias;
E que um fatal destino de tocasse,
De ver, de minha vida, o fim dos dias.
Alço de novo a minha velha lira,
Aquela que vibrei na mocidade,
Que em seus acordes tanta vez suspira,
Pra render-te este preito de saudade.
Várias
décadas depois, por volta do dos anos 2000, a situação
é copiada em São João da Ponte, não
na construção de so brados, mas na vida e morte
de algumas palmeiras plantadas aqui pelo paisagista João
Carlos Medeiros, e muito bem cuidadas por mais de dez anos pelo
jardineiro Ovídio Valério Cordeiro, popular e
carinhosamente chamado de Nozinho, que certamente dedicava a
elas a mesma afeição que o poeta montes-clarense
à sua velha palmeira.
Se os celebres Nelson Viana e João Chaves dispensam apre
sentações, o velho jardineiro, merece uma pequena
descrição para aqueles que não o conheceram
e também para homenageá-lo pos tumamente.
Nozinho foi um ser humano formidável que tinha muito
amor às plantas e flores, dedicou grande parte da sua
vida a zelar da Praça Olímpio Campos, na cidade
de São João da Ponte.
Se na música Frevo Novo de Caetano Veloso a Praça
Castro Alves é do povo, aqui em nossa cidade pode-se
dizer com muita
certeza que a Praça Olímpio Campos tinha um posseiro,
Nozinho,
que a tinha como sua, dela cuidava e zelava com todo o carinho.
Para quem não o conheceu, Nozinho foi aquele ser humano
de uma simplicidade de criança, com a força de
trabalho de um gigante e a cabeça de um deus mitológico,
ora estava raivoso, como o deus do trovão, quando provocado,
minutos depois era só alegria e se desmanchava em gracejos
e sonoras gargalhadas, era como na música do Raulzito
“um pouquinho de maluquês misturada a muita lucidez”,
sim, nele, havia pureza d’alma sem lugar para maldades.
Como o poeta, ele tinha licença e liberdade para tudo,
sempre na sua singeleza transmutava em várias personagens
edificantes: um dia amanhece vestido de Policia Militar como
símbolo da segurança e da ordem, repreendia recalcitrantes
e ensaiava continências
aos supostos pares. Noutro, já se incorporava de Delegado
de Polícia Civil, autoridade que ele tanto reverenciava
e gostava de representar.
A mais emblemática de todas, quando vestido de uma farda
preta, evidentemente sem os símbolos da corporação,
representa va um policial do GATE e ali nos jardins da praça,
munido de uma cadernetinha e uma caneta azul ordenava o trânsito
e aplicava no tificações, não sabia escrever
uma letra sequer, ou como diziam nossos antepassados: “não
sabia fazer um (o) com uma garrafa” sentado em um monte
areia”, mas os garranchos das suas anota ções
ficavam lá, como garantia do dever cumprido ao exemplar
um veículo estacionado irregularmente. Um dia um senhor
vindo de outra cidade, deparou com aquele aparente agente no
seu fantástico mister, olhou-o detidamente e perguntou
ao primeiro passante se ele era policial mesmo?
Sobre o seu modo e jeito natural de cuidar do jardim, perti
nente lembrar de um comentário feito pela especialista
nessa se
ara, a floriculturista dona Josephina, que em 1990 aqui se encontrava para renovar o gramado e plantas daqueles jardins, disse:
-
Ah se eu pudesse levar esse moço comigo! É o melhor
jar dineiro que eu jamais vi, não tem nenhum conhecimento
teórico,
mas tem amor, e o amor é o que as plantas mais gostam.
Os jardins da Praça Olímpio Campos, eram a menina
dos olhos do Nozinho, para ele, no seu peculiar nozinhês,
cada planta tinha o seu nome: a espécie dinheiro em penca
uma era a “roxa”, outra era “branca”
e assim repreendia: (não pisa na branca não!),
(não pisa na roxa não fdp!), a grama no centro
da praça recebia o nome de “saponesa” (japonesa),
uma flor era “bagarida” (margarida) e as palmeiras
eram simplesmente meus paus.
Ele
se foi com os seus mais de noventa anos de idade, deixando a
praça mais triste e essas simples, bonitas e alegres
lem branças, mas, diferentemente do poeta, não
chegou a ver o fim que levou algumas das suas amadas palmeiras.
Três delas foram sacri ficadas para dar lugar a um pergolato
de concreto.
Vivo fosse ele, costumeiramente sentado num banquinho da praça,
perguntaria, por que cortaram os meus paus?
Alguém que estivesse por perto responderia: cortaram
para dar lugar aquelas armações de ferro e cimento,
fiel a dito popular completaria: “nada se cria, tudo se
copia”! Nem sempre para melhor.


MESTRE
JUCA TEIXEIRA
A contribuição de Hermes de Paula para o entendimento
da história regional é inquestionável.
Uma de suas obras mais conhecidas e abrangentes é “MONTES
CLAROS, SUA HISTÓRIA, SUA GENTE, SEUS COSTUMES”,
fonte permanente de con sultas. Na edição em três
volumes, de 1979, mais precisamente no volume 2, traz importante
inventário genealógico de Montes Claros e região.
Na parte dedicada à família Teixeira, temos que,
o Padre Teixeira ao se mudar para Montes Claros, em 1843, tinha
6 filhos, sendo o primeiro nascido em Paracatu e os demais frutos
de um segundo relacionamento, com Rosa Frutuosa de Lima: Ezequias,
Eva Bárbara, Emília, Lionel e José, todos
nascidos em Contendas (hoje Brasília de Minas).
José Teixeira de Carvalho (Mestre Juca), filho caçula
do Padre Teixeira, foi um dos primeiros educadores de Contendas.
Nascido em Contendas em 1843, Mestre Juca cresceu em Bocaiúva.
Rapaz franzino, mas de muita vivacidade, lá constituiu
família e exercia o ofício de professor público
primário. Casado com Geralcina de Souza Meira, teve 06
filhos:
1) Antônio Augusto Teixeira (Niquinho Teixeira);
2) Sebastião Teixeira de Carvalho;
3) Emília Teixeira de Carvalho Sobrinha (Mestra Bila);
4) Ambrosina Teixeira de Carvalho (Mestra Zina);
5) Antônio Teixeira de Carvalho (Dr. Santos);
6) Maria Teixeira de Carvalho (Cota).
Por desavenças políticas, e como era concursado,
o nico jeito que seus desafetos encontraram para afastá-lo
de Bocaiúva foi articular sua transferência, que
pelas oincidências da vida, foi
justamente para o lugar onde nasceu, Contendas. Resiliente que
era, aceitou calado a imposição, sofrendo em silêncio.
No final de 1880, a família Teixeira de Carvalho retornava
para Contendas. Mestre Juca chegava com a esposa, os 06 filhos
e 02 escravos. Foi residir numa casa no largo da Matriz, local
onde também ministrava as aulas. A chamada para as aulas
se fazia dando dez badaladas no sino da igreja. Embora tivesse
voltado à terra natal contra sua vontade, o Mestre Juca
não podia abrir mão do ordenado de 60 mil réis
mensais, afinal tinha 06 bocas para alimentar.
Em 1890, morria em Contendas o Mestre Juca, que depois foi substituído
na cadeira de professor do município por 03 de seus filhos:
a) José Augusto Teixeira de Carvalho (1890-1897); b)
Antônio Augusto Teixeira (1898-1899); c) Emília
Teixeira de Carvalho Sobrinha, Mestra Bila (1900 em diante).
Viveu bem o Mestre Juca em Contendas, sendo por todos admirado
e respeitado.

AS
MOEDAS DO MEU NOME
O Brasil sempre se destacou na emissão de moedas, principalmente
das edições comemorativas, pelo valor facial e
pelo design inconfundível na criação de
momentos relevan tes de nossa história. As moedas bolhões
(redondas) são cataloga das pelos numismatas e tem a
sua origem na Lídia (atual Turquia), no século
VII a.C.
O numismata deve ser um curioso quando se trata de colecionar
moedas, cédulas ou, ainda, qualquer outro objeto equiva
lente no complemento do seu desejo. A propósito, no meu
caso à parte, devo dizer que as coincidências do
meu nome com o dinheiro foi o bastante que eu pudesse iniciar,
no mundo da numis mática, a minha coleção.
Vejamos: a moeda de ouro “dárico” ou “dario”,
(século IV a.C.) que foi uso comum no grande Império
de Aquemênida, introduzida pelo rei Dario I, que tomou
o Império Neobabilônico, após assassinar
Belsazar, tem o mesmo nome que hoje se encontra no meu batistério.
Conta-nos a história que uma grande
parte dessas moedas de ouro fora derretida para a confecção
de outras moedas, isso no ano de 330 a.C., por determinação
de Alexandre, o Grande. Era por assim dizer, de uma presunção
das vaidades entre os reis do tempo de antanho.
Por outro lado, a moeda bolhão “cotrim”,
criada por D. Afonso V, rei de Portugal, e que foi cunhada em
honra da família do fidalgo Lopo Martins Canas Cotrim,
teve circulação normal em Portugal durante o período
de 1438 – 1481. Portanto, essas duas relações,
do dinheiro com o meu nome “Dário Cotrim”,
foram su gestivas para que eu pudesse continuar com a coleção
de dinheiro do meu saudoso pai.
Assim, quer o “dárico” ou o “cotrim”,
que possa caracterizar a
compra ou a venda de um produto, sejam elas muito mais interessantes
no colecionismo numismático do que em outras atividades
paralelas. O meu pai, Ezequias Manoel Cotrim, fazia a sua coleção
de cédulas, do padrão mil-réis, que foi
por mim herdada, no ano de 1968. O meu pai guardava a sua coleção
numa caixinha de lenço, e hoje a tenho acondicionada
em luxuosos álbuns de couro, sempre acompanhada de outras
aquisições, já no decurso de quase seis
décadas. Todavia, é minha esperança que
um membro da nossa família manifeste o desejo de continuar,
com a mesma tarefa aqui proposta, pois é significativo
que este fato venha a acontecer.
Historicamente a arte de colecionar é uma peripécia
intrigante e totalmente compensadora, haja vista que a ideia
da criação da moeda bolhão, como objeto
de troca, surgiu muito mais pela necessidade de se regular a
permuta do escambo, do que mesmo como uma simples exposição
de objetos amoedadas, para saciar o desejo de poder dos reis,
tendo nelas as suas esfinges cunha das para a eternidade. Na
verdade, com relação às moedas eu sou apenas
um ajuntador inveterado e nunca um colecionador. Para colecionar
é preciso estudar, analisar, catalogar por época
e pelos metais
utilizados na sua concepção. Entretanto, com relação
ao di nheiro de papel, o meu apreço é muito mais
refinado, pois faço o estudo minucioso de cada espécie,
catalogando-a e etiquetando-a em lugar próprio de cada
álbum, sempre amparado nas informa ções
dos manuais existentes no mercado. Em razão disso, eu
posso me considerar um colecionador peremptório do dinheiro,
ou seja, um numismata autentico, que é aquela pessoa
apaixonada pela beleza das alegorias que ilustram espirituosamente
a bufunfa, impresso em especial papel-moeda, com todas as suas
inúmeras
características de segurança, valores e precisão.
Seja você também um colecionador!


NATÁLIA
PEIXOTO
Uma das mais importantes figuras da Alta Costura montes-clarense,
desempenhou com maestria o seu papel fundamental na criação
e confecção dos mais belos vestidos de noivas
e fes tas exclusivos e personalizados.
Natália Peixoto nasceu em Montes Claros no dia 01 de
julho de 1917 e faleceu no dia 28 de maio de 2007.
Primogênita de quatro irmãos do primeiro casamento
de Mathias Peixoto e Ana Miranda, foi neta paterna de Antônio
Peixoto e Ana Izilda de Morais Peixoto, negociantes que aportaram
em Montes Claros em 1899. Vieram do distrito de Santa Maria
de São Félix - atualmente Santa Maria do Suaçuí
no Vale do Rio Doce, a convite do amigo Coronel Joaquim José
da Costa, que presidiu a Câmara Municipal de Montes Claros
entre 1911 e 1915.
Natália Peixoto casou-se em primeiras núpcias
com Geraldo Santos em 1935, com quem teve cinco filhos: Iraídes,
Willian, Irlene, José Geraldo e Irani.

Natália
Peixoto Paratella - Foto Arquivo da Família

Em
1943 com 26 anos, fica viúva do primeiro esposo.
Em 1947 com 30 anos casa-se em segundas núpcias com Hamilton
Paratella tendo dois filhos: Magali e Luiz Hamilton.
Em 1927, com apenas 10 anos, fica órfã de mãe,
e, por ser muito responsável e dedicada a família,
desde a tenra idade aju dou o seu pai viúvo a cuidar
dos seus irmãos.
Em 1929 Mathias Peixoto casou-se em segundas núpcias
com Maria da Conceição Santana Peixoto filha primogênita
de Antônio Martins de Santana Primo (Maçarico)
e Dona Josefina Cân dida de Santana, tendo sete filhos:
Tu Peixoto, Geralda Aparecida, Josefina (Finoca), Ana Maria,
Geraldo Peixoto (meu saudoso pai), Vicente Peixoto e José
Matias.
Aos 12 anos, Natália, ajudou sua madrasta, a qual chamava
carinhosamente de ‘Lia” na criação
dos seus irmãos do segundo casamento do seu pai, de 1929
até 1935 quando completou 18 anos e se casou com Geraldo
dos Santos.
Lembro-me que na minha infância/adolescência, minha
avó, relatando fatos da infância desta mulher de
fibra dizia: “Natália foi uma menina muito ajuizada
e responsável, atenta a tudo e todos, apaixonada pela
família e pelo pai que, mesmo bravo e rígido foi
um pai e marido dedicado aos filhos e família. Ela me
ajudou muito, mesmo cuidando dos outros irmãos: Maria
Natividade (Dim), Renê (Lolosa) e João. Desde os
12 anos Natália ajudava a esposa de seu tio Cesário
Peixoto, Sinhazinha (sua madrinha de batismo) que era costureira
de mão cheia e costurava os mais belos vestidos da época.
Foi
a partir daí que ela tomou amor pelo ofício de
costureira e se tornou uma profissional de renome, a qual toda
família montes-clarense a tinha como a fada que realizava
sonhos.”
Dedicou-se à sua profissão de costureira de alta
costura por toda sua vida, em seu ateliê que funcionava
em sua residência situada à Rua Dr. Veloso 541,
até seu falecimento em 28 de maio de 2007, justamente
no mês dedicado às noivas, ela partiu deixando
um legado memorável.
De personalidade forte, honesta e marcante, Natália Peixoto,
uma vida para não ser esquecida, era querida e amada
por todos os seus irmãos que a consideravam como a matriarca
da família e a todos ajudou sem distinção.
A sua descendência, até aqui foram sete filhos,
22 netos, 33 bisnetos e um trineto.
É reconhecida pela sociedade montes-clarense e por pesso
as de toda a região do norte de Minas, principalmente
pela confecção dos mais belos vestidos de noiva.
Além do seu corte perfeito, impecável, era perfeccionista
nos mínimos detalhes, desde o estilo, o tecido, o acabamento
(minuciosidades de suma importância na sua arte de alta
costura), possuía a mágica de transformar um vestido
comum em uma obra prima memorável. As rendas, os tecidos
nobres, os bordados, por menores clássicos que em suas
mãos eram acrescentados toques de elegância e romantismo
tanto aos vestidos de noiva quanto aos vestidos de gala.
Atendia
as preferências e desejos das noivas que a confia vam
para confeccionar os seus vestidos dos sonhos.
Cuidadosa e perfeccionista, supervisionava tudo, desde a preparação
dos moldes, o corte, a costura, o acabamento, os de talhes mais
sutis até os painéis de rendas que percorriam
os vestidos, particularidades artesanais com pérolas
ou pedrarias que adicionavam uma dimensão única
aos vestidos de noivas e de gala, em parceria com sua amiga
e vizinha Beatriz Avelar Coelho, que bordava os mais belos vestidos.
Sua figura de porte esguio e imponente, seu bondoso coração
que a todos recebiam em sua residência com sua mesa farta
para um delicioso café ou um tradicional almoço
em família (tradição da Família
Peixoto com seus dotes culinários variados) ficará
para sempre registrados nas reminiscências daqueles que
tiveram a honra de conhecer essa “Dama da Alta costura
de Montes Claros, que fez história, e deixou um, legado
memorável.
Quando conhecemos a história da costura, ganhamos conhecimentos
sobre as tradições e as expressões culturais
de diferen tes povos.
Além disso, conhecer como as técnicas e ferramentas
evoluíram ajuda a compreender o progresso na indústria
têxtil e na moda.
Natália Peixoto sabia combinar conhecimento antigo com
métodos modernos e executava inspirações
contemporâneas muito bem. Conhecedora da história
da moda, entendia como as tendências se desenvolviam,
como os padrões do vestuário mudavam e como certas
peças de roupas se tornavam icônicas; o exemplo
disso foram os vestidos de noivas que confeccionou. Para minha
amiga a médica, jornalista, escritora e confreira do
Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
- IHGMC Mara Narciso que, com sua autenticidade, a frente do
seu tempo, escolheu como vestido de noiva, em 1977, um modelo
atemporal ou melhor dizendo em “estilo Boho”; foi
uma fusão singular de estilos, integrando leveza, rusticidade
e um toque vintage que resultou em uma ele gância descontraída
em cortes belíssimos, que poderia ser usado até
hoje, seguindo a nova tendência de casamento em campo
ou litoral, que na época seria um escândalo se
casar fora da igreja. Era um vestido de voal de algodão,
todo com entremeios de rendas francesas e nervuras formando
recortes estruturais em um estilo moderno, há 47 anos.
Quem conheceu os trabalhos de Natália Peixoto, teve a
oportunidade de apreciar sua criatividade e dedicação
investidas em suas criações, ao longo da sua vida
profissional.
Se não houvesse Natália Peixoto, a história
da Alta Costura em Montes Claros como conhecemos seria muito
diferente. Ela influenciada pelas tendências da época
e pelas transformações sociais, confeccionou os
mais belos vestidos como relata nosso confrade e Primeiro Presidente
do IHGMC Instituto Histórico e Geográfico de Montes
Claros Dr. Wanderlino Arruda:
“Em uma época de grande importância da moda
feminina, com todo relevo social, Natália Peixoto representou
a perfeição na arte da alta costura, um zelo profissional,
que parece, não existiu nem antes nem depois.
Com seu ateliê de costuras no centro da cidade, ela se
ocupava, em tempo integral, a atender a uma clientela especial,
com o que havia de moderno dentro dos modelos franc?s e italiano
das melhores revistas.
Só em reparar a beleza das festas dos salões do
Clube Montes Claros e do novo Automóvel Clube, poderia
perfeitamente saber,
pela perfeição dos vestidos mais grã-finos,
o que era confeccionado por ela.
Ser cliente de Natália Peixoto era o que poderia haver
de mais importante no seu tempo.”
Wanderlino Arruda – Escritor Primeiro Presidente do IHGMC
– Instituto Histórico e Geográfico de Montes
Claros – 13/10/2024
Usar um modelo confeccionado por ela era o símbolo máximo
da elegância, até hoje considerada uma das precursoras
da alta costura montes-clarense.
Natália Peixoto viveu até os 89 anos, e continuou
trabalhan do até o fim da sua vida em 2007, e os feitos
da sua carreira são inegavelmente memoráveis.
Seu estilo clássico e atemporal transmite a imagem de
uma mulher forte e bem sucedida, independente e de personalidade
ímpar.
“Taia,
como nós filhos a chamávamos, foi especialista
em vestidos de noivas, sendo procurada pelas noivas de Montes
Claros e de toda a região do norte de Minas. Confeccionou
trajes para toda a família da noiva, durante várias
décadas, com perfeição de acabamentos,
requisitos de uma legítima alta costura. De fácil
convívio, era querida por todas as suas clientes, e ajudava
outras costureiras, passando conhecimentos, quando era solicitada
para prestar algum socorro.
Bem à frente do seu tempo, era feminista bem antes do
movimento se tornar um marco em nossa sociedade. Independente
desde jovem, deixou os estudos para trabalhar e dedicar-se à
família, dando apoio ao seu pai na criação
dos seus irmãos tanto do primeiro casamento como também
os do segundo”.
Depoimento da sua filha do primeiro casamento Irani Peixo to
Silva - 27/09/2024
“Natália, como profissional, foi impecável:
as confecções perfeitas, sempre avaliadas por
ela a preços inferiores do que valiam.
Como mãe, estendeu a maternidade aos filhos de outras
mães, acolhendo em seu lar, ajudando na educação.
Como avó, foi querida e assim como aos seus filhos, foi
enérgica na educação deles.”
Depoimento de sua filha do segundo casamento Magaly Para-tella
– 27/09/2024
“Natália Peixoto Paratella, minha avó, foi
um ser humano de caráter e personalidade únicos.
Sua prioridade foi a família, buscando que todos estivessem
reunidos e a seu lado, em todos os momentos de sua vida.
Eu
me considero abençoado, por ter tido além de avó,
uma segunda mãe.
Moramos juntos, quando os filhos se casaram e daí nos
tornamos mais companheiros.
Vovó trabalhou uma vida como costureira, onde sempre
tirou seu sustento para não depender de ninguém.
Levo comigo a certeza de que nos ajudamos muito um ao outro
nos momentos difíceis que passamos com nossos entes queridos,
partindo tão cedo. Pelo que ela fez por mim, terei eternas
gratidão e saudades, pelos seus ensinamentos, seu amor
para comigo e sua generosidade para com os seus.”
Depoimento do seu neto Marcelo Drumond (filho primogênito
de Iraídes) – 29/09/2024
Conheço Natália desde sempre!
Morávamos na mesma rua, a dois quarteirões de
distância.
Passava em frente de sua casa, aos sábados, para buscar,
na casa de Deolinda, nossos vestidos infantis para ir à
missa, à praça de esportes e a matinê do
Cine São Luiz.
Já minhas irmãs maiores, tinham em Natália
um porto seguro para seus vestidos de festa, passeios ou de
viagens.
Anos seguidos contamos com sua competência, pontualidade
e zelo na sua arte de cortar e costurar.
Seu endereço era um pequeno portão aberto a todos,
seguido de uma passarela que nos levava ao seu atelier.
Um armário guardava os tecidos de vestidos já
encomenda dos. Na grande mesa de madeira, Natália moldava
e cortava inúme ros vestidos de noiva, de madrinhas e
de outras antigas clientes. Alinhavava com alfinetinhos bem
enfileirados (foi com ela que aprendia fazer isso), e só
então passava à Zeca, sua competente costureira,
com as recomendações necessárias. Depois
da primeira prova, quase nada precisava ser ajustado.
Às vezes ficávamos, eu e ela, conversando sem
que isso atrapalhasse seu trabalho ou sua concentração.
Ao lado de sua grande mesa ficavam, bem arrumados, os te cidos
já programados para a semana. Esta fila, à espera,
nunca foi pequena.
Cultivava em seu quintal pequenos canteiros de flores e orquí
deas nos vasos pendurados. Molhava suas plantas antes de começar
seu trabalho no ateliê e enquanto cortava e alinhavava,
mantinha sua atenção no movimento da cozinha,
controlando o almoço.
Os vestidos de noiva de nossa família foram feitos por
Natália, além dos vestidos do enxoval onde não
poderia faltar um tailleur para a viagem. Naqueles tempos viajar
de avião requeria roupa es pecial: um tailleur, bolsas
e luvas!
Para minha mãe, Natália ia pessoalmente em casa.
Era muito amiga da minha mãe e também do meu pai,
que encontrava às vezes quando ia ao comércio
comprar aviamentos. Participava conosco das festas de aniversário
da família.
Natália não foi apenas uma excelente profissional.
Era dedi cada e solidária a sua família e para
sua irmã viúva tinha um especial compartilhamento
e dedicação.
Foi também uma lutadora que sempre tinha uma batalha
a ser vencida. Sua filosofia de vida foi forjada na criação
de sua família, onde sempre esteve presente.
Quatro gerações de minha família conviveram
com Natália e se beneficiaram de sua competência,
mas sobretudo de sua amiza de.
Depoimento
prestado em 12/09/2024 por Isabel Rebello de Paula (Viúva
do Dr. Luiz de Paula Ferreira - Associado e Presidente de Honra
do IHGMC – Instituto Histórico e Geográfico
de Montes Claros - MG)
“Eu sempre fui alternativa. Minha mãe Dra. Milena
Narciso havia se formado três anos antes e era tempo de
vacas gordas. Eu me casei numa quinta-feira 15 de dezembro de
1977, 19h na Cate dral, com um vestido desenhado em Belo Horizonte,
na Casa da So gra. Minha mãe ficou desapontada com a
minha escolha. Ela tentou salvar a pátria contratando
Natália para executá-lo. Meu vestido de noiva
foi um desafio para Natália Peixoto, pois era de voal
de algo dão, sem bordados, apenas rendas francesas, sem
véu nem grinalda. A excentricidade irritou minha mãe.
A minha cara. Ficou simples e delicado.”
Depoimento da Dra. Mara Narciso – Médica Endocrinologista
aposentada – Jornalista e Escritora Confreira do IHGMC-Instituto
Histórico e Geográfico de Montes Claros - MG -
03/07/2024
Que saudades da Vovó!
Quando éramos pequenos íamos até o seu
ateliê para brincar com as pequenas pérolas que
ela usava nos vestidos.
“Sai daqui menino! Vai brincar lá fora”
Ohh saudades!
Matheus Paratella – Neto (Filho de Luiz Hamilton Paratella)
- Chef de Cozinha Campeão do reality gastronômico
“Fecha a Conta”, na Rede Globo em 2017 – atualmente
comanda a cozinha do La Villa Trattoria em Tiradentes –
MG- Considerado pela Revista Exame uns dos 100 melhores restaurantes
do Brasil.
É
simples e ao mesmo tempo complexo falar da minha Tia Na tália,
pessoa iluminada por Deus na arte da alta costura; as noivas
faziam questão de vestir os modelos confeccionados por
ela e sua equipe.
Uma pessoa forte e generosa, a palavra dela tornava-se lei na
nossa residência (como dizia minha mãe: Taia falou
...pronto.
Me sinto feliz e abençoada por ser sua sobrinha e por
guardar boas lembranças desta tia querida.
Aos sábados o café da tarde era na nossa residência,
e logo após sentávamos no alpendre para uma boa
prosa.
Além de elegante e generosa, o seu poder com a família
era de proteção e devido a isso, só tenho
amor e gratidão por ela.
Quando me casei, meu vestido de noiva teve seu toque especial,
e sua pessoa estará para sempre no meu coração
e nas minhas orações. Saudades!
Aneli Peixoto Barbosa – Filha de Renê (Lolosa) Peixoto
– 07/10/2024.
Tia Natália, um ser humano maravilhoso, de um coração
bondoso e sempre pronta a ajudar a todos, principalmente à
família. Lembro-me que, quando eu era criança,
ela sempre mandava no na tal presentes e guloseimas para nós.
Quando me casei, ela fez ques tão de confeccionar meu
vestido e ainda me deu a festa de presente. Tenho muita gratidão
pelo seu amor, carinho e consideração que teve
com todos os seus.
Marina Beatriz Peixoto Silva - Filha de Ana Maria Peixoto -
05/10/2024.

QUEM
QUER COMPRAR CEBOLAS?
Recordar é viver. A vida é composta por recordações
que fazem de cada pessoa um ser único. Dar e receber
é uma troca virtuosa. E é contando e recontando
as nossas experiências que damos significado ao nosso
viver. As melhores recordações não ficam
em fotos: ficam no coração. O neurologista Paulo
Berto lucci afirma que manter a memória acesa, significa
atividade mental e interesse pelo mundo, nesse sentido, “recordar
não é só viver, é viver bem“.
Numa viagem ao ”túnel do tempo“, desembarcando
em janeiro de 1961, em Montes Claros-MG., vindo de Pedra Azul--MG.,
minha terra natal, onde fiz o primário e ginásio
para aqui continuar os estudos, fui acometido de paixão
“a primeira vista” pela cidade. Na época,
o ônibus chamado de “jardineira”, saia pela
manhã, em estrada de terra batida, via Taiobeiras-MG.,
e chegava ao anoitecer, com as malas no teto, cobertas de lona
por causa da poeira.
Nesse tempo, menos acelerado e mais previsível, a cidade
começa a despontar para se tornar a grande metrópole
econômi ca, social e cultural dos dias de hoje. Havia
em torno de 12 agências bancárias: 03 federais,
04 estaduais e 05 privadas; 03 conces sionárias de veículos:
GM, Volkswagen e a Ford do meu primeiro emprego. Na torrefação
e moagem de café as indústrias: INDIANO, PRIMOR
e na Cel. Antônio dos Anjos, 196-Centro, o CAFÉ
DIPLO MATA meu segundo emprego, onde emitia notas de vendas.
A Algodoeira Luiz de Paula se destacava no beneficiamento de
algodão entre outras usinas. Naqueles anos era mais utilizado
gordura animal e óleo vegetal de algodão, havendo
aqui duas fábricas: IRMÃOS PEREIRA e a IRSAMASA,
que produziam e comercializavam o óleo em todo país,
principalmente para o sul da Bahia. Em abril/1963, fui trabalhar
na IRSAMASA, que produzia além do óleo, sabão
e torta/farelo para bovinos. A Mariflôr como era mais
conhecida, reaproveitava o resto de algodão do caroço
para vendê-lo em fardos. Em março/1964, iniciava
as aulas da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras-FAFIL,
a primeira de nível superior. Fui aluno da primeira turma
do curso de geografia.
Outro destaque era a EFCB-Estrada de Ferro Central do Brasil,
aqui desde 1926. A rodovia que dava acesso a Belo horizonte
era de terra batida até Curvelo. A maioria da população
utilizava o trem em dois horários a tarde e a noite,
com vagões de passageiros de duas classes, leito, restaurante
e cerveja fabricada em Ribeirão Preto/SP., e, que permitia
baldear da capital até o Rio Janeiro através do
luxuoso trem VERA CRUZ. Interligada com a Bahia desde 1950,
a EFCB favoreceu o desenvolvimento, reforçando o seu
papel de coletora e distribuidora da produção
regional, ampliando o comércio atacadista e a rede bancária
da cidade. Contudo, so mente a partir de 1965 com a chegada
da energia elétrica de Três Marias e uma maior
atuação do Estado de Minas junto a SUDENE, foi
que a industrialização ganhou velocidade. Com
efeito, naquele ano, foi inaugurado o FRIGONORTE, sonho da elite
regional, com incentivos daquela autarquia. A cobertura da imprensa
era realizada pelos jornais: “O Diário de Montes
Claros”, “O jornal de Montes Claros” e a ZYD-7,
única emissora de rádio.
|
Por fim, a ampliação acima citada do comércio
atacadista, levou a criação de inúmeros
estabelecimentos, entre outros: Armazém de Caribé
nos fundos da Igreja matriz, Armazém de Miguel
“Dedê Moreira na rua Carlos Gomes, Armazém
Itapoã de Zim Bahia/Aristóteles e em frente:
na rua Cel. Joaquim Costa, Armazém Ouro Verde de
Irmãos CUNHA. |
Um
episódio destacou o pioneirismo e o empre endedorismo
de um deles: Dudu CUNHA. Numa ocasião, ao fazer a entrega
de mercadorias por caminhão na longínqua Jua zeiro-BA.
divisa com Petrolina-PE., desafiou péssimas estradas
de terra batida. Para não retornar de carroceria vazia,
observou, graças ao seu apurado tino comercial, cebolas
produzidas às margens do rio São Francisco, que
divide as duas cidades, quase perdendo por falta de compradores.
Não teve dúvidas, encheu o caminhão de
cebolas e regressou a Montes Claros. Ao anunciar “quem
quer comprar cebolas”, em falta na região, em poucos
dias, acabou ven dendo toda a cebola. E o surpreendente: retornou
a Juazeiro, para trazer outro caminhão com cebolas.

A
SAÚDE MENTAL DOS POLICIAIS
Durante a pandemia de Covid-19 especialistas em comportamento
humano de várias partes do planeta concordaram que após
a crise da doença haveria uma “pandemia de do ença
mental” decorrente dos temores, da insegurança,
das tensões vividas durante o período em que o
vírus estava ditando o modo de vida no mundo inteiro.
As previsões se concretizaram.
A violência se intensificou nas ruas, no trânsito,
nas escolas, nos lares, enfim, em todos os lugares, após
a pandemia. O nível de intolerância e agressividade
das pessoas cresceu – e o pior, todos estão se
acostumando com isso, como se toda essa tendência à
incivilidade fosse algo normal. Ora, se essa tendência
passa a dominar a vida das pessoas em geral, imagine o que acontece
com pessoas cujas atividades profissionais e ambientes de trabalho
constituem fábricas de estresse? Dentre essas profissões
estão as corporações policiais. Neste artigo
trataremos acerca da saúde mental dos policiais brasileiros.
Toda atividade policial, per se, submete o profissional a uma
carga intensa de estresse. Não há como negar que
o estresse excessivo interfere na saúde mental do indivíduo
e, consequentemente, na sua qualidade de vida e, mais, pode
ditar suas ações em todos os aspectos, inclusive
no campo profissional. As cor porações policiais
nas quais os efeitos negativos do estresse são mais visíveis
são as Polícias Militares e Polícias Civis
(estaduais): as primeiras são de longe as mais afetadas.
Alguns fatores são de terminantes para a maior visibilidade
dos efeitos do estresse nas PMs, tais como o efetivo maior –
são as corporações com maior número
de profissionais atuando no país –, a lida diária
direta
mente com os problemas mais impactantes de segurança
pública nas ruas, exposição direta e constante
ao risco de morte, as rela ções opressivas no
ambiente interno, em virtude do rigor exigido pelos regulamentos
castrenses e reflexos do modelo pedagógico opressor utilizado
na formação inicial e na formação
continuada desses profissionais.
Especialistas como Sérgio Lopes Santana e Alini Danieli
Via na Sabino, afirmam que a produção excessiva
de adrenalina no organismo em virtude do estresse, como ocorre
na vida dos policiais em geral, tanto durante as instruções
como no exercício da ativi dade profissional, pode gerar
prejuízos significativos para a saúde física
e mental deles.
No trabalho diário, o policial encontra alta
taxa de adrenalina estando sempre preparado para agir. À
medida que aumenta o nível de tensão, aumenta
também o nível de vigilância e de expectativa,
passando a estar pronto para agir a qualquer instante
de maneira enérgica. O profissional vive sob pressão
constante e em consequência, sofre alteração
no seu padrão normal de pensar e agir, além
de apresentar dificuldades para estabelecer prioridades
ocasionando sensações de hesitação,
visão estreita, raciocínio confuso e ilógico
que passam a fazer parte do seu diaa dia. (SANTANA; SABINO:
http://www.aems.edu.br/ conexao/ edicaoanterior/. Acesso
em 22/10/2021).
Michelli Beckert (2019) aprofunda um pouco mais na questão
pedagógica das Polícias Militares envolvendo a
chamada “preparação para a resistência
à psicofadiga” – conjunto de práticas
que consiste em levar o aluno ao nível máximo
de estresse, através de tensão, aflição
e sofrimento no intuito de prepará-lo para agir sob pressão;
a autora afirma que, de certa forma, essa submissão a
situações emocionais extremas pode, por um lado,
até ajudar a enfrentar alguns obstáculos cotidianos,
mas sempre afetará negativamente o ser humano que está
por trás do uniforme, abalando-o emocionalmente e interferindo
na sua vida profissional e pessoal. França (2015, 2019
e 2022) define a pedagogia policial-militar como “pedagogia
do sofrimento” – ele é integrante da PMPB
e es tuda a corporação do seu Estado.
A autora afirma que durante o treinamento funcional dos policiais
são incutidas “normas de conduta” que obrigam
esses profissionais a manterem o controle emocional diante de
qual quer circunstância e a qualquer custo. Esse “código
de conduta”, segundo ela, é levado a sério
em todas as situações, inclusive na vida interpessoal
e cria neles uma falsa ideia de que são inaba láveis,
de que possuem uma força extrema. De certa forma, essas
normas e a metodologia utilizada podem até ajudar no
enfrentamento a alguns dos obstáculos profissionais diários,
mas nem sempre conseguem fazer com que o ser humano que está
por trás da farda não se abale emocionalmente
com os fatos, como foi ci tado – ele acabará sofrendo
os efeitos disso, especialmente na sua saúde física
e mental.
Beckert (2019) insiste em destacar que as organizações
de Segurança Pública, especialmente as Polícias
Militares, enfrentam frequentes
adversidades em seu ambiente de trabalho. No ambiente policial-militar,
mesmo após o período de formação
inicial, os policiais são submetidos a situações
que levam ao estresse pós-traumático e podem predispor
doenças mentais.
O desenvolvimento do Transtorno de Estresse pós-traumático
pode ocorrer após a exposição direta
ou indireta a eventos traumáticos como morte, lesões
ou traumas. Essas situações são recorrentes
na vida policial. Sintomas como recordações
aflitivas e recorrentes do ocorrido, mudanças de
humor, distúrbios do sono, entre outros, são
observados em pessoas que apresentam esse diagnóstico.
Não procurar ajuda aumenta em três vezes o
risco para desenvolvimento de transtorno depressivo e transtor
no somatoforme (sintomas físicos sem base médica
constatável). agravamento dos sintomas depressivos,
especialmente, pode levar a pensamentos de morte. Sabe-se
que o risco de suicídio entre policiais é
ainda maior devido à proximidade e facilidade para
o manuseio de armas de fogo. Também há outras
patologias comuns. Os transtornos de ansiedade, transtornos
de adaptação (sofrimento psicológico
desproporcional a gravidade do estres sor, com prejuízo
psicossocial) e a depressão, também são
pato logias recorrentes no âmbito policial. (BECKERT,
2019: https:// www.wainerpsicologia.com.br/.
Acesso em 24/10/2021).
A hipótese mais aceitável para contrapor os efeitos
desse estresse funcional, seja em decorrência dos impasses
vividos no ambiente dos quartéis ou diretamente em virtude
dos riscos que a profissão submete o indivíduo,
seria uma mudança de meto dologia de ensino, tornando-a
mais humana e produtora de uma mentalidade mais progressista,
capaz, inclusive, de levar esses profissionais a aceitarem tratamento
psicoterápico como parte do processo pedagógico
continuado. Outro fator de suma importância para a redução
do estresse funcional dos PMs seria o estreita mento das relações
interpessoais de níveis hierárquicos diferen tes:
a falsa ideia de que o contato amistoso entre pessoas de níveis
hierárquicos diferentes interfere negativamente na manutenção
da hierarquia e da disciplina, provoca um distanciamento entre
essas pessoas, inclusive enquanto seres humanos.
Contudo,
há uma resistência enorme em se promover mudanças
nessas questões, especialmente em virtude daquilo que
Gonçalves (2012) aponta como “cultura institucional
da Polícia Militar” – ele trata especificamente
da PMMG, mas sua assertiva é aplicável a todas
as corporações policiais-militares. Uma proposta
no sentido de promover mudanças na pedagogia e nas relações
interpessoais dos policiais militares de níveis hierárquicos
diferentes, e utilizar a psicoterapia como instrumento de enfrentamento
do estresse funcional, na atual conjuntura, certamente geraria
uma resistência incomensurável pela quase totalidade
da tropa, tanto pelo desconhecimento do que é de fato
a psicoterapia, como pelo preconceito conservador existente
nesse ambiente contra qualquer atividade que seja diferente
do que estão acostumados a praticar no dia a dia.
Outra questão séria que não deixa dúvidas
ter origem na pedagogia policial-militar e no autoritarismo
que pauta suas relações interpessoais, dentre
outros fatores, é a propensão para o suicídio
entre os PMs. O tema é tabu nas corporações:
é sempre evitado e até camuflado para a sociedade
civil, com a relutância em se fornecer dados para estudos
sobre o assunto. Nascimento (1992) destaca que o oficial da
PM de São Paulo e também psicólo go, Ib
Martins Ribeiro, numa dissertação de mestrado,
expõe que policiais militares se suicidam cinco vezes
mais que a população em geral. A maioria dos casos
por dificuldades para lidar com pro blemas pessoais.
Juliana Martins e Juliana Lemes da Cruz (2023), em estudo publicado
no Anuário Brasileiro de Segurança Pública
e no site do Instituto de Psicologia da USP, mostram que os
suicídios vitimam mais os policiais militares do que
confrontos armados durante o serviço e alertam para a
necessidade de se prevenir que mais mortes ocorram – em
números relativos há menos casos de suicídios
entre policiais civis nesse estudo. As autoras falam da necessidade
urgente de se monitorar a saúde mental dos profissionais
de segurança pública e dar visibilidade para os
dados de vitimização rela cionadas a suicídios.
A questão principal nestes casos é o proble ma
da saúde mental, já que o suicídio é
o desfecho de uma tragédia íntima que evolui no
decorrer de um tempo e que, na maioria das vezes, poderia ser
evitado com tratamento adequado. A quantida de de policiais
militares e policiais civis portadores de transtornos mentais
é elevada, segundo as autoras, e muitos sequer estão
em tratamento porque as autoridades não dão a
importância devida a tal fato.
Seja qual for o motivo de as secretarias estaduais ou
de as polícias não compartilharem as informações
ou não terem a prática de sistematizá-las,
não falar dos números e, portanto, não
dar visibilidade a eles, não protege os policiais.
Pelo contrário, passa a ideia de que o problema não
existe, agravando ainda mais a situação daqueles
que precisam de ajuda e não sabem o que fazer. O silêncio
contribui para que essas pessoas se sintam ainda mais sozinhas
e inadequadas. (MARTINS & CRUZ, 2023, p. 54).
Dentre os condicionantes laborais encontrados por Martins &
Cruz (2023) como originadores dos graves problemas relacionados
à saúde mental dos policiais, foram listados o
assédio moral na administração interna,
a admissão do papel de “policial herói”
e os conflitos dela decorrentes, o estresse pelo desgaste físico
e mental em razão do contato continuado com situações
de perigo, a cobrança institucional pelo cumprimento
de metas na produção trabalho relacionado ao registro
de ocorrências policiais, o endividamento pessoal, e à
sensação de insegurança jurídica
a que são expostos.
As
autoras apontam o suicídio de policiais como um “silencioso
adoecimento psíquico” e criticam a preocupação
das instituições em camuflar informações
sobre as ocorrências de autoextermínio. Afirmam
que a fonte mais confiável sobre essas informações
no Brasil atualmente é o Boletim de Notificações
de mortes violentas intencionais e tentativas de suicídios
entre profissionais de Segurança Pública no Brasil,
do Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos
em Suicídio, que trabalha com dados obtidos através
de uma coleta das informações em ocorrências
registra das pelas instituições de segurança
pública, compartilhadas em grupos de WhatsApp de agentes
de segurança pública e notícias publicadas
em jornais ou websites, assim como notas de pesar divulgadas
em sites de grande circulação e das instituições
de segurança pública. O trabalho é concluído
com indagações sobre como as instituições
policiais lidam com os problemas de saúde mental de seus
integrantes:
Essas instituições policiais sabem, por
exemplo, quantos policiais estão afastados por questões
de saúde mental e por quanto tem po? Quando eles
voltam dessas licenças, o que é feito com
eles, para onde vão? Como é sua reinserção
no trabalho? Ou eles são colocados de lado, deixados
num canto porque ninguém sabe lidar com eles? Igualmente,
sabemos quantos policiais estão afastados por hipertensão,
doenças cardíacas e etc.? Temos um mapa disso?
O que fazemos com essas informações? A saúde
dos policiais é um assunto de interesse de todos
nós. Preservar suas vidas também. Mas para
que isso seja possível, as informações
precisam chegar. (Idem. Ibd., p. 57).
A abordagem das autoras acima converge com os dados apresentados
por Leonardo Ozima (2024).
A taxa de suicídio entre policiais civis e militares
da ativa cresceu 26,2% em 2023 em comparação
ao ano anterior e se transformou na maior causa das mortes
de policiais no Brasil, superando as que se dão em
confrontos, seja durante o serviço ou na folga. O
suicídio entre a categoria é quase oito vezes
maior do que entre a população em geral. Os
dados são do Anuário Brasileiro de Segurança
Pública de 2024 e é a primeira vez que esse
fenôme no acontece desde que o Fórum Brasileiro
de Segurança Pública passou a registrar os
dados de vitimização de policiais. (OZIMA,
2024).
A professora do Departamento de Psicologia da USP, Marina Rezende
Bason, entrevistada por Ozima ((2024), afirmou que os policiais
militares estão em constante contato com vários
fatores de estresse, dentre eles as mazelas e as contradições
sociais, extrema violência, sobrecarga e condições
precárias de trabalho. O que os coloca em destaque, em
níveis de estresse, em relação aos integrantes
das demais corporações policiais brasileiras.
Há ainda mais um agravante em relação à
questão dos suicídios de policiais. Se considerarmos
que o suicídio, via de regra, está vinculado a
problemas de saúde mental que evoluem em um lapso de
tempo até chegar em estágio gravíssimo,
um PM que comete suicídio é um profissional que
durante algum tempo esteve em contato com a sociedade, portando
armas e interferindo nas ações de cidadãos
civis, em função das suas atividades laborais,
já acometido por transtornos mentais. Além da
perda da vida humana que o suicídio desse profissional
representa, há também os potenciais riscos que
precedem o ato. Por se tratar de indivíduo com transtornos
psíquicos graves portando equipamentos letais como armas
de fogo, no exercício das suas funções,
essa condição pode desencadear tragédias
tanto no meio civil ou no próprio am biente militar.
A falta de atenção por parte das corporações
– e aqui não nos referimos a uma ou duas Polícias
Militares, mas a todas elas –, especialmente no que se
refere às questões laborais descritas por Martins
& Cruz (2023), leva à presunção de
que há grandes possibilidades
de existir, a todo momento, policiais com transtor nos mentais
e tendências suicidas trabalhando normalmente sem que
tal condição seja conhecida. Daí, a necessidade
urgente de se investir no acompanhamento psicológico
desses profissionais para a detecção precoce de
transtornos e/ou distúrbios mentais para um tratamento
efetivo, para preservar suas vidas e evitar tra gédias
envolvendo também outras pessoas, e possibilitar a esses
profissionais viver com dignidade.
REFERÊNCIAS
BECKERT, Michele. Saúde Mental de Policiais
Militares e Psicoterapia. Postado em 23/04/2019. Disponível
em https://www.wainerpsicologia.com.br/. Acesso em 24/10/2021.
FRANÇA, Fábio Gomes de. A pedagogia do sofrimento
em um acampamento bombeiro militar. Revista Brasileira de Segurança
Pública, v. 16 n. 1 (2022): Edição especial:
A formação dos profissionais de segurança
pública. Disponível em: https://revista.forumseguranca.org.br/
index.php/rbsp/article/view/1438.
Acesso em 13/07/2022.
___________. “Se não aguentar, corra!”: Um
estudo sobre a pedagogia do sofrimento em um curso policial
militar. Revista Brasileira de Segurança Pública,
2015. Dis ponível em: https://www.academia.edu/35969099.
Acesso em 14/07/2022.
___________. “O Soldado é algo que se fabrica”:
Notas etnográficas sobre um curso de formação
policial militar. Revista TOMO, São Cristóvão,
Sergipe, Brasil, n. 34, p. 359-392, jan./jun. 2019. Disponível
em: https://periodicos.ufs.br/tomo/article/view/10378/8336.
Acesso em 05/03/2024.
GONÇALVES, Heli José. Controle social e violência:
Uma análise da Polícia Militar de Minas Gerais.
Unimontes:2012, Dissertação de Mestrado [manuscrito],
orientador: Professor doutor Elton Dias Xavier MARTINS, Juliana.
& CRUZ, Juliana Lemes da. As mortes de policiais em 2022.
Anuário Brasileiro de Segurança Pública
2023. Disponível em: https://apidspa ce.universilab.com.br/server/api/core/bitstreams/6f1ad9ee-0e4a-431d-8b
da-55e3e3520b81/. Acesso em 01/02/2024.
NASCIMENTO, Gilberto. Aumenta o número de suicídios
entre PMs. São Paulo: Folha de São Paulo, 17?11/2000.
OZIMA, Leonardo. Suicídio é a maior causa de morte
entre policiais no Brasil - Marina Rezende Bazon tece comentários
acerca de um cenário que revela que o Estado brasileiro
falha na preservação da saúde mental dos
agentes de segu rança pública. Jornal da USP no
Ar 1ª edição / Rádio USP, 27/08/2024.
https:// jornal.usp.br/campus-ribeirao-preto/.
SANTANA, Sérgio Lopes & SABINO, Alini Daniéli
Viana. Estresse Policial Militar: efeitos psicossociais. Disponível
em http://www.aems.edu.br/conexao/edicao anterior/. Acesso em
22/10/2021.
SILVA, Gastão Pereira da. Psicanálise dos Gênios
– Doentes célebres. Porto Ale gre: Pan Americana,
1989.

A
CONTRIBUIÇÃO HISTÓRICA
DA JOVEM ARQUITETA
JULIANA PEREIRA PERES
Meus amigos e caros leitores. Tem um ditado que diz: “Filho
de peixe, peixe é”.
Juliana Pereira Peres é um excelente exemplo de confirmação
do presente ditado. Juliana é filha do casal Rosângela
Pereira Peres e Raul Peres Filho, Rosângela é uma
pianista e professora musical de primeira ordem e Raul é
um renomado engenheiro civil, ambos os progenitores são
Montesclarense, oriundos de famí lias tradicionais da cidade.
Juliana
é graduada, com destacado brilho em Arquitetura e Urbanismo
pela Faculdade Brasileira de Ensino Superior – UNIVIX, Vitória,
Espírito Santo, ano 2007, ocasião em que foi agracia
da com o título e placa de Maior Média Global do
curso.
Em sua monografia, cuja Banca Examinadora pontuou com nota máxima
– Dez com Louvor-, Juliana Pereira Peres apresentou o tema
Patrimônio Histórico de Montes Claros, cujo projeto
resul tou em um magnífico exemplar encadernado. Daí
compartilhado em cartilhas editadas pela Gráfica e Editora
Millennium Ltda, cus teadas pela Prefeitura Municipal de Montes
Claros, gestão - Athos Avelino Pereira, como parte das
comemorações dos 150 anos (sesquicentenário)
de elevação de Vila a Cidade (1857-2007).

Neste
projeto, Juliana Peres elegeu as tradicionais “Festas de
Agosto”, na figura folclórica do “Mestre Zanza”
– como era conhe cido o saudoso senhor João Pimenta
dos Santos, notório participante, preservador e coordenador
das festas de agosto, também nominada de Festa dos Catopês,
constituída pelos grupos folclóricos: Catopês,
Marujos e Cabloquinhos, em homenagens ao Divi no Espírito
Santo, Nossa Senhora do Rosário e São Benedito;
festa que se realiza, anualmente, há quase 190 anos.
Vale lembrar que a edição desta 1ª cartilha
foi coordena da pela Divisão de Patrimônio Histórico
da Secretaria Municipal de Cultura do Município de Montes
Claros, leia-se, Raquel Velo so Mendonça, com a participação
dos historiadores Haroldo Lívio de Oliveira (in memoriam)
e Dário Teixeira Cotrim, ambos do Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros – IHGMC, cuja Secretaria
Municipal de Cultura estava sob o comando do senhor João
Carlos Rodrigues Oliveira e teve como objetivo a valorização
e
conservação dos bens culturais de Montes Claros,
em conformi dade com a Lei nº 13.803/2.000, em conjunto com
a Deliberação Normativa do Conselho Curador do Instituto
Estadual do Patrimô nio Histórico e Artístico
de Minas Gerais – IEPHA/MG, nº 01/2005 que define e
aperfeiçoa a distribuição dos recursos financeiros
oriundos do ICMS - Imposto sobre a Circulação de
Mercadorias e Serviços aos municípios.
Juliana Peres elaborou um admirável trabalho de recuperação
e registro das informações relativas às edificações
tombadas pelo Patrimônio Histórico de Montes Claros,
a partir de um levantamento de dados e medidas gerais para a complementação
e elucidação dos textos, composto por 41 (quarenta
e uma) fichas de inventário contendo a data da construção,
a propriedade, o uso original e atual, a técnica construtiva,
alteração e estado de conservação,
nível de proteção, histórico, ambiência,
análise arqui tetônico, valores relacionados, registros
gráficos (croquis) e/ou fotográficos.

Somente
a título de exemplo, reproduzimos aqui, parcialmente, a
ficha de inventário de nº 19, onde está inserido
com deta lhes, o Palácio Episcopal construído no
ano de 1914, propriedade da Diocese de Montes Claros, uso residencial
na sua origem, hoje, uso institucional, com a seguinte Técnica
Construtiva: a estrutura de sustentação das paredes
é de alvenaria autoportante e revestida com argamassa de
areia e cal, pintada originalmente com tinta à base de
cal. Todas as esquadrias externas são em madeira e vidro
com duas folhas de abrir, venezianas e folhas de segurança.
A porta principal de entrada e as janelas do pavimento superior
possuem bandeira fixa. Internamente existem também portas
em madeira com uma folha de abrir. Todo o piso e forro é
em madeira, porém o primeiro é confeccionado com
tábuas e o segundo com frisos. A estrutura de cobertura
é em madeira e as telhas são do tipo francesa (observações
in loco e Dossiê de tombamento do conjunto urbanístico
da Praça da Matriz, 1998). Alteração: descaracterizações
na sua fachada posterior (substituição de esquadrias).
( )Inaltera do (X)Alteração regular ( )Grande alteração
( )Descaracterização. Estado de Conservação:
O Palácio apresenta pequenas trincas e crostas negras.
(X)Bom ( )Regular ( )Precário ( ) Ruinoso. Nível
de Proteção: tombado pelo Município. Histórico:
os padres premons tratenses, em novembro de 1907, iniciaram um
movimento para que Montes Claros viesse a ser a sede do bispado
que seria criado no Norte de Minas, concretizado a 10 de dezembro
de 1910. E em 1914, D. João Antônio Pimenta, primeiro
bispo de Montes Claros e ainda no cargo nessa época, sentindo
a necessidade de a Diocese ficar mais bem acomodada, mandou construir
o Palácio Episcopal. Para tanto contratou os trabalhos
do construtor italiano Tobias Vechio (Dossiê de tombamento
do conjunto urbanístico da Praça
da Matriz, 1998).
Finalizando, quero sugerir ao IHGMC – Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros, na pessoa do seu presidente
Francisco Ornelas, que se consiga uma cópia fiel do exemplar
da mono grafia Patrimônio Histórico de Montes Claros,
autoria da Arquiteta e Urbanista Juliana Pereira Peres, por se
tratar de um documento ímpar destinado a colaborar sobremaneira,
tanto para o conhecimento cultural e histórico, quanto
para a preservação dos casarões tombados
pelo Patrimônio Municipal. A arquiteta Juliana Peres, os
nossos aplausos e parabéns pelo belíssimo e importante
trabalho.

Juliana Pereira Peres

A
INSPIRAÇÃO DA VIDA
Ouvi um barulho suave vindo da janela de meu quarto, lá
fora o vento brincava com as folhas secas caídas de alguma
árvore do quintal, elas iam de um lado para o outro, levadas
pela força do vento, folhas sem vida, muitas enroladas
como pequenos charutos, vencidas pela força da estação
do outono, de folhas verdes, cheias de vida, grudadas nos galhos
até poucas se manas atrás, agora estão esparramadas
quintal à fora, expostas ao calor dos dias que se seguem,
da janela do meu quarto eu consigo ouvir o que acontecia do outro
lado, são pingos de chuvas, peque nos, que começam
a cair devagarzinho, sem pressa, são pingos e mais pingos
despejados céu abaixo, o outono continua me surpre endendo...
É hora da vida despertar depois de uma noite inteira de
sono, os passarinhos começam a fazer festa, é muita
alegria para um começo de dia como qualquer outro, se não
fosse a presença da chuva, a cidade adormecida arregala
os olhos e descobre que o chão molhado e céu encoberto
aponta para um dia diferente “quem
é que previa chuva em pleno mês de maio” alguém
fala para alguém ouvir durante um bate papo qualquer de
um dia normal, lá fora a chuva insiste, asfalto molhado,
meu pedaço de quintal também fica molhado, coalhado
de passarinhos, no alto da mangueira do meu vizinho, tem tanto
bicho fazendo festa, dá prazer assistir tudo o que está
acontecendo à minha frente, o sol tão presente por
aqui o ano todo, agora está acanhado, oculto acima das
nuvens que nos cobrem, prefere não estragar a festa, não
se ouve rádio de manhã, o velho costume tá
esquecido, porquê? Acho que foi os tempos modernos o responsável
por isso, hoje tudo que acontece é mostrado em tempo real,
a inspiração da vida, vai ficando pelo caminho,
caminhos sem identidade, que muda os velhos hábitos de
ver a vida com outros olhos.
A florada dos ipês roxos, colore aqui e acolá o meio
do pasto, é impossível ficar despercebido, os mesmos
olhos acostumados a enxergar a cidade de ruas asfaltadas, prédios
enormes, e milha res de carros poluindo o ar que respiramos, agora
se perde atrás da câmera do celular em busca de uma
imagem perfeita, para ser apreciada mais tarde, guardada e compartilhada,
com alguém que gosta de apreciar o que é belo, simples
e natural.
É inspirador o roxo espalhado pelo mato, o tom é
marcante, destacando-se frente o restante da vegetação,
mesmo que seja por alguns dias, pois não demora muito,
e os ipês roxos, ficarão sem nenhuma flor sequer,
é a lei da natureza, o homem não entende dessas
coisas, tudo isso, está tão explícito no
meio desta paisagem, e esta paisagem, que seduz os olhos e alimenta
alma, acostumada à olhar para o céu e achar que
chuva fora de época é normal para alguns, mas porém
estranho para muitos, os rabos de galos não mentem, como
riscos perdidos e despercebidos, dá a pista.
O bom mesmo é viver um dia após o outro, e esperar
os próximos capítulos, os ipês, sejam roxos
ou amarelos, continuam colorindo o que está desbotado,
e sem alegria.
A
inspiração da vida, vem de onde menos se espera,
não tem hora para começar e acabar, assim somos
nós, fingimos e fugimos de uma realidade cruel, interpretamos
um papel que não foi escrito para nós, representamos
a nossa própria peça de teatro, como forma de seguir
a vida, nos tornamos donos sem ao menos entendermos o verdadeiro
sentido do existir, buscamos por coisas fúteis, sem valor
sentimental, sem vida, procuramos e perseguimos coisas passageiras,
somos todos passageiros, perdidos em alguma estação
sem um trem que nos leve à algum lugar qualquer.
Assim, tudo é passageiro, os pingos da chuva que cai lá
fora, os passarinhos festeiros, o vento que balança as
folhas secas, vencidas pela força da estação
do outono, de um mês de maio sem previsão de chuva,
a inspiração de ver o mundo, com olhos diferentes,
é coisa para poucos, a cidade já despertada, de
asfalto molhado, segue seu ritmo normal, pessoas circulam, vão
e vem como qualquer dia da semana, a chuva fraca insiste, não
chega à causar estragos, ela veio porque tinha que ser
assim, tão natural, com vento fraquinho, fraquinho... a
vontade que tenho é de não abandonar minha janela,
o cenário que se apresenta em frente da minha janela, me
inspira e mexe com minhas imaginações.
Do lado de fora, da janela do meu quarto, pingos caem, deva garzinho,
e me inspiram a viver.


TEMPOS
DE PENITÊNCIA PARA CHOVER
Da nossa reminiscência guardamos coisas fantásticas.
Há cinco meses, da janela do nosso apartamento –
chovia muito - eu deslumbrava aquela precipitação
que impedia avistar a cordilheira do Espinhaço - divisor
do vale do Jequitinhonha com o nosso Verde Grande; olhei para
outro lado avistei a igrejinha no alto do Morrinho.
Logo veio uma lembrança que não foge de mim –
dos tem pos de penitência por meio de procissões,
impetrando a Deus para chover – emocionado veio um nó
na garganta que parecia nunca desfazer.
Em período prolongado de estiagem, um grupo de cristão
reunia na igreja do Asilo São Vicente de Paula para uma
caminha da até ao pé do cruzeiro da Igreja do Morrinho.
Um grupo liderado pela minha avó Alzira Ponciano; Dª
Henriqueta Pereira; Dª Antônia Rabelo; Dª Emilia
de Juca; Dª Dica Lafetá; Dª Nenza Biondi; Sr.
Luiz e Dª Célia Lafetá e Dª Dona Joaninha
Procópio (esta última, monitorava da Estação
Climatológica que ficava à Rua João Souto
c/ R. General Carneiro) – ao longo da caminhada, outras
religiosas e religiosos integravam o grupo de romeiros –
Duas delas lembro--me de Dª Guilhermina Macêdo que
morava na Rua Melo Viana e Dª Regina da rua circular.

Todas
elas sempre narravam histórias para nos animar, diziam
que depois do grande período de estiagem dos idos anos
30 e 50 – com as penitências, tiveram uns bons anos
de chuvas – di ziam que os percursos das precisões
eram muito mais longos que o trecho da Igreja de São Vicente
ou da Matriz para a colina de (*) Dona Germana Olinda.
Nós, os peregrinos: crianças, adolescentes, homens,
mulheres e padres – carregavam a fé que alimentava
a esperança. Nas cabeças e nas mãos, latas
e potes de barro com água e flores, pedras na cabeça
e ramos de mato e capim e a imagem da padroeira do Brasil. –
Eu “penitenciava” levando na mão direita a
imagem de São José, e, na outra, um ramo de flores
do ipê amarelo e uma flor de copo de leite. - Rezando o
percurso todo!
Aos pés da Santa Cruz, todos fiéis ajoelhavam e
rezavam e pediam a Deus para mandar a chuva. Depois, lavavam a
base do madeiro [cruz], que na época traziam os símbolos
do martírio de Jesus Cristo, depois íamos no meio
do largo da igreja aos pés da imagem de Cristo (cercado
por um balaústre de alvenaria) jogar mais água e
flores.
Lá de cima do morrinho era possível enxergar e lamentar
os estragos deixados pelas chamas na vegetação da
Serra do Melo [sapucaia] – não eram queimadas criminosas,
e sim, uma tradição dos produtores da época.
Para amenizar o sacrifício sob o Sol ardente, todos com
bonés, chapéus, lenços e sombrinhas. Com
a fé inabalável nos poderes de Cristo e São
Pedro – de olhos voltados para o céu, todos de mãos
dadas, rezavam outras orações e suplicando que eles
mandassem a chuva,
Das peregrinações que os fiéis faziam - a
mais penitente era do percurso da Praça da Matriz –
onde reunimos ao lado do Core to, seguia pela Rua Dr. Veloso,
encontrava com um grupo de idosos da Igreja do Asilo - subia pela
Rua General Carneiro, tomava a
Rua Melo Viana, chegava na ladeira Cônego Quirino até
o Largo da Igreja. Sempre éramos recebidos por Dona Geralda
“parteira”, Dona Sinhá, Dona Iaiá e
pelo folclórico Manoel Quatrocentos – to dos moravam
no Morro da Igreja. > Manoel Quatrocentos deixava suas brincadeiras
para depois do fim das cerimônias. – “Olha lá
a chuva! - ô Lá laica”, – dizia brincando.
Toda trajetória da peregrinação, as orações
eram um só coro – as rianças à frente
dos adultos - como manda a tradição; eram nove dias
de penitências, mas, muitas vezes antes de completar a novena
da fé, a chuva caia. Certa vez – por volta das 16;00
horas - quando chegamos lá em cima da colina - depositamos
os apetrechos no pé do cruzeiro, começamos as cantigas,
e, logo começou um evento de trovões e ventania,
desceu um “pé d’água” daqueles
com pedregulhos de gelo e ventos, logo acalmou; fomos acomoda
dos na casa da Dona Geralda por mais de uma hora – as mangas
caíram das mangueiras da casa do Manoel Quatrocentos (onde
hoje fica a Intertv) – Dona Geralda “parteira”
serviu de lanche para a criançada (pão com salame
e Ki-suco de uva), e para adultos café com bolo de fubá.
Três dias depois do vendaval iniciaram de fato o ciclo das
chuvas, que perduraram por mais de quatros meses com poucos dias
espaçados de sol e chuva. Os produtores rurais agradeceram
a DEUS pela fartura do milho, feijão, arroz das baixas
e bois gordos.
A mesma molecada que iam as penitências, sem que os pais
e os avós soubessem – usavam o dedão do pé
e o calcanhar para desenhar o olho de boi para a chuva parar.
Mas, quando eram descobertos, ficava uma semana sem jogar “finca”
- bolinha de Gude ou “bentealtas” cabaspará).
Hoje estamos presos aos dados com pilados pela tecnologia (Tiktok
e as redes sociais). - Só DEUS na causa!
Para finalizar: A fé está acabando e tem muitos
Abutres da Seca que torce para não chover devido o “conflito
de interesses” - Vamos reforçar a fé para
a vinda da chuva lendo o Salmo número 65.
(*) Há 122 anos 15/11/1902 - Faleceu Dona Germana Maria
de Olinda, aos 86 anos de idade. Nasceu em Minas Novas. Mudando-se
para Montes Claros, construiu, em cumprimento duma promessa, a
Igreja do Senhor do Bonfim, situada no alto do Morrinho, com esmolas
e donativos arrecadados por ela, com aquela finalidade, aos quais
acrescentava, não raro, o pouco que possuía
de suas parcas economias. A Igrejinha, que tinha o modesto nome
de Capela, foi inaugurada a 14 de setembro de 1886, com procissão
saída da Matriz e bênção do padre Manoel
da Assunção Ribeiro, então Vigário
da Freguesia. A Capela tinha o nome de Santa Cruz do Morrinho
e a imagem foi doada pelo Dr. Antônio Augusto Velloso estando
em ruínas, foi reconstruída por ordem do Engenheiro
Dr. Demósthenes Rockert e reinaugurada a 29 de fevereiro
de 1948.

NOSSOS
PATRONOS
JOSÉ COELHO DE ARAÚJO é o patrono da cadeira
nº 85 do IHGMC, hoje ocupada pelo associado efetivo André
Luís Lopes Oliveira.
Nas “Efemérides Montes-clarenses”, do consagrado
escritor Nélson Viana, consta que, no dia 17 de julho de
1897, nasceu em São João da Chapada, então
distrito de Diamantina-MG, o tenente-coronel José Coelho
de Araújo, filho de Antônio Coelho de Araújo
e Benvinda Malvina do Sacramento Coelho. É, pois, Nélson
Viana quem registrou em sua obra magistral: “Faz parte da
Polícia Militar desde 2014. Foi chefe da Casa Militar do
governador Benedito Valadares, chefe do Estado Maior da Polícia
Militar, comandante do 2º e 5º BI, vereador e presidente
da Câmara Municipal e Prefeito de Jequitaí-MG. Exerceu
o cargo de Delegado de Polícia Especial em diversos municípios
do Estado de Minas, inclusive Montes Claros, para onde veio em
1951. Elegeu-se vereador à Câmara Municipal de Montes
Claros a 7 de outubro de 1962, para exercício no período
de 31 de janeiro de 1963 a 31 de janeiro de 1967.
José
Coelho de Lima (Coelhinho) e José Coelho de Araújo
(Coelhão). Foto do arquivo da Polícia Militar.
Fez
parte da Junta Revolucionária de Montes Claros, na Revolução
de 1930, quando para aqui veio como Delegado de Polícia,
ocasião em que ficou famosa a sua ação firme
e decidida contra os desmandos de péssimos elementos, que
desejavam levar a cidade à mazorca, impedindo, ao mesmo
tempo, atos de violência e de vinganças pessoais.
Militar corretíssimo, conceituado como os que mais o sejam,
a sua como autoridade tem sido por todos louvada, não só
pela ação oportuna, sempre honesta e imparcial,
como enérgica e ponderada.”
Do exposto, verifica-se que o tenente-coronel José Coelho
de Araújo, falecido a 5 de janeiro de 1977, teve destacada
atuação em três setores da comunidade: como
oficial da Polícia Militar, em funções específicas
de sua carreira profissional; como delegado especial de polícia,
em lugares e momentos de conflagração da ordem pública;
como agente político, no exercício dos cargos de
prefeito e vereador, em Jequitaí e Montes Claros. Nessa
última cidade, cumpriu o mandato de vereador durante duas
legislaturas: de 31/01/63 a 31/01/67 e de 31/01/67 a 31/01/71.
Em preservação de sua memória, existem ruas
com o seu nome, em Jequitaí, Claro dos Poções
e Montes Claros. Nesta cidade, trata-se da rua Coronel Coelho,
principal via pública do bairro Esplanada.

ESBOÇO
PARA BIOGRAFIA DO CORONEL
JOÃO MARTINS DA SILVA MAIA

Coronel
João Martins da Silva Maia:
Um Pioneiro do Desenvolvimento em Montes Claros
Nascimento
e Família
João Martins da Silva Maia nasceu em 4 de abril de 1867,
na Fazenda do Redondo, Freguesia de Matosinhos, MG. Filho do Capitão
João Martins Maia e de Francisca Ludumila Drummond Maia,
João cresceu em um ambiente que valorizava a disciplina
e o trabalho duro.
Em 1890, casou-se com Alice Diniz Maia, nascida em São
João del Rei, MG e falecida em 23 de dezembro de 1959 na
cidade de Montes Claros, filha de Quintiliano Soares Diniz (Cerca
de 1828 Santa Luzia, MG 2/12/1890 Curvelo, MG) e Escolástica
Cândida Mascarenhas Diniz ( falecida em 17/06/1957) e neta
materna de Antônio Soares Diniz filho e Rita Cassia de Soares
Diniz e neta materna de Antônio Gonçalves da Silva
Mascarenhas (1802 São João del Rei, 12/01/1884 Curvelo,
MG) e Policena Gonçalves da Silva Mascarenhas (1811 Matozinhos,
MG 22/01/1900 em MG, inician do uma parceria que duraria toda
a vida.
Primeiros Anos e Mudança para Montes Claros
Foi garimpeiro na Região de Sete Lagos, MG e em 1902, João
Martins da Silva Maia mudou-se para Montes Claros, onde começou
a deixar sua marca como industrial. Junto com Juvêncio Silva,
ele remodelou a fábrica do Cedro, formando a firma Silva,
Maia & Cia. Após a dissolução da sociedade
em 1909, João continuou a operar a fábrica sob a
firma Silva Maia.
Empreendimentos Industriais e Comerciais
João Maia não se limitou à indústria
têxtil. Ele diversificou seus negócios, investindo
em charcutaria, fábrica de banha, beneficiamento de algodão
e extração de óleo de semente. Em 1912, em
parceria com o Coronel Francisco Ribeiro dos Santos, adquiriu
novamente a fábrica do Cedro, formando a firma Ribeiro
& Maia. Dois anos depois, vendeu sua parte e dedicou-se à
pecuária, tornando-se um renomado comerciante de gado zebu.
A Fábrica do Cedro
A Fábrica do Cedro de Montes Claros, fundada em 1878, foi
um marco na industrialização da região. Com
um capital inicial de 160:000$000 e um valor estimativo de 120:000$000,
a fábrica possuía 72 teares americanos e ingleses,
produzindo uma média de 30.000 metros de tecidos crus,
lisos e entrançados por mês. A fábrica empregava
127 operários, incluindo homens, mulheres e crianças,
e era conhecida por suas boas condições higiênicas.
A fábrica passou por várias mãos antes de
ser adquirida por João Maia e Francisco Ribeiro. Sob a
gestão de Ribeiro & Maia, a fábrica prosperou,
contribuindo significativamente para a economia local. Além
da produção têxtil, João Maia também
estabeleceu uma fábrica de manteiga e banha, importando
máquinas da Argentina para garantir a qualidade dos produtos.
História da Fábrica do Cedro
• 13 de outubro de 1877: A lei provincial nº 2389 prometia
garantia de juros até 7% sobre o capital não excedente
a 250:000$000 para a fundação de uma fábrica
de tecidos na Freguesia de Montes Claros.
• 1880: A sociedade Rodrigues, Soares, Bittencourt, Velloso
& Cia. foi organizada, e Antônio Tito Prates foi enviado
aos Estados Unidos para adquirir o maquinário necessário.
1882:
A fábrica começou a funcionar com 72 teares e 127
operários, produzindo 30.000 metros de tecidos por mês.
• 25 de julho de 1889: Um incêndio destruiu grande
parte da fábrica, causando um prejuízo de cerca
de 200:000$000.
• 17 de fevereiro de 1902: João Martins da Silva
Maia e Juvêncio Silva arrendaram a fábrica, formando
a firma Silva, Maia & Cia.
• 25 de junho de 1909: A sociedade foi dissolvida, e João
Maia continuou como arrendatário sob a firma Silva Maia.
• 1912: João Maia e Francisco Ribeiro dos Santos
adquiriram a fábrica, formando a firma Ribeiro & Maia.
• 1914: João Maia vendeu sua parte a Francisco Ribeiro
por 114:000$000, tornando-o o único proprietário.
• 10 de dezembro de 1923: Com o falecimento de Francisco
Ribeiro, sua viúva, Luisa de Magalhães Santos, vendeu
a fábrica a Luiz Antônio Pires e Jayme Rebello, que
formaram a firma Pires & Rebelo.
• 18 abril de 1927: Um grande incêndio destrói
totalmente a usina de beneficiamento de algodão pertencente
a Jayme Rebelo, consumindo 400 fardos do artigo. (Verificar Quando
isso ocorreu o Jayme já havia vendido sua parte da Pires
& Rebelo? Porque o Nelson Vianna afirma foi na usina de beneficiamento
de algodão perten cente a Jayme Rebelo (Só ao Jayme?)
• Posteriormente: Jayme Rebello vendeu sua parte a Luiz
Pires, que se tornou o único proprietário. Luiz
Pires fundiu a fábrica do Cedro com a fábrica de
tecidos da firma Costa & Cia. (Que foi inaugurada em 7 de
julho de 1915 à avenida da Estreia, hoje Coronel Prates,
na cidade de Montes Claros, pertencente a uma sociedade composta
do coronel Joaquim José Costa, engenheiro José Antô
nio da Costa Júnior, Deputado Camilo Philinto Prates, Capitão
João Cattoni
Pereira da Costa, João Ribeiro da Silva e Antônio
Mendes Campelo, que foi o construtor do prédio da fábrica
e dirigiu o as sentamento de todo o maquinismo e era o gerente
técnico das oficinas e máquinas. O funcionamento
da foi iniciado com 40 teares e 1.552 fusos.), formando a Fábrica
Santa Helena.
• Tempos depois: Luiz Pires vendeu a Fábrica Santa
Helena ao seu cunhado, Dr. Plinio Ribeiro dos Santos, que posteriormente
vendeu ao sobrinho, engenheiro Simeão Ribeiro Pires.
Contribuições para o Desenvolvimento Regional
Visionário e progressista, João Maia foi um dos
fundadores do Banco Popular de Montes Claros e teve a iniciativa
de construir a estrada de rodagem de Montes Claros a Pedras de
Maria da Cruz em 1929. Sua atuação foi crucial para
o desenvolvimento econômico e social da região.
Eventos e Realizações Importantes
• 04 de março de 1917: Inauguração
da fábrica de manteiga “Cascata”, a primeira
do tipo em Montes Claros.
• 05 de junho de 1927: Fundação do Banco Popular
de Montes Claros, com João Maia como um dos diretores.
• 30 de julho de 1927: Inauguração oficial
do Banco Popular de Montes Claros.
• 26 de outubro de 1929: Concessão do privilégio
de tráfego e subvenção quilométrica
para a construção da estrada de automóveis
ligando Montes Claros ao porto de Maria da Cruz.
•
06 de fevereiro de 1932: Nomeação de João
Maia como membro do Conselho Consultivo da Prefeitura Municipal
de Montes Claros.
Vida Pessoal e Legado
Profundamente
católico, João Maia era conhecido por suas contribuições
às instituições religiosas e beneficentes.
Ele tam bém era um jornalista talentoso, escrevendo crônicas
humorísti cas sob o pseudônimo de J. Sexta-feira
na “Gazeta do Norte”. Sua dedicação
à comunidade e seu espírito empreendedor deixaram
um legado duradouro em Montes Claros.
Falecimento
O Coronel João Martins da Silva Maia faleceu em 28 de de
zembro de 1950, deixando um legado de progresso e desenvolvi mento
que continua a ser lembrado até hoje.
ARVORE GENEALÓGICA
Coronel João Martins da Silva Maia filho do Capitão
João Martins Maia e de Ludmila Drumond Maia, nasceu em
4 de abril de 1867 na Fazenda do Redondo, Freguesia de Matosinhos,
MG e faleceu em 28 de dezembro de 1950 em Montes Claros, Casou
em 1890 com Alice Diniz Maia nascida em São João
del-Rei, MG e falecida em 23 de dezembro de 1959 na cidade de
Montes Claros, filha de Quintiliano Soares Diniz (Cerca de 1828
Santa Luzia, MG 2/12/1890 Curvelo, MG) e Escolástica Cândida
Mascarenhas Diniz ( falecida em 17/06/1957) e neta materna de
Antônio Soares Diniz filho e Rita Cassia de Soares Diniz
e neta materna de Antônio Gonçalves da Silva Mascarenhas
(1802 São João del-Rei, 12/01/1884
Curvelo, MG) e Policena Gonçalves da Silva Mascarenhas
(1811 Matozinhos, MG 22/01/1900 em MG
Deste casamento tiveram os seguintes Filhos:
1. Escolástica, casou-se com Virgílio Muniz Magalhães.
Filhos:
a) Lígia Maia Magalhães casada em 1938 com Jáder
Dias de Figueiredo (nasceu 15 mar 19122 Montes Claros). Deputado
Estadual 1959-1963, e Vereador da Câmara Municipal filho
do Coronel João Bernardino de Figueiredo e Izabel Dias.
Filhos:
1) Maria Izabel Figueiredo, casada com João Carlos Sobreira.
Filhos:
a. Izabela
b. Rafael
c. Paula
2) Marla Geralda Figueiredo, casada com Francisco Tejedor Balesteros.
Filhos:
a. Guilherme
b. Loren
c. Alexia
d. Rogério
3) Maria da Consolação Figueiredo.
4) João Virgílio Figueiredo.
5) Helber Figueiredo.
6) Dayse Figueiredo.
7) Maria Alice Figueiredo.
b) Elber Magalhães, casado com Tereza Ramos. Filhos:
1) Virgílio Antônio, casado com Maria Josefina Ramos.
Filhos:
a.
Virgílio Antônio, casado com Maria Ramos. Filhos:
i. Virgilio
ii. Maria Valdivia
b. Maria Valdivia.
2) Maria Valdivia, solteira.
c) João, fazendeiro, casado corri Cezinha Batista da Conceição.
Filhos:
1) Maria Joacy, casada com José Carlos Machado.
2) Geraldo Elber, engenheiro, solteiro.
3) Edna Maria,
4) Aristides e
5) Eudes.
d) Lia, professora, casada com o Dr. Francisco Bonifácio
Abreu Mariani. Filho:
1) José Mariani.
2. José Diniz Maia (Juquita), comerciante e tabelião,
casado com Joaquina Oliveira. (Quininha), filha de Dr. José
Tomaz de Oliveira e Aurea Sarmento. Filhos:
a) José Frederico, médico, residente e casado nos
EEUU com Pamela. divorciado. Filhos:
1) Sandra, Ângelo,
2) Ana,
3) Laura e
4) Tomaz.
b) Tomaz Walter de Oliveira Mala, casado com Eliane. Filhos:
1) Caetano,
2) Alexandre
3)
(e mais dois).
3. Quintiliano Diniz Maia (Quinto), fazendeiro, casado com Maria
Prates, filha do professor Álvaro Prates e Carlota Otília.
Filhos:
a) João, casado com Amélia Madureira, Filhos:
1) Maria Amélia,
2) Maria de Fátima,
3) Sandra Maria e
4) João Álvaro Mala Júnior.
b) Maria das Mercês Mala Mota, casada com Antônio
Mota. 2 filhos adotivos:
1) Elton e
2) Sei ma.
c) Carlice, normalista, casada com Antônio Costa (português).
Filhos:
a. Antônio Carlos, casado com Elaine
b. Luiz Fernandes,
c. Luciano e
d. Alberto.
d) Dirce, solteira, funcionária pública.
e) Dirceu, casado com Marlei da Silva. Um filho:
a. André.
f) Berilo, casado com Solange Pinto. Filhos:
a. Berilo,
b. Juliano e
c. Frederico.
g) Beatriz, professora, casada com o Dr. Haroldo Fróis
Veloso filho de
Antônio Augusto Veloso e Jacy Fróis veloso. Filhos:
a. Marcelo
b. Maria Antonieta
c. Maria Jacy
d. Elisa
h) Rui, solteiro.
i) Quintiliano, casou-se com Rosângela Tupinambá.
2 filhos:
a. Alexandre e
b. Quintiliano Maia Neto.
4. Aristides Diniz Maia, negociante, casado com sua prima Maria
Guilhermina (Naná). Filhos:
a) Aristides, fazendeiro, casado com Ronilde Tofani, filha de
Francisco Tofani e Iolanda Tofani. Filhos:
a. Virgínia,
b. Patrícia,
c. Lara,
d. Rafael.
b) Maria Aparecida, casada com Nelson Sayão.
c)
Geraldo Eustáquio, falecido na juventude.
5. Maria Luiza (Santinha), solteira.
6. Maria Nazareth, segunda esposa de Sebastião Sobreira
de Carvalho. Filhos:
a) Sebastião Newton Sobreira, engenheiro, casado com EloahMoss.
Filhos:
a. Elton e
b. Roberto.
b)
João Carlos Sobreira, arquiteto, casado com Maria Izabel
Figueiredo, filha de Jáder Figueiredo e Lígia Magalhães.
Filhos:
a. Izabela,
b. Rafael e
c. Paula.
7. Maria Judith (Juju), casada com José Mendes Sobrinho.
Filhos:
a) Maria Alice, casada com Jamir Atalah Haum. Filhos:
a. Eurides,
b. Jamir,
c. Frederico.
b) Maria Angelina, casada com Geraldo Luiz Maia filho de Gasparino
Maia e Maria de Lourdes Durães Brant. Filhos:
a. Geraldo Luiz
b. Maria de Lourdes,
c. Valéria,
d. Raquel e
e. Vítor.
c) José Quintiliano, casado com Eliane.
8. Maria Alice (Alicinha), casada com Domingos Campos. Sem filhos.
9. Maria Geraldina, 2• ª esposa de Hildebrando Cunha.
Filhos:
a) Tereza, casada com Álvaro Ferreira Júnior. Filhos:
a. Álvaro Ferreira Neto,
b. Rodrigo e
c. Bernardo.
b) Francisco Antônio, casado com Leila Pimenta Cunha. Filhos:
a.
Francisco Antônio,
b. Maria Luiza.
c) João Martins, casado com Bartira Silva. Filhos:
a. João Martins da Silva Maia e
b. Luiz Augusto.
d) Carmen Maia.
10. Maria de Lourdes (Mariquita), casada com Antônio Augusto
Oliveira. Filhos:
a) Almira, casada com Valter Brizola. Filhos:
a. Leonardo,
b. Maria Aparecida,
c. Armando e
d. Valter Júnior.
b) João Francisco, casado com Iolanda Mendonça.
Filhos:
a. Analice,
b. Fabíola,
c. Andréia.
c) Maria do Carmo, casada com Francisco Perpétuo. Filhos:
a. Lisa e
b. André.
d) Elza, casada com Antônio Marliére. Filhos:
a. Erick,
b. lgor.
e) Antônio Augusto, casado com Disse Monção.
Sem filhos.
Dados
a serem mais bem distribuídos
no Esboço da Biografia
A Fábrica do Cedro
A fábrica do Cedro foi organizada devido à disposição
da lei provincial de n.° 2389, de 13 de outubro de 1877, que
prometia garantia de juros até 7 % sobre o capital não
excedente a 250:000$000, para a fundação de uma
fábrica de tecidos na Freguesia de Montes Claros. Reuniram-se
alguns capitalistas, Manoel e Donato Rodrigues, dois irmãos
fazendeiros no município de Grão Mogol, que entraram
com a maior quantia, quarenta e tantos contos de réis,
cada, Antônio Narciso Soares, com 15:000$000, Ângelo
de Quadros Bittencourt e Gregório José Velloso e
alguns sócios menores, projetando conseguir o capital de
150:000$000 e mais 100:000$000 por empréstimo, a juros
módicos. Organizada a sociedade sob a firma Rodrigues,
Soares, Bittencourt, Velloso e Cia., em 1880, partiu para os Estados
Unidos Antônio Tito Prates a fim de adquirir, para a nova
firma, o maquinismo necessário. Este, ao chegar, foi embarcado
em Sabará, desceu o rio das Velhas em
ajoujos, chegando ao porto de Extrema, no rio São Francisco
após uma viagem penosa, em que se perderam diversas peças
e acessó rios. De Extrema, foi transportado a Montes Claros,
em carros de bois, por Lucas pereira dos Anjos.
À fábrica começou a funcionar em 1882, dispondo
de 72 teares americanos e ingleses, com 127 operários produzindo
30.000 metros de tecidos, por mês. Seu primeiro Diretor
foi o tenente coronel Gregório José Velloso, mas
a fábrica não produzia os resulta dos esperados.
De princípio, não conseguiram completar o capital
projetado, mas apenas 147:600$000, do subscrito. Os restantes
100.000$000 foram sendo tomados a juros elevados e o Governo da
Província jamais pagou os Juros prometidos.
25 de julho de 1889 — Incendeia-se, às 4 horas da
madrugada, segundo as “Efemérides Mineiras,”
a fábrica filiatória de tecidos do Cedro, do distrito
da cidade de Montes Claros, pertencente à firma Rodrigues,
Soares, Bittencourt, Velloso & Cia., dando um prejuízo
de cerca de ....... 200:000$000.
Deu-se como causa do sinistro haver o empregado do esta belecimento,
de nome Alexandre, encarregado de tocar o sino ao alvorecer, antes
das cinco horas, riscado um fósforo a fim de ver as horas
no relógio da fábrica e ter atirado este mesmo fósforo,
ainda aceso, ao chão; comunicou-se então o fogo
a vários resíduos de algodão, propagando-se
dali à casa das máquinas, ficando muitas delas danificadas,
enquanto outras eram completamente destruídas. Alexandre,
impressionado com o acidente, teria ficado perturbado das faculdades
mentais, passando a viver Isolado nas proximidades do Morrinho.
Após o incêndio, época em que era Diretor
o coronel Ângelo do Quadros Bittencourt, partiram, rumo
aos Estados Unidos, Flaminio Rodrigues Prates e o maquinista da
fábrica, o inglês James Nicholson, para a aquisição
de novas máquinas e peças que substituíssem
as que foram destruídas. Compraram-nas na mesma casa que
havia vendido o maquinismo primitivo. Custaram 108.103 dó
lares que, ao par, correspondiam a 36:320$000. Foi seguido ainda
o mesmo itinerário, perdendo-se ainda várias peças.
A situação da fábrica piorava dia a dia.
Logo após o incêndio, a 5 de outubro de 1890, dava-se
o fale cimento de um dos sócios da firma Antônio
Narciso Soares; pouco depois, a 9 de março de 1892, falecia
também o antigo Diretor Ângelo de Quadros Bittencourt.
Afinal, por falta de orientação, parou a fábrica.
Em
17 de fevereiro de 1902 - É lavrado no cartório
do 1º Tabelião de Notas de Belo Horizonte o contrato
de arrendamento da fábrica de tecidos do Cedro, pertencente
à firma Rodrigues, Soares, Bittencourt, Velloso & Cia,
a João Martins da Silva Maia e Juvêncio Silva, que
formariam a firma Silva, Maia & Cia, pela quan tia de 126:000$000.
A 25 de junho de 1909 dissolvia-se esta sociedade, com a retirada
de Juvêncio Silva ficando só João Maia como
arrendatário, com a firma Silva Maia. Mas, naquele ano,
era a fábrica do Cedro levada à praça, sendo
arrematada pela quantia de 60:000$000, pela Companhia Cedro e
Cachoeira, dos Mascarenhas. O coronel Francisco Ribeiro dos Santos
adquiriu-a de sociedade com o coronel João Martins da Silva
Maia, comprando-a por 90:000$000 à Companhia Cedro e Cachoeira.
Em 1912, o Coronel Francisco Ribeiro dos Santos mudou-se para
Montes Claros adquirindo, de sociedade com o Coronel João
Martins da Silva Maia, a fábrica de fiação
e tecidos do Cedro, da firma Cia Cedro de Cachoeira. Em 1914,
adquiriu a parte do sócio Maia, fiando como único
proprietário, até associar-se à fábrica
de Tecidos da firma Costa & Cia. passando a girar sob a razão
social de Ribeiro & Costa.
Na povoação do Cedro existiu uma agência postal
e uma escola primaria mistas mantidas pela Câmara de Montes
Claros.
O Lugar foi descrito no Annuario de Minas Geraes: Estatistica,
Historia, Chorographia, Finanças, Variedades, Biographia,
Literatura e Indicações (MG) - 1906 a 1913 como
“O lugar é pitoresco, cercado de serras e de frondosa
vegetação, no vale ocidental do rio Cedro, cujos
terrenos ainda são bons para cultura”
“O
prédio em que funciona a fábrica e o melhor possível,
sendo do tado de todas as condições higiênicas.”
“Ha uma bela queda d’agua (cascata) no pov. do Cedro,
e que move a Fábrica de banhas e conservas de carne de
porco, aí instalada em 1912 pelo cit. industrial sr.
João Martins da Silva Maia.”
“Produz tecidos crus, lisos e entrançados, com
a média de 30.000 metros por mês.”
“Ocupa a fábrica 27 homens, 14 meninos, 31 meninas
e 55 mulhe res, num total de 127 operários, cujos ordenados
variam em $800, 1$000 e 3$000 diários.”
Em 1914, era a parte do sócio João Martins da Silva
Maia adquirida por 114:000$000 pelo coronel Francisco Ribeiro
dos Santos, que se tornou assim o único proprietário.
Com o falecimento do coronel Francisco Ribeiro, a 10 de de zembro
de 1923, sua viúva, dona Luisa de Magalhães Santos,
que a herdara, vendeu-a ao coronel Luiz Antônio Pires e
Jayme Rebello, que organizaram uma sociedade, formando a firma
Pires, Rebelo. Com pouco, Jayme vendia a sua parte ao sócio
Luiz Pires, que tor nava o único dono. Com a venda da fábrica
de tecidos da cidade, pertencente a firma Costa & Cia, ao
coronel Luiz Pires este transportou para a cidade antiga fábrica
do Cedro, fundindo as duas cidades em uma só, com o nome
de Fábrica Santa Helena, passando a funcionar o conjunto
das duas fábricas, no mesmo prédio em que se achava
a da cidade, à avenida da Estrela, hoje Coronel Prates.
Tempos depois, o coronel Luiz Pires vendeu a fábrica Santa
Helena ao seu cunhado, Dr. Plinio Ribeiro dos Santos. Este, após
certo tempo na direção do referido estabelecimento
fabril, vendeu-o ao sobrinho, engenheiro Simeão Ribeiro
Pires, que é atual proprietário.
Costa & Cia que fundiu com a Cedro em
1913 set 17 - É assentada a pedra fundamental do edifício
da fábrica de tecidos da firma Costa & Cia., na avenida
da Estrela, hoje Coronel Prates, na cidade de Montes Claros. A
edificação esteve sob a direção de
Antônio Mendes Campêlo e a fábrica seria inaugurada
no dia 7 de junho de 1915.
1915 jun 07 - Inaugura-se a fábrica de tecidos da firma
Costa & Cia., à avenida da Estreia, hoje Coronel Prates,
na cidade de Montes Claros, pertencente a uma sociedade composta
do coronel Joaquim José Costa, engenheiro José Antônio
da Costa Júnior, Deputado Camilo Philinto Prates, Capitão
João Cattoni Pereira da Costa, João Ribeiro da Silva
e Antônio Mendes Campelo, que foi o construtor do prédio
da fábrica e dirigiu o assentamento de todo o maquinismo
e era o gerente técnico das oficinas e máquinas.
O funcionamento da foi iniciado com 40 teares e 1.552 fusos. 1917
fev 25 - Falece, na fazenda dos Algodões, Vila Paraopeba,
Minas, Antônio Mendes Campelo, aos 52 anos de idade. Foi
ele o construtor do prédio da fábrica à avenida
Estréia, pertencente a Costa & Cia., na cidade de Montes
Claros, e quem dirigiu o assenta mento de todo rnaquinismo, sendo
o gerente técnico das oficinas e máquinas.
1918 jan 03 – Falece o coronel Joaquim José Costa.
Nasceu em São Pedro do Fanado, Minas, a 2 de novembro de
1862, filho do coronel José Antônio da Costa e dona
Maria Josefina Costa. Vindo a Montes Claros em 1898, casou-se
nesta cidade com dona Maria Luísa Prates, a 28 de setembro
daquele ano, indo residir em Santa Maria, de onde se transferiu
definitivamente para Montes Claros no ano de 1900. Ingressando
na política, foi eleito vereador e Vice-Presidente da Câmara
Municipal de Montes Claros, tendo assumido repetidas vezes a chefia
do executivo, na ausência do en tão Presidente, no
quatriênio iniciado em 1912 e prorrogado por mais
um ano. Durante a sua gestão praticou vários atos
de benefício ao município, como a anulação
de um empréstimo a ele onerosíssimo, a confecção
de poços tubulares com bombas acionadas a vento, para chafarizes
públicos, tendo iniciado o serviço telefônico
na cidade, que inugurou. Promoveu entendimentos com o coronel
Francisco Ribeiro dos Santos, proprietário da fábrica
do Cedro, para iluminação da cidade a luz elétrica,
serviço que foi inaugu rado a 20 de janeiro de 1917, no
princípio da administração do seu sucessor.
Sócio da firma Costa, Dias, Spyer e Cia., construtora de
trechos de estrada de ferro e das firmas Costa & Cia. e Ribeiro
& Costa, indústria de tecidos, foi um homem empreendedor,
honesto, de espírito dinâmico, destacado animador
do progresso de Montes Claros.
Xxxx .... Com pouco, Jayme vendia a sua parte ao sócio
Luiz Pires, Quê tornava o único dono. Com a venda
da fábrica de tecidos da cidade, pertencente a firma Costa
& Cia,. ao coronel Luiz Pires este transportou para a cidade
antiga fábrica do Cedro, fundindo as duas cidades em uma
só, com o nome de Fábrica Santa Helena, passando
a funcionar o conjunto das duas fábricas, no mesmo prédio
em que se achava a da cidade, à avenida da Estrela, hoje
Coronel Prates. Tempos depois, o coronel Luiz Pires vendeu a fábrica
Santa Helena ao seu cunhado, Dr. Plinio Ribeiro dos Santos. Este,
após certo tempo na direção do referido estabelecimento
fa bril, vendeu-o ao sobrinho, engenheiro Simeão Ribeiro
Pires, que é atual proprietário.
1923 dez 10 - Falece, repentinamente, o coronel Francisco Ribeiro
dos Santos. Nasceu em oração de Jesus, a 25 de setembro
de 1873, filho do major Simeão Ribeiro dos Santos e dona
Deolinda da Silva Santos. Seguindo, com seus pais, para o Jequitai,
ali frequentou a escola do Professor Antônio Orsini de Castro.
Matriculando-se na Escola Normal de Montes Claros, diplomou-se
em 1890. Exerceu o magistério em Morro da Garça,
distrito de Curve lo, ocasião em que foi eleito vereador
à Câmara Municipal da referida comunidade mineira.
Transferindo-se para Montes Claros, foi nomeado professor primário
em Boi de Carro, nos arredores desta cidade, permutando logo em
seguida a Cadeira com a do Professor Ezequias Teixeira Guimarães,
que lecionava no distrito de Coração de Jesus. Ali
contraiu núpcias com dona Luisa de Magalhães San
tos, a 9 de maio de 1896, continuando como professor no Barreiro.
Sendo suprimida a Cadeira, que era do sexo masculino, por falta
de frequência, foi o Professor Francisco Ribeiro transferido,
a 29 de outubro de 1897, para o distrito de Sapé. Tudo
leva a crer que, naquela ocasião, abandonou o magistério
para dedicar-se ao comércio, estabelecendo-se em sua terra
natal, onde também foi fazendeiro. Elegeu-se vereador à
primeira Câmara Municipal de Vila Inconfidência, de
que foi o primeiro Presidente, instalada a 1.º de junho de
1912. Neste mesmo ano, a 31 de julho, mudava-se para Montes Claros,
por ter adquirido, de sociedade com o coronel João Martins
da Silva Maia, a fábrica de fiação e tecelagem
do Cedro, por compra à Companhia Cedro e Cachoeira. Em
1914 adquiriu a parte do sócio, coronel Maia, tornando-se
único proprietário do referido estabelecimento fabril.
Pouco depois, entrava como sócio da fábrica de tecidos
da cidade da firma Costa & Cia., que passou a girar sob a
razão social de Ribeiro & Costa.
Foi ele o idealizador e fundador da primeira usina para fornecimento
de luz elétrica à cidade de Montes Claros, cuja
inaugu ração se realizou com pleno êxito,
às 20 horas do dia 20 de janeiro de 1917.
Não aceitou mais qualquer cargo público ou de outra
espécie, a não ser o de Vice-Presidente do P. R.
M., de Montes Claros, por solicitação do seu amigo
Dr. Raul Soares de Moura.
Instalou, também, com mais três sócios - José
Ribeiro de Andrade, Pedro de Araújo Abreu e Luís
Celeste de Araújo. a luz elétrica de Coração
de Jesus.
Fazendeiro
e criador, incentivou a pecuária e a indústria do
algodão, incrementando e auxiliando a montagem, em várias
zonas, de diversas usinas beneficiadoras do produto.
1927 dez 26 - Falece Alfredo Ribeiro, aos 37 anos de idade. Era
empregado de categoria na fábrica de tecidos Costa &
Filhos, de Montes Claros.
1940 dez 30 - Falece, em Belo Horizonte, o coronel Luiz Antônio
Pires. Nasceu em Chaves, Portugal, a 30 de novembro de 1887, filho
de Francisco Pires de Morais e dona Maria Joaquina de Abreu. Vindo
para o Brasil, quando contava apenas 13 anos de idade, enquanto
trabalhava em casa comercial do Rio de Janeiro, estudava na Associação
Cristã dos Moços. No ano de 1913, já interessado
na casa em que trabalhava, tendo ali passado pelos postos de maior
confiança, começou a viajar para a mesma fixando
depois residência em Coração de Jesus, onde
contraiu matrimônio com dona Maria Ribeiro Pires. Ali dedicou-se
ao comércio, foi fazendeiro, tendo ocupado vários
postos de confiança e da eleição, tais como
o de Juiz de Paz e de vereador à Câmara Municipal
daquela comuna, da qual foi Presidente e Agente Executivo. Transferiu
a sua residência para Montes Claros, em 1922, já
como sócio da fábrica de tecidos do Cedro, que até
então pertencia exclusivamente ao seu cunhado, coronel
Francisco Ribeiro dos Santos. Com o falecimento deste, a 10 de
dezembro de 1923, o coronel Luiz Pires adquiriu a fábrica
do Cedro, de sociedade com o seu conterrâneo Jayme Rebello,
por compra à viúva do coronel Francisco Ribeiro,
organizando a firma Pires & Rebelio. Comprando, porém,
logo depois, a parte do sócio, ficou o coronel Luiz Pires
como único proprietário da referida fábrica
que contava, na ocasião, com cerca de 300 operários.
Adquirindo, logo em seguida, o serviço de iluminação
elétrica, re formou-o inteiramente, instalando três
usinas hidroelétricas, ele vando bastante o potencial primitivo,
para o que teve de comprar vastas áreas de terrenos, à
margem do córrego do Cedro. Por essa ocasião,
adquiriu também a usina elétrica de Inconfidência.
Com prando depois a fábrica de tecidos da cidade de Montes
Claros, da firma Costa & Cia., transferiu para aqui o maquinismo
da fábrica do Cedro, unificando as duas com a denominação
de Fábrica Santa Helena, que vendeu, posteriormente, ao
seu cunhado Dr. Plínio Ribeiro dos Santos.
Instalou várias pequenas indústrias nesta cidade,
tais como torrefação de café, fábrica
de gêlo, de beneficiamento de arroz e de algodão,
indústrias feculárias, etc.
Fazendeiro e criador, muito trabalhou para o desenvolvimento da
pecuária no município de Montes Claros. Construiu
vários edifícios nesta cidade, entre os quais, o
do Hotel São Luiz, localizado na praça Dr. Carlos,
fazendo esquina com a rua Dr. Santos.
Fábrica de manteiga “Cascata” (Não
seria fábrica de Banha, no lugar de manteiga?)
Em 04 de março de 1917- Inaugura-se a fábrica de
manteiga “Cascata”, de propriedade do coronel João
Martins da Silva Maia, na fazenda do Cedro. É a primeira
fábrica de manteiga organizada, montada no município
de Montes Claros. O maquinário para instalação
desta fábrica de manteiga e de banha, foi adquirido pelo
Coronel Maia na Argentina.
O Lugar foi descrito no Annuario de Minas Geraes: Estatistica,
Historia, Chorographia, Finanças, Variedades, Biographia,
Literatura e Indicações (MG) - 1906 a 1913 como
- Referindo-se a nova Fábrica de banhas anexa á
Tecelagem do Cedro, escrevia o “Diário de Notícias”
desta Capital, em outubro de 1908, sob a epígrafe -Uma
indústria nova:
“Está
sendo montada em Montes Claros uma grande fabrica---A Charcuteria
Maia - para preparar presuntos. paios, sala mes, salsichas,
carnes liquidas, charque em salmoura e seco, toucinho em salmoura
e refinação de banha
Anexa à fábrica haverá uma secção
para fabrico de latas, sendo a folha estampada a três
cores e importada da Inglaterra.
Outra secção importante destina-se a confecção
de barris para a exportação dos produtos conservados
em salmoura.
Já se acham naquela cidade os maquinários necessários,
compra dos a Robert. L. Keer, Manchester e W. R. Bland &
Comp., de Londres, estando encomendadas da Alemanha outras máquinas
apropria das, e todas serão movidas a forca hidráulica
e a vapor.
Nenhuma fábrica dessa natureza, das que existem no
Brasil, possui maquinários tão perfeitos, nem
de instalação tão completa.
0 sr. Silva Maia, seu proprietário, percorreu os
Estados do Sul, visitando as fabricas que ali existem e esteve
longo tempo no Uruguay e na Argentina, estudando praticamente
essa importante indústria.
Já foi requerida isenção de impostos,
por 5 anos, de acordo com o §5º, do art. 24 do Regulamento
n. 2.119 A, de 1907 (lei 469).
Como se vê, trata se de um melhoramento de importância
extraordinária, que constitui uma das fontes, senão
a principal fonte de rendas, de muitos países.
É uma indústria que acarreta outras anexas,
influindo sobre a
melhoria e o desenvolvimento da criação de gado
suíno e vacum, o curtume de couros, o fabrico de sabão
para aproveitamento de
resíduos, etc..”
Estrada ligando a cidade de Montes Claros ao porto de
Maria da Cruz
26 de outubro de 1929 - Pelo decreto nº 9194, é concedido
ao coronel João Martins da Silva Maia o privilégio
de tráfego por 25 anos e subvenção quilométrica
para construção, uso e gôzo de uma estrada
de automóveis ligando a cidade de Montes Claros ao porto
de Maria da Cruz, no rio São Francisco.
Banco Popular de Montes Claros
Em 5 de junho 1927 - Realiza-se uma reunião para a fundação
do Banco Popular de Montes Claros, o que foi concretizado. Procedendo-se
à eleição para a formação de
sua Diretoria, foram eleitos Diretores, João Martins da
Silva Maia, Jayme Rebelo e Cíce ro Pereira.
Em 30 de julho 1927 - Instalado na esquina da rua Simeão
Ribeiro com a rua Coração de Jesus, hoje Governador
Valadares, no prédio nº 66, é solenemente inaugurado
o Banco Popular de Montes Claros. Pouco depois do meio-dia, S.
Exe. Revma. Dom João Antônio Pimenta, papa Diocesano,
acolitado pelo Revmo., padre José Dias de Freitas, procedeu
à benção das instalações, realizan
do-se em seguida a inauguração. O Banco Popular
de Montes Claros representa o resultado da organização
de uma sociedade anônima, realizada por meio de ações,
tendo a direção do coronel João Martins da
Silva Maia.
Prefeito Municipal – Montes Claros 1932-1933
06 de fevereiro de 1932 - A “Gazeta do Norte” desta
data publica os nomes dos membros do Conselho Consultivo da Prefeitura
Municipal de Montes Claros, nomeados pelo Governo do Estado: Filomeno
Ribeiro dos Santos, João Martins da Silva Maia, Mário
Versiani Veloso, Deraldo Calixto de Carvalho e Carlos Pereira
dos Santos.
TÉO
Você foi embora
A tristeza ficou.
Como disse Dário Cotrim:
“Talvez onde Téo está
Deus necessite mais dele”
Se lá faltam cordelista,
Um repentista ou violeiro
Téo é o primeiro.
Com a partida dele,
Eu aceitei a vontade de Deus
Pois se ele sobrevivesse,
Teria apenas uma sobrevida.
Não andaria,
Nem teria a cabeça funcionando
Não cantaria,
Não faria mais o cordel.
Não comporia música,
De nada mais lembraria.
O homem material
O home espiritual
O homem iluminado
Não mais existiriam.
Só uma pálida sombra
Teimaria em existir.
Apagando aquele que foi outrora,
O poeta, o cordelista.
O cantor e o violeiro.
Não! Desta forma não quero vê-lo!
Téo e Lola

MONTES CLAROS E A
TELEVISÃO DO PASSADO
Em 1959, em uma viagem a Belo Horizonte, aos quatro anos
vi, pela primeira vez, na recepção do hotel, uma
imagem de
televisão. Aquela caixa de madeira, com pernas finas, causou-me impacto e encantamento. Personagens de desenho anima
do corriam pela tela, feito mágica.
Em 1961, a minha família mudou-se para o centro de Montes Claros à Rua Carlos Gomes. Ao lado do Banco do Brasil,
cuja
lateral ficava em frente ao prédio onde morávamos,
havia dois
apartamentos. Ali residiam funcionários do Banco do Brasil
que
vinham de outra cidade. Meu irmão Helder e eu visitávamos
esses
vizinhos. Lembro-me da menina Ana Lívia e de um aparelho
de
televisão na sala, que eu pedia para ela ligar para eu
ver os chuviscos.
Um funcionário do Banco do Brasil, transferido para cá,
cap
tou com seu televisor, na parte alta na região do Pentáurea
Clube,
imagens em preto e branco, e sons fugidios, então, técnicos
foram verificar e confirmaram as informações. Como
o sinal era fraco,
seria necessário potencializá-lo através
de uma torre repetidora,
para levar o sinal gerado pela TV Itacolomy, canal 4 de Belo Horizonte, para adiante, até chegar à cidade. Cada torre
podia enviar
apenas um canal. Por óbvio, não havia satélite
nem antena para
bólica.
O processo de repetição exige uma torre de metal
de 40m
sobre um ponto alto, onde já se capta imagens razoáveis
e sons
vindos de uma fonte distante. Uma antena comum, no topo desse
artefato, capta o sinal e o envia a um aparelho retransmissor
loca
lizado na base da estrutura metálica. Este é amplificado
pelo aparelho e reenviado para outra antena na mesma torre. Esta segunda
antena passa o sinal adiante, conseguindo avançar e alcançar
ou
tras torres e assim, sucessivamente, até 50 km de distância,
po
rém, a cada avanço, a imagem e o som vão
perdendo a qualidade.
Comerciantes interessados em levar a televisão até
a cidade,
tendo Toninho Rebello no comando, compraram 200 televisores
e os venderam aos montes-clarenses. José Geraldo Mendonça,
Tio
Zé, faria a torre, por isso comprou e incentivou meu pai
a também comprar um aparelho de televisão, e assim ele
fez. Enquanto
isso, o grupo contratou Albano Grassi, um italiano técnico
de te
levisão dos Diários Associados, para projetar, construir
e instalar
o retransmissor. A torre, instalada sobre o morro com sinais te
levisivos, tinha a altura explicitada e na sua base, dentro de
uma
casinhola, foi colocado um retransmissor a válvula de 75
watts,
no canal nove. As frequências de recepção
e transmissão precisam
ser distintas.
Nas distâncias seguintes, outras torres repetidoras potencia
lizavam o sinal. Em Montes Claros, houve época em que havia
três
estruturas metálicas sobre morros com acesso difícil,
cujos topos
eram alcançados a pé, em trilhas. Qualquer oscilação
de energia elétrica ou chuva, fazia sumir o sinal,
e as imagens precárias e som
com ruídos, que iam e vinham, sumiam de vez, dando lugar
aos
chuviscos. Isso era comum, em especial na noite de transmitir
oúltimo capítulo da novela, coisa que parecia premeditada.
“Às 16 horas do dia 11 de setembro de 1964 os primeiros
sinais da TV Itacolomy foram retransmitidos para a população
montes-clarense, com uma qualidade inferior à expectativa,
gerando
decepção.” – Edes Barbosa – montesclaros.com.
A programação atraía pela novidade, e incluía
novelas ao
vivo, noticiário, humor, programas de auditório
e desenhos. Funcionava de forma precária, apenas à noite, mas era
bom, e nos
trouxe boa diversão.


PIZZARIA PAPAULA
Eu sempre a achei a mais rica de todas. Se de fato era, não
sei.
Sua fachada, com uma escadaria na frente, coberta por um
toldo vermelho e branco, encantava-me. Não era um ambiente que frequentávamos com frequência. A sua cozinha,
para nós,
somente em dias especiais. Eu não tinha noção
de valores nem
nada. Era um menino dos anos oitenta em Montes Claros. Meus
pais é que me levavam, e eu só ia. Mas como amava
estar ali, mais
pelo playground que pela comida. Hum, mas quando a comida
chegava! Ah, que delícia de pizza!
Lembro-me de que minha madrinha, que hoje brilha em alguma estrela, quis ir comemorar seu aniversário lá.
Fomos. Obvia
mente havia outros pratos. Não me lembro qual foi o prato
principal, mas sei que eu e a molecada comemos pizza. Papaula! Nunca
me atentei para o significado do nome quando menino. Para mim,
era só um nome. Depois de já grandinho e capaz de
perceber as
formações gráficas, eu li lá o nome
de uma mulher, Paula. E, por
um instante, até imaginei quem seria a musa das pizzas.
Quem foi
a receita inspiradora para aquele nome de encanto. E, surpreen
dam, somente agora quando esta crônica se traça,
é que soube de
Paula Pádua.

A Papaula me era monumental com mesas espalhadas
na
parte de baixo e preenchendo a superior de cima. Pizzaria de esquina da avenida famosa pelo rio que virou esgoto. A Sanitária
era
assim e até então chamada. Uma avenida alvo de destino
de passeios e entretenimentos. E, principalmente, uma avenida de bares
e restaurantes tradicionais.
Papaula! esse nome reverbera na memória de muitos saudosistas.
Restaurante distante, apenas para momentos especiais.
Não sei por que, mas assim permaneceu
para mim até depois de
formado e casado. Vamos à Papaula? Opa, era uma ocasião
especial: bodas de trigo. E quanta simbologia traz esse alimento,
ingre
diente básico para qual prato? Pizza! E foi assim, numa
noite de
dezembro, minha esposa e eu fomos à Papaula. A escolha
do sabor
deveria ser diferenciada, especial, uma de camarão. E foi
lá que a
primeira pizza de camarão da minha vida sentiu o meu paladar.
E
que delícia de sabor. Um gosto gostoso de momento perpetuado
na memória. Ao pagar a conta, o garçom só
se esqueceu de avisar
que seria a última. Se sabia ou não, não
sei. Mas sei que aquela
pizza cujo sabor sinto agora foi a última que saciou o
último mo
mento sob o teto da Pizzaria Papaula.
Tempos depois, numa manhã, quando ia para o trabalho,
surpreendo-me com uma máquina destruindo aquele mundo de
décadas de histórias. Paralisado ali diante fiquei.
Uma força-inércia me voltava no tempo. Naquele sem acreditar e naquele por
quê! Assim, subitamente, tudo acabado. A Papaula de meus
olhos
enchidos de brilho, agora um espaço vazio de terreno. O
letreiro
em destaque nunca mais. O forno queimando a massa só no
aroma
da lembrança. E a canção de uma montes bares
claros cada vez
mais perdendo um verso para a vida. E assim seguem os acordes
a
nos tocar em sua melodia.
TRIBUTO AO GRUPO ALMA O GRUPO ALMA
foi criado há mais de 15 anos e tinha como
missão dar vida ao COMPORARTE. A cada edição
o grupo
era renovado, para que novos alunos tivessem a mesma
oportunidade que outros tiveram. O grupo era extremamente heterogêneo, tanto na faixa etária como no aspecto
cognitivo. Entre
os membros do grupo havia vários alunos que acumulavam
em
sua vida escolar histórias de fracasso e que hoje protagonizam
uma vida de sucesso acadêmico e social. O GRUPO ALMA nos
deu
exemplo de que a educação séria, feita com
amor, dedicação e res
peito é a solução para alcançarmos
nossa autonomia intelectual e
moral.
O GRUPO ALMA com o PROJETO POESIA VIVA – SEMEANDO
PAZ existiu por mais de uma década e sempre esteve sob
a coorde
nação da professora, escritora e atriz Dóris
Araújo, que, até o ano
de 2015, prestava serviços educacionais na Biblioteca Escolar
Dr.
Hermes de Paula, da Escola Estadual Vereador Francisco Tófani,
localizada no bairro Roxo Verde, onde desenvolvia brilhante tra
balho de incentivo à leitura e outras artes.
A poeta desenvolveu uma metodologia muito especial.
Durante todo o ano, uma vez por semana, os alunos selecionados
para participarem do recital poético, que marcava a culminância
do projeto nos últimos meses do ano letivo, reuniam-se
com ela
para repassarem os poemas que seriam apresentados no palco.
Além do repasse dos poemas, era realizada uma roda de conversa,
onde tratavam de vários assuntos, envolvendo literatura
e vida.
Nesses momentos, os alunos tinham a oportunidade de abrir o coração e de receberem o afago da educadora e poeta.
O GRUPO ALMA, com o PROJETO ARTE DO CUIDAR – POE
SIA VIVA SEMEANDO PAZ tinha vários objetivos, dentre eles:
despertar o gosto dos alunos e alunas pelos mais diversos gêneros
literários, pela arte de recitar poemas, pela audição
e interpretação
musical, pela dança, pela cultura popular, pela valorização
da arte
e dos artistas regionais; fazendo com que os autores se tornas
sem conhecidos ou mais conhecidos no meio do povo em geral,
principalmente entre os jovens da nossa cidade; tinha também,
como objetivo, motivar os alunos em sua autoestima, fazendo-os
libertarem-se da timidez, para que pudessem ocupar seu espaço
na sociedade.
Até o dia 20 de outubro de 2015, o GRUPO ALMA foi um grupo exclusivo da Escola Estadual Vereador Francisco Tófani;
sendo
que durante as várias edições do projeto
A ARTE DO CUIDAR –
POESIA VIVA SEMEANDO PAZ, nas oito edições do COMPORARTE,
a poeta Dóris Araújo adotou como prioridade homenagear
nossos
escritores, sobretudo os poetas, sendo alguns em vida e outros
em
memória. Como exemplo, podemos citar os homenageados em
várias edições: Ildeu Braúna, Dário
Cotrim, Yvonne Silveira, Olyntho
Silveira, José Prudêncio de Macedo, Zoraide Guerra
David, Wanderlino Arruda, Marijô Rodrigues, Karla Celene Campos, Mirian
Carvalho, Antônio Felix da Silva, Glorinha Mameluque, Mary
Lélis,
Lúcia Becattini, Amelina Chaves, Domingos Diniz (barranqueiro de Pirapora, que residiu em Belo Horizonte, ex-presidente
da
Comissão Mineira de Folclore e professor emérito
da Escola Guignard - UEMG , onde lecionava a disciplina de Folclore), Cândido
Canela, João Chaves, João Valle Mauricio, Patrício
Guerra, Waldir
de Pinho Veloso, Maria Celestina de Almeida, Petrônio Brás,
Edson
Andrade, Aroldo Pereira, Téo Azevedo, entre outros.
Em 2015 na oitava edição do COMPORARTE, momento
em
que nossa poeta/professora se preparava para encerrar sua carreira como profissional da educação ela escolheu
como homena
geado, aquele que representava muito bem nossa região,
por que
não dizer o nosso Brasil, o poeta cantador Téo Azevedo.
A ideia de fazer esta justa homenagem ao poeta cantador
Téo Azevedo nasceu a partir do contato feito durante as
gravações
dos poemas musicados de João Chaves e amadureceu durante
encontro do poeta com alunos do Colégio Marista São
José, em 2014,
quando foi entrevistado pelas turmas de alunos, com o objetivo
de
enriquecer o aprendizado sobre Cultura Popular que estudavam
na disciplina Educação Patrimonial, por mim lecionada.
Assim, iniciamos uma longa pesquisa sobre a vida e obra do poeta cantador
Téo Azevedo. Reunimos poemas, causos, vídeos que
ilustravam
sua trajetória profissional, conversamos com o poeta, com
amigos
dele e familiares. Depois dessa longa investigação,
apresentamos
o projeto para professores e alunos da Escola Estadual Vereador
Francisco Tófani, fato que deixou todos hipersensibilizados
e motivados. Todos vibravam para chegar o dia da homenagem. Sonha
vam conhecer aquele por nós cantado e exaltado em verso
e prosa.
Mesmo sendo a educação sinônimo de libertação,
infelizmente, ainda carece de recursos para os projetos extracurricula
res. Na ocasião, não podendo contar com a ajuda
financeira dos órgãos competentes, a unidade de ensino e a poeta,
com todas as
dificuldades possíveis, por uma questão de honra,
não mediram
esforços para levarem o grupo de alunos para o palco. Para
que isso acontecesse, realizaram sorteio de prendas
doadas, bazar de
pechinha e outras promoções, sempre conseguindo
recursos minguados, mas que se tornavam grandiosos, pelo entusiasmo dos
alunos, que sonhavam subir ao palco.
O VIII COMPORARTE, como as edições anteriores, foi
agendado para ser realizado no auditório do Centro Cultural,
fruto de árduo trabalho da nossa poeta Dóris Araújo,
que sempre contou
com o apoio dos dirigentes dessa casa de cultura. Apoiada pela
equipe de educadores e familiares dos alunos da escola, conforme
a maratona já descrita, foi preparado o grande evento,
que, mais
que um recital seria o coroamento de uma longa caminhada.
O evento foi marcado para o dia 20 de outubro de 2015, 3ª
feira, as 19 horas, no Centro Cultural Hermes de Paula, no palco
do
auditório Cândido Canela.
Não teria lugar mais apropriado para realizar o encerramento de uma trajetória profissional tão bonita
e uma homena
gem tão especial. Melhor explicar. Foi Centro Cultural
Hermes de
Paula que nossa poeta iniciou profissionalmente, sua trajetória
artística, participando da primeira montagem da peça
“A Formiga
que queria ser cidade e virou Princesa”, peça de
autoria do talento
so jornalista Reginauro Silva e dirigida por Eduardo Brasil. Diante
disso, sem dúvida, o local era ideal para a realização
da homena
gem a Téo Azevedo, artista que ultrapassou os Montes Claros
e foi
fazer-se conhecido nos mais diversos pontos do Brasil e em outras
partes do mundo, tendo sido agraciado com vários prêmios,
dentre eles, o tão cobiçado Grammy Latino em 2013 com
“Salve Gonzagão – 100 anos”, na categoria melhor álbum
de raiz.
Parabéns, Dóris Araújo! pelo brilhante trabalho
desenvol
vido ao longo de todos esses anos! Pena que muitos perderam a
oportunidade de ver o seu trabalho com os pré-adolescentes,
pena
que muitos ainda acreditam que a arte que é produzida no
inte rior dos muros das escolas é arte menor. Uma pena!
Meus pêsa
mes para aqueles que pensam assim, pois não sabem que muitos
dos grandes atores, músicos e cantadores iniciaram suas
carreiras
vitoriosas em cima de caixotes, palcos improvisados, ou mesmo
em feiras livres. As homenagens realizadas pela grande mídia
têm
seu valor, são importantes, mas muitas vezes querem na
verdade é
vender o artista como mais um produto de sua grade publicitária.
Enquanto, as homenagens que nascem no meio do povo, principalmente nos espaços escolares, têm o sentido pedagógico
de não
deixar que “folhas, flores e frutos” esqueçam
a importância dos
troncos e das raízes que os sustentam.
Parabéns, Dóris Araújo!
Por onde passou você deixou rastros de luz. Você conseguiu
contagiar as pessoas com sua arte.
O GRUPO ALMA fez sucesso. Fez história... E nos deixou
boas
lembranças, e muita saudade.
Viva o GRUPO ALMA! Viva o PROJETO ARTE DO CUIDAR –
POESIA VIVA SEMEANDO PAZ. Que ele continue vivo na memória
de cada um de nós!


Fotos do arquivo pessoal de Dóris Araújo

SABORES DO SERTÃO:
FRUTOS NATIVOS E O DESENVOLVIMENTO
DO INTERIOR DO BRASIL
O Cerrado é uma savana que cobre a maior parte do Brasil
central sua característica principal é sua diversidade.
Exerce um papel de extrema importância na ecologia e na hidrologia local, possui uma biodiversidade rica com uma variedade
considerável de espécies endêmicas da fauna
e da flora, abriga as
nascentes dos rios das principais bacias hidrográficas.
É uma das
regiões mais ricas em biodiversidade do mundo.
A região Norte de Minas Gerais localiza-se na chamada “Calha do São Francisco”, onde o rio São Francisco
percorre a região
no sentido sul-norte. Ao longo de sua margem direita, encontra-se
a cordilheira do Espinhaço (Serra Geral), enquanto à
esquerda estende-se o planalto central. Essa área desempenha um papel
vital
tanto no contexto ambiental quanto no desenvolvimento econômico das regiões por onde passa, sendo um dos principais
eixos de
integração territorial do Brasil
A vegetação predominante no Cerrado
é típica, adaptadas
as condições edáfico -climáticas específicas,
clima quente e seco,
com chuvas concentradas em determinados períodos e solos
em
geral profundos. Caracterizada por espécies de troncos
tortuosos,
casca espessa, folhas ásperas e raízes profundas,
resultantes de
adaptações evolutivas. Entre os tipos de vegetação
presentes, encontram-se o Cerrado stricto sensu, o cerradão, o cerrado
ralo, os
campos de altitude, as veredas alagadas, as matas de galeria,
além
de resquícios de Caatinga e Mata Atlântica.
Destaca-se na região a presença de um tipo de floresta
único
denominado Mata Seca. Devido a essas características peculiares,
alguns estudiosos sugerem que o Cerrado do norte de Minas Ge
rais poderia ser classificado como um bioma distinto dentro do
Cerrado.
A flora diversificada do bioma Cerrado é uma de suas características mais notáveis, cobrindo o solo com uma
rica variedade
de cores e formas que criam mosaicos multicoloridos distintos
em cada paisagem. Destaca-se também a presença de
um grande
número de espécies frutíferas comestíveis,
que fazem do Cerrado
um ambiente propício para a sobrevivência de inúmeras
espécies
de fauna e para a subsistência dos habitantes locais desde
tempos
pré-históricos.
Estudos arqueológicos realizados nas cavernas do Parque
da Lapa Grande, situado a 6 km do centro de Montes Claros, revelaram vestígios de antigos acampamentos humanos, incluindo
sementes e cascas de pequi, baru, jatobá e outros frutos
nativos,
evidenciando o uso desses recursos pelos primeiros habitantes
da
região. Além disso, pinturas rupestres encontradas
nas cavernas
do vale do Peruaçu retratam espécies como o buriti,
indicando que
os frutos do Cerrado faziam parte da interação entre
o homem primitivo e o meio ambiente. Esses recursos naturais eram utilizados
na alimentação, na fabricação de materiais
de construção, na me dicina tradicional e na confecção
de utensílios, indicam estudos
arqueológicos.
Quando os colonizadores avançaram rumo ao interior do
Brasil, depararam-se com um ambiente repleto de desafios, mas
igualmente dotado de recursos naturais indispensáveis para
a sobrevivência. Distante das zonas costeiras, o clima seco
e árido do
sertão exigiu uma adaptação constante, levando
os exploradores
a desenvolver um profundo conhecimento do ecossistema local.
Apesar das limitações impostas pela aridez e pelo
clima
rigoroso, os recursos naturais do sertão foram essenciais
para a
subsistência e adaptação dos colonizadores.
A exploração e ocupação dessas terras inóspitas ocorreram por
meio da agricultura
de subsistência, do extrativismo vegetal e da pecuária,
aliados ao
uso dos saberes indígenas. Essa interação
com o meio ambiente
moldou a cultura e a economia da região, transformando
a vida
dos colonos em uma constante luta pela sobrevivência em
harmo
nia com a natureza.
A ocupação do Cerrado no Norte de Minas Gerais teve
início no século XVII, impulsionada pela criação
extensiva de gado
de corte para abastecer com carne as regiões mineradoras.
A agricultura, voltada principalmente para a subsistência, incorporou
práticas agrícolas indígenas, com o cultivo
de espécies nativas
como milho, mandioca e feijão. Os colonos também
introduziram
cultivares de origem africana, como o quiabo e o maxixe, que se
adaptaram bem ao Brasil, além de espécies trazidas
pelos portugueses, como a cana-de-açúcar e o arroz. A partir
dos alimentos
produzidos, desenvolveu-se uma cultura alimentar típica,
com re
ceitas e produtos confeccionados artesanalmente, como farinha,
polvilho, rapadura, cachaça, doces e conservas, utilizando
tanto a
matéria-prima cultivada quanto frutos obtidos pelo extrativismo.
O modo de vida sertanejo, que se consolidou no
interior do
Brasil, resultou da miscigenação das culturas europeia,
africana
e indígena e do convívio estreito com o bioma Cerrado.
A população tradicional do Norte de Minas estabeleceu-se
sobretudo às
margens dos rios e cursos d’água, próximo
às serras, formando
comunidades de agricultores familiares, extrativistas, vaqueiros,
pescadores, além de quilombolas e indígenas remanescentes.
Esses grupos preservam uma cultura rica e possuem um profundo
conhecimento dos modos de convivência sustentável
no ambiente
do Cerrado, tornando-se guardiões de tradições
e práticas adaptadas às particularidades da região.
O modo de vida no sertão brasileiro permaneceu praticamente inalterado desde a época colonial até meados
do século XX.
No entanto, nas décadas de 1950, 1960 e 1970, iniciou-se
um pro
cesso de industrialização acelerada, com a instalação
de grandes
parques industriais, sobretudo nas principais cidades e capitais
das regiões Sudeste e Sul do país. Esse fenômeno
gerou uma de
manda crescente por mão de obra para suprir as necessidades
das
linhas de produção nas fábricas, desencadeando
um intenso fluxo
migratório da zona rural para os centros urbanos.
A migração do campo para as cidades foi motivada
pela busca de melhores condições de vida e emprego, além
das dificulda
des impostas pelas secas severas que frequentemente assolam a
região. Esse êxodo rural resultou em uma profunda
transformação
na dinâmica socioeconômica do Brasil. O fenômeno
foi registrado
pelo Censo Populacional do IBGE de 1970, que indicou, pela primeira vez, que a população urbana havia superado
a população
rural, marcando uma mudança significativa na estrutura
demográfica do país.
As transformações decorrentes da industrialização
impactaram profundamente a relação entre o homem e o meio
ambiente,
bem como o modelo socioeconômico de exploração
dos recursos naturais na região do bioma Cerrado. A
crescente demanda por
alimentos para abastecer os grandes centros urbanos impulsionou uma mudança significativa nos métodos de produção
agrícola. O sistema arcaico e de baixa produtividade herdado do período
colonial foi gradualmente substituído pelo modelo da “Revolução
Verde”, caracterizado pelo uso intensivo do solo, mecanização
agrícola, aplicação de defensivos e fertilizantes
químicos, além da
implementação de modernos sistemas de irrigação.
Esse novo modelo agrícola gerou a necessidade de ampliar
as áreas de cultivo, o que resultou na expansão
da fronteira agrícola em busca de terras cultiváveis com características
adequadas às
novas tecnologias, como terrenos planos e cursos d’água
com vazão suficiente para suportar sistemas de irrigação,
especialmente
o pivô central, amplamente utilizado. A introdução
de tecnologias
agrícolas, o melhoramento genético de cultivares
adaptadas ao
clima do Cerrado e a correção da acidez do solo
transformaram
a região em um ambiente propício para a agricultura
em larga escala. Como consequência, vastas áreas de vegetação
nativa foram
suprimidas para dar lugar a monoculturas, principalmente de soja
e eucalipto.
Esse processo colocou o Brasil em uma posição de
liderança mundial na produção de commodities agrícolas,
consolidando
sua reputação como o “celeiro do mundo”.
No entanto, o custo
ambiental e social desse avanço foi elevado, envolvendo
a perda
significativa da biodiversidade, degradação dos
recursos naturais,
secamento de nascentes e impactos profundos nas comunidades
tradicionais que habitam o Cerrado.
A implantação de grandes projetos de reflorestamento
e a
chegada de empreendimentos agropecuários empresariais intensificaram significativamente a pressão antrópica
sobre o bioma
Cerrado, agravando problemas sociais e ambientais. A mecanização das atividades agrícolas e florestais
contribuiu para o aumento do êxodo rural, uma vez que a
substituição da mão de obra
tradicional reduziu as oportunidades de emprego no campo. Além
disso, esse processo acarretou sérias consequências
ambientais,
como a degradação do solo, aumento da erosão,
assoreamento dos
rios e o secamento de nascentes e veredas.
A ocupação acelerada e desordenada do Cerrado resultou
na
drástica diminuição de áreas intactas
do bioma. Atualmente, mais
da metade de sua extensão encontra-se degradada ou antropiza
da, gerando intensos debates sobre a necessidade de alternativas
que conciliem o desenvolvimento local com a conservação
dos recursos naturais.
A partir da década de 1990, impulsionados pelas discussões
prévias à Conferência “Rio 92”,
ocorreu uma mobilização da sociedade local. Pequenos produtores, extrativistas, órgãos
ambientais,
extensionistas, políticos, ONGs, universidades e centros
de pesquisa iniciaram ciclos de debates com o objetivo de buscar soluções
para os crescentes e complexos problemas ambientais, cujas consequências poderiam ser irreversíveis.
O pequizeiro foi escolhido como símbolo desse movimento
de mobilização. A árvore, que possui características
típicas das es
pécies do Cerrado, produz frutos amplamente apreciados
e que
fazem parte da cultura e tradição local. Além
disso, o pequizeiro é
um importante indicador dos efeitos da interferência antrópica
no
ecossistema do Cerrado, representando a luta pela preservação
do
bioma e pela busca de um equilíbrio entre exploração
econômica e
conservação ambiental.
Neste contexto o estado de Minas Gerais foi vanguarda nas
ações pela preservação do bioma Cerrado.
Como resultado da mobilização social, foi aprovada pela Assembleia Legislativa
de Minas
Gerais a Lei nº 10.883, de 2 de outubro de 1992, que “Declara
o
Pequizeiro de interesse comum e imune de corte”. As discussões em torno da preservação e valorização
dos frutos do Cerrado continuaram ao longo da década de 1990. Em 1998, na comunidade
rural de Cabeceira do Mangaí, no município de Japonvar-MG,
foi
fundada a primeira cooperativa dedicada ao processamento de
frutos do pequi, com apoio do SEBRAE, universidades e órgãos
governamentais. A unidade começou a produzir polpa em conserva
e outros derivados do fruto, marcando o início de uma cadeia
pro
dutiva estruturada.
Outro marco legal significativo foi a aprovação
da Lei nº
13.965, de 27 de julho de 2001, conhecida como Lei Pró-Pequi.
Esta legislação criou o Programa Mineiro de Incentivo
ao Cultivo,
Extração, Consumo, Comercialização
e Transformação do Pequi e
de outros frutos e produtos nativos do Cerrado, estabelecendo
diretrizes para promover o uso sustentável desses recursos
naturais
no estado de Minas Gerais.
Na primeira década dos anos 2000, foram fundadas diversas
cooperativas e associações de produtores em Montes
Claros e em várias localidades do Norte de Minas Gerais,
impulsionando a economia regional através do processamento
de frutos nativos do Cerrado. Entre as principais iniciativas,
destacam-se a Cooperativa Grande Sertão (Montes Claros),
Cooperriachão (Mirabela), CoopSertão Veredas (Chapada
Gaúcha), Cooperuaçu (Cônego Marinho), Coopanorte
(São Francisco), Assusbac (Januária), Associação
de Salto (Coração de Jesus), Associação
de Água Doce (Bonito de Minas) e “Maria Fulô”
(Buritizeiro). Essas cooperativas e associações
se dedicam ao processamento de frutos do pequi e de ou tras espécies
nativas, além de produtos oriundos da agricultura
familiar.
Apesar de estarem em diferentes estágios de desenvolvimento, essas organizações têm desempenhado um
papel fundamental
na geração de emprego e renda para as comunidades
locais, beneficiando diretamente seus cooperados e associados. Estima-se que mais de 5.000 coletores extrativistas sejam
favorecidos diretamente pela comercialização dos produtos coletados,
contribuindo para o fortalecimento da economia regional e promovendo a
sustentabilidade das comunidades tradicionais do Cerrado.
Em 2007, teve início a elaboração do Plano
Nacional de Promoção das Cadeias de Produtos da Sociobiodiversidade,
uma importante iniciativa destinada a promover a conservação
e o uso
sustentável da biodiversidade, além de fomentar
alternativas de
geração de renda para comunidades rurais. O plano
buscou assegurar o acesso a políticas de crédito, assistência
técnica, extensão
rural, mercados, instrumentos de comercialização
e à política de
garantia de preços mínimos, conforme as diretrizes
aprovadas em
2009. Nesse contexto, foram selecionadas 10 espécies prioritárias, com base em seu uso e produtos já consolidados no
mercado,
apresentando cadeias produtivas estabelecidas.
Como resultado, foi criada a Política de Garantia de Preço
Mínimo dos Produtos da Sociobiodiversidade (PGPMBio) da
Conab, que estabelece o preço mínimo a ser pago por
diversos produtos originados da coleta extrativista.
Seguindo as diretrizes do plano, foram realizadas oficinas
em regiões estratégicas para o manejo comercial
dessas espécies.
Montes Claros foi escolhida como referência da cadeia produtiva
do pequi, devido à concentração das principais
atividades relacio
nadas a essa cadeia e à sua posição central
na área de ocorrência
do fruto.
Em 2008, foi realizada uma oficina em Montes Claros, reunindo produtores e instituições envolvidas, os chamados
“stake
holders” da cadeia produtiva do pequi no Norte de Minas
Gerais.
Durante o encontro, foram discutidos diretrizes e ações
para fortalecer a cadeia produtiva do pequi e de outros frutos do Cerrado.
Como resultado, decidiu-se pela criação do Núcleo
Gestor da Cadeia Produtiva do Pequi e Outros Frutos do Cerrado,
com o objetivo de organizar e promover ações voltadas ao manejo
sustentável
e à comercialização dos frutos nativos, fortalecendo
a economia
local e a sustentabilidade das práticas extrativistas.
O Núcleo do Pequi tornou-se uma instituição
organizada
pela sociedade civil, representando o interesse comum dos produtores extrativistas e de todos os “stakeholders” envolvidos
na promoção da cadeia produtiva do pequi e de outros frutos
do Cerrado,
além da defesa ambiental do bioma. Ao longo de sua trajetória,
o Núcleo promoveu diversos eventos e projetos em parceria
com
instituições de apoio, sendo financiados por iniciativas
governa
mentais e fundos ambientais.
Uma das conquistas mais significativas do Núcleo do Pequi
foi a ativação do Conselho Pró-Pequi (Decreto
nº 42.646/2002),
em 2011. Este conselho deliberativo, estabelecido pela Lei Pró--Pequi,
está atualmente vinculado à Secretaria Estadual
de Agricultura, pecuária e abastecimento e é composto por
produtores
extrativistas, associados e cooperados da sociedade civil e instituições de apoio, com a presidência indicada
pelo governo estadual.
O Conselho delibera sobre questões relativas ao pequi e
aos frutos
do Cerrado, incluindo a administração do Fundo Pró-Pequi,
criado
em 2012, com o objetivo de apoiar o desenvolvimento sustentável
da cadeia produtiva e a conservação do bioma.
No ano de 2015 o Governo do Estado reconheceu o Arranjo
Produtivo Local do pequi e frutos do Cerrado como parte do arranjo produtivo econômico no território do Norte
de Mina Gerais.
Atualmente, o arranjo produtivo do pequi encontra-se em
fase avançada de consolidação, é objetivo
profissionalizar uma cadeia produtiva que, até então, operava de maneira
informal e artesanal. O principal desafio consiste no desenvolvimento de uma
mentalidade empreendedora, especialmente entre os produtores extrativistas, a fim de romper com a tradição
assistencialista de
subsistência e avançar para um novo patamar, adequando-se
ao
modelo econômico emergente. Isso requer aprimoramentos nasáreas de gestão, qualidade dos produtos, marketing,
entre outros
aspectos.
Para alcançar esse objetivo, é necessário
investir em infraestrutura, educação, pesquisa e desenvolvimento,
a fim de possibilitar que os empreendimentos se tornem autônomos e autossu
ficientes. O funcionamento do arranjo produtivo do pequi oferece
soluções sustentáveis para diversos aspectos
da economia atual,
atendendo a demandas das agendas desenvolvimentistas, especialmente aquelas que visam a sustentabilidade, a descarbonização da economia e a mitigação dos
efeitos do aquecimento global.
O arranjo produtivo do pequi contribui, assim, para o cumprimento dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável
da
Agenda 2030 da ONU, cobrindo integralmente essas metas globais.
Como contrapartida, a cadeia produtiva do pequi oferece
um vasto portfólio de produtos e serviços ambientais
altamente
demandados pelo mercado. Ela proporciona uma ampla gama de
alternativas que proporcionarão aos consumidores finais
novas
experiências, além de opções aos produtos
industrializados atualmente disponíveis nas prateleiras dos supermercados ou
nas listas
de fornecimento de matéria-prima. Além da experiência
sensorial
e dos novos sabores, esses produtos oferecem novos nutrientes
e
compostos bioativos, além de possibilitar inovações
no campo da
tecnologia de alimentos e materiais para diversos setores da indústria, principalmente os da alimentação,
cosméticos, farmacêutica, biocombustíveis, materiais e outros. Muitos desses
produtos
já fazem parte das linhas de produção de
empresas pioneiras no
setor, e a perspectiva da entrada de grandes empresas nesse mercado é promissora. No entanto, para garantir esse crescimento,
é
imperativo avançar na padronização da qualidade
dos produtos e
consolidar a capacidade de suprimento.
Além disso, os produtos da cadeia produtiva
do pequi possuem, intrinsecamente, valores agregados que transcendem o uso
tradicional, incluindo os serviços ambientais prestados
durante
sua produção e o conhecimento ancestral sobre seu
uso ao longo
do tempo. Essa cadeia se alinha perfeitamente aos modelos econômicos modernos voltados para a sustentabilidade, como a bioeconomia, economia verde, economia circular, comércio justo,
entre
outros.
Dessa forma, é possível afirmar que a cadeia produtiva
do
pequi é uma realidade consolidada no contexto do Cerrado
do
Norte de Minas Gerais. Embora seu potencial esteja em expansão,
ela requer aprimoramentos em suas diversas etapas. Destaca-se,
nesse contexto, a necessidade de um olhar mais atento por parte
do poder público e do setor empresarial, para impulsionar
e inserir os produtos da sociobiodiversidade de forma definitiva na
economia de mercado, de maneira sustentável. O objetivo principal
é
oferecer ao consumidor final produtos de alta qualidade e sauda
bilidade. E ao mesmo tempo ser uma opção diferenciada
para a
economia no território do Cerrado em contraponto à
exploração
predatória do Bioma.
Portanto, a cadeia produtiva do pequi se apresenta como uma alternativa
sustentável para os extrativistas, povos e comuni dade
tradicionais, dentre outros parceiros envolvidos na cadeia de
valor por apresentar ao povo norte mineiros e brasileiros os frutos
e produtos do Cerrado com enorme valor nutricional colaborando
de forma significativa para a segurança alimentar nutricional
dos brasileiros. Assim sendo, os produtos do bioma Cerrado cumprem
um importante papel, de conciliar as ações e estratégias
para o desenvolvimento econômico com preservação,
conservação ambiental, social e nutricional. É
importante ainda que os envolvidos na Cadeia de Valor do Pequi
busquem o avanço da sua profissio nalização
e a valorização dos produtos da sociobiodiversidade
na consolidação
de sua posição no mercado, oferecendo produtos de
qualidade ao consumidor final e garantindo a sustentabilidade
do bioma Cerrado.
Assim, a cadeia produtiva do pequi e outros frutos dos nativos se apresenta como uma alternativa sustentável à
exploração
predatória do Cerrado, conciliando desenvolvimento econômico
com a conservação ambiental.


ADEUS, MESTRE ZANZA!
As tradições folclóricas são bem vívidas
em Montes Claros,
norte de Minas Gerais. Os catopês, caboclinhos e marujos
desfilam a cada ano num batuque de pandeiros, num sapa
teado bem compassado; artisticamente treinados homens e mulheres devotados ao folclore, nas festas de agosto saem pelas
ruas
exibindo uma harmonia entre braços e pés, numa métrica
que inveja dançarinos, músicos e matemáticos.
Nós vamos para as ruas para apreciarmos e aplaudirmos
uma arte, uma exibição simétrica que ninguém
conhece o autor.
Todos os anos eu vou para assistir àquele espetáculo
de sons, de
cores, de batuques e aquela cantiga triste saída lá
do fundo do coração, alcançando o cérebro e voltando
à boca para que a voz conte a história.
Em meio aos ternos de catopês, caboclinhos e marujos vislumbramos a figura do mestre Zanza: silente, com um andar espartano, ele vê tudo e todos com o seu olhar de 86 anos,
viçoso e
brilhante corrigindo o que por ventura não esteja de acordo.
O seu capacete é diferente dos demais,
de uma arte peculiar
para um protagonista mestre: o Mestre Zanza. Muitos posaram
com o mestre para uma foto histórica e já vi crianças
fotografadas
com o seu capacete. Mas não tem importância usá-lo,
pois não se
trata de um símbolo de realeza, como uma coroa que é
usada exclusivamente pelos reis e rainhas e príncipes e princesas,
mas é o
símbolo da simplicidade a que todos podem se aproximar.
Não sei se o mestre Zanza teve vida na Universidade, onde
as pessoas se tornam mestres, mas na Universidade da vida ele
aprendeu a simplicidade, que dissipa o orgulho, a humildade, que
lança por terra a vaidade e aprendeu o canto das vozes
melodiosas
e nos batuques dos pandeiros, no gingado dos corpos e no rodo
piar das bandeiras a transformação do preconceito
em alegria e
graciosidade.
Enquanto seu corpo era velado no Museu Folclórico dos
Catopês a natureza chorou; e sob forma de fitas brancas
a chuva
desceu copiosa e mansa e escorreu pelo asfalto produzindo fitas
coloridas propiciando o conforto aos que ali se encontravam tristes e chorosos.
Na Certificação do mestre Zanza na culminância
de seu mestrado está escrito: Certifica-se a João Pimenta
dos Santos o resgate
da cultura popular, da simplicidade e do respeito pelo que é
de todos, por essa herança incontestável, que há
de ser lembrada pelas
gerações futuras, como um prenúncio que não
tem preço, mas que
custou-lhe a vida de cidadão montes-clarense.
Montes Claros é profundamente agradecida mestre Zanza!
Muito obrigada!

“CIDADE GRANDE”, DE DRUMMOND:
O FAVELÁRIO DE MONTES CLAROS
Carlos Drummond de Andrade nasceu na cidade de Itabira--MG, mas
estabeleceu-se no Rio de Janeiro em 1934, onde
se tornou um observador atento da vida urbana na então
capital da República. Em 1984, Drummond publicou o livro
Corpo – última coletânea de poemas que publicou
em vida –, no qual está
incluído o longo poema “Favelário nacional”.
O título do poema é um neologismo que se conecta
a termos
como “berçário”, “aquário”
e “campanário”, destacando a ideia de
um conjunto que engloba. Em “Favelário nacional”,
Drummond
examina a situação das favelas brasileiras na década
de 1960, tomando como ponto de partida a grande enchente que atingiu o Rio
de Janeiro em janeiro de 1966.
No poema, Drummond presta homenagem a favelas cariocas
bastante conhecidas, como Mangueira, Barreira do Vasco, Tucano
e Rato Molhado, dedicando o texto ao amigo Alceu de Amoroso
Lima. Dividido em 21 estâncias/partes, o poema segue a estética
da primeira geração modernista, com estrofes irregulares
e versos
livres.
O poema número 18 da série, intitulado
“Cidade grande”, interessa-nos ao longo deste ensaio, uma vez que retrata o “favelá
rio” da cidade de Montes Claros:
18. CIDADE GRANDE
Que beleza, Montes Claros
Como cresceu Montes Claros
Quanta indústria em Montes Claros
Montes Claros cresceu tanto,
5 ficou urbe tão notória,
prima-rica do Rio de Janeiro,
que já tem cinco favelas
por enquanto, e mais promete.
(Andrade, 2007, p. 125).
Como nos poemas anteriores da série, Drummond utiliza a
imagem da cidade como um microcosmo para explorar e criticar
a urbanização no Brasil. Atravessada por um tom
irônico e observador, a imagem de Montes Claros revela, pelo eu poético
drummondiano, as contradições inerentes ao crescimento
econômico e
industrial das cidades brasileiras.
O poema começa com uma aparente celebração
da cidade
de Montes Claros. Com o seu crescimento, surge também uma
espécie de sobressalto diante do processo de modernização
e industrialização dos “montes”, isto é,
a transformação das elevações de
terreno – mais altas que colinas, porém menos extensas
que montanhas – em um grande centro industrial. As repetições
elogiosas
(“Que beleza”, “Como cresceu”, “Quanta
indústria”) destacam o desenvolvimento e a imagem da cidade – como no poema “Cabaré
mineiro”, de Alguma poesia (1930) – vista pelo eu
drummondiano,
sugerindo um progresso significativo
Essa marcação do crescimento urbano,
por exemplo, está
em diálogo com o estudo de Silveira (2005) sobre a urbanização
o
aumento populacional de Montes Claros. Uma das razões para
tal
foram os “deslocamentos das populações urbanas
e rurais de ou
tros municípios da região efetivaram-se na busca
de novas perspectivas de trabalho” (Silveira, 2005, p. 30) .
A década de 1980-90 foi crucial para a urbanização
do Norte
de Minas, mas a história revela que o processo de ocupação
urbana
passou por transformações radicais, resultando em
modificações
no espaço geográfico: “Montes Claros não
se preparou para receber um acréscimo significativo de baixa renda, não
conseguindo
assim, viabilizar-se para controlar a crise urbana nela instalada”
(Silveira, 2005, p. 25). Como sequela, surgiram ocupações
ilegais
e invasões de terras, levando a um quadro inevitável
de pobreza
local e regional. Um exemplo disso é o bairro Cidade Industrial,
anteriormente conhecido como “Favela Coberta Suja”.
Nesse contexto, a Cidade Industrial surgiu como favela, um “bolsão de pobreza”, onde as moradias eram
um “mosaico: lonas,
caixotes, papelão, plásticos, cobertas, alvenarias,
outros; construídas em forma de mutirão com característica
multifamiliar” (Silveira, 2005, p. 34). Com o tempo, as habitações
e os loteamentos
passaram por um processo de consolidação. A favela
se expandiu
sem controle, o que levou o poder público a adotar uma
política
de regularização dos lotes e loteamentos, estabelecendo
diretrizes
para a criação de áreas destinadas a praças,
lazer, escolas, postos
de saúde, entre outros serviços (Silveira, 2005)¹
______________________________
¹ Além disso, a contribuição total dos
imigrantes para Montes Claros aumentou significativamente, passando de 116.486 na década de 1970 para 177.308
na década de 1980 e para
250.062 em 1991 (Silveira, 2005).
_____________________________
De “Coberta Suja” à atual
Cidade Industrial, emerge a “Cidade grade”, vista pelo olhar crítico e observador
de Drummond
e registrada nas páginas de Corpo. Esse retrato reflete
o que provavelmente já se estampava nas páginas dos jornais
da época: um“corpo favelário nacional” que começava
a se raiar quando o poeta
se mudou para o estado do Rio, em 1934, para ingressar no serviço público.
Vale ressaltar que o começo positivo do poema lembra a
retórica de discursos oficiais e propagandas que enaltecem
o de
senvolvimento urbano sem considerar seus efeitos “negativos”
e/
ou estruturais, que acompanham a imagem de uma determinada
cidade, independente do fator tempo, como descrito por Silveira
(2005) em seu estudo. A repetição do nome da cidade
reforça a
ideia de crescimento, quase como um mantra de progresso e como
possível evidência da falta de preparação
para o aumento da população de baixa renda que imigrava de outras cidades
em busca
de melhores condições de vida. No entanto, essa
repetição exage
rada e a superficialidade das palavras preparam o leitor para
a revelação da verdadeira crítica que está
por vir.
À medida que os versos avançam, a fina ironia de
Drummond começa a se revelar. Nos versos de 4 a 6, por exemplo,
o
eu sugere que Montes Claros se tornou uma cidade de destaque,
uma “urbe notória” comparável ao Rio
de Janeiro, a antiga capital do país. Essa comparação eleva a cidade
mineira ao status de
uma grande metrópole, tão ou mais do que a carioca,
e ao mesmo
tempo prepara o terreno para as falhas no crescimento urbano:
o
sentido de “elevação” associado ao significado
de “monte” é justa
posto pela menção às favelas.
A ironia atinge seu ápice nos versos finais: “que
já tem cinco
favelas/ por enquanto, e mais promete” (Andrade, 2007, p.
125).
A celebração inicial do crescimento industrial e
urbano é subita
mente contrastada com a realidade social das favelas, bem como passa a ser claramente lembrada nos “montes”
da cidade mineira.
O eu destaca ainda que, apesar do desenvolvimento, a promessa
de Montes Claros também resulta no crescimento das favelas,
que
são um símbolo da desigualdade e da exclusão
social no contexto
brasileiro.
Nesse contexto, é importante lembrar que o poema “Cidade
grande” foi escrito e reunido em 1984, portanto, quarenta
anos se
passaram desde a publicação da coletânea,
integrando-se à construção deste ensaio. O poema permanece nas páginas
de Corpo;
entretanto, a cidade de Montes Claros, retratada nos versos, é
estática, recebendo uma marcação temporal que
reflete a realidade
histórico-social da época. Em outras palavras, a
cidade, enquanto
entidade poética, está em constante processo de
expansão urbana,
como o título do poema sugere.
A expressão “por enquanto, e mais promete”
é particularmente mordaz, sugerindo que o “progresso” futuro trará
ainda
mais favelas, perpetuando um ciclo de desigualdade. Esse fator
de
prospecção torna-se crítica quando consideramos
a realidade des
crita nos versos. Veloso e Leite (2007) exemplificam a promessa
mencionada pelo eu drummondiano na década de 80.
A partir da pesquisa “Diagnóstico socioeconômico
das aglomerações subnormais da cidade de Montes Claros”,
ligada à Universidade Estadual de Montes Claros, é possível
notar que as “cinco cidades” já são dezessete no século
XXI:
[...] Vila Cedro, Vila Castelo Branco, Vila Itatiaia, Vila São
Francisco de Assis, Vila Campos, Vila Tupã, Vila Alice,
Cidade Cristo Rei, Cidade Industrial, Village do Lago, Pombal, Rua 20, Rua
da Prata, Praça São Vicente, Morrinhos, Vila Mauricéia
e Ciro dos
Anjos. (Veloso; Leite, 2007, p. 9).
Dezessete também é a marcação temporal
da publicação de
Veloso e Leite em relação a este ensaio, e, claro,
o tempo é sempre o presente: outras “favelas” ainda
continuaram a surgir e “por enquanto, e mais promete” continuarão a surgir no bojo
da “urbe tão
notória,” a “prima-rica do Rio de Janeiro”
(Andrade, 2007, p. 125).
Além de criticar a urbanização desordenada
e a desigualdade, Drummond também faz uma reflexão mais ampla
sobre a
identidade nacional. Ao escolher Montes Claros, uma cidade que
não é uma metrópole tradicional como São
Paulo ou Rio de Janeiro, o poeta mostra que os problemas das favelas e da desigualdade
não são exclusivos das grandes cidades. Eles são
um fenômeno nacional, que afeta diversas regiões do Brasil (Leite; Almeida;
Leite,
2007).
Nesse sentido, ao unir diferentes cidades sob a temática
das
favelas – Rio de Janeiro e Montes Claros –, Drummond
constrói
uma narrativa de que as favelas são uma parte integral
e inescapável da paisagem urbana brasileira, como pontua Silva
(2023).
Elas são um reflexo das falhas estruturais na forma como
o país
se desenvolveu economicamente, ignorando a inclusão social
e a
distribuição equitativa de recursos (Poncioni, 2009).
Ainda segundo a autora, a escolha de versos livres e estrofes
irregulares pode refletir a fragmentação e a complexidade
da vida
urbana observada pelo eu drummondiano, característica do
período do Modernismo (Poncioni, 2009). Nesse sentido, não
há uma
métrica rígida ou uma estrutura previsível,
assim como a vida nas
favelas é imprevisível. Assim, a forma do poema
complementa seu
conteúdo, criando uma unidade estética que reforça
a mensagem
crítica de Drummond e a “promessa” de crescimento
urbano do “favelário” de Montes Claros.
“Cidade grande” é um poema que, apesar de sua
brevida
de, carrega uma crítica social profunda e multifacetada.
Através
de uma fina ironia, Drummond desmonta a narrativa oficial de
progresso e passa a expor as contradições do desenvolvimento urbano no corpo brasileiro, como o título
da obra sugere. O poeta
destaca a desigualdade social, a marginalização
e a falta de planejamento urbano como problemas centrais que acompanham o
crescimento econômico.
Referências
ANDRADE, Carlos Drummond de. Cabaré mineiro. In.: Alguma
poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 64.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Favelário nacional. In.: Corpo.
19. ed. Rio de
Janeiro: Record, 2007, p. 111-127.
LEITE, Marcos Esdras. ALMEIDA, Maria Ivete Soares de; LEITE, Manoel
Reinaldo. As favelas da cidade de Montes Claros/MG: uma análise
socioeconômica.
Revista Cerrados, [S. l.], v. 5, n. 01, p. 29-46, 2007.
PONCIONI, Cláudia. Drummond, o “favelário”
e o patrimônio. Navegações, [S. l],
v. 2, n. 1, p. 17-23, jan./jun. 2009.
SILVA, Leandro Praes Xavier da. Um olhar: o Favelário nacional.
2023. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Departamento
de Geografia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2023.
SILVEIRA, Yara Maria Soares Costa da. A transformação
urbana de Montes Claros: surgimento e crescimento do bairro Cidade Industrial. Revista
Cerrados,
Montes Claros, v. 3, n. 1, p. 23-42, 2005.
VELOSO, Dardiane Gonçalves; LEITE, Marcos Esdras. A precariedade
social da
favela Vila Itatiaia em Montes Claros/MG. In.: XI Encuentro de
geógrafos da
América Latina, 2007, Bogotá. Anais [...]. Bogotá:
[S. l.], 2007, p. 1-16.
DEUS E LIBERDADE
Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos!
Salmo 133
No prefácio da primeira edição, fixei a ideia
na pragmática
Parábola do Semeador, fazendo, por minha conta, um acréscimo, de modo a aumentar a aliteração: E o semeador
saiu
a semear a sua semente. Semeadura na beira do caminho, na pedra rochosa, entre os espinhos, em terra fértil e bem preparada.
Quatro situações, quatro possibilidades, quatro
escolhas, resulta
dos previsíveis. Comparação e forma simples
de dizer que o livro
do escritor e maçom Itamaury Teles de Oliveira estava chegando
para afirmar e reafirmar uma importante e melhor sintonia, mais
do que enriquecedora para a história da nossa cidade dos
Montes
Claros.
Sua decisão de escrever sobre a existência e a dinâmica
da
Deus e Liberdade foi desde o início caminho de sucesso,
motivo de esperanças: dele mesmo, Itamaury, e de
todos os irmãos maçons:
dos mais antigos - conhecedores da história e das estórias
- e dos
mais novos - agentes da mais sadia curiosidade. Muito importante a data de 18 de setembro de 1932, quando destacados líderes
da cidadania montes-clarense e norte-mineira, se juntaram para
o grande feito. Marçal Ferreira Coelho, da União
Sertaneja; José
Esteves Rodrigues, da Caridade e Firmeza; Luiz José de
Magalhães,
da Templários de Cananéia; Sebastião Sobreira
de Carvalho, da
Capitular Progresso; Eduardo Augusto Lico, da União e Trabalho;
Gentil Sarmento, da Fraternidade Italiana; Antônio Narciso
Pereira, da Fraternidade e Luz; Epaminondas Freire de Lemos, da Fila
délfia; Alfredo Ramos de Abreu, da Deus, Humanidade e Luz;
José
Ribeiro de Castro e Athos Braga, da Roma II.
Luminoso o sucesso nos sonhos, na iniciativa, no planejamento, na organização, em todas as decisões.
Iniciativa bem recebida, bem aceita pelos agentes de bons princípios e bons
costumes. Logo de início, cada qual e todos juntos, foram
erigindo
templos à virtude e ao progresso. Abriram caminhos para
estudos,
para novas aprendizagens, novo trabalho filosófico e social,
marcas de força e determinação. Loja Maçônica
Deus e Liberdade, no
todo e no sempre, vinda para ser e para estar, marca de eficiência!
A década de 1930 era um tempo de muito entusiasmo, cultura e mudanças: a inauguração dos trilhos
da Estrada de Ferro,
a fundação do Rotary Club de Montes Claros (1926,
o terceiro do
Brasil depois do Rio de Janeiro e São Paulo), o comentadíssimo
episódio revolucionário de Dona Tiburtina Alves,
em recepção ao
Vice-presidente Melo Viana. Tudo efervescência nos compromissos sociais, culturais, políticos e econômicos. Novas
escolas, no
vas instituições, modernos meios de comunicação,
comércio ativo,
agropecuária em desenvolvimento, mais setores de serviços
no
campo da saúde, nova marca de posição e de
respeito regional.
Tudo favorável para a implantação de uma
loja maçônica, principalmente por contar com a experiência de José Ribeiro
de Castro,
da Loja Roma II, de Belo Horizonte, e do prestígio cultural
e político dos nobres José Esteves Rodrigues e Athos Braga na atuação
e
no poder de Montes Claros. Tinha realmente que dar certo!
Considero-me participante e testemunha de tudo ou quase
tudo desses acontecimentos e decisões da nossa Deus e Liberda
de. Aprendiz em junho de 1963, companheiro em dois de agosto, mestre em vinte de setembro, Cavaleiro Rosa Cruz em 1969,
Conselho de Kadosh em 1974, Supremo Conselho do Grau 33 em
1976, sempre Deus e Liberdade, bem mais de meio século.
Em todos os momentos, muito estudo, muita atividade ao lado dos mais
valorosos companheiros e mestres maçons. Um quadro social
da
maior importância, diretorias de visível prestígio,
tudo do maior
valor histórico em registros mais do que conhecidos e reconhecidos.
Por isso e por muito mais, o merecimento deste influente
livro DEUS E LIBERDADE: uma nonagenária e grande benemérita
- pesquisado e escrito pelo inteligente e dinâmico Irmão
Itamaury
Teles de Oliveira, membro ativo da Academia Montes-clarense de
Letras, dos Institutos Históricos e Geográficos
de Minas Gerais e
de Montes Claros, um dos fundadores e ex-presidente da Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas. Grande
Itamaury!
Na mesma medida do semeador bíblico da Parábola
do Divino Mestre Jesus, a Loja Maçônica Deus e Liberdade
- nonagenária e
grande benemérita - tem sido rica no plantio das melhores
ideias,
sempre com elogiada eficiência na filantropia e na prestação
de
serviços comunitários nos mais diversificados campos
de atuação.
Sempre acreditei sermos sementes plantadas em solo da mais alta
fertilidade, com generosas colheitas neste sacratíssimo
e bendito
solo histórico de Montes Claros, centro e capital da região
norte do
Estado das Minas Gerais.
Rogo fervorosamente ao Grande Arquiteto do Universo esteja o Mestre Itamaury Teles de Oliveira vivo, altaneiro e atuante
em 2032, para complementar, em terceira edição,
a marca dos cem
anos da nossa Loja. Haja fôlego e muita saúde, querido
Irmão e
Confrade!
Com o meu mais fraterno abraço ao Venerável Mestre
Edilberto Colares de Oliveira e aos membros da Diretoria, pela tempo
rada de comemorações dos 90 anos de fundação
e pela publicação
deste importante Livro.

Itamaury
OS INSTITUTOS HISTÓRICOS
E GEOGRÁFICOS
Aristóteles, em uma de suas teorias, definiu ser “o
homem
um animal social”. Um animal que precisa estar em sociedade para viver plenamente; que não pode ser feliz fora
da
sociedade. David Brooks, no livro “Animal Social”,
complementa o
entendimento de Aristóteles ao criar a inovação
do sucesso, que
nos leva a uma vida de felicidade.
Se bem analisarmos os fatos da vida humana poderemos
dizer que ela é o registro da evolução ao
longo dos tempos. É so
mente pretérito. Isso porque o presente é um simples
instante e
o futuro ainda não existe. O futuro é o amanhã,
que nunca chega.
A vida humana é história, que acontece a todo instante,
que tem
sido informada como o estudo do passado humano. Mas o passa
do pode estar presente, porque o presente é tão
instantâneo que
logo se torna passado.
A oralidade guarda momentaneamente os acontecimentos,
o que nos leva à necessidade da palavra escrita, para sua
preservação e é esta a função
primordial do historiador. Para se conhecer
o passado é necessário que os eventos sejam preservados.
A todo
instante estamos construindo fatos históricos.
Fui professor de História, mas não era um historiador.
O historiador é um cientista. Sua função é
preservar a memória, pois “um povo sem memória é um povo sem história”.
Escrevi história
algum tempo depois.
Os historiadores são herdeiros de Heródoto e de
Tucídides.
E, como herdeiros, têm o direito de integrarem uma instituição
voltada para o estudo e a preservação dos conhecimentos
adquiridos.
Mas também estão ligados a Hecateu de Mileto e a
Aristóteles. A
filosofia de Aristóteles, que nos foi dada primeiramente
por Santo
Tomás de Aquino, nos ensina que o conhecimento e todo trabalho
visam à felicidade, que é o maior objetivo do ser
humano. Assim,
fazemos história procurando a nossa felicidade. Mas também
não
podemos nos esquecer de Cícero, das suas reflexões
sobre a História, expostas em seus escritos. Ele deu forma à apresentação
escrita da História entre os romanos, intentando superar a supremacia
dos gregos, nesse campo do conhecimento. “A história
é o teatro
das coisas do universo, espelho do tempo, tesouro da demonstração,
olho da sabedoria, espelho da vaidade, da fraqueza e da estupidez,
princípio de prudência, guardiã e arauto das
virtudes, testemunha
da malícia e da improbidade, vate da verdade, cidade da
sabedoria, e tesouro para toda a posteridade, ou um tesouro para sempre”,
como nos lembra Renato Ambrósio em artigo publicado na
Revista de História, v. 147.
O mesmo historiador Renato Ambrósio observa que antes
de Cícero ainda não havia em Roma uma história
que se comparasse às obras dos grandes historiadores gregos, como Heródoto
e Tucídides. Os gregos criam, em seus escritos, a primeira
lei da
História: “não ousar dizer algo de falso,
que não se ouse não dizer
algo de verdadeiro”
História e Geografia são ciências
irmãs. A História ocorre
sempre em um determinado ambiente geográfico. A Geografia
é
uma ciência cujo objeto de estudo é o espaço
geográfico, entendido como toda porção espacial onde são estabelecidas
as relações humanas. Logo, a Geografia é a ciência
que estuda o espaço
geográfico e as relações entre a sociedade
e o meio em que são
estabelecidas. A Geografia estuda também a evolução
do ser humano, a sociedade onde a História acontece. O geógrafo
tornou-se
defensor dos problemas ambientais. Nesse sentido ele está
fazen
do história.
Os Institutos Históricos e Geográficos são
instituições culturais a serviço da sociedade, que possuem grande importância.
Esses tiveram origem na França com o Instituto Histórico
de Paris,
fundado em 1833. A França, no século XIX, foi o
berço da civiliza ção ocidental. O Instituto nasceu em razão
do interesse cultural
pela História.
Tendo como paradigma o Instituto de Paris, o brigadeiro
Raimundo de Cunha Mattos e o cônego Januário da Cunha
Barbo
sa, com apoio de Dom Pedro II, criaram em 1838 o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, a mais antiga entidade de
incentivo à
pesquisa e preservação histórico-geográfica,
cultural e de ciências
sociais do País. O Imperador Dom Pedro II frequentava as
reuniões do Instituto. Outros depois foram sendo criados. Eles
possuem
grande importância na preservação e estudo
das memórias e das
culturas locais, sendo responsáveis pela manutenção
de publica ções, bibliotecas, arquivos e museus.
Não existe a geração espontânea, uma
teoria desacreditada.
Nada nasce por si mesmo. A força criativa nasce da vontade
manifesta de fazer, e foi essa vontade que levou os cultores das letras
e
da sabedoria Dário Teixeira Cotrim, Wanderlino Arruda e
Haroldo
Lívio de Oliveira a criarem, por incentivo do Instituto
Histórico e
Geográfico de Minas Gerais, o Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros, que se transformou na mais importante
associação
cultural do Município. Mas, a criação e a
instalação do Instituto
não ocorreram por um passe de mágica. Os três
instituidores, em
trabalho conjunto e perseverante, catalogaram os patronos das
Cadeiras a serem criadas e os possíveis ocupantes dessas
mes
mas Cadeiras. O historiador Brasiliano Braz, meu pai, foi escolhido
como patrono da Cadeira nº 18.
Em um determinado momento da criação, nasceu a necessidade de se dar um nome à sede do futuro Instituto. Despontou,
por força de sua própria pujança, o nome
de Simeão Ribeiro Pires.
Por que Simeão Ribeiro Pires?
O Jornal O Norte, edição de 15 de junho de 2007,
nos es
clarece: “Montes Claros se enfeitou para receber a “Casa
de Simeão
Ribeiro Pires”, nome fantasia do Instituto Histórico
de Geográfico
de Montes Claros. Por que Simeão e não Darcy Ribeiro
ou Cyro dos
Anjos? Por que Simeão e não João Vale Maurício
ou Cândido Canela?
Por que Simeão e não Hermes de Paula ou Urbino Viana?
Porque Simeão foi o mais autêntico historiador-geográfico
de Montes Claros.
Era um contumaz pesquisador. Coletava peças de nossa história
e as
colecionava com o objetivo de preservar o passado de nossa gente
e
de nossos costumes”.
Nós, os iniciantes que se agruparam em torna da ideia,
vimos
consolidada a criação do Instituto com sua instalação
em uma casa
de propriedade do escritor Dário Teixeira Cotrim, um dos
instituidores, no Bairro de Lourdes. Ali foi instalado o acervo, que passou
a ser do Instituto, doado pela associada Terezinha Gomes Pires.
Dali a sede e o acervo foram, ainda provisoriamente, para uma
das
dependências da Escola Normal Professor Plínio Ribeiro.
Mudou
algumas vezes de sede, em busca de uma afirmação.
Finalmente
instalou-se no sobrado “Dulce Sarmento”, antigo prédio
construído pelo coronel Antônio Augusto dos Anjos.
Mas, sempre existe um fato a ser esclarecido. A presença
do Instituto, em sua hoje sede social, foi resultado de um conjunto
de atuações, que não podem ser esquecidas.
Esclarece o literato Dário Teixeira Cotrim que: “Recebemos
o sobrado, por concessão da Prefeitura Municipal de Montes
Claros, num esforço conjunto com a Secretaria Municipal
de Cultura (João Rodrigues), do Conselho Municipal do Patrimônio
Histórico e Cultural de Montes Claros (Raquel Mendonça)
e do presidente do IHGMC, o coronel Lázaro Francisco Sena”.
São já dezoito anos de existência. De existência
profícua. O
Instituto publicou 33 Revistas. Mantem, em publicações
periódicas, há quase dez anos, o Informativo Mensal. Foram criadas
as
bibliotecas: Brasiliano Braz (história), Urbino de Souza
Viana (autores montes-clarenses) e Arthur Jardim de Castro Gomes (geo
grafia e afins).
Também foram criadas salas em homenagens aos ilustres
intelectuais: Hermes Augusto de Paula (História), Nelson
Washington Viana (Geografia), Ruth Tupinambá Graça (de
entretenimentos e bazar), Ivo das Chagas (museologia – módulo
I), Harlen So
ares Veloso (museologia – módulo II), Haroldo Lívio
de Oliveira
(imobiliário manuelino da família Versiani-Maurício),
Saul Martins (Artesanato em geral), Cândido Canela (literatura de
cordel),
Dulce Sarmento (recepção) e o pátio cultural
Américo Martins Filho.
Regista o historiador Dário Teixeira Cotrim, “que
ainda, no
sentido das homenagens, foram inaugurados quatro memoriais: Simeão Ribeiro Pires (Objetos pessoais), Sala Cabo Geraldo
Martins
Santana (material bélico), a sala do Rádio Amador
de Montes Claros
(Marcelo Mameluque Mota) e os memoriais de Nivaldo Maciel, Teó
filo Azevedo Filho e João Chaves”.
Não faz muito tempo, foi inaugurado o
Museu Leonardo
Campos – antropologia e etnologia. Mas, o Instituto pela
dinâmica
de seus dirigentes, não para. Está em curso o terceiro
Consórcio
Literário, com a publicação de doze obras
literárias em cada grupo.
Em Montes Claros, pela inexistência de instituição
específi
ca, que cuide da preservação do patrimônio
artístico, o Instituto
Histórico e Geográfica tem acumulado as funções
de preservação
da nossa diversidade cultural. Ele tem, como definido pelos seus
idealizadores, “como finalidade pesquisar, interpretar e
divulgar
fatos históricos, geográficos, etnográficos,
arqueológicos, genealó
gicos e suas ciências e técnicas auxiliares, assim
como fomentar a
cultura, a defesa e a conservação do patrimônio
histórico, artístico
e cultural do município de Montes Claros e região
Norte de Minas”.
Reúne historiadores e geógrafos com o objetivo de
registrar
os fatos históricos, com abrangência geral universal,
mas focalizado principalmente, pelas próprias razões de sua
instituição, na
história de Montes Claros e do Norte de Minas. Do Norte
de Minas
porque Montes Claros é polo convergente, centro físico,
cultural e
financeiro da região

DICCIONARIO GEOGRAPHICO, HISTÓRICO
E DESCRHIPTIVO DO IMPÉRIO DO BRAZIL
Pesquisa de Dário Teixeira Cotrim
“Diccionario Geographico, Historico e Descriptivo, do Imperio
do
Brazil : contendo a origem e a historia de cada provincia, cidade,
villa e aldeia, sua população, commercio, industria,
agricultura e
productos meneralogicos, nome e descripção de seus
rios, lagoas,
serras e montes, estabelecimentos litterarios, navegação,
e o mais
que lhes e relativo : obra colligida e composta durante vinte
seis
annos de residencia e de longas peregrinações por
diversas provincias do Imperio, com o auxilio semumero de manuscriptos e d’obras
publicadas em diversas linguas por escriptores tanto antigos como
modernos e de muitos documentos officiaes : dedicado (com per
missão especial) a Sua Magestade Imperial o Senhor D. Pedro
II,
Imperador do Brazil, ornada de um mappa geral do Brazil e de
cinco planos das cidades e portos principais” (Dom Caetano
Lopes
de Moura, natural da cidade da Salvador).
O Dicionário Histórico e Descritivo foi originalmente
publicado em 1845, pelo militar francês J.C.R. Milliet de
Saint-Adolphe, era militar francês, nascido provavelmente no ano de
1789,
na mesma época que aconteceu a missão artística
encomendada
pelo Imperador Dom Pedro II, no ano de 1816. Milliet chegou em
companhia dos artistas plásticos Debret e Taunay. O Dicionário
de Milliet é uma das primeiras obras a ultrapassar o recorte
provincial, haja vista que ela oferece uma descrição
geral e circuns tanciada de todo o Império brasileiro,
também um panorama do
estágio de desenvolvimento de cada província, cidade,
vila e aldeia
do país. No âmbito da geografia, traz o nome e a
descrição dos rios,
lagoas, serras e montes.

“Formigas.
Villa, posto que pequena, agradável e mercantil da província
de Minas-Gerais, na comarca de Jequitinhonha1, 80 legoas ao
nornordeste da cidade d’Ouro-Preto, e 20 a oeste-noroeste
da cidade de Minas-Novas, outrora villa do Fanado2. Teve origem
em 1698 pelo mesmo teor que a povoação de Itucambira3.
Os primeiros que ali vierão residir edificarão
uma capella a São José que foi largos annos que
foi filial da da freguesia de Itucambira, porém como
os arredores de Formigas fossem mais amenos que os da parochia,
foi-lhe aquella povoação augmentando progressivamente
no decurso do século passado, e tornou-se essencialmente
mer cantil, quando se abrirão varias estradas para facilitar
as comu nicações entre as cidades da Bahia e as
villas de Fanado e de São--Romão, então
simples freguesias; até que uma lei da assembleia geral,
de 13 d’Outubro de 1831, lhe conferio o titulo de villa
com o nome de Formigas-de-Montes-Claros4, assignalando por districto
os termos das freguesias de Barra-das-Velhas5, Contendas6 e
Morrinhos7, e com tudo só no anno seguinte obteve a sua
igreja o titulo de parochia, por decreto de 14 de julho, com
invocação de N. S. da Conceição,
dando-lhe por filias as do Bom-Fim8 e de Macaúba9. A
villa de Formigas consta de mais de 299 casas telhadas, as mais
d’ellas térreas, e tem uma praça assaz espaçosa
e oblonga, no topo da qual se vê a igreja parochial situada
um pouco obliquamente. Os habitantes d’esta villa dão-se
em geral ao commercio de gado, couros, peletaria, que vendem
na cidade da Bahia, e salitre que levão para a cidade
d’Ouro-Preto, e às vezes para a do Rio-de-Janeiro.
Por lei provincial, de 15 de março de 1840, acha-se o
districto d’esta villa augmentado com a povoação
de Coração-de-Jesus, que andava anexa ao de São-Romão”.
(Descrição de J.O.R. Milliet de Saint-Adolphe,
Diccionario Geographico Histórico e Descriptivo do Império
do Brazil. Páginas 368/369. Pariz. 1840)
Observações:
1. Hoje, com a redução do distrito, o município
de Montes Claros
está localizado somente na bacia hidrográfica do
rio São Francis
co, em particular no rio dos Vieiras que é um tributário
do rio Ver
de, e este por sua vez, afluente do rio São Francisco.
2. Villa do Fanado é hoje a belíssima cidade de
Minas Novas.
3. Freguezia de Itucambira. O seu nome atual é Itacambira
4. Formigas-de-Montes-Claros que era conhecida por Montes Cla
ros das Formigas.
5. Barra-das-Velhas
6. Contendas – Coração de Jesus
7. Morrinhos
8. Bom-Fim - Bocaiúva
9. Macaúba

Nota-se que a primeira capela foi construída
pelo povo
oriundo de Itacambira, expulsos daquela região durante
a Guerra dos Papudos. O padroeiro escolhido foi São José,
o pai de Jesus. Com a construção da nova igreja, de frente
para a praça, por
José Lopes de Carvalho, foi ventilado somente no nome de
Nossa
senhora da Conceição, a mãe de Jesus. Com
o tempo, consolidou--se os dois patronos, ficando assim: Matriz
de Nossa Senhora da
Conceição e São José. Hoje, no Instituto
Histórico e Geográfico, há
um pequeno oratório onde estão as imagens dos oragos
de nossa
cidade, aquelas que nos protegem e nos guarde de todo o mal. As
imagens foram doadas por Júlia Maria Lima Cotrim.
ÍNDICE
Ana Paula Maia Durães
Zé Gomes: Um exemplo de vida e virtude -13
Casa Simeão Ribeiro Pires: 18 anos de preservação
e
valorização da história e cultura de Montes
Claros - 16
Antônio Felix da Silva
A força de uma ideia - 18
Carlúcio Gomes Ferreira
Lindas palmeiras! Tanto lá, quanto cá! - 21
Daniel Oliva Tupinambá de Lélis
Mestre Juca Teixeira - 27
Dário Teixeira Cotrim
As moedas do meu nome - 29
Guilherme Matias Silva Peixoto
Natália Peixoto - 32
Hermildo Rodrigues
Quem quer comprar cebolas? - 44
João Nunes Figueiredo
A saúde mental dos policiais - 47
José Jarbas Oliveira Silva
A contribuição histórica da jovem arquiteta
Juliana Pereira Peres – 57
José Geraldo Soares de Souza
A inspiração da vida – 62
José Ponciano Neto
Tempos de penitência para chover – 65
Lázaro Francisco Sena
Nossos Patronos – 70
Leonardo Alvares Rodrigues
Esboça para biografia do coronel
João Martins da Silva Maia – 73
Lola Chaves
Téo – 96
Mara Yanmar Narciso
Montes Claro0s e a televisão do passado – 98
Márcio Adriano Moraes
Pizzaria Papaula – 101
Sebastião Abiceu soa Santos Soares
Tributo ao Grupo Alma – 104
Teddy Marques Farias
Sabores de sertão: frutos nativos e o
desenvolvimento do interior do Brasil – 110
Terezinha Campos
Adeus, mestre Zanza! – 122
Walisson Oliveira Santos
Cidade Grande, de Drummond:
o favelário de Montes Claros -124
Wanderlino Arruda
Deus e Liberdade – 131
Petrônio Braz
Os Institutos e Geográficos - 135
Diccionario Geographico, Histórico e Descrhiptivo
do Império Do Brazil - 141

EPITÁFIO
PARA UM TÚMULO DE AMIGO
‘‘ A morte vem de manso, em dia incerto e
fecha os olhos
dos que têm mais sono...’’
(Alphonsus de Guimaraens - ossa mea, I.)
Este
livro foi impresso em Montes Claros-MG,
no ano de 2024. Miolo com fonte Cambria,
corpo 12; título fonte Cambria, corpo 16 e 20;
papel Ap 75g. e capa em papel triplex 250 g.
Impresso
na oficina da
GRÁFICA EDITORA MILLENNIUM LTDA.
Rua Pires e Albuquerque, 173 - Centro
39.400-057 - Montes Claros - MG
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