Volume II



Lançamento do volume I da Antologia “A Deusa das Letras”

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Copyright by © 2014 – Editora Cotrim Ltda.
Montes Claros – Minas Gerais

Coordenação Editorial
Júlia Maria Lima Cotrim
Projeto Gráfico
Dário Teixeira Cotrim
Wanderlino Arruda
Formatação
José Rodrigues F. Júnior
Revisão dos Textos
De responsabilidade dos autores
Revisão Final
Wanderlino Arruda
Desenho das vinhetas de
Conceição Melo
Fotografias
Dário Teixeira Cotrim
Dóris Araújo
Itamaury Teles de Oliveira
Márcia Vieira Yellow
Silvana Mameluque
Wanderlino Arruda

Dados Internacionais da Catalogação na Publicação (CIP)
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Cotrim, Dário Teixeira (Org.)

C843d

A Deusa das Letras. Dário Teixeira Cotrim (Org.). Montes
Claros – Minas Gerais. Editoras Millennium/Cotrim Ltda. 2014.
118 p. - Volume II
1. Literatura Brasileira 2. Ensaios 3. Montes Claros - Minas
Gerais
I. Dário Teixeira Cotrim (Org.) II. Título
CDD B869.1

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Editora Cotrim Ltda
Rua Euzébio Godinho, 304 - Bairro São José.
39400-356 - Montes Claros - MG
(38) 3015-7939 - dariocotrimcultura@gmail.com

2014

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ÍNDICE

Afonso Prates Borba
Ana Valda Vasconcelos
Carmen Victória Netto
Charles Rodrigues Luis
Dóris Araújo
Evany Cavalcante Brito Calábria
Fabiano Lopes de Paula
Filomena de Alencar M. Prates
Gilsa Florisbela Alcântara
Ivana Ferrante Rebello
José Divino Lopes Filho
José Ferreira da Silva
Júlia Maria Lima Cotrim
Juvenal Caldeira Durães
Manoel Hygino dos Santos
Manoel Messias Oliveira
Mara Narciso
Márcio Adriano Moraes
Maria Alice Pereira Ramos
Maria Aparecida Costa
Maria Dione Carvalho de Moraes
Maria Ilca Terence de Noronha
Maria Socorro de Carvalho Silveira
Marilene Veloso Tófolo
Marília Pimenta Peres
Maristela Cardoso Freitas
Neide Peres Amaral
Olyntho da Silveira
Palmyra Santos Oliveira
Pedro Arnaldo G. Peres
Téo Azevedo
Terezinha Campos
Terezinha Teixeira Santos
Virgínia A. de Paula
Wanderlino Arruda
Zoraide Vasconcelos Teixeira


A DEUSA DAS LETRAS
À GUISA DE PREFÁCIO


Dário Teixeira Cotrim

Foi durante a realização da primeira Antologia sobre o Centenário de Nascimento da professora Yvonne de Oliveira Silveira, que sentimos a necessidade de organizar outro volume com a mesma finalidade. Isto se deu pelo fato de inúmeros amigos e amigas, da homenageada, nos procurar com o desejo de participarem deste nosso projeto literário. Portanto, esta Antologia–Volume II, com artigos, em verso e prosa, nós a iniciamos na esperança torná-la um complemento das homenagensjá começadas para essa mulher que ignorou o passar dos anos e vem brilhando inteligentemente à frente da augusta Academia Montesclarense de Letras, da Academia Feminina de Letras de Montes Claros e do egrégio Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.

Um pouco de sua brilhante biografia: a valorosa acadêmica, Yvonne de Oliveira Silveira, nasceu na cidade de Montes Claros – Minas Gerais, no dia 30 de dezembro de 1914. Filha do saudoso farmacêutico Antônio Ferreira de Oliveira e de dona Cândida Peres de Oliveira. Casou-se com o poeta e historiador Olyntho Alves da Silveira. Na sua trajetória da intelectualidade
ela escreveu vários livros. Em parceria com o esposo, publicou o livro “Brejo das Almas – Crônicas Históricas”. Em parceria com a amiga e confreira Zezé Colares, escreveu dois interessantes livros: “Montes Claros de Ontem e de Hoje” e “Folclore para Crianças”. Além dessas parcerias a professora Yvonne Silveira ainda escreveu outros dois livros: “Cantar de Amiga” e“Montes Claros – Crônicas”, este último que foi organizado pelo professor Osmar Pereira Oliva.

É impossível anotar aqui todas as suas atividades de educadora. Ela escreveu e publicou crônicas em vários jornais da cidade e, ainda hoje publica no Jornal de Notícias, no Suplemento Mulher. São mais de duas dezenas de cargos honoríficos. Ela está à frente da Academia Montesclarense de Letras há mais de vinte e nove anos somente como presidente da entidade. Foi a fundadora da Academia Feminina de Letras de Montes Claros e participa do Instituto Histórico e Geográfico de Montes
Claros, ocupando a Cadeira N. 5, que tem como patrono o seu saudoso pai Antônio Ferreira de Oliveira. Professora Emérita de Universidade Estadual de Montes Claros – Unimontes e Cida
dã Benemérita de Montes Claros, título conferido pela Câmara Municipal de Montes Claros, em 1985. Neste ano de 2014, ela foi agraciada com a Medalha Ivan Lopes, pela Câmara Municipal de Montes Claros, prêmio máximo da edilidade montesclarense.

Hoje, todas as homenagens que estão sendo realizadas para comemorar o seu Centenário de Nascimento retratam, com merecimento e justiça, o seu labor educacional e cultural de sua pessoa. Por outro lado, a paixão e o encantamento pelas letras acadêmicas sempre empolgaram a mestra Yvonne de Oliveira Silveira na realização dos seus sonhos.

Entretanto, não se pode falar em Yvonne Silveira sem mencionar o nome do seu ilustre companheiro Olyntho Silveira, pois foi outro verdadeiro sédulo da literatura montes-clarense– era sonetista por excelência – e que muito contribuiu para o desenvolvimento das letras de nossa querida “Terra da arte e da cultura”. Portanto, Yvonne e Olyntho, um casal perfeito da Academia Montesclarense de Letras e de outras entidades afins.

Parabéns, Yvonne Silveira! Parabéns, Montes Claros!


Destinos


Olyntho da Silveira

Quando surgiste frente ao meu caminho
E os fados para sempre nos ligaram,
Meus planos todos se modificaram
E armamos de esperança o nosso ninho.

Um após outro, os dias se escoaram
Eu, encantado pelo teu carinho,
Conduzindo por tuas mãos de arminho,
Sentir não pude as horas que passaram.

Veio a neve pintar os meus cabelos,
Mas eu, que só agora posso vê-los,
Relembro aquela venturosa data.

Tornando iguais os nossos dois destinos,
No céu negro dos teus cabelos finos
Estrelas vêm surgindo já, de prata.

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Do livro ‘Cantar da Amiga’, da professora Yvonne de Oliveira Silveira. Pág.17.


Uma mulher à frente
do seu tempo


Júlia Maria Lima Cotrim

Nós, confreiras e amigas de Dona Yvonne de Oliveira Silveira, que completa cem anos de idade, em 2014, teremos a oportunidade de externarmos a amizade, a afeição e o carinho que dedicamos a ela nesta antologia – A Deusa das Letras – organizada e publicada pela Editora Cotrim Ltda., Falar de Dona Yvonne acho que não é difícil, pois ela se mostra como uma mulher que batalha pelo seu direito à diferença, questionando os papéis que lhe são conferidos pela família e pela sociedade, administrando a própria vida, na incessante busca da possível autonomia, procurando sua porta de entrada para a cultura, sem aceitar o rótulo de inferioridade às vezes conferido às mulheres.

Ela é uma mulher que procura exercer sua inteligência e sua sensibilidade quando profere seus discursos, nos passando um aprendizado inigualável e, numa busca de parâmetros que sejam mais apropriados ao que vai descobrindo em si mesma.

Dona Yvonne esqueceu a passagem dos anos, o desgaste da luta, os aborrecimentos da rotina e compartilhou uma relação alegre e fiel com o seu esposo Olyntho da Silveira, tornando-se uma esposa-companheira por muitas bodas.

Quisera ter tido a oportunidade de ser sua aluna, enquanto conheço pessoas que tiveram o privilégio de ter passado por uma sala de aula, cujo tempo conviveram e deleitaram com seus ensinamentos. Para mim ela é a pura expressão do ser humano comprometida com a cultura e o saber. É um exemplo!

Há pessoas que passam por aqui e deixam marcas e ela vai nos deixar uma contribuição cultural e suas emoções registradas, que bem assimiladas, se transformarão em sabedoria. Na condição de uma das grandes construtoras do progresso de Montes Claros, nada mais justo que receber nosso reconhecimento pelo extraordinário desempenho frente à Academia Montesclarense de Letras, à Academia Feminina de Letras de Montes Claros e ao Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.


Nome da Rosa


Evany Cavalcante Brito Calábria

de tão flor sou rosa
......sou paixão mulher de luz
......símbolo do amor rosa que fala
......livre despetalada orgulhosa bela
......aroma que embriaga corações.

de tão rosa sou beija-flor
......cheiro de mato cravo rosa
......mãe flor e de laranjeira
......flor que ama Guimarães
......botão de rosa.

de tão rosa sou mística
......santa rosa pétala-régia
......flor-de-lis que exala perfume
......rosa sem rosa sem cor rosa rara
......flor de lótus rosa d’água.

de tão flor sou tatuagem
......flor da pele primavera flor de vidro
......rosa dos ventos dos olhos e da vida
......rosa buquê flor de pedra
......vaga-lume rosa miudinha.

...... rosa do povo rosa fulô
......tapete de flores
......roseiral em flor
de tão flor sou rosinha.

Dedico este poema a querida professora Yvonne de Oliveira Silveira neste ano de seu centenário por seu amor incondicional pela literatura. Sua amizade, sabedoria e generosidade desperta em mim, a cada encontro, a curiosidade que existe na magia da palavra. Seu exemplo é perfeito para na realização de sonhos.


Oração


Gilsa Florisbela Alcântara

Nesta prece agradeço a Deus, pela nossa escritora dona Yvonne de Oliveira Silveira.

Todos os talentos provêm de Deus.

Obrigada Jesus, somos agradecidos porque o Senhor nos enviou uma grande poetisa, professora e mestra.

Fui incentivada por ela, quando iniciei minhas primeiras criações literárias.

Bondosa, a amiga Yvonne Silveira corrigiu e apresentou um livro que escrevi.

Quando meus filhos nasceram, homenageou-os com lindas poesias.

Também sempre me ajudou quando eu tinha dúvidas. Obrigada senhor Deus por colocar no Norte de Minas Gerais uma mulher de grande virtude e capacidade.

Dona Yvonne Silveira também realiza grandes obras de artes plásticas, como fez a magia em telas a óleo.

Seu maior ensinamento é a humildade. Nasceu de família abastada em Montes Claros e possui inteligência suprema.

Que nossa querida Dona Yvonne tenha sempre seu amparo em Jesus Cristo. Ilumine, Senhor, sua trajetória e cubra de bênçãos toda família e dona Yvonne de Oliveira Silveira.

Amém.


E viva o amor
A Yvonne de Oliveira Silveira, pelo seu Centenário


Dóris Araújo

E viva o amor!
Esse amor amoroso
Que supera distância
Amor caloroso
Que não tem arrogância
Esse amor que é amor
.....E viva o amor!
.....Esse amor que é diálogo
.....Que confia, que ampara
.....Amor que é presente
.....Esse amor cuidadoso
.....Amor paciente

E viva o amor!
Esse amor benfazejo
Amor confidente
Bem maior que o desejo
Esse amor que conquista
O respeito da gente

..... E viva o amor!
.....Esse amor solidário
.....Amor sem medida
.....Esse amor relicário
.....Que convida ao amor
.....Esse amor fé na vida

E viva o amor!
Esse amor que protege
Que socorre e alivia
A dor que o outro sente
Esse amor consciente
Esse amor poesia

..... E viva o amor!
.....Esse amor harmonia
.....Amor compreensão
.....Esse amor que é sincero
.....Amor que é tão vero
.....Amor devoção

E viva o amor!
Esse amor companheiro
Amor carinhoso
Amor que não obsta
O progresso do outro
Amor generoso
E viva o amor!
Esse amor que é ternura
Amor firme e forte
Amor fio eterno
Amor sem ranhura
Amor além-morte
E viva o amor!
Que ultrapassa o tempo
Esse amor infinito
Esse amor afeição
Esse amor que é bendito
Muito além da paixão
E viva o amor!
Esse amor tão profundo
Amor sem igual
Esse amor que é tão lindo
Entre Yvonne e Olyntho
Amor magistral


Homenagem A Yvonne
da Sociedade das Amigas da Cultura de Montes Claros

Marília Pimenta Peres

Voltemos à nossa Montes Claros de tempo atrás. Ainda bem provinciana, urbanisticamente e quanto às ideias: estradas poeirentas, aboios de vaqueiros conduzindo o gado até mesmo pelas ruas centrais, reuniões de famílias nas calçadas ao entardecer, vozes de crianças entoando cantigas de roda misturando-se ao canto de pássaros – naturais inquilinos das muitas árvores que sombreavam os extensos quintais, fogõesà lenha em torno dos quais era saboreada a comida-amor e se aquecia espírito com conversas amenas. Como disse Cecília Meireles: “tudo estava certo, no seu lugar, cumprindo seu destino. Não havia perigo”!

Foi nesse cenário, que nasceu a menina Yvonne. Sertaneja forte, simples, com os pés na terra, mas a cabeça buscando as nuvens. Naquela menina já aflorava a alma de uma mulher sem medo de sonhar, sem medo de ousar perseguir seus sonhos e torná-los uma realidade. Com que sonhava a jovem Yvonne, numaépoca em que se reservava às mulheres, principalmente, ou tão somente o direito de gerenciar seus lares?

Sonhava com o direito de construir seu destino e administrar sua própria vida. Ávida por absorver o novo que alimenta o espírito, enveredou-se por caminhos que levavam ao exercício do desenvolvimento de seu intelecto, certa de que só se tornaria livre da mediocridade e limitação humanas através da incessante busca do conhecimento, do aprender a olhar e captar a realidade circundante em constante inovação. Já percebia que, a cada instante, a Natureza e o Mundo se renovam, de forma que nunca olhamos duas vezes para o mesmo ser ou objeto. A jovem Yvonne já fazia sua leitura de mundo com olhos e sensibilidade do poeta português Fernando Pessoa, quanto esse, usando um de seus heterônimos –Alberto Caeiro – expressa sua visão da realidade exterior:

“O meu olhar é nítido como um girassol.
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto
,

E eu sei dar por isso muito bem...
Sei o essencial
Que tem uma criança se, ao nascer,
Reparasse que nascera deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do mundo.”

Comprometida com sua realização pessoal, sentia que a verdadeira razão do viver só seria encontrada na exteriorização de suas emoções. Movida por grande sensibilidade e capacidade intelectual, concluiu que nenhum conhecimento, competência ou habilidade, nenhum aprendizado crítico sobre o universo humano seria possível sem o domínio da língua materna. Usando esse instrumento com o purismo de um Bilac e a perfeição machadiana, D. Yvonne apreendeu o mundo, construiu e escreveu sua história de vida.

Viveu sua infância em Montes Claros. Uma época tranquila, alegre, porém a disciplina e o rigor da perfeição, exigidos pela avó materna Zizi, desde cedo já marcariam sua personalidade. A primeira neta, ainda pequenina, já era motivo de orgulho dos avós e inveja dos primos, quando se reuniam na casa do Padrinho – como chamavam o avô Chico Peres – para fazer suas demonstrações de leitura. Ela, a mais nova de todos, lia os textos com desenvoltura e entonação de um orador eloquente.

Aos quatorze anos, muda-se para o Brejo das Almas, fato que ela revive com emoção em uma de suas crônicas:

“O ônibus andava, havia uma hora, pela estrada poeirenta e estreita. Os meninos – éramos oito irmãos – distraíam-se acompanhando o voo dos pássaros ou reparando as árvores que corriam em sentido contrário.Eu sonhava.
Desde que se falara em mudança, minha cabeça encheu-se de fantasias. Nunca tivera oportunidade de viajar.”

E o Brejo das Almas apareceu em sua vida e tomou seu coração. Passou ali o resto de sua adolescência, a mocidade e o início da maturidade. Foi lá que “sorriu pela primeira vez a um estranho” e “um jovem muito querido de muitas conquistou a filha de um farmacêutico.”

Com voz de apaixonada refere-se a esse fato: “Daí por diante, Brejo das Almas tornou-se para mim o lugar mais bonito do mundo, e muitos anos se passaram sem que me lembrasse de regressar a Montes Claros.”

***

“O amor faz desses milagres na vida da gente. Transforma e mistifica. Dá-nos coragem para enfrentar lutas sobre-humanas e até para morrer pelo bem-amado. É assim que a Natureza garante a perpetuação da espécie, despertando nos adolescentes esse instinto poderoso que os poetas fantasiam e chamam de amor.”

Dona Yvonne e Olyntho – dois jovens que deixaram “o amor entrelaçar os seus destinos.”

A alma de poeta do companheiro amado, Olyntho Silveira, revela mais tarde seus sentimentos nos versos do soneto Destinos:

“Quando surgiste frente ao meu caminho
E os fados para sempre nos ligaram,
Meus planos todos se modificaram
E armamos de esperança o nosso ninho.
Um após outro os dias se escoaram.
E eu, encantado pelo teu carinho,
Conduzido por tuas mãos de arminho,
Sentir não pude as horas que passaram.
Veio a neve pintar nossos cabelos,
Mas eu, que só agora posso vê-los,
Relembro aquela venturosa data.
Tornando iguais os nossos dois destinos,
No céu negro de teus cabelos finos
Estrelas vêm surgindo já, de prata.”

Dona Yvonne teve na sua vida outra paixão: A ARTE DE ENSINAR. Segundo ela, “a falta de normalistas no lugar e de dinheiro em casa”, fizeram dela professora aos quinze anos.

Mas a paixão pelas letras e pelo ofício de mestra veio como herança intelectual de seu pai, que era considerado como um dos bons oradores de Montes Claros, na época – palavras de meu sogro Levy Durães Peres – primo e padrinho de Dona Yvonne.

Autodidata como Machado de Assis, a jovem Yvonne enriqueceu seu espírito lendo livros e livros da biblioteca organizada por Biela Campos, diretora da escola onde a mais nova professora do Brejo iniciou sua carreira profissional. Nas suas memórias ela diz:

“Creio não ter ficado volume sem que eu lesse, entendendo ou não. Passou a divertimento a coleção de Metodologia, em espanhol, lida com o namorado. Nas reuniões das professoras fazia bonito, traduzindo para as colegas a mandado da diretora. Posso dizer que aqueles quatro anos de leitura valeram por um curso de didática,embora eu o fizesse desordenadamente, por falta de orientação e base. Mas muita coisa foi aproveitada, para alguma alegria e muitos pesares.”

Por competência e mérito pessoal, dona Yvonne fez-se professora,
tornando-se um exemplo de amor à grande missão de
ensinar. Aprendeu música sozinha e regeu o coro da igreja por
quinze anos, o que lhe proporcionou grande alegria, pois cantar
era seu maior prazer. Tanto que, ao voltar para Montes Claros,
já então professora de Língua e Literatura na Escola Estadual
Plínio Ribeiro, a antiga Escola Normal, quis aperfeiçoar esse seu
outro talento, fazendo curso de canto no Conservatório Lorenzo
Fernandez.

Mas sua alma inquieta tinha anseios por novos conhecimentos para que pudesse acompanhar o acelerado processo desenvolvimentista de Montes claros. O desenvolvimento socioeconômico viria, com certeza, junto com o desenvolvimento cultural. E a professora Yvonne queria seguir a marcha do tempo.

Montes Claros entra na era dos cursos superiores. Yvonne volta aos bancos escolares na antiga FAFIL- faculdade que a experiente mestra ajudou também a estruturar e onde fez seu curso superior de Letras, com licenciatura plena em Língua Portuguesa e suas Literaturas e Língua Francesa e suas Literaturas. Passando logo a fazer parte do corpo docente da nossa Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Norte de Minas. Lecionou com prazer e competência a disciplina Literatura Portuguesa. Como me lembro de suas aulas! Além da paixão pelos escritores portugueses, ela dividia conosco o brilho do seu saber e a leitura pura, ingênua até, que fazia dos fatos cotidianos da vida:

“Porque a Beleza,
Gêmea da Verdade,
Arte pura inimiga do artifício
É a força e a graça na simplicidade!,

Como bem disse nosso poeta Olavo Bilac.

Posteriormente, D. Yvonne faz na PUC o curso de Teoria da Literatura, disciplina que ela lecionou durante vinte anos. Foi um tempo de muito trabalho e dedicação, mas gratificado pelo prazer de ensinar a arte da recriação da realidade através da palavra.

Com a inquietude das coisas que não têm repouso, D. Yvonne continua sua caminhada. Sempre equilibrada, com extrema lucidez e paixão por tudo o que faz, ela vai colhendo os frutos e alegrias tão merecidos e justificados pela grandiosidade do seu fazer em benefício da nossa cultura.

Pôde ver realizados muitos de seus sonhos: viagens por quase todo o Brasil, participação em congressos, seminários e encontros culturais “até em Portugal” como me disse na sua simplicidade, o que para ela foi motivo de plena realização pessoal e profissional.

Seu espírito dinâmico já se manifestou uma vez dizendo:

“O rio, como o homem, muda de segundo a segundo. Mas são os filósofos que veem essas coisas para nós”. “Fato interessante na vida é termos grandes desejos, lutar e rogar por eles, não alcançando, porém, nem a metade daqueles a que aspiramos”.

Por isso, a mestra maior, esposa, mãe, avó e bisa amorosa, amiga sincera e mulher grandiosa, escritora, artista continuará

perseguindo seus sonhos, fazendo-se presente, procurando ser, ela mesma, em toda sua plenitude, como os “Ipês de Ouro” cantados na sua Sonata nº 1:

“Ipês de ouro desafiam o sol,
Gritam na terra seca a alegria da vida,
Ao longo das curvas da rodovia”.

As homenagens prestadas a ela foram muitas, mas não o bastante para demonstrar a gratidão e o orgulho da nossa Montes Claros em tê-la como filha.

Receita para se chegar aos 100: sabedoria, simplicidade, caráter, sensibilidade, amor, alegria de viver!

Muito obrigada, Dona Yvonne! Montes Claros e a Associação das Amigas da Cultura lhe agradecem por ser uma referência de vida para todos.


Uma Estrela Brilha
no Norte-Mineiro

Carmen Victória Netto

Existem pessoas que vêm ao mundo com a finalidade de trazer beleza, agregar a comunidade, poetar, escrever, desenhar e outros dons que enriquecem o convívio humano. Yvonne de Oliveira Silveira é uma dessas pessoas.

A escritora montes-clarense levou para sua vida pessoal a mesma beleza e gentileza que anima sua literatura.

Poucas escritoras partilharam com o público a capacidade de promover amizade, aliada à espontânea percepção do ser humano, daí seu perfeito entrosamento com as pessoas do seu mundo intelectual e afetivo.

Da criação artística, através da literatura ficcional e memorialística revela seu primoroso estilo, registrando no papel lances ditados pelo seu intelecto e sua sensível emoção.

Yvonne é uma pessoa brilhante. Gosta dos amigos, das viagens e de conviver com a juventude. Sua cabeça sempre jovem se transforma num deles.

Aos cem anos, ela conquista o direito de ser jovem, é uma das nossas amigas de infância.

Junto a Unimontes, Yvonne contribuiu com a cultura montes-clarense que se espalhou a rincões mais distantes.

Como mudei de Montes Claros a partir dos anos sessenta, não tive o privilégio de conviver com essa grande intelectual, mas me lembro que, ainda menina adolescente, lia suas crônicas na Gazeta do Norte, sob o pseudônimo de Simone e encantavame com elas.

Como um farol a enviar luz, Yvonne continua a iluminar a todos com luzes mais intensas de mestra de uma geração inteira.


Cem homenagens aos
cem anos da Professora
Yvonne Silveira

Mara Narciso

Desde o dia 30 de dezembro de 2013 foram programadas e estão acontecendo homenagens no ano do centenário de Dona Yvonne Silveira. Assim que os festejos começaram, de pé, com voz firme, ela diz não é merecedora de honrarias. Conduzida pelo vice-presidente da Academia Montesclarense de Letras, Wanderlino Arruda, a grande dama da intelectualidade montes-clarense, a eterna Presidente da Casa de Yvonne Silveira, o codinome da já citada academia, postou-se à mesa de honra, seguindo o cerimonial coordenado pela acadêmica Glorinha Mameluque. Era o dia 27 de março e a homenagem fora organizada pela Academia Feminina de Letras de Montes Claros, entidade da qual é mentora.

Pertencente ao Conservatório de Música Lorenzo Fernandez, o Coral Waldir Pereira entoou o Hino a Montes Claros cuja letra é da homenageada e a música da maestrina Clarice Sarmento. O grupo cresceu em número, reverberou nas entranhas do Elos Clube, e emocionou Dona Yvonne, que não pôde conter as lágrimas.

Então, Ivana Ferrante Rebello, fazendo uso dos seus atributos capacidade, talento e inteligência, inventa uma fala tão magnética, que causa o efeito de plateia hipnotizada. Conta a relação professora e aluna que se dava entre ela e Dona Yvonne, que lecionava Literatura na Fafil, a Faculdade de Filosofia. Não tenho como esmiuçar a memória e trazer as palavras de Ivana, apenas o bem-estar que a lembrança delas me faz. Mencionou que a mestra trazia a liberdade para suas aulas, pois abria portas, escancarava janelas, mostrava o lado lúdico da escrita bonita que
se esconde nos livros. Um ensinamento feliz. E tudo em cima do salto alto, o lado feminino não esquecido por Ivana, doutora em Literatura.

A poetisa Karla Celene Campos apresentou um conto de amor, a história de Dona Yvonne, acontecida no Brejo das Almas, hoje Francisco Sá. Era uma menina de 14 anos, filha do farmacêutico que conheceu seu pretendente, apaixonou-se, casou-se e viveram juntos 76 anos. Usou fortes imagens poéticas para enfatizar a grandeza daquele amor. Quando ficou viúva, naturalmente entristecida pela ausência do seu amado, não perdeu a doçura, emanando de si uma voz suave e um leve sorriso, com a aparência de quem acaba de sair do banho.

A também acadêmica Mary Lelis declamou um poema de sua autoria, a pedido da homenageada. Então o Coral Waldir Pereira, regido pelo maestro William Leal, que se empolgou e até cantou, voltou à ribalta executando mais duas músicas escolhidas pela confreira Maria do Carmo Veloso, integrante do grupo. Novas e reforçadas emoções tomaram seu lugar na casa.

No Dia Internacional da Mulher a Placa Yvonne Silveira, criada pela artista plástica Ângela Vera de Castro é oferecida a uma mulher que tenha brilhado naquele ano, e desta vez, embora redundante, tal placa foi oferecida a Dona Yvonne Silveira, que, após receber flores de Evany Calábria, presidente da Academia Feminina de Letras, agradeceu, referindo sua falta de mérito.

Respeitando seus cem anos, peço licença para discordar. O poder transformador de quem ensina é o maior de todos. O professor bem preparado, que se empenha em ensinar, amplia e multiplica tal poder que adquire efeito incontrolável. Entre os seus merecimentos está o mais prático: ela não apenas transformou, ela revolucionou boa parte dos seus alunos, incutindolhes o gosto pelos livros, criando neles a necessidade de saber, e com isso alterou mentes, histórias e realidades. Professor e livros:
quem mais tem essa força? Diante da generosidade da professora Dona Yvonne Silveira, seus ex-alunos a agradecem por ter sido grande em suas vidas e operado maravilhas. Quem faz isso, e ainda por cima é uma das mulheres, junto a Amelina Chaves, que faz parte do hermético grupo da Academia Maçônica de Letras do Norte de Minas merece não uma festa, mas uma centena, uma para cada ano de vida, mais outra para cada ano de magistério, ocasião em que pôde fazer e fez deslumbramentos. O seu trabalho não se vê e nem se mede, mas os efeitos observados são perenes.


YVONNE SILVEIRA
Entre dois Centenários

Fabiano Lopes de Paula

Dona Yvonne nasceu para perceber o mundo! Com a sua genialidade, o seu eterno olhar. Isso nos faz reconhecer a sua originalidade. Extrai do mundo as suas relíquias e as transforma, em seu cotidiano, em coisas inusitadas, vistas e lidas.

Tomo, como exemplo, o texto sobre Manuel Turíbulo...

A MINHA HUMILDE ARTE

Yvonne de Oliveira Silveira

Não riam de minha humilde arte. Conhecem-na? É a arte de consertar imagens. Ela é tão humilde quanto a daquele artista anônimo do qual a herdei. Chamava-se Manuel Turíbulo. Não. Este era o seu apelido, por ser sacristão. O seu verdadeiro nome era Manoel Carlos de Oliveira.

Conheci-o desde que me entendi por gente, quando ainda morava em Montes Claros, com a minha família. O “Seu Manoel” era nosso vizinho. Mamãe não deixava que o chamássemos pelo apelido, pois ele não gostava; nem permitia que fôssemos à sua casa, por que não tinha crianças.

Os quatro filhos, três rapazes e uma moça, já não estavam em idade de brincar. Mas eu escapulia, de vez em quando, e ia ver o “Seu Manoel” esculpir imagens em madeira e em gesso. Na sala de fora onde trabalhava, havia uma prateleira com vidraça e nela guardava as imagens de Nossa Senhora, São José, Menino Jesus e outras. Eu gostava mais do Menino Jesus, tão delicados, com bracinhos abertos, umas mãozinhas tão pequenas! Cheguei a adquirir um por “três mil e quinhentos réis”.

O “Seu Manoel”, alto, magro, quase não conversava. De vez em quando, vendo o meu êxtase pelas imagens, sorria-me e perguntava se estavam bem feitas e bonitas.

A casa, lá dentro, era sempre escura, defeito na repartição, talvez, mas minha imaginação infantil ficava a ver mistérios em tudo. Parecia-me que ali faltavam alegria e vida, não sei. Os seus moradores pareciam tristes e doentes.

Não me recordo se as duas famílias se visitavam. Conversavam das janelas, como se usava naqueles tempos.

Depois mudamos de rua e me esqueci do bom vizinho. Quando, mais tarde, minha família voltou para a mesma rua, eu já morava aqui em Francisco Sá e o “Seu Manoel” havia mudado. Os anos passaram e a infância foi esquecida. Desde aquelaépoca, porém, eu gostava de desenho e sentia facilidade em copiar, principalmente rostos.

Lembro-me até que um deles causou admiração em dona Nieta Veloso, professora de desenho, fazendo questão de colocar em exposição. Como a Dona Nieta gostava de estimular os alunos, chamava a atenção dos visitantes para aquele rosto de criança que eu desenhara quase com perfeição. Mas até agora só fiquei no quase...

Nunca pensei, porém, em imitar o meu vizinho, mas em uma noite de coroação, vendo a imagem da Virgem feita por ele, estragada e descorada pelos anos, pedi ao Padre Salu para consertar. Ele hesitou, pois nunca tivera noticia de que eu fosse“pintora”. Insisti e terminei sendo atendida. Graças a Deus, Padre Salu gostou do meu trabalho e me mandou renovar todas as imagens da matriz. Com carinho, dei nova cor àqueles rostos delicados, talhados na madeira, com tanta dificuldade, pelo meu vizinho!? Os mantos cheios de dobras e de flores, os Meninos Jesus, tão bonitinhos! Tudo retoquei. Desde então passei a ser reformadora de imagens.

Por minhas mãos têm passado obras de escultores anônimos e imagens feitas nas grandes fábricas. A muitas, faltam nariz, braços, dedos... e a todas vou remodelando.

Hoje as fábricas nos mandam quantas imagens queiramos, mas aqueles que possuem as suas velhas relíquias querem conservá-las.

Há poucos dias, consertei várias da igreja de Santo Antônio do Gorutuba. Velhas imagens. Entre elas uma Virgem da Conceição, de quase um metro, talhada em madeira, é uma maravilha de arte.

Quis saber, dos filhos de lá, qual o artista que a fizera. Minha miga, Dona Ritinha, com 75 anos, disse-me que, quando era criança, já ouvia dos velhos dessa cidade contar a história de Dona Angélica, baiana, casada com um português, Manoel Lourenço, pai do Sá Velho, o primeiro membro da ilustre e conhecida família mineira. Fora a D. Angélica que, firmada a residência em Santo Antônio, mandara buscar da Bahia a bela imagem de
Nossa Senhora da Conceição e outra de Nossa Senhora da Boa Viagem. E o burro que as levara ficou forro, nunca mais trabalhou. Isto aconteceu há quase duzentos anos.

Meu marido, muito brincalhão, é que lembrou de me comparar com o Manoel Turíbulo, e o Toni, meu sobrinho, quis saber por que, tendo guardado o nome.

Há poucos dias, uma das minhas irmãs, vendo-me trabalhar, falou mesmo: “Não tem jeito. Você ficou sendo mesmo o Manoel Turíbulo”.

Não me sinto humilhada nem envergonhada. Ao contrário, orgulhosa do meu conterrâneo anônimo que, com sua arte pôde adornar nossas igrejas com belas imagens, naquela época, tão difíceis de ser adquiridas.

Invejo-o, sim, por não ter a sua habilidade. Imitando-o, venero sua memória. O Toni, porém, não entende nada disso. E quando estou a pintar e ele apanha um dos pincéis para garatujar portas e janelas, se o obrigo a recolocá-lo no lugar, sai rindo e dizendo num tom cantante, para me vingar: - Manoel Turíbulo! Manuel Turíbulo!

Este texto foi publicado por ocasião do centenário de Montes Claros, no livro ”Montes Claros, sua gente, sua história e seus costumes”, de Hermes de Paula. Revisito os dizeres dessa artista e reverencio a atualidade de suas palavras: as memórias hoje guardadas, a sua arte e a sua sensibilidade de trazer à tona um pouco de sua trajetória. Valorizou as coisas antigas, numaépoca em que o tradicional se descartava para abrir caminho ao novo, ao moderno com suas inovações que chegavam com a era JK. Mais de 50 anos depois, seu texto nos reencaminha para a história das coisas, das imagens que lhe eram tão caras, prestando um serviço ao nosso conhecimento.

A SATISFAÇÃO SOB O PONTO DE VISTA DA ARTE

Yvonne Silveira e a arte de restaurar e dar a vida às coisas que, pelo desgaste natural ou circunstâncias várias, perdem sua beleza, seu brilho original. Embora, tendo esse fazer como hobby, Deus lhe conferiu mais esse dom: fazer viver o valor das coisas. Essa qualidade, não aprendida por ela na escola, veio-lhe, naturalmente, de seu interesse e observação do trabalho de seu mestre, Manuel Turíbulo, também autodidata.

Sobre sua arte, ela mesma diz: “Não riam de minha humilde arte. Conhecem-na? É a arte de consertar imagens. Ela é tão humilde quanto a daquele artista anônimo do qual a herdei”. Concordamos quando ela se refere à humildade da profissão, pois, talvez, tivesse mais valor criar que refazer, reparar. Talvez fosse humildade a arte da meticulosidade, do detalhe, da paciência e da extrema sensibilidade, que reaparecem nas mínimas coisas restauradas. Talvez fosse humildade o fato partir do trabalho inicial de outrem e não do seu. A humildade não se enquadra nesse tipo de trabalho, e, sim, na simplicidade do próprio artista, que, na paciência, respeita o fazer de seu antecessor na peça que cinzela. Recupera-lhe as feições, o formato, o significado. São duas artes que se mesclam e não se sabe qual é a melhor: a primeira ou a atual. A primeira apresenta o novo e a segunda no-lo devolve igual à peça original; algo valioso, imensamente capaz de nos maravilhar, de nos prestar informações, de devolver-nos o brilho no olhar.

O dom artístico do restaurador envolve, além da seriedade, a responsabilidade, pois, apesar fazer despontar em seu trabalho a sua característica de seu criador, respeita a feição original doa obra, com seu estilo e história. Aí não se encerra a genialidade de D. Yvonne Silveira. Conhecemo-la como célebre escritora, mestre das letras, arte que trabalhou com sabedoria e dedicação. Inspirou, em muitos daqueles que tiveram a oportunidade de compartilhar de seus ensinaentos, o gosto pela “Última flor do Lácio [..]”, porque soube mostrar a pureza e a essência da língua.

Parabéns pelo seu centenário de vida que já começamos a celebrar, pelo tempo do fazer artístico, de dar continuidade à história pelas letras, pelo modo singular e humilde de resgatar a vida.


ACRÓSTICO PARA YVONNE

Palmyra Santos Oliveira

Iconista foste antigamente
Viajando à nossa cidade
Onde eras esperada
Na igreja da Matriz
Em Montes Claros.

Deste então
És do nosso coração.

O que mereces
Lúcida aos 99 anos
Imensa sabedoria
Vives e discursar
Em qualquer ocasião
Idade não importa
Realidade, sim.
Ao fazer-nos aclamar-te.

Sabedoria infinita
Influencias nossa vida
Libertando nossa mente
Voz sonora em sua glória.
Ensibuas diariamente
Igualar os corações
Reinando constantemente
Aumentas tua vitória.

Dona Yvonne. Conheci vários de seus irmãos em nossa terra natal. Lívio, Zilda e Nilza eram grandes amigos meus. Não conheci seus pais. Quando se mudaram para Brejo das Almas eu era pequena. Depois fazia compras na loja de seus tios maternos na Praça do Mercado. Não sei o porquê da filha do farmacêutico Sr. Niquinho de Açúcar ter se mudado com seus pais e, seus irmãos terem ficado em Montes Claros. Certamente foi para que todos estudassem. E a senhora logo se casou. Era uma moça muito linda.

O Sr. Manuel Turíbulo, sacristão do Padre Marcos Van In sabia dos seus dotes artísticos e em certa ocasião a senhora ainda criança pediu autorização para pintar umas imagens que esta vam descoradas. Serviço feito, Sr Turíbulo achou perfeito o seu trabalho e sempre a pedia que repintasse algumas imagens. Peço-lhe que perdoe meus erros. Sua amiga Palmyra.


Yvonne SILVEIRA
Faz Cem Anos

Virgínia A. de Paula

Lembro-me bem. Eu no pátio da Escola Normal ainda estudante do ginasial conversando com minha prima Verônica. De repente aparece aquela senhora elegante na janela com um sorriso semelhante ao da Mona Lisa. Devia estar pensando em algo agradável. Olha para as alunas sem fixar os
olhos em ninguém especial. Nunca a tinha visto por ali. Verônica informa: “É nossa nova professora de Português. Chama-se Yvonne Silveira. Tem muita classe, não é? Parece um personagem
de um livro que li recentemente.” Chegando em casa comento sobre ela. Para minha surpresa descubro ser bem conhecida dos meus pais havendo até certo parentesco conosco, por afinidade. Dona Yvonne é irmã do meu tio Lívio, marido de tia França, irmã da minha mãe. Nasce em mim uma vontade: que ela viesse a ser professora também da minha turma! Tal nunca aconteceu. Mas torna-se cada vez mais presente em minha vida.

Sendo meus pais frequentadores de reuniões festivas culturais, a encontro sempre com seu esposo Olyntho Silveira quando os acompanho. Fico logo sabendo ser um casal excepcional unido no amor e na literatura, ambos de grande produção intelectual. Ele também poeta e até mesmo compositor de marchinhas de carnaval, o que me causa encantamento ao ouvi-las numa reunião especial para ele no Automóvel Clube.

A presença do casal é constante também em forma de livros nas nossas estantes, quando não nas nossas cabeceiras! Revejo emocionada minha mãe na sua cadeira de rodas na sala, livro de Dona Yvonne nas mãos pedindo: “Leia para mim! Não enxergo bem...” É o que faço com prazer.

Nossa dama maior das Letras aparentemente perdeu sua alma gêmea há pouco tempo. Entristeceu-se naturalmente, porém com a força das grandes almas levantou-se dando prosseguimento na sua missão de trabalho pela cultura. Ele não gostaria que fosse diferente e com certeza, de onde está, orgulha-se de tudo que ela faz. Nós do Instituto Histórico Geográfico de Montes Claros também nos orgulhamos e estamos felizes pelo seu convívio e sua inspiração. Dou graças por poder prestar a ela essa justa homenagem no ano do seu centenário. Emocionada relembro aquela manhã que a vi pela primeira vez emoldurada pela janela da Escola Normal, como se pintura fosse, sem saber que ali estava aquela que me pegaria pela mão introduzindo-me carinhosamente no meio literário. A seu convite tomo posse na Academia Feminina de Letras, uma de suas mais felizes criações, no ano de 2008. Registro aqui minha eterna gratidão, minha admiração, minhas emoções nos seus cem anos, Dona Yvonne. Toda cidade canta “Feliz Centenário”.


UM ACRÓSTICO PARA
YVONNE SILVEIRA

Afonso Prates Borba

Inda que, às vezes, turve o teu semblante.
Voem sobre ti pétalas ou espinhos
Onde estiveres, em qualquer instante,
Na tua força interior, pujante,
Encontrarás feliz, os teus caminhos.


Minha mestra
Minha amiga

Filomena de Alencar M. Prates

Falar sobre Yvonne Silveira é fechar os olhos, silenciar e no silêncio ouvir os gorgeio de pássaros, murmúrios de águas de um regato, bimbalhar de sino da pequena igrejinha da cidade onde nasci, senti o perfume das flores silvestres que margeiam o caminho. E, nesse devaneio volto aos bancos da saudosa FAFIL, onde encontro a Yvonne meiga, elegante e talentosa, lecionando Literatura portuguesa. Na segurança da sua sabedoria nos falava de Camões, Gil Vicente, Fernando Pessoa etc. como se estivesse conversando com velhos e grandes amigos; nas suas aulas o silêncio era absoluto, mesmo sendo uma turma composta na sua maioria de pessoas jovens.

O caçula da turma era o Benedito Said, que apesar de ter apenas 18 anos de idade, nas aulas da Yvonne se comportava como “gente grande”, o que não acontecia em aulas de outros professores; isso porque a dedicação e sabedoria da mestra era tamanha, que ninguém ousava perder a atenção para os seus ensinamentos. Quando nos falava sobre trovadorismo havia uma verdadeira bilocação, a mestra nos falava dos trovadores como se estivesse sido transportada para o mundo deles. Fernando Pessoa e seus heterônimos estavam ao seu lado dialogando com a Yvonne em suas aulas.

Um dia ao falar sobre a lua, eterna inspiradora dos poetas, pediu-me para indicar algum poema que falasse da lua. Citei a Lua Cheia de Manoel Bandeira; Lua Nova de Rogaciano Leite, Lunar de Guerra Junqueiro e por fim o poema do português João de Lemos, A lua de Londres; Foi aí que a querida mestra me chamou para junto de si e pediu-me que eu recitasse o referido poema na frente de toda a classe, o que fiz com um pouco de timidez, mas, que agradou a todos.

Quando fui convidada para ocupar a cadeira 17 da Academia Feminina de Letras, escolhi como patrona a professora Mariquinha Silveira, mãe de Olyntho Silveira e, portanto, sogra da Yvonne. Dias depois, recebi um telefonema da Yvonne me agradecendo por homenagear sua sogra, que foi também uma grande mestra no Brejo das Almas, hoje a cidade de Francisco Sá. Quando fui morar em Francisco Sá onde meu marido foi designado para a comarca, trabalhei numa escola onde se falava muito da professora Yvonne Silveira que ali também havia trabalhado; Era uma verdadeira artista, escritora, oradora e grande declamadora de poemas; recitava Jorge de Lima com tamanha maestria que deixava a plateia em delírio. Fiquei sabendo também que a mesma Yvonne, era grande artista plástica. Pintava paisagem, cenas campestres e também se dedicava a arte de restaurar imagens sacras o que fazia com mãos de fada. Uma artista completa.

Vemos hoje com orgulho a nossa grande mestra galgando a estrada dos 100 anos, com a mesma altivez dos anos 30 no Brejo das Almas e no ano de 1975, quando fui sua aluna no curso de Letras da nossa querida e saudosa FAFIL; a mesma elegância, cabelos bem arrumados, sapatos sempre de salto alto, onde deixava transparecer uma jovem em pleno verdor de 30 anos de idade. Era assim e é assim a mestra Yvonne.

Falando sobre poetas enamorados que tinha na lua sua fonte de inspiração, Yvonne mais uma vez me pediu que recitasse um trecho da “Lua Cheia “ de Manoel Bandeira, da Lua Nova de Rogaciano Leite; levantei-me e falei “Lua Cheia “ Manoel Bandeira:

“Lua cheia, boião de leite
Que a noite leva com as
as mãos de trevas, para
não sei quem beber...

“Lua Nova” Rogaciano Leite
Por que é que a lua nova está
tão delgadazinha, tão magrinha,
tão fininha como a mulher que eu
quis bem?
Ah! Eu já havia esquecido.
Que a lua é a mulher também!...

A classe inteira riu, mas imediatamente a nossa Yvonne explicou que era assim mesmo. Cada poeta tinha seu modo de ver a lua. Era assim que a Yvonne, sempre amiga, educada, procurava um jeito para justificar o sentido de tudo. E agora nesse ano do seu centenário, sinto imenso orgulho de ter sido sua aluna, sua “enciclopédia ambulante” como gostava de brincar comigo com esse cognome que me deixava acanhada, por partir de uma pessoa tão culta, tão meiga, tão educada...

Obrigada, Yvonne, pela sua amizade.


HOMENAGEM A
YVONNE SILVEIRA

Juvenal Caldeira Durães

Escrever sobre Yvonne Silveira é tarefa difícil porque, para começar, não sabemos realmente qual o tratamento mais adequado que deveremos usar para designá-la. Não sabemos se usamos o termo: Dona ou Professora ou Educadora ou Mestra ou Escritora ou Eterna Presidente da Academia de Letras Montesclarense ou Senhora da Alta Sociedade Montesclarense ou Senhora Brejeira ou Do Lar ou Esposa Fiel do escritor Olinto Silveira ou ainda de nossa ESTIMADA AMIGA QUERIDA,dado aos seus méritos, à sua simpatia e à sua bondade. Eu, mais privilegiado do que os demais, tenho ainda a honra de poder chamá-la de parente. A sua mãe era prima de minha mãe pelo lado da família Durães.

Independente de todas essas considerações, Yvonne Silveiraé a “Mulher Centenária de Montes Claros” que honra não só seus amigos, mas também, a todos montes-clarenses, brejeiros e norte-mineiros.

Eu, desde muitos anos, lido ao lado de Yvonne Silveira. Na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras/FAFIL, como: componente da Banca Examinadora do Vestibular, em seguida, aluno de Português no curso de Matemática, depois colegas de magistério e mais tarde, como diretora. No Colégio Estadual Plínio Ribeiro/EEPPR, fomos colegas de magistério. No Centro de Ciências Humanas/CCH-UNIMONTES, tive a honra de ser seu diretor e agora tenho o privilégio de tê-la como confreira no Instituto Histórico Geográfico de Montes Claros.

Assim, temos a sorte para exaltar e sentir-nos recompensados por desfrutar dos dotes intelectuais de uma pessoa como YVONNE SILVEIRA, digna de nossa consideração, não só como exemplo de pessoa humana, mas também, pelo seu estimável trabalho prestado à comunidade e ainda, por proporcionar-nos seus sábios e preciosos conhecimentos, no decorrer
desses longos anos de salutar convivência.


Yvonne Silveira
Um Ramalhete de Experiências

Maria Aparecida Costa

Penetrem num Jardim bem irrigado e cheio de flores de todos os tons e variedades. Estamos no jardim que é Dona Yvonne, contemplem e se deixem embevecer pela beleza de suas flores, como eu o fiz ao ler “A Deusa das Letras” escrito em homenagem a esta grande senhora.

Lembrei-me de conversas sobre Dona Yvonne, entre meus familiares: assim a retratava minha amada e saudosa mãe, Conceição Almeida (Sãozinha) que tinha um apreço especial pela mestra, pois reconhecia nela: cordialidade, sinceridade, solidariedade, sabedoria e dignidade; quando me aconselhava a observar suas qualidades, pois o exemplo sempre fala mais alto. No fragmento do poema ramalhete, de autoria da minha mãe, vejo a figura serena da Mestra:

Rendamos hoje
Justas homenagens
A nossa boa e meiga professora
Com carinho e grande desvelo
Cumpre a sublime
Missão de Educadora...

Minha irmã, Mercês Antonieta, foi aluna de Dona Yvonne, na década de 70, no casarão da FAFIL. Encantava-se com as aulas de literatura da sua doce e amada Mestra e sempre se referia a ela como um ser humano incomparável, à competente e inigualável professora, com brilho nos olhos e alegria no coração; Maria Celestina, minha tia e madrinha de batismo, confreira de Dona Yvonne na Academia Feminina de Letras, não poupava elogios à amiga a quem tanto admirava pela inteligência, sabedoria, elegância e, sobretudo, pelo carinho.

O meu contato pessoal com a Mestra aconteceu na FUNM e posteriormente na UNIMONTES, quando fomos contemporâneas naquele estabelecimento de ensino superior (fui professora de geografia e vice-diretora da FAFIL), aprendi a reconhecer suas qualidades e a admirá-la ainda mais, tanto pela persistência quanto pela graça do seu caráter. Dona Yvonne acolhe os que se achegam a ela e com seu sorriso cria laços, lança pontes, procurando fazer da comunidade Norte Mineira uma grande família.

Na sua caminhada rumo aos 100 anos, passaram as planícies, os vales foram escalados e as íngremes penhas foram vencidas. E, agora, Dona Yvonne, do alto da colina dessa paisagem que ficou para trás, há, ainda, Mestra, alguma coisa a ser feita nesta que se estende à sua frente. É um período saboroso e abençoado para todos nós, o amor também está presente nele, pois você continua a semear alegria, refletindo uma imagem da bondade de Deus.

Acredito que sua vida sempre foi uma riqueza ímpar, pois a monotonia não se fez presente diante de sua constante renovação.

Na fé, que a luz invisível de Cristo continue a iluminar os seus passos.

Obrigada, Dona Yvonne, por tudo que viveu e pela que ainda viverá.

Parabéns!


A águia das Letras

Márcio Adriano Moraes
Eu a via de longe. Parecia estar inatingível para mim. Normalmente,
eu cá na plateia; e ela lá no palco. Aproximarme
dela parecia ousadia, como se uma formiga quisesse
alcançar uma águia lá nas alturas. Mas houve um dia, desses que
a gente não imagina, em que eu estive no palco; e ela, na plateia.
E, como se a águia pousasse perto da formiguinha, após minha
fala sobre uma obra literária, ela veio até mim e me parabenizou.
Ela veio até mim...

Foi assim, sem esperar, mas desejando, que Yvonne Silveira me aproximou. Não, ela não era inatingível, não era uma deusa, ela é um ser humano, tão humano me fez sentir. Conversamos sobre Camões, e foi como se eu estivesse ouvindo, através de sua suave voz, a poesia de uma vida inteira. Sim, depois desse dia, sempre quando a vida me presenteava com a sua presença, eu me achegava para dizer um “oi!”. Em um desses encontros, ela me disse, com tanta poesia, “vamos encenar Inês de Castro? Você vai ser o Pedro!”. Tão singelo convite, como não aceitar. Só falta agora esse teatro se realizar.

No ano em que o Brasil perdeu o poeta dos Anjos, a poesia Yvonne teve seu primeiro verso traçado no fim daquele dezembro. A nossa Princesa ainda era uma menina, e a infanta Yvonne viu e sentiu o seu crescimento. Levantou muita poeira na hoje Praça da Matriz e Praça Doutor Carlos. Dançou muitos reinados com Caboclinhos, Marujada e Catopês. Nos canteiros, colheu flores e frutos; nas ruas e quintais, brincadeiras de um tempo que não volta mais. Época em que a vida seguia o tempo do sol e da lua, das prosas das calçadas, das histórias contadas à noite. Uma Montes Claros centenária...

Não fui seu aluno, mas imagino como seria se o fosse. Muitas de minhas professoras tiveram essa alegria que eu só a posso ter através de seus livros, pois seus ensinamentos de mestra das letras estão em suas palavras deixadas escritas nas páginas de uma história.

Que a vida me permita cantar essa amiga com a poesia que ela merece. E, seguindo o seu exemplo, possa eu também me aproximar de todos ao meu redor. Seja o seu olhar o guia de muitas pupilas que enxergam sem ver. Assim como eu, que continuo a formiguinha, mas almejando à sua visão de menina-mulher, de montes-clarense, de professora, de poeta, de história, de vida. Yvonne Silveira, a águia das Letras, que a muitos os ensina a ser.


Yvonne Silveira
O Poder da Interferência

Maria Alice Pereira Ramos

Montes Claros, década de 1960. Escola Normal, antigo prédio na Rua Justino Câmara, bem atrás da Matriz.

Ainda bem recordo a professora querida, sempre rodeada por alunos encantados com sua arte de ministrar aulas de Redação, e que confirmava o que o Mestre Paulo Freire dizia: “É preciso ter paixão pelo que se faz.”

Aquele movimento, de subida e decida de alunos com a mestra Yvonne da Silveira de um andar para o outro, acabou por me atrair. Por estar a minha sala de 6ª. série, antigo ginasial, situada bem no começo da escada por onde eles passavam, resolvi ir atrás.

Era comum, no horário do recreio, juntar-me às minhas colegas para “jogar pedrinhas”, no passeio do fundo, onde havia uma porta que dava para o pátio.

Sem perceber, fui desgarrando-me do grupo e acostumeime a seguir para o andar superior, a fim de admirar aquela professora tão querida e atraente. Logo percebi que dava aulas de Português/Redação, e após suas aulas, expunha as produções nas portas e paredes, como se quisesse quebrar as barreiras da sala de aula e ganhar fronteiras. Pois bem, para mim foi um achado fantástico. Passava meus recreios deliciando-me com a leitura daqueles textos descritivos e ainda me lembro de alguns autores: Rosane Bastos, Rosaltina Ribeiro, Carlos Alberto Wagner Veloso, Dilma Tibo e outros tantos...

Sempre convidava minhas colegas para aquela leitura encantada. Algumas me seguiam; outras, achavam que era desperdício de tempo: “- Agora é recreio, Maria Alice!” Mas eu sempre voltava acrescida dos encantamentos das descrições e contos.

Passaram-se os anos. Fui estudar interna no Colégio Imaculada. Queria me casar aos 16 anos, mas minha sogra aconselhou-me a esperar um pouco e recomendou-me a fazer o magistério, para ter uma melhor formação.

Nos primeiros anos de trabalho, lecionei para as séries iniciais, e a leitura era minha prioridade.

Na década de 1980, trabalhando na 12ª. Delegacia de Ensino, hoje 22ª. Superintendência Regional de Ensino, na função de incentivar o gosto pela leitura nas escolas, tudo que tentava não dava bons resultados, pois o Governador Newton Cardoso havia transformado a biblioteca em “Quadro Permanente”... Adeus pedagógico!

Porém, é na crise que se mostra a criatividade. “Deu estalo” e criamos a Feira do Livro na Praça. Assim, as escolas teriam a necessidade de levar os alunos a realmente ler e escrever para mostrar o produto desse projeto. Por cinco anos, foi um show de leitura na praça... E quem era o carro-chefe das articulações? Dona YVONNE DA SILVEIRA, parceira em todas as ações, a minha conselheira e companheira.

E sempre que precisávamos, lá estava ela: linda, elegante, sábia, solidária. Mais tarde, fui para a UNIMONTES e, depois de mais e mais estudos, entre 2000 e 2005, ministrei cursos de Normal Superior no Vale do Jequitinhonha. Para cada cidade que ia, pesquisava a respeito, pois gostava de conhecer um pouco das histórias daqueles lugares onde iria trabalhar. Naquelas pesquisas, pude contar com o auxílio do esposo de Dona Yvonne: o escritor Olyntho da Silveira. Durante aqueles encontros na residência do casal, saboroso também era sentir o cheiro de bolo assado e ouvir Dona Yvonne: “- Venha Maria Alice; venha Olyntho, tomar café.”

Mesa bem posta, xícaras de porcelana... um luxo: cultura com lazer e prazer não tem como esquecer.

Assim, a leitura alargava cada vez mais meu ser.

Um dia, após um evento cultural, Dona Yvonne me disse:“- Maria Alice, estou encantada com o seu crescimento. Como você evoluiu! Cada dia está melhor, como profissional e até mesmo como mulher, bem desenvolta.”

Fiquei feliz. A avaliação feita por aquela mulher fantástica foi um novo impulso.

Respondi: “- É o efeito da leitura que aprendi por meio de sua interferência, de sua influência.”

Retomei as palavras do espanhol Cesar Cool, durante passagem pelo Brasil quando, em entrevista, perguntaram-lhe: “- O senhor acha que o professor tem poder?”

Respondeu: “- Sim, e como. Existe um poder maior do que daquele que media a construção do conhecimento? Se é o conhecimento que nos dá autonomia, liberdade em fazer nossas escolhas? É o poder da interferência.”

Assim, Dona Yvonne, a senhora não apenas está passando por este Planeta: está, com suas atitudes, impregnando em nós os ícones de sua crença, as pegadas de sua influência e eternizando seus valores.

“Uma nação precisa de leitura”, ouvi por várias vezes essa frase, com ênfase, em seus discursos.

Realmente, todo o meu processo de evolução é resultado da minha paixão pela leitura, graças ao seu poder de INTERFERÊNCIA.

Parabéns, muita saúde e paz. Eterna gratidão!


Homenagem A DONA
Yvonne Silveira

Maria Ilca Terence de Noronha

Dona Yvonne Silveira já recebeu várias homenagens neste ano, todas elas pelo seu centenário. Merecidamente, todas, destacam sempre a sua generosidade, cultura e sabedoria passada aos seus alunos. Muitos alunos e alunas pertencem hoje à Academia Montesclarense de Letras, Academia Feminina de Letras de Montes Claros, Sociedade das Amigas da Cultura, e, grandes homens e mulheres exercem cargos políticos na Câmara Municipal de Montes Claros, na Assembleia Legislativa do nosso Estado, no Congresso Nacional, ressaltando também grandes empresários, comerciantes, agropecuaristas, professores, militares e muitos civis. Portanto, todos que passaram por Dona Yvonne Silveira, receberam além de conhecimentos, esmerada educação, formando – se verdadeiros cidadãos éticos, com dignidade, respeito e consciência dos problemas sociais do pais.

Como não agradecer a esta mulher, que muito tem feito pela nossa querida cidade de Montes Claros? Como diz Wanderlino, Dona Yvonne Silveira é muito vaidosa, mas como sabemos a vaidade é um complemento da feminilidade de uma mulher. A Academia Feminina de Letras de Montes Claros, idealizada por Dona Yvonne Silveira, foi fundada com o objetivo de homenagear as mulheres montes-clarenses, legitimando a ascensão feminina no campo literário. Fui convidada por ela para participar desde o início, mas trabalhando, só aceitei após aposentar-me do magistério. Agradeço de coração a esta grande mulher, “A Deusa das Letras”, a minha entrada na Academia Feminina de Letras de Montes Claros, que é um grande pilar incentivador da cultura de Montes Claros, do Estado de Minas Gerais e de todo o Brasil. Ao tomar posse na cadeira 39, cuja patrona é a professora Júlia dos Anjos e a fundadora a professora Maria Celestina de Almeida fez-me acreditar em uma destinação, pois, também sou professora.

A minha antecessora nos deixou há pouco tempo.

A Academia prossegue vitoriosa, apesar das perdas, pois é a fatalidade da sucessão de todas as coisas. Os que nos deixam, serão, sem dúvida alguma, sempre lembrados. Apesar do seu centenário, Dona Yvonne Silveira continua atuante engrandecendo a cultura de Montes Claros.


PROFESSORA YVONNE

Manoel Messias Oliveira

Quem é essa mulher que completará cem anos em dezembro próximo vindouro, vendendo saúde e esbanjando vigor? Falarei um pouco do seu passado, mas admiro muito o seu presente.

Disse Deus, um dia, a Moisés: “EU SOU AQUELE QUE SOU”. (Ex. 3,14). Professora Yvonne de Oliveira Silveira, o rejúbilo não é só seu. Os seus amigos também estão alegres e a alegria compartilhada é uma alegria dobrada.

Chega aos cem anos pela graça do Altíssimo, em direção do qual se volta o coração dos justos. Como professora, espalhou a boa semente aconselhadora aos seus discípulos, a fim de que pudessem galgar a escada do saber. Como escritora, no decorrer dos tempos acumulou uma extensa produção escrita; e, em sua prolífera carreira de escritora, sempre foi reconhecida como uma das mais competentes que conseguiu ultrapassar o mero entendimento das ideias nas palavras veiculadas, para penetrar no universo imagístico, na pluralidade de expressões e chegar ao encantamento que elas proporcionaram a todos nós.

Para falar um pouco sobre o centenário comemorativo da Professora Yvonne não me parece difícil. Para chegar a ela é preciso apenas ingressar pelo portal do seu generoso coração. Por isso, minha amiga, permita-me que eu possa bater delicadamente a essa porta. Peço licença para entrar e participar das alegrias pelas comemorações do seu centenário natalício. No mês de dezembro que se avizinha radiante, meus braços se alargarão para dar-lhe um respeitoso e afetuoso abraço.

Ainda, peço-lhe a delicadeza da atenção e a necessária empatia para externar a todos, indistintamente, junto com a minha saudação à amiga, um pouco do que sei da sua complexa riqueza humana, cultural, literária, poética e, sobretudo, de sua competência e dedicação ao magistério, cuja docência se ascendeu dos ensinos primários aos bancos da Universidade. Nessa luta acumulou conhecimentos e se transformou em uma grande intelectual, profunda conhecedora da arte de escrever e de falar, com oratória invejável.

Pelo reconhecimento meritório de sua capacidade intelectual faz parte da Academia Montesclarense de Letras, com assento na cadeira da presidência; também é sócia efetiva da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, sendo amada e admirada pelos seus pares. De tudo isso, e muito mais, não se cansou e jamais se cansará, continuará a combater o bom combate. Algo raro, diga-se de passagem.

Seu magistério foi de glórias em toda a sua caminhada para, finalmente, ser recompensada com merecida aposentadoria. Como professora, educando com retidão e firmeza, sua trajetória foi marcada por abnegação à vaidade, mas grandiosamente dedicada ao ensino e amor pelos seus alunos, transmitindo-lhes confiança e serenidade; sobretudo, direcionando-os à vida de acordo com a visão do mundo na sociedade, a fim de enfrentarem os desafios particulares e profissionais do cotidiano.

Você, amiga - permita-me o tratamento -, é uma mulher alegre, sábia, cheia de encantos, que sempre demonstrou firmeza e sensibilidade; introspectiva no seu modo de vida, continua nos ensinando que o domínio sobre nós mesmos depende de um exame interior profundo frente aos obstáculos enfrentados e da maneira como são encarados. E que, por vezes, é necessária prudência para que as ações tomadas não sejam instintivas.

Sua característica sempre foi o altruísmo, com prazer infinito na alma pelo dever de ensinar. Uma mestra que sempre soube sobressair pelas qualidades e dedicação ao magistério, cuja vocação surgiu ainda na infância.

Você, amiga, é uma mulher assim, profundamente capaz. Sente e compreende a luta da vida. Ama as coisas, ama as pessoas,é corajosa e vencedora. Quando solicitada acolhe todos com disponibilidade, compartilha experiência e dedica seu tempo com doação, amizade e ternura, cujos predicativos carrega no coração.

Há pessoas que amam o poder, amam o dinheiro, amam o prestígio e a fama; mas você, amiga, que respeitosamente esboço com leves traços, ao contrário, tem o poder de amar o simples, portanto, digna de ser admirada e imitada.

Você é, acima de tudo, humilde. Aliás, as pessoas verdadeiramente sábias, são sempre humildes. Estão a todo o tempo com as mãos estendidas e o coração aberto à bondade para ajudar, sem nada pedir em troca. É impossível dizer-lhe o quanto os seus patrícios a amam, desde as pessoas comuns às notáveis.

Homenagear a Professora Yvonne, tesouro da literatura, Presidente da Academia Montesclarense de Letras, por tudo que representa com o seu talento para o mundo dos livros, é sentir orgulho por uma cidadã ímpar, idealista perene, que nas suas poesias retrata exemplos edificantes. Uma escritora que produz memoráveis obras primas com formas definidas, que a experiência de vida lhe dita. Rodeada de livros e amigos, cultua o hábito de escrever. É uma mulher que ler muito. Sua inigualável profundidade literária, além dos excelentes trabalhos em verso, produz com maestria obras literárias em prosa; extraordinária por seu talento, sente-se à vontade para produzir extremas riquezas, as mais belas e perfeitas obras escritas em épocas diversas, que são ao mesmo tempo graciosas e singelas.

E não é só isso. Importa-me, ainda, frisar que você, amiga,é uma oradora nata, seus discursos são dos mais perfeitos que chegaram aos meus ouvidos. Exímia oradora, ponderada em seus brilhantes improvisos capazes de nos impressionar. Possuidora de vasta cultura, seus discursos são contagiantes. Faz gosto ouvi-los, seja qual for o tema.

Portanto, para você que chega aos cem anos, com saúde e a cabeça boa, exercitando a sua inteligência como escritora e muita habilidade ao falar em público, dona de uma cultura formidável em todos os aspectos, a minha homenagem justa e sincera.

Diga-me, qual o segredo de tanto vigor!


Montes Claros de ontem

Marilene Veloso Tófolo

A cidade dormia pacata, entre morros, vegetação e um rio, hoje poluído, servindo de esgoto para seus moradores. As ruas não eram asfaltadas, os carros em número reduzido, o mercado era ao lado, a praça repleta de pessoas que iam à feira dos sábados e onde circulavam animais com as mercadorias vindas das fazendas!

Neste ambiente, próxima à Praça Doutor Carlos, junto à casa do escritor Cyro dos Anjos, do Coronel Antônio dos Anjos,seu pai, casa do Coronel Filomeno Ribeiro, casado com Dona Laudy Maia, próxima a casa de Mário Veloso, loja de Benedito Gomes e das primeiras famílias que surgiram no largo de cima, nascia D. Yvonne Silveira, filha do farmacêutico Antônio Ferreira Oliveira e mãe Cândida Peres.

Não sei os detalhes deste acontecimento, pois ainda não havia nascido, só imagino e procuro detalhes, informações de pessoas, descendentes e familiares daquele ano de 1914, mês de dezembro!

O cenário era diferente, as ruas eram tranquilas, as casas de portas e janelas altas, o comércio na praça, onde havia os produtos da época (rapaduras, beijus, buriti, panã, coquinho azedo, panelas de barro, galinhas, ovos e porcos), os sobrados que abrigavam as famílias, pouco trânsito e as conversas nas calçadas e esquinas da vida...

E lá se vão cem anos, onde tudo mudou, a revolução nos costumes, na cultura, na educação, nas artes e nas vidas dos descendentes das famílias do século XX e XXI, em nada lembra a que me refiro!

Falo de um passado distante, onde a vida pacata, longe de assaltos e avanços! Da tecnologia atual, começava a desenhar passos para uma Montes Claros de hoje!

Terra de serestas, João Chaves com sua canção: “Amo-te muito”, catopés, marujos, caboclinhos. Dr. Hermes de Paula com o seu livro: “Montes Claros, sua gente e seus costumes”, Dr. Mário Veloso com sua farmácia, seus remédios, suas receitas e sua botica, Dr. João Alves, D. Tiburtina, na política e medicina, do Bispo D. João F. Pimenta.

A Escola Normal, com seus primeiros professores, que iniciaram os passos para essa Montes Claros, grande pólo educacional atualmente!

Neste ambiente de casarões, sobrados, política de grandes chefes, sem estradas asfaltadas, sem grandes indústrias, no ano de 1914 nascia D. Yvonne Silveira, mestra, escritora, fundadora de Academias, várias condecorações e eu a vejo mulher, fora do seu tempo, com garra, com estudo, honestidade, trabalho e ajudou a contribuir com a nossa história de vida, progresso material e cultural!

Por isso, nós, amigos e colegas, admiradores, prestamos homenagens, escritas, faladas, documentadas neste ano de 2014, para que as gerações vindouras resgatem a nossa História, as nossas conquistas, todo o progresso de Montes Claros, neste século de conflitos, mas também de grandes realizações!

D. Yvonne, que a sua vida, de 1914 até os dias de hoje, continue por muitos anos a dar-nos alegria, porque são de pessoas como a senhora, que precisamos para resgatar e escrever a História de Montes Claros, pois somos um pedaço desta cidade que tanto amamos e que sonhamos para nossos filhos e netos!


200 ANOS DE POESIA
Olyntho da Silveira & Yvonne Silveira

Téo Azevedo

Conheci o casal Olyntho e Yvonne Silveira em 1979, quando eu estava organizando em Montes Claros talvez o mais importante movimento musical de cultura popular da história do Norte de Minas e dos vales do Mucuri e Jequitinhonha, que, inclusive, deu origem à Associação dos Repentistas e Poetas Populares do Norte de Minas, entidade que abrigava todas as correntes destas culturas. Esse acontecimento revelou artistas como Zé Côco do Riachão, Grupo Agreste, Fatel, Pedro Boi, cantadores como Jason de Morais, Pau Terra, Zé Figueiredo, Tone Agreste, Nato Jatobá, Beija-Flor, cordelistas como Josecé, Silva Neto (Juca) e outros.

Nessa época também conheci a poetisa e romancista Amelina Chaves e musiquei o seu poema “Andarilho do São Francisco”, gravado em vinil primeiramente pela minha irmã Beatriz Azevedo. Foi Amelina quem me possibilitou uma maior aproximação com o casal de poetas Olyntho e Yvonne. Os três foram inclusive meus padrinhos quando recebi o título de Cidadão Honorário de Montes Claros, em 10 de fevereiro de 1981 (uma proposição do vereador Deosvaldo Pena), e depois quando recebi a placa do Mérito Cultural Cândico Canela (uma proposição do vereador Ademar Bicalho), em 28 de dezembro de 2001.

Olyntho e Yvonne sempre me contavam casos importantes ocorridos no Brejo das Almas (Francisco Sá), uma cidade fantástica. Eu convivi muito tempo com o povo daquela região, pois a minha irmã, Maria Flor de Maio, tinha fazenda nos dois riachos depois da serra, dentro desse município. Fiz muita serenata com meu irmão Antônio Augusto, com Zía, Casquinha e outros seresteiros nessa terra, e era comum vararmos a noite cantando e tocando no famoso Rancho da Lua. Anos depois fiz uma parceria artística com o ex-prefeito Zé Mário Pena, da qual surgiu um disco de vinil com a cultura musical de Francisco Sá, um trabalho histórico. Assim sendo, a minha ligação é muito forte com aquela região de origem do casal de poetas.

Naquela época, Olyntho me deu uma poesia de sua autoria para musicar, chamada “Passarinho”. Mas só agora neste álbumé que ela foi gravada, interpretada pela minha sobrinha, a médica Fernanda Azevedo, em parceria com minha irmã Beatriz, mãe de Fernanda. Em 2013, quando fui eleito membro do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, ouvi um diálogo entre Dario Teixeira Cotrim, Wanderlino Arruda e Itamaury Teles, no qual disseram que o ano de 2014 seria dedicado ao centenário da escritora e poetisa Yvonne Silveira. Na sequência recebi da minha esposa Maria de Lourdes Chaves, Lola, dois livros de poesia, um de Olyntho e outro de Yvonne, e fiquei encantado com o trabalho dos dois. Então tive a ideia de musicar poemas de autoria do casal e produzir um Cd, principalmente os poemas românticos que me inspiraram a ir pela trilha musical dos anos 70. Também musiquei um poema de autoria de Amelina Chaves, cujo teor homenageia dona Yvonne. Por fim, colhi depoimentos espontâneos de personalidades da cultura montes-clarense que conhecem e admiram o casal de poetas, os quais inseri no Cd.

Aí saí em busca de patrocínios para ajudar nos custos de produção. Tive muito apoio de Lola Chaves no desenvolvimento do projeto. Convidei alguns cantores do Norte de Minas e outros de São Paulo. Comecei a produção em maio e terminei em agosto. Foram quatro meses de muita batalha, mas consegui realizar esse sonho. O título do Cd, “200 Anos de Poesia”, faz referência aos 100 anos de dona Yvonne mais os 100 de seu
Olyntho, que faleceu faltando apenas cinco meses para também completar o centanário. Este álbum vem se somar a outros trabalhos musicais históricos que produzi abordando uma parte significativa da cultura da nossa região. Entre eles, “Zé Côco do Riachão”, “Grupo Agreste”, “Repentistas do Norte de Minas”, “100 Anos de Cândido Canela”, “Sob o Olhar Januarense - Velho Chico”, o box com cinco Cds da obra completa de João Chaves e o “Terno da Folia de Reis de Alto Belo”. Sinto prazer de ser da terra do Pau-Brasil. No aroma e no gosto do pequi, vamos saborear o som deste novo trabalho.


MÚSICAS DE TÉO AZEVEDO

01 – MARIA FLOR – Yvonne / Téo Azevedo – Canta Ana Beatriz
02 – ENCONTRO MARCADO - Yvonne / Téo Azevedo – Canta Nílton César
03 – COMPANHEIRO - Yvonne / Téo Azevedo – Canta Edith Veiga
04 – REMORSO – Olyntho / Téo Azevedo – Canta Eliane Bomfim
05 – MAIO E MARIA - Olyntho / Téo Azevedo – Canta Diego
06 – CANÇÃO DE AMOR - Yvonne / Téo Azevedo – Canta Coral Feminino do Grupo de Seresta Amo-te Muito
07 – MENINA MOÇA - Yvonne / Téo Azevedo – Canta Ricardo Braga
08 – MANHÃ - Olyntho / Téo Azevedo – Canta Eliane Bomfim
09 – AMIGOS - Yvonne / Téo Azevedo – Canta Célio Roberto
10 – DESTINOS - Olyntho / Téo Azevedo – Canta Djalma Lúcio
11 – BELA - Yvonne / Téo Azevedo – Canta Roberto Monte Sá & Ana Walkíria
12 – NÃO FUJAS DO AMOR - Yvonne / Téo Azevedo – Canta Nílton César
13 – CONVITE AO SONHO – Olyntho / Téo Azevedo – Canta Eliane Bomfim
14 – EPÍSTOLA - Olyntho / Téo Azevedo – Canta Adélcio Saraiva
15 – ETERNO SONHO - Olyntho / Téo Azevedo – Canta Djalma Lúcio
16 – PASSARINHO - Olyntho / Téo Azevedo – Canta Fernanda Azevedo& Beatriz Azevedo
17 – YVONNE, MULHER ESTRELA – Amelina Chaves / Téo Azevedo – Canta Valdo & Vael
18 – LUZ BENDITA - Olyntho (poesia) – Declamação Luiz Vieira
19 – DE MISS MONTES CLAROS A MISS MUNDO – Yvonne – Declamação Luiz Vieira
20 – FOLHAS DO TEU CAMINHO – Yvonne – Declamação Karla Celene
21 – METAMORFOSE – Olyntho – Declamação Karla Celene
22 – CANTINGUINHA PARA ALYRIA – Yvonne – Declamação Karla Celene
23 – A DEUSA DA UTOPIA – Olyntho – Declamação Karla Celene
24 – DANÇA, ZITA – Yvonne – Declamação Karla Celene
25 – BALADA DE AMOR PARA YVONNE E OLYNTHO – Ivana Rebello – Declamação Ivana Rebello
26 – DEPOIMENTO – Wanderlino Arruda
27 – DEPOIMENTO – Itamaury Teles de Oliveira
28 – DEPOIMENTO – Dário Teixeira Cotrim


ACRÓSTICO
Yvonne de Oliveira Silveira

Terezinha Teixeira Santos

Y - Y enigma de uma vida com plenitude
V - Vislumbre de uma grandiosa mulher
O - Ornada com as mais ricas virtudes.
N - No universo dos nobres intelectuais
N - No mundo denominado das letras
E - Está D. Yvonne na galeria dos imortais.

D - Da cidade de Montes Claros – MG
E - E tornou-se um Patrimônio Cultural

O - O seu aniversário é uma grande dádiva
L - Luz de Deus que a conduz à felicidade
I - Iluminada, abraça 100 anos bem vividos
V - Vida agraciada com os louros da idade.
E - Enaltecemos seus grandes méritos
I - Infinitos os seus dotes de fraternidade
R - Revivendo sempre os conhecimentos
A - A acadêmica compartilha ensinamentos.

S - Sapiência e firmeza nos pronunciamentos
I - Inteligência rara que abrilhanta sua vida
L - Laureada pelos amigos, premiada por Deus
V - Vibra e revigora uma alegria incontida
E - Escrevendo suas ricas e grandiosas obras
I - Irradia a luz de uma primorosa cultura
R - Reflexos de ricos saberes apropriados
A - Adornando uma primorosa literatura.


PROFESSORES
Estrelas Resplandecentes

Terezinha Campos

Há muitos e muitos anos, de acordo com uma antiga parábola, houve um venerável e velho rei, que governou um respeitável e antigo reino. Um dia, desejando honrar o cidadão mais digno de seu império, enviou seus ministros de Estado através de sua terra, para buscarem aqueles que eles
imaginassem ser os mais dignos. E então estabeleceu um dia em que se apresentariam perante ele. Na ocasião escolheria, entre todos, o mais digno.

Finalmente chegou o dia. A praça estava repleta de pessoas importantes; e o rei sentou-se ao trono. O primeiro ministro aproximou-se do trono, e apresentou um grande advogado, um homem que através da elaboração de suas benéficas leis, dera liberdade e justiça para todos. E a multidão bateu palmas e aplaudiu, pois ele era um cidadão muito respeitável.

O ministro seguinte apresentou um grande economista, e expôs como ele trouxera tranquilidade aos negócios do reino; e novamente a multidão bateu palmas e aplaudiu. O terceiro ministro, curvando-se (em reverência), apresentou um grande médico, cuja perícia tinha vencido a doença e salvado a vida de milhares de pessoas. Novamente a multidão bateu palmas e aplaudiu. Então o quarto ministro, aproximando do trono, trazia pelo braço uma idosa senhora de pequena estatura. Seus cabelos estavam brancos; as costas encurvadas; as roupas velhas e gastas. O rei ficou chocado e visivelmente aborrecido.

- Quem é esta mulher? - indagou ele - com que direito foi ela classificada entre estes ilustres homens?

- Ó rei - disse o ministro - quando estes homens eram ainda meninos, esta mulher foi a professora deles. Ninguém bateu palmas ou aplaudiu. Houve um momento de profundo silêncio. Então o rei se levanta, dá alguns passos do trono, e com lágrimas nos olhos, coloca a condecoração em volta do pescoço da pequena e idosa senhora. Ela era sem dúvida a mais digna cidadã do seu reino!

Assim é dona Yvonne tão homenageada em cantos e versos pelo seu desempenho como professora, desde a Educação Básica até à Universidade.

Lembro-me de uma aula de dona Yvonne lá no casarão, onde hoje é o Museu Regional e onde funcionou a Fafil (Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras). Era o ano de 1977.

Ela levou um texto de Mário de Andrade e sua biografia.
O texto dizia assim:

Na Rua Aurora eu nasci
Na aurora da minha vida
E numa aurora cresci

No largo do Paissandu
Sonhei, foi luta renhida,
Fiquei pobre e me vi nu.

Nesta Rua Lopes Chaves
Envelheço, e envergonhado,
Nem sei quem foi Lopes Chaves.

Mamãe! Me dá essa lua,
Ser esquecido e ignorado
Como esses nomes da rua.

Fomos então analisar o texto. A palavra aurora, significando o nome de pessoa homenageada; significando tempo e noutro lugar significando um momento agradável em que o autor cresceu. Ele foi descrevendo a sua vida no Largo do Paissandu, na Rua Lopes Chaves e, como não conheceu o Lopes Chaves ele encerra a poesia:

“Mamãe! Me dá essa lua, ”Esse devaneio, essa fantasia, “ de ser esquecido e ignorado” como esses nomes de rua.

Dona Yvonne nos motivou com a análise dessa poesia de Mário de Andrade a conhecermos as suas obras. E fomos pesquisar.

Mário Raul de Moraes Andrade nasceu no dia 9 de outubro de 1893, em São Paulo, na rua Aurora, nº 320, filho de Carlos Augusto de Moraes Andrade e Maria Luísa Leite Moraes Andrade.

Ele iniciou estudos de Música no Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, concluiu curso de Canto; diploma-se em Piano é professor de História da Arte no referido Conservatório e por aí vai o seu caminhar chegando a ser membro da Academia Brasileira de Música do Rio de Janeiro.

Ela nos deu uma relação de obras do autor, para que nós pesquisássemos sobre algumas delas. Foi um despertar literário frenético; cada um trazendo notícias da obra que havia lido, incentivando o outro e sendo também incentivados a fazer a leitura. Eu já apreciava ler, sempre fui leitora assídua e, aquela aula para mim foi um encantamento; e fui professora que despertei nos meus alunos o prazer da leitura; e os que mais leram são que mais se destacam em Concursos e no desempenho profissional.

É por estas e por outras que dona Yvonne recebe com honras e louvores as homenagens, que lhes são prestadas: a digna Cidadã de Montes Claros, A Deusa das Letras.


CEM ANOS DE GLÓRIAS

José Ferreira da Silva

Falar sobre dona Yvonne Silveira, esta grande mulher, mestra, escritora, cronista, historiadora, poetisa e amiga, transborda de alegria qualquer coração que ama a cultura e a arte transcendental da humanidade.

Conhecer e conviver com dona Yvonne Silveira é algo de encher o coração de prazer e satisfação, pois a sua capacidade é de tamanha valia que fascina qualquer elemento que com ela convive.

Felizmente tive o privilégio de ser seu aluno na Faculdade de Filosofia durante quatro anos, nas aulas de literatura Portuguesa e Teoria da Literatura foi fascinante pois ela transmitia o seu conteúdo com grande exuberância pode e capacidade.

Hoje quase cem anos vividos repleto do Espírito Santo, de alegria, jovialidade e sensibilidade razão, beleza, amor e lucidez são resultados de um fenômeno que somente o altíssimo pode explicar.

A caríssima dona Yvonne Silveira hoje é minha companheira do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, desejo que mais cem anos possam acontecer em sua belíssima vida e com certeza a senhora já está encrustada m nossos corações com ternura e carinho para sempre.


YVONNE SILVEIRA
A Prima Querida

Pedro Arnaldo G. Peres

Um dos meus primeiros contatos com a prima Yvonne foi na cidade de Francisco Sá, onde ela residia, na década de 50. Eu, ainda adolescente, acompanhado do meu saudoso pai Levy Peres, meu tio Dr Raul Peres, hoje com 104 bem vividos anos, minha irmã Wanda Guimarães Peres, numa visita àquela que, futuramente, se tornou a minha prima querida. Nesta oportunidade, senti um grande afeto e admiração por ela, e achei que era uma pessoa diferenciada, nas ideias e nas palavras. Por ser bastante jovem, mais apreciava do que participava do diálogo entre ela e os meus entes queridos. Ela muito falava, e eu, muito ouvia. Lembro-me bem do seu esposo Olinto, que todos diziam que era um intelectual, e que também intervia neste diálogo.

Retornamos a Montes Claros. Aquele encontro, aquelas palavras, e a boa impressão sobre ela, nunca mais saíram da minha cabeça. Nesta ocasião, ainda não conhecia a sua vocação de escritora e poetisa. Soube disto mais tarde, quando ela já residia em Montes Claros. A admiração cresceu e passei a acompanhar a vida da escritora, poetisa e professora, com carinho e respeito. E foi um sem fim de visitas e participações em eventos diversos que ela realizava ou era convidada a comparecer.

Nos dias de hoje, a minha grande admiração também se dá pela sua vitalidade, que ainda não encontrei em ninguém na sua idade. Uma ilustração disto foi o seu interesse em assistir a um simples enquete que participei numa apresentação final de um curso de extensão intitulado Iniciação Teatral, oferecido semestralmente pelo Curso de Teatro da UNIMONTES. Ela galgou os três lances da estreita escada do casarão da antiga FAFIL, uma atitude de fazer inveja a qualquer jovem. E ainda fez
uso da palavra!

Outro exemplo desta grande vitalidade, do qual posso falar com tranquilidade, ocorreu por ocasião da visita do governador Antônio Anastasia a Montes Claros, quando eu estive ao seu lado desde a saída de sua residência às 10h da manhã do dia 02/12/2013 até às 15h no Automóvel Clube. Guerreira, assistiu a tudo, sem queixas e dengos. Ela ainda elaborou reivindicações para nossa cidade, que foram por mim entregues nas mãos do referido Governador e do Deputado Dr Luiz Henrique Santiago nesta mesma ocasião, as quais aqui acrescento para comprovação e conhecimento de todos:

Montes Claros 02 de dezembro de 2013


Dr. Luiz Henrique Santiago
DD Deputado Estadual do Estado de Minas Gerais

Reconhecendo vossa excelência como um dos mais atuantes parlamentares, pedimos com extremada urgência, para que seja duplicada a BR-251 de Montes Claros à BR-116 que, muito estreita, vem provocando inúmeros desastres, com o trânsito intensivo de veículos de cargas e de passageiros, infelicitando as famílias.

Certos de que fará todo empenho para este melhoramento, agradecemos antecipadamente.

Atenciosamente,

Yvonne de Oliveira Silveira
Dr. Pedro Arnaldo G. Peres
Presidente da Academia
Médico e Professor da Unimontes
Montesclarense de Letras

YVONNE SILVEIRA
DA MINHA ADOLESCÊNCIA

Maristela Cardoso Freitas

Janeiro de 1969. Meus pais transferiram residência da cidade de São Francisco para Montes Claros. Bastante jovem, tudo espreitava com curiosidade, grande expectativa e ansiedade. Nova cidade, pessoas, colegas, amigos... Outro modo de viver e ver a vida. Uma mudança brusca para uma menina quem se acostumou, desde o nascimento, a viver numa pequena cidade, onde todos se conheciam, se cumprimentavam e se relacionavam com simplicidade. Tudo ficou pra trás! De agora em diante, para minha família e eu a marcha toma novos rumos.

Porém, dentre outras coisas, havia algo forte, mas muito forte que permaneceu dentro de mim: o gosto pela música, pela poesia, a “queda” para a arte. E foi assim, entre assustada, admirada, perplexa, às vezes triste de saudade, que este “algo” proporcionou o meu encontro inesperado, feliz e muito bem recomendado com D. YVONNE DE OLIVEIRA SILVEIRA, através de sua poesia: MONTES CLAROS DE MINHA INFÂNCIA. Jamais imaginei isso em minha vida. Mal sabia o que realmente ocorria nesta cidade, para além dos muros das escolas que frequentava. Sequer fazia ideia ou tinha consciência da grandeza e importância daquela (ou desta? Ajuda por favor DARIO, a cabeça está pesada rsrsr) mulher que participou dos primeiros passos da minha vida artística e cultural nestes Montes Claros.

Vejam bem pessoal. Que curioso este trecho da primeira estrofe desta poesia, com a qual eu participei do primeiro concurso de poesias de minha vida. Num momento em que, praticamente, acabava de mudar-me pra Montes Claros . Só agora percebo isto!

“...ONDE FILHOS E ESTRANHOS, ENCONTRAM PÃO E ARRIMO, NO TEU SOLO AMIGO.”


A recomendação veio do saudoso Dr. José Alves Mourão, advogado competente e então diretor do Colégio Estadual Profª Dulce Sarmento, do qual já era aluna em 1970, um ano depois de estudar no Instituto Norte Mineiro de Educação, o qual chamava, na meninice, de Instituto Verde. Ao ouvir-me cantar e declamar poesia nos grêmios que eram realizados no “DULCE”,
ele sugeriu que eu participasse do Concurso de Poesias, por ocasião do aniversário da cidade. Dr Mourão, atencioso e falante, era um incentivador. Indicou o nome de D. Yvonne, que eu a procurasse e pedisse uma poesia sobre Montes Claros, para declamar no referido concurso, que aconteceria no Cine Montes Claros. Recordo ter visto a que mais tarde soube ser Aline Mendonça, declamando e sendo muito aclamada... Ai que frio na barriga!

A minha cabeça mal se segurava no pescoço naquele momento em que o diretor me falou. Saí da escola embalada, e fui direto pra casa da professora. Lá chegando, era a hora do almoço. Pediu pra voltar depois. Ainda bem que eu morava próximo: ela, na Rua Padre Augusto ao lado da Minas Brasil, e eu, na Rua Dr. Veloso ao lado do antigo prédio do Conservatório Lorenzo Fernandez. Almocei e retornei em cima do rastro. Lá chegando, ela me recebeu bem, mas com muitas perguntas. Quando disse sobre Dr Mourão, suas sobrancelhas desarquearam, para meu alívio. Pediu, claro, que eu declamasse para ela ouvir. Menina desavisada, declamei A FEIA, de autor nunca sabido até os dias de hoje. Uma poesia tão enorme que, mesmo sendo ela uma grande apreciadora, me disse que podia parar, que estava muito bom, que ela já tinha percebido que eu sabia declamar.
Me ofereceu a poesia acima citada. Disse-me que assim que eu a decorasse, retornasse para o ensaio. Que eu tinha “jeito”, falava bem, mas de um modo assim, como que “açoitado”... meio“gritado”. Pelo menos foi o que eu entendi na época. Dois dias depois, lá estava eu de volta, e ela, de novo com as sobrancelhas levantadas, perguntou se eu havia faltado às aulas para decorar a poesia: “ QUE PRESA É ESSA MENINA?”, disse-me, convidando-me educadamente para entrar. Treinou e treinou comigo
a poesia. Muito fez para domar certos trejeitos sanfranciscanos, e também os urucuianos. Que não gesticulasse tanto, ou, pelo menos, movesse braços e mãos com menos “força”. Não precisava dar “socos” no ar. Sugeriu que eu treinasse também com D. Felicidade Tupinambá, creio que para com sua calma e doçura, com certeza, ajudasse a corrigir os meus arroubos. D. Yvonne, uma mulher sábia desde sempre!

Uma pena gente, ela não se lembra desta passagem! Mas também, lembrar pra que?

Alguns anos mais tarde, com meus trinados líricos já adiantados graças ao Conservatório Lorenzo Fernandez, ganho uma admiradora, que constantemente convidava-me (e ainda convida) para participar, com o canto, de seus eventos literários como Presidente da Academia Montesclarense de Letras.

A minha gratidão, admiração e respeito a essa senhora, que possui várias outras qualidades que todos conhecem, valorizam, vivenciam e apontam, incansavelmente, com toda justiça


Canção para a
Mestra Querida

Ivana Ferrante Rebello

Disseram-me que a poesia de nada servia.

E eu vim pensando nas palavras que diria, mestra querida.

É mesmo. Poesia não vale dinheiro, não compra passagem, felicidade, prestígio ou fama.

Poesia a gente põe no rol das coisas inúteis como o bilhete de amor do namorado, como as flores sem pedigree que nascem na rua, como o abraço do filho que retorna da viagem, como a lua que, toda noite, e insistentemente, repete uma aparição diferente...

E eu vim pensando nas palavras que diria, D. Yvonne.

Pensei em Camões, Bilac, Antero de Quental, Fernando Pessoa e todas as vozes que ainda ecoam no velho casarão da Fafil... Entre as paredes, de velho adobe, murmúrios de tempos que se irmanavam: vozes de velhos poetas, poetas novíssimos surgindo...

D. Yvonne, de salto alto, equilibrava-se nas nuvens; fazia malabarismos com versos, rendia loas às letras e rimas. E nossos olhos curiosos, enredados pelas aulas da mestra, caíam na fatal armadilha... acabavam fascinados pela poesia.

Mas, para quê, perguntaram-me, durante a vida?

Poesia, essa matéria inquieta, não tem nenhuma serventia.

Não serve para emagrecer, não serve para comer, não serve para vestir, não serve para viver.

Dona Yvonne prosseguia, abraçada com seus livros, amiga de seus poetas, citando Fernando Pessoa: O poeta é um fingidor/ finge tão completamente/ Que chega a fingir que é dor/ A dor que deveras sente...

E nossas almas gulosas, embevecidas de luz, pediam mais uma vez: E a “Nega Fulô”, D. Yvonne, recite mais uma vez....

E de cima de seu salto, no palco de sua sala, D. Yvonne, empertigada, seduzia seus alunos: Ora se deu, que chegou/ no banguê do meu avô/ uma nega bonitinha/ chamada Nega fulô/ Essa nega fulô...

Essa professora....

Ah! Ela nos cativou. Falava de Aristóteles e Drummond, passeava do clássico ao popular, servia-se da língua com tanta desenvoltura como quem passa um batom!

Mas, para que, perguntam os céticos: se poesia não tem serventia?

Poesia se fia na vida, como lã bem delicada.

Poesia se tece com amor pelas coisas pequeninas.

Poesia acalenta o peito das saudades dolorosas.

Poesia empresta o ombro, para os corações partidos. Poesia apruma o espírito para as batalhas do dia.

Dona Yvonne, como uma Penélope moderna, teceu, pacientemente, seu tecido do viver. Um século é pouco pra ela e sua fome de saber.

Seu amor pelas palavras, sua pauta de ensinar; sua forma de dizer, sua vocação de mestra... em tudo se vê beleza, dignidade, elegância. Essa jovem centenária tem uma alma de criança!

E se me perguntam ainda: Para que serve a poesia?

Peço-lhes que, com cuidado, olhem bem esse retrato que se pintou pelo tempo. Vejam a luz que emerge dessa memória de menina...

A poesia escolheu você para espelho, minha professora querida. E, se possível, de salto alto!


YVONNE SILVEIRA
Orgulho dos Peres

Neide Peres Amaral

A primeira neta dos meus avôs, Francisco Peres de Souza e Aurora Regina Durães Peres, nasceu no dia 30 de Dezembro de 1914, dois anos antes do nascimento da última filha dos seus avôs, Zélia em 1916.

Os jovens avós se sentiram constrangidos de serem avós e pais ao mesmo tempo, e determinaram que seus netos os chamassem de Zizi e Padrinho.

Assim todas as gerações de netos os conheceram e assim o chamavam.

Yvonne foi batizada com o nome Yvonne Peres, herdado da sua mãe Cândida (China) e de Oliveira, herdada do seu pai Antonio (Niquinho), mais tarde com o casamento com Olyntho herdou o sobrenome Silveira, passando assim a ser chamada, Yvonne de Oliveira Silveira

Meu pai Levy, dizia que nosso avô tinha um carinho especial por ela, causando até certo ciúme (no bom sentido) em sua esposa.

Só fui conhecer a prima Yvonne quando já morava em Montes Claros, mas todos já comentavam e já era vista como o orgulho da família, pela sua inteligência e cultura.

Mulher de fibra e batalhadora à frente do seu tempo, que com sua alma gêmea companheiro e amor da sua vida Olyntho, não viu obstáculo para que sua busca fosse interrompida

A sua mãe Cândida que todos conheciam como China, era a minha madrinha de batismo, Yvonne ao saber disso com o falecimento da sua mãe, me adotou como afilhada e faz questão de me chamar de afilhada.

Com este gesto carinhoso da parte dela nasceu em mim um sentimento todo especial por ela.

Frequentei a sua casa algumas vezes na Rua Padre Augusto e ainda me lembro quando fez uma reforma em sua casa e fez questão de mostrar todos os detalhes da reforma.

Falar de Yvonne é fácil, pessoa além de culta e inteligente, suave, doce, enérgica e positiva, difícil mesmo é escrever sobre ela, principalmente eu que não tenho este dom de expressar através da escrita.

Mas como não deixar de expressar este meu sentimento de orgulho por fazer parte desta raiz maravilhosa, início da nossa geração?

Nossa história tem que ser contada para não perder no tempo e que novas gerações possam e tenham a oportunidade de conhecer nossos antepassados e se orgulharem dele.

Yvonne, mulher guerreira cujo exemplo é para ser seguido, como mulher, esposa, mãe e educadora.

Não teve filhos vindos das suas entranhas, mas é mãe e avó, no verdadeiro sentido do coração.

Quando o seu irmão Wilson adoeceu e foi rejeitado pela família num asilo, o seu coração generoso falou mais alto, ela o acolheu em sua casa, cuidando dele até seus últimos dias de vida.

Nestes seus cem anos, Deus a tem protegido como uma joia rara para ser seguida neste mundo tão necessitado de almas puras, boas e generosas.

Parabéns, Yvonne, que Deus a conserve com saúde e esta lucidez tão especial por muitos e muitos anos entre nós.


YVONNE SILVEIRA
Marcas de um Encontro

Maria Dione Carvalho de Moraes

Voluteando na ideia e relampejando no tempo
(pequeno fragmento da memória social de D. Yvonne Silveira,
em seu centenário): marcas de um encontro

Estava lá... Em um álbum, daqueles dos inícios dos anos [de] 1980, com páginas adesivas. Abro, revejo, e constato que não há como descolar, sem rasgar, um pequeno folder, de 22 X15 cm, ali protegido dos rigores do tempo e do esquecimento.

Este registro mnemônico, embora fixado na página hirta de um álbum antigo, aciona lembranças, evoca sentimentos, aguça sentidos, provoca ideias, traz inspiração. Tais estímulos são a base desta minha participação no trabalho de construção da memória social da secular Yvonne de Oliveira Silveira – “dona Yvonne”, do qual muito me honra participar.

Falo de trabalho da memória, em sentido antropológico, considerando que se rememorar, no plano individual, é processo complexo, podendo incluir desde uma sensação mental altamente privada e espontânea, possivelmente muda, no plano coletivo vai da tradição oral e de pequenos rituais a cerimônias públicas solenizadas, comemorações múltiplas, homenagens, como as que se realizam neste ano de 2014, a partir da cidade de Montes Claros, onde nasceu D. Yvonne, aos 30 dias de dezembro de 1914.

Rever este velho álbum, para escrever este texto, faz-me percorrer meus próprios palácios e cavernas. Sim, como dito por Santo Agostinho, a memória compõe-se de cavernas e de palácios, e buscar nossas recordações guarda, por vezes, semelhanças com visitar palácios (lembranças) e, por outras, com explorar escuras cavernas esquecimento).

Ao escrever estas linhas, sinto-me, [pois], imersa em lembranças e esquecimentos.

Afinal, que fragmento trago para reunir-me a tantos neste processo rememorativo/comemorativo em homenagem a D. Yvonne? Certamente, um olhar algo diferente daquele de quem acompanha a vida e a obra de tão ilustre pessoa do norte das Minas Gerais que, neste ano de 2014, comemora um século de vida.

Sem pretensão de debruçar-me sobre tão rica trajetória – o que tantas outras pessoas certamente fazem, de forma competente– falo de um lugar específico, talvez impensado: da noite da minha formatura no Curso de Graduação em Ciências Sociais, no ano de 1981, juntamente com formandos de outros cursos da área de Ciências Humanas e Letras, da Fundação Norte Mineira de Ensino Superior/Faculdade de Filosofia, Ciências e Título inspirado no texto de D. Yvonne (linhas 13 e 14), reproduzido, adiante.

Pós-Doutoranda em Sociologia (PPGS/UFPE, Recife-PE); doutora em Ciências Sociais (UNICAMP, Campinas-SP); mestre em Sociologia (UFPB-Campus II-Campina Grande-PB); Especialista em Gestão da Cultura (UFRPE/FUNDAJ/MinC-Recife-PE); Graduada em Ciências Sociais FUNM/FAFIL, Montes Claros-MG). Profa UFPI, no Departamento de Ciências Sociais, e nos Programas de Pós-Graduação em: Políticas Públicas
(Doutorado e Mestrado), Antropologia (Mestrado) e Sociologia (Mestrado) na Faculdade de Letras do Norte de Minas-FUNM/FAFIL. Naquele ano – [e], provavelmente, em outros tantos – D. Yvonne foi a paraninfa. Nossa paraninfa.

Com base em minhas lembranças – algumas sem perspectiva com as de amigos, que me ajudaram a preencher certas lacunas cintilar da energia criadora da homenageada/paraninfa, inscreveram-se, indelevelmente, as marcas de um encontro. Inscrição não apenas restrita ao referido álbum de fotografias. Não pude desprender, da página adesiva, o folder onde fora impresso, em duas colunas, o texto que a paraninfa nos dedicou. Mas posso reproduzir, aqui, seu conteúdo, fazendo ecoar mais [ainda] esta nota de uma voz que reverberou em enunciações em salas de aula e que continua reverberando em páginas de livros a jornais, na Academia Montesclarense de Letras, na Academia Feminina de Letras de Montes Claros, no Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, em conferências e palestras. E alhures... Assim mesmo, com reticências. Afinal, como diz a própria D. Yvonne, este é apenas o seu “primeiro centenário”, segundo a amiga comum, Ana Valda Xavier Vasconcelos.

Naquela noite, provavelmente de dezembro de 1981, tive a honra de pisar por duas vezes o palco do então Cine Montes Claros: como formanda que colava grau e como oradora da turma de concludentes do Curso de Ciências Sociais. A propósito, na ocasião, as turmas de formando/as dos vários cursos das Ciências Humanas e Letras da FAFIL tiveram um orador e
uma oradora. Não recordo o nome do orador (creio que um formando do Curso de Letras), mas lembro-me de um fato curioso relacionado a pessoa muito próxima de D. Yvonne e que tragoà baila, como exemplar lição de ética. Dias antes, os formandos indicados aos oradores, pelas respectivas turmas, apresentaramse a uma comissão julgadora, composta de professores incumbidos de avaliarem a qualidade dos discursos elaborados pelos candidatos e de escolherem o orador. Da comissão, naquele ano, fazia parte Maria Luísa Silveira Teles, sobrinha de D. Yvonne e professora do Curso de Letras.

Lembro-me de que ela pediu dispensa da comissão pelo fato de uma pessoa dentre os candidatos – como declarado por ela – ser do seu círculo de amizades, o que, do ponto de vista ético, impedia-lhe de participar da banca. Não me recordo de quem mais compunha a comissão. Mas esta atitude, pelo seu conteúdo edificante, ficou-me na lembrança. Não sei que rumos tomou meu texto do discurso de oradora. Mas o da paraninfa está lá: em companhia das fotografias da “nossa turma”, como costumávamos dizer, composta de catorze pessoas: Adélia do Carmo Araújo, Ana Inês Gomes, Carmen Lúcia Gonzaga de Oliveira, Fernando Guimarães Franco, Florionice Teixeira Mendes, Geralda Ramos Guimarães, Geraldo Jorge de Oliveira Gonçalves, Ignácia Alvarez Uria (“Irmã Inácia”), José –, escrevo sobre um momento em que, no 3 Meus agradecimentos a Ana Valda Xavier Vasconcelos (e, por seu intermédio, a Maria Luísa Silveira Teles), a Florionice Teixeira Mendes, e José Manoel Xavier Souto (Manoelito).

Euler Batista, José Manoel Xavier Souto (Manoelito), Maria Nilza Lopes e Silva, Maria Valdete de Castro [e] Meire de Oliveira. Anos depois, e após tantas vezes ter vivido a experiência de ser paraninfa – o que muito me honra nesta escolha que exerço há cerca de vinte anos na Universidade Federal do Piauí – como professora-pesquisadora, mas, sobretudo, como educadora, formadora de novas gerações, penso que a etimologia do termo paraninfo, com origem no grego paráninphos e no latim, paranynphum merece ser lembrada pela beleza do significado e pela distinção conferida a quem assim é nomeado. Como madrinha, paraninfa é pessoa a quem se prestam homenagens, e de quem se espera a palavra: o proferir do discurso. A mensagem de agradecimento e de exortação.

Nesse duplo investimento, como homenageada pelas turmas de formandos e como madrinha destas turmas, D. Yvonne dirigiu-se a nós, em seu discurso, no belo texto que nos dedicou e entregou impresso a cada um artigo e que registra o momento em que sou por ela cumprimentada e recebo o texto de suas mãos. É o texto-exortação, reproduzido abaixo, em uma imagem fotográfica do original impresso colado no referido álbum,
cuja página amarelada compõe uma moldura de aspecto desgastado, como a lembrar que ao desgaste da moldura nem sempre corresponde o do que é emoldurado. – como se vê na fotografia que encabeça este, atitude que me inspirou em minha primeira experiência, há anos, como paraninfa.

Ao trazer este fragmento – acionado pelas minhas lembranças, com o auxílio das pessoas citadas –, para inscrevê-lo neste trabalho de construção da memória coletiva de D. Yvonne, penso no quanto a memória social implica a convergência de diversas fontes (incluindo memórias anteriores com as quais as novas se comparam), sendo essencialmente, complexa, uma vez que nem em nosso cérebro individual [não] há dados puros, secos, isolados, nem os há na memória coletiva. Talvez isto até exista nos arquétipos platônicos, nas matemáticas ou nos computadores.
Mas, como diz Iván Izquierdo, no cérebro humano os dados que recordamos, tanto os novos, que entram, quanto os que já estão em nossa memória, acompanham-se sempre de um vínculo de matiz afetivo ou cognitivo – e do desejo, como bem diz Sigmundo Freud. Assim, nem a memória individual, nem a social, pode ser concebida como registro passivo. De fato, implica um trabalho de síntese, de “edição”, sendo o ato de recordar não apenas reprodução, mas construção.

Socialmente, o ato mnemônico aparece, sobretudo, como comportamento narrativo, em uma aproximação entre linguagens e memória. E nas narrativas que compõem este trabalho coletivo de construção da memória yvoniana, quantos pequenos fragmentos e grandes evocações!

Tudo isto remete ao vínculo entre memória e invenção, ideia já encontrada na Antiguidade Grega. Neste sentido, rememorar trajetórias é, também, reinventá-las. Em por racionalidadeà narrativa, como diz Pierre Bourdieu, quando fala da ilusão biográfica. É produzir uma fictio, no sentido atribuído por Clifford Geertz, não de uma invenção espúria, apenas ideacional, sem
base factual, mas como algo modelado, construído pelos sentidos atribuídos e acionados. Com, isto, quero dizer que Montes Claros, em 2014, ressignifica a trajetória de D. Yvonne, a partir dos sentimentos e sentidos construídos por quem a homenageia [e] por quantos a têm como memorável.

Tomar como memorável! Que Mnemosyne, como entidade sobrenatural ou divina, inspire-nos! Na perspectiva da nossa pa(ma)ternidade filosófica ocidental, antiguidade grega, Mnemosyne, a recordadora, era uma deusa que, unida a Zeus, gerou as nove musas responsáveis pela inspiração, protetoras das artes e da história. Como filha do céu e da terra (Urano e Gaia), irmã do tempo e do oceano (Chronos e Okeanos), todas etáforas da
infinitude, era mãe da inspiração e matriz geradora, revelando as ligações obscuras entre rememorar e inventar. Tinha como função dizer o que é, o que será e o como foi, como registrado na teogonia, fórmula que definia a arte de adivinhos que sabiam o passado, [o] presente e o futuro. Daí o parentesco entre profetas e poetas, ambos sujeitos entusiasmados, no sentido etimológico (en + téos = com um deus, o daimon, a divindade, dentro de si). Divindade que fala pela boca do profeta e do poeta, como lembra Adélia Bezerra de Meneses. E como registra Emília Go
doi, memini (lembro) e moneo (advirto) são parentes próximos, sendo que a função social da memória – lembrar e advertir – é unir começo e fim: o que foi e o [q há] de vir.

A deusa Memória dava aos poetas e adivinhos o poder de voltar ao passado e de lembrá-lo para a coletividade, podendo conferir imortalidade aos mortais pelo registro dos atos, feitos, gestos e palavras de um ser humano que se tornava, assim, memorável. Historiadores antigos colocavam suas obras sob a proteção das musas que, acreditava-se, inspiravam a tessitura da “túnica inconsútil” da verdade, como dito por D. Yvonne. Objetivo dessas obras escritas era não deixar que se perdessem feitos exemplares às gerações futuras. Não teria uma dessas musas protegido de um dos aspectos da força de Chronos – a destruição – o folder com o discurso impresso da paraninfa naquela noite de 1981? Em seu discurso, a homenageada-madrinha lembrava, a nós, jovens formandos, da “força incoercível da palavra”, das heranças que frutificam “em amor pelas ciências” [e] em cujos caminhos crescem as árvores do saber, “regadas com o sangue vivo do mestre”. E advertia-nos sobre as trilhas futuras nas quais nós, tornados mestres pelo diploma que nos era conferido, éramos investidos de um “poder que pode destruir ou cada vez mais crescer”. Nestas trilhas, seríamos interpelados, pelo clamor da juventude, “para a conquista da vida”, cuja integridade vê-se ameaçada pela voracidade do materialismo que nos aprisiona a consciência da liberdade, qual vendaval que ameaça os valores humanos.

Ao dispensar ao sujeito uma onisciência do tipo divinatório, não do passado individual, mas do passado geral do tempo antigo, Mnemosyne realiza uma evocação na qual a anamnesisé uma espécie de iniciação. Assim, ligando aqueles idos de 1981 aos dias atuais, como (re)leio e [re]ssignifico as palavras de D. Yvonne? Como lembrança e advertência, sobretudo, exortandonos, como novos mestres, a assumir o papel de educadores,“ vestindo a túnica inconsútil da verdade”, construindo nossos caminhos sem o receio de “levantar a poeira da estrada”. Suas palavras incitam-nos à tomada de consciência da “grandiosa caminhada do existir” e de que tal caminhada não se faz de forma solitária, mas no “co-existir”, no “ser-por-outros”. E conclui, instandonos a sermos livres, a experimentarmos o “amor universal da liberdade”.

Este texto de D. Yvonne, fixado em um velho álbum com páginas colantes, não queda apenas preso, ali, há 33 anos. Suas palavras voluteiam nas ideias e, como a memória, unem o começo ao fim e o fim ao começo. E, como marcas luminosas [e] indeléveis de um encontro, relampejam no tempo.

No entretempo nostálgico das festas de agosto, e das vésperas das festas de setembro,

Recife-PE, agosto de 2014 de Montes Claros, do Brejo dasAlmas. Pura saudade!.


EM MONTES CLAROS,
HÁ CEM ANOS, NASCEU
YVONNE SILVEIRA

Wanderlino Arruda

Yvonne de Oliveira Silveira nasceu em Montes Claros em 30 de dezembro de 1914. Filha de Cândida Peres e do farmacêutico, intelectual e rotariano Antônio Ferreira de Oliveira. Graduada em Letras pela antiga Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras do Norte de Minas, tem pós-graduação em Teoria Literária pela Universidade Católica de Minas Gerais. Regente de classe e professora de Educação Física por dez anos, casou-se com o fazendeiro Olyntho Alves da Silveira, poeta, cronista, escritor e historiador.

Dedicada às letras desde a adolescência, Yvonne sempre colaborou com os jornais de Montes Claros e de Belo Horizonte, publicando excelentes textos. Participou de várias e importantes antologias. Escreveu vários livros. Em parceria com o marido, BREJO DAS ALMAS-CRÔNICAS E HISTÓRIAS; em parceria com Zezé Colares, MONTES CLAROS DE ONTEM E DE HOJE e FOLCLORE PARA CRIANÇAS. Além destas parcerias, Yvonne escreveu CANTAR DE AMIGA e MONTES CLAROS – CRÔNICAS, este organizado por Osmar Pereira Oliva, Editora Unimontes. Tem ativa participação na Comissão Mineira de Folclore.

Eleita presidente da Academia Montesclarense de Letras há 29 anos, continua no cargo, segundo ela mesma, vitalício. Foi fundadora da Academia Feminina de Letras de Montes Claros e participa do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, da Academia Municipalista de Letras de Minas Gerais e da Academia de Letras, Ciências e Artes do São Francisco. Foi fundadora e primeira presidente da Associação Amigas da Cultura.É sócia honorária do Rotary Clube de Montes Claros-Sul e do Elos Clube de Montes Claros. Professora emérita da Unimontes -Universidade Estadual de Montes Claros.

Inteligente, estudiosa, muito prestativa, sempre atendeu a pedidos de colegas e amigos para revisão e prefácios de livros. Aluna do Conservatório Estadual de Música Lorenzo, foi-lhe concedido o título de Honra ao Mérito pela grande e continuada contribuição.

O Curso de Letras feito por Yvonne, o primeiro em nível superior em Montes Claros, início no Colégio Imaculada Conceição, em 1963, teve matrícula de 52 e formatura de somente sete: Yvonne, Saturnino, Hugo, Adilson, Lola, Irmã Guiomar e Wanderlino. Quando o terminamos em 1967, para sermos professores universitários em nossa própria escola, Yvonne e eu tivemos de seguir para a pós-graduação na Universidade Católica de Minas Gerais, ela na especialização em Teoria da Literatura, eu em Linguística Geral, isso além de termos de prestar exames de suficiência, ela na Universidade Federal em Belo Horizonte, eu na Federal de Juiz de Fora, porque o registro da Fafil iria demandar ainda algum tempo. Já com muita prática no ensino de Português e de Literatura, fomos na área os primeiros a preparar futuros alunos e candidatos ao vestibular. Daí, da cátedra e da titularidade de professores, vivemos entre importantes gerações de estudantes que, hoje, marcam o jornalismo, a vida social, a batalha política e cultural em várias partes deste Brasil.

Como sua estreia no magistério foi aos doze anos, Yvonne teve multiplicadas oportunidades para despertar vocações, quase um século de benfazeja prestação de serviços à cultura. Fico encantado quando um aluno de Yvonne marca lembranças de suas aulas, principalmente por recordar cada minuto do entusiasmo dela, principalmente das muitas palavras de incentivo à leitura e à escrita.

Na sublime idade de cem anos a que chegou, está presente em todas as solenidades e outros atos a que é convidada, sempre no centro da mesa de honra.Yvonne de Oliveira Silveira é Cidadã Benemérita de Montes Claros desde em 1985.


Cem anos de
Belas Lições

Manoel Hygino dos Santos

Agosto, 14. Na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, por proposta do deputado Carlos Pimenta, prestou-se homenagem à professora Yvonne Silveira. Nenhuma iniciativa mais legítima e justa. O preito se deu ao ensejo do seu centenário de nascimento, enquanto se promoviam as festas típicas do mês na maior cidade do norte-mineiro, em que ela nasceu e a que dedica toda sua vida.

Em todas as ocasiões e lugares em que se fazia necessária sua presença no campo cultural, educativo, literário, artístico e cívico, lá estava. Suas aulas na faculdade se caracterizavam pela livre manifestação, interação e harmonia com seus discípulos. A mestra insistia na tecla da leitura dos bons livros e dos bons autores, como condição de formação intelectual, de êxito pessoal e profissional e, por extensão, para desenvolvimento do ser humano e da pátria. As aulas constituíam, enfim, lições de espírito cristão, de transmissão de ensinamentos imprescindíveis, de sabedoria e brasilidade, de respeito ao passado e da visão de futuro.

No finalzinho de 2013, programavam-se os festejos, a que ela modestamente disse não fazer jus. Desde então, comoventes encontros se sucederam para cumprir, ou não, o que se deliberava. Dona Yvonne já deixara de pertencer-se, para pertencerà sua cidade, à sua história, à sua gente, a seus costumes e tradição, a seus ideais, ao magistério universitário, às letras. Presidente da Academia Montes-clarense de Letras há muitos anos, tem dedicado ininterruptamente aos nobres objetivos da entidade identificada como “A Casa de Yvonne Silveira”, com Y e duplo n, como convém. No decorrer do calendário de 2014, tem sido alvo de sucessivas manifestações de apreço e admiração, e razões suficientes existem.

Dona Yvonne, grande dama da intelectualidade regional, não falta a compromissos, desloca-se a todo lugar e na hora em que é chamada, e persiste em sua linha de conduta neste ano como o fez ao longo de toda a existência. Jovem, em seus cem anos, não tergiversa, não falha. Um exemplo genuíno da tenacidade da mulher do sertão mineiro.

Lecionou literatura na Faculdade de Filosofia, a FAFIL, mas sua vida é a grande lição, insinuante no salto alto, a voz firme, a argumentação segura, a memória fantástica, que jamais deixa escapar um detalhe. Doutora em Literatura, o é também em comportamento e elegância.

No Dia Internacional da Mulher, institucionalizouse a proposta de atribuir a uma brilhante mulher a placa alusiva à data. Por sinal, a distinção foi conferida exatamente a Dona Yvonne, nem poderia ser de outra maneira.
Esta apenas uma das expressões de carinho a quem se mudou da cidade natal, adolescente, apaixonou-se, casou-se e viveu com seu eleito durante 76 anos, um amor que parece novela, mas nunca se apaga.

Viúva, não se dobrou como o junco à adversidade. Não perdeu a doçura, o entusiasmo, o charme, a voz suave, o leve sorriso, para continuar a vida. Que completa um século, mas tem muito mais caminho a percorrer.


O Padrinho
da Menina Yvonne

José Divino Lopes Filho

Era o ano bissexto de 1852 e na sexta-feira 13 do mês de agosto, nascia o padrinho da menina Yvonne. Se quisermos crer em coincidências cronológicas que direcionam tendências, habilidades e inspirações, neste ano bissexto nasceram Alice Liddel, que viria a ser a inspiradora do clássico livro Alice no país das maravilhas, e Antoni Gaudi, genial arquiteto
catalão cujas obras são firmemente vinculadas à natureza e à religião. Sim, os anos chegam e se vão e neles nascem e morrem
pessoas. Em 1852, quando nasce o padrinho da menina Yvonne, morre o educador Friedrich Fröbel, que idealizou e construiu o primeiro Kindergarten – Jardim de Infância – do mundo. Mas quanto ao nascimento do padrinho da menina Yvonne, é provável que enquanto sua mãe estava em trabalho de parto sob os cuidados de parteira, seu pai conversava na sala anexa com o jovem médico, formado em Paris, Bento Alves Gondim. Isto era o que rezava a práxis do parto domiciliar no Brasil; famílias que podiam contar com a presença de médico na hora do parto, o tinham como opção de emergência. Na prática quem conduzia os trabalhos eram mesmo as confiáveis parteiras. O doutor Bento não era apenas o médico, era também sócio, em negócios diversos, do pai do padrinho da menina Yvonne. Recentemente eles haviam, por meio de sociedade com outros membros, adquirido de ingleses a fábrica de tecidos Cana do Reino, situada no então distrito de Riacho Fundo. O pai do padrinho da menina Yvonne foi mesmo um homem importante e influente em seu tempo, tendo sido até deputado provincial, gosto este que ele repassaria aos filhos. Viveu quase 80 anos, sendo pai de uma filha e outros dois filhos, além do rebento caçula que nascia em 1852. Sendo filho de pai abonado e letrado, quando o padrinho da menina Yvonne atingiu idade escolar adequada, realizou seus estudos nos seminários de Mariana e no colégio Caraça que, naquele tempo, compartilhava a formação religiosa com a escolarização regular. Durante os anos em que estudou distante de casa o padrinho da menina Yvonne dividiu os longos meses nos seminário com as férias na casa dos pais, na cidade que já naquele tempo era quase bicentenária, Conceição do Serro. Este nome deriva do fato de a antiga Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Mato Dentro estava sob jurisdição da Vila do Príncipe do Serro Frio. Emancipou como Conceição do Serro para, posteriormente, vir a ser Conceição do Mato Dentro. O percurso entre o seminário e a cidade natal do padrinho da menina Yvonne, feito a cavalo, levava de 3 a 5 dias, dependendo das condições do tempo, da qualidade dos animais empregados no transporte e das paradas da tropa. Mas o padrinho da menina Yvonne pouco se importava com a distância e o tempo. O que ele fazia com gosto era observar a natureza robusta e bruta que o cercava, especialmente quando atingia as maiores altitudes da serra do espinhaço e de lá observava um mar de picos, serras e vales que se derramavam a leste, oeste, norte e sul. Ficava ele imaginando como o homem se apropriaria de tantos recursos ali disponíveis. Próximo a Conceição, o padrinho da menina Yvonne se interessava pelas histórias que corriam sobre uma das primeiras fábricas de ferro implantada no Brasil, a de Morro do Pillar. O ambiente propício aos estudos e reflexões vividos no seminário e a observação arguta da natureza impeliram o futuro padrinho da menina Yvonne estudar engenharia de Minas em Ouro Preto,
então capital da província mineira. O jovem estudante de engenharia, que se chamava Joaquim Cândido da Costa Sena, imediatamente se destacou na Escola de Minas como aluno aplicado e inclinado para pesquisas de campo e investigações no campo da geologia. Graduando em 1880, tornou-se professor assumindo vários cargos administrativos durante os anos que se seguiram. Um dos trabalhos valiosos do padrinho da menina Yvonne revela a repercussão que a técnica de fundição de ferro implantada em Morro do Pilar teve na região de sua cidade natal. Ele enumera e detalha as várias pequenas fundições que lá existia na segunda metade do século XIX. A difusão desta cultura de fundição naquela região deve-se muito ao casal e filhos
alemães que ali chegaram ainda na primeira metade daquele século.

Os Utsch não apenas difundiram a técnica, como também espalharam com fartura, descendentes diretos. Uma das tias do padrinho da menina Yvonne, viveu ao lado do filho mais velho do casal alemão e ele próprio – este filho – havia ainda nascido na Alemanha. Assim é que, pouco anos depois de sua formatura, Joaquim recebe notícia que um dos seus primos queridos, Bernardino, casado com a dona Guilhermina Oliveira, tivera mais
um filho, que fora batizado como Antônio Ferreira de Oliveira. O ano era 1885 e desde então o filho do primo do padrinho da menina Yvonne passou a povoar o territorio familiar que orientava a generosidade de Joaquim Cândido. O menino Antônio cativava a família e até mesmo o pai do padrinho da menina Yvonne nutria ternura por ele. É certo que o menino Antônio, criança ainda, gostou deste sentimento. Sensível, percebeu cedo
que algum mistério perpetrava a alma daquele senhor, uma figura quase mítica para o povo de Conceição do Serro. Foi assim que o menino Antônio, aos 8 anos, assistiu as homenagens que este povo ofereceu ao pai do padrinho da menina Yvonne quando em 1893 ele faleceu. Joaquim Cândido empreendia sua bem sucedida carreira como professor e pesquisador renomado na Escola de Minas de Ouro Preto. Mas o padrinho da menina Yvonne também herdou do pai o gosto pela política. E sua reconhecida reputação nas áreas de atuação, outorgou-lhe o direito de até mesmo recomendar à comissão que escolheria o local para construção da nova capital do estado, uma localidade em seu município natal. Propos ele que a nova capital fosse sediada no arraial de São Francisco do Paraúna. A Comissão escolheu o arraial de Curral Del Rei, mas para agradar o padrinho da menina Yvonne deu o nome de Paraúna a uma das importantes avenidas
da nova cidade. Ele mantinha sua jornada de sucesso na vida educacional, científica e política e não se furtou em apoiar seu primo quando este manifestou desejo que o filho Antônio, já adolescente, viesse estudar em Ouro Preto. A propósito, o padrinho da menina Yvonne, assim como seu velho pai falecido, tinha o mesmo apreço pelo jovem Antônio. Este, fazendo valer sua proximidade com o respeitado professor J. C. da Costa Sena, admirava sua competência tanto quanto o intrigava a capacidade dele – o padrinho da menina Yvonne - vivenciar sua devoção católica com a busca pelo entendimento profundo da natureza. O Jovem Antônio desejava mesmo ir estudar em ouro Preto. Gostaria de estar mais tempo possível ao lado do parente ilustre, que parece compartilhar com ele uma necessidade imensa de explorar os mistérios da existência.

Na passagem do século XIX para o XX, o padrinho da menina Yvonne preparava audaciosa empreitada política: candidatou a vice-presidente do estado em parceria com o candidatado a presidente, o médico Silviano Brandão. Este, coincidentemente, havia sido colega de turma do curso médico de José Cândido da Costa Sena, irmão mais velho do padrinho da menina Yvonne. Mas o destino não quis poupar Joaquim Cândido de dois sofrimentos sucessivos: o irmão faleceu em 1901, aos 54 anos, e o presidente eleito, também aos 54 anos, em 1902. Foi assim que o padrinho da menina Yvonne tornou presidente do estado em um mandato tampão de seis meses, até que o novo governador assumisse. Atento à formação do jovem Antônio, filho do seu primo, quando podia conversava com este sobre assuntos diversos e cultura geral e foi numa desta ocasião que o recomendou a leitura de Aventures d’Alice au pays des merveilles. O sensível e sonhador Antônio percebeu todo o encanto presente no enredo do livro e não lhe foi difícil dimensionar o poder de criação presente nas mentes destravadas das crianças. Uma percepção que orientaria definitivamente seu modo de relação com as suas e outras crianças. Quando Antônio já se encontrava como estudante na Escola de Farmácia de Ouro Preto, sua convivência e afinidade com o padrinho da menina Yvonne se acentuou. Por um lado ele tinha oportunidade de apropriar da cultura e dos relacionamentos com gente culta que compunham o círculo de relacionamento de Joaquim Cândido; por outro lado ele também era instigado a identificar e compreender as inquietações existenciais que povoavam a intimidade daquele homem quase que venerado por onde andava. Certo dia, o padrinho da menina Yvonne, que tinha um censo muito apurado sobre a natureza, discorreu espontaneamente para o jovem Antônio sobre certezas e incertezas da vida. Finalizou a preleção repetindo para ele uma frase que teria ouvido em viagem à Espanha: A linha reta é uma invenção do homem. A natureza não nos apresenta nenhum objeto monotonamente uniforme. Antônio, então, tentou aprofundar o significado da sentença criando uma analogia da mesma com o enredo de Aventures d’Alice au pays des merveilles. O padrinho da menina Yvonne percebeu e elogiou a sensibilidade do raciocínio do jovem estudante de Farmácia e recomendou que ele lesse o livro “A educação do homem” obra clássica de F. Fröbel, educador alemão que defendeu o brinquedo e a atividade lúdica para formação das crianças. Antônio viria a ler a obra, até porque como neto de alemão gostava de se esforçar a ler neste idioma. Mas o tempo universitário de formação e festejos vividos por Antônio em Ouro Preto chegava ao seu final. O ano era 1909 e ele tornava-se farmacêutico, voltando à sua Conceição do Serro para iniciar vida profissional. Dali mantinha correspondência com o padrinho da menina Yvonne dando-lhe notícias da cidade, da família, mas sobretudo de suas próprias incertezas e insatisfações com a vida profissional em sua cidade. Então, em 1912, o jovem farmacêutico recebeu apoio para uma decisão que vinha sendo examinada: transferir-se de sua secular e antiga Freguesia de Nossa Senhora da Conceição do Serro da Vila do Príncipe do Serro Frio para uma cidade em um sertão longínqua, Montes Claros. Em 1913, nem bem estabelecido com firmeza na nova cidade, Antônio recebe notícia da morte do pai, Bernardino, e passa a pensar no sofrimento da mãe, Guilhermina, agora sem o companheiro pai de seus oito filhos. Sua dor foi em parte consolada pela jovem mulher que conheceu e se apaixonou em Montes Claros, Cândida Peres e com se casaria em breve. Depois de casados eles enfrentariam uma viagem desgastante e cansativa
até Conceição do Serro. Lá ela conheceria a sogra, cunhados, mas descobriria também que se encontrava grávida. Já de volta a Montes Claros, no dia 30 de dezembro de 1914 Antônio e Cândida tornam-se pais de uma saudável criança, que seria a afilhada do engenheiro, professor, político e ex-presidente do estado Joaquim Cândido da Costa Sena. Naquele dia Antônio, rememorou todas suas reflexões influenciadas pela leitura de Aventures d’Alice au pays des merveilles e pelos diálogos estimulados pelo seu protetor. Decidiu definitivamente que o padrinho da recémnascida, que recebeu o nome de Yvonne, seria o parente Joaquim Cândido.

A origem dos padrinhos é historicamente associada à cerimônia de batismo, especialmente na tradição cristã. O padrinhoé a figura de um guia, um pai espiritual, que testemunha o início da vida religiosa de um recém-nascido ou de alguém convertido. Escolher um padrinho é eleger alguém de confiança e respeito para testemunhar o crescimento espiritual da criança, e isto significa que este possa influenciar, direta e indiretamente com base em virtudes ou, eventualmente, concessão material, esta evolução. Quanto a tudo isto Antônio confiava fartamente no mestre Costa Sena e o convite foi aceito, mas com uma ressalva. Era impossível que ele, o mestre, viesse pessoalmente a Montes Claros para o batismo, pois os afazeres na Escola de Minas e a saúde um pouco debilitada o impediam realizar viagem exigente. Emitiu então uma procuração de batismo pela qual ele e sua esposa, Virgínia, se assumem como padrinho e madrinha da menina Yvonne. Paralelamente, em uma carta pessoal a Antônio ele faz uma recomendação expressa: a procuração de batismo não deveria sobreviver a ele, Antônio. O pai da menina Yvonne tinha elementos para não tratar este pedido como um mistério, mas este mesmo pedido reforçava sua convicção de que o seu agora compadre jamais teve sua alma harmonizada, ainda que fosse um homem sábio e de grande sucesso profissional. Antônio passou a considerar que as inquietações de sua própria alma tinham origens comuns com as do compadre Costa Senna. Mas inebriado pela presença e vivacidade dos filhos, pela atividade de jornalista e poeta que abraçara e nem tanto pela de farmacêutico, Antônio, já então conhecido como Niquinho, driblava reflexões existenciais e psicológicas mais complexas até que, em 1919, recebe notícia que seu parente, protetor, conselheiro, amigo e compadre Joaquim Cândido havia falecido no dia 26 de junho. Cândida quis deixar o marido vivenciar esta perda, mas via nele um sofrimento arrebatador de quem perde um cúmplice. Era um anoitecer de inverno, quando a temperatura prenuncia cair, quando ela aproximou-se do marido que, enquanto mantinhaão e na outra a folha escrita

que ela identificou logo tratar-se da procuração de batismo do padrinho da menina Yvonne. Paciente e carinhosa, ela deu motivos para o marido lhe explicar a razão do pedido do padrinho da filha, um segredo que poucos sabiam: o pai do padrinho da menina Yvonne, à margem de sua grande influencia política e econômica na região de Conceição do Serro, exercia também grande influência espiritual porque era padre, tomado ora como cônego, ora como vigário Sena. Niquinho contou à esposa as pequenas lembranças que tinha deste complexo homem, enterrado na matriz de sua cidade, falecido quando ele tinha oito anos. Cândida percebeu a extensão dos sentimentos do marido ao conectar o fato de que a avó dele, Maria Tereza Costa Sena, era irmão do Cônego e, como este, católica, que conviveu e gerou família ao lado de um legítimo protestante alemão. Anos mais tarde, quando não mais Yvonne era uma menina, o pai reforçou com ela o pedido do padrinho dela, pedido este que se cumpriu em 1951: a procuração de batismo foi enterrada junto ao corpo do farmacêutico, mas sobretudo poeta e sonhador Antônio “Niquinho” Ferreira de Oliveira que indomavelmente procurava dar à sua vida sentido que correspondesse à sentença que uma dia lhe foi dito: A linha reta é uma invenção do homem. A natureza não nos apresenta nenhum objeto monotonamente uniforme.


A Mestra com Carinho

Maria Socorro de Carvalho Silveira


Passam-se os anos e as lembranças insistem em não se apagar. Voltam sempre nos fazendo infantilmente felizes. Com a esperteza matreira dos que querem tirar da vida o que ela tem de melhor, saboreamos das recordações o mel da alegria e a cor eterna do bem viver.

Nossas lembranças não nos perseguem, elas são o nosso alimento, o elo permanente que une o nosso passado e as possibilidades de futuro. As pessoas constroem conosco o universo necessário a sobrevivência da nossa alma, substrato perfeito para a explosão das nossas emoções.

Admiramos pessoas, rejeitamos outras, nos espelhamos em algumas, imitamos, amamos e criticamos. Mas existem aquelas que marcam as nossas vidas e tão somente as suas presenças engrandecem a nossa existência e enriquecem a nossa história.

Yvonne de Oliveira Silveira, ou apenas Dona Yvonne. Aliás, a grafia correta do seu nome, só a conheci em março deste ano. Sintonia perfeita, como uma premonição, entre o querer e o ser. Foi na Escola Estadual Prof. Plinio Ribeiro que eu a conheci. Elegante, fidalga mesma, professora de literatura. Culta, pairava muito acima dos nossos minguados conhecimentos, mas nos instigava a querer imitá-la e um dia ser como ela.

E, não bastasse o muito saber, tinha hábitos pouco usuais em mulheres daqueles anos. Dona Yvonne dirigia. Pilotava um fusquinha, seria verde? Acho que sim. Não era exímia motorista, mas encantava a todas nós ao volante do pequeno automóvel. Um dia nos arriscamos a pedir carona. Tenho quase certeza que a mestra o fez a contragosto, parecia não gostar, era o que todos diziam. Descemos a Avenida Mestra Fininha até o centro da cidade. A mestra, já naquela época, morava na Rua Padre Augusto, em uma casa onde residiu até poucos anos atrás. Ginasiandas aventureiras, sem medo de ser feliz.

Dos festivais de música da Escola Plinio Ribeiro, idealizados, dirigidos e coordenados pelo Professor Romildo Mendes tenho ótimas lembranças. Dias movimentados, muita música e rock and roll. Competição acirrada, muitos concorrentes e uma

plateia exigente, implacável, vaiando e aplaudindo. Das letras das músicas compostas por mim e minha amiga Joyce havia sempre um momento em que a mestra Dona Yvonne enriquecia as nossas rimas e nos estimulava a competir. Afinal aquela também era uma manifestação literária. Diferente, original, mas sonora e genuinamente literária.

Ela nunca me esqueceu e nem eu a ela. O tempo passou. Ingressei no Rotary e, numa manhã de março a mestra foi nos falar. O tema era mulher, dia internacional da mulher. Na demonstração da sua satisfação em estar ali em nossa companhia nasceu o nosso grande e manifesto desejo de fazê-la nossa companheira honorária. E assim foi feito. Há quase dez anos renova-se esta titulação, alegria para a mestra, honra para nós. Em março, numa reunião de Governadores do Rotary dos Estados de Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, São Paulo e Distrito Federal, Dona Yvonne surpreendeu a todos os presentes quando falou da sua gratidão em estar sendo homenageada pela Instituição. Aplaudida de pé fez o mais belo discurso que tive oportunidade de ouvir. No dia seguinte publicou em jornal local um lindo manifesto lembrando a passagem do seu pai pelo primeiro Clube de Rotary fundado em Montes Claros. A crônica foi enviada a todos os participantes do encontro recebendo dezenas de elogios.

Ainda hoje me surpreendo com ela. Revelou-me ter nova atividade, pintura. Meio evasiva e reticente declara não estar se adaptando a pintura moderna. Diz isso apontando para a parede da sua biblioteca onde está um retrato do seu pai pintado por ela. Yvonne pintora surrealista, contemporânea? Quem sabe.

Tudo é possível.

Voz firme, raciocínio rápido, presença de espírito, jovialidade. Assim é Yvonne, Yvonne, Dona Yvonne. De Oliveira, Silveira, do Brejo das Almas, de Montes Claros, de Minas, de todos nós.

Nunca a perdi de vista, nossa amizade se fortaleceu na admiração crescente de quem acredita que somente na luta e na obstinação se constrói uma verdadeira e grande mulher.


O BREJO
Homenageia a quem melhor interpretou suas almas

Charles Rodrigues Luís

No final da agradável tarde do dia 8 setembro deste ano, no coração do Brejo das Almas, ajuntaram-se vários brejalminos para comemorarem o nonagésimo aniversário de sua terra natal. Não poderia haver melhor lugar: de um lado, o velho casarão dos “Costa Negro”, ainda atraente; porém, mais por causa das lembranças e da sua importância histórica do que pelo seu estado atual. Do outro lado, prédios comerciais erigidos por famílias tradicionais que fizeram história e fortuna interme-diando negócios. O tempo cuidou de impor nova roupagem a vários desses prédios, modernizando-os para atrair clientes pela aparência. Nestes tempos, ao contrário dantes, o que importa é a marca estampada nas fachadas, a grande maioria não se interessa mais por quem está atrás do balcão.


Encontrávamo-nos ali onde existiu a pequenina Praça “Duque de Caxias”, de tantas histórias e alegrias. Aquele logradouro público recebeu famosos políticos e aplaudiu eloquentes e importantes discursos. Houve um tempo, não muito distante, quando não era proibido, sempre aos domingos, os homens ali se encontravam, com armas em punho e seguidos por incontáveis cães de caça. O sereno da madrugada e a não presença do astro rei não impediam que três dezenas de caçadores, semanalmente, dali partissem para buscar o que não guardaram nos gerais do Norte de Minas. Ao final do dia, se traziam caça ou não, não há registro, o que existe é a sólida certeza de uma centena de casos, piadas e boas gargalhadas, diversos de fatos como esses foram eternizados nas páginas de livros da homenageada e do seu amado esposo.

Não há mais a praça! Ainda hoje, vários lamentam sua destruição para que em seu lugar fosse edificado um mercado municipal. Os pássaros, as flores, sua música e fragrância, deram lugar ao barulho dos feirantes e ao odor de temperos, carnes, folhas... Quis o destino que ali fosse o lugar onde a homenagem ocorresse, certamente porque o mais popular, democrático e eclético de nossa cidade. Se ocorresse nos grandes salões a gente simples não ouviria a voz firme e as poesias que brotaram dos lábios de quem ainda toca os corações juvenis com a beleza e musicalidade de palavras magnificamente ordenadas.

A Dama das Letras veio a Francisco Sá, ainda criança, acompanhando o pai, farmacêutico. Nesta cidade, aos catorze anos, teve a sensibilidade de escolher aquele que seria o grande amor de sua vida, o escritor brejeiro Olinto Silveira. O casamento forjou o elo que nos liga eternamente a essa jovem e talentosa diva. Se Montes Claros gaba-se de tê-la como filha, não menos orgulhosa é Francisco Sá que a viu crescer, apaixonar-se e encantar quem teve o privilégio de com ela conviver. Prova desse amor são as diversas produções literárias enaltecendo as belezas naturais e à gente hospitaleira e virtuosa do Brejo das Almas, assinadas pela sua filha de coração. Todavia, não é desnecessário ressaltar, que o talento ímpar e a capacidade inigualável de escrever sobre o que lhe cerca, derrubaram todas as fronteiras e a homenageada, faz muitos anos, ostenta a condição de cidadã do mundo.

Nascida em 1914, ano em que o mundo, perplexo, assistiu ao início da primeira grande guerra mundial, D. Yvonne, foi um presente de Deus e um instrumento Dele para ensinar-nos a ver e a compreender o que nos rodeia. Se o pai, farmacêutico, conhecia os elixires para as dores físicas a filha Yvonne cuidou de desenvolver o talento de buscar na natureza e no interior do homem as virtudes e valores capazes de frear a ganância e as vaidades que levam à discórdia e aos conflitos.

Mesmo com os avanços tecnológicos e a inimaginável rapidez de comunhão de informações o homem está sedento de quem os faça trabalhar para conhecer-se e a outrem. O tempo corre ligeiro. A tecnologia proporciona facilidades e derruba obstáculos, porém daí veio a apatia que não deixa os moços se interessarem pelos livros, pela poesia ou teatro. São raros os que leem além das obrigações escolares. Como os músculos físicos que, se não exercitados, atrofiam; os talentos que recebemos precisam ser trabalhados e multiplicados, senão perecerão.

Hoje, infelizmente, não são poucos aqueles que se quedam embriagados perante a lucrativa e apelativa indústria das novelas que invadiu nossos lares despejando estórias recheadas de vícios, crimes, traições e dissabores que muitos não estão preparados para interpretar. Da capital brasileira de televisão são disparados poderosos petardos em desfavor da família, dos bons costumes e dos valores imprescindíveis à melhor formação do homem.

Queria que todos vibrassem e se interessassem pelos causos e descrições de fatos havidos nas ruas empoeiradas e mal iluminadas do Brejo de três, quatro, cinco décadas atrás. Melhor, desejo, que pudéssemos trabalhar para que nosso agir merecesse a lembrança de nossos filhos e dos filhos destes. Todavia, o espaço para o diálogo diminui dia-a-dia... E a leitura, em família, não existe mais.

É justamente aqui, na minha acanhada opinião, onde se encontra a importância de D. Yvonne Silveira para nós todos. Mais valiosa que sua rica produção literária e os incontáveis educadores que formou, é a firme, incansável e constante vontade de demonstrar para o outro que é possível fazer melhor. Não tive o privilégio de ser seu aluno e nem também de desfrutar do seu convívio além de raríssimos encontros oficiais. Entretanto, como eterno aprendiz, tenho procurado identificar as diversas
lições que a Dama das Letras tem arremessado por onde passa.

A poucos meses de completar cem anos, a Dama dos Talentos traz na face um sorriso contagiante que atesta a alegria de ainda conseguir transmitir conhecimento; sobre os ombros não há peso algum, demonstrando que na matemática da vida encontrou as variáveis e solucionou os desafios que se lhe apresentaram. Como o Cerrado conta com as flores do Ipê para fortalecer a esperança que está próxima a estação das águas, o ser humano necessita de referências morais e de testemunhar exemplos virtuosos para prosseguir firme e inabalável na senda.

Esteja certa, D. Yvonne, que também seu “Brejo das Almas” ficou encantado com a sua visita e eternamente agradecido pelas honrarias que lhe tem propiciado. Quis o destino que a Dama dos Encantos fosse homenageada durante as tradicionais Festas de Setembro. Não somente dos homens ouviu elogios e aplausos. Cuidou a natureza de espalhar motivos para tornar esse retorno distinto de qualquer outro. O Brejo das Almas, durante as festas deste ano, em homenagem ao seu centenário, principiou suas homenagens pela beleza da “super lua” que, tomando emprestado o brilho do sol, aclarou a noite de muitos casais... Claridade que propiciou aos apaixonados ver coração e alma do elegido. Magnífica lua que suplantou o brilho dos fogos que foram atirados em sua direção... Lua encantada que, sem maior esforço, suprimiu os potentes holofotes dos artistas e reinou inabalável no céu brejeiro. De inigualável beleza, o luar brejeiro, não se omitiu e fez questão de festejar seu centenário e o primor de suas obras que tantas vezes o enalteceram.

Também veio para reverenciá-la o vento brejalmino. Ele que se esforçou para soprar para todos os cantos seus escritos, poesias e declarações de amor. Eterno solteirão, porém sempre bem cobiçado, cortejou a lua, tirou-a para dançar e não houve nuvem que ousasse cobrir a magia daquele encontro. Como bom cupido e amante desejou que outros curtissem o amor... Por isso, soprou bastante frio e quem quis gozar as festas deste
ano nos logradouros públicos, precisou embrulhar-se nos braços de outrem. D. Yvonne, esse mesmo vento, na noite em que aqui esteve, não se cansou de assobiar as mais belas canções que lhe embalaram o sono e conduziu suas lembranças por todos os cantos que lhe são inesquecíveis nesta terrinha amada por todos nós.

São eles, Honorável Diva, o vento, a lua, os riachos, a cultura, a religiosidade, as tradições, o amor, a amizade, enfim, a gente do Brejo, todos, unidos e com a mesma finalidade: aplaudir a Grande Dama que sempre lhes homenageou e a sua melhor e eterna intérprete.

PARABÉNS e Muito Obrigado por tudo que fez em prol de sua Terra Natal de Coração!


AMIGA DOS MEUS
TEMPOS DE INFÂNCIA

Ana Valda Vasconcelos

Perscrutar o passado é vivificar o presente

A cidade, pequena e poeirenta... nosso querido Brejo das Almas, a Igreja, antiga e majestosa, e uma criança ainda pequena, timidamente subia os degraus, inúmeros, que a levariam ao coro da imponente igreja, para olhar e admirar aquela bela e destemida senhora, tocando órgão e entoando lindos cânticos que, certamente, não só agradavam aos nossos ouvidos,
como deveriam chegar aos céus, encantando também, aos anjos e santos celestiais.

Àquela época, não imaginava o futuro, onde eu estaria lado a lado daquela senhora, em eventos culturais e sociais, nem que a conduziriam, como amiga motorista, no ano do seu centenário, muito menos ainda que faria parte da equipe que coordenaria e programaria todas estas comemorações ao longo deste ano de 2014.

Do ano em que eu cursava a “admissão ao ginásio” (no Ginásio Mariquinha Silveira, escola se iniciava com o incentivo de Dr. Eudes Martins Moreira, Eurico Pena da Silveira, Feliciano Oliveira e dona Yvonne Silveira, além de várias outras pessoas engajadas no desenvolvimento da cidade) fui sua aluna, voltando a encontrá-la mais tarde em salas de aula, na Escola Normal e Fafil, ambas em Montes Claros.

A amizade no âmbito familiar se deu porque meu pai, José Trindade, e seu Olyntho serem ligados pelo mesmo interesse literário, uma vez que um dos seus irmãos, o jovem Antônio Trindade, junto ao seu Niquinho, pai de dona Yvonne, fundaram, na época, o primeiro Jornal de Montes Claros “O Lapis”. Já a minha mãe Dasdores Xavier Trindade, se tornara amiga de dona Yvonne por interesse comuns tais como a costura (minha mãe era a modista – termo usado na época) e os ofícios religiosos.

Nesse ambiente de cidade pequena e laços efetivos cresci; o tempo, implacável, levou os meus pais, o seu Olyntho, e em todos esses momentos de dor, que enfrentamos com fé e resignação, sempre estávamos lado a lado, dona Yvonne e eu.

O destino, moralmente, nos coloca próximas, no Elos Clube de Montes Claros, que muitos generosamente me acolheu, encaminhada que fui pelas “madrinhas” Neuza e Argentina Dias , quando vim aqui me despedir, no final do século passado e início do novo século (1999), vindo a ser presidente do referido clube por duas gestões, em que dona Yvonne é presidente de honra.

Um fato que sempre relato: conduzia dona Yvonne para os eventos, que fossem reuniões, exposições artísticas, palestras, lançamento de livros e festas; certa vez, logo que aqui cheguei, dona Yvonne me telefona para eu leva-la (já que eu iria também) numa palestra com a admirável escritora Marina Calassanti, em sala da Câmara Municipal, de lá, antes do término, fomos para a Igreja Matriz, onde a autora lírica Clarice Maciel, que eu já conhecia e admirava, apresentava um lindíssimo concerto; imagine você que, ao término, dona Yvonne me convida para acompanhá-
la a um aniversário, de dona Dina Paulino, e eu, já exausta, não conseguia acompanhá-la, eu, “um pouco mais nova” que ela não consigo seguir o seu ritmo. Sempre ela teve mais de um evento por noite, e a última a sair das festas. Eu a levo e encarrego a outros amigos a incumbência de levá-la para casa. O mesmo se dá com os sapatos altos, não os uso a anos, e ela sempre “no salto” e eu a aconselhá-la a usar sapatos mais confortáveis, mas ela a admirável centenária, nunca “desce do salto” e o batom, sempre a procura-lo na bolsa e ai tem o incansável retoque...

Neste ano do seu centenário, e ao me lembrar dos nossos tempos de Brejo das Almas, das visitas em que a levo por lá, aos amigos e comadres, ao Cristo Redentor, aos velórios e enterros, me sinto emocionada em poder estar ao seu lado, a conduzi-la.

Em algumas dessas ocasiões me emociono até às lágrimas, como nas diversas homenagens a ela prestadas, como a que o Elos Clube, e pude trazer à ela vários amigos de Francisco Sá; na Assembleia Legislativa de Minas Gerais, numa proposta do deputado Carlos Pimenta (seu aluno e também meu) sempre acompanhado pela Dra. Cláudia Borém Pimenta, sua esposa), no Chá Literário, em Juramento. Na Escola Estadual Francisco Sá, sob a direção da professora Vera Fernandes e sua equipe, bem como inúmeros outras homenagens prestadas a ela.

Nesses momentos de intensa emoção, volto o meu pensamento a Deus em agradecimento por essa grandiosa oportunidade, estar a seu lado, e, em espírito, juntos todos nós, seu Olyntho, meus pais Dasdores e Zezinho e você Dona Yvonne, motivo de orgulho de todos nós, montes-clarenses e brejeiros.


MEUS MIOSÓTIS
SILVESTRES

Zoraide Vasconcelos Teixeira

Todo texto que fala ao coração, permanece na memória. Lembro-me de ter lido, quando adolescente, num jornal de Montes Claros, uma crônica que guardei com muito carinho por sua beleza e sinceridade. Seu título: MEUS MIOSÓTIS SILVESTRES. Outrora: Yvonne de Oliveira Silveira. Senti-me orgulhosa por conhecer e conviver com a autora. Dona Yvonne, como a chamamos, é uma pessoa por quem tenho uma profunda admiração. Conhecendo a sua trajetória, sei que ela fez da sua vida um testemunho de suas capacidades e de sua força interior.

No meu entender, ela é aquela que buscou e achou. Buscou um horizonte mais visto mudando de Francisco Sá para Montes Claros, onde o ambiente cultural era bem mais condizente com a sua sede do saber, pois segundo ela, só o saber preserva a consciência do mundo.

Clarice Lispector, em crônica no Jornal do Brasil (1964) afirmou que cada pessoa tem uma porta com seu nome gravado e que só através dela é que podemos nos olhar. Yvonne abriu a sua porta e por ela penetrou na vida cultural, educacional e social de Montes Claros, enriquecendo com sua presença, seus conhecimentos, seu carisma, sua plena atividade, tudo que participou.

Pelo que dela sei, tenho certeza que, para descrever o que mais lhe agrada mesmo é viver. Viver intensamente porque sabe que em vida se reparte bastante, que viver é iluminar, desenvolvendo uma profunda identificação com tudo e com todos.

Prova disso é o seu “Cantar de Amiga” que nada mais é que a sua sintonia com o mundo, a sua certeza de que cada ser humano tem uma dimensão única e que é no outro que nos complementamos. O contato com o outro, através da palavra escrita e do convívio pessoal, é uma glória.

Por tudo isto, a comemoração do seu centenário é um marco neste ano de 2014, pois, que a admiramos e amamos, queremos abraçá-la, queremos comemorar com afeto e com carinho esta data tão significativa; cem anos de existência que não são “Cem Anos de Solidão”, mas cem anos de realização duradoura e substanciais.


AGRADECIMENTOS

Queremos agradecer, em nome da professora Yvonne de Oliveira Silveira, às pessoas que fizeram presentes nas duas antologias em homenagem ao seu Centenário de Nascimento. Vejamos os nomes dessas pessoas na sequência: Afonso Prates Borba, Amelina Chaves, Ana Valda Vasconcelos,
Ariadna Muniz, Carmen Victória Netto, Clarice Sarmento, Charles Rodrigues Luís, Dóris Araújo, Edson Ferreira Andrade, Edwirges Teixeira de Freitas, Evany Cavalcante Brito Calábria, Fabiano Lopes de Paula, Felicidade Patrocínio, Felipe Gabrich, Filomena de Alencar M. Prates, Gal Bernardo,
Geralda Magela Sena Almeida e Souza, Gilsa Florisbela Alcântara, Glorinha Mameluque, Itamaury Teles, Ivana Ferrante Rebelo, José Divino Lopes Filho, José Ferreira da Silva, Júlia Maria Lima Cotrim, Juvenal Caldeira Durães, Karla Celene Campos, Luiz Giovanni Santa Rosa, Manoel Hygino dos Santos, Manoel Messias de Oliveira, Mara Narciso, Márcio Adriano Moraes, Maria Alice Pereira Ramos, Maria Aparecida Costa, Maria de Lourdes Chaves, Maria Dione Car

valho de Morais, Maria do Carmo Veloso Durães, Maria Ilca Terence de Noronha, Maria Luiza Silveira Teles, Maria Ruth das Graças Veloso Pinto, Maria Socorro de Carvalho Silveira, Marilene Veloso Tófolo, Marília Pimenta Peres, Maristela Cardoso Freitas, Marta Verônica Vasconcelos Leite, Neide
Peres Amaral, Palmyra Santos Oliveira, Pedro Arnaldo G. Peres, Petrônio Braz, Téo Azevedo, Terezinha Campos, Terezinha Teixeira Santos, Virgínia A. de Paula, Wanderlino Arruda, Zoraide Guerra David, Zoraide Vasconcelhos Teixeira. A professora Yvonne Silveira recebeu dezenas de homenagens, mas certamente que esses dois livros, sobre a trajetória de sua vida na cultura montes-clarense, ficarão eternizados nas letras acadêmicas de nossa cidade. A ideia da antologia foi para promover oportunidade maior dos amigos e amigas em participarem desta homenagem. Finalizando, desejamos que dona Yvonne Silveira tenha vida longa para a alegria de todas nós.

Muito obrigado!

Editora Cotrim Ltda.



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