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REVISTA DO
INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO DE MONTES CLAROS
(FUNDADO EM 27/12/2006)

Ano 18
Redator-Chefe
Dário Teixeira Cotrim
Volume XXXIII
Montes Claros
2024
(2006-2024)
Presidente do IHGMC
José Francisco Lima de Ornelas


Diretor e Editor: Dário Teixeira Cotrim |
Conselho Editorial: Dário Teixeira Cotrim, Wa nderlino Arruda, Hermildo Rodrigues, Mara Yanmar Naciso Cruz |

Registro fotográfico: Silvana Mameluque Mota | Editoração, Diagramação e Impressão: Gráfica Editora Mil lennium Ltda. |

Fotografias: Dário Teixeira Cotrim, Silvana Mameluque, Mara Yanmar Narciso da Cruz, Wanderlino Arruda, Guilherme Matias Silva Peixoto, Jarbas Oliveira, José Ponciano Neto, Teddy Marques Farias, Lola Chaves e Internet.


A Revista não se responsabiliza por conceitos e declarações expedidos em artigos publicados, nem por eventuais equívocos de linguagem nela contidos. A revisão dos originais foi feita pelos próprios autores dos artigos publicados.

FINS DO IHGMC

Art. 2º - O IHGMC tem como finalidade pesquisar, interpretar e divulgar fatos históricos, geográficos, etnográficos, arqueológicos, genealógicos e suas ciências e técnicas auxiliares, assim como fomentar a cultura, a defesa e a conservação do patrimônio histórico, artístico, cultural e ambiental do município de Montes Claros e região Norte de Minas.

ISBN:

Email: ihgmc2023@gmail.com
Telefone: (38) 2200-0911
Wifi: Casa Simeão Ribeiro
PIX: 12.095.801/0001-67
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Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
Rua Coronel Celestino, 140 – Centro | Corredor Cultural Padre Dudu
Montes Claros – Minas Gerais – CEP: 39.400-014


DIRETORIA DO INSTITUTO HISTÓRICO E
GEOGRÁFICO DE MONTES CLAROS

Fundado em 27 de dezembro de 2006.

COMISSÃO FUNDADORA 2006-2007
Dr. Dário Teixeira Cotrim
Dr. Haroldo Lívio de Oliveira (in memoriam)
Dr. Wanderlino Arruda

PRESIDENTE DE HONRA Terezinha Gomes Pires
PRESIDENTE José Francisco Lima de Ornelas
1º VICE - PRESIDENTE Leonardo Alvarez Rodrigues
2º VICE - PRESIDENTE Wanderlino Arruda
1º DIRETOR-SECRETÁRIO Mara Yanmar Narciso Cruz
2º DIRETOR-SECRETÁRIO Hermildo Rodrigues
1º DIRETOR DE FINANÇAS José Ferreira da Silva
2º DIRETOR DE FINANÇAS Lázaro Francisco Sena
DIRETORA DE PROTOCOLO Osmar Pereira Oliva
Diretor de Comunicação Social Silvana Mameluque Mota
Diretor de Arquivo, Biblioteca e Museu Dário Teixeira Cotrim

CONSELHO CONSULTIVO

Membros Efetivos
Maria de Lourdes Chaves
Vera Lúcia Santos de Souza Prado
Virgínia Abreu de Paula
Membros Suplentes
Juvenal Caldeira Durães
Gessileia Soares Cangussu
Dorislene Alves Araújo

CONSELHO FISCAL

Membros Efetivos
Carlos Renier Azevedo
André Luiz Lopes Oliveira
Eduardo Gomes Pires
Membros Suplentes
Maria do Carmo Veloso Durães
Maria da Glória Caxito Mameluque
João Nunes Figueiredo

ASSOCIADOS HONORÁRIOS

Alberto Gomes Oliveira
Carlos Henrique Gonçalves Maia
Carlúcio Pereira dos Santos
Edilson Carlos Torquato
Expedito Veloso Barbosa
Geraldo Antônio Queiroz Maurício
Irany Telles de Oliveira Antunes
Itamaury Teles de Oliveira
João Carlos Rodrigues Oliveira
José Antônio Corrêa Mourão
José Catarino Rodrigues
José Emídio de Quadros
Josecé Alves dos Santos
Lorena Álvares da Silva Campos
Monalisa Álvares da Silva Campos
Noriel Cohen
Paulo Roberto Xavier da Rocha
Pedro Ribeiro Neto
Raquel Veloso de Mendonça
Valeriano Wandeic

ASSOCIADOS EMÉRITOS

Juvenal Caldeira Durães
Maria das Dores Antunes Câmara
Maria Jacy de Oliveira Ribeiro
Milene Antonieta Coutinho Maurício
Petrônio Braz
Waldir Sena Batista


LISTA DE SÓCIOS EFETIVOS DO IHGMC


ASSOCIADOS EMÉRITOS

Juvenal Caldeira Durães
Maria das Dores Antunes Câmara
Maria Jacy de Oliveira Ribeiro
Milene Antonieta Coutinho Maurício
Petrônio Braz
Waldir Sena Batista

ASSOCIADOS HONORÁRIOS

Alberto Gomes Oliveira
Carlos Henrique Gonçalves Maia
Carlúcio Pereira dos Santos
Edilson Carlos Torquato
Expedito Veloso Barbosa
Irany Telles de Oliveira Antunes
Itamaury Teles de Oliveira
João Carlos Rodrigues Oliveira
José Antônio Corrêa Mourão
José Catarino Rodrigues
José Emídio de Quadros
Josecé Alves dos Santos
Lorena Álvares da Silva Campos
Monalisa Álvares da Silva Campos
Noriel Cohen
Paulo Roberto Xavier da Rocha
Pedro Ribeiro Neto
Raquel Veloso de Mendonça
Valeriano Wandeick

ASSOCIADOS CORRESPONDENTES


PRESIDENTES

Wanderlino Arruda
2007-2009 / 2014-2015
Dário Teixeira Cotrim
2010-2011 / 2018-2019
2020-2021
Itamaury Teles
2012-2013
Lázaro Francisco Sena
2016-2017
Francisco Ornelas
2022-2023 / 2024-2025

PRESIDENTES DE HONRA

Luiz de Paula Ferreira
2006 - 2020
Palmyra Santos Oliveira
2020 - 2023
Terezinha Gomes Pires
2023


EDITORIAL

Dário Teixeira Cotrim
Editor Chefe da Revista do Instituto

Há 18 anos era lançado o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Desde esse tempo que estamos publicando a Revista do Instituto, com textos de seus associados, atendendo o que pede o seu artigo segundo, na preservação, divulgação e resgate dos fatos passados. Já são trinta e três edições, com mais de cinco mil páginas de registros históricos.

Por essa razão estamos no caminho do conhecimento com a concepção do trabalho histórico-cultural realizado. Não podemos desanimar. A tarefa é árdua, porém gratificante. O sucesso do nosso empreendimento se resume plenamente na dedicação de todos associados, que nunca deixaram de contribuir com os seus artigos inerentes à nossa história, valorizando-a e, complementando-a para melhor entendimento dos fatos decorridos em tempos pretéritos. Nesta edição participaram os seguintes associados:
Ana Paula Maia Durães, Antônio Felix da Silva, Carlúcio Gomes Ferreira, Daniel Oliva Tupinambá de Lélis, Dário Teixeira Cotrim, Guilherme Matias Silva Peixoto, Hermildo Rodrigues, João Nunes Figueiredo, José Jarbas Oliveira Silva, José Geraldo Soares de Souza, José Ponciano Neto, Lázaro Francisco Sena, Leonardo Alvares Rodrigues, Lola Chaves, Mara Yanmar Narciso, Márcio Adriano Moraes, Sebastião Abiceu soa Santos Soares, Teddy Marques Farias, Terezinha Campos, Walisson Oliveira Santos, Wanderlino Arruda, Petrônio Braz. Assim sendo, convidamos a todos para uma leitura agradável da nossa Revista. Bom proveito!



ZÉ GOMES: UM EXEMPLO DE VIDA E VIRTUDE

José Gomes de Oliveira, meu patrono no Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, é uma figura proeminente, um homem de múltiplas facetas cuja presença marcante e carisma permanecem vivos na memória de todos que tiveram a honra de conhecê-lo e de conviver com ele.

Nascido em 7 de abril de 1916, José Gomes – carinhosamente conhecido como Zé Gomes – irradiava simplicidade e sabedoria.
Sua habilidade singular de conectar-se com as pessoas, compre endendo suas dores e alegrias através de um olhar sereno e acolhedor, refletia sua essência profunda. Seu jeito simples e coração generoso fizeram dele uma referência em Montes Claros, sua cida de natal.

Os testemunhos sobre Zé Gomes revelam um homem de ca ráter irrepreensível, cuja palavra era um compromisso firme. Suas ações eram pautadas pela ética e pelo respeito ao próximo, consolidando-o como um bastião de integridade, alguém em quem se podia confiar sem reservas. Além de seu senso de justiça, seu espírito alegre e contagiante também se destacava. Sempre pronto para uma conversa agradável, cativava todos com suas histórias e riso fácil. Sua presença tornava a vida mais leve, e seu entusiasmo acendia uma chama nos corações ao seu redor.

Escrever sobre Zé Gomes é um verdadeiro privilégio. Embo ra não tenha tido o prazer de conhecê-lo pessoalmente, sinto-me honrada por poder compartilhar um vislumbre da essência deste homem extraordinário, cujas ações e palavras deixaram um lega do duradouro. Mesmo sem o contato direto, a admirável trajetória de Zé Gomes se revela através dos relatos e memórias daqueles que tiveram a honra de conhecê-lo e de compartilhar um pouco dessa aventura que chamamos de “vida”. Sem dúvida, uma figura querida na sociedade, um exemplo de humanidade e bondade que continuará a inspirar muitas gerações.

Além de suas qualidades pessoais, Zé Gomes era um visioná rio notável. Como ressaltado por seu filho, José Geraldo Gomes, sua trajetória inclui trabalho como alfaiate e comerciário, bem como contribuições significativas para o esporte em Montes Claros e na região norte mineira, inclusive como atleta. Foi funcionário da Prefeitura de Montes Claros e ingressou nos Correios e Telégrafos como servente, ascendeu ao cargo de telegrafista concursado e agente postal telegráfico, atuando em Montes Claros, Porteirinha, Rio Pardo de Minas, Monte Azul e Espinosa. Destacou-se também como membro da “Loja Maçônica Deus e Liberdade”, onde exer ceu o cargo de Venerável, e como um dos fundadores do Rotary Clube de Montes Claros-Norte, onde prestou relevantes serviços à cidade. Ademais, foi o fundador e primeiro presidente da Apae em Montes Claros. Recebeu diversas condecorações ao longo de sua vida, evidenciando seu impacto e compromisso com a comunidade. Embora seja essencial reconhecer essas contribuições notá veis para compreender a magnitude de sua trajetória, neste brevetexto busco destacar as virtudes que verdadeiramente definiram sua essência, conforme registradas por aqueles que tiveram o privilégio de conhecê-lo e conviver com ele.

cada novo detalhe sobre Zé Gomes, especialmente revelado na obra “Zé Gomes, Simples Assim”, organizada por seu filho Wag ner Gomes, demonstra sua dedicação incansável ao bem-estar da comunidade. Sua disposição em oferecer ajuda a quem necessitava e seu espírito filantrópico eram amplamente reconhecidos e admirados. A vida de Zé Gomes exemplifica um verdadeiro altru ísmo e devoção ao próximo.

Em cada palavra e em cada lembrança, Zé Gomes persiste. Sua presença permanece na memória daqueles que tiveram o privilégio de estar ao seu lado em sua trajetória, nos gestos de gentileza que espalhou e na história que ajudou a construir. Ao escrever sobre ele, contribuo para preservar a importância de sua trajetó ria, garantindo que seu legado continue a inspirar e influenciar as gerações futuras.


José Gomes de Oliveira


CASA DE SIMEÃO RIBEIRO PIRES:
18 ANOS DE PRESERVAÇÃO E VALORIZAÇÃO
DA HISTÓRIA E CULTURA DE MONTES CLAROS

É com imensa alegria que celebramos os 18 anos do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, a ilustre “Casa de Simeão Ribeiro Pires”. Desde sua fundação em 27 de dezem bro de 2006, o Instituto tem se dedicado com incansável empenho à preservação e promoção da rica história e cultura de Montes Cla ros e da região Norte de Minas Gerais.

Ao longo dessas quase duas décadas, o Instituto tem sido um farol de conhecimento e um guardião do nosso valioso patrimônio cultural. Suas pesquisas, a interpretação dos eventos históricos e geográficos, e a divulgação de conhecimentos relevantes têm de sempenhado um papel fundamental na preservação da memória de nossa terra. Os eventos realizados, as exposições cuidadosa mente planejadas e os documentos preservados são provas tangíveis do comprometimento com a valorização de nossa herança.

O Instituto transcende suas atividades internas, conectando-se com a comunidade e inspirando novas gerações a valorizar e proteger o nosso legado cultural. Seu trabalho é um reflexo do amor e da dedicação à preservação da nossa história, fornecendo uma base sólida para a construção de um futuro mais enraizado em nossas tradições e valores.

Neste aniversário de maioridade, rendemos homenagens a todos que, ao longo desses anos, dedicaram seu tempo, conhecimento e paixão para o sucesso do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros. Que esta celebração sirva como um momento de reflexão sobre as conquistas alcançadas e um estímulo para enfrentar os desafios que se avizinham. Parabéns, IHGMC, por 18 anos de dedicação e zelo pela história e cultura de Montes Claros e região.

Que os próximos anos sejam igualmente frutíferos e que o Instituto continue a ser um farol de sabedoria, um pilar de nossa cultura e um exemplo de perseverança e devoção à nossa terra.
Viva o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros!


A FORÇA DE UMA IDEIA

A Literatura Brasileira é única no mundo, porque ela está centrada na contribuição das línguas Portuguesa, Africana e Ameríndia, condicionada à nossa realidade. A região Norte-Mineira, banhada pelos rios São Francisco, Jequitinhonha e inúmeros afluentes, envolvida pelas Serras Azuis, a caatinga, o cerrado e o nosso sertão, imprime na alma de seus moradores, a poesia e o lirismo, que afetam a sensibilidade de seus habitantes, levando-os a uma intensa produção literária.

Atualmente, muitos escritores do Norte de Minas são reco nhecidos e respeitados em todo Brasil e até no mundo. Dentre tantos, podemos citar Cyro dos Anjos e Darcy Ribeiro, membros da Academia Brasileira de Letras.

As dificuldades econômicas do nosso país, impedem que os escritores publiquem e divulguem os seus trabalhos literários, para serem analisados e reconhecidos. Foi dentro dessa ralidade, que surgiu em 1993, o GRUPO LITERÁRIO OFICINA DAS LETRAS, com o objetivo de publicar os trabalhos literários dos Escritores do Norte de Minas. Esse Grupo Literário, surgiu da ideia de Ildeu Braúna, também poeta e escritor, que na época era o Secretário de Cultura de Montes Claros.

Uma ideia simples, porém, genial. Ele reuniu quinze escritores, alguns com obras publicadas, outros não e propôs o seguin te: cada escritor pagaria um certo valor por mês e a cada dois me ses, um dos escritores receberia, por sorteio, 300 exemplares do seu livro publicado, com 100 páginas, capa colorida, impresso por uma editora competente.

Desde o início, o Grupo Literário contou com a presença e a colaboração de Dário Cotrim e Ildeu Braúna. De acordo com os sor teios realizados, foram publicados os seguintes livros: Flor Cigana (Crônicas) de Lúcia Mendes; Respingos (Poesia) de Marijó; Razões para Viver (Crônicas) de Castelar de Carvalho; Farnot (Crônicas) de Waldir de Pinho Veloso; Empatia (Poesia) de Antonio Felix da Silva; Passaporte de Vida (Crônicas e Poesias), de Maurílio Arruda; Catrumano (Contos) de Ildeu Braúna; e, Sonhos de Algodão (Ro mance) de José Catarino Rodrigues.

Nos meses seguintes foram lançadas as obras literárias dos seguintes escritores: Manoel de Oliveira (Tio Manoel); Waldir de Pinho Veloso (Balcão e Coniína); Denise Magalhães (Corpus); Dário Teixeira Cotrim, (GUANAMBI: Aspectos Históricos e Genealógicos); Carlos Alberto Alves Pereira; Dorislene Alves Araújo (A Dança das Palavras) e Amelina Chaves (Jagunços e Coronéis).

Com os trabalhos literários publicados pelo Grupo Literá rio Oficina das Letras, o movimento cultural do Norte de Minas, tornou-se mais intenso e mais rico. Para se ter uma ideia, para cada livro publicado pelo Grupo Literário Oficina das Letras, outros dois livros foram publicados no período, por escritores da região, sobre os mais diferentes assuntos. Seria apenas coincidência?

O Grupo Literário Oficina das Letras concluiu a primeira etapa, com um segundo grupo literário já constituído. É o resul tado de uma ideia poderosa, que se tornou realidade. O escritor Waldir de Pinho Veloso, escreveu no Jornal do Norte, em 1994, a respeito do Grupo Literário Oficina das Letras: “Não há como negar: a ideia, mais do que aprovada, foi sacramentada, consagrada e ficará como a história de um tempo”.

Nós, participantes do Grupo Literário Oficina das Letras, concordamos com ele e vamos continuar trabalhando para que a nossa realidade, continue a ser cantada em prosa e versos, com provando a força que uma boa ideia tem.


Na foto: Dário Cotrim, Júlia Cotrim, Antônio Felix da Silva, Denise Magalhães, Maurilio Arruda, Dores Araújo, Ildeu Braúna, Waldir de Pinho Veloso, Carlos, Castelar de Car valho Leite. Sentados: Marijô, Suely Leite, José Catarino Rodrigues, Professor Dema, Amelina Chaves e Helson Jorge.

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(*)Esse artigo foi publicado originalmente no JORNAL DO NORTE de 30 de março de 1995, página 2. Agora estou republicando, atualizado.
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LINDAS PALMEIRAS! TANTO LÁ, QUANTO CÁ!

Um dia Padre Geraldo Zuba professor de Português no Colégio São Norberto de Montes Claros, enquanto celebrava a missa de ressurreição do jovem Murtinha, à época Secretá rio do Colégio, que fora vítima de um acidente de carro, disse: “As coisas no mundo são cíclicas, vão e voltam”, deu vários e apropria dos exemplos para ilustrar situações em que as coisas se repetem de tempos em tempos.

Muito antes, a Lei da Conservação das Massas ou Lei de La voisier, considerado o pai da química moderna, popularmente reconhecida pelo enunciado “Na natureza nada se cria, nada se perde, tudo se transforma”, já Abelardo Barbosa, o incomparável comunicador Chacrinha, não deixou por menos e nos seus programas televisivos, usava o bordão “na televisão nada se cria, tudo se copia”, nessa toada nós do povo em tom de crítica a alguma situa ção repetimos; “nada se cria, tudo se copia”.

Pois bem, sirvo-me desse introito, para ilustrar a história de palmeiras plantadas em tempos e lugares equidistantes, uma na Praça Matriz de Montes e de algumas outras na Praça Olímpio Cam pos de São João da Ponte, mas que, tiveram destino semelhante.

Nesse contexto valho-me do renomado escritor/historiador Nelson Vianna em seu livro Serões Montes-clarenses (1972. p. 196), ao registrar os Velhos Sobrados de Montes Claros, construídos no século 19, narra com muita propriedade e estilo próprio, a bonita e interessante história de um mirante, em que numa parte dele residiu o Professor João Antônio Gonçalves Chaves e sua família, e, da mencionada palmeira que foi plantada à frente da casa dele numa tarde de 25 de novembro de 1872.

A fiel descrição de como era linda e enfeitava a Praça com suas verdes palmas, com sua elegância fidalga, até a tarde de 18 de fevereiro de 1948, quando foi sadicamente sacrificada por mãos profanas, do sentir, da afeição das lembranças e recordações da infância do poeta montes-clarense João Chaves, que o leva a produzir e dedicar à velha palmeira uma inspirada poesia de fundo sentimental, que se encontra transcrita às folhas 197 do livro histórico, que se impõe, compartilhar:

Tombaste. E a brisa, tua doce amiga, Com quem, entre carícias conviveste, Ao crepúsculo modula uma cantiga, De tristeza e amargor, por que morreste.

Os Corações de todos nós que amamos, Mesmo extinto, o teu porte sedutor, Tocam agora enquanto nós choramos A triste marcha fúnebre da dor.

Os pássaros, minúsculos cantores, Desferiam por entre tuas palmas, À tardinha ou à hora dos albores, Canções que comoviam nossas almas.

Tu me viste em meu tempo de criança, Tu me viste crescer e envelhecer; Embalaste meus sonhos de esperança...
E quantos sonhos meus viste morrer?!

E agora tu dirias se pudesses:
Tendo morrido tanta gente amada, - Eu mesma é quem pedia, em minhas preces, Que eu fosse posta ao chão e exterminada.

E dirias também: --- quantos pesares Soluçam aqui perto, à minha beira?!
Que fizeram dos donos desses lares?
Que fizeram da Velha Palmeira.

Supus que, quando a morte me levasse, Ainda __ forte e esbelta __ viverias;
E que um fatal destino de tocasse, De ver, de minha vida, o fim dos dias.

Alço de novo a minha velha lira, Aquela que vibrei na mocidade, Que em seus acordes tanta vez suspira, Pra render-te este preito de saudade.

Várias décadas depois, por volta do dos anos 2000, a situação é copiada em São João da Ponte, não na construção de so brados, mas na vida e morte de algumas palmeiras plantadas aqui pelo paisagista João Carlos Medeiros, e muito bem cuidadas por mais de dez anos pelo jardineiro Ovídio Valério Cordeiro, popular e carinhosamente chamado de Nozinho, que certamente dedicava a elas a mesma afeição que o poeta montes-clarense à sua velha palmeira.

Se os celebres Nelson Viana e João Chaves dispensam apre sentações, o velho jardineiro, merece uma pequena descrição para aqueles que não o conheceram e também para homenageá-lo pos tumamente.

Nozinho foi um ser humano formidável que tinha muito amor às plantas e flores, dedicou grande parte da sua vida a zelar da Praça Olímpio Campos, na cidade de São João da Ponte.

Se na música Frevo Novo de Caetano Veloso a Praça Castro Alves é do povo, aqui em nossa cidade pode-se dizer com muita certeza que a Praça Olímpio Campos tinha um posseiro, Nozinho, que a tinha como sua, dela cuidava e zelava com todo o carinho.

Para quem não o conheceu, Nozinho foi aquele ser humano de uma simplicidade de criança, com a força de trabalho de um gigante e a cabeça de um deus mitológico, ora estava raivoso, como o deus do trovão, quando provocado, minutos depois era só alegria e se desmanchava em gracejos e sonoras gargalhadas, era como na música do Raulzito “um pouquinho de maluquês misturada a muita lucidez”, sim, nele, havia pureza d’alma sem lugar para maldades.

Como o poeta, ele tinha licença e liberdade para tudo, sempre na sua singeleza transmutava em várias personagens edificantes: um dia amanhece vestido de Policia Militar como símbolo da segurança e da ordem, repreendia recalcitrantes e ensaiava continências aos supostos pares. Noutro, já se incorporava de Delegado de Polícia Civil, autoridade que ele tanto reverenciava e gostava de representar.

A mais emblemática de todas, quando vestido de uma farda preta, evidentemente sem os símbolos da corporação, representa va um policial do GATE e ali nos jardins da praça, munido de uma cadernetinha e uma caneta azul ordenava o trânsito e aplicava no tificações, não sabia escrever uma letra sequer, ou como diziam nossos antepassados: “não sabia fazer um (o) com uma garrafa” sentado em um monte areia”, mas os garranchos das suas anota ções ficavam lá, como garantia do dever cumprido ao exemplar um veículo estacionado irregularmente. Um dia um senhor vindo de outra cidade, deparou com aquele aparente agente no seu fantástico mister, olhou-o detidamente e perguntou ao primeiro passante se ele era policial mesmo?

Sobre o seu modo e jeito natural de cuidar do jardim, perti nente lembrar de um comentário feito pela especialista nessa se ara, a floriculturista dona Josephina, que em 1990 aqui se encontrava para renovar o gramado e plantas daqueles jardins, disse:

- Ah se eu pudesse levar esse moço comigo! É o melhor jar dineiro que eu jamais vi, não tem nenhum conhecimento teórico, mas tem amor, e o amor é o que as plantas mais gostam.

Os jardins da Praça Olímpio Campos, eram a menina dos olhos do Nozinho, para ele, no seu peculiar nozinhês, cada planta tinha o seu nome: a espécie dinheiro em penca uma era a “roxa”, outra era “branca” e assim repreendia: (não pisa na branca não!), (não pisa na roxa não fdp!), a grama no centro da praça recebia o nome de “saponesa” (japonesa), uma flor era “bagarida” (margarida) e as palmeiras eram simplesmente meus paus.

Ele se foi com os seus mais de noventa anos de idade, deixando a praça mais triste e essas simples, bonitas e alegres lem branças, mas, diferentemente do poeta, não chegou a ver o fim que levou algumas das suas amadas palmeiras. Três delas foram sacri ficadas para dar lugar a um pergolato de concreto.

Vivo fosse ele, costumeiramente sentado num banquinho da praça, perguntaria, por que cortaram os meus paus?

Alguém que estivesse por perto responderia: cortaram para dar lugar aquelas armações de ferro e cimento, fiel a dito popular completaria: “nada se cria, tudo se copia”! Nem sempre para melhor.


 

MESTRE JUCA TEIXEIRA

A contribuição de Hermes de Paula para o entendimento da história regional é inquestionável. Uma de suas obras mais conhecidas e abrangentes é “MONTES CLAROS, SUA HISTÓRIA, SUA GENTE, SEUS COSTUMES”, fonte permanente de con sultas. Na edição em três volumes, de 1979, mais precisamente no volume 2, traz importante inventário genealógico de Montes Claros e região.

Na parte dedicada à família Teixeira, temos que, o Padre Teixeira ao se mudar para Montes Claros, em 1843, tinha 6 filhos, sendo o primeiro nascido em Paracatu e os demais frutos de um segundo relacionamento, com Rosa Frutuosa de Lima: Ezequias, Eva Bárbara, Emília, Lionel e José, todos nascidos em Contendas (hoje Brasília de Minas).

José Teixeira de Carvalho (Mestre Juca), filho caçula do Padre Teixeira, foi um dos primeiros educadores de Contendas. Nascido em Contendas em 1843, Mestre Juca cresceu em Bocaiúva. Rapaz franzino, mas de muita vivacidade, lá constituiu família e exercia o ofício de professor público primário. Casado com Geralcina de Souza Meira, teve 06 filhos:

1) Antônio Augusto Teixeira (Niquinho Teixeira);
2) Sebastião Teixeira de Carvalho;
3) Emília Teixeira de Carvalho Sobrinha (Mestra Bila);
4) Ambrosina Teixeira de Carvalho (Mestra Zina);
5) Antônio Teixeira de Carvalho (Dr. Santos);
6) Maria Teixeira de Carvalho (Cota).

Por desavenças políticas, e como era concursado, o nico jeito que seus desafetos encontraram para afastá-lo de Bocaiúva foi articular sua transferência, que pelas oincidências da vida, foi justamente para o lugar onde nasceu, Contendas. Resiliente que era, aceitou calado a imposição, sofrendo em silêncio.

No final de 1880, a família Teixeira de Carvalho retornava para Contendas. Mestre Juca chegava com a esposa, os 06 filhos e 02 escravos. Foi residir numa casa no largo da Matriz, local onde também ministrava as aulas. A chamada para as aulas se fazia dando dez badaladas no sino da igreja. Embora tivesse voltado à terra natal contra sua vontade, o Mestre Juca não podia abrir mão do ordenado de 60 mil réis mensais, afinal tinha 06 bocas para alimentar.

Em 1890, morria em Contendas o Mestre Juca, que depois foi substituído na cadeira de professor do município por 03 de seus filhos: a) José Augusto Teixeira de Carvalho (1890-1897); b) Antônio Augusto Teixeira (1898-1899); c) Emília Teixeira de Carvalho Sobrinha, Mestra Bila (1900 em diante).

Viveu bem o Mestre Juca em Contendas, sendo por todos admirado e respeitado.


AS MOEDAS DO MEU NOME

O Brasil sempre se destacou na emissão de moedas, principalmente das edições comemorativas, pelo valor facial e pelo design inconfundível na criação de momentos relevan tes de nossa história. As moedas bolhões (redondas) são cataloga das pelos numismatas e tem a sua origem na Lídia (atual Turquia), no século VII a.C.

O numismata deve ser um curioso quando se trata de colecionar moedas, cédulas ou, ainda, qualquer outro objeto equiva lente no complemento do seu desejo. A propósito, no meu caso à parte, devo dizer que as coincidências do meu nome com o dinheiro foi o bastante que eu pudesse iniciar, no mundo da numis mática, a minha coleção. Vejamos: a moeda de ouro “dárico” ou “dario”, (século IV a.C.) que foi uso comum no grande Império de Aquemênida, introduzida pelo rei Dario I, que tomou o Império Neobabilônico, após assassinar Belsazar, tem o mesmo nome que hoje se encontra no meu batistério. Conta-nos a história que uma grande parte dessas moedas de ouro fora derretida para a confecção de outras moedas, isso no ano de 330 a.C., por determinação de Alexandre, o Grande. Era por assim dizer, de uma presunção das vaidades entre os reis do tempo de antanho.

Por outro lado, a moeda bolhão “cotrim”, criada por D. Afonso V, rei de Portugal, e que foi cunhada em honra da família do fidalgo Lopo Martins Canas Cotrim, teve circulação normal em Portugal durante o período de 1438 – 1481. Portanto, essas duas relações, do dinheiro com o meu nome “Dário Cotrim”, foram su gestivas para que eu pudesse continuar com a coleção de dinheiro do meu saudoso pai.

Assim, quer o “dárico” ou o “cotrim”, que possa caracterizar a compra ou a venda de um produto, sejam elas muito mais interessantes no colecionismo numismático do que em outras atividades paralelas. O meu pai, Ezequias Manoel Cotrim, fazia a sua coleção de cédulas, do padrão mil-réis, que foi por mim herdada, no ano de 1968. O meu pai guardava a sua coleção numa caixinha de lenço, e hoje a tenho acondicionada em luxuosos álbuns de couro, sempre acompanhada de outras aquisições, já no decurso de quase seis décadas. Todavia, é minha esperança que um membro da nossa família manifeste o desejo de continuar, com a mesma tarefa aqui proposta, pois é significativo que este fato venha a acontecer.

Historicamente a arte de colecionar é uma peripécia intrigante e totalmente compensadora, haja vista que a ideia da criação da moeda bolhão, como objeto de troca, surgiu muito mais pela necessidade de se regular a permuta do escambo, do que mesmo como uma simples exposição de objetos amoedadas, para saciar o desejo de poder dos reis, tendo nelas as suas esfinges cunha das para a eternidade. Na verdade, com relação às moedas eu sou apenas um ajuntador inveterado e nunca um colecionador. Para colecionar é preciso estudar, analisar, catalogar por época e pelos metais utilizados na sua concepção. Entretanto, com relação ao di nheiro de papel, o meu apreço é muito mais refinado, pois faço o estudo minucioso de cada espécie, catalogando-a e etiquetando-a em lugar próprio de cada álbum, sempre amparado nas informa ções dos manuais existentes no mercado. Em razão disso, eu posso me considerar um colecionador peremptório do dinheiro, ou seja, um numismata autentico, que é aquela pessoa apaixonada pela beleza das alegorias que ilustram espirituosamente a bufunfa, impresso em especial papel-moeda, com todas as suas inúmeras características de segurança, valores e precisão. Seja você também um colecionador!


NATÁLIA PEIXOTO

Uma das mais importantes figuras da Alta Costura montes-clarense, desempenhou com maestria o seu papel fundamental na criação e confecção dos mais belos vestidos de noivas e fes tas exclusivos e personalizados.

Natália Peixoto nasceu em Montes Claros no dia 01 de julho de 1917 e faleceu no dia 28 de maio de 2007.

Primogênita de quatro irmãos do primeiro casamento de Mathias Peixoto e Ana Miranda, foi neta paterna de Antônio Peixoto e Ana Izilda de Morais Peixoto, negociantes que aportaram em Montes Claros em 1899. Vieram do distrito de Santa Maria de São Félix - atualmente Santa Maria do Suaçuí no Vale do Rio Doce, a convite do amigo Coronel Joaquim José da Costa, que presidiu a Câmara Municipal de Montes Claros entre 1911 e 1915.

Natália Peixoto casou-se em primeiras núpcias com Geraldo Santos em 1935, com quem teve cinco filhos: Iraídes, Willian, Irlene, José Geraldo e Irani.


Natália Peixoto Paratella - Foto Arquivo da Família

Em 1943 com 26 anos, fica viúva do primeiro esposo.

Em 1947 com 30 anos casa-se em segundas núpcias com Hamilton Paratella tendo dois filhos: Magali e Luiz Hamilton.

Em 1927, com apenas 10 anos, fica órfã de mãe, e, por ser muito responsável e dedicada a família, desde a tenra idade aju dou o seu pai viúvo a cuidar dos seus irmãos.

Em 1929 Mathias Peixoto casou-se em segundas núpcias com Maria da Conceição Santana Peixoto filha primogênita de Antônio Martins de Santana Primo (Maçarico) e Dona Josefina Cân dida de Santana, tendo sete filhos: Tu Peixoto, Geralda Aparecida, Josefina (Finoca), Ana Maria, Geraldo Peixoto (meu saudoso pai), Vicente Peixoto e José Matias.

Aos 12 anos, Natália, ajudou sua madrasta, a qual chamava carinhosamente de ‘Lia” na criação dos seus irmãos do segundo casamento do seu pai, de 1929 até 1935 quando completou 18 anos e se casou com Geraldo dos Santos.

Lembro-me que na minha infância/adolescência, minha avó, relatando fatos da infância desta mulher de fibra dizia: “Natália foi uma menina muito ajuizada e responsável, atenta a tudo e todos, apaixonada pela família e pelo pai que, mesmo bravo e rígido foi um pai e marido dedicado aos filhos e família. Ela me ajudou muito, mesmo cuidando dos outros irmãos: Maria Natividade (Dim), Renê (Lolosa) e João. Desde os 12 anos Natália ajudava a esposa de seu tio Cesário Peixoto, Sinhazinha (sua madrinha de batismo) que era costureira de mão cheia e costurava os mais belos vestidos da época. Foi a partir daí que ela tomou amor pelo ofício de costureira e se tornou uma profissional de renome, a qual toda família montes-clarense a tinha como a fada que realizava sonhos.”

Dedicou-se à sua profissão de costureira de alta costura por toda sua vida, em seu ateliê que funcionava em sua residência situada à Rua Dr. Veloso 541, até seu falecimento em 28 de maio de 2007, justamente no mês dedicado às noivas, ela partiu deixando um legado memorável.

De personalidade forte, honesta e marcante, Natália Peixoto, uma vida para não ser esquecida, era querida e amada por todos os seus irmãos que a consideravam como a matriarca da família e a todos ajudou sem distinção.

A sua descendência, até aqui foram sete filhos, 22 netos, 33 bisnetos e um trineto.

É reconhecida pela sociedade montes-clarense e por pesso as de toda a região do norte de Minas, principalmente pela confecção dos mais belos vestidos de noiva.

Além do seu corte perfeito, impecável, era perfeccionista nos mínimos detalhes, desde o estilo, o tecido, o acabamento (minuciosidades de suma importância na sua arte de alta costura), possuía a mágica de transformar um vestido comum em uma obra prima memorável. As rendas, os tecidos nobres, os bordados, por menores clássicos que em suas mãos eram acrescentados toques de elegância e romantismo tanto aos vestidos de noiva quanto aos vestidos de gala.

Atendia as preferências e desejos das noivas que a confia vam para confeccionar os seus vestidos dos sonhos.

Cuidadosa e perfeccionista, supervisionava tudo, desde a preparação dos moldes, o corte, a costura, o acabamento, os de talhes mais sutis até os painéis de rendas que percorriam os vestidos, particularidades artesanais com pérolas ou pedrarias que adicionavam uma dimensão única aos vestidos de noivas e de gala, em parceria com sua amiga e vizinha Beatriz Avelar Coelho, que bordava os mais belos vestidos.

Sua figura de porte esguio e imponente, seu bondoso coração que a todos recebiam em sua residência com sua mesa farta para um delicioso café ou um tradicional almoço em família (tradição da Família Peixoto com seus dotes culinários variados) ficará para sempre registrados nas reminiscências daqueles que tiveram a honra de conhecer essa “Dama da Alta costura de Montes Claros, que fez história, e deixou um, legado memorável.

Quando conhecemos a história da costura, ganhamos conhecimentos sobre as tradições e as expressões culturais de diferen tes povos.

Além disso, conhecer como as técnicas e ferramentas evoluíram ajuda a compreender o progresso na indústria têxtil e na moda.

Natália Peixoto sabia combinar conhecimento antigo com métodos modernos e executava inspirações contemporâneas muito bem. Conhecedora da história da moda, entendia como as tendências se desenvolviam, como os padrões do vestuário mudavam e como certas peças de roupas se tornavam icônicas; o exemplo disso foram os vestidos de noivas que confeccionou. Para minha amiga a médica, jornalista, escritora e confreira do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros - IHGMC Mara Narciso que, com sua autenticidade, a frente do seu tempo, escolheu como vestido de noiva, em 1977, um modelo atemporal ou melhor dizendo em “estilo Boho”; foi uma fusão singular de estilos, integrando leveza, rusticidade e um toque vintage que resultou em uma ele gância descontraída em cortes belíssimos, que poderia ser usado até hoje, seguindo a nova tendência de casamento em campo ou litoral, que na época seria um escândalo se casar fora da igreja. Era um vestido de voal de algodão, todo com entremeios de rendas francesas e nervuras formando recortes estruturais em um estilo moderno, há 47 anos.

Quem conheceu os trabalhos de Natália Peixoto, teve a oportunidade de apreciar sua criatividade e dedicação investidas em suas criações, ao longo da sua vida profissional.

Se não houvesse Natália Peixoto, a história da Alta Costura em Montes Claros como conhecemos seria muito diferente. Ela influenciada pelas tendências da época e pelas transformações sociais, confeccionou os mais belos vestidos como relata nosso confrade e Primeiro Presidente do IHGMC Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros Dr. Wanderlino Arruda:

“Em uma época de grande importância da moda feminina, com todo relevo social, Natália Peixoto representou a perfeição na arte da alta costura, um zelo profissional, que parece, não existiu nem antes nem depois.

Com seu ateliê de costuras no centro da cidade, ela se ocupava, em tempo integral, a atender a uma clientela especial, com o que havia de moderno dentro dos modelos franc?s e italiano das melhores revistas.

Só em reparar a beleza das festas dos salões do Clube Montes Claros e do novo Automóvel Clube, poderia perfeitamente saber, pela perfeição dos vestidos mais grã-finos, o que era confeccionado por ela.

Ser cliente de Natália Peixoto era o que poderia haver de mais importante no seu tempo.”

Wanderlino Arruda – Escritor Primeiro Presidente do IHGMC – Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros – 13/10/2024

Usar um modelo confeccionado por ela era o símbolo máximo da elegância, até hoje considerada uma das precursoras da alta costura montes-clarense.

Natália Peixoto viveu até os 89 anos, e continuou trabalhan do até o fim da sua vida em 2007, e os feitos da sua carreira são inegavelmente memoráveis.

Seu estilo clássico e atemporal transmite a imagem de uma mulher forte e bem sucedida, independente e de personalidade ímpar.

“Taia, como nós filhos a chamávamos, foi especialista em vestidos de noivas, sendo procurada pelas noivas de Montes Claros e de toda a região do norte de Minas. Confeccionou trajes para toda a família da noiva, durante várias décadas, com perfeição de acabamentos, requisitos de uma legítima alta costura. De fácil convívio, era querida por todas as suas clientes, e ajudava outras costureiras, passando conhecimentos, quando era solicitada para prestar algum socorro.

Bem à frente do seu tempo, era feminista bem antes do movimento se tornar um marco em nossa sociedade. Independente desde jovem, deixou os estudos para trabalhar e dedicar-se à família, dando apoio ao seu pai na criação dos seus irmãos tanto do primeiro casamento como também os do segundo”.

Depoimento da sua filha do primeiro casamento Irani Peixo to Silva - 27/09/2024

“Natália, como profissional, foi impecável: as confecções perfeitas, sempre avaliadas por ela a preços inferiores do que valiam.

Como mãe, estendeu a maternidade aos filhos de outras mães, acolhendo em seu lar, ajudando na educação.

Como avó, foi querida e assim como aos seus filhos, foi enérgica na educação deles.”

Depoimento de sua filha do segundo casamento Magaly Para-tella – 27/09/2024

“Natália Peixoto Paratella, minha avó, foi um ser humano de caráter e personalidade únicos. Sua prioridade foi a família, buscando que todos estivessem reunidos e a seu lado, em todos os momentos de sua vida.

Eu me considero abençoado, por ter tido além de avó, uma segunda mãe.

Moramos juntos, quando os filhos se casaram e daí nos tornamos mais companheiros.

Vovó trabalhou uma vida como costureira, onde sempre tirou seu sustento para não depender de ninguém.

Levo comigo a certeza de que nos ajudamos muito um ao outro nos momentos difíceis que passamos com nossos entes queridos, partindo tão cedo. Pelo que ela fez por mim, terei eternas gratidão e saudades, pelos seus ensinamentos, seu amor para comigo e sua generosidade para com os seus.”

Depoimento do seu neto Marcelo Drumond (filho primogênito de Iraídes) – 29/09/2024

Conheço Natália desde sempre!

Morávamos na mesma rua, a dois quarteirões de distância.

Passava em frente de sua casa, aos sábados, para buscar, na casa de Deolinda, nossos vestidos infantis para ir à missa, à praça de esportes e a matinê do Cine São Luiz.

Já minhas irmãs maiores, tinham em Natália um porto seguro para seus vestidos de festa, passeios ou de viagens.

Anos seguidos contamos com sua competência, pontualidade e zelo na sua arte de cortar e costurar.

Seu endereço era um pequeno portão aberto a todos, seguido de uma passarela que nos levava ao seu atelier.

Um armário guardava os tecidos de vestidos já encomenda dos. Na grande mesa de madeira, Natália moldava e cortava inúme ros vestidos de noiva, de madrinhas e de outras antigas clientes. Alinhavava com alfinetinhos bem enfileirados (foi com ela que aprendia fazer isso), e só então passava à Zeca, sua competente costureira, com as recomendações necessárias. Depois da primeira prova, quase nada precisava ser ajustado.

Às vezes ficávamos, eu e ela, conversando sem que isso atrapalhasse seu trabalho ou sua concentração.

Ao lado de sua grande mesa ficavam, bem arrumados, os te cidos já programados para a semana. Esta fila, à espera, nunca foi pequena.

Cultivava em seu quintal pequenos canteiros de flores e orquí deas nos vasos pendurados. Molhava suas plantas antes de começar seu trabalho no ateliê e enquanto cortava e alinhavava, mantinha sua atenção no movimento da cozinha, controlando o almoço.

Os vestidos de noiva de nossa família foram feitos por Natália, além dos vestidos do enxoval onde não poderia faltar um tailleur para a viagem. Naqueles tempos viajar de avião requeria roupa es pecial: um tailleur, bolsas e luvas!

Para minha mãe, Natália ia pessoalmente em casa. Era muito amiga da minha mãe e também do meu pai, que encontrava às vezes quando ia ao comércio comprar aviamentos. Participava conosco das festas de aniversário da família.

Natália não foi apenas uma excelente profissional. Era dedi cada e solidária a sua família e para sua irmã viúva tinha um especial compartilhamento e dedicação.

Foi também uma lutadora que sempre tinha uma batalha a ser vencida. Sua filosofia de vida foi forjada na criação de sua família, onde sempre esteve presente.

Quatro gerações de minha família conviveram com Natália e se beneficiaram de sua competência, mas sobretudo de sua amiza de.

Depoimento prestado em 12/09/2024 por Isabel Rebello de Paula (Viúva do Dr. Luiz de Paula Ferreira - Associado e Presidente de Honra do IHGMC – Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros - MG)

“Eu sempre fui alternativa. Minha mãe Dra. Milena Narciso havia se formado três anos antes e era tempo de vacas gordas. Eu me casei numa quinta-feira 15 de dezembro de 1977, 19h na Cate dral, com um vestido desenhado em Belo Horizonte, na Casa da So gra. Minha mãe ficou desapontada com a minha escolha. Ela tentou salvar a pátria contratando Natália para executá-lo. Meu vestido de noiva foi um desafio para Natália Peixoto, pois era de voal de algo dão, sem bordados, apenas rendas francesas, sem véu nem grinalda. A excentricidade irritou minha mãe. A minha cara. Ficou simples e delicado.”

Depoimento da Dra. Mara Narciso – Médica Endocrinologista aposentada – Jornalista e Escritora Confreira do IHGMC-Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros - MG - 03/07/2024

Que saudades da Vovó!

Quando éramos pequenos íamos até o seu ateliê para brincar com as pequenas pérolas que ela usava nos vestidos.

“Sai daqui menino! Vai brincar lá fora”

Ohh saudades!

Matheus Paratella – Neto (Filho de Luiz Hamilton Paratella) - Chef de Cozinha Campeão do reality gastronômico “Fecha a Conta”, na Rede Globo em 2017 – atualmente comanda a cozinha do La Villa Trattoria em Tiradentes – MG- Considerado pela Revista Exame uns dos 100 melhores restaurantes do Brasil.

É simples e ao mesmo tempo complexo falar da minha Tia Na tália, pessoa iluminada por Deus na arte da alta costura; as noivas faziam questão de vestir os modelos confeccionados por ela e sua equipe.

Uma pessoa forte e generosa, a palavra dela tornava-se lei na nossa residência (como dizia minha mãe: Taia falou ...pronto.

Me sinto feliz e abençoada por ser sua sobrinha e por guardar boas lembranças desta tia querida.

Aos sábados o café da tarde era na nossa residência, e logo após sentávamos no alpendre para uma boa prosa.

Além de elegante e generosa, o seu poder com a família era de proteção e devido a isso, só tenho amor e gratidão por ela.

Quando me casei, meu vestido de noiva teve seu toque especial, e sua pessoa estará para sempre no meu coração e nas minhas orações. Saudades!

Aneli Peixoto Barbosa – Filha de Renê (Lolosa) Peixoto – 07/10/2024.

Tia Natália, um ser humano maravilhoso, de um coração bondoso e sempre pronta a ajudar a todos, principalmente à família. Lembro-me que, quando eu era criança, ela sempre mandava no na tal presentes e guloseimas para nós. Quando me casei, ela fez ques tão de confeccionar meu vestido e ainda me deu a festa de presente. Tenho muita gratidão pelo seu amor, carinho e consideração que teve com todos os seus.

Marina Beatriz Peixoto Silva - Filha de Ana Maria Peixoto -
05/10/2024.


QUEM QUER COMPRAR CEBOLAS?

Recordar é viver. A vida é composta por recordações que fazem de cada pessoa um ser único. Dar e receber é uma troca virtuosa. E é contando e recontando as nossas experiências que damos significado ao nosso viver. As melhores recordações não ficam em fotos: ficam no coração. O neurologista Paulo Berto lucci afirma que manter a memória acesa, significa atividade mental e interesse pelo mundo, nesse sentido, “recordar não é só viver, é viver bem“. Numa viagem ao ”túnel do tempo“, desembarcando em janeiro de 1961, em Montes Claros-MG., vindo de Pedra Azul--MG., minha terra natal, onde fiz o primário e ginásio para aqui continuar os estudos, fui acometido de paixão “a primeira vista” pela cidade. Na época, o ônibus chamado de “jardineira”, saia pela manhã, em estrada de terra batida, via Taiobeiras-MG., e chegava ao anoitecer, com as malas no teto, cobertas de lona por causa da poeira.

Nesse tempo, menos acelerado e mais previsível, a cidade começa a despontar para se tornar a grande metrópole econômi ca, social e cultural dos dias de hoje. Havia em torno de 12 agências bancárias: 03 federais, 04 estaduais e 05 privadas; 03 conces sionárias de veículos: GM, Volkswagen e a Ford do meu primeiro emprego. Na torrefação e moagem de café as indústrias: INDIANO, PRIMOR e na Cel. Antônio dos Anjos, 196-Centro, o CAFÉ DIPLO MATA meu segundo emprego, onde emitia notas de vendas. A Algodoeira Luiz de Paula se destacava no beneficiamento de algodão entre outras usinas. Naqueles anos era mais utilizado gordura animal e óleo vegetal de algodão, havendo aqui duas fábricas: IRMÃOS PEREIRA e a IRSAMASA, que produziam e comercializavam o óleo em todo país, principalmente para o sul da Bahia. Em abril/1963, fui trabalhar na IRSAMASA, que produzia além do óleo, sabão e torta/farelo para bovinos. A Mariflôr como era mais conhecida, reaproveitava o resto de algodão do caroço para vendê-lo em fardos. Em março/1964, iniciava as aulas da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras-FAFIL, a primeira de nível superior. Fui aluno da primeira turma do curso de geografia.

Outro destaque era a EFCB-Estrada de Ferro Central do Brasil, aqui desde 1926. A rodovia que dava acesso a Belo horizonte era de terra batida até Curvelo. A maioria da população utilizava o trem em dois horários a tarde e a noite, com vagões de passageiros de duas classes, leito, restaurante e cerveja fabricada em Ribeirão Preto/SP., e, que permitia baldear da capital até o Rio Janeiro através do luxuoso trem VERA CRUZ. Interligada com a Bahia desde 1950, a EFCB favoreceu o desenvolvimento, reforçando o seu papel de coletora e distribuidora da produção regional, ampliando o comércio atacadista e a rede bancária da cidade. Contudo, so mente a partir de 1965 com a chegada da energia elétrica de Três Marias e uma maior atuação do Estado de Minas junto a SUDENE, foi que a industrialização ganhou velocidade. Com efeito, naquele ano, foi inaugurado o FRIGONORTE, sonho da elite regional, com incentivos daquela autarquia. A cobertura da imprensa era realizada pelos jornais: “O Diário de Montes Claros”, “O jornal de Montes Claros” e a ZYD-7, única emissora de rádio.

Por fim, a ampliação acima citada do comércio atacadista, levou a criação de inúmeros estabelecimentos, entre outros: Armazém de Caribé nos fundos da Igreja matriz, Armazém de Miguel “Dedê Moreira na rua Carlos Gomes, Armazém Itapoã de Zim Bahia/Aristóteles e em frente: na rua Cel. Joaquim Costa, Armazém Ouro Verde de Irmãos CUNHA.

Um episódio destacou o pioneirismo e o empre endedorismo de um deles: Dudu CUNHA. Numa ocasião, ao fazer a entrega de mercadorias por caminhão na longínqua Jua zeiro-BA. divisa com Petrolina-PE., desafiou péssimas estradas de terra batida. Para não retornar de carroceria vazia, observou, graças ao seu apurado tino comercial, cebolas produzidas às margens do rio São Francisco, que divide as duas cidades, quase perdendo por falta de compradores. Não teve dúvidas, encheu o caminhão de cebolas e regressou a Montes Claros. Ao anunciar “quem quer comprar cebolas”, em falta na região, em poucos dias, acabou ven dendo toda a cebola. E o surpreendente: retornou a Juazeiro, para trazer outro caminhão com cebolas.


A SAÚDE MENTAL DOS POLICIAIS

Durante a pandemia de Covid-19 especialistas em comportamento humano de várias partes do planeta concordaram que após a crise da doença haveria uma “pandemia de do ença mental” decorrente dos temores, da insegurança, das tensões vividas durante o período em que o vírus estava ditando o modo de vida no mundo inteiro. As previsões se concretizaram.

A violência se intensificou nas ruas, no trânsito, nas escolas, nos lares, enfim, em todos os lugares, após a pandemia. O nível de intolerância e agressividade das pessoas cresceu – e o pior, todos estão se acostumando com isso, como se toda essa tendência à incivilidade fosse algo normal. Ora, se essa tendência passa a dominar a vida das pessoas em geral, imagine o que acontece com pessoas cujas atividades profissionais e ambientes de trabalho constituem fábricas de estresse? Dentre essas profissões estão as corporações policiais. Neste artigo trataremos acerca da saúde mental dos policiais brasileiros.

Toda atividade policial, per se, submete o profissional a uma carga intensa de estresse. Não há como negar que o estresse excessivo interfere na saúde mental do indivíduo e, consequentemente, na sua qualidade de vida e, mais, pode ditar suas ações em todos os aspectos, inclusive no campo profissional. As cor porações policiais nas quais os efeitos negativos do estresse são mais visíveis são as Polícias Militares e Polícias Civis (estaduais): as primeiras são de longe as mais afetadas. Alguns fatores são de terminantes para a maior visibilidade dos efeitos do estresse nas PMs, tais como o efetivo maior – são as corporações com maior número de profissionais atuando no país –, a lida diária direta mente com os problemas mais impactantes de segurança pública nas ruas, exposição direta e constante ao risco de morte, as rela ções opressivas no ambiente interno, em virtude do rigor exigido pelos regulamentos castrenses e reflexos do modelo pedagógico opressor utilizado na formação inicial e na formação continuada desses profissionais.

Especialistas como Sérgio Lopes Santana e Alini Danieli Via na Sabino, afirmam que a produção excessiva de adrenalina no organismo em virtude do estresse, como ocorre na vida dos policiais em geral, tanto durante as instruções como no exercício da ativi dade profissional, pode gerar prejuízos significativos para a saúde física e mental deles.

No trabalho diário, o policial encontra alta taxa de adrenalina estando sempre preparado para agir. À medida que aumenta o nível de tensão, aumenta também o nível de vigilância e de expectativa, passando a estar pronto para agir a qualquer instante de maneira enérgica. O profissional vive sob pressão constante e em consequência, sofre alteração no seu padrão normal de pensar e agir, além de apresentar dificuldades para estabelecer prioridades ocasionando sensações de hesitação, visão estreita, raciocínio confuso e ilógico que passam a fazer parte do seu diaa dia. (SANTANA; SABINO: http://www.aems.edu.br/ conexao/ edicaoanterior/. Acesso em 22/10/2021).

Michelli Beckert (2019) aprofunda um pouco mais na questão pedagógica das Polícias Militares envolvendo a chamada “preparação para a resistência à psicofadiga” – conjunto de práticas que consiste em levar o aluno ao nível máximo de estresse, através de tensão, aflição e sofrimento no intuito de prepará-lo para agir sob pressão; a autora afirma que, de certa forma, essa submissão a situações emocionais extremas pode, por um lado, até ajudar a enfrentar alguns obstáculos cotidianos, mas sempre afetará negativamente o ser humano que está por trás do uniforme, abalando-o emocionalmente e interferindo na sua vida profissional e pessoal. França (2015, 2019 e 2022) define a pedagogia policial-militar como “pedagogia do sofrimento” – ele é integrante da PMPB e es tuda a corporação do seu Estado.

A autora afirma que durante o treinamento funcional dos policiais são incutidas “normas de conduta” que obrigam esses profissionais a manterem o controle emocional diante de qual quer circunstância e a qualquer custo. Esse “código de conduta”, segundo ela, é levado a sério em todas as situações, inclusive na vida interpessoal e cria neles uma falsa ideia de que são inaba láveis, de que possuem uma força extrema. De certa forma, essas normas e a metodologia utilizada podem até ajudar no enfrentamento a alguns dos obstáculos profissionais diários, mas nem sempre conseguem fazer com que o ser humano que está por trás da farda não se abale emocionalmente com os fatos, como foi ci tado – ele acabará sofrendo os efeitos disso, especialmente na sua saúde física e mental.

Beckert (2019) insiste em destacar que as organizações de Segurança Pública, especialmente as Polícias Militares, enfrentam frequentes adversidades em seu ambiente de trabalho. No ambiente policial-militar, mesmo após o período de formação inicial, os policiais são submetidos a situações que levam ao estresse pós-traumático e podem predispor doenças mentais.

O desenvolvimento do Transtorno de Estresse pós-traumático pode ocorrer após a exposição direta ou indireta a eventos traumáticos como morte, lesões ou traumas. Essas situações são recorrentes na vida policial. Sintomas como recordações aflitivas e recorrentes do ocorrido, mudanças de humor, distúrbios do sono, entre outros, são observados em pessoas que apresentam esse diagnóstico. Não procurar ajuda aumenta em três vezes o risco para desenvolvimento de transtorno depressivo e transtor
no somatoforme (sintomas físicos sem base médica constatável). agravamento dos sintomas depressivos, especialmente, pode levar a pensamentos de morte. Sabe-se que o risco de suicídio entre policiais é ainda maior devido à proximidade e facilidade para o manuseio de armas de fogo. Também há outras patologias comuns. Os transtornos de ansiedade, transtornos de adaptação (sofrimento psicológico desproporcional a gravidade do estres sor, com prejuízo psicossocial) e a depressão, também são pato logias recorrentes no âmbito policial. (BECKERT, 2019: https:// www.wainerpsicologia.com.br/.
Acesso em 24/10/2021).

A hipótese mais aceitável para contrapor os efeitos desse estresse funcional, seja em decorrência dos impasses vividos no ambiente dos quartéis ou diretamente em virtude dos riscos que a profissão submete o indivíduo, seria uma mudança de meto dologia de ensino, tornando-a mais humana e produtora de uma mentalidade mais progressista, capaz, inclusive, de levar esses profissionais a aceitarem tratamento psicoterápico como parte do processo pedagógico continuado. Outro fator de suma importância para a redução do estresse funcional dos PMs seria o estreita mento das relações interpessoais de níveis hierárquicos diferen tes: a falsa ideia de que o contato amistoso entre pessoas de níveis hierárquicos diferentes interfere negativamente na manutenção da hierarquia e da disciplina, provoca um distanciamento entre essas pessoas, inclusive enquanto seres humanos.

Contudo, há uma resistência enorme em se promover mudanças nessas questões, especialmente em virtude daquilo que Gonçalves (2012) aponta como “cultura institucional da Polícia Militar” – ele trata especificamente da PMMG, mas sua assertiva é aplicável a todas as corporações policiais-militares. Uma proposta no sentido de promover mudanças na pedagogia e nas relações interpessoais dos policiais militares de níveis hierárquicos diferentes, e utilizar a psicoterapia como instrumento de enfrentamento do estresse funcional, na atual conjuntura, certamente geraria uma resistência incomensurável pela quase totalidade da tropa, tanto pelo desconhecimento do que é de fato a psicoterapia, como pelo preconceito conservador existente nesse ambiente contra qualquer atividade que seja diferente do que estão acostumados a praticar no dia a dia.

Outra questão séria que não deixa dúvidas ter origem na pedagogia policial-militar e no autoritarismo que pauta suas relações interpessoais, dentre outros fatores, é a propensão para o suicídio entre os PMs. O tema é tabu nas corporações: é sempre evitado e até camuflado para a sociedade civil, com a relutância em se fornecer dados para estudos sobre o assunto. Nascimento (1992) destaca que o oficial da PM de São Paulo e também psicólo go, Ib Martins Ribeiro, numa dissertação de mestrado, expõe que policiais militares se suicidam cinco vezes mais que a população em geral. A maioria dos casos por dificuldades para lidar com pro blemas pessoais.

Juliana Martins e Juliana Lemes da Cruz (2023), em estudo publicado no Anuário Brasileiro de Segurança Pública e no site do Instituto de Psicologia da USP, mostram que os suicídios vitimam mais os policiais militares do que confrontos armados durante o serviço e alertam para a necessidade de se prevenir que mais mortes ocorram – em números relativos há menos casos de suicídios entre policiais civis nesse estudo. As autoras falam da necessidade urgente de se monitorar a saúde mental dos profissionais de segurança pública e dar visibilidade para os dados de vitimização rela cionadas a suicídios. A questão principal nestes casos é o proble ma da saúde mental, já que o suicídio é o desfecho de uma tragédia íntima que evolui no decorrer de um tempo e que, na maioria das vezes, poderia ser evitado com tratamento adequado. A quantida de de policiais militares e policiais civis portadores de transtornos mentais é elevada, segundo as autoras, e muitos sequer estão em tratamento porque as autoridades não dão a importância devida a tal fato.

Seja qual for o motivo de as secretarias estaduais ou de as polícias não compartilharem as informações ou não terem a prática de sistematizá-las, não falar dos números e, portanto, não dar visibilidade a eles, não protege os policiais. Pelo contrário, passa a ideia de que o problema não existe, agravando ainda mais a situação daqueles que precisam de ajuda e não sabem o que fazer. O silêncio contribui para que essas pessoas se sintam ainda mais sozinhas e inadequadas. (MARTINS & CRUZ, 2023, p. 54).

Dentre os condicionantes laborais encontrados por Martins & Cruz (2023) como originadores dos graves problemas relacionados à saúde mental dos policiais, foram listados o assédio moral na administração interna, a admissão do papel de “policial herói” e os conflitos dela decorrentes, o estresse pelo desgaste físico e mental em razão do contato continuado com situações de perigo, a cobrança institucional pelo cumprimento de metas na produção trabalho relacionado ao registro de ocorrências policiais, o endividamento pessoal, e à sensação de insegurança jurídica a que são expostos.

As autoras apontam o suicídio de policiais como um “silencioso adoecimento psíquico” e criticam a preocupação das instituições em camuflar informações sobre as ocorrências de autoextermínio. Afirmam que a fonte mais confiável sobre essas informações no Brasil atualmente é o Boletim de Notificações de mortes violentas intencionais e tentativas de suicídios entre profissionais de Segurança Pública no Brasil, do Instituto de Pesquisa, Prevenção e Estudos em Suicídio, que trabalha com dados obtidos através de uma coleta das informações em ocorrências registra das pelas instituições de segurança pública, compartilhadas em grupos de WhatsApp de agentes de segurança pública e notícias publicadas em jornais ou websites, assim como notas de pesar divulgadas em sites de grande circulação e das instituições de segurança pública. O trabalho é concluído com indagações sobre como as instituições policiais lidam com os problemas de saúde mental de seus integrantes:

Essas instituições policiais sabem, por exemplo, quantos policiais estão afastados por questões de saúde mental e por quanto tem po? Quando eles voltam dessas licenças, o que é feito com eles, para onde vão? Como é sua reinserção no trabalho? Ou eles são colocados de lado, deixados num canto porque ninguém sabe lidar com eles? Igualmente, sabemos quantos policiais estão afastados por hipertensão, doenças cardíacas e etc.? Temos um mapa disso? O que fazemos com essas informações? A saúde dos policiais é um assunto de interesse de todos nós. Preservar suas vidas também. Mas para que isso seja possível, as informações precisam chegar. (Idem. Ibd., p. 57).

A abordagem das autoras acima converge com os dados apresentados por Leonardo Ozima (2024).

A taxa de suicídio entre policiais civis e militares da ativa cresceu 26,2% em 2023 em comparação ao ano anterior e se transformou na maior causa das mortes de policiais no Brasil, superando as que se dão em confrontos, seja durante o serviço ou na folga. O suicídio entre a categoria é quase oito vezes maior do que entre a população em geral. Os dados são do Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2024 e é a primeira vez que esse fenôme no acontece desde que o Fórum Brasileiro de Segurança Pública passou a registrar os dados de vitimização de policiais. (OZIMA, 2024).

A professora do Departamento de Psicologia da USP, Marina Rezende Bason, entrevistada por Ozima ((2024), afirmou que os policiais militares estão em constante contato com vários fatores de estresse, dentre eles as mazelas e as contradições sociais, extrema violência, sobrecarga e condições precárias de trabalho. O que os coloca em destaque, em níveis de estresse, em relação aos integrantes das demais corporações policiais brasileiras.

Há ainda mais um agravante em relação à questão dos suicídios de policiais. Se considerarmos que o suicídio, via de regra, está vinculado a problemas de saúde mental que evoluem em um lapso de tempo até chegar em estágio gravíssimo, um PM que comete suicídio é um profissional que durante algum tempo esteve em contato com a sociedade, portando armas e interferindo nas ações de cidadãos civis, em função das suas atividades laborais, já acometido por transtornos mentais. Além da perda da vida humana que o suicídio desse profissional representa, há também os potenciais riscos que precedem o ato. Por se tratar de indivíduo com transtornos psíquicos graves portando equipamentos letais como armas de fogo, no exercício das suas funções, essa condição pode desencadear tragédias tanto no meio civil ou no próprio am biente militar.

A falta de atenção por parte das corporações – e aqui não nos referimos a uma ou duas Polícias Militares, mas a todas elas –, especialmente no que se refere às questões laborais descritas por Martins & Cruz (2023), leva à presunção de que há grandes possibilidades de existir, a todo momento, policiais com transtor nos mentais e tendências suicidas trabalhando normalmente sem que tal condição seja conhecida. Daí, a necessidade urgente de se investir no acompanhamento psicológico desses profissionais para a detecção precoce de transtornos e/ou distúrbios mentais para um tratamento efetivo, para preservar suas vidas e evitar tra gédias envolvendo também outras pessoas, e possibilitar a esses profissionais viver com dignidade.

REFERÊNCIAS
BECKERT, Michele. Saúde Mental de Policiais Militares e Psicoterapia. Postado em 23/04/2019. Disponível em https://www.wainerpsicologia.com.br/. Acesso em 24/10/2021.

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NASCIMENTO, Gilberto. Aumenta o número de suicídios entre PMs. São Paulo: Folha de São Paulo, 17?11/2000.

OZIMA, Leonardo. Suicídio é a maior causa de morte entre policiais no Brasil - Marina Rezende Bazon tece comentários acerca de um cenário que revela que o Estado brasileiro falha na preservação da saúde mental dos agentes de segu rança pública. Jornal da USP no Ar 1ª edição / Rádio USP, 27/08/2024. https:// jornal.usp.br/campus-ribeirao-preto/.

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SILVA, Gastão Pereira da. Psicanálise dos Gênios – Doentes célebres. Porto Ale gre: Pan Americana, 1989.


A CONTRIBUIÇÃO HISTÓRICA
DA JOVEM ARQUITETA
JULIANA PEREIRA PERES

Meus amigos e caros leitores. Tem um ditado que diz: “Filho de peixe, peixe é”.

Juliana Pereira Peres é um excelente exemplo de confirmação do presente ditado. Juliana é filha do casal Rosângela Pereira Peres e Raul Peres Filho, Rosângela é uma pianista e professora musical de primeira ordem e Raul é um renomado engenheiro civil, ambos os progenitores são Montesclarense, oriundos de famí lias tradicionais da cidade.

Juliana é graduada, com destacado brilho em Arquitetura e Urbanismo pela Faculdade Brasileira de Ensino Superior – UNIVIX, Vitória, Espírito Santo, ano 2007, ocasião em que foi agracia da com o título e placa de Maior Média Global do curso.

Em sua monografia, cuja Banca Examinadora pontuou com nota máxima – Dez com Louvor-, Juliana Pereira Peres apresentou o tema Patrimônio Histórico de Montes Claros, cujo projeto resul tou em um magnífico exemplar encadernado. Daí compartilhado em cartilhas editadas pela Gráfica e Editora Millennium Ltda, cus teadas pela Prefeitura Municipal de Montes Claros, gestão - Athos Avelino Pereira, como parte das comemorações dos 150 anos (sesquicentenário) de elevação de Vila a Cidade (1857-2007).

Neste projeto, Juliana Peres elegeu as tradicionais “Festas de Agosto”, na figura folclórica do “Mestre Zanza” – como era conhe cido o saudoso senhor João Pimenta dos Santos, notório participante, preservador e coordenador das festas de agosto, também nominada de Festa dos Catopês, constituída pelos grupos folclóricos: Catopês, Marujos e Cabloquinhos, em homenagens ao Divi no Espírito Santo, Nossa Senhora do Rosário e São Benedito; festa que se realiza, anualmente, há quase 190 anos.

Vale lembrar que a edição desta 1ª cartilha foi coordena da pela Divisão de Patrimônio Histórico da Secretaria Municipal de Cultura do Município de Montes Claros, leia-se, Raquel Velo so Mendonça, com a participação dos historiadores Haroldo Lívio de Oliveira (in memoriam) e Dário Teixeira Cotrim, ambos do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros – IHGMC, cuja Secretaria Municipal de Cultura estava sob o comando do senhor João Carlos Rodrigues Oliveira e teve como objetivo a valorização e conservação dos bens culturais de Montes Claros, em conformi dade com a Lei nº 13.803/2.000, em conjunto com a Deliberação Normativa do Conselho Curador do Instituto Estadual do Patrimô nio Histórico e Artístico de Minas Gerais – IEPHA/MG, nº 01/2005 que define e aperfeiçoa a distribuição dos recursos financeiros oriundos do ICMS - Imposto sobre a Circulação de Mercadorias e Serviços aos municípios.

Juliana Peres elaborou um admirável trabalho de recuperação e registro das informações relativas às edificações tombadas pelo Patrimônio Histórico de Montes Claros, a partir de um levantamento de dados e medidas gerais para a complementação e elucidação dos textos, composto por 41 (quarenta e uma) fichas de inventário contendo a data da construção, a propriedade, o uso original e atual, a técnica construtiva, alteração e estado de conservação, nível de proteção, histórico, ambiência, análise arqui tetônico, valores relacionados, registros gráficos (croquis) e/ou fotográficos.

Somente a título de exemplo, reproduzimos aqui, parcialmente, a ficha de inventário de nº 19, onde está inserido com deta lhes, o Palácio Episcopal construído no ano de 1914, propriedade da Diocese de Montes Claros, uso residencial na sua origem, hoje, uso institucional, com a seguinte Técnica Construtiva: a estrutura de sustentação das paredes é de alvenaria autoportante e revestida com argamassa de areia e cal, pintada originalmente com tinta à base de cal. Todas as esquadrias externas são em madeira e vidro com duas folhas de abrir, venezianas e folhas de segurança. A porta principal de entrada e as janelas do pavimento superior possuem bandeira fixa. Internamente existem também portas em madeira com uma folha de abrir. Todo o piso e forro é em madeira, porém o primeiro é confeccionado com tábuas e o segundo com frisos. A estrutura de cobertura é em madeira e as telhas são do tipo francesa (observações in loco e Dossiê de tombamento do conjunto urbanístico da Praça da Matriz, 1998). Alteração: descaracterizações na sua fachada posterior (substituição de esquadrias). ( )Inaltera do (X)Alteração regular ( )Grande alteração ( )Descaracterização. Estado de Conservação: O Palácio apresenta pequenas trincas e crostas negras. (X)Bom ( )Regular ( )Precário ( ) Ruinoso. Nível de Proteção: tombado pelo Município. Histórico: os padres premons tratenses, em novembro de 1907, iniciaram um movimento para que Montes Claros viesse a ser a sede do bispado que seria criado no Norte de Minas, concretizado a 10 de dezembro de 1910. E em 1914, D. João Antônio Pimenta, primeiro bispo de Montes Claros e ainda no cargo nessa época, sentindo a necessidade de a Diocese ficar mais bem acomodada, mandou construir o Palácio Episcopal. Para tanto contratou os trabalhos do construtor italiano Tobias Vechio (Dossiê de tombamento do conjunto urbanístico da Praça
da Matriz, 1998).

Finalizando, quero sugerir ao IHGMC – Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, na pessoa do seu presidente Francisco Ornelas, que se consiga uma cópia fiel do exemplar da mono grafia Patrimônio Histórico de Montes Claros, autoria da Arquiteta e Urbanista Juliana Pereira Peres, por se tratar de um documento ímpar destinado a colaborar sobremaneira, tanto para o conhecimento cultural e histórico, quanto para a preservação dos casarões tombados pelo Patrimônio Municipal. A arquiteta Juliana Peres, os nossos aplausos e parabéns pelo belíssimo e importante trabalho.


Juliana Pereira Peres


A INSPIRAÇÃO DA VIDA

Ouvi um barulho suave vindo da janela de meu quarto, lá fora o vento brincava com as folhas secas caídas de alguma árvore do quintal, elas iam de um lado para o outro, levadas pela força do vento, folhas sem vida, muitas enroladas como pequenos charutos, vencidas pela força da estação do outono, de folhas verdes, cheias de vida, grudadas nos galhos até poucas se manas atrás, agora estão esparramadas quintal à fora, expostas ao calor dos dias que se seguem, da janela do meu quarto eu consigo ouvir o que acontecia do outro lado, são pingos de chuvas, peque nos, que começam a cair devagarzinho, sem pressa, são pingos e mais pingos despejados céu abaixo, o outono continua me surpre endendo...

É hora da vida despertar depois de uma noite inteira de sono, os passarinhos começam a fazer festa, é muita alegria para um começo de dia como qualquer outro, se não fosse a presença da chuva, a cidade adormecida arregala os olhos e descobre que o chão molhado e céu encoberto aponta para um dia diferente “quem é que previa chuva em pleno mês de maio” alguém fala para alguém ouvir durante um bate papo qualquer de um dia normal, lá fora a chuva insiste, asfalto molhado, meu pedaço de quintal também fica molhado, coalhado de passarinhos, no alto da mangueira do meu vizinho, tem tanto bicho fazendo festa, dá prazer assistir tudo o que está acontecendo à minha frente, o sol tão presente por aqui o ano todo, agora está acanhado, oculto acima das nuvens que nos cobrem, prefere não estragar a festa, não se ouve rádio de manhã, o velho costume tá esquecido, porquê? Acho que foi os tempos modernos o responsável por isso, hoje tudo que acontece é mostrado em tempo real, a inspiração da vida, vai ficando pelo caminho, caminhos sem identidade, que muda os velhos hábitos de ver a vida com outros olhos.

A florada dos ipês roxos, colore aqui e acolá o meio do pasto, é impossível ficar despercebido, os mesmos olhos acostumados a enxergar a cidade de ruas asfaltadas, prédios enormes, e milha res de carros poluindo o ar que respiramos, agora se perde atrás da câmera do celular em busca de uma imagem perfeita, para ser apreciada mais tarde, guardada e compartilhada, com alguém que gosta de apreciar o que é belo, simples e natural.

É inspirador o roxo espalhado pelo mato, o tom é marcante, destacando-se frente o restante da vegetação, mesmo que seja por alguns dias, pois não demora muito, e os ipês roxos, ficarão sem nenhuma flor sequer, é a lei da natureza, o homem não entende dessas coisas, tudo isso, está tão explícito no meio desta paisagem, e esta paisagem, que seduz os olhos e alimenta alma, acostumada à olhar para o céu e achar que chuva fora de época é normal para alguns, mas porém estranho para muitos, os rabos de galos não mentem, como riscos perdidos e despercebidos, dá a pista.

O bom mesmo é viver um dia após o outro, e esperar os próximos capítulos, os ipês, sejam roxos ou amarelos, continuam colorindo o que está desbotado, e sem alegria.

A inspiração da vida, vem de onde menos se espera, não tem hora para começar e acabar, assim somos nós, fingimos e fugimos de uma realidade cruel, interpretamos um papel que não foi escrito para nós, representamos a nossa própria peça de teatro, como forma de seguir a vida, nos tornamos donos sem ao menos entendermos o verdadeiro sentido do existir, buscamos por coisas fúteis, sem valor sentimental, sem vida, procuramos e perseguimos coisas passageiras, somos todos passageiros, perdidos em alguma estação sem um trem que nos leve à algum lugar qualquer.

Assim, tudo é passageiro, os pingos da chuva que cai lá fora, os passarinhos festeiros, o vento que balança as folhas secas, vencidas pela força da estação do outono, de um mês de maio sem previsão de chuva, a inspiração de ver o mundo, com olhos diferentes, é coisa para poucos, a cidade já despertada, de asfalto molhado, segue seu ritmo normal, pessoas circulam, vão e vem como qualquer dia da semana, a chuva fraca insiste, não chega à causar estragos, ela veio porque tinha que ser assim, tão natural, com vento fraquinho, fraquinho... a vontade que tenho é de não abandonar minha janela, o cenário que se apresenta em frente da minha janela, me inspira e mexe com minhas imaginações.

Do lado de fora, da janela do meu quarto, pingos caem, deva garzinho, e me inspiram a viver.


TEMPOS DE PENITÊNCIA PARA CHOVER

Da nossa reminiscência guardamos coisas fantásticas. Há cinco meses, da janela do nosso apartamento – chovia muito - eu deslumbrava aquela precipitação que impedia avistar a cordilheira do Espinhaço - divisor do vale do Jequitinhonha com o nosso Verde Grande; olhei para outro lado avistei a igrejinha no alto do Morrinho.

Logo veio uma lembrança que não foge de mim – dos tem pos de penitência por meio de procissões, impetrando a Deus para chover – emocionado veio um nó na garganta que parecia nunca desfazer.

Em período prolongado de estiagem, um grupo de cristão reunia na igreja do Asilo São Vicente de Paula para uma caminha da até ao pé do cruzeiro da Igreja do Morrinho. Um grupo liderado pela minha avó Alzira Ponciano; Dª Henriqueta Pereira; Dª Antônia Rabelo; Dª Emilia de Juca; Dª Dica Lafetá; Dª Nenza Biondi; Sr. Luiz e Dª Célia Lafetá e Dª Dona Joaninha Procópio (esta última, monitorava da Estação Climatológica que ficava à Rua João Souto c/ R. General Carneiro) – ao longo da caminhada, outras religiosas e religiosos integravam o grupo de romeiros – Duas delas lembro--me de Dª Guilhermina Macêdo que morava na Rua Melo Viana e Dª Regina da rua circular.

Todas elas sempre narravam histórias para nos animar, diziam que depois do grande período de estiagem dos idos anos 30 e 50 – com as penitências, tiveram uns bons anos de chuvas – di ziam que os percursos das precisões eram muito mais longos que o trecho da Igreja de São Vicente ou da Matriz para a colina de (*) Dona Germana Olinda.

Nós, os peregrinos: crianças, adolescentes, homens, mulheres e padres – carregavam a fé que alimentava a esperança. Nas cabeças e nas mãos, latas e potes de barro com água e flores, pedras na cabeça e ramos de mato e capim e a imagem da padroeira do Brasil. – Eu “penitenciava” levando na mão direita a imagem de São José, e, na outra, um ramo de flores do ipê amarelo e uma flor de copo de leite. - Rezando o percurso todo!

Aos pés da Santa Cruz, todos fiéis ajoelhavam e rezavam e pediam a Deus para mandar a chuva. Depois, lavavam a base do madeiro [cruz], que na época traziam os símbolos do martírio de Jesus Cristo, depois íamos no meio do largo da igreja aos pés da imagem de Cristo (cercado por um balaústre de alvenaria) jogar mais água e flores.

Lá de cima do morrinho era possível enxergar e lamentar os estragos deixados pelas chamas na vegetação da Serra do Melo [sapucaia] – não eram queimadas criminosas, e sim, uma tradição dos produtores da época. Para amenizar o sacrifício sob o Sol ardente, todos com bonés, chapéus, lenços e sombrinhas. Com a fé inabalável nos poderes de Cristo e São Pedro – de olhos voltados para o céu, todos de mãos dadas, rezavam outras orações e suplicando que eles mandassem a chuva,

Das peregrinações que os fiéis faziam - a mais penitente era do percurso da Praça da Matriz – onde reunimos ao lado do Core to, seguia pela Rua Dr. Veloso, encontrava com um grupo de idosos da Igreja do Asilo - subia pela Rua General Carneiro, tomava a Rua Melo Viana, chegava na ladeira Cônego Quirino até o Largo da Igreja. Sempre éramos recebidos por Dona Geralda “parteira”, Dona Sinhá, Dona Iaiá e pelo folclórico Manoel Quatrocentos – to dos moravam no Morro da Igreja. > Manoel Quatrocentos deixava suas brincadeiras para depois do fim das cerimônias. – “Olha lá a chuva! - ô Lá laica”, – dizia brincando.

Toda trajetória da peregrinação, as orações eram um só coro – as rianças à frente dos adultos - como manda a tradição; eram nove dias de penitências, mas, muitas vezes antes de completar a novena da fé, a chuva caia. Certa vez – por volta das 16;00 horas - quando chegamos lá em cima da colina - depositamos os apetrechos no pé do cruzeiro, começamos as cantigas, e, logo começou um evento de trovões e ventania, desceu um “pé d’água” daqueles com pedregulhos de gelo e ventos, logo acalmou; fomos acomoda dos na casa da Dona Geralda por mais de uma hora – as mangas caíram das mangueiras da casa do Manoel Quatrocentos (onde hoje fica a Intertv) – Dona Geralda “parteira” serviu de lanche para a criançada (pão com salame e Ki-suco de uva), e para adultos café com bolo de fubá. Três dias depois do vendaval iniciaram de fato o ciclo das chuvas, que perduraram por mais de quatros meses com poucos dias espaçados de sol e chuva. Os produtores rurais agradeceram a DEUS pela fartura do milho, feijão, arroz das baixas e bois gordos.

A mesma molecada que iam as penitências, sem que os pais e os avós soubessem – usavam o dedão do pé e o calcanhar para desenhar o olho de boi para a chuva parar. Mas, quando eram descobertos, ficava uma semana sem jogar “finca” - bolinha de Gude ou “bentealtas” cabaspará). Hoje estamos presos aos dados com pilados pela tecnologia (Tiktok e as redes sociais). - Só DEUS na causa!

Para finalizar: A fé está acabando e tem muitos Abutres da Seca que torce para não chover devido o “conflito de interesses” - Vamos reforçar a fé para a vinda da chuva lendo o Salmo número 65.

(*) Há 122 anos 15/11/1902 - Faleceu Dona Germana Maria de Olinda, aos 86 anos de idade. Nasceu em Minas Novas. Mudando-se para Montes Claros, construiu, em cumprimento duma promessa, a Igreja do Senhor do Bonfim, situada no alto do Morrinho, com esmolas e donativos arrecadados por ela, com aquela finalidade, aos quais acrescentava, não raro, o pouco que possuía de suas parcas economias. A Igrejinha, que tinha o modesto nome de Capela, foi inaugurada a 14 de setembro de 1886, com procissão saída da Matriz e bênção do padre Manoel da Assunção Ribeiro, então Vigário da Freguesia. A Capela tinha o nome de Santa Cruz do Morrinho e a imagem foi doada pelo Dr. Antônio Augusto Velloso estando em ruínas, foi reconstruída por ordem do Engenheiro Dr. Demósthenes Rockert e reinaugurada a 29 de fevereiro de 1948.


NOSSOS PATRONOS

JOSÉ COELHO DE ARAÚJO é o patrono da cadeira nº 85 do IHGMC, hoje ocupada pelo associado efetivo André Luís Lopes Oliveira.

Nas “Efemérides Montes-clarenses”, do consagrado escritor Nélson Viana, consta que, no dia 17 de julho de 1897, nasceu em São João da Chapada, então distrito de Diamantina-MG, o tenente-coronel José Coelho de Araújo, filho de Antônio Coelho de Araújo e Benvinda Malvina do Sacramento Coelho. É, pois, Nélson Viana quem registrou em sua obra magistral: “Faz parte da Polícia Militar desde 2014. Foi chefe da Casa Militar do governador Benedito Valadares, chefe do Estado Maior da Polícia Militar, comandante do 2º e 5º BI, vereador e presidente da Câmara Municipal e Prefeito de Jequitaí-MG. Exerceu o cargo de Delegado de Polícia Especial em diversos municípios do Estado de Minas, inclusive Montes Claros, para onde veio em 1951. Elegeu-se vereador à Câmara Municipal de Montes Claros a 7 de outubro de 1962, para exercício no período de 31 de janeiro de 1963 a 31 de janeiro de 1967.


José Coelho de Lima (Coelhinho) e José Coelho de Araújo (Coelhão). Foto do arquivo da Polícia Militar.

Fez parte da Junta Revolucionária de Montes Claros, na Revolução de 1930, quando para aqui veio como Delegado de Polícia, ocasião em que ficou famosa a sua ação firme e decidida contra os desmandos de péssimos elementos, que desejavam levar a cidade à mazorca, impedindo, ao mesmo tempo, atos de violência e de vinganças pessoais. Militar corretíssimo, conceituado como os que mais o sejam, a sua como autoridade tem sido por todos louvada, não só pela ação oportuna, sempre honesta e imparcial, como enérgica e ponderada.”

Do exposto, verifica-se que o tenente-coronel José Coelho de Araújo, falecido a 5 de janeiro de 1977, teve destacada atuação em três setores da comunidade: como oficial da Polícia Militar, em funções específicas de sua carreira profissional; como delegado especial de polícia, em lugares e momentos de conflagração da ordem pública; como agente político, no exercício dos cargos de prefeito e vereador, em Jequitaí e Montes Claros. Nessa última cidade, cumpriu o mandato de vereador durante duas legislaturas: de 31/01/63 a 31/01/67 e de 31/01/67 a 31/01/71.

Em preservação de sua memória, existem ruas com o seu nome, em Jequitaí, Claro dos Poções e Montes Claros. Nesta cidade, trata-se da rua Coronel Coelho, principal via pública do bairro Esplanada.


ESBOÇO PARA BIOGRAFIA DO CORONEL
JOÃO MARTINS DA SILVA MAIA


Coronel João Martins da Silva Maia:
Um Pioneiro do Desenvolvimento em Montes Claros

Nascimento e Família

João Martins da Silva Maia nasceu em 4 de abril de 1867, na Fazenda do Redondo, Freguesia de Matosinhos, MG. Filho do Capitão João Martins Maia e de Francisca Ludumila Drummond Maia, João cresceu em um ambiente que valorizava a disciplina e o trabalho duro.

Em 1890, casou-se com Alice Diniz Maia, nascida em São João del Rei, MG e falecida em 23 de dezembro de 1959 na cidade de Montes Claros, filha de Quintiliano Soares Diniz (Cerca de 1828 Santa Luzia, MG 2/12/1890 Curvelo, MG) e Escolástica Cândida Mascarenhas Diniz ( falecida em 17/06/1957) e neta materna de Antônio Soares Diniz filho e Rita Cassia de Soares Diniz e neta materna de Antônio Gonçalves da Silva Mascarenhas (1802 São João del Rei, 12/01/1884 Curvelo, MG) e Policena Gonçalves da Silva Mascarenhas (1811 Matozinhos, MG 22/01/1900 em MG, inician do uma parceria que duraria toda a vida.

Primeiros Anos e Mudança para Montes Claros

Foi garimpeiro na Região de Sete Lagos, MG e em 1902, João Martins da Silva Maia mudou-se para Montes Claros, onde começou a deixar sua marca como industrial. Junto com Juvêncio Silva, ele remodelou a fábrica do Cedro, formando a firma Silva, Maia & Cia. Após a dissolução da sociedade em 1909, João continuou a operar a fábrica sob a firma Silva Maia.

Empreendimentos Industriais e Comerciais

João Maia não se limitou à indústria têxtil. Ele diversificou seus negócios, investindo em charcutaria, fábrica de banha, beneficiamento de algodão e extração de óleo de semente. Em 1912, em parceria com o Coronel Francisco Ribeiro dos Santos, adquiriu novamente a fábrica do Cedro, formando a firma Ribeiro & Maia. Dois anos depois, vendeu sua parte e dedicou-se à pecuária, tornando-se um renomado comerciante de gado zebu.

A Fábrica do Cedro

A Fábrica do Cedro de Montes Claros, fundada em 1878, foi um marco na industrialização da região. Com um capital inicial de 160:000$000 e um valor estimativo de 120:000$000, a fábrica possuía 72 teares americanos e ingleses, produzindo uma média de 30.000 metros de tecidos crus, lisos e entrançados por mês. A fábrica empregava 127 operários, incluindo homens, mulheres e crianças, e era conhecida por suas boas condições higiênicas.

A fábrica passou por várias mãos antes de ser adquirida por João Maia e Francisco Ribeiro. Sob a gestão de Ribeiro & Maia, a fábrica prosperou, contribuindo significativamente para a economia local. Além da produção têxtil, João Maia também estabeleceu uma fábrica de manteiga e banha, importando máquinas da Argentina para garantir a qualidade dos produtos.

História da Fábrica do Cedro

• 13 de outubro de 1877: A lei provincial nº 2389 prometia garantia de juros até 7% sobre o capital não excedente a 250:000$000 para a fundação de uma fábrica de tecidos na Freguesia de Montes Claros.

• 1880: A sociedade Rodrigues, Soares, Bittencourt, Velloso & Cia. foi organizada, e Antônio Tito Prates foi enviado aos Estados Unidos para adquirir o maquinário necessário.

1882: A fábrica começou a funcionar com 72 teares e 127 operários, produzindo 30.000 metros de tecidos por mês.

• 25 de julho de 1889: Um incêndio destruiu grande parte da fábrica, causando um prejuízo de cerca de 200:000$000.

• 17 de fevereiro de 1902: João Martins da Silva Maia e Juvêncio Silva arrendaram a fábrica, formando a firma Silva, Maia & Cia.

• 25 de junho de 1909: A sociedade foi dissolvida, e João Maia continuou como arrendatário sob a firma Silva Maia.

• 1912: João Maia e Francisco Ribeiro dos Santos adquiriram a fábrica, formando a firma Ribeiro & Maia.

• 1914: João Maia vendeu sua parte a Francisco Ribeiro por 114:000$000, tornando-o o único proprietário.

• 10 de dezembro de 1923: Com o falecimento de Francisco Ribeiro, sua viúva, Luisa de Magalhães Santos, vendeu a fábrica a Luiz Antônio Pires e Jayme Rebello, que formaram a firma Pires & Rebelo.

• 18 abril de 1927: Um grande incêndio destrói totalmente a usina de beneficiamento de algodão pertencente a Jayme Rebelo, consumindo 400 fardos do artigo. (Verificar Quando isso ocorreu o Jayme já havia vendido sua parte da Pires & Rebelo? Porque o Nelson Vianna afirma foi na usina de beneficiamento de algodão perten cente a Jayme Rebelo (Só ao Jayme?)

• Posteriormente: Jayme Rebello vendeu sua parte a Luiz Pires, que se tornou o único proprietário. Luiz Pires fundiu a fábrica do Cedro com a fábrica de tecidos da firma Costa & Cia. (Que foi inaugurada em 7 de julho de 1915 à avenida da Estreia, hoje Coronel Prates, na cidade de Montes Claros, pertencente a uma sociedade composta do coronel Joaquim José Costa, engenheiro José Antô nio da Costa Júnior, Deputado Camilo Philinto Prates, Capitão João Cattoni Pereira da Costa, João Ribeiro da Silva e Antônio Mendes Campelo, que foi o construtor do prédio da fábrica e dirigiu o as sentamento de todo o maquinismo e era o gerente técnico das oficinas e máquinas. O funcionamento da foi iniciado com 40 teares e 1.552 fusos.), formando a Fábrica Santa Helena.

• Tempos depois: Luiz Pires vendeu a Fábrica Santa Helena ao seu cunhado, Dr. Plinio Ribeiro dos Santos, que posteriormente vendeu ao sobrinho, engenheiro Simeão Ribeiro Pires.

Contribuições para o Desenvolvimento Regional
Visionário e progressista, João Maia foi um dos fundadores do Banco Popular de Montes Claros e teve a iniciativa de construir a estrada de rodagem de Montes Claros a Pedras de Maria da Cruz em 1929. Sua atuação foi crucial para o desenvolvimento econômico e social da região.

Eventos e Realizações Importantes
• 04 de março de 1917: Inauguração da fábrica de manteiga “Cascata”, a primeira do tipo em Montes Claros.

• 05 de junho de 1927: Fundação do Banco Popular de Montes Claros, com João Maia como um dos diretores.

• 30 de julho de 1927: Inauguração oficial do Banco Popular de Montes Claros.

• 26 de outubro de 1929: Concessão do privilégio de tráfego e subvenção quilométrica para a construção da estrada de automóveis ligando Montes Claros ao porto de Maria da Cruz.

• 06 de fevereiro de 1932: Nomeação de João Maia como membro do Conselho Consultivo da Prefeitura Municipal de Montes Claros.

Vida Pessoal e Legado
Profundamente católico, João Maia era conhecido por suas contribuições às instituições religiosas e beneficentes. Ele tam bém era um jornalista talentoso, escrevendo crônicas humorísti cas sob o pseudônimo de J. Sexta-feira na “Gazeta do Norte”. Sua dedicação à comunidade e seu espírito empreendedor deixaram um legado duradouro em Montes Claros.

Falecimento
O Coronel João Martins da Silva Maia faleceu em 28 de de zembro de 1950, deixando um legado de progresso e desenvolvi mento que continua a ser lembrado até hoje.

ARVORE GENEALÓGICA
Coronel João Martins da Silva Maia filho do Capitão João Martins Maia e de Ludmila Drumond Maia, nasceu em 4 de abril de 1867 na Fazenda do Redondo, Freguesia de Matosinhos, MG e faleceu em 28 de dezembro de 1950 em Montes Claros, Casou em 1890 com Alice Diniz Maia nascida em São João del-Rei, MG e falecida em 23 de dezembro de 1959 na cidade de Montes Claros, filha de Quintiliano Soares Diniz (Cerca de 1828 Santa Luzia, MG 2/12/1890 Curvelo, MG) e Escolástica Cândida Mascarenhas Diniz ( falecida em 17/06/1957) e neta materna de Antônio Soares Diniz filho e Rita Cassia de Soares Diniz e neta materna de Antônio Gonçalves da Silva Mascarenhas (1802 São João del-Rei,
12/01/1884 Curvelo, MG) e Policena Gonçalves da Silva Mascarenhas (1811 Matozinhos, MG 22/01/1900 em MG

Deste casamento tiveram os seguintes Filhos:

1. Escolástica, casou-se com Virgílio Muniz Magalhães. Filhos:

a) Lígia Maia Magalhães casada em 1938 com Jáder Dias de Figueiredo (nasceu 15 mar 19122 Montes Claros). Deputado Estadual 1959-1963, e Vereador da Câmara Municipal filho do Coronel João Bernardino de Figueiredo e Izabel Dias. Filhos:

1) Maria Izabel Figueiredo, casada com João Carlos Sobreira. Filhos:

a. Izabela
b. Rafael
c. Paula

2) Marla Geralda Figueiredo, casada com Francisco Tejedor Balesteros. Filhos:

a. Guilherme
b. Loren
c. Alexia
d. Rogério

3) Maria da Consolação Figueiredo.

4) João Virgílio Figueiredo.

5) Helber Figueiredo.

6) Dayse Figueiredo.

7) Maria Alice Figueiredo.

b) Elber Magalhães, casado com Tereza Ramos. Filhos:

1) Virgílio Antônio, casado com Maria Josefina Ramos. Filhos:

a. Virgílio Antônio, casado com Maria Ramos. Filhos:

i. Virgilio
ii. Maria Valdivia
b. Maria Valdivia.

2) Maria Valdivia, solteira.

c) João, fazendeiro, casado corri Cezinha Batista da Conceição. Filhos:

1) Maria Joacy, casada com José Carlos Machado.
2) Geraldo Elber, engenheiro, solteiro.
3) Edna Maria,
4) Aristides e
5) Eudes.

d) Lia, professora, casada com o Dr. Francisco Bonifácio Abreu Mariani. Filho:

1) José Mariani.

2. José Diniz Maia (Juquita), comerciante e tabelião, casado com Joaquina Oliveira. (Quininha), filha de Dr. José Tomaz de Oliveira e Aurea Sarmento. Filhos:

a) José Frederico, médico, residente e casado nos EEUU com Pamela. divorciado. Filhos:

1) Sandra, Ângelo,
2) Ana,
3) Laura e
4) Tomaz.

b) Tomaz Walter de Oliveira Mala, casado com Eliane. Filhos:

1) Caetano,
2) Alexandre
3) (e mais dois).

3. Quintiliano Diniz Maia (Quinto), fazendeiro, casado com Maria Prates, filha do professor Álvaro Prates e Carlota Otília. Filhos:

a) João, casado com Amélia Madureira, Filhos:
1) Maria Amélia,
2) Maria de Fátima,
3) Sandra Maria e
4) João Álvaro Mala Júnior.

b) Maria das Mercês Mala Mota, casada com Antônio Mota. 2 filhos adotivos:

1) Elton e
2) Sei ma.

c) Carlice, normalista, casada com Antônio Costa (português). Filhos:
a. Antônio Carlos, casado com Elaine
b. Luiz Fernandes,
c. Luciano e
d. Alberto.

d) Dirce, solteira, funcionária pública.

e) Dirceu, casado com Marlei da Silva. Um filho:

a. André.

f) Berilo, casado com Solange Pinto. Filhos:

a. Berilo,
b. Juliano e
c. Frederico.
g) Beatriz, professora, casada com o Dr. Haroldo Fróis Veloso filho
de Antônio Augusto Veloso e Jacy Fróis veloso. Filhos:

a. Marcelo
b. Maria Antonieta
c. Maria Jacy
d. Elisa
h) Rui, solteiro.

i) Quintiliano, casou-se com Rosângela Tupinambá. 2 filhos:

a. Alexandre e
b. Quintiliano Maia Neto.

4. Aristides Diniz Maia, negociante, casado com sua prima Maria Guilhermina (Naná). Filhos:

a) Aristides, fazendeiro, casado com Ronilde Tofani, filha de Francisco Tofani e Iolanda Tofani. Filhos:

a. Virgínia,
b. Patrícia,
c. Lara,
d. Rafael.

b) Maria Aparecida, casada com Nelson Sayão.
c) Geraldo Eustáquio, falecido na juventude.

5. Maria Luiza (Santinha), solteira.
6. Maria Nazareth, segunda esposa de Sebastião Sobreira de Carvalho. Filhos:

a) Sebastião Newton Sobreira, engenheiro, casado com EloahMoss. Filhos:

a. Elton e
b. Roberto.

b) João Carlos Sobreira, arquiteto, casado com Maria Izabel Figueiredo, filha de Jáder Figueiredo e Lígia Magalhães. Filhos:

a. Izabela,
b. Rafael e
c. Paula.

7. Maria Judith (Juju), casada com José Mendes Sobrinho. Filhos:
a) Maria Alice, casada com Jamir Atalah Haum. Filhos:
a. Eurides,
b. Jamir,
c. Frederico.

b) Maria Angelina, casada com Geraldo Luiz Maia filho de Gasparino Maia e Maria de Lourdes Durães Brant. Filhos:
a. Geraldo Luiz
b. Maria de Lourdes,
c. Valéria,
d. Raquel e
e. Vítor.

c) José Quintiliano, casado com Eliane.
8. Maria Alice (Alicinha), casada com Domingos Campos. Sem filhos.

9. Maria Geraldina, 2• ª esposa de Hildebrando Cunha. Filhos:
a) Tereza, casada com Álvaro Ferreira Júnior. Filhos:
a. Álvaro Ferreira Neto,
b. Rodrigo e
c. Bernardo.

b) Francisco Antônio, casado com Leila Pimenta Cunha. Filhos:
a. Francisco Antônio,
b. Maria Luiza.
c) João Martins, casado com Bartira Silva. Filhos:
a. João Martins da Silva Maia e
b. Luiz Augusto.
d) Carmen Maia.

10. Maria de Lourdes (Mariquita), casada com Antônio Augusto
Oliveira. Filhos:
a) Almira, casada com Valter Brizola. Filhos:
a. Leonardo,
b. Maria Aparecida,
c. Armando e
d. Valter Júnior.

b) João Francisco, casado com Iolanda Mendonça. Filhos:
a. Analice,
b. Fabíola,
c. Andréia.

c) Maria do Carmo, casada com Francisco Perpétuo. Filhos:
a. Lisa e
b. André.
d) Elza, casada com Antônio Marliére. Filhos:
a. Erick,
b. lgor.
e) Antônio Augusto, casado com Disse Monção. Sem filhos.

Dados a serem mais bem distribuídos
no Esboço da Biografia

A Fábrica do Cedro

A fábrica do Cedro foi organizada devido à disposição da lei provincial de n.° 2389, de 13 de outubro de 1877, que prometia garantia de juros até 7 % sobre o capital não excedente a 250:000$000, para a fundação de uma fábrica de tecidos na Freguesia de Montes Claros. Reuniram-se alguns capitalistas, Manoel e Donato Rodrigues, dois irmãos fazendeiros no município de Grão Mogol, que entraram com a maior quantia, quarenta e tantos contos de réis, cada, Antônio Narciso Soares, com 15:000$000, Ângelo de Quadros Bittencourt e Gregório José Velloso e alguns sócios menores, projetando conseguir o capital de 150:000$000 e mais 100:000$000 por empréstimo, a juros módicos. Organizada a sociedade sob a firma Rodrigues, Soares, Bittencourt, Velloso e Cia., em 1880, partiu para os Estados Unidos Antônio Tito Prates a fim de adquirir, para a nova firma, o maquinismo necessário. Este, ao chegar, foi embarcado em Sabará, desceu o rio das Velhas em ajoujos, chegando ao porto de Extrema, no rio São Francisco após uma viagem penosa, em que se perderam diversas peças e acessó rios. De Extrema, foi transportado a Montes Claros, em carros de bois, por Lucas pereira dos Anjos.

À fábrica começou a funcionar em 1882, dispondo de 72 teares americanos e ingleses, com 127 operários produzindo 30.000 metros de tecidos, por mês. Seu primeiro Diretor foi o tenente coronel Gregório José Velloso, mas a fábrica não produzia os resulta dos esperados. De princípio, não conseguiram completar o capital projetado, mas apenas 147:600$000, do subscrito. Os restantes 100.000$000 foram sendo tomados a juros elevados e o Governo da Província jamais pagou os Juros prometidos.

25 de julho de 1889 — Incendeia-se, às 4 horas da madrugada, segundo as “Efemérides Mineiras,” a fábrica filiatória de tecidos do Cedro, do distrito da cidade de Montes Claros, pertencente à firma Rodrigues, Soares, Bittencourt, Velloso & Cia., dando um prejuízo de cerca de ....... 200:000$000.

Deu-se como causa do sinistro haver o empregado do esta belecimento, de nome Alexandre, encarregado de tocar o sino ao alvorecer, antes das cinco horas, riscado um fósforo a fim de ver as horas no relógio da fábrica e ter atirado este mesmo fósforo, ainda aceso, ao chão; comunicou-se então o fogo a vários resíduos de algodão, propagando-se dali à casa das máquinas, ficando muitas delas danificadas, enquanto outras eram completamente destruídas. Alexandre, impressionado com o acidente, teria ficado perturbado das faculdades mentais, passando a viver Isolado nas proximidades do Morrinho.

Após o incêndio, época em que era Diretor o coronel Ângelo do Quadros Bittencourt, partiram, rumo aos Estados Unidos, Flaminio Rodrigues Prates e o maquinista da fábrica, o inglês James Nicholson, para a aquisição de novas máquinas e peças que substituíssem as que foram destruídas. Compraram-nas na mesma casa que havia vendido o maquinismo primitivo. Custaram 108.103 dó lares que, ao par, correspondiam a 36:320$000. Foi seguido ainda o mesmo itinerário, perdendo-se ainda várias peças. A situação da fábrica piorava dia a dia.

Logo após o incêndio, a 5 de outubro de 1890, dava-se o fale cimento de um dos sócios da firma Antônio Narciso Soares; pouco depois, a 9 de março de 1892, falecia também o antigo Diretor Ângelo de Quadros Bittencourt. Afinal, por falta de orientação, parou a fábrica.

Em 17 de fevereiro de 1902 - É lavrado no cartório do 1º Tabelião de Notas de Belo Horizonte o contrato de arrendamento da fábrica de tecidos do Cedro, pertencente à firma Rodrigues, Soares, Bittencourt, Velloso & Cia, a João Martins da Silva Maia e Juvêncio Silva, que formariam a firma Silva, Maia & Cia, pela quan tia de 126:000$000.

A 25 de junho de 1909 dissolvia-se esta sociedade, com a retirada de Juvêncio Silva ficando só João Maia como arrendatário, com a firma Silva Maia. Mas, naquele ano, era a fábrica do Cedro levada à praça, sendo arrematada pela quantia de 60:000$000, pela Companhia Cedro e Cachoeira, dos Mascarenhas. O coronel Francisco Ribeiro dos Santos adquiriu-a de sociedade com o coronel João Martins da Silva Maia, comprando-a por 90:000$000 à Companhia Cedro e Cachoeira.

Em 1912, o Coronel Francisco Ribeiro dos Santos mudou-se para Montes Claros adquirindo, de sociedade com o Coronel João Martins da Silva Maia, a fábrica de fiação e tecidos do Cedro, da firma Cia Cedro de Cachoeira. Em 1914, adquiriu a parte do sócio Maia, fiando como único proprietário, até associar-se à fábrica de Tecidos da firma Costa & Cia. passando a girar sob a razão social de Ribeiro & Costa.

Na povoação do Cedro existiu uma agência postal e uma escola primaria mistas mantidas pela Câmara de Montes Claros.

O Lugar foi descrito no Annuario de Minas Geraes: Estatistica, Historia, Chorographia, Finanças, Variedades, Biographia, Literatura e Indicações (MG) - 1906 a 1913 como “O lugar é pitoresco, cercado de serras e de frondosa vegetação, no vale ocidental do rio Cedro, cujos terrenos ainda são bons para cultura”

“O prédio em que funciona a fábrica e o melhor possível, sendo do tado de todas as condições higiênicas.”

“Ha uma bela queda d’agua (cascata) no pov. do Cedro, e que move a Fábrica de banhas e conservas de carne de porco, aí instalada em 1912 pelo cit. industrial sr. João Martins da Silva Maia.”

“Produz tecidos crus, lisos e entrançados, com a média de 30.000 metros por mês.”

“Ocupa a fábrica 27 homens, 14 meninos, 31 meninas e 55 mulhe res, num total de 127 operários, cujos ordenados variam em $800, 1$000 e 3$000 diários.”

Em 1914, era a parte do sócio João Martins da Silva Maia adquirida por 114:000$000 pelo coronel Francisco Ribeiro dos Santos, que se tornou assim o único proprietário.

Com o falecimento do coronel Francisco Ribeiro, a 10 de de zembro de 1923, sua viúva, dona Luisa de Magalhães Santos, que a herdara, vendeu-a ao coronel Luiz Antônio Pires e Jayme Rebello, que organizaram uma sociedade, formando a firma Pires, Rebelo. Com pouco, Jayme vendia a sua parte ao sócio Luiz Pires, que tor nava o único dono. Com a venda da fábrica de tecidos da cidade, pertencente a firma Costa & Cia, ao coronel Luiz Pires este transportou para a cidade antiga fábrica do Cedro, fundindo as duas cidades em uma só, com o nome de Fábrica Santa Helena, passando a funcionar o conjunto das duas fábricas, no mesmo prédio em que se achava a da cidade, à avenida da Estrela, hoje Coronel Prates.

Tempos depois, o coronel Luiz Pires vendeu a fábrica Santa Helena ao seu cunhado, Dr. Plinio Ribeiro dos Santos. Este, após certo tempo na direção do referido estabelecimento fabril, vendeu-o ao sobrinho, engenheiro Simeão Ribeiro Pires, que é atual proprietário.

Costa & Cia que fundiu com a Cedro em
1913 set 17 - É assentada a pedra fundamental do edifício da fábrica de tecidos da firma Costa & Cia., na avenida da Estrela, hoje Coronel Prates, na cidade de Montes Claros. A edificação esteve sob a direção de Antônio Mendes Campêlo e a fábrica seria inaugurada no dia 7 de junho de 1915.

1915 jun 07 - Inaugura-se a fábrica de tecidos da firma Costa & Cia., à avenida da Estreia, hoje Coronel Prates, na cidade de Montes Claros, pertencente a uma sociedade composta do coronel Joaquim José Costa, engenheiro José Antônio da Costa Júnior, Deputado Camilo Philinto Prates, Capitão João Cattoni Pereira da Costa, João Ribeiro da Silva e Antônio Mendes Campelo, que foi o construtor do prédio da fábrica e dirigiu o assentamento de todo o maquinismo e era o gerente técnico das oficinas e máquinas. O funcionamento da foi iniciado com 40 teares e 1.552 fusos. 1917 fev 25 - Falece, na fazenda dos Algodões, Vila Paraopeba, Minas, Antônio Mendes Campelo, aos 52 anos de idade. Foi ele o construtor do prédio da fábrica à avenida Estréia, pertencente a Costa & Cia., na cidade de Montes Claros, e quem dirigiu o assenta mento de todo rnaquinismo, sendo o gerente técnico das oficinas e máquinas.

1918 jan 03 – Falece o coronel Joaquim José Costa. Nasceu em São Pedro do Fanado, Minas, a 2 de novembro de 1862, filho do coronel José Antônio da Costa e dona Maria Josefina Costa. Vindo a Montes Claros em 1898, casou-se nesta cidade com dona Maria Luísa Prates, a 28 de setembro daquele ano, indo residir em Santa Maria, de onde se transferiu definitivamente para Montes Claros no ano de 1900. Ingressando na política, foi eleito vereador e Vice-Presidente da Câmara Municipal de Montes Claros, tendo assumido repetidas vezes a chefia do executivo, na ausência do en tão Presidente, no quatriênio iniciado em 1912 e prorrogado por mais um ano. Durante a sua gestão praticou vários atos de benefício ao município, como a anulação de um empréstimo a ele onerosíssimo, a confecção de poços tubulares com bombas acionadas a vento, para chafarizes públicos, tendo iniciado o serviço telefônico na cidade, que inugurou. Promoveu entendimentos com o coronel Francisco Ribeiro dos Santos, proprietário da fábrica do Cedro, para iluminação da cidade a luz elétrica, serviço que foi inaugu rado a 20 de janeiro de 1917, no princípio da administração do seu sucessor. Sócio da firma Costa, Dias, Spyer e Cia., construtora de trechos de estrada de ferro e das firmas Costa & Cia. e Ribeiro & Costa, indústria de tecidos, foi um homem empreendedor, honesto, de espírito dinâmico, destacado animador do progresso de Montes Claros.

Xxxx .... Com pouco, Jayme vendia a sua parte ao sócio Luiz Pires, Quê tornava o único dono. Com a venda da fábrica de tecidos da cidade, pertencente a firma Costa & Cia,. ao coronel Luiz Pires este transportou para a cidade antiga fábrica do Cedro, fundindo as duas cidades em uma só, com o nome de Fábrica Santa Helena, passando a funcionar o conjunto das duas fábricas, no mesmo prédio em que se achava a da cidade, à avenida da Estrela, hoje Coronel Prates. Tempos depois, o coronel Luiz Pires vendeu a fábrica Santa Helena ao seu cunhado, Dr. Plinio Ribeiro dos Santos. Este, após certo tempo na direção do referido estabelecimento fa bril, vendeu-o ao sobrinho, engenheiro Simeão Ribeiro Pires, que é atual proprietário.

1923 dez 10 - Falece, repentinamente, o coronel Francisco Ribeiro dos Santos. Nasceu em oração de Jesus, a 25 de setembro de 1873, filho do major Simeão Ribeiro dos Santos e dona Deolinda da Silva Santos. Seguindo, com seus pais, para o Jequitai, ali frequentou a escola do Professor Antônio Orsini de Castro. Matriculando-se na Escola Normal de Montes Claros, diplomou-se em 1890. Exerceu o magistério em Morro da Garça, distrito de Curve lo, ocasião em que foi eleito vereador à Câmara Municipal da referida comunidade mineira. Transferindo-se para Montes Claros, foi nomeado professor primário em Boi de Carro, nos arredores desta cidade, permutando logo em seguida a Cadeira com a do Professor Ezequias Teixeira Guimarães, que lecionava no distrito de Coração de Jesus. Ali contraiu núpcias com dona Luisa de Magalhães San tos, a 9 de maio de 1896, continuando como professor no Barreiro.
Sendo suprimida a Cadeira, que era do sexo masculino, por falta de frequência, foi o Professor Francisco Ribeiro transferido, a 29 de outubro de 1897, para o distrito de Sapé. Tudo leva a crer que, naquela ocasião, abandonou o magistério para dedicar-se ao comércio, estabelecendo-se em sua terra natal, onde também foi fazendeiro. Elegeu-se vereador à primeira Câmara Municipal de Vila Inconfidência, de que foi o primeiro Presidente, instalada a 1.º de junho de 1912. Neste mesmo ano, a 31 de julho, mudava-se para Montes Claros, por ter adquirido, de sociedade com o coronel João Martins da Silva Maia, a fábrica de fiação e tecelagem do Cedro, por compra à Companhia Cedro e Cachoeira. Em 1914 adquiriu a parte do sócio, coronel Maia, tornando-se único proprietário do referido estabelecimento fabril. Pouco depois, entrava como sócio da fábrica de tecidos da cidade da firma Costa & Cia., que passou a girar sob a razão social de Ribeiro & Costa.

Foi ele o idealizador e fundador da primeira usina para fornecimento de luz elétrica à cidade de Montes Claros, cuja inaugu ração se realizou com pleno êxito, às 20 horas do dia 20 de janeiro de 1917.

Não aceitou mais qualquer cargo público ou de outra espécie, a não ser o de Vice-Presidente do P. R. M., de Montes Claros, por solicitação do seu amigo Dr. Raul Soares de Moura.

Instalou, também, com mais três sócios - José Ribeiro de Andrade, Pedro de Araújo Abreu e Luís Celeste de Araújo. a luz elétrica de Coração de Jesus.

Fazendeiro e criador, incentivou a pecuária e a indústria do algodão, incrementando e auxiliando a montagem, em várias zonas, de diversas usinas beneficiadoras do produto.

1927 dez 26 - Falece Alfredo Ribeiro, aos 37 anos de idade. Era empregado de categoria na fábrica de tecidos Costa & Filhos, de Montes Claros.

1940 dez 30 - Falece, em Belo Horizonte, o coronel Luiz Antônio Pires. Nasceu em Chaves, Portugal, a 30 de novembro de 1887, filho de Francisco Pires de Morais e dona Maria Joaquina de Abreu. Vindo para o Brasil, quando contava apenas 13 anos de idade, enquanto trabalhava em casa comercial do Rio de Janeiro, estudava na Associação Cristã dos Moços. No ano de 1913, já interessado na casa em que trabalhava, tendo ali passado pelos postos de maior confiança, começou a viajar para a mesma fixando depois residência em Coração de Jesus, onde contraiu matrimônio com dona Maria Ribeiro Pires. Ali dedicou-se ao comércio, foi fazendeiro, tendo ocupado vários postos de confiança e da eleição, tais como o de Juiz de Paz e de vereador à Câmara Municipal daquela comuna, da qual foi Presidente e Agente Executivo. Transferiu a sua residência para Montes Claros, em 1922, já como sócio da fábrica de tecidos do Cedro, que até então pertencia exclusivamente ao seu cunhado, coronel Francisco Ribeiro dos Santos. Com o falecimento deste, a 10 de dezembro de 1923, o coronel Luiz Pires adquiriu a fábrica do Cedro, de sociedade com o seu conterrâneo Jayme Rebello, por compra à viúva do coronel Francisco Ribeiro, organizando a firma Pires & Rebelio. Comprando, porém, logo depois, a parte do sócio, ficou o coronel Luiz Pires como único proprietário da referida fábrica que contava, na ocasião, com cerca de 300 operários.
Adquirindo, logo em seguida, o serviço de iluminação elétrica, re formou-o inteiramente, instalando três usinas hidroelétricas, ele vando bastante o potencial primitivo, para o que teve de comprar vastas áreas de terrenos, à margem do córrego do Cedro. Por essa
ocasião, adquiriu também a usina elétrica de Inconfidência. Com prando depois a fábrica de tecidos da cidade de Montes Claros, da firma Costa & Cia., transferiu para aqui o maquinismo da fábrica do Cedro, unificando as duas com a denominação de Fábrica Santa Helena, que vendeu, posteriormente, ao seu cunhado Dr. Plínio Ribeiro dos Santos.

Instalou várias pequenas indústrias nesta cidade, tais como torrefação de café, fábrica de gêlo, de beneficiamento de arroz e de algodão, indústrias feculárias, etc.

Fazendeiro e criador, muito trabalhou para o desenvolvimento da pecuária no município de Montes Claros. Construiu vários edifícios nesta cidade, entre os quais, o do Hotel São Luiz, localizado na praça Dr. Carlos, fazendo esquina com a rua Dr. Santos.

Fábrica de manteiga “Cascata” (Não seria fábrica de Banha, no lugar de manteiga?)

Em 04 de março de 1917- Inaugura-se a fábrica de manteiga “Cascata”, de propriedade do coronel João Martins da Silva Maia, na fazenda do Cedro. É a primeira fábrica de manteiga organizada, montada no município de Montes Claros. O maquinário para instalação desta fábrica de manteiga e de banha, foi adquirido pelo Coronel Maia na Argentina.

O Lugar foi descrito no Annuario de Minas Geraes: Estatistica, Historia, Chorographia, Finanças, Variedades, Biographia, Literatura e Indicações (MG) - 1906 a 1913 como - Referindo-se a nova Fábrica de banhas anexa á Tecelagem do Cedro, escrevia o “Diário de Notícias” desta Capital, em outubro de 1908, sob a epígrafe -Uma indústria nova:

“Está sendo montada em Montes Claros uma grande fabrica---A Charcuteria Maia - para preparar presuntos. paios, sala mes, salsichas, carnes liquidas, charque em salmoura e seco, toucinho em salmoura e refinação de banha

Anexa à fábrica haverá uma secção para fabrico de latas, sendo a folha estampada a três cores e importada da Inglaterra.

Outra secção importante destina-se a confecção de barris para a exportação dos produtos conservados em salmoura.

Já se acham naquela cidade os maquinários necessários, compra dos a Robert. L. Keer, Manchester e W. R. Bland & Comp., de Londres, estando encomendadas da Alemanha outras máquinas apropria das, e todas serão movidas a forca hidráulica e a vapor.

Nenhuma fábrica dessa natureza, das que existem no Brasil, possui maquinários tão perfeitos, nem de instalação tão completa.

0 sr. Silva Maia, seu proprietário, percorreu os Estados do Sul, visitando as fabricas que ali existem e esteve longo tempo no Uruguay e na Argentina, estudando praticamente essa importante indústria.

Já foi requerida isenção de impostos, por 5 anos, de acordo com o §5º, do art. 24 do Regulamento n. 2.119 A, de 1907 (lei 469).

Como se vê, trata se de um melhoramento de importância extraordinária, que constitui uma das fontes, senão a principal fonte de rendas, de muitos países.

É uma indústria que acarreta outras anexas, influindo sobre a melhoria e o desenvolvimento da criação de gado suíno e vacum, o curtume de couros, o fabrico de sabão para aproveitamento de resíduos, etc..”

Estrada ligando a cidade de Montes Claros ao porto de Maria da Cruz

26 de outubro de 1929 - Pelo decreto nº 9194, é concedido ao coronel João Martins da Silva Maia o privilégio de tráfego por 25 anos e subvenção quilométrica para construção, uso e gôzo de uma estrada de automóveis ligando a cidade de Montes Claros ao porto de Maria da Cruz, no rio São Francisco.

Banco Popular de Montes Claros
Em 5 de junho 1927 - Realiza-se uma reunião para a fundação do Banco Popular de Montes Claros, o que foi concretizado. Procedendo-se à eleição para a formação de sua Diretoria, foram eleitos Diretores, João Martins da Silva Maia, Jayme Rebelo e Cíce ro Pereira.

Em 30 de julho 1927 - Instalado na esquina da rua Simeão Ribeiro com a rua Coração de Jesus, hoje Governador Valadares, no prédio nº 66, é solenemente inaugurado o Banco Popular de Montes Claros. Pouco depois do meio-dia, S. Exe. Revma. Dom João Antônio Pimenta, papa Diocesano, acolitado pelo Revmo., padre José Dias de Freitas, procedeu à benção das instalações, realizan do-se em seguida a inauguração. O Banco Popular de Montes Claros representa o resultado da organização de uma sociedade anônima, realizada por meio de ações, tendo a direção do coronel João Martins da Silva Maia.

Prefeito Municipal – Montes Claros 1932-1933
06 de fevereiro de 1932 - A “Gazeta do Norte” desta data publica os nomes dos membros do Conselho Consultivo da Prefeitura Municipal de Montes Claros, nomeados pelo Governo do Estado: Filomeno Ribeiro dos Santos, João Martins da Silva Maia, Mário Versiani Veloso, Deraldo Calixto de Carvalho e Carlos Pereira dos Santos.


TÉO

Você foi embora
A tristeza ficou.
Como disse Dário Cotrim:
“Talvez onde Téo está
Deus necessite mais dele”
Se lá faltam cordelista,
Um repentista ou violeiro
Téo é o primeiro.
Com a partida dele,
Eu aceitei a vontade de Deus
Pois se ele sobrevivesse,
Teria apenas uma sobrevida.
Não andaria,
Nem teria a cabeça funcionando

Não cantaria,
Não faria mais o cordel.
Não comporia música,
De nada mais lembraria.
O homem material
O home espiritual
O homem iluminado
Não mais existiriam.
Só uma pálida sombra
Teimaria em existir.
Apagando aquele que foi outrora,
O poeta, o cordelista.
O cantor e o violeiro.
Não! Desta forma não quero vê-lo!


Téo e Lola


MONTES CLAROS E A
TELEVISÃO DO PASSADO

Em 1959, em uma viagem a Belo Horizonte, aos quatro anos vi, pela primeira vez, na recepção do hotel, uma imagem de televisão. Aquela caixa de madeira, com pernas finas, causou-me impacto e encantamento. Personagens de desenho anima do corriam pela tela, feito mágica.

Em 1961, a minha família mudou-se para o centro de Montes Claros à Rua Carlos Gomes. Ao lado do Banco do Brasil, cuja lateral ficava em frente ao prédio onde morávamos, havia dois apartamentos. Ali residiam funcionários do Banco do Brasil que vinham de outra cidade. Meu irmão Helder e eu visitávamos esses vizinhos. Lembro-me da menina Ana Lívia e de um aparelho de televisão na sala, que eu pedia para ela ligar para eu ver os chuviscos.

Um funcionário do Banco do Brasil, transferido para cá, cap tou com seu televisor, na parte alta na região do Pentáurea Clube, imagens em preto e branco, e sons fugidios, então, técnicos foram verificar e confirmaram as informações. Como o sinal era fraco, seria necessário potencializá-lo através de uma torre repetidora, para levar o sinal gerado pela TV Itacolomy, canal 4 de Belo Horizonte, para adiante, até chegar à cidade. Cada torre podia enviar apenas um canal. Por óbvio, não havia satélite nem antena para bólica.

O processo de repetição exige uma torre de metal de 40m sobre um ponto alto, onde já se capta imagens razoáveis e sons vindos de uma fonte distante. Uma antena comum, no topo desse artefato, capta o sinal e o envia a um aparelho retransmissor loca lizado na base da estrutura metálica. Este é amplificado pelo aparelho e reenviado para outra antena na mesma torre. Esta segunda antena passa o sinal adiante, conseguindo avançar e alcançar ou tras torres e assim, sucessivamente, até 50 km de distância, po rém, a cada avanço, a imagem e o som vão perdendo a qualidade.

Comerciantes interessados em levar a televisão até a cidade, tendo Toninho Rebello no comando, compraram 200 televisores e os venderam aos montes-clarenses. José Geraldo Mendonça, Tio Zé, faria a torre, por isso comprou e incentivou meu pai a também comprar um aparelho de televisão, e assim ele fez. Enquanto isso, o grupo contratou Albano Grassi, um italiano técnico de te levisão dos Diários Associados, para projetar, construir e instalar o retransmissor. A torre, instalada sobre o morro com sinais te levisivos, tinha a altura explicitada e na sua base, dentro de uma casinhola, foi colocado um retransmissor a válvula de 75 watts, no canal nove. As frequências de recepção e transmissão precisam ser distintas.

Nas distâncias seguintes, outras torres repetidoras potencia lizavam o sinal. Em Montes Claros, houve época em que havia três estruturas metálicas sobre morros com acesso difícil, cujos topos eram alcançados a pé, em trilhas. Qualquer oscilação de energia elétrica ou chuva, fazia sumir o sinal, e as imagens precárias e som com ruídos, que iam e vinham, sumiam de vez, dando lugar aos chuviscos. Isso era comum, em especial na noite de transmitir oúltimo capítulo da novela, coisa que parecia premeditada.

“Às 16 horas do dia 11 de setembro de 1964 os primeiros sinais da TV Itacolomy foram retransmitidos para a população montes-clarense, com uma qualidade inferior à expectativa, gerando decepção.” – Edes Barbosa – montesclaros.com.

A programação atraía pela novidade, e incluía novelas ao vivo, noticiário, humor, programas de auditório e desenhos. Funcionava de forma precária, apenas à noite, mas era bom, e nos trouxe boa diversão.


PIZZARIA PAPAULA

Eu sempre a achei a mais rica de todas. Se de fato era, não sei. Sua fachada, com uma escadaria na frente, coberta por um toldo vermelho e branco, encantava-me. Não era um ambiente que frequentávamos com frequência. A sua cozinha, para nós, somente em dias especiais. Eu não tinha noção de valores nem nada. Era um menino dos anos oitenta em Montes Claros. Meus pais é que me levavam, e eu só ia. Mas como amava estar ali, mais pelo playground que pela comida. Hum, mas quando a comida chegava! Ah, que delícia de pizza!

Lembro-me de que minha madrinha, que hoje brilha em alguma estrela, quis ir comemorar seu aniversário lá. Fomos. Obvia mente havia outros pratos. Não me lembro qual foi o prato principal, mas sei que eu e a molecada comemos pizza. Papaula! Nunca me atentei para o significado do nome quando menino. Para mim, era só um nome. Depois de já grandinho e capaz de perceber as formações gráficas, eu li lá o nome de uma mulher, Paula. E, por um instante, até imaginei quem seria a musa das pizzas. Quem foi a receita inspiradora para aquele nome de encanto. E, surpreen dam, somente agora quando esta crônica se traça, é que soube de Paula Pádua.

A Papaula me era monumental com mesas espalhadas na parte de baixo e preenchendo a superior de cima. Pizzaria de esquina da avenida famosa pelo rio que virou esgoto. A Sanitária era assim e até então chamada. Uma avenida alvo de destino de passeios e entretenimentos. E, principalmente, uma avenida de bares e restaurantes tradicionais.

Papaula! esse nome reverbera na memória de muitos saudosistas. Restaurante distante, apenas para momentos especiais.

Não sei por que, mas assim permaneceu para mim até depois de formado e casado. Vamos à Papaula? Opa, era uma ocasião especial: bodas de trigo. E quanta simbologia traz esse alimento, ingre diente básico para qual prato? Pizza! E foi assim, numa noite de dezembro, minha esposa e eu fomos à Papaula. A escolha do sabor deveria ser diferenciada, especial, uma de camarão. E foi lá que a primeira pizza de camarão da minha vida sentiu o meu paladar. E que delícia de sabor. Um gosto gostoso de momento perpetuado na memória. Ao pagar a conta, o garçom só se esqueceu de avisar que seria a última. Se sabia ou não, não sei. Mas sei que aquela pizza cujo sabor sinto agora foi a última que saciou o último mo mento sob o teto da Pizzaria Papaula.

Tempos depois, numa manhã, quando ia para o trabalho, surpreendo-me com uma máquina destruindo aquele mundo de décadas de histórias. Paralisado ali diante fiquei. Uma força-inércia me voltava no tempo. Naquele sem acreditar e naquele por quê! Assim, subitamente, tudo acabado. A Papaula de meus olhos enchidos de brilho, agora um espaço vazio de terreno. O letreiro em destaque nunca mais. O forno queimando a massa só no aroma da lembrança. E a canção de uma montes bares claros cada vez mais perdendo um verso para a vida. E assim seguem os acordes a nos tocar em sua melodia.


TRIBUTO AO GRUPO ALMA O GRUPO ALMA

foi criado há mais de 15 anos e tinha como missão dar vida ao COMPORARTE. A cada edição o grupo era renovado, para que novos alunos tivessem a mesma oportunidade que outros tiveram. O grupo era extremamente heterogêneo, tanto na faixa etária como no aspecto cognitivo. Entre os membros do grupo havia vários alunos que acumulavam em sua vida escolar histórias de fracasso e que hoje protagonizam uma vida de sucesso acadêmico e social. O GRUPO ALMA nos deu exemplo de que a educação séria, feita com amor, dedicação e res peito é a solução para alcançarmos nossa autonomia intelectual e moral.

O GRUPO ALMA com o PROJETO POESIA VIVA – SEMEANDO PAZ existiu por mais de uma década e sempre esteve sob a coorde nação da professora, escritora e atriz Dóris Araújo, que, até o ano de 2015, prestava serviços educacionais na Biblioteca Escolar Dr. Hermes de Paula, da Escola Estadual Vereador Francisco Tófani, localizada no bairro Roxo Verde, onde desenvolvia brilhante tra balho de incentivo à leitura e outras artes.

A poeta desenvolveu uma metodologia muito especial. Durante todo o ano, uma vez por semana, os alunos selecionados para participarem do recital poético, que marcava a culminância do projeto nos últimos meses do ano letivo, reuniam-se com ela para repassarem os poemas que seriam apresentados no palco. Além do repasse dos poemas, era realizada uma roda de conversa, onde tratavam de vários assuntos, envolvendo literatura e vida. Nesses momentos, os alunos tinham a oportunidade de abrir o coração e de receberem o afago da educadora e poeta.

O GRUPO ALMA, com o PROJETO ARTE DO CUIDAR – POE SIA VIVA SEMEANDO PAZ tinha vários objetivos, dentre eles: despertar o gosto dos alunos e alunas pelos mais diversos gêneros literários, pela arte de recitar poemas, pela audição e interpretação musical, pela dança, pela cultura popular, pela valorização da arte e dos artistas regionais; fazendo com que os autores se tornas sem conhecidos ou mais conhecidos no meio do povo em geral, principalmente entre os jovens da nossa cidade; tinha também, como objetivo, motivar os alunos em sua autoestima, fazendo-os libertarem-se da timidez, para que pudessem ocupar seu espaço na sociedade.

Até o dia 20 de outubro de 2015, o GRUPO ALMA foi um grupo exclusivo da Escola Estadual Vereador Francisco Tófani; sendo que durante as várias edições do projeto A ARTE DO CUIDAR – POESIA VIVA SEMEANDO PAZ, nas oito edições do COMPORARTE, a poeta Dóris Araújo adotou como prioridade homenagear nossos escritores, sobretudo os poetas, sendo alguns em vida e outros em memória. Como exemplo, podemos citar os homenageados em várias edições: Ildeu Braúna, Dário Cotrim, Yvonne Silveira, Olyntho Silveira, José Prudêncio de Macedo, Zoraide Guerra David, Wanderlino Arruda, Marijô Rodrigues, Karla Celene Campos, Mirian Carvalho, Antônio Felix da Silva, Glorinha Mameluque, Mary Lélis, Lúcia Becattini, Amelina Chaves, Domingos Diniz (barranqueiro de Pirapora, que residiu em Belo Horizonte, ex-presidente da Comissão Mineira de Folclore e professor emérito da Escola Guignard - UEMG , onde lecionava a disciplina de Folclore), Cândido Canela, João Chaves, João Valle Mauricio, Patrício Guerra, Waldir de Pinho Veloso, Maria Celestina de Almeida, Petrônio Brás, Edson Andrade, Aroldo Pereira, Téo Azevedo, entre outros.

Em 2015 na oitava edição do COMPORARTE, momento em que nossa poeta/professora se preparava para encerrar sua carreira como profissional da educação ela escolheu como homena geado, aquele que representava muito bem nossa região, por que não dizer o nosso Brasil, o poeta cantador Téo Azevedo.

A ideia de fazer esta justa homenagem ao poeta cantador Téo Azevedo nasceu a partir do contato feito durante as gravações dos poemas musicados de João Chaves e amadureceu durante encontro do poeta com alunos do Colégio Marista São José, em 2014, quando foi entrevistado pelas turmas de alunos, com o objetivo de enriquecer o aprendizado sobre Cultura Popular que estudavam na disciplina Educação Patrimonial, por mim lecionada. Assim, iniciamos uma longa pesquisa sobre a vida e obra do poeta cantador Téo Azevedo. Reunimos poemas, causos, vídeos que ilustravam sua trajetória profissional, conversamos com o poeta, com amigos dele e familiares. Depois dessa longa investigação, apresentamos o projeto para professores e alunos da Escola Estadual Vereador Francisco Tófani, fato que deixou todos hipersensibilizados e motivados. Todos vibravam para chegar o dia da homenagem. Sonha vam conhecer aquele por nós cantado e exaltado em verso e prosa.

Mesmo sendo a educação sinônimo de libertação, infelizmente, ainda carece de recursos para os projetos extracurricula res. Na ocasião, não podendo contar com a ajuda financeira dos órgãos competentes, a unidade de ensino e a poeta, com todas as dificuldades possíveis, por uma questão de honra, não mediram esforços para levarem o grupo de alunos para o palco. Para que isso acontecesse, realizaram sorteio de prendas doadas, bazar de pechinha e outras promoções, sempre conseguindo recursos minguados, mas que se tornavam grandiosos, pelo entusiasmo dos alunos, que sonhavam subir ao palco.

O VIII COMPORARTE, como as edições anteriores, foi agendado para ser realizado no auditório do Centro Cultural, fruto de árduo trabalho da nossa poeta Dóris Araújo, que sempre contou com o apoio dos dirigentes dessa casa de cultura. Apoiada pela equipe de educadores e familiares dos alunos da escola, conforme a maratona já descrita, foi preparado o grande evento, que, mais que um recital seria o coroamento de uma longa caminhada.

O evento foi marcado para o dia 20 de outubro de 2015, 3ª feira, as 19 horas, no Centro Cultural Hermes de Paula, no palco do auditório Cândido Canela.

Não teria lugar mais apropriado para realizar o encerramento de uma trajetória profissional tão bonita e uma homena gem tão especial. Melhor explicar. Foi Centro Cultural Hermes de Paula que nossa poeta iniciou profissionalmente, sua trajetória artística, participando da primeira montagem da peça “A Formiga que queria ser cidade e virou Princesa”, peça de autoria do talento so jornalista Reginauro Silva e dirigida por Eduardo Brasil. Diante disso, sem dúvida, o local era ideal para a realização da homena gem a Téo Azevedo, artista que ultrapassou os Montes Claros e foi fazer-se conhecido nos mais diversos pontos do Brasil e em outras partes do mundo, tendo sido agraciado com vários prêmios, dentre eles, o tão cobiçado Grammy Latino em 2013 com “Salve Gonzagão – 100 anos”, na categoria melhor álbum de raiz.

Parabéns, Dóris Araújo! pelo brilhante trabalho desenvol vido ao longo de todos esses anos! Pena que muitos perderam a oportunidade de ver o seu trabalho com os pré-adolescentes, pena
que muitos ainda acreditam que a arte que é produzida no inte rior dos muros das escolas é arte menor. Uma pena! Meus pêsa mes para aqueles que pensam assim, pois não sabem que muitos dos grandes atores, músicos e cantadores iniciaram suas carreiras vitoriosas em cima de caixotes, palcos improvisados, ou mesmo em feiras livres. As homenagens realizadas pela grande mídia têm seu valor, são importantes, mas muitas vezes querem na verdade é vender o artista como mais um produto de sua grade publicitária. Enquanto, as homenagens que nascem no meio do povo, principalmente nos espaços escolares, têm o sentido pedagógico de não deixar que “folhas, flores e frutos” esqueçam a importância dos troncos e das raízes que os sustentam.

Parabéns, Dóris Araújo!

Por onde passou você deixou rastros de luz. Você conseguiu contagiar as pessoas com sua arte.

O GRUPO ALMA fez sucesso. Fez história... E nos deixou boas lembranças, e muita saudade.

Viva o GRUPO ALMA! Viva o PROJETO ARTE DO CUIDAR – POESIA VIVA SEMEANDO PAZ. Que ele continue vivo na memória de cada um de nós!


Fotos do arquivo pessoal de Dóris Araújo


SABORES DO SERTÃO:
FRUTOS NATIVOS E O DESENVOLVIMENTO
DO INTERIOR DO BRASIL

O Cerrado é uma savana que cobre a maior parte do Brasil central sua característica principal é sua diversidade. Exerce um papel de extrema importância na ecologia e na hidrologia local, possui uma biodiversidade rica com uma variedade considerável de espécies endêmicas da fauna e da flora, abriga as nascentes dos rios das principais bacias hidrográficas. É uma das regiões mais ricas em biodiversidade do mundo.

A região Norte de Minas Gerais localiza-se na chamada “Calha do São Francisco”, onde o rio São Francisco percorre a região no sentido sul-norte. Ao longo de sua margem direita, encontra-se a cordilheira do Espinhaço (Serra Geral), enquanto à esquerda estende-se o planalto central. Essa área desempenha um papel vital tanto no contexto ambiental quanto no desenvolvimento econômico das regiões por onde passa, sendo um dos principais eixos de integração territorial do Brasil

A vegetação predominante no Cerrado é típica, adaptadas as condições edáfico -climáticas específicas, clima quente e seco, com chuvas concentradas em determinados períodos e solos em geral profundos. Caracterizada por espécies de troncos tortuosos, casca espessa, folhas ásperas e raízes profundas, resultantes de adaptações evolutivas. Entre os tipos de vegetação presentes, encontram-se o Cerrado stricto sensu, o cerradão, o cerrado ralo, os
campos de altitude, as veredas alagadas, as matas de galeria, além de resquícios de Caatinga e Mata Atlântica.

Destaca-se na região a presença de um tipo de floresta único denominado Mata Seca. Devido a essas características peculiares, alguns estudiosos sugerem que o Cerrado do norte de Minas Ge rais poderia ser classificado como um bioma distinto dentro do Cerrado.

A flora diversificada do bioma Cerrado é uma de suas características mais notáveis, cobrindo o solo com uma rica variedade de cores e formas que criam mosaicos multicoloridos distintos em cada paisagem. Destaca-se também a presença de um grande número de espécies frutíferas comestíveis, que fazem do Cerrado um ambiente propício para a sobrevivência de inúmeras espécies de fauna e para a subsistência dos habitantes locais desde tempos pré-históricos.

Estudos arqueológicos realizados nas cavernas do Parque da Lapa Grande, situado a 6 km do centro de Montes Claros, revelaram vestígios de antigos acampamentos humanos, incluindo sementes e cascas de pequi, baru, jatobá e outros frutos nativos, evidenciando o uso desses recursos pelos primeiros habitantes da região. Além disso, pinturas rupestres encontradas nas cavernas do vale do Peruaçu retratam espécies como o buriti, indicando que os frutos do Cerrado faziam parte da interação entre o homem primitivo e o meio ambiente. Esses recursos naturais eram utilizados na alimentação, na fabricação de materiais de construção, na me dicina tradicional e na confecção de utensílios, indicam estudos arqueológicos.

Quando os colonizadores avançaram rumo ao interior do Brasil, depararam-se com um ambiente repleto de desafios, mas igualmente dotado de recursos naturais indispensáveis para a sobrevivência. Distante das zonas costeiras, o clima seco e árido do sertão exigiu uma adaptação constante, levando os exploradores a desenvolver um profundo conhecimento do ecossistema local.

Apesar das limitações impostas pela aridez e pelo clima rigoroso, os recursos naturais do sertão foram essenciais para a subsistência e adaptação dos colonizadores. A exploração e ocupação dessas terras inóspitas ocorreram por meio da agricultura de subsistência, do extrativismo vegetal e da pecuária, aliados ao uso dos saberes indígenas. Essa interação com o meio ambiente moldou a cultura e a economia da região, transformando a vida dos colonos em uma constante luta pela sobrevivência em harmo nia com a natureza.

A ocupação do Cerrado no Norte de Minas Gerais teve início no século XVII, impulsionada pela criação extensiva de gado de corte para abastecer com carne as regiões mineradoras. A agricultura, voltada principalmente para a subsistência, incorporou práticas agrícolas indígenas, com o cultivo de espécies nativas como milho, mandioca e feijão. Os colonos também introduziram cultivares de origem africana, como o quiabo e o maxixe, que se adaptaram bem ao Brasil, além de espécies trazidas pelos portugueses, como a cana-de-açúcar e o arroz. A partir dos alimentos produzidos, desenvolveu-se uma cultura alimentar típica, com re ceitas e produtos confeccionados artesanalmente, como farinha, polvilho, rapadura, cachaça, doces e conservas, utilizando tanto a matéria-prima cultivada quanto frutos obtidos pelo extrativismo.

O modo de vida sertanejo, que se consolidou no interior do Brasil, resultou da miscigenação das culturas europeia, africana e indígena e do convívio estreito com o bioma Cerrado. A população tradicional do Norte de Minas estabeleceu-se sobretudo às margens dos rios e cursos d’água, próximo às serras, formando comunidades de agricultores familiares, extrativistas, vaqueiros, pescadores, além de quilombolas e indígenas remanescentes. Esses grupos preservam uma cultura rica e possuem um profundo conhecimento dos modos de convivência sustentável no ambiente do Cerrado, tornando-se guardiões de tradições e práticas adaptadas às particularidades da região.

O modo de vida no sertão brasileiro permaneceu praticamente inalterado desde a época colonial até meados do século XX. No entanto, nas décadas de 1950, 1960 e 1970, iniciou-se um pro cesso de industrialização acelerada, com a instalação de grandes parques industriais, sobretudo nas principais cidades e capitais das regiões Sudeste e Sul do país. Esse fenômeno gerou uma de manda crescente por mão de obra para suprir as necessidades das linhas de produção nas fábricas, desencadeando um intenso fluxo migratório da zona rural para os centros urbanos.

A migração do campo para as cidades foi motivada pela busca de melhores condições de vida e emprego, além das dificulda des impostas pelas secas severas que frequentemente assolam a região. Esse êxodo rural resultou em uma profunda transformação na dinâmica socioeconômica do Brasil. O fenômeno foi registrado pelo Censo Populacional do IBGE de 1970, que indicou, pela primeira vez, que a população urbana havia superado a população rural, marcando uma mudança significativa na estrutura demográfica do país.

As transformações decorrentes da industrialização impactaram profundamente a relação entre o homem e o meio ambiente, bem como o modelo socioeconômico de exploração dos recursos naturais na região do bioma Cerrado. A crescente demanda por alimentos para abastecer os grandes centros urbanos impulsionou uma mudança significativa nos métodos de produção agrícola. O sistema arcaico e de baixa produtividade herdado do período colonial foi gradualmente substituído pelo modelo da “Revolução Verde”, caracterizado pelo uso intensivo do solo, mecanização agrícola, aplicação de defensivos e fertilizantes químicos, além da implementação de modernos sistemas de irrigação.

Esse novo modelo agrícola gerou a necessidade de ampliar as áreas de cultivo, o que resultou na expansão da fronteira agrícola em busca de terras cultiváveis com características adequadas às novas tecnologias, como terrenos planos e cursos d’água com vazão suficiente para suportar sistemas de irrigação, especialmente o pivô central, amplamente utilizado. A introdução de tecnologias agrícolas, o melhoramento genético de cultivares adaptadas ao clima do Cerrado e a correção da acidez do solo transformaram a região em um ambiente propício para a agricultura em larga escala. Como consequência, vastas áreas de vegetação nativa foram suprimidas para dar lugar a monoculturas, principalmente de soja e eucalipto.

Esse processo colocou o Brasil em uma posição de liderança mundial na produção de commodities agrícolas, consolidando sua reputação como o “celeiro do mundo”. No entanto, o custo ambiental e social desse avanço foi elevado, envolvendo a perda significativa da biodiversidade, degradação dos recursos naturais, secamento de nascentes e impactos profundos nas comunidades tradicionais que habitam o Cerrado.

A implantação de grandes projetos de reflorestamento e a chegada de empreendimentos agropecuários empresariais intensificaram significativamente a pressão antrópica sobre o bioma Cerrado, agravando problemas sociais e ambientais. A mecanização das atividades agrícolas e florestais contribuiu para o aumento do êxodo rural, uma vez que a substituição da mão de obra tradicional reduziu as oportunidades de emprego no campo. Além disso, esse processo acarretou sérias consequências ambientais, como a degradação do solo, aumento da erosão, assoreamento dos rios e o secamento de nascentes e veredas.

A ocupação acelerada e desordenada do Cerrado resultou na drástica diminuição de áreas intactas do bioma. Atualmente, mais da metade de sua extensão encontra-se degradada ou antropiza da, gerando intensos debates sobre a necessidade de alternativas que conciliem o desenvolvimento local com a conservação dos recursos naturais.

A partir da década de 1990, impulsionados pelas discussões prévias à Conferência “Rio 92”, ocorreu uma mobilização da sociedade local. Pequenos produtores, extrativistas, órgãos ambientais, extensionistas, políticos, ONGs, universidades e centros de pesquisa iniciaram ciclos de debates com o objetivo de buscar soluções para os crescentes e complexos problemas ambientais, cujas consequências poderiam ser irreversíveis.

O pequizeiro foi escolhido como símbolo desse movimento de mobilização. A árvore, que possui características típicas das es pécies do Cerrado, produz frutos amplamente apreciados e que fazem parte da cultura e tradição local. Além disso, o pequizeiro é um importante indicador dos efeitos da interferência antrópica no ecossistema do Cerrado, representando a luta pela preservação do bioma e pela busca de um equilíbrio entre exploração econômica e conservação ambiental.

Neste contexto o estado de Minas Gerais foi vanguarda nas ações pela preservação do bioma Cerrado. Como resultado da mobilização social, foi aprovada pela Assembleia Legislativa de Minas Gerais a Lei nº 10.883, de 2 de outubro de 1992, que “Declara o Pequizeiro de interesse comum e imune de corte”. As discussões em torno da preservação e valorização dos frutos do Cerrado continuaram ao longo da década de 1990. Em 1998, na comunidade rural de Cabeceira do Mangaí, no município de Japonvar-MG, foi fundada a primeira cooperativa dedicada ao processamento de frutos do pequi, com apoio do SEBRAE, universidades e órgãos governamentais. A unidade começou a produzir polpa em conserva e outros derivados do fruto, marcando o início de uma cadeia pro dutiva estruturada.

Outro marco legal significativo foi a aprovação da Lei nº 13.965, de 27 de julho de 2001, conhecida como Lei Pró-Pequi. Esta legislação criou o Programa Mineiro de Incentivo ao Cultivo, Extração, Consumo, Comercialização e Transformação do Pequi e de outros frutos e produtos nativos do Cerrado, estabelecendo diretrizes para promover o uso sustentável desses recursos naturais no estado de Minas Gerais.

Na primeira década dos anos 2000, foram fundadas diversas cooperativas e associações de produtores em Montes Claros e em várias localidades do Norte de Minas Gerais, impulsionando a economia regional através do processamento de frutos nativos do Cerrado. Entre as principais iniciativas, destacam-se a Cooperativa Grande Sertão (Montes Claros), Cooperriachão (Mirabela), CoopSertão Veredas (Chapada Gaúcha), Cooperuaçu (Cônego Marinho), Coopanorte (São Francisco), Assusbac (Januária), Associação de Salto (Coração de Jesus), Associação de Água Doce (Bonito de Minas) e “Maria Fulô” (Buritizeiro). Essas cooperativas e associações se dedicam ao processamento de frutos do pequi e de ou tras espécies nativas, além de produtos oriundos da agricultura
familiar.

Apesar de estarem em diferentes estágios de desenvolvimento, essas organizações têm desempenhado um papel fundamental na geração de emprego e renda para as comunidades locais, beneficiando diretamente seus cooperados e associados. Estima-se que mais de 5.000 coletores extrativistas sejam favorecidos diretamente pela comercialização dos produtos coletados, contribuindo para o fortalecimento da economia regional e promovendo a sustentabilidade das comunidades tradicionais do Cerrado.

Em 2007, teve início a elaboração do Plano Nacional de Promoção das Cadeias de Produtos da Sociobiodiversidade, uma importante iniciativa destinada a promover a conservação e o uso sustentável da biodiversidade, além de fomentar alternativas de geração de renda para comunidades rurais. O plano buscou assegurar o acesso a políticas de crédito, assistência técnica, extensão rural, mercados, instrumentos de comercialização e à política de garantia de preços mínimos, conforme as diretrizes aprovadas em 2009. Nesse contexto, foram selecionadas 10 espécies prioritárias, com base em seu uso e produtos já consolidados no mercado, apresentando cadeias produtivas estabelecidas.

Como resultado, foi criada a Política de Garantia de Preço Mínimo dos Produtos da Sociobiodiversidade (PGPMBio) da Conab, que estabelece o preço mínimo a ser pago por diversos produtos originados da coleta extrativista.

Seguindo as diretrizes do plano, foram realizadas oficinas em regiões estratégicas para o manejo comercial dessas espécies. Montes Claros foi escolhida como referência da cadeia produtiva do pequi, devido à concentração das principais atividades relacio nadas a essa cadeia e à sua posição central na área de ocorrência do fruto.

Em 2008, foi realizada uma oficina em Montes Claros, reunindo produtores e instituições envolvidas, os chamados “stake holders” da cadeia produtiva do pequi no Norte de Minas Gerais. Durante o encontro, foram discutidos diretrizes e ações para fortalecer a cadeia produtiva do pequi e de outros frutos do Cerrado. Como resultado, decidiu-se pela criação do Núcleo Gestor da Cadeia Produtiva do Pequi e Outros Frutos do Cerrado, com o objetivo de organizar e promover ações voltadas ao manejo sustentável e à comercialização dos frutos nativos, fortalecendo a economia local e a sustentabilidade das práticas extrativistas.

O Núcleo do Pequi tornou-se uma instituição organizada pela sociedade civil, representando o interesse comum dos produtores extrativistas e de todos os “stakeholders” envolvidos na promoção da cadeia produtiva do pequi e de outros frutos do Cerrado, além da defesa ambiental do bioma. Ao longo de sua trajetória, o Núcleo promoveu diversos eventos e projetos em parceria com instituições de apoio, sendo financiados por iniciativas governa mentais e fundos ambientais.

Uma das conquistas mais significativas do Núcleo do Pequi foi a ativação do Conselho Pró-Pequi (Decreto nº 42.646/2002), em 2011. Este conselho deliberativo, estabelecido pela Lei Pró--Pequi, está atualmente vinculado à Secretaria Estadual de Agricultura, pecuária e abastecimento e é composto por produtores extrativistas, associados e cooperados da sociedade civil e instituições de apoio, com a presidência indicada pelo governo estadual. O Conselho delibera sobre questões relativas ao pequi e aos frutos do Cerrado, incluindo a administração do Fundo Pró-Pequi, criado em 2012, com o objetivo de apoiar o desenvolvimento sustentável da cadeia produtiva e a conservação do bioma.

No ano de 2015 o Governo do Estado reconheceu o Arranjo Produtivo Local do pequi e frutos do Cerrado como parte do arranjo produtivo econômico no território do Norte de Mina Gerais.

Atualmente, o arranjo produtivo do pequi encontra-se em fase avançada de consolidação, é objetivo profissionalizar uma cadeia produtiva que, até então, operava de maneira informal e artesanal. O principal desafio consiste no desenvolvimento de uma mentalidade empreendedora, especialmente entre os produtores extrativistas, a fim de romper com a tradição assistencialista de subsistência e avançar para um novo patamar, adequando-se ao modelo econômico emergente. Isso requer aprimoramentos nasáreas de gestão, qualidade dos produtos, marketing, entre outros aspectos.

Para alcançar esse objetivo, é necessário investir em infraestrutura, educação, pesquisa e desenvolvimento, a fim de possibilitar que os empreendimentos se tornem autônomos e autossu ficientes. O funcionamento do arranjo produtivo do pequi oferece soluções sustentáveis para diversos aspectos da economia atual, atendendo a demandas das agendas desenvolvimentistas, especialmente aquelas que visam a sustentabilidade, a descarbonização da economia e a mitigação dos efeitos do aquecimento global.

O arranjo produtivo do pequi contribui, assim, para o cumprimento dos 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da Agenda 2030 da ONU, cobrindo integralmente essas metas globais.

Como contrapartida, a cadeia produtiva do pequi oferece um vasto portfólio de produtos e serviços ambientais altamente demandados pelo mercado. Ela proporciona uma ampla gama de alternativas que proporcionarão aos consumidores finais novas experiências, além de opções aos produtos industrializados atualmente disponíveis nas prateleiras dos supermercados ou nas listas de fornecimento de matéria-prima. Além da experiência sensorial e dos novos sabores, esses produtos oferecem novos nutrientes e compostos bioativos, além de possibilitar inovações no campo da tecnologia de alimentos e materiais para diversos setores da indústria, principalmente os da alimentação, cosméticos, farmacêutica, biocombustíveis, materiais e outros. Muitos desses produtos já fazem parte das linhas de produção de empresas pioneiras no setor, e a perspectiva da entrada de grandes empresas nesse mercado é promissora. No entanto, para garantir esse crescimento, é imperativo avançar na padronização da qualidade dos produtos e consolidar a capacidade de suprimento.

Além disso, os produtos da cadeia produtiva do pequi possuem, intrinsecamente, valores agregados que transcendem o uso tradicional, incluindo os serviços ambientais prestados durante sua produção e o conhecimento ancestral sobre seu uso ao longo do tempo. Essa cadeia se alinha perfeitamente aos modelos econômicos modernos voltados para a sustentabilidade, como a bioeconomia, economia verde, economia circular, comércio justo, entre outros.

Dessa forma, é possível afirmar que a cadeia produtiva do pequi é uma realidade consolidada no contexto do Cerrado do Norte de Minas Gerais. Embora seu potencial esteja em expansão, ela requer aprimoramentos em suas diversas etapas. Destaca-se, nesse contexto, a necessidade de um olhar mais atento por parte do poder público e do setor empresarial, para impulsionar e inserir os produtos da sociobiodiversidade de forma definitiva na economia de mercado, de maneira sustentável. O objetivo principal é oferecer ao consumidor final produtos de alta qualidade e sauda bilidade. E ao mesmo tempo ser uma opção diferenciada para a economia no território do Cerrado em contraponto à exploração predatória do Bioma.

Portanto, a cadeia produtiva do pequi se apresenta como uma alternativa sustentável para os extrativistas, povos e comuni dade tradicionais, dentre outros parceiros envolvidos na cadeia de valor por apresentar ao povo norte mineiros e brasileiros os frutos e produtos do Cerrado com enorme valor nutricional colaborando de forma significativa para a segurança alimentar nutricional dos brasileiros. Assim sendo, os produtos do bioma Cerrado cumprem um importante papel, de conciliar as ações e estratégias para o desenvolvimento econômico com preservação, conservação ambiental, social e nutricional. É importante ainda que os envolvidos na Cadeia de Valor do Pequi busquem o avanço da sua profissio nalização e a valorização dos produtos da sociobiodiversidade na consolidação de sua posição no mercado, oferecendo produtos de qualidade ao consumidor final e garantindo a sustentabilidade do bioma Cerrado.

Assim, a cadeia produtiva do pequi e outros frutos dos nativos se apresenta como uma alternativa sustentável à exploração predatória do Cerrado, conciliando desenvolvimento econômico com a conservação ambiental.


ADEUS, MESTRE ZANZA!

As tradições folclóricas são bem vívidas em Montes Claros, norte de Minas Gerais. Os catopês, caboclinhos e marujos desfilam a cada ano num batuque de pandeiros, num sapa teado bem compassado; artisticamente treinados homens e mulheres devotados ao folclore, nas festas de agosto saem pelas ruas exibindo uma harmonia entre braços e pés, numa métrica que inveja dançarinos, músicos e matemáticos.

Nós vamos para as ruas para apreciarmos e aplaudirmos uma arte, uma exibição simétrica que ninguém conhece o autor. Todos os anos eu vou para assistir àquele espetáculo de sons, de cores, de batuques e aquela cantiga triste saída lá do fundo do coração, alcançando o cérebro e voltando à boca para que a voz conte a história.

Em meio aos ternos de catopês, caboclinhos e marujos vislumbramos a figura do mestre Zanza: silente, com um andar espartano, ele vê tudo e todos com o seu olhar de 86 anos, viçoso e brilhante corrigindo o que por ventura não esteja de acordo.

O seu capacete é diferente dos demais, de uma arte peculiar para um protagonista mestre: o Mestre Zanza. Muitos posaram com o mestre para uma foto histórica e já vi crianças fotografadas com o seu capacete. Mas não tem importância usá-lo, pois não se trata de um símbolo de realeza, como uma coroa que é usada exclusivamente pelos reis e rainhas e príncipes e princesas, mas é o símbolo da simplicidade a que todos podem se aproximar.

Não sei se o mestre Zanza teve vida na Universidade, onde as pessoas se tornam mestres, mas na Universidade da vida ele aprendeu a simplicidade, que dissipa o orgulho, a humildade, que lança por terra a vaidade e aprendeu o canto das vozes melodiosas e nos batuques dos pandeiros, no gingado dos corpos e no rodo piar das bandeiras a transformação do preconceito em alegria e graciosidade.

Enquanto seu corpo era velado no Museu Folclórico dos Catopês a natureza chorou; e sob forma de fitas brancas a chuva desceu copiosa e mansa e escorreu pelo asfalto produzindo fitas coloridas propiciando o conforto aos que ali se encontravam tristes e chorosos.

Na Certificação do mestre Zanza na culminância de seu mestrado está escrito: Certifica-se a João Pimenta dos Santos o resgate da cultura popular, da simplicidade e do respeito pelo que é de todos, por essa herança incontestável, que há de ser lembrada pelas gerações futuras, como um prenúncio que não tem preço, mas que custou-lhe a vida de cidadão montes-clarense.

Montes Claros é profundamente agradecida mestre Zanza!
Muito obrigada!


“CIDADE GRANDE”, DE DRUMMOND:
O FAVELÁRIO DE MONTES CLAROS

Carlos Drummond de Andrade nasceu na cidade de Itabira--MG, mas estabeleceu-se no Rio de Janeiro em 1934, onde se tornou um observador atento da vida urbana na então capital da República. Em 1984, Drummond publicou o livro Corpo – última coletânea de poemas que publicou em vida –, no qual está incluído o longo poema “Favelário nacional”.

O título do poema é um neologismo que se conecta a termos como “berçário”, “aquário” e “campanário”, destacando a ideia de um conjunto que engloba. Em “Favelário nacional”, Drummond examina a situação das favelas brasileiras na década de 1960, tomando como ponto de partida a grande enchente que atingiu o Rio de Janeiro em janeiro de 1966.

No poema, Drummond presta homenagem a favelas cariocas bastante conhecidas, como Mangueira, Barreira do Vasco, Tucano e Rato Molhado, dedicando o texto ao amigo Alceu de Amoroso Lima. Dividido em 21 estâncias/partes, o poema segue a estética da primeira geração modernista, com estrofes irregulares e versos livres.

O poema número 18 da série, intitulado “Cidade grande”, interessa-nos ao longo deste ensaio, uma vez que retrata o “favelá rio” da cidade de Montes Claros:

18. CIDADE GRANDE
Que beleza, Montes Claros
Como cresceu Montes Claros
Quanta indústria em Montes Claros
Montes Claros cresceu tanto,
5 ficou urbe tão notória,
prima-rica do Rio de Janeiro,
que já tem cinco favelas
por enquanto, e mais promete.
(Andrade, 2007, p. 125).

Como nos poemas anteriores da série, Drummond utiliza a imagem da cidade como um microcosmo para explorar e criticar a urbanização no Brasil. Atravessada por um tom irônico e observador, a imagem de Montes Claros revela, pelo eu poético drummondiano, as contradições inerentes ao crescimento econômico e industrial das cidades brasileiras.

O poema começa com uma aparente celebração da cidade de Montes Claros. Com o seu crescimento, surge também uma espécie de sobressalto diante do processo de modernização e industrialização dos “montes”, isto é, a transformação das elevações de terreno – mais altas que colinas, porém menos extensas que montanhas – em um grande centro industrial. As repetições elogiosas (“Que beleza”, “Como cresceu”, “Quanta indústria”) destacam o desenvolvimento e a imagem da cidade – como no poema “Cabaré mineiro”, de Alguma poesia (1930) – vista pelo eu drummondiano, sugerindo um progresso significativo

Essa marcação do crescimento urbano, por exemplo, está em diálogo com o estudo de Silveira (2005) sobre a urbanização o aumento populacional de Montes Claros. Uma das razões para tal foram os “deslocamentos das populações urbanas e rurais de ou tros municípios da região efetivaram-se na busca de novas perspectivas de trabalho” (Silveira, 2005, p. 30) .

A década de 1980-90 foi crucial para a urbanização do Norte de Minas, mas a história revela que o processo de ocupação urbana passou por transformações radicais, resultando em modificações no espaço geográfico: “Montes Claros não se preparou para receber um acréscimo significativo de baixa renda, não conseguindo assim, viabilizar-se para controlar a crise urbana nela instalada” (Silveira, 2005, p. 25). Como sequela, surgiram ocupações ilegais e invasões de terras, levando a um quadro inevitável de pobreza local e regional. Um exemplo disso é o bairro Cidade Industrial, anteriormente conhecido como “Favela Coberta Suja”.

Nesse contexto, a Cidade Industrial surgiu como favela, um “bolsão de pobreza”, onde as moradias eram um “mosaico: lonas, caixotes, papelão, plásticos, cobertas, alvenarias, outros; construídas em forma de mutirão com característica multifamiliar” (Silveira, 2005, p. 34). Com o tempo, as habitações e os loteamentos passaram por um processo de consolidação. A favela se expandiu sem controle, o que levou o poder público a adotar uma política de regularização dos lotes e loteamentos, estabelecendo diretrizes para a criação de áreas destinadas a praças, lazer, escolas, postos de saúde, entre outros serviços (Silveira, 2005)¹

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¹ Além disso, a contribuição total dos imigrantes para Montes Claros aumentou significativamente, passando de 116.486 na década de 1970 para 177.308 na década de 1980 e para 250.062 em 1991 (Silveira, 2005).
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De “Coberta Suja” à atual Cidade Industrial, emerge a “Cidade grade”, vista pelo olhar crítico e observador de Drummond e registrada nas páginas de Corpo. Esse retrato reflete o que provavelmente já se estampava nas páginas dos jornais da época: um“corpo favelário nacional” que começava a se raiar quando o poeta se mudou para o estado do Rio, em 1934, para ingressar no serviço público.

Vale ressaltar que o começo positivo do poema lembra a retórica de discursos oficiais e propagandas que enaltecem o de senvolvimento urbano sem considerar seus efeitos “negativos” e/ ou estruturais, que acompanham a imagem de uma determinada cidade, independente do fator tempo, como descrito por Silveira (2005) em seu estudo. A repetição do nome da cidade reforça a ideia de crescimento, quase como um mantra de progresso e como possível evidência da falta de preparação para o aumento da população de baixa renda que imigrava de outras cidades em busca de melhores condições de vida. No entanto, essa repetição exage rada e a superficialidade das palavras preparam o leitor para a revelação da verdadeira crítica que está por vir.

À medida que os versos avançam, a fina ironia de Drummond começa a se revelar. Nos versos de 4 a 6, por exemplo, o eu sugere que Montes Claros se tornou uma cidade de destaque, uma “urbe notória” comparável ao Rio de Janeiro, a antiga capital do país. Essa comparação eleva a cidade mineira ao status de uma grande metrópole, tão ou mais do que a carioca, e ao mesmo tempo prepara o terreno para as falhas no crescimento urbano: o sentido de “elevação” associado ao significado de “monte” é justa posto pela menção às favelas.

A ironia atinge seu ápice nos versos finais: “que já tem cinco favelas/ por enquanto, e mais promete” (Andrade, 2007, p. 125). A celebração inicial do crescimento industrial e urbano é subita mente contrastada com a realidade social das favelas, bem como passa a ser claramente lembrada nos “montes” da cidade mineira. O eu destaca ainda que, apesar do desenvolvimento, a promessa de Montes Claros também resulta no crescimento das favelas, que são um símbolo da desigualdade e da exclusão social no contexto brasileiro.

Nesse contexto, é importante lembrar que o poema “Cidade grande” foi escrito e reunido em 1984, portanto, quarenta anos se passaram desde a publicação da coletânea, integrando-se à construção deste ensaio. O poema permanece nas páginas de Corpo; entretanto, a cidade de Montes Claros, retratada nos versos, é estática, recebendo uma marcação temporal que reflete a realidade histórico-social da época. Em outras palavras, a cidade, enquanto entidade poética, está em constante processo de expansão urbana, como o título do poema sugere.

A expressão “por enquanto, e mais promete” é particularmente mordaz, sugerindo que o “progresso” futuro trará ainda mais favelas, perpetuando um ciclo de desigualdade. Esse fator de prospecção torna-se crítica quando consideramos a realidade des crita nos versos. Veloso e Leite (2007) exemplificam a promessa mencionada pelo eu drummondiano na década de 80.

A partir da pesquisa “Diagnóstico socioeconômico das aglomerações subnormais da cidade de Montes Claros”, ligada à Universidade Estadual de Montes Claros, é possível notar que as “cinco cidades” já são dezessete no século XXI:

[...] Vila Cedro, Vila Castelo Branco, Vila Itatiaia, Vila São Francisco de Assis, Vila Campos, Vila Tupã, Vila Alice, Cidade Cristo Rei, Cidade Industrial, Village do Lago, Pombal, Rua 20, Rua da Prata, Praça São Vicente, Morrinhos, Vila Mauricéia e Ciro dos Anjos. (Veloso; Leite, 2007, p. 9).

Dezessete também é a marcação temporal da publicação de Veloso e Leite em relação a este ensaio, e, claro, o tempo é sempre o presente: outras “favelas” ainda continuaram a surgir e “por enquanto, e mais promete” continuarão a surgir no bojo da “urbe tão
notória,” a “prima-rica do Rio de Janeiro” (Andrade, 2007, p. 125).

Além de criticar a urbanização desordenada e a desigualdade, Drummond também faz uma reflexão mais ampla sobre a identidade nacional. Ao escolher Montes Claros, uma cidade que não é uma metrópole tradicional como São Paulo ou Rio de Janeiro, o poeta mostra que os problemas das favelas e da desigualdade não são exclusivos das grandes cidades. Eles são um fenômeno nacional, que afeta diversas regiões do Brasil (Leite; Almeida; Leite,
2007).

Nesse sentido, ao unir diferentes cidades sob a temática das favelas – Rio de Janeiro e Montes Claros –, Drummond constrói uma narrativa de que as favelas são uma parte integral e inescapável da paisagem urbana brasileira, como pontua Silva (2023). Elas são um reflexo das falhas estruturais na forma como o país se desenvolveu economicamente, ignorando a inclusão social e a distribuição equitativa de recursos (Poncioni, 2009).

Ainda segundo a autora, a escolha de versos livres e estrofes irregulares pode refletir a fragmentação e a complexidade da vida urbana observada pelo eu drummondiano, característica do período do Modernismo (Poncioni, 2009). Nesse sentido, não há uma métrica rígida ou uma estrutura previsível, assim como a vida nas favelas é imprevisível. Assim, a forma do poema complementa seu conteúdo, criando uma unidade estética que reforça a mensagem crítica de Drummond e a “promessa” de crescimento urbano do “favelário” de Montes Claros.

“Cidade grande” é um poema que, apesar de sua brevida de, carrega uma crítica social profunda e multifacetada. Através de uma fina ironia, Drummond desmonta a narrativa oficial de progresso e passa a expor as contradições do desenvolvimento urbano no corpo brasileiro, como o título da obra sugere. O poeta destaca a desigualdade social, a marginalização e a falta de planejamento urbano como problemas centrais que acompanham o crescimento econômico.

Referências
ANDRADE, Carlos Drummond de. Cabaré mineiro. In.: Alguma poesia. São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 64.
ANDRADE, Carlos Drummond de. Favelário nacional. In.: Corpo. 19. ed. Rio de Janeiro: Record, 2007, p. 111-127.
LEITE, Marcos Esdras. ALMEIDA, Maria Ivete Soares de; LEITE, Manoel Reinaldo. As favelas da cidade de Montes Claros/MG: uma análise socioeconômica.
Revista Cerrados, [S. l.], v. 5, n. 01, p. 29-46, 2007.
PONCIONI, Cláudia. Drummond, o “favelário” e o patrimônio. Navegações, [S. l], v. 2, n. 1, p. 17-23, jan./jun. 2009.
SILVA, Leandro Praes Xavier da. Um olhar: o Favelário nacional. 2023. Dissertação (Mestrado em Geografia) – Departamento de Geografia, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2023.
SILVEIRA, Yara Maria Soares Costa da. A transformação urbana de Montes Claros: surgimento e crescimento do bairro Cidade Industrial. Revista Cerrados, Montes Claros, v. 3, n. 1, p. 23-42, 2005.
VELOSO, Dardiane Gonçalves; LEITE, Marcos Esdras. A precariedade social da favela Vila Itatiaia em Montes Claros/MG. In.: XI Encuentro de geógrafos da América Latina, 2007, Bogotá. Anais [...]. Bogotá: [S. l.], 2007, p. 1-16.


DEUS E LIBERDADE

Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos!
Salmo 133

No prefácio da primeira edição, fixei a ideia na pragmática Parábola do Semeador, fazendo, por minha conta, um acréscimo, de modo a aumentar a aliteração: E o semeador saiu a semear a sua semente. Semeadura na beira do caminho, na pedra rochosa, entre os espinhos, em terra fértil e bem preparada. Quatro situações, quatro possibilidades, quatro escolhas, resulta dos previsíveis. Comparação e forma simples de dizer que o livro do escritor e maçom Itamaury Teles de Oliveira estava chegando para afirmar e reafirmar uma importante e melhor sintonia, mais do que enriquecedora para a história da nossa cidade dos Montes Claros.

Sua decisão de escrever sobre a existência e a dinâmica da Deus e Liberdade foi desde o início caminho de sucesso, motivo de esperanças: dele mesmo, Itamaury, e de todos os irmãos maçons: dos mais antigos - conhecedores da história e das estórias - e dos mais novos - agentes da mais sadia curiosidade. Muito importante a data de 18 de setembro de 1932, quando destacados líderes da cidadania montes-clarense e norte-mineira, se juntaram para o grande feito. Marçal Ferreira Coelho, da União Sertaneja; José Esteves Rodrigues, da Caridade e Firmeza; Luiz José de Magalhães, da Templários de Cananéia; Sebastião Sobreira de Carvalho, da Capitular Progresso; Eduardo Augusto Lico, da União e Trabalho; Gentil Sarmento, da Fraternidade Italiana; Antônio Narciso Pereira, da Fraternidade e Luz; Epaminondas Freire de Lemos, da Fila délfia; Alfredo Ramos de Abreu, da Deus, Humanidade e Luz; José Ribeiro de Castro e Athos Braga, da Roma II.

Luminoso o sucesso nos sonhos, na iniciativa, no planejamento, na organização, em todas as decisões. Iniciativa bem recebida, bem aceita pelos agentes de bons princípios e bons costumes. Logo de início, cada qual e todos juntos, foram erigindo templos à virtude e ao progresso. Abriram caminhos para estudos, para novas aprendizagens, novo trabalho filosófico e social, marcas de força e determinação. Loja Maçônica Deus e Liberdade, no todo e no sempre, vinda para ser e para estar, marca de eficiência!

A década de 1930 era um tempo de muito entusiasmo, cultura e mudanças: a inauguração dos trilhos da Estrada de Ferro, a fundação do Rotary Club de Montes Claros (1926, o terceiro do Brasil depois do Rio de Janeiro e São Paulo), o comentadíssimo episódio revolucionário de Dona Tiburtina Alves, em recepção ao Vice-presidente Melo Viana. Tudo efervescência nos compromissos sociais, culturais, políticos e econômicos. Novas escolas, no vas instituições, modernos meios de comunicação, comércio ativo, agropecuária em desenvolvimento, mais setores de serviços no campo da saúde, nova marca de posição e de respeito regional. Tudo favorável para a implantação de uma loja maçônica, principalmente por contar com a experiência de José Ribeiro de Castro, da Loja Roma II, de Belo Horizonte, e do prestígio cultural e político dos nobres José Esteves Rodrigues e Athos Braga na atuação e no poder de Montes Claros. Tinha realmente que dar certo!

Considero-me participante e testemunha de tudo ou quase tudo desses acontecimentos e decisões da nossa Deus e Liberda de. Aprendiz em junho de 1963, companheiro em dois de agosto, mestre em vinte de setembro, Cavaleiro Rosa Cruz em 1969, Conselho de Kadosh em 1974, Supremo Conselho do Grau 33 em 1976, sempre Deus e Liberdade, bem mais de meio século. Em todos os momentos, muito estudo, muita atividade ao lado dos mais valorosos companheiros e mestres maçons. Um quadro social da maior importância, diretorias de visível prestígio, tudo do maior valor histórico em registros mais do que conhecidos e reconhecidos.

Por isso e por muito mais, o merecimento deste influente livro DEUS E LIBERDADE: uma nonagenária e grande benemérita - pesquisado e escrito pelo inteligente e dinâmico Irmão Itamaury Teles de Oliveira, membro ativo da Academia Montes-clarense de Letras, dos Institutos Históricos e Geográficos de Minas Gerais e de Montes Claros, um dos fundadores e ex-presidente da Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas. Grande Itamaury!

Na mesma medida do semeador bíblico da Parábola do Divino Mestre Jesus, a Loja Maçônica Deus e Liberdade - nonagenária e grande benemérita - tem sido rica no plantio das melhores ideias, sempre com elogiada eficiência na filantropia e na prestação de serviços comunitários nos mais diversificados campos de atuação. Sempre acreditei sermos sementes plantadas em solo da mais alta fertilidade, com generosas colheitas neste sacratíssimo e bendito solo histórico de Montes Claros, centro e capital da região norte do Estado das Minas Gerais.

Rogo fervorosamente ao Grande Arquiteto do Universo esteja o Mestre Itamaury Teles de Oliveira vivo, altaneiro e atuante em 2032, para complementar, em terceira edição, a marca dos cem anos da nossa Loja. Haja fôlego e muita saúde, querido Irmão e Confrade!

Com o meu mais fraterno abraço ao Venerável Mestre Edilberto Colares de Oliveira e aos membros da Diretoria, pela tempo rada de comemorações dos 90 anos de fundação e pela publicação deste importante Livro.


Itamaury


OS INSTITUTOS HISTÓRICOS
E GEOGRÁFICOS

Aristóteles, em uma de suas teorias, definiu ser “o homem um animal social”. Um animal que precisa estar em sociedade para viver plenamente; que não pode ser feliz fora da sociedade. David Brooks, no livro “Animal Social”, complementa o entendimento de Aristóteles ao criar a inovação do sucesso, que nos leva a uma vida de felicidade.

Se bem analisarmos os fatos da vida humana poderemos dizer que ela é o registro da evolução ao longo dos tempos. É so mente pretérito. Isso porque o presente é um simples instante e o futuro ainda não existe. O futuro é o amanhã, que nunca chega. A vida humana é história, que acontece a todo instante, que tem sido informada como o estudo do passado humano. Mas o passa do pode estar presente, porque o presente é tão instantâneo que logo se torna passado.

A oralidade guarda momentaneamente os acontecimentos, o que nos leva à necessidade da palavra escrita, para sua preservação e é esta a função primordial do historiador. Para se conhecer o passado é necessário que os eventos sejam preservados. A todo instante estamos construindo fatos históricos.

Fui professor de História, mas não era um historiador. O historiador é um cientista. Sua função é preservar a memória, pois “um povo sem memória é um povo sem história”. Escrevi história algum tempo depois.

Os historiadores são herdeiros de Heródoto e de Tucídides. E, como herdeiros, têm o direito de integrarem uma instituição voltada para o estudo e a preservação dos conhecimentos adquiridos. Mas também estão ligados a Hecateu de Mileto e a Aristóteles. A filosofia de Aristóteles, que nos foi dada primeiramente por Santo Tomás de Aquino, nos ensina que o conhecimento e todo trabalho visam à felicidade, que é o maior objetivo do ser humano. Assim, fazemos história procurando a nossa felicidade. Mas também não podemos nos esquecer de Cícero, das suas reflexões sobre a História, expostas em seus escritos. Ele deu forma à apresentação escrita da História entre os romanos, intentando superar a supremacia dos gregos, nesse campo do conhecimento. “A história é o teatro das coisas do universo, espelho do tempo, tesouro da demonstração, olho da sabedoria, espelho da vaidade, da fraqueza e da estupidez, princípio de prudência, guardiã e arauto das virtudes, testemunha da malícia e da improbidade, vate da verdade, cidade da sabedoria, e tesouro para toda a posteridade, ou um tesouro para sempre”, como nos lembra Renato Ambrósio em artigo publicado na Revista de História, v. 147.

O mesmo historiador Renato Ambrósio observa que antes de Cícero ainda não havia em Roma uma história que se comparasse às obras dos grandes historiadores gregos, como Heródoto e Tucídides. Os gregos criam, em seus escritos, a primeira lei da História: “não ousar dizer algo de falso, que não se ouse não dizer algo de verdadeiro”

História e Geografia são ciências irmãs. A História ocorre sempre em um determinado ambiente geográfico. A Geografia é uma ciência cujo objeto de estudo é o espaço geográfico, entendido como toda porção espacial onde são estabelecidas as relações humanas. Logo, a Geografia é a ciência que estuda o espaço geográfico e as relações entre a sociedade e o meio em que são estabelecidas. A Geografia estuda também a evolução do ser humano, a sociedade onde a História acontece. O geógrafo tornou-se defensor dos problemas ambientais. Nesse sentido ele está fazen do história.

Os Institutos Históricos e Geográficos são instituições culturais a serviço da sociedade, que possuem grande importância. Esses tiveram origem na França com o Instituto Histórico de Paris, fundado em 1833. A França, no século XIX, foi o berço da civiliza ção ocidental. O Instituto nasceu em razão do interesse cultural pela História.

Tendo como paradigma o Instituto de Paris, o brigadeiro Raimundo de Cunha Mattos e o cônego Januário da Cunha Barbo sa, com apoio de Dom Pedro II, criaram em 1838 o Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro, a mais antiga entidade de incentivo à pesquisa e preservação histórico-geográfica, cultural e de ciências sociais do País. O Imperador Dom Pedro II frequentava as reuniões do Instituto. Outros depois foram sendo criados. Eles possuem grande importância na preservação e estudo das memórias e das culturas locais, sendo responsáveis pela manutenção de publica ções, bibliotecas, arquivos e museus.

Não existe a geração espontânea, uma teoria desacreditada. Nada nasce por si mesmo. A força criativa nasce da vontade manifesta de fazer, e foi essa vontade que levou os cultores das letras e da sabedoria Dário Teixeira Cotrim, Wanderlino Arruda e Haroldo Lívio de Oliveira a criarem, por incentivo do Instituto Histórico e Geográfico de Minas Gerais, o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, que se transformou na mais importante associação cultural do Município. Mas, a criação e a instalação do Instituto não ocorreram por um passe de mágica. Os três instituidores, em trabalho conjunto e perseverante, catalogaram os patronos das Cadeiras a serem criadas e os possíveis ocupantes dessas mes mas Cadeiras. O historiador Brasiliano Braz, meu pai, foi escolhido como patrono da Cadeira nº 18.

Em um determinado momento da criação, nasceu a necessidade de se dar um nome à sede do futuro Instituto. Despontou, por força de sua própria pujança, o nome de Simeão Ribeiro Pires. Por que Simeão Ribeiro Pires?

O Jornal O Norte, edição de 15 de junho de 2007, nos es clarece: “Montes Claros se enfeitou para receber a “Casa de Simeão Ribeiro Pires”, nome fantasia do Instituto Histórico de Geográfico de Montes Claros. Por que Simeão e não Darcy Ribeiro ou Cyro dos Anjos? Por que Simeão e não João Vale Maurício ou Cândido Canela? Por que Simeão e não Hermes de Paula ou Urbino Viana? Porque Simeão foi o mais autêntico historiador-geográfico de Montes Claros. Era um contumaz pesquisador. Coletava peças de nossa história e as colecionava com o objetivo de preservar o passado de nossa gente e de nossos costumes”.

Nós, os iniciantes que se agruparam em torna da ideia, vimos consolidada a criação do Instituto com sua instalação em uma casa de propriedade do escritor Dário Teixeira Cotrim, um dos instituidores, no Bairro de Lourdes. Ali foi instalado o acervo, que passou a ser do Instituto, doado pela associada Terezinha Gomes Pires. Dali a sede e o acervo foram, ainda provisoriamente, para uma das dependências da Escola Normal Professor Plínio Ribeiro. Mudou algumas vezes de sede, em busca de uma afirmação. Finalmente instalou-se no sobrado “Dulce Sarmento”, antigo prédio construído pelo coronel Antônio Augusto dos Anjos.

Mas, sempre existe um fato a ser esclarecido. A presença do Instituto, em sua hoje sede social, foi resultado de um conjunto de atuações, que não podem ser esquecidas. Esclarece o literato Dário Teixeira Cotrim que: “Recebemos o sobrado, por concessão da Prefeitura Municipal de Montes Claros, num esforço conjunto com a Secretaria Municipal de Cultura (João Rodrigues), do Conselho Municipal do Patrimônio Histórico e Cultural de Montes Claros (Raquel Mendonça) e do presidente do IHGMC, o coronel Lázaro Francisco Sena”.

São já dezoito anos de existência. De existência profícua. O Instituto publicou 33 Revistas. Mantem, em publicações periódicas, há quase dez anos, o Informativo Mensal. Foram criadas as bibliotecas: Brasiliano Braz (história), Urbino de Souza Viana (autores montes-clarenses) e Arthur Jardim de Castro Gomes (geo grafia e afins).

Também foram criadas salas em homenagens aos ilustres intelectuais: Hermes Augusto de Paula (História), Nelson Washington Viana (Geografia), Ruth Tupinambá Graça (de entretenimentos e bazar), Ivo das Chagas (museologia – módulo I), Harlen So ares Veloso (museologia – módulo II), Haroldo Lívio de Oliveira (imobiliário manuelino da família Versiani-Maurício), Saul Martins (Artesanato em geral), Cândido Canela (literatura de cordel), Dulce Sarmento (recepção) e o pátio cultural Américo Martins Filho.

Regista o historiador Dário Teixeira Cotrim, “que ainda, no sentido das homenagens, foram inaugurados quatro memoriais: Simeão Ribeiro Pires (Objetos pessoais), Sala Cabo Geraldo Martins Santana (material bélico), a sala do Rádio Amador de Montes Claros (Marcelo Mameluque Mota) e os memoriais de Nivaldo Maciel, Teó filo Azevedo Filho e João Chaves”.

Não faz muito tempo, foi inaugurado o Museu Leonardo Campos – antropologia e etnologia. Mas, o Instituto pela dinâmica de seus dirigentes, não para. Está em curso o terceiro Consórcio Literário, com a publicação de doze obras literárias em cada grupo.

Em Montes Claros, pela inexistência de instituição específi ca, que cuide da preservação do patrimônio artístico, o Instituto Histórico e Geográfica tem acumulado as funções de preservação da nossa diversidade cultural. Ele tem, como definido pelos seus idealizadores, “como finalidade pesquisar, interpretar e divulgar fatos históricos, geográficos, etnográficos, arqueológicos, genealó gicos e suas ciências e técnicas auxiliares, assim como fomentar a cultura, a defesa e a conservação do patrimônio histórico, artístico e cultural do município de Montes Claros e região Norte de Minas”.

Reúne historiadores e geógrafos com o objetivo de registrar os fatos históricos, com abrangência geral universal, mas focalizado principalmente, pelas próprias razões de sua instituição, na história de Montes Claros e do Norte de Minas. Do Norte de Minas porque Montes Claros é polo convergente, centro físico, cultural e financeiro da região

DICCIONARIO GEOGRAPHICO, HISTÓRICO
E DESCRHIPTIVO DO IMPÉRIO DO BRAZIL

Pesquisa de Dário Teixeira Cotrim

“Diccionario Geographico, Historico e Descriptivo, do Imperio do Brazil : contendo a origem e a historia de cada provincia, cidade, villa e aldeia, sua população, commercio, industria, agricultura e productos meneralogicos, nome e descripção de seus rios, lagoas, serras e montes, estabelecimentos litterarios, navegação, e o mais que lhes e relativo : obra colligida e composta durante vinte seis annos de residencia e de longas peregrinações por diversas provincias do Imperio, com o auxilio semumero de manuscriptos e d’obras publicadas em diversas linguas por escriptores tanto antigos como modernos e de muitos documentos officiaes : dedicado (com per missão especial) a Sua Magestade Imperial o Senhor D. Pedro II, Imperador do Brazil, ornada de um mappa geral do Brazil e de cinco planos das cidades e portos principais” (Dom Caetano Lopes de Moura, natural da cidade da Salvador).

O Dicionário Histórico e Descritivo foi originalmente publicado em 1845, pelo militar francês J.C.R. Milliet de Saint-Adolphe, era militar francês, nascido provavelmente no ano de 1789, na mesma época que aconteceu a missão artística encomendada pelo Imperador Dom Pedro II, no ano de 1816. Milliet chegou em companhia dos artistas plásticos Debret e Taunay. O Dicionário de Milliet é uma das primeiras obras a ultrapassar o recorte provincial, haja vista que ela oferece uma descrição geral e circuns tanciada de todo o Império brasileiro, também um panorama do estágio de desenvolvimento de cada província, cidade, vila e aldeia do país. No âmbito da geografia, traz o nome e a descrição dos rios, lagoas, serras e montes.

“Formigas. Villa, posto que pequena, agradável e mercantil da província de Minas-Gerais, na comarca de Jequitinhonha1, 80 legoas ao nornordeste da cidade d’Ouro-Preto, e 20 a oeste-noroeste da cidade de Minas-Novas, outrora villa do Fanado2. Teve origem em 1698 pelo mesmo teor que a povoação de Itucambira3. Os primeiros que ali vierão residir edificarão uma capella a São José que foi largos annos que foi filial da da freguesia de Itucambira, porém como os arredores de Formigas fossem mais amenos que os da parochia, foi-lhe aquella povoação augmentando progressivamente no decurso do século passado, e tornou-se essencialmente mer cantil, quando se abrirão varias estradas para facilitar as comu nicações entre as cidades da Bahia e as villas de Fanado e de São--Romão, então simples freguesias; até que uma lei da assembleia geral, de 13 d’Outubro de 1831, lhe conferio o titulo de villa com o nome de Formigas-de-Montes-Claros4, assignalando por districto os termos das freguesias de Barra-das-Velhas5, Contendas6 e Morrinhos7, e com tudo só no anno seguinte obteve a sua igreja o titulo de parochia, por decreto de 14 de julho, com invocação de N. S. da Conceição, dando-lhe por filias as do Bom-Fim8 e de Macaúba9. A villa de Formigas consta de mais de 299 casas telhadas, as mais d’ellas térreas, e tem uma praça assaz espaçosa e oblonga, no topo da qual se vê a igreja parochial situada um pouco obliquamente. Os habitantes d’esta villa dão-se em geral ao commercio de gado, couros, peletaria, que vendem na cidade da Bahia, e salitre que levão para a cidade d’Ouro-Preto, e às vezes para a do Rio-de-Janeiro. Por lei provincial, de 15 de março de 1840, acha-se o districto d’esta villa augmentado com a povoação de Coração-de-Jesus, que andava anexa ao de São-Romão”. (Descrição de J.O.R. Milliet de Saint-Adolphe, Diccionario Geographico Histórico e Descriptivo do Império do Brazil. Páginas 368/369. Pariz. 1840)

Observações:

1. Hoje, com a redução do distrito, o município de Montes Claros
está localizado somente na bacia hidrográfica do rio São Francis
co, em particular no rio dos Vieiras que é um tributário do rio Ver
de, e este por sua vez, afluente do rio São Francisco.
2. Villa do Fanado é hoje a belíssima cidade de Minas Novas.
3. Freguezia de Itucambira. O seu nome atual é Itacambira
4. Formigas-de-Montes-Claros que era conhecida por Montes Cla
ros das Formigas.
5. Barra-das-Velhas
6. Contendas – Coração de Jesus
7. Morrinhos
8. Bom-Fim - Bocaiúva
9. Macaúba

Nota-se que a primeira capela foi construída pelo povo oriundo de Itacambira, expulsos daquela região durante a Guerra dos Papudos. O padroeiro escolhido foi São José, o pai de Jesus. Com a construção da nova igreja, de frente para a praça, por José Lopes de Carvalho, foi ventilado somente no nome de Nossa senhora da Conceição, a mãe de Jesus. Com o tempo, consolidou--se os dois patronos, ficando assim: Matriz de Nossa Senhora da Conceição e São José. Hoje, no Instituto Histórico e Geográfico, há um pequeno oratório onde estão as imagens dos oragos de nossa cidade, aquelas que nos protegem e nos guarde de todo o mal. As imagens foram doadas por Júlia Maria Lima Cotrim.


ÍNDICE

Ana Paula Maia Durães
Zé Gomes: Um exemplo de vida e virtude -13
Casa Simeão Ribeiro Pires: 18 anos de preservação e
valorização da história e cultura de Montes Claros - 16

Antônio Felix da Silva
A força de uma ideia - 18

Carlúcio Gomes Ferreira
Lindas palmeiras! Tanto lá, quanto cá! - 21

Daniel Oliva Tupinambá de Lélis
Mestre Juca Teixeira - 27

Dário Teixeira Cotrim
As moedas do meu nome - 29

Guilherme Matias Silva Peixoto
Natália Peixoto - 32

Hermildo Rodrigues
Quem quer comprar cebolas? - 44

João Nunes Figueiredo
A saúde mental dos policiais - 47

José Jarbas Oliveira Silva
A contribuição histórica da jovem arquiteta
Juliana Pereira Peres – 57

José Geraldo Soares de Souza
A inspiração da vida – 62

José Ponciano Neto
Tempos de penitência para chover – 65

Lázaro Francisco Sena
Nossos Patronos – 70

Leonardo Alvares Rodrigues
Esboça para biografia do coronel
João Martins da Silva Maia – 73

Lola Chaves
Téo – 96

Mara Yanmar Narciso
Montes Claro0s e a televisão do passado – 98

Márcio Adriano Moraes
Pizzaria Papaula – 101

Sebastião Abiceu soa Santos Soares
Tributo ao Grupo Alma – 104

Teddy Marques Farias
Sabores de sertão: frutos nativos e o
desenvolvimento do interior do Brasil – 110

Terezinha Campos
Adeus, mestre Zanza! – 122

Walisson Oliveira Santos
Cidade Grande, de Drummond:
o favelário de Montes Claros -124

Wanderlino Arruda
Deus e Liberdade – 131

Petrônio Braz
Os Institutos e Geográficos - 135

Diccionario Geographico, Histórico e Descrhiptivo
do Império Do Brazil - 141


 

EPITÁFIO
PARA UM TÚMULO DE AMIGO

‘‘ A morte vem de manso, em dia incerto e
fecha os olhos dos que têm mais sono...’’
(Alphonsus de Guimaraens - ossa mea, I.)


Este livro foi impresso em Montes Claros-MG,
no ano de 2024. Miolo com fonte Cambria,
corpo 12; título fonte Cambria, corpo 16 e 20;
papel Ap 75g. e capa em papel triplex 250 g.


Impresso na oficina da
GRÁFICA EDITORA MILLENNIUM LTDA.
Rua Pires e Albuquerque, 173 - Centro
39.400-057 - Montes Claros - MG
mileniograf@hotmail.com
(38) 3221-6790