HOMENAGENS PÓSTUMAS
A SÓCIOS
NOTAS DOS
COORDENADORES DA EDIÇÃO
A ordem de publicação dos trabalhos dos sócios efetivos obedeceu à sequência alfabética dos nomes dos autores. Em seguida, foram ordenados os trabalhos dos sócios correspondentes e convidados;
A Revista não se responsabiliza por conceitos e declarações expedidos em artigos publicados, nem por eventuais equívocos de linguagem nela contidos.
A revisão dos disquetes originais foi feita pelos próprios autores dos artigos publicados.
FINS DO IHGMC
Art. 2º - O IHGMC tem como finalidade a promoção de estudos e a difusão de conhecimentos de história, geografia e ciências afins, do município de Montes Claros e da região Norte de Minas, assim como o fomento da cultura, a defesa e a conservação do patrimônio histórico, artístico e cultural.
Wanderlino Arruda
Cadeira N. 33
Patrono: Enéas Mineiro de Souza
APRESENTAÇÃO
ACONTECENDO....
JULHO - 2015: Capitão Malveira, Virginia Abreu de Paula, Edvaldo de Aguiar Froes, Maria do Carmo Veloso Durães, Denilson Meireles, Marilene Veloso Tófolo, Expedito Veloso Barbosa, José Ponciano Neto, Eustáquio Vicente dos Santos Macedo, Leonardo Álvares da Silva Campos, Manoel Messias Oliveira, Lázaro Francisco Sena, Dário Teixeira Cotrim e Yury Vieira Tupynambá de Lélis Mendes. SENTADOS: Palmyra Santos Oliveira, Wanderlino Arruda e Mara Narciso.
AGOSTO - 2015: Edvaldo de Aguiar Froes, Edwirges Teixeira de Freitas, Sebastião Abiceu dos Santos Soares, Maria Luíza Silveira Teles, ( ) Maria do Carmo Veloso Durães, Palmyra Santos Oliveira, Dário Teixeira Cotrim, Aparecida Costa, Maria Ângela Figueiredo Braga, Délio Pinheiro Neto, Viviane Marques Terence e José Ferreira da Silva.
SETEMBRO - 2015: Eustáquio Vicente dos Santos Macedo, Capitão Malveira, Sebastião Abiceu dos Santos Soares, Denilson Meireles, Geralda Magela de Sena e Souza, Edvaldo de Aguiar Froes, José Ferreira da Silva, Aparecida Costa, Leonardo Álvares da Silva Campos, Marilene Veloso Tófolo, Juvenal Caldeira Durães e Lázaro Francisco Sena. SENTADOS: Maria Luíza Silveira Teles, Wanderlino Arruda e Mara Narciso.
OUTUBRO NÃO HOUVE REUNIÃO
OUTUBRO - 2015: EM PÉ: Geralda Magela de Sena e Souza, José Ponciano Neto, Felicidade Patrocínio, Dário Teixeira Cotrim, Maria do Carmo Veloso Durães, Edvaldo de Aguiar Froes, Mara Narciso, Marilene Veloso Tófolo, Eustáquio Vicente dos Santos Macedo, José Ferreira da Silva, Capitão Malveira, Sebastião Abiceu dos Santos Soares, Manoel Messias Oliveira, Juvenal Caldeira Durães, Wanderlino Arruda. SENTADAS: Palmyra Santos Oliveira, Maria Ângela Figueiredo Braga e Regina Maria Barroca Peres
NOTICIANDO...
MORRE O ESCRITOR ADELBARDO SILVEIRA
Adelbardo Silveira recebendo o Diploma “Honra ao Mérito” do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, durante o lançamento do seu livro “Minhas Memórias – antes que seja tarde”, em Rio do Antônio – Bahia.
LIVRO: AMOR E HUMOR: FESTEJANDO A VIDA DE AYER – Zoraide Guerra David
O Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros se fez presenta na pessoa de Dário Teixeira Cotrim no lançamento do livro da confreira Zoraide Guerra David, durante comemoração do aniversário de Ayer Cerqueira David.
HOMENAGENS DA PMMG PARA MARIA ÂNGELA
HOMENAGENS DA PMMG PARA ANTÔNIO ALVIMAR
Os nossos confrades, o professor Antônio Alvimar Souza e a pesquisadora Maria Ângela Figueiredo Braga, receberam, simultaneamente, comendas da Polícia Militar de Minas Gerais, durante a comemoração dos 240 anos da Polícia Militar do Estado de Minas Gerais. O evento aconteceu no dia 3 de junho de 2015, no pátio do 10º Batalhão da Polícia Militar de Montes Claros. O professor Alvimar foi agraciado com a medalha “Alferes Tiradentes” e a confreira Maria Ângela com o diploma “Colaboradora Benemérita”.
LIVROS: VERMELHO ESCARLATE – JC Junot.
Foi lançado no Centro Cultural “Hermes de Paula” o livro Vermelho Escarlate, do escritor JC Junot, com o apoio da Academia Montes-clarense de Letras e a Secretaria de Cultura de Montes Claros. Na Mesa de Honra estavam as seguintes autoridades: João Jorge, Hamilton Trindade, Namorada, Dário Teixeira Cotrim, JC Junot, Petrônio Braz e Coronel Lázaro Francisco Sena. “Este livro é marco. O thriller da década... Cuidado ao virar a página. Se sobreviver, boa leitura” (Ricardo Carlini).
INAUGURAÇÃO DA BIBLIOTECA DA ESCOLA
MUNICIPAL CAIO LAFETÁ - ERMIDINHA/MG
Doação de livros pelos acadêmicos Wanderlino Arruda e Dário Cotrim e, também, pela Polícia Militar de Minas Gerais, para a Biblioteca da Escola Municipal Caio Lafetá – Distrito de Ermidinha (Montes Claros – MG). Na fotografia, o momento em que Wanderlino Arruda entregava a diretora da Escola, professora Célia Mendes, os livros doados em nome do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.
BIBLIOTECA CEL PM JOSÉ COELHO DE LIMA
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O IHGMC esteve presente na inauguração da Biblioteca Cel. PM José Coelho de Lima, no Núcleo Regional da União dos Militares do Estado de Minas Gerais. Estiveram presentes os confrades Dário Teixeira Cotrim, José Ferreira da Silva e o coronel Lázaro Francisco Sena, que doaram livros em nome do Instituto Histórico e Geográfico. A placa foi descerrada pelo Cel. PM Lázaro Francisco Sena e dona Didi (viúva do Cel. PM José Coelho de Lima). |
LANÇAMENTO DO LIVRO “LEZINHO DO BAÚ”
LANÇAMENTO DO LIVRO “LEZINHO DO BAÚ”, do confrade Lázaro Francisco Sena, na Fazenda do Baú, em Ceraíma/Guanambi – Bahia. A reunião foi presidida pela Academia Guanambiense de Letras. Falou sobre a obra o acadêmico Dário Teixeira Cotrim, representando a Academia Montes-clarense de Letras. (24/06/2015)
LIVRO: CADERNOS DE EDICLAR – Karla Celene Campos
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Oh, abre alas, que eu quero passar...” E valeu passar e espalhar meu canto entre tantas pessoas amadas e especiais, presentes no lançamento do “Cadernos de Ediclar — Memórias do Brejo das Almas”. |
LIVRO: DESATINO – Lara Carneiro Magalhães
Com o apoio cultural do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros e da Editora Millennium foi lançado o livro de poemas “Desatino”, da escritora Lara Carneiro Magalhaes. Na mesa de Honra a escritora Lara Carneiro Magalhães fazendo o seu pronunciamento, tendo ao fundo o mestre de cerimônia Délio Pinheiro, Bibi Ribeiro, Karoline Soares (ilustradora), Noêmia Coutinho Pereira Lopes (professora de Lara), Dário Teixeira Cotrim, Wanderlino Arruda e Roberto, Avô da escritora Lara.
POSSE DE TÉO AZEVEDO COMO NOVO MEMBRO DA ACADEMIA BRASILEIRA DE LETRAS DE CORDEL
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A Academia Brasileira de Literatura de Cordel – ABL deu posse do cordelista Téo Azevedo, no dia 19 de agosto de 2015, na cidade do Rio de Janeiro-RJ.
Estavam presentes as seguintes autoridades para a formação da Mesa de Honra: Luiz Vieira, Geraldo do Norte, Adelzon Alves, Marise Cigani e Segivaldo.
Mestres de cerimônia: William J. G. Pinto e Gonçalo Ferreira da Silva. |
Clarice Sarmento
Cadeira N. 31
Patrono: Dulce Sarmento
Tradição e Modernidade nas Festas de Agosto de Montes Claros
As festas religiosas apresentam um aspecto mais ou menos uniforme em todo o país. É a maior expressão do catolicismo popular e se caracterizam pela homenagem a um santo padroeiro ou da devoção da comunidade; novena, barraquinhas leilões, procissões e finca do mastro com bandeira trazendo a estampa do santo. Em algumas comunidades, até a derrubada e carregamento do pau do mastro são acompanhados de devotos que cantam louvores e dão vivas ao santo.
Das Festas de Agosto em Montes Claros, fazem parte atualmente a festa de N. Senhora do Rosário, S. Benedito e do Divino Espírito Santo. São agrupadas em três dias seguidos (17-18-19) do mês de agosto, com ligeira variação para que a última etapa, a procissão do Divino, seja realizada no domingo, após as três festas. Mas nem sempre foram desta maneira. Segundo meu pai, Adail Sarmento, que aqui viveu no sec. passado (08/1901 a 12/1988), a primeira festa era da padroeira N. Senhora da Conceição, realizada na Igreja Matriz. Em seguida, a festa de N. Senhora e S. Benedito, acontecia na igrejinha do Rosário. A do Divino era novamente realizada na Matriz e, até pouco tempo, por volta do ano 2000, era mantida neste local. Hoje, as festas não são mais precedidas de novena, barraquinhas e leilões e têm seu ponto alto no desfile dos cortejos de Reinados e Império com sua corte de princesas, damas e pajens em desfile diurno, acompanhados dos ternos de catopés, Marujos e Caboclinhos com seus cantos, instrumentos e danças. Na noite anterior há também um cortejo, que acompanha a bandeira e os mordomos até à igreja para finca do mastro, com foguetório e vivas.
Catopês-Sua origem remonta ao Sec. XVlll, das festas de Chico Rei em Vila Rica, organizadas pelas irmandades, com seus Congados e danças de origem africanos.
Marujos- De origem portuguesa, fazem referências às aventuras náuticas da epopeia da Nau Catarineta. Ritmos de fandango, com pandeiros e rebeca.
Caboclinhos- Os bailados indígenas que, muitas vezes, eram apresentados nos festejos religiosos pelos jesuítas com fins de catequese, passaram a integrar as festas religiosas.
Na manhã da festa, os ternos vão até a casa do festeiro do dia que, como os mordomos do mastro, foi escolhido por sorteio realizado no ano anterior entre os que se candidataram. Os festeiros são os pais das crianças que se apresentam como reis, rainhas , Imperador e Imperatriz. O reinado e o império desfilam sob um pálio, precedido por grande quantidade de príncipes e princesas que representam a corte. O pálio pode vir, ou não, dentro de um quadro de varas enfeitadas carregadas por pajens ou damas de honra. Os trajes ostentam as cores dos santos: azul e branco para N. Senhora do Rosário, rosa para S. Benedito e vermelho para o Divino E. Santo.
Saindo da casa do festeiro ou outro lugar mais central (atualmente optaram pela praça em frente ao Automóvel Clube), o cortejo desfila pelas ruas centrais com destino a igreja do Rosário, reconstruída em forma de uma barca, como a “barca nova” da marujada - Os marujos se deslocavam, em tempos passados, dentro de uma armação retangular de pano branco, sem fundo ou teto e , dentro deste quadro, dançavam até a igreja.
Desde 23 de maio de 1839, quando Marcelino Alves pediu licença à Câmara Municipal para recolher esmolas para realizar estes festejos pela primeira vez (Hermes de Paula), muitas mudanças ocorreram, quer nos trajes, nos cantos e coreografia - O Folclore é dinâmico, sofre influências, se moderniza e se modifica, nem sempre por iniciativa do grupo e vai se adaptando a circunstâncias mais favoráveis e assim criando uma nova realidade.
Vejamos algumas destas modificações:
- A banda de música, que outrora só acompanhava o Império do Divino com dobrados ( havia até um dobrado específico para tal ocasião, segundo o músico clarinetista da Euterpe Adail Sarmento), hoje acompanha todos os cortejos e toca todo tipo de música popular e popularesca.
- Os Marujos –Hoje só um grupo preservou os tradicionais uniformes azuis e vermelhos de cetim e os lindos chapéus enfeitados de aljôfares e espelhos. Mas as máscaras de tela de arame pintadas há muito desapareceram. Recentemente, o grupo de Miguel Marujo apareceu vestido de roupa branca e casquete com âncora bordada, provavelmente influenciado por grupos de outras cidades que aqui se apresentaram no festival folclórico.
- Os caboclinhos- Homens e meninos, numa profusão de penas, pernas e saiotes enfeitados, dorso nu pintado de vermelho e preto, eram lindos com seus passinhos miúdos de dança ao ritmo das batidas das flechas. A imponência dos capacetes de penas rivalizar-se- ia hoje com os maravilhosos capacetes de pena de pavão do terno de catopês de Mestre Zanza. Onde a altivez e elegância da caboclada de Leonel Beirão ou do grupo de seu Carrim da rua Melo Viana? Pena que até com camisas de malha vermelha estampadas com propaganda já se apresentaram. Não foi uma boa modernização!
Os Catopês. No passado usavam ternos brancos de brim, os mesmos instrumentos de hoje. Dançavam de pés descalços e os capacetes eram bem mais simples. Estes sim, sob a tutela de Zanza, estão bem mais apoteóticos (tirando a invenção das camisas de lamê dourado, prateado e outros brilhos de influência carnavalesca).
Devo, entretanto, registrar algumas críticas não só minhas, mas de muitos que, como eu, são montes-clarenses que amam sua terra:
Torna-se necessária a revitalização dos cantos. Não se justifica um grupo cantar repertório do outro, apresentando números que não fazem parte de seu cancioneiro. Dr. Hermes deixou, em partituras, o registro destes cantos especificando cada repertório. Os mais velhos deveriam recordá-los e ensiná-los aos mais jovens.
A cada ano os participantes se tornam mais numerosos, os trajes mais ricos e adornados. Mas não se justifica que o orgulho dos pais em exibir seus parentes os façam intrometer-se dentro do cortejo. Por que não se postam discretamente ao lado, acompanhando seus filhos? Se querem tanto fazer parte e desfilar, por que não se vestem também “a caráter”? Afinal, nas cortes tem rainha- mãe, tias e avós, pajens e cavalheiros da nobreza. Uma corte completa não faria mal ao desfile. Fica a sugestão....
Outra coisa triste é o emporcalhamento das ruas: copos descartáveis, papéis diversos, garrafas PET. Nós, brasileiros e, principalmente nós, montes-clarenses, possuímos dois grandes defeitos: um deles é a falta de cuidado com as vias e logradouros públicos; o outroé o completo desprezo pelos horários. Senão vejamos:
O horário do início do desfile é 10h da manhã. Ao meio dia, sol “de rachar”, a banda ( que tem disciplina e respeita horários) as criancinhas e pais cansados, com fome e sede, esperam de pé, pelo rei, rainha ou até por um dos ternos que ainda não chegou...
Vamos tentar ser pontual, gente! Afinal esta festa é a coisa mais bonita que acontece em nossa cidade e os que fazem parte dela só merecem ser incentivados, elogiados e aplaudidos. Estejamos todos lá, prestigiando orgulhosos o nosso folclore e nossa querida terra!
Clarice Sarmento,
Maestrina e folclorista
Academia Montes-clarense de Letras, Academia de Letras, Ciências e Artes
do S. Francisco, Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.
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Atualmente o brilho destas festas atesta o aumento da vitalidade e grandiosidade que adquirem a cada ano. Já se vai longe o tempo em que ficaram esquecidas e, não fora a interferência e incentivo de Hermes de Paula por ocasião das festas do centenário da cidade, teriam o mesmo fim que as cavalhadas e o Bumba-meu-boi de outrora.
Dário Teixeira Cotrim
Cadeira N. 93
Patrono: Simeão Ribeiro Pires
UM CRIME CONTRA A IGREJA DE BOCAIÚVA
Todas as vezes que se fala em preservar o patrimônio público de Montes Claros, vem logo a lembrança do velho Mercado Municipal. O povo não perdoa o erro cometido naquele tempo pelos políticos de nossa cidade. Entretanto, é bom lembrar que delito de maior relevância foi praticado na cidade de Bocaiúva, terra do Senhor do Bonfim, com a demolição da velha Matriz, com mais de 250 anos de história. O padre Geraldo Majela de Castro, que era o responsável em preservar o patrimônio da Igreja, foi o mesmo que, ordenou a sua demolição. “A demolição da Igreja, de surpresa, começou numa segunda-feira, dia 4 de junho [de 1979], tendo o padre viajado para Belo Horizonte, voltando a Bocaiúva somente na quarta, já com os escombros no chão”. Pergunta-se então: por que a demolição da igreja iniciou somente na madrugada do dia 4 de junho quando o padre se encontrava na cidade de Belo Horizonte? Há controvérsias...
É certo que a população de Bocaiúva foi surpreendida com a atitude premeditada e irresponsável da clerezia, pois na época presenciamos dezenas de fazendeiros que já faziam a escolha da madeira que iria comprar. Por que eles estariam ali tão cedo do dia? Por outro lado, o padre disse naquela oportunidade que “meninos acharam colares, relógios de ouro, brilhantes e muitas peças, debaixo do assoalho. Carregaram tudo”. Carregaram tudo! Como? Onde estariam os responsáveis pelo patrimônio da Igreja e por que eles deixaram que isso acontecesse?
Porventura eu não tenha entendido direito, mas se houve dinheiro para a construção de uma nova igreja, por que não haveria para a recuperação da vetusta igreja do Senhor do Bonfim? Tudo isso é uma questão de prioridade e interesse. Acredito que a demolição da velha igreja fosse muito mais rentável para aqueles que estavam à frente desse desserviço. “Operários vendem a madeira, milhares de peças. A Praça da Matriz, durante três ou quatro dias, é um empório da madeira, mas os compradores, antes de fechar o negócio, comentavam sobre a igrejinha: Não caia de jeito nenhum”. E não caia mesmo, essa é a verdade!
Lamentavelmente, afirmamos que eles cometeram um pecado contra as tradições da velha Igreja e, ao mesmo tempo, uma profanação ao bondoso Senhor do Bonfim. Em dez dias eles destruíram 250 anos de história. Um fato que hoje enlameia, entristece e envergonha a bonita lenda/histórica do Senhor do Bonfim. Nota-se que, quando foi o padre perguntado sobre essa lenda, ele nos disse: “A lenda fala que a imagem pesou na hora da viagem. Deixemos isso pra lá”. Por que deixar isso pra lá, um assunto tão importante e tão imprescindível como este? Aliás, o padre teve lá as suas razões em não encompridar conversa.
A lenda, ignorada pelo padre, reza que no inicio do século XVII, uma caravana passava pela região levando a imagem do Senhor do Bonfim. Parando para descansar, a caravana seguiu viagem no domingo cedo, levando a imagem. Meia hora depois, antes de chegar à serra que conduz para Montes Claros, a imagem começou a ficar tão pesada, que os homens não puderam transportá-la. Espantados, eles ficaram noite e dia pensando o que fazer e, na manhã seguinte voltaram a arrumar a viagem, mas a imagem não estava mais ali, pois havia voltado para junto de uma velha gameleira. Resolvem então deixá-la ali mesmo, fazendo uma pequena capela para abrigá-la. Isto aconteceu por volta de 1700. Em 1979, nem o Senhor do Bonfim salvou a igrejinha de Bocaiúva!
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Do livro “Crônicas Históricas de Montes Claros e outras crônicas mais”,
Dário Teixeira Cotrim. Editora Cotrim/Millennium. Página 128. 2015
Edwirges Teixeira de Freitas
Cadeira N. 71
Patrono: Júlio César de Melo Franco
NUNCA É TARDE DEMAIS PARA O CONHECIMENTO
Minha mãe, Laurinda Teixeira da Silva, aos 66 anos de idade resolvera que iria realizar um sonho de ler e escrever, sendo que fora privada pelo pai, que não aceitara que as filhas aprendessem a ler e escrever, somente os homens é que teria este privilégio. Então ela passara a vida dependendo das pessoas para escrever cartas e se comunicar com os filhos e parentes. E não sabia ler uma placa, um aviso, e então passou ao longo de 66 anos, isolada do mundo. Mas, como sempre falo que Deus pode tardar, mas não falta.
Na época, foi um fato inusitado, uma senhora da idade avançada, principalmente na época, e que até hoje, é raro ainda encontrar uma pessoa com esta idade, frequentar um primeiro grau, para sair da escuridão do analfabetismo e procurar a luz do conhecimento, do saber.
Próximo da minha casa encontrava-se o Grupo Escolar Carlos Versiani, que até hoje, encontra-se próximo, sendo que foi construído um prédio novo, com nova denominação: Escola Estadual Carlos Versiani, um pouco abaixo, próximo ao Mercado Municipal. O que facilitou e muito para que ela realizasse o seu sonho, que ainda é o sonho de muitos brasileiros até hoje.
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Este assunto pelo seu valor na força do exemplo, como fênix, ressurgir das cinzas e levantar o voo. Este foi seu exemplo, um grande legado para seus descendentes.
Foi tão comentado, que a revista Encontro de grande circulação na época deu cobertura, numa matéria especial na sociedade montes-clarense, Norte Mineira e em toda Minas Gerais. Foi um assunto que chamou a atenção, de muitas pessoas. Com a paciência da Professora Odete, com seu dom de pedagoga, que realmente fez a diferença.
O mais interessante é que minha mãe não só aprendera a ler, e escrever, como também interpretar. Foi realmente uma benção. Minha Mãe mudou sua autoestima, transformou-a, sendo que passara a ler livros, escrever para os filhos que moravam longe.
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Num mundo moderno, onde as informações vêm rapidamente, de forma que a pessoa que não sabe, simplesmente, ler, não consegue acompanhar a dinâmica da vida. O conhecimento é o grande diferencial, para qualquer habitante da terra, onde quer que esteja.
Para entendermos a palavra de Deus, na leitura da bíblia sagrada. No entendimento bíblico as pessoas aproximam mais de Deus. Compreende melhor as relações humanas, onde o entendimento através da leitura, aproximam-se mais as pessoas, clareando o pensamento e possibilitando a boa convivência entre os homens.
Seguindo o exemplo de minha mãe, estimulou-me de uma certa forma voltar à escola, sendo que se passara quase 40 anos que haviame parado de estudar. E quando tomei esta decisão, ela já não se encontrava entre nós. Mas, com certeza onde ela estava, torcera e muito para minha volta aos estudos. Foi uma tarefa parecida, onde não havia completado o primário. Mas, sabia ler e escrever, graças a Deus. No entanto, era analfabeta em Física, Química, Matemática, Biologia, Português-gramática-literatura, língua estrangeira etc. Na época com o curso de madureza, hoje supletivo, conclui o ginásio, hoje primeiro grau e logo após o cientifico. Fora dois anos para a conclusão do ginásio e cientifico. Logo após fui fazer o cursinho preparatório para o temido vestibular. Nesta altura da vida, encontrava-me com 42 anos, e com Nossa Senhora da Imaculada Conceição na frente, e meu marido Mundinho, apoiando-me, consegui o êxito de passar em 9o lugar, na Federal de Diamantina, onde mais de 40 candidatos disputavam uma vaga. Eram jovens, muito preparados vindos principalmente dos cursinhos de Belo Horizonte e toda parte do país. Pois bem, não estou aqui para falar de mim, mas, para falar de minha mãe Laurinda, (anexo encontra-se a capa da Revista Encontro – 1964) e a reportagem em destaque, com o tema: Beabá aos 66 anos. Espero que mostrando este exemplo, possa estimular e muito, outras pessoas que acham ser uma tarefa impossível. Nunca é tarde para estudar e aprender mais. É extremamente salutar e estimulante, conviver com os jovens e buscar novos desafios através do conhecimento.
Expedito Veloso Barbosa
Cadeira N. 85
Patrono: Armênio Veloso
TIPOS POPULARES DE MONTES CLAROS
O “tuia”
Montes Claros tem nomes ilustres, tanto na área política, como também em outros segmentos importantes da sociedade. Cultura bem definida, dentro da qual se projetam vários escritores e poetas de conhecimento nacional e internacional. Como em todas as cidades do mundo, há também indivíduos bastante populares que ficam bem conhecidos por seus atos curiosos. O“Tuia”, escravo liberto, assim conhecido por todos, cujo nome verdadeiro não se sabe exatamente e que costumava dormir no alpendre de uma casa na Rua Doutor Santos, onde era impresso O Jornal de Montes Claros, andava pelas ruas da cidade, sempre de copo em punho, pois gostava de cerveja e quando via alguém sentado em um bar tomando a tal bebida, levava o copo em direção para que nele fosse colocado o “precioso líquido”.
O “ouvirundum”
Havia também o popular “Ouvirundum”. O Ouvirundum era um sujeito que gostava de cantar. Era só dar a ele qualquer jornal que segurando-o com as duas mãos, como se fosse ler, começava a sua cantarola. “Ouvirundum Ipiranga às marges prácidas...” Era essa toda a sua canção e que era repetida inúmeras vezes.
O EXTROVERTIDO “MANÉ QUATROCENTOS”
Nunca soube o seu verdadeiro nome. Todos o chamava de Mané Quatrocentos. era uma figura imponente. Andava sempre bem vestido, de terno e gravata, muito bem arrumado e perfumado. Tinha o hábito de cortejar todas as moças que encontrava, independente de raça ou condição social, pois ao que parecia, não tinha qualidades suficientes para fazer tais distinções. Naquela época, como por aqui ainda não tinha o fogão a gás, todas as casas eram servidas de fogão a lenha que era facilmente encontrada na cidade. Para transformar a lenha em achas prontas para o fogo era preciso recorrer ao Mané Quatrocentos. O Mané Quatrocentos era portanto, o cortador de lenha. Lá vinha ele todo engomado dentro do seu terno engravatado, machado ao ombro, para executar esse serviço. Em se falando de gozações, com o Mané Quatrocentos era diferente. Era ele quem produzia tais brincadeiras. Terminantemente não deixava brechas a gozação. O seu maior prazer era parar perto de um transeunte olhar para o alto e dizer: “Cuidado moço, senão você cai daí”. Quando o passante olhava para cima, ele levava a mão na altura do pescoço e dando um piparote no gogó, dizia: “Ó lalaika!” e caia na gargalhada. Certa ocasião surgiu um boato que o Mané Quatrocentos havia ganhado na loteria. Quando os malandros souberam da notícia, deram no barraco do Mané Quatrocentos e bateram muito nele a procura do dinheiro. No dia seguinte, orientado pelos vizinhos, ele apareceu na delegacia, contou ao delegado o ocorrido dizendo que nunca jogou em loterias e nem sabia o que era isso. Tempos depois o coitado apareceu morto em seu barracão. Não sei qual o motivo de sua morte.
Felicidade Patrocínio
Cadeira N. 20
Patrono: Camilo Prates
Croácia nem tão longe do Brasil
Nem preciso me levantar, basta erguer os olhos, mesmo estando sentada à mesa, e me entra por eles a beleza do mar da Croácia, salpicado de ilhas paradisíacas. Mas, se me movo e atravesso o recinto virando-me para o outro lado, uma janela escancarada põe diante de mim montanhas, tão próximas que quase posso tocá-las, e quão belas são. É olhando nesta direção que todos os dias, em torno das 20 horas, quando aqui ainda é tardinha, assisto ao colorido requintado do crepúsculo cujo sol se despede nos degradês avermelhados.
Após morar um mês na Croácia, se me perguntassem de que este país é feito, eu diria: de história, de mar, de montanhas, mas primordialmente de beleza. Plantado no chão milenar dos Bálcãs, lavado pelo sangue e cultura dos ilírios, dos eslavos, romanos, gregos e venezianos, que foram se substituindo no domínio das riquezas e no desfrute da beleza, que até Napoleão quis para si. No início do século XIX, esteve na região de Dubrovnik, a cidade medieval mais linda que já visitei, cujas reconstruções, após guerras, terremotos e incêndios, realçaram a mistura de estilos barroco, gótico e renascentista.
Eu diria que o povo croata cabe bem no gosto do brasileiro, pois há semelhanças no modo de ser; católico praticante, uma boa dose de simplicidade, prestativo ao extremo, comunicativo.
É verdade, no entanto, que a língua local complica o nosso entendimento. Quando ouço grupos de mulheres dialogando com certa rapidez, o som de suas vozes parece o “troar” de bolas de porcelana rodando em pequenos moinhos. As palavras oriundas de um alfabeto de 30 caracteres são resultado da mistura da língua dos ilírios e dos eslavos, mas percebe-se vocábulos latinos e até uma certa herança dos gregos. A maioria dos croatas fala o inglês, pois na escola básica esta língua é estudada por sete anos. Embora ainda use as kunas como moeda, a Croácia já integra a União Europeia.
Impressiona-me o poder de superação e reconstrução desse povo balcânico. A dissolução da Iugoslávia com a morte de Josip Broz Tito, o estadista que administrou um socialismo até certo ponto aberto e ofereceu ao seu povo boa condição de vida, provoca lamentações saudosas em cidadãos mais idosos, e sabe-se também, por ser verdade, que muitos, não apenas os sérvios, não queriam a dissolução do país, outrora tão admirado, dono de um dos maiores exércitos da Europa.
É num destes países que resultaram da dissolução da grande Iugoslávia, a Croácia, que existe uma cidade muito especial com nome exótico: Split, cidade onde me fixei por um tempo, por força das circunstâncias de um acidente inesperado. Na companhia de minha irmã Graça e mais 23 brasileiros, fazíamos uma excursão em tudo fantástica pelas terras banhadas pelo mar Adriático, quando nesta cidade, que é o maior porto turístico do país, bem dentro das muralhas da cidade/palácio milenar e espetacular, construída entre os séculos III e IV, pelo imperador romano Diocleciano, essa minha irmã sofreu um infarto do miocárdio.
Foi internada num grande hospital local, chamado Firula, e imediatamente levada para o CTI. Após exames e diagnósticos ficou claro que voar para o Brasil seria morte certa, seu caso exigia cuidados máximos e cirurgia. No dia seguinte o grupo seguiu viagem, ficando uma acompanhante por 2 dias, para ajudar nas primeiras providências. Após isto fiquei só, com meu parco inglês que, por força das circunstâncias, foi-se ampliando. Após mais dois dias no hotel, providenciei um apartamento perto do hospital, por sorte com vistas belíssimas, onde me encontro no momento. Do Brasil veio meu irmão Roberto para ajudar.
A situação extremamente aflitiva nos colocou em contato direto e diário com um povo, do qual pouco ou quase nada sabíamos. Foram muitas as surpresas, muito deverei eu escrever para narrar. No entanto cabe pouco neste primeiro relato devido sua forma de artigo. O que não posso adiar é o relato do nosso contato com o maior hospital da região, e com um grande cirurgião cardíaco, o Dr. Denis Nenadić. À primeira vista nosso olhar cheio de inquietação criava estranhamentos que aos poucos foram sendo substituídos por admiração e confiança. Ao dar entrada no hospital, informamos à administração sobre a existência de um seguro de saúde em viagem, mas ao mesmo tempo nos colocamos à disposição para qualquer depósito em dinheiro ou cartão de crédito. Não se perturbaram. Isto ficaria para depois. Interessaramse, sim, pelos cuidados urgentes com a paciente, que durante dias e dias em repouso e observação fazia exames de toda espécie, incessantemente. As Embaixadas da Croácia no Brasil e do Brasil na Croácia, assim que foram informadas, manifestaram apoio, recomendandonos. Assim, devido à gravidade do caso, a cirurgia foi indicada para esse cirurgião de referência na área, cujo contato pessoal nos encheu de confiança e otimismo. O hospital gigantesco parece uma pequena cidade, tal é o movimento e circulação de pessoas. Descobrimos aí uma medicina socializada. Após doze dias de internação e dezenas de exames e procedimentos preparatórios, a minha irmã submeteu-se a cirurgia de implante de duas pontes de safena e sua recuperação tem sido maravilhosa. Conhecemos uma realidade que jamais pensávamos existir por estes lados e nestes tempos de capitalismo e desumanismo exacerbados.
Por trás da acessibilidade e simplicidade de um povo sem arrogância, descobrimos uma prática hospitalar de primeiro mundo, aparelhos e procedimentos de última geração. Um só enfermeiro gasta em torno de cem luvas por dia. Para cada toque num paciente, em cada parte do corpo, um par de luvas. Não se vê economia no que se refere às necessidades diárias quanto a exames e aparelhos de alto custo. Tudo aplicado por uma equipe cujo comportamento redime o ambiente daquela usual gravidade, tornando-o mais leve e humanizado. A educação e delicadeza dos profissionais já funcionam como
parte dos remédios. Muitas vezes vi lágrimas de gratidão nos olhos de minha irmã, pelo que recebia e como recebia.
Quando teve alta, o referido cirurgião, gentilmente, trouxe-a em seu carro para o apartamento, para mais uns dias de recuperação antes do retorno ao Brasil. Prometeu-lhe assistência até a hora do voo, quando a examinará mais uma vez e a levará pessoalmente ao aeroporto.
Em meio a tudo isto, olho a bela paisagem posta diante de minha janela e fico pensando como é a vida, esta alternância de momentos de paz, alegria, dor e prazer. Quanto à nossa experiência na Croácia, fica a certeza de que é possível a esperança e podemos, sim, acreditar no ser humano.
Felipe Gabrich
Cadeira N. 89
Patrono: Robson Costa
Injustiça Histórica
A História – com agá maiúsculo mesmo - registra em narrativa literária, obscura até para os estudiosos de plantão, que Gonçalves Figueira, juntamente com Matias Cardoso, cansou-se de integrar a Bandeira de Fernão Dias Pais Leme em sua busca frenética pelas sonhadas e sedutoras esmeraldas no interior de Minas Gerais no século XVI.
Após a morte do “Caçador das Esmeraldas”, já no século XVII, Figueira teria voltado ao território de Minas Gerais, juntamente com Matias Cardoso, integrando a famosa Expedição Espinosa.
Em seu retorno ao sertão inóspito mineiro se encantou com os claros montes que circundavam imenso vale verde cortado pelas águas abundantes e piscosas do Rio Vieira, um dos principais afluentes do então majestoso Rio Verde.
E nesse rico território, Antônio Gonçalves Figueira resolveu amarrar suas éguas.
E fincar moradia para os companheiros e descendentes.
Foi assim que Figueira, com a ajuda de alguns bandeirantes que também haviam regressado com ele a Minas Gerais em busca das tão almejadas pedras preciosas, fundou a fazenda dos Montes Claros, que deu origem anos depois ao município de mesmo nome.
Terra de serras verdes misteriosamente chegadas ao branco das nuvens.
Terra dos índios Tapuias.
Terra dos Montes Claros.
Os mesmos montes que, não obstante às agressões do tempo e do homem, são denominados carinhosamente hoje de Serra do Mel, pois esta pode ser vista pelos populares a partir do Bairro do Melo, na parte oeste da cidade, principalmente.
Muitos anos antes, entusiasmado com a esplêndida Serra Geral, Pais Leme teria continuado sua arrojada aventura desbravadora do sertão mineiro selvagem, seguindo em direção à Itacambira, famosa por suas belíssimas lagoas e jazidas de malacacheta de brilho ofuscante.
Diz a lenda histórica que a Bandeira de Fernão Dias teria atingido o território hoje chamado de Barra do Guacuí, situado às margens do majestoso Rio das Velhas que deságua logo abaixo no Rio São Francisco e ali teria armado barraca.
Essa versão não é acatada pela maioria dos historiadores brasileiros, mas não há um lugar definido nos registros históricos para o falecimento do arrojado aventureiro paulista, embora algumas enciclopédias indiquem que ele teria morrido em 1681 em território mineiro. Dessa dúvida histórica surgiu em Minas Gerais o ditado popular para designar regiões longínquas do sertão mineiro: “foi lá que Fernão Dias bateu as botas”.
Com o passar dos anos, a fazenda Montes Claros de Figueira virou arraial das formigas; depois vila; mais à frente povoado; e finalmente cidade.
Por sua estratégica posição geográfica, a cidade de Montes Claros acabou sendo denominada de Princesa do Norte e é hoje uma das principais metrópoles do Estado de Minas Gerais.
Não possui esmeraldas, mas seu potencial de riqueza começa na atividade agrícola e desabrocha no nicho econômico rotulado na modernidade de prestação de serviços.
Infelizmente, sua população de mais de 400 mil habitantes, das quais mais de um quarto está em bancos de escolas, inclusive de universidade e outras instituições de ensino superior, pouco conhece de suas origens.
Não obstante dezenas de gentes de famílias “quase boas” se arvorarem em donas da cidade.
E de possuírem em seu acervo patrimonial um Museu Regional.
No frigir dos ovos, no entanto, raros são os montes-clarenses que sabem que um belo dia o famoso e audacioso bandeirante Fernão Dias Paes Leme passou por essas bandas de Minas Gerais.
E que foi um egresso da sua sonhadora e aventureira Bandeira na caça das cobiçadas esmeraldas, chamado de Gonçalves Figueira, que deu início à fabulosa história da um município mineiro chamado Montes Claros.
O interessante dessa crônica quase-história é que a cidade ostenta bustos de aço e ferro de vultos históricos espalhados em suas praças e avenidas.
Menos o de Gonçalves Figueira!
Do fundador da cidade, para conhecimento geral, há apenas alguns relatos duvidosos de letras frias e nem sequer um auto-retrato a lápis para o saber dessa e das futuras gerações.
Pode ser que nos herméticos arquivos da Prefeitura ou da Câmara Municipal se encontre alguma fotografia ou coisa semelhante do intrépido bandeirante. Pode ser.
O que, além de patético, é lamentável e triste!
Felipe Gabrich
Cadeira N. 89
Patrono: Robson Costa
A LAPA E O PARQUE
Sebastião Moreira era um conceituado dentista da cidade.
Gostava de pessoas com bocas cheias de dentes.
Sua esposa, Josefina Mendonça, era a única paisagística disponível na província.
Amava as plantas e os jardins.
O mancebo Sebastião Darlan era um dos filhos do casal vinte.
E meu colega de turma no Colégio São José.
Mas não foi que esse brilhante infante juntou-se a um grupo de jovens aventureiros, liderados por Rui Barbosa e Nenzão Maurício, para uma visita à ainda indevassável Lapa Grande na região da fazenda Quebradas?
A sugestão do passeio foi do professor e ex-prefeito de Montes Claros, o inesquecível engenheiro Simeão Ribeiro, que já conhecia bem o local dito por ele como sendo um desses sagrados sítios arqueológicos.
Logo acima da gigantesca Lapa, havia também a denominada Gruta Pintada, onde pichações antigas de animais selvagens, feitas por mãos humanas com tintas desconhecidas, indicavam sinais das
primeiras civilizações que teriam vivido no local havia séculos.
O cenário cinematográfico era completado por incrível córrego de águas límpidas e valentes, cujo leito vinha lá de cima de onde ninguém sabe e se infiltrava na indevassável montanha de pedras.
Quem já havia visto o local dizia o contrário, ou seja, que o córrego de águas valentes provinha do interior medonho e desafiador da gigantesca gruta.
Mas a destemida expedição de jovens estudantes queria apenas explorar a grande montanha, onde diziam que havia em seu interior diversas repartições como moradias, dentre as quais se destacava uma denominada de Sala do Trono.
Transcorria o ano de 1962 da graça do Senhor.
Chegar pelo menos a esse local majestoso era o grande repto a que Rui Barbosa e seus companheiros se propuseram, enquanto Zé Eymard tentava assar uma galinha em braseiro improvisado à margem do córrego.
A cena poderia até parecer risível, mas era angustiante de se ver: por mais que o jovem Zé Eymard assoprasse a fogueira armada artesanalmente, os paus secos insistiam em não propalar as chamas e a galinha, colocada num espeto feito com um galho de árvore, imitava uma penosa que ainda estava viva, por causa da estranha e rústica forma com que fora depenada.
Uma autêntica briga de foice no escuro, diria a rapaziada de hoje.
Durante a empreitada, Rui Barbosa deslocou um braço, o que desestimulou o grupo a seguir em sua aventura dentro da gruta.
A caminhada de volta à cidade foi um verdadeiro suplício, pois o desânimo era visível em toda a turma, além de que o acesso era uma trilha insinuosa e cheia de grandes pedras aqui e acolá.
Debalde os esforços do mancebo Alberto Graça para animar a rapaziada. Com voz rouca e melodiosa, ele cantarolava Doce Amargura, música com que Moacir Franco ocupava o primeiríssimo lugar em todas as paradas musicais das rádios nacionais da época Mal sabia Alberto que o futuro lhe reservava espaço entre os mais incríveis talentos do cinema brasileiro dos séculos XX e XXI.
Ele, para quem não sabe, é filho do inesquecível casal Armênio Graça e Ruth Tupinambá, ilustres personagens do desenvolvimento de Montes Claros, Sua saudosa mãe, inclusive, foi alçada nas últimas décadas desse milênio ao pódio de a melhor memorialista da história da cidade.
Uma reserva cultural, sem dúvida.
Os intrépidos aventureiros olharam para os céus como se agradecessem a Deus e aos Santos Protetores assim que escutaram ao longe o ronco do motor de um carro.
E todos ficaram aliviados quando constataram que o veículo em questão era uma perua Chevrolet, tendo na direção Sebastião e Josefina na cadeira do passageiro da frente.
Na verdade, eles estavam preocupados e foram até o inóspito local em busca do filho Darlan, acabando por “socorrer” toda a turma de jovens audazes bandeirantes cansados e sem bandeira.
Lapa Grande?
Passados alguns anos. esses mesmos jovens que hoje são adultos nem se lembram do insólito episódio, mas aprenderam que na atualidade somente existe a atual e encantadora gruta do rico acervo do Parque Florestal de mesmo nome, do IEF.
De fácil acesso, dotada de modernos equipamentos de segurança e espaço maravilhoso para o turismo da cidade.
Além de servir como fonte de estudos para os especialistas em mistérios do passado.
Ou como comentaria o desligado cidadão do povo: é outro departamento!
Itamaury Teles
Cadeira N. 84
Patrono: Newton Prates
TRIBUTO AO AMIGO
HAROLDO LÍVIO
Viver é perder amigos: já escrevi isso antes e agora repito, com convicção. O último a nos deixar foi o Haroldo Lívio, que se encantou de forma abrupta, sem sequer se despedir, causando vazio impreenchível no meio cultural norte-mineiro.
Atencioso, afável no trato, uma enciclopédia ambulante, seguro e preciso em suas intervenções, era a nossa referência, nosso paradigma, como articulista, cronista, historiador, escritor, um operador das letras, enfim.
Com memória prodigiosa, versava sobre assuntos diversificados, com fluência e humildade, sem pompa ou circunstância. Conhecia fatos e personagens da nossa história e os relatava a quem o consultava como se tivesse acabado de reler sinopse sobre o tema.
Gostava de lembrar-me, no Café Galo, que fora amigo do meu pai, Geraldo Teles, muito antes de conhecer-me, pessoalmente. Foram confidentes e companheiros de prosa noturna, assentados nas
cadeiras postas no passeio, em frente ao Hotel Lírio, da Dona Caru,em Porteirinha, desde quando ali chegou, para assumir o Cartório de Registro de Imóveis da comarca.
Leio Haroldo Lívio desde que tive acesso a uma coleção da Revista Encontro, que circulou em Montes Claros na década de 60. Ali, sob o pseudônimo de Parsifal de Almeida, ele escrevia crítica social. Um texto primoroso e leve, sarcástico e humorístico, ao mesmo tempo, como só os gênios podem produzir.
Depois, maravilhei-me com duas crônicas que escrevera sobre o distrito porteirinhense de São José do Gorutuba, cuja paróquia fora criada no mesmo dia da de Montes Claros. Lendo seu texto, pude ouvir “o som cavo do pilão, nalgum quintal” e o burburinho do então fervilhante lugarejo, que se sucumbiu para a construção da barragem do Bico do Pedra. Hoje, remanesce apenas a antiga igreja, tombada pelo Patrimônio Histórico de Porteirinha.
Altruísta por excelência, Haroldo se comprazia em descobrir novos talentos literários com seu faro aguçado. E os ajudava como podia, orientando e até dando suporte financeiro para a compra de materiais. Conheço alguns casos.
Incentivou-me muito na edição do meu primeiro livro de crônicas– o Urubu de Gravata – brindando-me com um excepcional prefácio. Além de valorizar a minha estreia, instigou-me a novos voos literários, vaticinando que “desta chaminé ainda sairá muita fumaça”, aludindo aos novos livros que eu haveria de lançar.
Depois, na minha posse na Academia Montes-clarense de Letras, o Haroldo Lívio lá estava, com sorriso largo, na comissão de recepção ao neo-acadêmico, o que muito me honrou. Era muito frequente e enriquecia as nossas reuniões, na Casa de Yvonne Silveira.
No Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, que fundou e indicou praticamente todos os cem nomes de patronos, recusou-se a ocupar a presidência, mas sempre participou ativamente da
diretoria, oferecendo conselhos judiciosos e ponderados, que ajudaram na consolidação da entidade.
Em Grão Mogol, cidade que adotou para ser seu refúgio nos anos de aposentadoria, conquistou legião de amigos. Ali, ele e minha prima Maria do Carmo – esposa e companheira de todas as horas, e as filhas -, esmeravam-se em receber os amigos em sua bela e centenária residência, toda construída em pedra por artífices da cantaria, tendo um riacho de águas cristalinas a murmurejar no fundo do quintal arborizado. Fui alvo dessa deferência especial...
A maior proeza do Haroldo, nesse tempo todo de amizade que nos uniu, foi vê-lo chegar, ano passado, na garupa de uma moto, para visitar-me no Solar dos Teles, em Porteirinha. Lépido, aos 75 anos, só bateu as mãos nas pernas da calça, para retirar a poeira, e saímos para apresentá-lo meu minifúndio rural, que herdei do seu grande amigo Pequi, como se referia a meu saudoso pai. Os dois, certamente, já estão no céu colocando a prosa em dia.
De cá, só me resta lamentar que a Ciência ainda não possa oferecer meios para se fazer um “back-up” de uma mente tão rica e fértil.
Mas Haroldo Lívio já está imortalizado, não só pelo livro que publicou, mas também pelos que certamente a família trará a lume, enfeixando toda a sua admirável produção literária, ainda inédita.
Ivana Ferrante Rebello
Cadeira N. 56
Patrono: João Luiz Machado Lafetá
NAVEGAR É PRECISO: UMA
HOMENAGEM A JAYME REBELLO
Ó mar salgado, quanto de teu sal
são lágrimas de Portugal!
Por te cruzarmos, quantas mães choraram,
Quantos filhos em vão rezaram!
Quantas noivas ficaram por casar
Para que fosses nosso, ó mar!
Valeu a pena?
Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena.
Fernando Pessoa
A mãe apertou-o contra seu xale de lã grossa, dizendo-lhe, com voz meio embargada: “Deixa-me olhar para ti, outra vez, meu filho”. Jayme Rebello, depois de ficar alguns dias à espera do navio que o levaria ao Brasil, estava pronto para o embarque. Recebera como herança da mãe um curso de boas maneiras.
Muito anos depois, sentado à mesa, descascando uma laranja com garfo e faca, dividindo-a em gomos cuidadosamente separados, essas lições far-se-iam notar. À mesa e na vida, Jayme Rebello distinguir-se-ia pela sobriedade, pelo comedimento e pela parcimônia. Asúltimas palavras que ouvira da mãe ainda ecoariam por algum tempo, enquanto o navio se distanciava da costa portuguesa: “Nunca mais tornarei a vê-lo...”. Essa fora a sua despedida.
Com o fim do tráfico dos escravos, adveio uma carência de mão-de-obra no Brasil. Por aqui expandiam-se as plantações de café, que careciam de trabalhadores. Houve, então, por parte do governo brasileiro, um processo de substituição da mão-de-obra escrava pelo trabalho assalariado de imigrantes europeus. Entre tais imigrantes, a maior leva foi de portugueses.
A partir da metade do século XIX, a imigração portuguesa no Brasil tomou caráter quase que exclusivamente urbano. O perfil do imigrante português também se alterou: em séculos anteriores, a
maioria era composta por homens solteiros. A partir do final do século XIX, as mulheres portuguesas também chegaram ao Brasil em grande número.
A situação econômica dos portugueses que vinham para terras brasileiras se alterou, ao longo do tempo. Na época colonial, muitos portugueses ricos e até nobres migraram ao Brasil; no final do século XIX, entretanto, os que aqui chegaram eram na sua maioria pobres e sem escolaridade, vindos de aldeias do interior de Portugal.
As crianças menores de 14 anos constituiam 20% dos imigrantes lusitanos. Entre estes estava o menino de 13 anos incompletos, chamado Jayme Rebello. Deixara sua mãe viúva, seus irmãos, e os
pequenos pedaços de terra que arava e semeava e de onde colhia, para serem armazenados para o rigor do inverno, as batatas, as azeitonas, os figos e as castanhas. Aquelas castanhas em ouriço, que o vento forte da noite derrubava e espalhava pela estrada e que precisavam ser colhidas, madrugada ainda, antes que os animais as estragassem.
O navio distanciava-se rapidamente das terras portuguesas, onde também ficariam essas impressões primeiras de vida.
A maior parte dos imigrantes de Portugal aportaram nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo. Uma expressiva parcela dessa população era oriunda de regiões interioranas do norte de Portugal, notadamente entre Beira Alta e Alto Trás-os-Montes e quase sempre vinham em família, registrando-se, no período, número expressivo de mulheres e crianças. Ao chegarem ao Brasil, costumavam procurar parentes que aqui residiam ou se instalavam em pequenos cortiços, conjuntos habitacionais bastante comuns nas cidades brasileiras em finais do século XIX.
Grande parte desses imigrantes dedicou-se ao comércio: instalando aqui pequenas vendas e padarias, chegando ao ponto de dominarem essas duas atividades em várias regiões do Brasil. Outros, tornaram-se operários nas nascentes indústrias brasileiras.
A vinda de Jayme Rebello para o Brasil foi escrita com tonalidades mais ácidas : veio só, ainda não completara os seus 13 anos, e poraqui não tinha parente a quem procurar. Durante o longo período de viagem, que durara cerca de 15 dias, recebera a assistência ocasional do padrinho, que descia da primeira classe à terceira, em que o menino Jayme viajava, para trazer-lhe uma fruta ou outro quitute.
Os passageiros daquele navio, que chegara ao porto do Rio de Janeiro, nos longínquos 1900, não puderam desembarcar. Pelas terras brasileiras ocorria um surto de febre amarela, impondo aos imigrantes recém- chegados uma espécie de quarentena. Esses passageiros foram, então, embarcados em trem e enviados a Uberaba; essa foi a primeira terra brasileira em que Jayme Rebello verdadeiramente pisou, visto que a chegada ao Rio de Janeiro constituíra-se apenas uma rápida
passagem.
Era somente um menino que cruzara os mares, vindo aportar num país desconhecido. Veio sem posses e sem família. Na sua bagagem, apenas uma carta de recomendação e a determinação de ferro, que seria a sua marca mais definitiva.
Entre 1881 e 1991, mais de 1,5 milhão de pessoas imigraram de Portugal para o Brasil. Estudos genéticos confirmam a forte influência racial portuguesa nos brasileiros. De acordo com uma pesquisa, pelo menos metade de todos os cromossomos Y da população brasileira é oriunda de portugueses.
Em 1906, por exemplo, viviam 133.393 portugueses na cidade do Rio de Janeiro, compondo 16% da população. Ainda hoje, o Rio de Janeiro é considerada a “maior cidade portuguesa” fora de Portugal.
Para além dos frios dados estatísticos, procuro um rapazote de cerca dos seus 19 anos, vivendo e trabalhando em terras fluminenses. Por essa época, Jayme Rebello empregara-se na casa comercial Gomes de Castro & Cia, do ramo de armarinhos e ferragens, onde, certamente devido à escassez de recursos, também residia. À noite, frequentava a escola, sequioso de adquirir conhecimentos para ganhar o mundo.
Começara pelo posto mais humilde, mas fora gradativamente conquistando espaço, angariando aos poucos a confiança dos patrões e sendo sucessivamente promovido. Soube ocupar bem, e com dignidade, todos os lugares em que esteve. Meu pai conta-nos que um dia o seu pai, trabalhando no balcão dessa casa que o acolhera, fora advertido pelo patrão de que estava mal trajado, com sua camisa remendada. A resposta do meu avô traduziria uma característica sua, que seria um dos traços mais conhecidos e admirados da sua forte personalidade:“O que ganho não me permite comprar uma camisa nova.” Franqueza. Essa sinceridade sem peias, tão rara nos dias atuais, de excessiva polidez e pouca confiabilidade, valeu-lhe também uma promoção e um aumento. No menino já se notavam os caracteres admiráveis que constituiriam o homem.
Jayme Rebello, promovido algum tempo depois ao posto de“Cometa”, preparava-se para um novo ciclo de viagens. As viagens e conquistas haviam escrito o rumo dos portugueses na história da humanidade. Para a pequena história da nossa família, meu avô trouxera esse legado lusitano, em cujo traçado se lia o destemor e o desbravamento.
De Sanjurge ao sertão de Montes Claros; do inverno rigoroso das montanhas ao sol inclemente do cerrado mineiro; das postas de bacalhau à carne de sol do interior dos gerais. Era um novo chamado
do destino. Jayme Rebello seguiria em frente.
José Ponciano Neto
Cadeira N. 24
Patrono: Celestino Soares da Cruz
JORNALISTA E PREFEITO
FIALHO PACHECO
Falar ou escrever sobre o jornalista Fialho Pacheco - diga-se passagem um dos maiores jornalista de todos os tempos, nome que encabeça a lista dos maiores homens público de Minas - é muito difícil. É necessário, pelo menos, um pouco de conhecimento e convivência.
Conheci o Jornalista Fialho Pacheco no inicio de 1982 – último ano dos seis do seu mandato como prefeito de Juramento-MG - um ano antes da inauguração da Barragem que abastece Montes Claros.
No primeiro contato, fui solicitado por ele para ir à Prefeitura. Mas, acabou sendo em sua casa, na Praça principal da cidade. Sentado na varanda, sempre fumando seu cigarro preferido; “Du Maurier” - papel marrom; na falta deste, era o “Phillip Morris” o segundo preferido. Iniciamos a conversa com uma das suas perguntas, curta e grossa. – Sr. Ponciano Neto, o que você está fazendo neste município? Respondi: - “Trabalho para a Copasa. Estou levantando pontos onde iremos implantar uma rede de monitoramento fluvial e pluvial; os dados subsidiarão estudos da qualidade e quantidade das águas dos rios que contribuirão à barragem que o Governo está construindo no
seu município”.
– No meu município não, no nosso – resmungou ele, com aquela voz rouca e incisiva. Daí nos tornou amigos incondicionais.
O Jornalista Fialho Pacheco foi uma pessoa que chegou a Juramento através de uma amizade desde Belo Horizonte com uma família tradicional da cidade. Logo se tornou político efetivo, candidatou-se e foi eleito. Logo procurou viabilizar as aspirações da sociedade. Com a arte de governar e, muita ciência, procurou trabalhar com civilidade.
Fialho Pacheco era um prefeito diferenciado. Sempre pensava no desenvolvimento da cidade e do povo, principalmente no crescimento intelectual das pessoas. Recomendava a todos que estudassem. Era bem diferente daqueles que só pensam na “prefeitura”.
Era um homem sem vaidades, não obstante o seu jeitão de durão. Com sua Belina azul, com portas marrons, rodava por todos os lados. Em Belo Horizonte, até os guardas de trânsito, nas imediações
da Praça da Liberdade, a conheciam. Veículo particular que acabou a serviço da prefeitura.
Quando foi Prefeito de Juramento-MG, a cidade teve um avanço jamais obtido pelos seus sucessores. Inicialmente, “Seu” Fialho deu emprego para todas as crianças da época. Criou uma frente de serviço, onde quebravam pedras para transformá-las em britas, que posteriormente eram usadas nos alicerces da Escola Estadual da cidade. Este fato é atestado pelo Contador Elton Bicalho, que trabalhou na turma dos “meninos das pedras”. Ele estudou incentivado e apoiado pelo prefeito Fialho.
Na comunidade de Pau d’óleo, através do Cetec, construiu bicames - canalizações aéreas de água - com bambu. Foi uma forma de trazer soluções para a agricultura. Esta simples obra até hoje é muito
lembrada pelos moradores da comunidade.
O Prefeito Fialho conseguiu, por meio da sua amizade com o General José Arakem Rodrigues, todos os equipamentos de ponta para um Hospital, inclusive o Raio X e outros para a sala de cirurgias. Somente quatro cidades do Brasil foram contempladas com as doações vindas dos Estados Unidos. Eram equipamentos novos que sobraram dos hospitais de campanha na guerra do Vietnã.
O Hospital de Juramento foi construído quando poucas cidades do Norte de Minas possuíam apenas uma casa de saúde. O General Arakem foi homenageado pelo Fialho Pacheco, que deu o seu nome ao Hospital.
A cidade de Juramento foi uma das primeiras do Norte de Minas a ganhar o asfalto ligando a Montes Claros, fruto do prestigio que o Fialho Pacheco tinha com o Governador Francelino Pereira e o secretário estadual de Obras Publica de Minas Gerais - Eng. Celso Mello Azevedo.
Outra ação para gerar emprego em Juramento foi a cultura do bicho-da-seda, na chamada “Casa da Seda”, onde eram criadas as lagartas. Até hoje, há algumas amoreiras no local, plantas usadas na criação da larva.
A obra que mais orgulha os cidadãos e cidadãs da cidade de Juramento, sem dúvida, é o Balneário no Rio Juramento, no centro da cidade. Obra que embeleza e dá opções de lazer aos moradores e turistas, além de fomentar o comercio local.
Quem trabalhou na construção do balneário comenta com orgulho sobre o Prefeito Fialho Pacheco e a obra. Falam da fundação; das ferragens com trilhos; da construção e da inauguração. Eu, que não sou juramentense, mas me considero como tal, quando cito o balneário, digo: Balneário Prefeito Fialho Pacheco, uma homenagem que tarda, por falta de um decreto para oficializar.
A única homenagem concedida ao Prefeito Fialho Pacheco é uma pracinha mal cuidada, que tem menos de 100 m2. Pouca coisa para a grandeza de um homem que sempre pensou na cidade.
Das reportagens inusitadas do Jornalista Fialho Pacheco, são quatro que me chamaram a atenção.
Primeira: Foi uma sobre a Barragem da Copasa. Depois de uma conversa que tive com ele, mesmo explicando a vantagem da área de segurança, ele escreveu e publicou que toda barragem teria de ser para múltiplos usos. Fui chamado atenção pela “fonte” e quase punido.
Segunda: Quando um turista de Montes Claros perdeu a dentadura no balneário. Titulo da matéria: “Cidade esvazia barragem para encontrar dentadura perdida”
Terceira: Durante a construção do asfalto, o Prefeito Fialho Pacheco fotografou um bode cheirando um monte de brita. Titulo da matéria: “Juramento: cidade onde os bodes comem até brita”.
Quarta: A cidade ficou uns dias sem o sinal de TV, o técnico Edson descobriu que uma perereca vedou o Booster da antena. Titulo da matéria: “Perereca fecha sinal e cidade fica sem TV”.
Lembro de uma reportagem interessante sobre o Jornalista Fialho Pacheco, que colocou Juramento na mídia. Assim que o Presidente João Baptista Figueiredo foi operado do coração em Cleveland (EUA), Fialho Pacheco foi visitar o presidente em exercício, Aureliano Chaves de Mendonça, de quem era amigo e ex-assessor. Titulo da matéria: “Prefeito de Juramento visita Presidente da Republica em Brasília”. Nesta visita, chuparam a metade de uma melancia no gabinete presidencial. Uma clara evidência da humildade e da amizade entre os dois.
“Seu” Fialho preocupou com Juramento, mesmo depois de encerrado o mandato. Brigou e conseguiu inserir o povoado de Santana do Mundo Novo (comunidade rural de Juramento) no “Programa de Desenvolvimento de Comunidades Rurais – Prodecor”, durante o governo de Francelino Pereira.
Através deste programa foram viabilizados poço artesiano e a energia elétrica para essa comunidade, construída para o reassentamento dos moradores atingidos pela inundação da Barragem da Copasa. O acordo entre a Copasa, Igreja Católica e o Prodecor foi fechado no Palácio Mangabeiras, em Belo Horizonte, em 1983. Inclusive estive presente nesta reunião.
Mesmo na condição de ex-prefeito o prestigio do jornalista pesava em todas as decisões.
O Prefeito e Jornalista Fialho Pacheco foi pai de quatro filhos. No primeiro casamento, com Dona Celina Perez, nasceram Lúcio Antônio Perez Pacheco, publicitário e jornalista, e Cristina Perez Pacheco, publicitária.
Do segundo casamento, com Dona Socorro Alves Pacheco, foram mais dois filhos: o Policial Militar Rômulo A. Pacheco, que presta serviço em Juramento- MG - com muito comprometimento e competência - e, a caçula Marina A. Pacheco, casada, morando em Vitória da Conquista - BA.
São muitas as histórias sobre o Jornalista e Prefeito José Fialho Pacheco. - Pena que não sou um jornalista para escrever e externar melhor o respeito que eu tinha por ele.
Foram apenas sete anos de amizade, o suficiente para deixar muitas lembranças. Como dizem os juramentenses: “Fialho Pacheco deveria ter chegado 20 anos antes em Juramento”
O Jornalista Fialho Pacheco faleceu dia 01 de fevereiro de 1989, após um derrame cerebral, no momento em que trabalhava com a sua máquina “Remington”, de letras grandes.
O Jornalista Fialho Pacheco cumpriu sua missão com muito estilo. A estima e o apreço que recebia do povo de Juramento eram frutos das suas atitudes, ações, gestos e palavras - às vezes ásperas - mas que traziam confiança e segurança para o povo.
Até hoje o Jornalista e Prefeito Fialho Pacheco é respeitado, não só em Juramento/MG, mas, em toda imprensa brasileira.
Juvenal Caldeira Durães
Cadeira N. 81
Patrono: Nathércio França
POVOADO DO MOCAMBINHO
Francisco Sá é um município de terras férteis e produtivas do norte Minas e constituído de distritos desenvolvidos e prósperos. Todavia, o povoado do Mocambinho e suas vizinhanças viviam, até o fim da década de 60, capengando e esquecidos da administração municipal.
As estradas que ligavam a região ao asfalto, na imediação do Clube da Lagoa da Barra, eram quase intransitáveis para veículos motorizados, o que dificultava o movimento e desenvolvimento daquela parte do município, apesar das proximidades da BR- 251.
Na década de 70, eu adquiri uma propriedade rural próximo àquele povoado situado na bacia do Rio Verde, o que me fez pensar em procurar a prefeitura para providências no sentido de uma melhoria
coletiva do lugar e da região. Mas, as coisas não eram tão simples como eu pensava. Senti logo a apatia e o desânimo dos proprietários vizinhos para solucionar o problema. Mostraram frieza, dizendo sempre a mesma coisa: “não vale a pena mexer”. Diante das dificuldades reinantes no lugar e com o propósito de luta contra aquela situação, tomei a iniciativa de procurar a acolhedora Francisco Sá, onde fui bem recebido pelo então prefeito Dr. Feliciano Oliveira, seu vice-prefeito Dr. José Mário Pena e seu irmão, Joaquim Pena (assessor municipal, meu ex-aluno e grande amigo), que me puseram em contato com a Assessoria Municipal, composta de pessoas de peso da Comunidade. Naquela ocasião passei a conhecer Ana Valda Vasconcelos, “Vêvê”, “Toninho de Sinhô”, “ Tone de Beto” entre outros valorosos funcionários da Prefeitura, que mais tarde, se puseram à minha disposição, naquela casa.
O Prefeito alegou que a população daquela região era atraída pela política, recursos e proximidades de Montes Claros, virando as costa para sua própria comunidade. Além disso, faltava ali, uma liderança disposta a trabalhar para reverter a situação e relacionar com Francisco Sá, visando uma melhoria.
Eu, na intenção firme de resolver o problema daquele lugar, ofereci os meus préstimos no empenho de uma campanha de retomada de consciência da população para o devido entrosamento com a prefeitura no sentido de procurar usufruir dos benefícios da administração, dando a devida contribuição de cidadania e procurando colocar as coisas nos rumos certos. A minha proposta foi aceita prontamente sem restrições pela administração municipal e pelo seu valoroso grupo de apoio político.
Eu me entrosei com aquela força política e com a população, iniciando uma pesada missão, porém, prazerosa, que durou mais de dez anos, sem remuneração ou vantagem material, a não ser a glória
de ter alcançado benefícios relevantes, prestados pela prefeitura à região, através de nossos esforços e da colaboração séria daqueles amigos aliados conquistados pela liderança honesta em favor da comunidade.
Começamos no povoado, conquistando os moradores da região com reuniões festivas e conseguindo aliados de valores, comoos velhos amigos Serafim, Martim, José dos Reis, Leonídio (Fiote), Arnaldo, Maurício, Marinho, João de Onofre, “Mané Costela”, “Zé Branco”, Wilson; depois nas vizinhanças do Rio Verde: Basílio, “Manezinho de Carrinho”; e finalmente, na localidade do Serafim: “Fiinho”, “ Nozinho”, entre outros amigos com suas famílias.
Além destes aliados citados, tivemos inúmeros seguidores e simpatizantes que estavam sempre juntos para nos apoiar e colaborar com o nosso trabalho.
Saudoso prefeito Feliciano Oliveira, Vice-prefeito José Mário Pena e
Prof. Juvenal Caldeira Durães, em reunião festiva comunitária.
Caravana de companheiros para receber o Presidente João Figueiredo em
Belo Horizonte. Governo Francelino Pereira.
A prefeitura de Francisco Sá, nas gestões dos nossos companheiros de lutas: prefeito Feliciano Oliveira, em seguida, prefeito José Mario Pena, conseguimos realizar, em conjunto e com honestidade, estimável trabalho em benefício da população de todas as localidades com o incondicional apoio no sentido de alcançar o progresso da região e o desejo de todos, restaurando todas as estradas com serviços de máquinas, cascalhos e mata-burros; ligando com boas estradas os lugares ao asfalto da BR-251; iluminando o povoado e região vizinha; reconstruindo e aumentando o cemitério; instalando luz, água nos prédios públicos e nas ruas; reparando e construído igrejas e colocado as escolas em perfeito funcionamento; e ainda, criando associação comunitária para assistência social e instalação de uma secção eleitoral, para comodidade da população e cumprimento do seu dever de cidadania.
Foi um tempo de alegria e de satisfação para o engrandecimento de minha realização pessoal. Consegui grandes amizades com o grupo e no município, sendo agraciado com o título - Cidadão Honorário - concedido pela Câmara Municipal de Francisco Sá. Mas, “nem tudo são flores”, tivemos que lutar e aguentar com paciência e sabedoria a hostilidade de algumas pessoas, que mesmo beneficiadas com os frutos de nossos êxitos, partiam contra as iniciativas e realizações do movimento, motivos pelos quais não conseguimos entender. Enquanto, trabalhávamos para o bem comum, o grupinho afetado, mesmo inconscientemente, pela antítese, figura que tem como finalidade a oposição, como explica a dialética de Hegel, procurava perturbar o fruto do nosso trabalho que eles mesmos usufruíam no seu cotidiano.
O sentimento que nos resta é de dever cumprindo e de saudade daqueles tempos e lugares que transformamos para servir um povo amigo que se encontra hoje, reduzido e até substituído por pessoas diferentes e que desconhecem a origem e a história dos benefícios, que ora usam com indiferença, contudo, isto não nos impede de nos sentir recompensados, por tudo que fizemos prol daquela Comunidade, modesta, porém de pessoas honradas e bondosas.
“Querem saber o que os homens pensam? Não ouçam o que dizem: observem o que eles fazem.” - (Beauchêne)
Mara Yanmar Narciso
Cadeira N. 98
Patrono: Virgílio Abreu de Paula
Prêmio Esso
é coisa muito rara
Nascido em 1º de agosto de 1968, e hoje com 47 anos, o polipremiado jornalista Luiz Ribeiro dos Santos coleciona prêmios e fama. O acúmulo de tanta recompensa é algo incomum. Repete não trabalhar como caçador de prêmios, mas sente quando uma boa matéria tem conteúdo para almejar a indicação. Isso vem da repercussão e dos desdobramentos dentro e fora do jornal. Foi o 40º jornalista mais premiado em 2014. No momento ocupa a 60ª posição entre os 200 jornalistas mais premiados de todos os tempos, num país em que há 145 mil jornalistas registrados. É um feito e tanto, pois no ano passado ocupava a 101ª posição.
Cresceu profissionalmente, mas não deixou de ser a pessoa simples do sertão. Nasceu em Caititu, zona rural pertencente ao município de Francisco Sá. O pai, José Soares, vulgo Zeca, foi um desbravador da Jaíba. Era homem rústico, um lavrador que, aos 15 anos partiu para trabalhar nas então chamadas terras vazias, no norte de Minas. Chegou a gerente de fazenda. Estudou apenas até o terceiro ano, sendo um analfabeto funcional, mas, naquela pobreza, tinha inteligência para reconhecer a importância da escola, e muito se esforçou para que os oito filhos estudassem. Devido à desnutrição, Luiz Ribeiro, o quarto filho, revela que teve problemas ósseos, tendo sido um menino pequeno e fraco. A sua mãe, dona Agripina Ribeiro Santos, mulher não alfabetizada, nascida em 1947, portanto com 67 anos, tinha receio de que os colegas o machucassem na escola. Aprendeu a ler no livro “As mais lindas histórias”, de Lúcia Casasanta, ao imitar os irmãos lendo. Numa ocasião seu pai contratou uma professora para morar na casa dele e ensinar às crianças. Depois o menino tentou morar em Francisco Sá na casa de um parente, mas não deu certo. Acabou mudando-se, aos nove anos de idade para a casa de Viló Brantes, o patrão do seu pai, para estudar em Montes Claros. Foi um choque cultural, pois usou sapatos pela primeira vez aos seis anos, e conheceu vaso sanitário nessa mudança. Ajudava na casa e estudava. Aos 13 anos foi trabalhar numa mercearia, ocasião em que fez concurso para estagiário do Banco do Brasil e passou, mas perdeu o prazo para começar o estágio.
Atribui seu bom caráter à família e ao modo de criar do seu pai, que basicamente lhe orientou em três coisas: buscar a educação, trabalhar e ser honesto, e no lar para onde se mudou, encontrou os
mesmos princípios. Aos 19 anos, fez uma prova de texto para repórter em O Jornal de Montes Claros. Foi avaliado nas questões ortográficas, gramaticais, pontuação, noções de jornalismo, visão, senso de oportunidade e sentimentos. Foi aprovado, pois acharam que tinha jeito para a profissão. No início teve a ajuda do jornalista Waldir de Sena Batista. Mostrou propensão para conquistar prêmios desde o começo, especialmente quando trilhava os caminhos do jornalismo investigativo, que dá ao leitor uma reportagem exclusiva. Por exemplo, foi quem primeiro entrevistou em Brasília de Minas a mãe do serial killer Marcos Trigueiro, maníaco que estuprou e matou cinco mulheres na região de Contagem (2010).
Trabalha há 23 anos em dois grandes jornais dos Diários Associados, Estado de Minas e Correio Brasiliense. Explica que “a Imprensa é um meio muito competitivo, sendo excludente para quem não tem competência, assim, o diploma passa a ser irrelevante”. Em contrapartida considera tal diploma uma necessidade para organizar o mercado jornalístico. Entende que “é preciso ter uma formação, e
quem sabe, ser submetido a um teste de proficiência”. O diploma seria esse teste. É necessário que seja dado um atestado de que a pessoa sabe escrever, porque não se pode jogar no escuro. Não dispensaria o aprendizado formal por ser uma das maneiras de se aprender. E completa: “Este terá maior valor quando o ensino for de boa qualidade, e o mercado escolhe através dessa qualidade”.
Com a internet, qualquer pessoa pode divulgar notícias, algumas vezes não confiáveis. Para Luiz Ribeiro, a pressa em busca do furo faz com que não se apure devidamente, então entra em cena a
responsabilidade do bom Jornalismo cujo repórter checa os dados e ouve os dois lados. O resultado confiável gera segurança no leitor que compra credibilidade.
As premiações foram estabelecidas para melhorar o Jornalismo, valorizando e incentivando a competência e a criação. No caso da imprensa, um setor forte desde o tempo da Abolição dos Escravos, diversos prêmios surgiram, sendo que o Prêmio Esso, o coração desta atividade, começou em 1955. É o maior prêmio do Jornalismo nacional, assim considerado devido à altíssima concorrência. É possível, por essa premiação, se medir o que de melhor se fez no ano em termos
jornalísticos, sejam os fatos, as investigações, as apurações e as inovações. Luiz Ribeiro diz: “já tinha ganhado dois Prêmios Esso, uma espécie de Oscar do Jornalismo Nacional, anteriormente, e agora em 2014 tive dupla indicação e, felizmente, venci as duas”.
Em cada ano são inscritos cerca de 1500 trabalhos, todos excelentes e com chances de vitória. Nos últimos anos Luiz Ribeiro teve seis indicações para o Prêmio Esso, das quais três foram em 2012. Não ganhou, mas teve a sorte de figurar entre os finalistas, que englobam de 15 a 20 trabalhos. O jornalista afirma que “entre os profissionais não se cultiva ciúmes em relação aos resultados, pois a comissão julgadora é criteriosa, capaz e desvinculada de qualquer meio de comunicação, fato indispensável para dar legitimidade à disputa”.
Luiz Ribeiro ganhou 44 prêmios no total, sendo quatro Prêmios Esso. Cada um deles tem seu critério e um peso na contagem de pontos. Segundo o jornalista, costuma exigir de si mesmo estar permanentemente bem informado e sintonizado para produzir mais e melhor. Não sabe se ganha prêmios devido à boa sorte ou ao acaso. Mas fala: “Afinal, deduzo que se trata do resultado de muito esforço, trabalho intenso e grande dedicação, porque quando sou estimulado internamente, faço tudo de maneira nova e diferente”. Assim, uma idéia simples poderá gerar uma boa reportagem, quando a abordagemé diferenciada. O jornalista ganha o prêmio, mas ganham também a cidade, a região e as pessoas, porque o fato chama a atenção de todos.
Em 1994, o Plano Real e sua URV - Unidade Real de Valor -, que tinha sua graduação alterada dia após dia, foi difícil para o entendimento da população. O valor ia mudando até se igualar no 1 para 1, em 1º de julho, quando foi de fato lançado o Real. Para registrar como o povo estava recebendo o novo dinheiro, fez uma matéria em Itacambira, no lendário “Caminho das Esmeraldas”. Pela característica geográfica de estar ao pé de uma serra, e de ser um final de linha, a localidade ficou parada no tempo. Eram quatro mil habitantes e apenas 500 pessoas na sede, onde prevalecia a pobreza, a ignorância e o desconhecimento. Entrevistou os moradores para saber o que sabiam e o que os surpreendia na nova moeda. Vinte anos depois fez nova matéria sobre as duas décadas do Real. Encontrou a reportagem anterior e procurou pelas mesmas pessoas. Concorreu na categoria Economia Nacional, Vinte Anos de Plano Real e venceu.
Em 2001 fez uma matéria denunciando privilégios de políticos no Estado de Minas, chamando a atenção para os altos salários dos deputados mineiros. Em 2007 foi a vez da Sangria na Saúde. O desvio de verbas seria a causa das filas. Um dos palcos do fato foi um pequeno município do Distrito Federal, que apresentava documentação falsificada de intervenções na saúde, as quais não tinham acontecido.
Em 2012 e 2013 fez a matéria “Sertão grande”, que reconstituiu os caminhos de Riobaldo e Diadorim em “Grande sertão: veredas”, que tem o norte de Minas como o ambiente de um dos livros mais importantes da Literatura Mundial. “Temos costumes, jeito específico e uma maneira de lidar com as coisas, culinária tradicional, coisas únicas e nossas. Isso é Patrimônio Cultural”, explica Ribeiro. Com esta matéria foi finalista do Prêmio Esso, ficando com menção honrosa. Sentiu-se como se contasse sua própria história, pelo grau de domínio do tema. Isso faz diferença para quem escreve. E para quem lê.
Uma matéria de 2013 acompanhou o processo de seca. Os rios perenes tornaram-se intermitentes, os intermitentes secaram de vez, e as nascentes desapareceram. A região oeste do estado também secou, ocorrendo uma ampliação, e definindo-se uma nova fronteira para a seca. Na região norte a ameaça de desertificação ficou mais iminente. Isso foi antes da falta d’água chegar à região sudeste, e serviu de alerta aos governantes e à população sobre a redução de água disponível. Em
Minas, dezenas de cidades entraram na lista do desabastecimento deágua. No período avaliado, a seca deixou de ser um problema local para se tornar algo bem maior. Aconteceu uma espécie de premonição em cima de dados concretos, dando visibilidade ao problema com ligeira antecedência.
Anteriormente fez uma matéria denominada “Ilhados do Mundo, no século XXI”, enfocando o desconhecimento das inovações, da tecnologia, da luz elétrica e até mesmo das mudanças na linguagem de pessoas que residiam nas ilhas do Rio São Francisco. São testemunhas da degradação do rio, e afirmaram nunca ter visto a situação tão crítica. O Rio da Integração Nacional vem sendo destruído ao longo da história. Tudo começa na nascente. A água vai se juntando, o leito vai tomando força à medida que mais água vem de afluentes menores que vão formando os maiores, que são os tributários. “É como se o rio fosse um coração que precisasse de sangue para não parar de bater. Afinal, é um grande ser vivo. Salvá-lo envolve uma série de altos empreendimentos. Não é possível que ações simples revertam a situação. A volta das águas é a resolução de uma parte do problema”, afirma o jornalista. O assoreamento com o leito raso dá a impressão de “cheia”, que é falsa.
É questionado sobre como consegue ganhar um importante prêmio nacional morando em Montes Claros. Justifica, explicando que faz um jornalismo amplo, compromissado, aprofundando, verdadeiro,
para contribuir com a sociedade. Não faz uma matéria para prêmio, mas faz uma reportagem de interesse público, não imaginando que esteja fazendo jornalismo com outro objetivo. Sendo assim não engessa a profissão. Sabe apenas que precisa ter a matéria pronta. Quando o material tem qualidade, o próprio jornal pode inscrevê-lo para o prêmio, especialmente quando há repercussão. É preciso que a abordagem tenha algo absolutamente novo.
Para Luiz Ribeiro, em geral, o leitor vê na TV e amplia sua informação no jornal impresso, pois este aprofunda e analisa, mantendo a tradição de maior confiança e respeito pela informação. Assim, contrariando os prognósticos, o formato papel vai continuar, mas o jornal também poderá ser lido no formato virtual. Trabalha ainda em dois jornais virtuais, suas versões e atualizações, nos quais procura satisfazer a todos os tipos de leitores.
O premiado jornalista acredita que “o bom jornalismo é um exercício diário de aprendizado. É preciso me reciclar a cada momento e ter humildade para aprender sempre”. E ainda: “o jornalista não prende e nem julga, não é delegado e nem juiz. Busco apurar com provas materiais e testemunhais, porém, mesmo falando com mais de uma fonte, eu não sei onde está a verdade. A função é informar, sem exercer o papel de investigador ou de polícia. Deixar cada autoridade, inclusive o Ministério Público, cumprir o seu papel. Acabo sendo porta-voz de quem não a tem, e que muitas vezes também não tem acesso a informação”.
Depois de todos esses anos no Correio Brasiliense e no Estado de Minas, pretende continuar produzindo matérias jornalísticas e depois quer se dedicar à Literatura, escrevendo livros. Publicou “Corposà venda” (2001) onde denuncia a prostituição infantil em Montes Claros, com enorme repercussão. “Violência contra a mulher: sobrevivência aos tiros”, no qual a esposa leva seis tiros na cabeça disparados pelo marido e não morre e “Nos rastros do carvão”, sobre a atividade carvoeira, ambos em fase de finalização, deverão ser publicados.
A informação é uma mercadoria que as pessoas preferem consumir sem riscos. Para Luiz Ribeiro, a existência do Facebook e outras redes sociais aumentaram a responsabilidade de quem faz o bom jornalismo, exigindo mais qualidade no fazer, com aprofundamento, detalhamento, imparcialidade, e com essas características garantir a credibilidade. O consumidor de informação percebe o padrão do que está recebendo. A elaboração zelosa de um trabalho, feito com esforço e isenção levará a uma maior fidelização do leitor, que volta a procurar o mesmo veículo.
Sua mãe Agripina Ribeiro dos Santos está bem de saúde, e mora num sítio com o filho mais moço. Viúva desde 1989, está feliz onde vive. Luiz Ribeiro tem quatro irmãos em Montes Claros e um em Belo Horizonte. Tem como hobby o futebol, que pratica na AABB - Associação Atlética Banco do Brasil -, para se entreter e interagir. Tem um casal de filhos adolescentes e valoriza bastante a família, assim como ter paz, saúde, ser honesto e a parte espiritual. Vai à missa, reza, agradece pela luta, pela vitória, pede inspiração e ajuda, principalmente para ser bem acolhido, mas também para ter seu trabalho reconhecido. Sua esposa, Cida Santana, também jornalista e especialista em esporte, faz parte de todas as suas conquistas.
Devido à exigência para que o jornalista viva no eixo Rio/ Brasília, morar em Montes Claros, fato questionado pelos colegas, foi uma vitória. Isso acontece porque está ligado aos fatos, e estando inserido no contexto, tem resultado favorável, não fazendo diferença produzir aqui e publicar lá.
“Para relacionar-se com políticos, o exercício do jornalismo exige extirpar-se as idiossincrasias, paixões, resistências, devoções e apegos. É preciso pensar nos fatos como eles são. As pessoas não pensam assim e os jornais estão contaminados politicamente e as pessoas também”, reflete Luiz Ribeiro. Não tem inimigos, reflexo de exercer a profissão, em princípio, de forma isenta, para prestar um bom serviço à coletividade. Faz matérias com denúncias, mas não se excede, procurando ouvir os opostos, numa posição de repórter apenas. Mantém a auto-estima em alta, trabalhando com vontade de vencer, fazendo bem feito e superando-se a cada desafio. “É preciso ter ambição de ser
a cada dia melhor, porém agindo com fé, honestidade e sem passar por cima de ninguém”. Assim é Luiz Ribeiro.
30 de novembro 2014
Lázaro Francisco Sena
Cadeira N. 55
Patrono: João Luiz de Almeida
CORONEL PM
JOSÉ COELHO DE LIMA
Existem pessoas que, pelo seu temperamento e personalidade, são capazes de desempenhar trabalhos de relevante alcance social, todavia sem o merecido reconhecimento popular, por serem avessas a promoções pessoais e badalações. É o caso do coronel da Polícia Militar, José Coelho de Lima, que comandou o 10º Batalhão no período de 11-04-1965 a 11-07-1968. Em Montes Claros, entre os seus pares, foi mais conhecido por Coelhinho, pois aqui, antes dele, destacou-se a figura de seu homônimo, também da Polícia Militar, o coronel José Coelho de Araújo, sobre quem, numa outra oportunidade, pretendemos registrar um modesto perfil histórico.
José Coelho de Lima era natural de Piraúba-MG, onde nasceu em 15 de fevereiro de 1926, filho do soldado da Polícia Militar Sebastião Coelho de Oliveira e da costureira Editha Pires de Lima. Em 27 de janeiro de 1949, casou-se com Maria Duque de Lima, tendo o casal gerado oito filhos: Maria Luíza, Roberto, Marília, Márcia, Ricardo, Ronaldo, Magda e Rômulo, acrescendo ainda Luiz Henrique, como filho adotivo. Seu falecimento ocorreu em 28 de
José Coelho de Lima (Coelhinho) e José Coelho de Araújo (Coelhão).
Foto do arquivo da Polícia Militar.
agosto de 1974, aos 48 anos de idade, na cidade de Janaúba, onde exercia o cargo de delegado especial de polícia, vitimado por uma parada cardíaca, pouco tempo depois de ser transferido para o quadro de oficiais da reserva, no posto de coronel.
José Coelho de Lima, jovem policial-militar do 2º Batalhão.
Foto do arquivo da família.
A vida de José Coelho de Lima na Polícia Militar teve início em 1943, quando “assentou praça” no 2º Batalhão em Juiz de Fora, aos dezessete anos de idade. Fez carreira na profissão, graduando-se primeiro nos cursos de cabo e sargento. Nessa condição, matriculouse no curso de formação de oficiais em 1947, integrando a turma de aspirantes de 1949. Em 1961, já no posto de capitão, veio transferido para o 10º Batalhão em Montes Claros, onde inicialmente exerceu as funções de fiscal administrativo, sob o comando do então tenente-coronel Georgino Jorge de Souza. Aos poucos, e de forma consistente, foi conquistando a confiança de seu comandante, principalmente no grande desafio de então, a construção do quartel da Unidade. Ainda, como capitão, exerceu a função de subcomandante do Batalhão, sendo promovido a major durante o movimento cívico-militar de 1964,
em abril daquele ano, quando a Unidade se encontrava em missão operacional na cidade de Brasília-DF. Com a transferência do coronel Georgino para o quadro de oficiais da reserva em abril de 1965, o então major José Coelho de Lima assumiu oficialmente o comando do Batalhão, sendo promovido a tenente-coronel logo depois, permanecendo nesse cargo até 11 de julho de 1968, quando completou 1.188 dias, período, até agora, menor apenas do que o do próprio coronel Georgino, que durou 1.212 dias de exercício. A saída do tenente-coronel José Coelho do comando do 10º Batalhão, embora tenha-se revestido de todos os aspectos legais e regulamentares, foi motivada por discordância do comando geral quanto à forma como ele conduzia os trabalhos da Unidade. Em 03 de outubro de 1964, foi inaugurado o quartel do 10º Batalhão no bairro Cintra, em Montes Claros, com as suas instalações básicas para a época, tais como: pavilhão do comando e estado maior, corpo da guarda, aprovisionadoria e refeitório, almoxarifado, sala da banda de música, cantina, sala de comunicações, salas de administração e intendência de quatro companhias, alojamento de praças, apartamentos de oficiais e serviço de subsistência. Era o essencial, mas faltava o circunstancial. O comando do coronel Georgino praticamente se encerrou com a inauguração do quartel, cabendo ao então major José Coelho, como seu subcomandante e sucessor, realizar as obras complementares, dentre elas as instalações de assistência à saúde, a praça de esportes e o Colégio Tiradentes. Para o comando da Polícia Militar em Belo Horizonte, a obra estava completa. Mas, para o comando local, muito ainda havia de ser feito. Como não houvesse recursos financeiros oficiais, o novo comandante acionou os meios próprios da Unidade, contando com o apoio da comunidade local. Face ao sucesso da iniciativa, não faltaram as falsas denúncias sobre possíveis irregularidades que estariam sendo praticadas com os recursos arrecadados, razão suficiente, segundo entendimento do comandante geral, para substituir o comandante do 10º Batalhão.
Nos últimos anos no exercício do comando, iniciou o curso de Direito na antiga FADIR, hoje integrante da UNIMONTES, para concluí-lo depois de ser colocado em disponibilidade, já no cargo de
coronel. Seu comportamento, ponderado mas obstinado, fazia acreditar no início de uma nova carreira na área jurídica, expectativa todavia frustrada pela sua morte prematura. Para perenizar a sua memória, temos conhecimento da existência de uma rua em Betim-MG com o seu nome, onde reside o seu filho Ronaldo. Também a União do Militares de Minas Gerais, através de seu Núcleo em Montes Claros, vem de prestar-lhe significativa homenagem, ao criar e instalar uma biblioteca em sua sede, inaugurada em 03-06-2015, com a presença da esposa viúva, Da. Maria Duque de Lima, acompanhada de sua filha Márcia, que em momento algum se cansou de nos assessorar e fornecer subsídios para elaboração deste artigo informativo.
Major José Coelho de Lima, no comando do 10º Batalhão.
Foto do arquivo da família.
No período de comando do coronel José Coelho, a Polícia Militar experimentou grande mudança quanto à sua missão e finalidade. O que era uma corporação “guerreira”, participante ativa em todos os conflitos internos da formação de um país, e até na sangrenta guerra contra o vizinho Paraguai, teria de assumir novo papel no complexo das forças de manutenção da ordem democrática. É sempre oportuno destacar que essa mesma Corporação, antes da Revolução de 31 de Março de 1964, tinha características essencialmente militares, embora exercesse as mais variadas funções de policiamento, através dos destacamentos policiais. Ao contrário do que apregoam os arautos da esquerda comunista, foi o governo revolucionário quem estabeleceu e solidificou o embasamento legal das Polícias Militares do Brasil, atribuindo-lhes funções de natureza policial e competência exclusiva do policiamento ostensivo, sem, todavia, retirar-lhes os pilares da hierarquia e da disciplina militares. Era preciso adaptar-se às novas exigências da profissão. Nesse contexto, vamos destacar a figura do coronel José Coelho de Lima, analisando algumas de suas características mais notáveis.
EQUILÍBRIO
Como subcomandante do temperamental coronel Georgino, ou mesmo como fiscal administrativo, situação em que coordenava todas as atividades da administração, José Coelho era o ponto de equilíbrio do comando, de modo especial durante os dois anos em que todos os recursos do Batalhão estavam direcionados para a construção do quartel. Conduzia e liderava o grupo de oficiais, formando uma equipe coesa, para melhor rendimento do trabalho. Nesse aspecto, já preparava e conhecia bem as peças para montagem do seu próprio comando. Dentre outros episódios que bem demonstraram o seu equilíbrio funcional, destaque para o caso “Saluzinho”, oportunidade em que um aparente simples lavrador, alegando perseguição por parte de suposto “grileiro” de terras, feriu gravemente, a tiros de revólver e “cartucheira”, dois integrantes do Batalhão empenhados em ação policial legítima. O cerco e a captura do agressor, em local ermo e afastado de qualquer núcleo urbano, requereram esforço ingente, sem que ele sofresse um simples arranhão e assim fosse colocado à disposição da justiça, tudo isso no final de 1967, período classificado como “anos de chumbo da ditadura militar” pela mídia comunista ainda em atividade.
HUMILDADE
A disciplina militar mais se afeiçoa à conscientização do que ao despotismo e à arrogância. José Coelho nasceu em berço humilde e assim cresceu, bem ao modo de seu temperamento. Mesmo conquistando todos os degraus da carreira policial-militar, não se tem notícia
O andar térreo era a casa construída pelo coronel Coelho, para sua residência, na avenida Deputado Plínio Ribeiro, a cem metros do Batalhão.
Foto de Rogério Othon.
de qualquer excesso de rigor no trato com os seus subordinados. A própria constituição de sua família, com uma prole de oito filhos legítimos e mais um por adoção, denota características de humildade em seu modo de viver. Um fato marcante para a sua personalidade foi a construção de sua casa própria. Sendo ele já comandante, numa época em que todos demandavam o centro da cidade ou os bairros mais desenvolvidos, para adquirir “status” social, optou por construir perto do quartel, onde ainda não havia qualquer serviço de infra-estrutura, mas de onde viria a pé para o trabalho e poderia ser encontrado com rapidez, em caso de necessidade. Tal casa, vendida pelos herdeiros após seu falecimento, era apenas o andar térreo de um pequeno prédio construído na parte superior, que hoje se encontra desocupado.
O DESPORTISTA
José Coelho era um desportista nato, destacando-se entre os seus pares na Polícia Militar, não só nos tempos de academia, mas também como oficial. Nessa condição, vamos encontrá-lo como integrante das equipes de basquete e futsal, dos oficiais do 10º Batalhão, quando ele era o comandante da Unidade. E como amante do esporte empreendeu grande esforço para construção do campo de futebol no novo quartel e para o ressurgimento da Associação Desportiva Tiradentes, equipe que participava do campeonato amador da cidade, quando essa categoria mobilizava toda a população montes-clarense. Mas o destaque nesse setor foi o projeto de construção da praça de esportes do Batalhão, em cuja planta constava inclusive uma piscina olímpica, a primeira que seria construída na cidade. Como não havia recursos oficiais para aquele empreendimento, optou-se pela busca de recursos próprios, dentre eles o sorteio de um automóvel “fusca”, com a necessária autorização da receita federal. Com esse recurso, visava-se também à construção do Colégio Tiradentes. Ao ser substituído no comando, deixou o trabalho de fundação da piscina em andamento, com toda a ferragem adquirida. Também estava no ponto de laje, com o escoramento montado, o prédio do Colégio Tiradentes. Do projeto da praça de esportes, nada se aproveitou. Do Colégio, foram aproveitados os alicerces, vinte e um anos depois, para edificação das atuais instalações.
Comandante José Coelho, na equipe de futsal dos oficiais do 10º Batalhão.
Foto do arquivo do autor
Comandante José Coelho, na equipe de basquete dos oficiais do 10º Batalhão.
Foto do arquivo do autor.
O EDUCADOR
Bem mais do que um comandante militar, o coronel José Coelho de Lima foi um grande educador. E a criação do Colégio Tiradentes em Montes Claros foi a sua melhor oportunidade. No primeiro ano de funcionamento do educandário, em 1964, foi ele professor de Matemática. Como comandante, era ele também o diretor do Colégio, a que dedicava tratamento especial, tendo concebido a construção da sede própria, em terreno anexo ao Batalhão, para fugir da insalubridade e impropriedade das instalações no centro da cidade. Só não concluiu a construção porque foi substituído inopinadamente no comando da Unidade. Com o Colégio Tiradentes, eram comemoradas as datas cívicas em praça pública, contando com a participação dos demais estabelecimentos de ensino da cidade.
José Coelho de Lima, diretor do Colégio Tiradentes, na formatura da primeira
turma de “ginasianos”, em 1967, entre o coronel Argentino Madeira,
fundador do Colégio Tiradentes em Belo Horizonte, e o coronel
Manoel Doro Pereira, diretor de finanças da Polícia Militar.
Foto do arquivo da família.
Coronel José Coelho como diretor do Colégio Tiradentes, em solenidade cívica com
representação de todos os colégios de Montes Claros, na praça Coronel Ribeiro.
(foto do arquivo do autor)
ASSISTENTE SOCIAL
Conhecendo as dificuldades e privações sofridas pelo policialmilitar e sua família, numa época de salários minguados e atrasados, o comandante José Coelho foi destaque na prestação de serviços de assistência social aos integrantes do Batalhão e seus familiares, de modo especial os mais carentes. Dinamizou o serviço de subsistência, facilitando a aquisição de gêneros de primeira necessidade pelos policiaismilitares. Construiu, com recursos próprios do Batalhão, as dependências
para o incipiente serviço de saúde, constando de consultório médico, gabinete dentário, ambulatório, sala de espera e enfermarias. Buscou despertar a auto-estima da família policial-militar, através de reuniões de congraçamento e promoção de eventos festivos em datas especiais. Tudo isso e muitas outras ações serviram como treinamento para o grande teste do Batalhão em trabalho de assistência e socorro comunitário, quando toda a população do Norte de Minas foi atingida pelas enchentes provocadas pelas fortes chuvas do final de 1967 e início de 1968. Em todos os momentos e lugares daquela adversidade, lá estava, presente e atuante, o modesto comandante José Coelho de Lima.
Leonardo Álvares da Silva Campos
Cadeira N. 97
Patrono: Urbino Vianna
Miguel Domingues,
fundador de Montes Claros
Não existe uma bibliografia contundente sobre a fundação da cidade de Montes Claros, e pretender o contrário seria como uma agressão ao estado ainda relativamente bruto de tempo e espaço. É que, nos idos de 1700, embrenhar-se pelos sertões, de fauna e flora exuberantes, porém perigosas porque traiçoeiras, e grupos indígenas empregando primitivos artefatos líticos, além de lanças, arcos e flechas, pululando aqui, ali e acolá, entre eles muitos praticantes da barbárie do canibalismo, somando-se a tudo doenças tipicamente sazonais, mormente a malária, era, grosso modo, uma temeridade.
Morar nas ditas plagas virginalmente incultas, então, equivaleria a um quase desterro, ou uma brincadeira de roleta russa. O meio, inteiramente hostil, quando muito, não passava de um convite a aventureiros menos bafejados da sorte, em sua faina por riquezas no garimpo desconhecido por falta absoluta de levantamentos geológicos específicos no pormenor, o que não poderia ser diferente em se tratando de um território lembrando tão somente uma transição da pré-história para o amanhecer de tempos primevos das civilizações.
Contudo, um exame acurado na precaríssima literatura relativa ao povoamento interiorano brasileiro possibilita levantar luzes de vela naqueles tempos praticamente soterrados pelo passado, permitindo o resgate de uma parcela, ainda que mínima, da nossa memória histórica. Vejamos o que é possível concluir desta colcha de retalhos.
Um livro pouco conhecido, mercê das edições limitadas de tempos outros e sua quase nula penetração interiorana, O Ouro das Gerais e a Civilização da Capitania, de autoria do escritor mineiro João Dornas Filho, traz colocações contra as quais se posicionou de forma contrária e contundente o historiador paulista Mário Leite, engenheiro fiscal, em sua obra, de 1961, Paulistas e Mineiros, Plantadores de Cidades, quando, em certo momento aponta não um, mas dois fundadores para Montes Claros, a antiga Formigas: o sertanista paulista Antônio Gonçalves Figueira, filho de Manuel Afonso Gaia e Maria Gonçalves Figueira, expulso da bandeira de Fernão Dias Paes por atos de covardia como preador de índios, após companheiro fiel do também sertanista Matias Cardoso, e o garimpeiro, também paulista, capitão Miguel Domingues, citado equivocadamente por alguns
historiadores como de sobrenome Domingos.
Registrou João Dornas Filho: “Ao contrário do paulista, o mineiroé sedentário e monossilábico por fatalidade moral. A diferenciação tão profunda entre os dois caracteres vem de que, bem antes de iniciar-se o silencioso trabalho da miscigenação, o elemento paulista, que predominava em Minas, emigrou para Goiás e Cuiabá ou regressou a São Paulo em virtude do conflito dos Emboabas. Isto é que explica a diminuta influência da genealogia paulista em Minas Gerais.”
Rebatendo o mineiro, Mário Leite asseverou: “O paulista nas dobradas da Mantiqueira fica um autêntico mineiro, enquanto o mineiro nas chãs da terra roxa, nos sítios propícios do solo bandeirante, porfiando em avançadas iniciativas, torna-se um verdadeiro paulista.” Acrescentou: “Não é certo, também, que a influência genealógica paulista em Minas seja diminuta, como quer o autor citado. Do pequeno número de paulistas que volveram para Piratininga, do chamado conflito dos Emboabas, muitos voltaram para Minas.”
O paulista, ainda desenvolvendo seus argumentos contrários aos do seu colega historiador, afirma categoricamente que a bandeira do paulista Fernão Dias Paes, antes, esteve nos sertões do atual setentrião mineiro, tratando, após, da origem de Montes Claros: “A desenvolvida e aprazível localidade do norte tem a sua origem ligada a atuação dos sertanistas Miguel Domingues, que deixara as suas lavras de Ouro Preto, e Antônio Gonçalves Figueira, que abriu um caminho, nessas paragens, desde o ribeirão dos Vieiras até o rio S. Francisco.”
Na Galeria dos paulistas, pioneiros pioneiros da civilização de Minas Gerais, a partir da página 158, Mário Leite cita Miguel Domingues como um dos personagens importantes no pormenor.
Continua o autor de Paulistas e Mineiros: Plantadores de Cidades:“Nessa região distante, antes batida pelos componentes da bandeira de Fernão Dias e aonde chegaram, depois, esses paulistas esgarrados da região central, não se podem apagar os extraordinários feitos desse deambular pelos sertões, que não impedia alguns de continuarem a prestar fidelidade ao rei distante mas que, para outros, num insopitável antagonismo, teria sido o efeito do desejo de serem livres, longe dos éditos, dos bandos, alvarás e cartas régias, escorchantes, e que assim ficavam, no sertão, constituindo-se em cepas do povo mineiro, que, na sua contextura, tem muito do mameluco de São Paulo. Sobre aqueles que buscavam as paragens não devassadas, tangidos pela aversão ao dominador, dizem bem as palavras do governador Antônio Pais de Sande, referindo-se aos paulistas daquele tempo, ‘pois até aquele cuja muita pobreza não lhe permite ter quem o sirva, se sujeita a andar muitos anos pelo sertão em busca de quem o sirva do que servir a outrem um só dia’.” (A parte referente a Montes Claros figura na página 138 do livro. As palavras de Antônio Pais de Sande, transcritas por Mário Leite, estão registradas na História da Civilização Paulista, de Aureliano Leite).
Suplantadas as contendas de influências genealógicas dos autores antes tratados, passemos a examinar outras obras contendo registros históricos acerca da origem de Montes Claros, como o Annuario de Minas e a Monographia Historica, Geographica e Descriptiva de Montes Claros, de Urbino de Souza Vianna, cujo ano de publicação não é informado em sua edição, mas que recebeu autorização da Câmara Municipal de Montes Claros para parecer e aquisição de até cem exemplares pela Lei nº 268, de 3 de outubro de 1915, conforme exemplar que temos (ou seja, aproximadamente a mesma época da publicação doAnnuario de Minas).
O Annuario de Minas, ao discorrer sobre a fundação do povoado que, tempos depois, redundou na atual cidade de Montes Claros, tudo embasado em pesquisas do professor Floriano Lopes de Oliveira, assevera: “Embora não existam dados exatos da fundação desta cidade, presume-se ter sido fundada no século dezoito. Das povoações auríferas das vizinhanças de Itacambira, pelo meado do ano de 1707, alguns mineiros, tendo sido expulsos da dita serra, por contendas entre companheiros, acompanharam o sertanejo Miguel Domingos, e vieram estabelecer-se nestas paragens, próximo à fazenda de Montes Claros, a qual deu nome à povoação em seguida fundada. Depois de algumas habitações ali erigidas, o proprietário da fazenda, Alferes José Lopes de Carvalho, pediu permissão para construir uma capela sob a invocação de N. Senhora da Conceição, sendo-lhe concedida tal permissão.”
Urbino Vianna dá notícia, em sua monografia, dos primeiros povoadores transcrevendo o que registrou a respeito o desembargador Antônio Augusto Velloso, em sua história e geografia deste município, com veiculação no terceiro fascículo, julho a setembro de 1897, da Revista do Archivo Publico Mineiro: “Da substanciosa monografia escrita sobre a história e geografia deste município pelo ilustríssimo sr. dr. A. Augusto Velloso, e publicada no 3º fascículo, ano II, da Revista do Archivo Publico Mineiro, extraímos o seguinte: ‘não existem dados exatos pelos quais se possa precisar a época em que para este lugar vieram os primeiros povoadores, pela maior parte oriundos do vizinho povoado de Itacambira’, apresentando a ideia de que ‘esse fato se dera depois do ano de 1707 quando, das minas de ouro daquele sítio, foram expulsos os companheiros do sertanista Miguel Domingos pelos que eles apelidaram de Papudos’.”
No mesmo diapasão, o Dicionário Geográfico, Histórico e Descritivo do Império do Brasil, de Milliet de Saint-Adophe, de 1845, noticia a presença do capitão Miguel Domingues e seus seguidores garimpando em Itacambira, de onde acabaram expulsos por mineradores oriundos da Bahia, os quais ficaram conhecidos por “papudos”. E, expulsos, “os paulistas foram aportar nos arredores da fazenda outrora pertencente a Figueira e agora do Alferes José Lopes de Carvalho, dando-se, aí então, a origem do povoado de São José das Formigas (hoje, Montes Claros)”, segundo o escritor Dário Teixeira Cotrim (Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, volume XIII, 2º semestre de 2014, pág. 84), frisando Diogo de Vasconcelos:“Desta sorte foi que alguns daqueles valentes exploradores, atravessando o Rio Verde e a extensão de terras então inabitadas, vieram ter casualmente À Fazenda de Montes Claros.”
Revela mais o historiador Urbino Vianna,buscando enfim sustentar seu frágil argumento de que a Antônio Gonçalves Figueira cabe a“precedência” de estar no lugar antes dos demais que o sucederam, haja vista que a história não guardou o nome de Miguel Domingues e do seu séquito: “Aceitamos a presunção de que esses indivíduos viessem aumentar o número dos colonizadores, constituindo mesmo agrupamentos mais densos, origem dos povoados que, depois, se formaram. Desde que ficou conhecida a parte saliente tomada por Antônio Gonçalves Figueira no povoamento deste trecho de território conhecido por cabeceiras do Rio Verde, cabe-lhe, de direito, a honra da precedência...”.
E pela razão seguinte, ainda nas deduções de Urbino Vianna:“Tivessem sido ‘os paulistas da Bandeira vencida’, os primeiros povoadores regulares, pouco importa, a história não lhes guardou os nomes e se perderam no anonimato, vítimas, talvez, mais das trevas que obscureceriam o tempo em que viveram, de que mesmo do esquecimento ingrato dos contemporâneos. Em derredor dos nomes que aí ficam, move-se o povoamento da zona que estudamos – povoamento que se escudava na exploração agrícola e pastoril do solo, ‘fator principal e causa direta’ no trabalho bendito da civilização.”
Ora, com efeito, Antônio Gonçalves Figueira obtivera uma sesmaria de uma légua de largo e três de comprimento, por Alvará de 12 de abril de 1707, mas sob a condição de não alhear terras, entre outras obrigações, ou seja, não poderia alienar o que recebera, o que Urbino Vianna não nega: “Antônio Gonçalves Figueira obteve por Alvará de 12 de abril de 1707 uma sesmaria de uma légua de quarto e três de comprimento, sob as condições do FORAL, não podendo alhear terras, de não se apoderar das aldeias e terras indígenas, etc.” Ditas obrigações eram extensivas ao seu sucessor na fazenda, o alferes José Lopes de Carvalho, do que se depreende que este também estava impedido de permitir o assentamento no lugar dos paulistas derrotados por baianos na chamada “guerra dos papudos”, Miguel Domingues e seus homens.
Para melhor nos situarmos, nas terras do primitivo povoado de Itacambira se deu o desairoso conflito. O sertanista paulista e seus homens garimpavam naquele lugar procurando principalmente ouro e diamantes, nos idos de 1689, vendo-se de repente atacados por baianos e expulsos de lá. Segundo Diogo de Vasconcelos (História Média de Minas Gerais, Ed. Itatiaia, Belo Horizonte, 4ª. ed., pág. 51), os paulistas “foram assaltados por um bando de mestiços denominados papudos, semibárbaros, provenientes do Rio das Contas, e por estes intimados a darem de mão os serviços, sob pretexto de ser aquele distrito pertencente à Bahia, e não aos paulistas.”
Diogo de Vasconcelos (ob. cit.) esclarece a presença de Domingues nas aluviões auríferas de Itacambira: “Efetivamente, no mesmo ano justo em que se descobriu o Ouro Preto, 1698, o Capitão Miguel Domingues, aventureiro também paulista, atraído sem dúvida pelo sonho ainda quente das esmeraldas, enveredou-se no mesmo roteiro de Fernão Dias, foi ter à Serra da Itacambira, distrito famoso das tão procuradas riquezas. O arraial fundado por Fernão Dias, em guarda da misteriosa Vapabuçu, berço do fantástico tesouro, teria continuado no silêncio das brenhas se estes novos pioneiros não o despertassem de tão profundo letargo. Repisando córregos, revolvendo cascalhos, não lograram estes sertanistas por certo o seu objetivo, mas coisa igual, senão melhor, acharam nos fartos lençóis de ouro que a serra tinha depositado no álveo dos ribeiros e chão das florestas.” Eles lavraram em silêncio, acabando descobertos e expulsos pelos “papudos”.
“Aos expulsos – companheiros do sertanista Miguel Domingos–se aliaram alguns outros pesquisadores de metais preciosos, que, a esse tempo, em número avultado, cortavam o Sertão Alto, investindo contra os expulsadores, que se não deixaram vencer”, (...), “procurando muitos deles as vertentes do Rio Verde Grande e Pacuí, começando, assim, o povoamento de um modo regular e estável”, conforme Urbino Vianna, continuando, sempre em sua obra citada:
“Numa situação da Fazenda Tabua, de propriedade de Antônio Gonçalves Figueira, se constituiu um pequeno agrupamento de casas, à margem do córrego do mesmo nome, e que veio dar denominação ao pequeno arraial. Lentamente prosperou Tabua, vindo juntar-se-lhe Formigas, marginal ao rio Vieira, que mistura suas águas às dos Bois e Lagoinha, tomando a denominação de Canoas e vertente no rio Verde.”
“FORMIGAS se desenvolveu mui demoradamente, visto o Padre Theotônio Gomes de Azevedo ter procurado o ponto mais conveniente para localizar-se, e que foi à margem da estrada das Boiadas, junto a um Cruzeiro por ele erguido e que se tornou ponto cêntrico do povoado que se formava,sendo aí construídas as casas de residência do referido sacerdote e dos seus agregados.”
“Tudo parecia correr para que o arraial do CRUZEIRO se sobrelevasse aos demais, quando, no fim da primeira década do século
XIX (1809) ‘rebentou naquele lugar uma assombrosa epidemia de varíola que, grassando com intensidade, em pouco reduziu em menos da metade a população’ (informação do sr. major Antônio Prates sobrinho). O próprio Padre Theotônio, que era a alma da povoação, no cumprimento dos seus deveres sacerdotais, foi vítima do contágio e faleceu. Cruzeiro entrou em dissolução pela perda do seu sustentáculo.”
“A população desanimada, sem recursos para debelar a peste, se deixou invadir pelo terror: abandonou Cruzeiro e foi procurar FORMIGAS como refúgio. Era o arraial mais próximo e muito se adiantava, parecendo estar reservado ao seu futuro maior soma de prosperidades que aos outros, que pouco o nada se desenvolviam, máxime pela existência de uma capela ali erigida, sob a dupla invocação de Nossa Senhora e S. José. Esse nome proveio de enormes formigueiros existentes na circunvizinhança da povoação” – conclui Urbino Vianna.
Por outro lado, fechando as presentes colocações sobre a verdadeira origem da fundação de Montes Claros, pode-se indagar qual a relação entre os nascedouros desta cidade e a de Montalvânia. A resposta seria teoricamente pela inexistência de verossimilhanças, uma vez que a primeira surgiu no século XVIII e a segunda, no século XX, mais precisamente no ano de 1952.
Todavia, as histórias respectivas de ambas são idênticas, apesar do lapso temporal transcorrido. E é o que robustece a conclusão que evidencia a importância ímpar do capitão Miguel Domingues como figura de proa no nascedouro de um pequeno povoado que, afinal, se transformou na Montes Claros de hoje. As terras onde estão assentadas as duas cidades eram, preteritamente, desoladas fazendas. Antônio Gonçalves Figueira, o primeiroproprietário da Fazenda dos Montes Claros, abriu algumas estradas para facilitar o seu próprio comércio de gado, entretanto inexistia qualquer núcleo populacional em todo o lugar.
Já a Fazenda São João da Barra, situada na confluência dos rios Cochá e Poções, pertencia a José Soares de Oliveira e era servida por estradas bem melhores, utilizada para os mais variados meios de transporte, e não somente para escoamento de gado vacum. Também não existia povoação nenhuma na fazenda de José Soares de Oliveira, até que Antônio Lôpo Montalvão decidiu comprá-la em 1952, por cento e cinquenta mil cruzeiros.
Em 1707, a Fazenda dos Montes Claros já pertencia ao alferes José Lopes de Carvalho (Figueira, então, retornara para a sua família, em São Paulo, para nunca mais voltar). No mesmo ano, o capitão Miguel Domingues e seus comandados foram expulsos da mineração clandestina em Itacambira, pelos chamados “papudos”, vindo bater às portas da Fazenda dos Montes Claros.
Sem licença prévia, como os atuais grupos de sem-terra, fizeram suas posses, mesmo porque o velho comandante, derrotado pelos “papudos”, sem maiores alentos e esperanças e cansado da vida errante, decidiu ficar, criando com seus acompanhantes a primeira povoação, e brotando mais outras satélites, como enumerou Nelson Vianna.
Nos dias atuais moradores de sobrenome Domingues são registrados em Montes Claros, diga-se de passagem.
Não muito tempo depois, aquele conglomerado efervescente viria a receber o nome de Vila das Formigas, tendo o alferes José Lopes de Carvalho solicitado autorização para a construção de uma capela, sob a invocação de Nossa Senhora e São José, no que logrou êxito. Ele não tinha mais a fazer, dando-se por satisfeito, por certo, pela mão de obra barata que, inesperadamente, passou a ter à disposição para a sua prosperidade como fazendeiro. Depois de comprar a Fazenda São João da Barra de José Soares de Oliveira (este, um bisneto de índios), cuja propriedade tinha então724 alqueires, Antônio Lôpo Montalvão loteou dez alqueires e fez doações, abrindo em seguida serviços agrícolas para dar condições aos
novos moradores, isto é, os pioneiros. Surgia assim Montalvânia, que em 1962 era emancipada de Manga, formando um novo município.
A fundação de Montalvânia a partir de uma fazenda adquirida de terceiro é a base inquebrantável a alicerçar que, de forma semelhante, Miguel Domingues, ao ocupar a terra – como os atuais sem-terra, refrise-se – criou o primeiro povoado, o broto que se tornou a Montes Claros como a conhecemos. A persistirem argumentos contrários, não se admitindo Domingues como fundador de Montes Claros, vingaria a tese, que seria estapafúrdia, de que o criador de Montalvânia não foi
o Antônio Lôpo Montalvão, mas, sim, seu antecessor José Soares de Oliveira, o bisneto de índios.
Por sinal, em conversa conosco quando ainda vivo, eis que sempre nos encontrávamos em Montes Claros conversando sobremodo sobre sinalações rupestres em cavidades calcárias que pululam no município de Montalvânia, Antônio Montalvão procurou deixar claro que o nome que escolheu para o núcleo populacional que criou nada tinha a ver com vaidades pessoais, ou algo de narcisismo da sua parte:
“ – Esta questão de nome não foi vaidade da minha parte, não. Procurei apenas provar aos políticos de Manga que estavam contra mim, município do qual já fui prefeito, que eu tinha capacidade administrativa, inclusive para criar uma cidade!” (Jornal Diário de Montes Claros, Montes Claros, MG, 24 de outubro de 1978). Esta mesma linha de raciocínio embasa, por igual, a origem da cidade de Capitão Enéas (antiga Burarama), que passou a ter seu nome atual após a morte do seu fundador e ex-prefeito, Enéas Mineiro de Souza, natural de São João do Cariri, na Paraíba, mesmo existindo nativos por ali, em posses preexistentes.
Igual assertiva vale para Belo Horizonte, criada hodiernamente na antiga fazenda existente no lugar conhecido como Curral d’El-Rei,em detrimento, felizmente, da Barra do Guaicuí, Norte do Estado, que na ocasião também esteve cotada para tornar-se a nova capital mineira.
Diogo de Vasconcelos (ainda em sua obra citada, pág. 164), dá conta da presença de João Leite Ortiz, genro do bandeirante Bartolomeu Bueno da Silva, o famoso “Anhanguera”, por volta de 1715/16, no Curral d’El-Rei, o qual, nem por isto, é tido como fundador de Belo Horizonte.
Segundo o historiador, “Anhanguera” sempre se posicionou como inimigo dos reinóis, “e nenhuma parte quis tomar na conciliação promovida pelo Governador Albuquerque, acrescentando:“O que fez foi retirar-se, isolando-se nas terras que possuía entre o Paraopeba e o Pará, tendo como vizinhos Mateus Leme e o Borba Gato, seus compatriotas e parentes. Seus genros, João Leite Ortiz e Domingos Rodrigues do Prado, aquele no Curral d’El-Rei, e este no Pequi, teve-os à mão para sustentarem o resto de seu prestígio.” (...).
“Mandou sempre e nunca obedecia. Só nos sertões podia viver. E por isso com toda a família se pôs a caminho e foi conquistar Goiás (1717-18).”
Se os historiadores ora citados, e mesmo outros mais, posicionaram-se favoravelmente ao capitão Miguel Domingues, temos como acima de todos eles o grande naturalista viajante francês Auguste de Saint-Hilaire, um botânico que entrou no sertão em 25 de julho de 1817, portanto 110 anos depois do conflito em Itacambira que levou o capitão Miguel Domingues e seus homens até a Fazenda dos Montes Claros. Permaneceu no Brasil de 1816 a 1822, viajando pelo Rio de Janeiro, Espírito Santo, Minas Gerais, Goiás, São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, reunindo expressivo material botânico e zoológico e registrando uma enormidade de observações relacionadas com geografia, história e etnografia. Seu material compreendia
um herbário de 30.000 espécimes, de mais de 7.000 espécies, sendo cerca de 4.500 desconhecidas dos cientistas da época.Saint-Hilaire esteve em Formigas, por aqueles tempos mesmo, o que foi uma felicidade tremenda para a perpetuação da verdadeira história. Em sua passagem pelo lugar, teve contatos diretos com a fonte, ou seja, pessoas já centenárias que acompanharam as desventuras de Domingues e também descendentes dos que já tinham partido.
Em outras palavras, esse que provavelmente foi o maior naturalista europeu do seu tempo, de uma integridade a toda prova, dotado de um senso de observação dos mais acurados e fidedignos no anotar tudo o que via ou ouvia para fazer constar em suas obras incandescentes de saber, colheu a tradição oral em sua plenitude. Daí que, com a segurança do sábio criterioso em suas anotações eivadas pela verossimilhança, como não poderia ter sido diferente, buscou informações acerca da origem de Formigas e outros povoados, atendo-se mais a Itacambira, sobre fauna, flora, antropologia, sociologia, produção do
salitre (importante fonte de renda no sertão), etc.
O naturalista chegou a Formigas no primeiro domingo do mês, 3 de agosto de 1817, presenciando uma procissão religiosa logo na chegada. Escreveu que “o nome de Sertão ou Deserto não designa uma divisão política de território”, mas sim “uma divisão vaga e convencional determinada pela natureza peculiar do território e, principalmente, pela escassez de população.”
Registrou, em certo momento, que os habitantes de Formigas não tinham boa reputação no tocante à probidade, escrevendo que“antes que eu chegasse tinham-me aconselhado por toda a parte a que não deixasse meus animais de carga na proximidade das casas, para que não corressem o risco de serem roubados”, sendo que “quase ao entrar na povoação o meu arrieiro, Silva, disse bem alto que eu viajava com um passaporte do Rei, e que, se meus animais fossem roubados, não haveria perdão para os ladrões.” Concluiu dizendo-se decepcionado porque “ninguém tocou nos burros; vários pequenos objetos,
porém, nos foram subtraídos, o que até então não nos acontecera em lugar nenhum.”Sobre a origem e mesmo tipos e costumes da população de Formigas e outros povoados próximos, chamados por ele de sertão oriental, em nenhum momento fazendo menção a Antônio Gonçalves Figueira e mesmo a José Lopes de Carvalho, deixou consignado (Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais, Editora da Universidade de São Paulo/Livraria Itatiaia Editora Ltda., Belo Horizonte, edição de 1975, pág. 308):
“Segundo me disseram, os primitivos habitantes do Sertão oriental foram paulistas que fugiram depois da derrota do Rio das Mortes. Encontraram a região habitada por tribos indígenas; exterminaram-nas, e alguns se misturaram com seus fracos restos. Exploradores de ouro, desiludidos das esperanças concebidas, ficaram, sem dúvida, também, no Sertão, para não terem a fadiga de voltar sobre seus passos. Enfim, estou persuadido de que essa região deserta frequentemente serviu de asilo a criminosos perseguidos pela justiça.”
(...). “Aliás, não é nunca para roubar que se assassina; é para dar largas ao ódio, à vingança e aos ciúmes. A população atual do Sertão é quase toda ela composta de homens de cor. Não havia, por ocasião de minha viagem, senão dois homens brancos na povoação de Contendas” (atual Brasília de Minas) “e não vi mais que um único durante os quatro dias que passei na Coração de Jesus.”
Em nota de rodapé o botânico francês esclareceu também: “É bem claro que essa tradição não se pode referir a toda a extensão do Sertão; pois que, segundo Southey (Hist. Do Braz., vol. III, pág. 84), o combate de Rio das Mortes aconteceu em 1708, e Pizarro, após dizer expressamente que o distrito de Itacambira foi descoberto em 1698 por diversos paulistas, cujo capitão se chamava Miguel Domingos, acrescenta que se comunicou a existência das minas desse distrito, em 1707, ao governador da Bahia, Luís Cesar de Menezes. Ver-se-á, mesmo, adiante que eu considero o velho Fernão Dias Paes como o primeiro a levantar um estabelecimento em Itacambira, e esta fundação pode datar de 1670, mas tudo parece indicar que não teve o menor prosseguimento.”Mister esclarecer que o frisado combate de Rio das Mortes marca o final da Guerra dos Emboadas. Esta foi uma decorrência da corrida de cerca de 50 mil pessoas pelo ouro ali descoberto. No arraial do Rio das Mortes foi instalada a vila de São João del-Rei, em 8 de dezembro de 1713, dando a este termo por limites, ao sul, a Serra da
Mantiqueira, tal como já o era do distrito. Colonos baianos e pernambucanos eram mais ligados aos portugueses do que aos paulistas. Conforme as diferenças de tratamento que se davam, os da terra eram os“nômades” ou “bandoleiros sem lei”, e estes, a seu turno, apelidaram os estrangeiros e os oriundos de outras capitanias brasileiras de “emboabas”.
Os paulistas, chamados também de “vicentinos”, insistiam no controle das minas e não se uniam aos “emboabas”, com o que a
tensão só aumentava. As primeiras dissensões se verificaram em 1706, no arraial da Ponta do Morro, depois do Rio das Mortes. O confronto final aconteceu em 1709, no Rio das Mortes.
Os derrotados se dispersaram, a sua maioria para os atuais estados do Mato Grosso do Sul, Mato Grosso e Goiás. Uns poucos se aventuraram para o norte da província, como, entre outros, Miguel Domingues, alicerçado no seu sonho inicial das supostas esmeraldas encontradas por Fernão Dias Paes (turmalinas verdes, afinal). Percebe-se daí que o capitão Domingues, responsável pelo nascedouro de Formigas, foi protagonista de não apenas uma derrota, mas de duas, no Rio das Mortes, palco da Guerra dos Emboabas, e em Itacambira, aqui, para os “papudos”.
Enfim, a conclusão óbvia é a de que os derrotados da guerra dos “papudos” foram os responsáveis pelos primeiros núcleos populacionais no sertão dos arredores da sede da fazenda de José Lopes de Carvalho. O referido imóvel rural, a todas as luzes, preexistiu ao lugarejo que, uma vez ocupado pelos degredados da sorte, logo ficou conhecido por Formigas.
Se, por um lado, é correta a observação de Urbino Vianna, em sua festejada obra, de “tivessem sido ‘os paulistas da Bandeira vencida’, os primeiros povoadores regulares, pouco importa, a história não lhes guardou os nomes e se perderam no anonimato, vítimas, talvez, mais das trevas que obscureceriam o tempo em que viveram”, também é correto conclamar que não se deve desmerecer ou ignorar os parcos registros relativos a Domingues.
Quer queiram, quer não, a história registra, ainda que tropegamente, o sertanista proveniente dos lados de Itacambira povoando a Fazenda dos Montes Claros. Se por aqui ficou ou foi embora depois, ou se também foi vitimado ou não pela varíola, se em Formigas deixou ou não descendentes, pouco importa.
Ora, um simples fragmento de mandíbula descoberto há dois anos na região de Ledi-Geraru, na Etiópia, datado em 2,8 milhões
de anos, levou a comunidade científica a proclamar imediatamente tratar-se do mais antigo resto do indivíduo Homo, ou seja, o Homo habilis, que inaugurou na Terra a nossa linhagem.
Se a comunidade paleoantropológica internacional mostrou-se tão efusiva ao revelar o achado de um quase desprezível fragmento de mandíbula do nosso primeiro ancestral, não há como ser desmerecida a presença do sertanista paulista Miguel Domingues e seus seguidores na Fazenda dos Montes Claros, após derrotados em conflito pela extração de ouro em Itacambira, fato que originou em sua ocupação para redundar, tempos depois, na atual cidade de Montes Claros.
Com efeito, e lançada por terra a tese de precedência arguida por Urbino Vianna em favor de Figueira, o pouco conhecido Miguel Domingues – por assim dizer, bem menos desprezível do que a mandíbula do primeiro homem descoberta na Etiópia, posto que Homosapiens como todos nós – foi quem fundou Montes Claros.
É o que se pode afiançar mormente compulsando a tradição oral colhida pelo incontestável Saint-Hilaire, o que faz delinear o permissivo para o resgate de uma parcela, ainda que ínfima, da nossa memória histórica. E esta é, por assim dizer, nula quanto a enumerar um único feito brotado de suposta visão futurista de Antônio Gonçalves Figueira como edificador de pilares para uma urbe futura, o que não lhe outorga nenhuma primazia de fundação deste lugar rodeado de montes soberanamente claros pela inclemência de um sol sempre causticante.
Manoel Messias Oliveira
Cadeira N. 60
Patrono: Jorge Tadeu Guimarães
AQUÍFEROS SUBTERRÂNEOSN
Na revista semestral do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros - IHGMC, Volume XI, 2°. Semestre de 2013, fiz publicar um artigo intitulado “Norte de Minas e a Desertificação”. No seu bojo, ficou esclarecido, que o Norte de Minas apresenta um grande período de déficit hídrico no ano, que aliado a outros fatores, como a degradação constante das terras causada por mudanças climáticas e atividades humanas, aponta para uma situação passível de desertificação. As causas, além da seca e alterações climáticas, são também apontadas as práticas agrícolas intensivas, uso inadequado da água e do solo, mineração, irrigação mal planificada e desmatamento indiscriminado.
Desta feita, tratarei de um tema muito atual e ademais preocupante: os aquíferos subterrâneos. A Região Norte possui uma das
maiores biodiversidades do Estado de Minas Gerais e uma rica sociodiversidade, representada por seus habitantes e suas culturas. Um fato positivo é que, o povo norte-mineiro está conscientizando de que a natureza é uma herança que recebeu para proteger e um espaçoprecioso da convivência humana. Por isso, não será exagero dizer que, quando as intervenções humanas recaírem sobre recursos naturais, não devam predominar os interesses de grupos econômicos que arrasam irracionalmente as fontes de vida, em prejuízo da coletividade. As gerações que nos sucederão têm direito a receber um ambiente saudável e habitável.
O principal problema é que a água doce dos nossos rios e nascentes, recurso natural em declínio, tornou uma mercadoria aos olhos de empresários, com ampla utilização em propriedades privadas para a exploração do agronegócio, além das atividades industriais, minerais e florestais, que produzem injustiça social e destroem o meio ambiente. O desafio agora é o de construir uma justiça ambiental, para a preservação dos direitos humanos, econômicos, sociais, culturais capazes de manter o meio ambiente respeitado.
As crescentes atividades humanas na superfície do terreno de nossas florestas vêm causando intensa compactação impedindo a natural infiltração das águas das chuvas no solo. Nas áreas urbanas, devido os crescentes selamentos das superfícies por uso de argamassas de concreto, asfalto e outros tipos de calçamentos, atingem áreas incalculáveis, totalmente encobertas por esses impermeabilizantes superficiais. Com isso, as águas pluviais estão sendo impedidas de chegar a um dos seus principais destinos naturais que são os aquíferos subterrâneos.
Esses selamentos são os responsáveis pelos aniquilamentos das nascentes que alimentam os riachos, rios e represas (barragens) durante o período de estiagem. Dessa forma, todas as nascentes, riachos, rios e represas, por maior que sejam os índices pluviométricos, estarão fadados ao colapso durante o verão.
As ações governamentais visando proteger as margens dos lagos, rios e o entorno das nascentes têm grande valor e deverão prosseguir, porém por si só essas ações não possuem abrangência suficiente para impedir o flagelo anunciado que será a falta de água potável para atender a demanda que a crescente atividade humana está exigindo.É necessário que também façamos a nossa parte, por menor que for o adjutório para impedir o impacto ambiental, e ressalte-se que isso, é extremamente positivo e desejado.
As constantes transferências das águas da superfície para o mar em prejuízo do abastecimento dos aquíferos subterrâneos, não são só responsáveis pela escassez de água doce para as necessidades humanas, são também responsáveis pela elevação do nível do mar e pelo aquecimento global, causadores do descongelamento das geleiras como vem ocorrendo.
Não é despiciendo lembrar aos especialistas dos aquíferos subterrâneos (hidrólogos) como também a Agência Nacional das Águas
– ANA e suas filiadas que, a crescente atividade humana na superfície do terreno rural e urbano, vem causando intensa compactação, e esta realidade que fere os olhos é ainda mais grave com a degradação ambiental em todos os níveis para satisfazer o ego dos gananciosos.
Ó Deus!!! Salve a nossa terra e a nossa gente!...
Maria Luiza Silveira Teles
Cadeira N. 42
Patrono: Geraldo Tito Silveira
O MESTRE WANDERLINO
Ando desconfiada que o mestre Wanderlino esteja escrevendo suas memórias. E com toda razão! Ele nos deve isto! É uma memória tão rica, que se confunde com a própria História de Montes Claros; tem, pois, de ser contada para jamais ser esquecida.
Sou amiga do professor Wanderlino Arruda há cinquenta anos. Nossa convivência tem sido bastante enriquecedora.
Lembro-me, com saudade, dos velhos tempos em que saíamos juntos da antiga Fafil, em turma, e ele sempre a brincar com a minha tia Yvonne de quem o tio Olyntho tinha muitos ciúmes.
Nunca perdeu o seu jeito moleque de menino que se deslumbra com a vida e se diverte com tudo. Brincalhão como ele só, possui uma eletricidade que o move a mil por hora.
Já com oitenta anos, continua cheio de energia e empreendedor como ele só. Faz mil coisas ao mesmo tempo. Não desperdiça umúnico instante. Sempre criando e agindo, principalmente pelo bem de Montes Claros.
Alguém imagina que ele não descanse, não tenha lazer e não se divirta? Ora, mestre Wanderlino está em eterno lazer, porque o trabalho, a convivência com o outro, ensinar, aprender, dar de si, liderar, criar, agitar a vida cultural da cidade, tudo isto para ele já é lazer e divertimento, pois tudo faz com prazer. Para ele não há o peso do dever e sim a alegria de viver.
Tantas vezes em minha vida precisei dele para um conselho, um desabafo, uma ajuda nos trabalhos intelectuais e ele sempre a me receber com o mesmo carinho e a mesma prestimosidade. E isso não é só comigo que sou amiga, é com qualquer um. Mas, eu lhe devo muito e disto nunca poderei esquecer. Ele tem me feito crescer em todos os sentidos! E não acreditem no que ele fala e escreve a meu respeito. Eleé míope com relação a mim, pois me olha com o sentimento de um irmão.
Agora, não sou eu apenas que falo; isto é uma unanimidade: ele é uma das maiores autoridades culturais não apenas do norte de Minas, mas, quiçá de alhures. É dono de uma memória privilegiada e passeia com desenvoltura por todos os recantos do Saber: História, Geografia, Latim, Grego, Linguística, Literatura, Bíblia, Esperanto, Espiritismo, Filosofia, Semântica, Direito, etc. E, como maçom, rotariano e elista, traz ainda um grande acervo da cultura milenar de outras culturas.
Sua biblioteca é uma das mais ricas que conheço. Basta uma vistoria por ela para saber o quanto essa criatura tem lido e estudado nesta vida.
Meu pai, que foi uma verdadeira enciclopédia, admirava-o muito e sempre repetia: “Ah, se eu tivesse a memória de Wanderlino”. Existe até uma conversa que ele toma um medicamento especial para a memória. Tanto que basta se chegar a uma farmácia local e pedir “o remédio de Wanderlino”.
Acho que é bobagem falar de seu extenso e rico currículo, pois todo o mundo intelectual de Montes Claros bem o conhece. O homem fez tudo quanto é curso e ocupou quase todos os cargos de importância no município. Foi professor universitário, alto funcionário do Banco do Brasil, vereador, secretário do município, Governador do Rotary, criador do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, da Academia Maçônica de Letras, é eterno jornalista, tendo escrito para todos os jornais que existem e já existiram em nossa terra,é escritor, cronista e poeta. Poema seu já apareceu até em filme francês!
Possui vários sites na internet e não para de aprender informática. Adora novidades e tecnologia.
Ainda por cima, como se não bastasse tanto, é pai de sete filhos, avô de uma dezena de netos e até bisavô. Esposo eternamente enamorado de uns belos olhos verdes!
Mas, para mim, tem um significado especial: é meu amigo e meu professor de estudos bíblicos.
Sua escrita é deliciosa e tem uma enorme facilidade para contar casos e causos. Escreveu uma dezena de livros e eu me deliciei especialmente com “Jornal de Domingo”, “Emoções” e “O dia em que Chiquinho sumiu”.
Conforme dizia o nosso inesquecível Haroldo Lívio: Wanderlino Arruda “é um cidadão feliz com a família, com os amigos e toda a humanidade que bate palmas à sua passagem, por reconhecer em sua pessoa um dos valores mais elevados de nossa comunidade montes-clarense”.
De todos os seus poemas, alguns têm minha preferência. Cito alguns como “Teus olhos”:
A poesia dos teus olhos
é a poesia mais linda...
e mais colorida.
Tem métrica, tem rima,
tem a sonoridade da música
mais suave da vida.
Teus olhos encantam e vibram
como início de sonho.
Teus olhos dizem doçura,
um mel mais do que doce,...
e mais perfumado.
A poesia que brilha em teus olhos
tem luzes intensas,
é alegria espargindo sorrisos,...
coloridamente felizes.
Teus olhos encantam,
teus olhos seduzem,
teus olhos fascinam.
São dádivas do Amor!
A sua oração, em forma de poesia, que eu mais aprecio é o seu “Pai Nosso”:
A ti, Senhor, que és
pleno de luz e de amor,
e estás nos céus e em toda parte,
onde teu nome é sempre bendito e santificado.
de constante e eterna bondade.
A ti, Senhor, apresentamos nosso pedido:
dá-nos o teu reino
de alegria, de compreensão;
a tua vontade e não a nossa seja feita,
aqui, onde estamos, aí onde estás e estaremos um dia;
o pão da saúde, da disposição ao trabalho,
do entender e ser entendido,
do amar e ser amado,
dá-nos hoje, dá-nos sempre, Senhor.
Ainda caminhantes no erro,
dá-nos o teu perdão e o ensinamentode como devemos perdoar.
À criança que existe ainda em cada um
dá, Senhor, a tua proteção.
Liberta-nos do mal,
ampara-nos no caminho do bem,
pois teu, Senhor, somente teu,
é o poder, o reino e a glória
para sempre,
para todo o sempre.
E que o mestre Wanderlino fique conosco para todo o sempre!
E que venham suas memórias para nossa alegria!
Marilene Veloso Tófolo
Cadeira N. 95
Patrono: Terezinha Vasquez
Uma mulher
Através do Tempo
O tempo passa e nós vamos junto com ele através da vida, com nossas certezas, verdades e lembranças...
Por causa de uma conversa com Firmina, ligada à Heloísa Veloso dos Anjos Sarmento, a sua figura voltou a minha memória e
resolvi escrever sobre ela.
Os anos retrocederam e eis me a recordar a sua figura nos corredores da Escola Normal de Montes Claros: alta, elegante e sempre altiva e apressada. Não passava despercebida em nenhum ambiente!
- Não falarei da sua vida como mãe, mulher, profissional, mas da sua importância na formação de milhares de mulheres, que seguiram seus passos, como professora e trabalhadora em vários setores fora do lar!
Em uma época em que as mulheres eram segregadas ao convívio do lar, ela incentivava-as a irem a luta, fora da casa paterna e do convívio do mesmo.
Heloísa Veloso dos Santos SarmentoEra uma mudança de postura, sair para o trabalho fora de casa, ir a luta, e lutar pela sobrevivência!...
O velho casarão vem a minha memória, o assoalho faz um barulho de passos, os pedregulhos da rua Cel. Celestino trazem sons, o sino da matriz toca ao longe, as pessoas seguem pela rua!
As lembranças povoam minha memória, os sons se misturam, aos cheiros e cores do passado!
Os dias retrocedem à praça, o jardim e odores vêem, as lembranças do ontem...
Quase todos os professores que por ali passaram dormem no silêncio do outro plano!
Na quietude da sala de aula, Dona Heloisa através da sua forte voz, fala com suas alunas da necessidade de sua formação de futuras educadoras!
Convencia-nos em ir à luta, ao trabalho fora de casa, em uma época em que as mulheres eram educadas para serem donas de casa e mães de família.
Não eram palavras vãs, porque ela com seu exemplo, trabalhando, tinha marido e filhos e dupla jornada.
O sino toca, as vozes dos alunos se misturam com o barulho dos pássaros, o recreio alegra o casarão, os rostos das moças e rapazes confundem-se com um filme em minha retina.
Nas salas do magistério, apenas as mulheres estudavam, e o curso científico só veio mais tarde, com as salas mistas.
Voltando a falar de Dona Heloisa, falo que ela estava à frente do seu tempo, a preconizar uma mudança de comportamento da mulher, como profissional e educadora na formação da nova juventude da época.
A mulher vai à luta, forma jovens, tem um emprego fixo, tornase educadora, formadora de opiniões e batalha por novos valores na sociedade.
O tempo passa, as pessoas mudam, mas o aprendizado permanece, e através do tempo presto a minha homenagem aos que foram e aqueles que continuam a sua luta, através de uma sala, um quadro negro, uma escola (hoje um computador, tablet, etc) levar a educação àqueles que serão os futuros homens e mulheres da nossa terra.
Ser educador, formador de idéias não é fácil. É colocar a sua vida a serviço do outro, profissão nem sempre valorizada, mas fundamental para a formação de um povo. Sem a educação somos fadados a ser um pais mais pobre em todos os sentidos, por isso a valorizo e presto a minha homenagem a Heloísa Veloso dos Anjos Sarmento, que lutou por ela e foi um exemplo para todos nós, como professora, amiga, lutadora e a frente do seu tempo, com seus valores, como Delegada de Ensino e vários ramos da Educação.
Nota: Conheci Dona Heloísa atuando em vários ramos da Educação.
Minha atuação na área da Educação. (Marilene Veloso Tófolo)
1 – Professora Primária nas Escolas Combinadas Prof. Plínio Ribeiro – Montes Claros.
2 – Coordenadora das Escolas Combinadas Prof. Plínio Ribeiro– Montes Claros.
3 – Auxiliar de Escrita do referido colégio.
4 – Professora de História, Moral e Cívica e OSPB do referido colégio.
5 – Monitora da Cadeira de Introdução aos Estudos Históricos da Faculdade de Filosofia do Norte de Minas.
6 – Membro efetivo do Congresso sobre Introdução aos Estudos Históricos, Friburgo/RJ.
7 – Membro da Associação dos Professores Universitários, São Paulo.
8 – Outros títulos (concursada na prova e títulos para aulas de História, Belo Horizonte).
9 – Exame de suficiência na Faculdade de Filosofia (Belo Horizonte), registro definitivo.
10. Registro de Professora licenciada em História, OSPB, Estudos Sociais.
11 – Diploma em Licenciatura História.
12 – Auxiliar Técnica Delegacia de Ensino, Montes Claros.
13 – Membro do Instituto Histórico de Montes Claros.
Como incentivadora da educação segui seus passos.
Palmyra Santos Oliveira
Cadeira N. 64
Patrono: José Gomes de Oliveira
VOOS MEMORIAIS
Sempre, em minha memória, aparecem pessoas de Montes Claros, terra querida. Vou citar aquelas de quem tenho mais lembranças.
Na Rua Bocaiuva (atual Dr. Santos), o Sr. Josefino Melo, magro, alto, sua esposa D. Conceição e os filhos Berenice, Sônia, Maria, Wanda, Zembla e Luiz; Mestra Fininha Silveira e os filhos Darcy e Mário Ribeiro; Sr. Catão Prates, avô de minhas amigas Therezinha, Berenice e Norma; Dr. Coutinho, nosso professor de Francês na EscolaNormal e nosso paraninfo de formatura no Colégio Imaculada, em 1938; Sr. Lindolfo Quinteiro (alfaiate), que criou Fifi, que morreu no dia 6 de fevereiro de 1930, em frente à casa do Dr. João Alves, quando fazia parte da passeata do vice-presidente Dr. Melo Viana; o Sr. Urbino Viana, baixo, que ostentava grande bigode; um pouco abaixo, moravam o Sr. Brasiliano, sua esposa Alcina e seus filhos Carmélia, Cida, Alciliano e outros que me fogem à lembrança. Nessa rua também morou a D. Patricinha, amiga do Sr. Antônio Athaíde, onde
tinha um cajueiro do qual eu chupava frutos, quando ia à sua casa.Abaixo, na esquina, era a casa do Sr. Zé Boi e de D. Maria, pais de Geralda e de Elias. Este foi rei em uma Festa de Agosto e eu segurei a sua capa. Meu vestido era azul de crepe da China, feito por Zizinha de Donato. Em frente à casa de D. Patricinha morou Diva de Sá Biela, esposa de Malaquias Pimenta. Eram pais de Eulâmpio (Lampinho). Ao lado, morou o Sr. Totone Leão (comerciante) pai de Conceição, que ficou viúva muito jovem e aprendeu a bordar com minha mãe, na Singer. Abaixo, morou o Dr. Bessone, que foi Juiz de Direito em Montes Claros. D. Quita, sua esposa, e seus filhos Waldyr, Zuleika e Mary também moraram lá.
Na Rua Dr. Veloso, o Sr. Felipe Vermelho, pai do meu colega Plínio Vieira, que fabricava tachos de cobre para vender, morava em frente à venda do Sr. Domingos Braz. Este possuía um sítio no Melo, em frente ao sítio do Dr. Mário Veloso (farmacêutico), perto do sítio do Sr. Christo Raef, que foi o primeiro verdureiro de Montes Claros. Christo era forte, alourado, olhos azuis, pai do Dr. Konstatin e do meu colega do quarto ano, Raio. que morreu em acidente aéreo na Jaíba. Dr. Konstatin casou-se com Yede Ribeiro, filha do Dr. Plínio Ribeiro. Christo vendia tomates, cenouras, nabos, que naquele tempo ele plantava, colhia e, em uma carroça, saía pelas ruas de Montes Claros a gritar “Verdureiro chegou!, verdureiro chegou!“
Morávamos na Rua Dr. Veloso e Christo passava sempre pela manhã, com as verduras frescas.
Naquele tempo, ninguém conhecia geladeira em Montes Claros. A carne também era vendida com ossos, fresca, em carrinhos pelas ruas.
A costela mindinho que, bem cozida, fazíamos um pirão com o seu caldo, consistia num bom alimento. Os mocotós, que minha mãe, já viúva, fazia doce de rapadura com leite e ovos, colocando canela moída por cima, e que meus irmãos vendiam, em forma de geléia, era muito apreciada.
Minha mãe levantava de madrugada, fazia biscoitos fritos para vender também. Nessa época, eu com treze anos, já ajudava. Tirava água da cisterna, bordava à máquina, aprendi a cozinhar e a lavar roupa.
Nessa Rua Dr. Veloso, na venda do Sr. Domingos Braz, depois foi a venda de D. Virgínia, onde eu comprava meus cadernos, quando estudava na Escola Normal. Ao lado, na outra esquina, foi a casa dos filhos do Sr. Juca Cândido: Lincoln, Sinhá, Jesus, Hilda, Nieta e Helena. Nieta era paraplégica, vivia em uma cadeira de rodas. Bordava à mão muito bem. Hilda, depois de mais de dez anos que havia falecido, me apareceu com seu sorriso franco. Acenei para ela. Ela era morena, baixa, olhos grandes e escuros, mãos e pés com dedos pequenos.
Um mês depois, voltando à sua casa com Adenir de Getúlio Caires, perguntei por Hilda. Sua irmã Helena disse-me que ela falecera havia mais de dez anos. Arrepiei-me toda, naquele momento.
Ainda na Rua Dr. Veloso moravam o Sr. Amândio Soares, sua esposa Sá Aurora, os filhos Amanda, Lulu, Nenê, Zaira, Ninha, João, Azurém e Francisco. Na esquina, moravam Juca Macedo, sua esposa Maria, os filhos Vivaldo, Guilhermina, Joaquim, Alexander, Danilo, Tancredo, Rosarinha, Jomar, Therezinha, João Batista e Eustáquio. Ao lado, era a morada do Sr. João Chaves, sua esposa D. Mercês e seus filhos Ulpiano, Chavinha, Raimundinho, Lígia, Lola, Risoleta, Sidney e Henrique. D. Mercês me tratava com especial carinho.
Na esquina, em frente ao Sr. Amândio, residiu o Sr. Pedro Rodolfo Revert (que tinha um garimpo de diamantes) com sua esposa
D. Etelvina e os filhos José, Julieta, Nordina, Julinha, os gêmeos Geraldo e Maria Geralda. Esta foi minha colega e tinha uma característica física interessante: um olho era verde e o outro amarelo.
Na mesma rua morava o Sr Malaquias, cuja esposa Sá Militona fazia doces e biscoitos que comprávamos. Seu filho Agnelo jogava vôley conosco, no Ateneu. Na esquina abaixo, em frente ao Sr. JucaCândido, morou o Sr. Matias Peixoto, filho de Sá Donana e marido de Dora, que tinha lindos olhos azuis. Eram pais de Natália, Dim, Losa e João. Matias contraiu segundas núpcias com Lia, filha do Sr. Louso Massarico. Lia era irmã do cabo Geraldo Santana, que morreu em combate na Segunda Guerra Mundial. Tiveram muitos filhos entre os quais: Tu Peixoto, Geraldo, Ninha, Fina, Ana Maria e Zé Matias.
Abaixo, era a casa de Zezé de Tio Alfredo, que, com sua esposa Jacinta, eram pais de Lulu, Expedito, Expedita, Neusa, Jacira e Nice.
Em frente ao Sanatório Santa Terezinha moravam tio Tiago, tia Valu e as filhas Maria, Laurita, Rosita e Neusa.
Abaixo, ficava a casa de Sá Aninha Pinto, com os filhos: Asclepíades, Mariinha, Matilde, Ducha, Nina, Mundinho e Lili. Esta
foi a primeira telefonista de Montes Claros, na primeira companhia telefônica, na casa do Sr. Hildebrando Mendes. Depois, ficava a casa da viúva D. Margarida Pimenta, com suas filhas Jacy, Gelcira, Eponina, Amariles e Marlene.
Na esquina moravam: Sr. Donato Quintino, sua esposa Zizinha Quadros e os filhos Geraldo, Maria, Consuelo, Carlyle, Maria Helena, Grace, Luiz e Margô.
Na outra esquina morou o Sr. Flamarion Vanderley com sua esposa Raimunda e os filhos Walduck, Teresinha, Wandaick, Mary e
Saulo, que se casou com a Miss Minas Gerais, Virgínia Barbosa. Na outra esquina também morou o meu Tio Joaquim dos Santos, que foi assassinado por Gregorinho Matador, deixando viúva Izila com os filhos Maria, José, Joana, Tutu, Messias e Geni.
Na outra esquina era a casa do Dr. José Correa Machado e de D. Bela Machado, pais de Múcio, Célia, Dália, Caio... Um pouco
abaixo morava D. Anelita Vale Ulhôa, minha professora de Ciências, tia de minha colega Carmen Ulhôa. Na esquina mais abaixo morou o Sr. Pedro Montes Claros, com sua família, e depois o Sr. ChiquinhoDavid com família, cujo filho Chiquito morreu atropelado em São Paulo. Sr. Chiquinho era pai de meus amigos Olga, Sid e Ney, além de outros.
E os voos memoriais vão pelas ruas da minha querida Montes Claros.
Wanderlino Arruda
Cadeira N. 33
Patrono: Enéas Mineiro de Souza
“Dentro da pedra já existe uma obra de arte,
eu apenas tiro o excesso de mármore”.
Michelangelo
Como pintor, como fotógrafo, como poeta, olhos e ouvidos abertos para belezas do mundo, será que tenho uma maneira
especial para descrever Itacambira? A quantas anda a minha sensibilidade histórica - sempre apaixonada pela mineiridade do Norte - para sentir de alma e coração, todos os encantos com que Itacambira vive? Quantas visitas tenho de fazer, quantas idas e quantas vindas tenho que gastar para sorver tudo de belo que deve estar lá desde o tempo de criação, das tentativas, dos sonhos de ver contemplar esmeraldas? Como evocar os mesmos sentimentos que deve ter tido Fernão Dias ao contemplar o fulgir de luzes da Serra Resplandecente? Perguntas e mais perguntas, buscas infinitas de imponderáveis levezas, junção e colorido do que pôde ou não pôde a Natureza esculpir e detalhar cores...
Um dos clichês mais produzidos pelo cinema, em antigos filmes de faroeste, são as pequeninas cidades do interior, todas quase sempre vivendo mais paz do que guerra, uma espécie de santa inocência.Cachorro “quentando” sol, sino da igreja badalando amanheceres, fiéis caminhando para os cultos, meninos jogando bolas de pano e se lavando em repuxos, donos de vendas vendendo e tomando notas. Ainda mais: cowboys jogando damas, velhas vitrolas tocando Oh Suzana, as portas dos bares num abre e fecha de nunca terminar. Que saudades de um passado bonito e gostoso tão e tão distante do pisca-piscar e dos barulhos da vida moderna! Comparando passado e presente, acredito que é por isso que Itacambira é um lugar que vale a pena, que o ir lá e apreciar tudo tem a maior razão para quem gosta da vida e do viver. Itacambira é o retrato do passado com moldura do presente: linda, charmosa, colorida, quase inocente. Um paraíso para quem sabe ouvir e imaginar, ver e sentir.
De uma coisa eu sei: lá em Itacambira, Gabriel Garcia Marquez jamais conseguiria escrever Cem Anos de Solidão. Do alto dos mais de mil metros acima do nível do mar, não há restrições de vistas e de pensamentos. É como se fosse o topo do mundo, lá fora e lá longe toda a beleza de existências, todos os azuis das serras e dos morros de velho e novo Testamentos. Itacambira tem figuras interessantíssimas de pedras, tudo desenhado para uma destinação histórica, sem gênese nem apocalipse. É tudo ou muito mais de um proporcionar de fantástica experiência no cotidiano e no sempre. Falar de Itacambira - só Deus sabe - é um modo de saborear frases e dedos de prosa, repicar vivências mais que verossímeis, longe e perto do quase normal, do incrível e do mágico. Mil e um, dois e três mil, muitos momentos de amor!
Se fosse eu em vez de Dário Cotrim, o autor da história e das estórias de Itacambira - quem sabe muito mais poeta que historiador - escreveria tudo diferente, tendo e vivendo sonhos personalíssimos para explicar o mundo de encantos. Por meio de imagens, maior parte delas mais do que poéticas, tentaria encontrar uma perfeição interiorana ainda maior do que a natureza é capaz de criar ou construir. Meu trabalho seria produzir frases, desenhar ideias, sonhar todos ossonhos possíveis e impossíveis para dar aos leitores a sensação de estar colorindo pinturas com as cores do próprio tempo. Cotrim - que já alcança situações de maestria da história - ao contrário, é outro tipo de pesquisador. Seriamente em cima de documentos, é o escrivão competente de escrituras do fielmente acontecido. Ele não tem compromissos com o dia-a-dia político, com as vaidades dos que governam ou formam opiniões. Escreve dentro do real, marcado sempre pelo acontecido, sem ferir e sem apresentar tintas do que não existiu ou não existirá. Sempre real, sempre justo com os textos que vieram antes dele, observa grafias, realça destaques. Seus mapas são desenhados por viajantes ávidos das novidades e das belezas do sertão mineiro e norte-mineiro. Muitos dos seus textos têm a fé de ofício de amigos nossos da escrita montes-clarense, entre eles os escritores Artur Jardim de Castro Gomes, Simeão Ribeiro Pires, João Valle Maurício e o jornalistaFernando Zuba. Diferente de Cotrim, eu não, tentaria muito mais do que a verdade, talvez até mais do que muito...
Da sala de jantar de Nana e José Edson, ela pintora, professora, poeta do bordar e cozinhar, ele ex-prefeito da cidade, enquanto Dário Cotrim e eles conversam, levanto-me e saio de câmera em punho, para captar todo um mundo de belezas, frente a frente com a Serra Resplandecente. Não falo nem explico nada, isolo-me e só vejo a montanha verde, que está, ou continua numa beleza de eternidade. Bato uma, bato duas, bato vinte ou trinta fotos, um clicar de doce emoção. Coisa boa é câmera não ter mais filmes e você ficar à vontade para bater todas as fotografias do mundo. Ainda do lado de dentro, como se fosse um alpendre, mudo muitas vezes de posição e decido sobre as imagens que quero ter no agora e no depois. Ganhando o
espaço externo, desço um, desço dois, desço todos os degraus, até encontrar a maior visão da superfície de verde e de brilhos. Quase não dá para economizar cliques, porque tudo é bonito demais numa paisagem que os bandeirantes viram e que até hoje alumia a história. Nem posso imaginar como tem sido cada amanhecer e cada boquinha da noite para aquelas almas sedentas de beleza da imensidão de Brasil,aliás, mais do que isso, da elegância e da majestade destas inesquecíveis paisagens mineiras.
Voltando da deliciosa visão que só um gosto de sonhos pode permitir, Nana, a dona da casa, mesa posta, descobre a toalha para nos oferecer, como que para marcar nossa visita, dois presentes de dar muita água na boca: em pratos porcelanados, eis o mais suave dos requeijões, cremoso, macio, desejável até para quem não tem fome, e uma quase transparente marmelada, exatamente do colorido daquelas que minha mãe fazia em São João do Paraíso, tão tecidamente fina que pode ser saboreada de garfo ou de colher. Acolhimento nota dez, a que o baiano mais mineiro que existe, Dário Teixeira Cotrim, e eu tivemos até que antecipar agradecimentos. Delícia das delícias. Requeijão e marmelada, casados ou não, formam uma parceria para a mais requintada sobremesa, coisa de agradar ao mais exigente dos deuses. Para nós, a visão e o sabor foram mais do que um iluminar de chuvinhas, busca-pés e rojões numa noite de São João!
Em Itacambira, bendição da mais fina flor mineiramente virgem, mágica de onde evolui a terra e começa o céu - a beleza é tricotada com requintes de amor tanto pelo vento como pelo sol, pela brisa e pela lua. Em termos de história é como se a vidinha interiorana nunca mudasse, bastando o sentimento de modéstia em cada nesga de tempo. Na praça, o coreto e o engenho, um bem pertinho do outro, quem sabe temerosos de jamais encontrar o futuro. Os dois, testemunhas de um passado não calculável em duração de séculos, conservam a preciosidade da madeira lavrada a demãos de enxó e em alisamentos de plainas. Cada foto representa doces liames a unir tantos que devem ter sido os tempos e os contratempos, beleza de filtros e peneiras de saudades. Tudo quase genuinamente bíblico. Com certeza o sempre lembrado Fernando Pessoa - vendo e contemplando - poderia até dizer que “tudo vale a pena quando a alma não é pequena”.
No geral um muito admirar, muito a ser levado em consideração. A paisagem rica de matizes, os horizontes de muita amplitude, a antiguidade do chegar e do sair dos bandeirantes, o cuidado de Fernão Dias em organizar a posse e a segurança das terras, deixando homens e mulheres em situação família. Admirável a abertura de estradas, a fundação dos garimpos, os princípios religiosos que até hoje sacralizam as convivências. Roceiros, lavradores, criadores de gado, faiscadores de ouro, garimpeiros do verde-azul de preciosas pedras, - toda uma gama de trabalho honesto - representaram o progresso inicial e o apetite de beleza do sempre. Para um conhecimento mais preciso, importante ler e analisar o texto do bispo D. João Antônio Pimenta, que viveu por lá o bom tempo de um ano, e a carta de encômios magnificamente escrita pelo Monsenhor José Ozanan, nos idos de 1980. Poucas vezes, pude ver e sentir uma religiosidade tão pura como a vivida até hoje em Itacambira. Pergunte isso a Jorge Ponciano e ao padre Jorge Luís Hugrey.
Tecendo este prefácio para o livro de Dário Cotrim, acredito com a mais justa modéstia de quem trata a situação com um carinho quase santificante e um entusiasmo que só pode sentir alguém gerado e nascido no interior de Minas, esta Minas Gerais, território e nação que nunca faltaram à brasilidade de tudo que há de melhor no mundo. Cada palavra - sentida e trabalhada - é, espero, uma contemplação, uma viagem literária, um fio de poesia pessoal e coletiva. Chego a acreditar que todos os meus leitores - também leitores do livro de Cotrim - estarão convictos de que, estando ou vivendo em Itacambira, poderemos sempre vivenciar um deslumbrar de sonhos, um alvoroçar de sentimentos, um magnético agradecer a Deus a permissão para tanta grandeza e tanta majestade. Falando no sério ou no fantástico, posso afirmar que a felicidade não é propriamente uma estação à qual chegaremos, mas uma agradabilíssima forma de ser e viajar.
Mil vezes os mais sinceros agradecimentos, a você, historiador Dário Teixeira Cotrim, por permitir essa grandiosa visão do real, do humanamente sensível e da encantadoramente poética história de Itacambira! Que este álbum histórico seja o mais legítimo documentário e fonte de pesquisas aqui e alhures, para alunos e para mestres de todos os graus e degraus do ensino, da escola primária até a universidade. Que as academias e institutos históricos vejam o seu trabalho como a mais legítima prestação de serviços ao Saber e à Cultura!
Deo gratias!
Daniel Antunes Júnior
Sócio Correspondente
Belo Horizonte - Minas Gerais
Lembranças Caras
Lucros e Perdas
Quanto mais passa o tempo, mais a alma voa como um pássaro em demanda da infância. Agora aqueles dias brilham nítidos e claros na minha memória assegurando-me que tudo então foi melhor e mais radioso do que o mundo de hoje... Assim se expressou Sinuhe - o egípcio, no início da longa e extraordinária narrativa de sua peregrinação por este mundo de Deus.
Assim como aconteceu ao Moisés, de Mika Waltari, todos nós, pobres mortais, volvemos o pensamento aos primeiros anos de nossa vida para contemplar, com toda clareza, como numa tela, tudo que nos ficou de lembranças caras, cotejando-as com a realidade atual.
Chamou-me especialmente a atenção, inserida nas páginas da Revista do nosso Instituto, a pequena história que o caro amigo
Ponciano Neto nos contou, com expressiva simplicidade e enternecimento, focalizando a figura saudosa de Dona Arinha e a fazenda Quebradas, que hoje já não é a mesma.
É uma página evocativa, da época de sua infância, que põe em destaque, a um só tempo, a figura singular, carismática e muitoquerida da própria Dona Arinha, e a casa senhorial daquela fazenda que tinha de tudo e hoje, como disse, é um pardieiro. Ali ela reinou com dignidade e espírito benfazejo, cercada do carinho e do respeito de todos os seus e daqueles que recebia com distinção, deixando saudades, muitas saudades.
Essa narrativa do Ponciano, tão sugestiva, dando-nos tanto que pensar, fez-me lembrar o que li algures. Certa feita, em Bolonha, na Itália, um pintor de paredes, contemplando a “Santa Cecília” - uma tela de Rafael, ficou extasiado, vindo a exclamar diante das pessoas presentes: Anch´io sono pittore... (Eu também sou pintor).
Pois então, tenho também as minhas reminiscências do tempo de criança e, por minha vez, lembro-me , com muita saudade, da
querida madrinha Carlota, e da fazenda da Estiva, em São João do Paraíso, no município de Rio Pardo, onde ela morava. Casada com meu avô materno, Matteo Salviolo, natural de San Pietro al Tanagro, província de Salerno-Itália, ficando viúva, casou-se, em segundas núpcias, com o viúvo Major Joaquim Pedro de Almeida, da Guarda Nacional, que foi meu padrinho e do qual eu tanto gostava.
O velho Matteo, que não conheci em vida, fez da Estiva o Eldorado onde passávamos as férias. Viajando a cavalo, íamos de
Espinosa, passando por Agua Quente, hoje Montezuma, onde pernoitávamos e tomávamos delicioso banho nos poços tépidos e borbulhantes.
A duras penas, vencendo em dois dias um estirão de vinte léguas bem puxadas, por estradas horríveis, com sol ou com chuvas,
chegávamos na Estiva esbodegados, com a bunda esfolada na sela, ainda que forrada por coxinilho, mas felizes, recompensados de todas as canseiras, pois ali desfrutávamos de verdadeiro paraíso.
A fazenda tinha de tudo, era auto-suficiente. À frente da casa havia um roseiral de espécies raras, com enxertos de vários matizes. Um encanto. No oitão, do lado direito, fechada por uma cerca devaras, uma horta tinha todo tipo de verduras, tudo bem cuidado. E ao fundo, depois de um terreiro espaçoso, ao lado do qual ficava o monjolo, em cujo poço a meninada tomava banho, começava o extenso cafezal. entremeado de uma variedade incrível de árvores frutíferas.
Contando com excelente cozinheira, a Filomena e Felisberto, um serviçal, além de Lia e Zé de Lia (seus afilhados, que lhes pediam, a ela e ao Major Pedro, a benção de joelho), madrinha Carlota nos provia à mesa com um cardápio principesco, vinho de jabuticaba, doces de marmelo e de leite, com remate de um licorzinho de jenipapo – tudo feito em casa.
Igual tratamento era proporcionado às famílias de Taiobeiras e adjacências que, em caravanas, ali aportavam, quando iam a pagar promessas em Bom Jesus da Lapa, na Bahia. Tudo de graça. Os padres em missão, desobrigas ou visitas pastorais, também por lá passavam, fazendo jus a uma acolhida vip.
Mas, na voragem do tempo, tudo passou. Quase todos havíamos mudado para Belo Horizonte, para estudar e trabalhar. A fazenda foi alienada após o falecimento de minha avó e restou-nos apenas a saudade daqueles tempos ditosos.
Muitos anos depois eu e meus filhos voltamos ao local, pensando até em readquirir o imóvel, para restaurá-lo no que fosse
preciso. A decepção foi enorme. Mil vezes não o tivéssemos feito! A fazenda desapareceu. Só encontramos a terra nua...
José Walter Pires
Sócio Correspondente
Brumado - Bahia
ADELBARDO SILVEIRA (DEBA)
MECENA DO SERTÃO
Nesta cinzenta manhã de terça-feira, 07 de julho de 2015, fui avisado por Ana Paula Prates, uma artista que brilha, como pequenina estrela, sob o firmamento sertanejo de Rio do Antônio, a triste notícia de que o meu amigo Deba, Adelbardo Silveira, cidadão por inteiro, professor de várias gerações no Colégio Norberto Fernandes, em Caculé, advogado de impoluta ética, um abnegado amante da cultura sertaneja, daí a merecida alcunha de mecenas dessa cultura, tinha nos deixado para sempre, para integrar-se ao seu plano eterno, junto aos que também se foram, mas aqui deixaram semeada, ainda que em solo adusto da caatinga exangue, a semente da bonança, do amor ao próximo, da mão aberta para o aperto que conforta, da ajuda espontânea a tantos quantos puderam usufruir da sua benevolência e amizade.
Fui seu amigo por muitos anos e, ao seu lado, na hospitalidade da sua casa, cujas portas jamais se fecharam aos que lá buscaram um alento qualquer, participei de inesquecíveis saraus culturais, nos quais reunia, além de amantes das artes, nomes famosos de poetas, escritores, educadores, cantores, músicos, e outros que pontilham o universo artístico e cultural, nos famosos Encontros Sertanejos, sem se falar em outros momentos que nos uniam, através das mídias ou ocasiões reservadas por essas ligações afetivas e de interesse comum.
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Hoje, com a sua “triste partida”, choram não somente os seus, mas toda a Rio do Antônio, onde
nasceu, em julho de 1932, como as cidades vizinhas, como o nosso sertão, como a Bahia, podemos dizer, pois o seu nome foi levado a outras plagas, além das reduzidas fronteiras natalícias, pelos conterrâneos ilustres, pela própria família, pela prole, pelos multifacetados amigos, construídos ao longo da sua trajetória, pelos seus estimados alunos, muitos dos quais alçados à glória da fama, pelos famosos artistas regionais, que me escuso a citar nomes para não esquecê-los, pelos outros que vieram de mais longe, para regozijarem-se em sua companhia, sob o avarandado da sua casa e das mesas fartas das iguarias sertanejas. |
Não quero crer, embora seja possível, que, nessas circunstâncias, alguém, por odioso capricho ou por meras injunções políticas, sobretudo por ter sido ele um também um “político”, não pelo fito dos seus próprios interesses, não por ostentar privilégios, não por mesquinhas ações, possa desconhecer todos os seus méritos e poderem agradecer por ter sido ele um verdadeiro benfeitor de Rio do Antônio, senão depositando flores na sua cova fria, mas dizendo alto e em bom som: Perdemos o nosso anfitrião!
De minha parte, vou sentir falta. Perco um amigo e parceiro. Perco o seu reconhecimento e afeto, embora isso não se apague, jamais, da vida que me resta. Nas últimas visitas que fiz a ele, acompanhado, em dias diferentes, pela minha esposa, pelo Dr. José Clemente, seu ex-aluno, e Dr. José Carlos Marinho, pude perceber nele, no leite em que convalescia, a sua doença, o seu tênue olhar como querendo me dizer, com a voz quase sumida, da satisfação em ver-nos ali, às vezes meneando a cabeça, em assentimento às nossas perguntas, às vezes sinalizando à irmã, nora, filhos, a prepararem um delicioso café para nós.
Ele era desse jeito. Sem limites para os amigos. Aliás, no seu livro antológico MINHAS MEMÓRIAS (Antes que seja tarde), naturalmente, autobiográfico, Deba prenuncia o seu final de existência, já por estar com saúde debilitada, e não poderia deixar de fazê-lo para presentear a sua cidade e aos seus amigos, com uma obra da maior expressão literária, pelo seu valor histórico e cultural, uma memória indelével da sua vida pessoal e de homem público.
Será velado, por feliz decisão, em sua residência, neste resto de dia e à noite, sendo levado em cortejo, amanhã, para o NOARA - Núcleo de Oficinas Artísticas de Rio do Antônio, integrado à ACOMPRA – Associação Comunitária de Pequenos Produtores de Rio do Antônio, que vivem à mingua de parcos recursos, entidadesàs quais se dedicou de corpo e alma, construindo todo o prédio, com várias salas e outras dependências, quase inteiramente com os seus próprios meios financeiros, proporcionando, no local, oficinas de corte e costura, de manicure e pedicure, cabelereiras, oficinas musicais, produções artísticas, palestras entre outras atividades, tudo isso sob os seus olhares e a inteira dedicação de Ana Paula, moça dotada de
impressionante perfil artístico, que, diuturnamente, ali se encontra, à frente de todos esses eventos, por um senso voluntário merecedor de reconhecimento e aplausos. Deba, que foi o mentor desse patrimônio artístico e cultural, tenho certeza, sabia da utilidade dessa moça e da sua sensibilidade artística, bem como daqueles que contribuíram com a ACOMPRA , com o NOARA e com a Rádio Comunitária que ali funciona e presta relevante serviço à Comunidade.
Por tudo, só me resta agradecer a Deba pela sua amizade, sobretudo por ser incluído do seu livro como uma das pessoas que mereceu a sua homenagem.
Meus sentimentos aos familiares, em especial, a Dazinha, a irmã, pela inteira dedicação, aos demais irmãos, pela amizade e companheirismo, aos filhos, pelo afeto e carinhos transmitidos a todos os instantes, às noras, pelo reconhecimento do seu valor e da sua compreensão, aos netos, sobrinhos, primos e demais parentes, pelo respeito e amor a ele dedicados, enfim, a todos que sempre estiveram ao seu lado ate nas suas últimas horas.
Adeus, meu amigo! Descanse em paz!
Ângelo Soares Neto
Patrono Cadeira N. 13
LIÇÃO DE HISTÓRIA
AS DUAS PRIMEIRAS TELEFONISTAS DE MONTES
CLAROS E SUA FORMA DE TRABALHAR NO CT
No ano passado, tive a indelével satisfação de escrever sobre o saudoso Hildebrando Mendes, um dos homens mais notáveis da história de Montes Claros. Fiquei, no decorrer da pesquisa tão interessado na sua obra, no seu raro idealismo, no seu desprendimento para concretizar o seu objetivo, que me esqueci de mencionar o nome das primeiras telefonistas da Cia Telefônica de Montes Claros, empresa criada pelo “seu” Hildebrando Mendes. Foi um lapso imperdoável de minha parte, mas com tempo suficiente para a sua devida reparação.
O leitor deverá levar em conta que não é todos os dias que se encontra aqui em Montes Claros uma pessoa com o idealismo com o do inesquecível Hildebrando Mendes. Era realmente uma figura notável, como notável foi sua obra. E é interessante que até o presente momento o seu nome ainda se encontra em plena escuridão, sem o devido reconhecimento pelos poderes públicos, quando outras pessoas de menor expressão ou mesmo sem qualquer expressão têm seus nomes em estabelecimentos públicos, escolas, bairros, avenidas, ruas,travessas e até mesmo em vilas. Afinal de contas, diria o colunista social, isto acontece nas melhores famílias, logo Montes Claros não seria a única exceção.
Julgava no princípio que a primeira telefonista fosse D Anézia Santos, que ainda continua prestando seus serviços relevantes à Telemig. Esta suposição não é minha. Fiz uma pesquisa sobre o problema. Algumas pessoas, por exemplo, chegaram até jurar pelas chagas do Senhor do Bonfim que a primeira telefonista fosse D Anézia Santos. Ficaria também muito feliz se fosse ela, já que sempre foi uma eficiente funcionária, tanto é verdade que sempre é homenageada pela empresa, mas não é ela. Há, porém, uma verdade. D Anézia Santos é realmente a primeira funcionária da Telemig, quando aproveitamento do pessoal da Cia Telefônica de Montes Claros pela Telemig, foi D Anézia logo transferida para a nova empresa.
A primeira telefonista de Montes Claros foi a então bela e inteligente jovem Lili Fernandes Pinto, de linhagem familiar musical, filha de Henrique Fernandes Ferreira e de Ana Jordelina Fernandes Pinto, nascida em 1920, em Montes Claros, morando ainda na Rua Dr. Veloso 705, defronte do Hospital Santa Terezinha.
O ingresso de Lili Fernandes Pinto, em fins de 1938, na Cia Telefônica de Montes Claros, foi através de sua irmã Antonina Lisboa Fernandes, mais conhecida na intimidade por Nina. Está, na época, lecionava em Rio Pardo de Minas. Minas Gerais. Um dia D. Umbelina, mãe do finado “seu” Hildebrando, conversando com D. Nina, lá mesmo em Rio Pardo, perguntou se ela não conhecia alguma moça do seu relacionamento, capacitada, para trabalhar como telefonista com o seu irmão. D Nina então respondeu que sua irmã Lili correspondia todas as exigências, a começar pela voz, já que era cantora da ZYD-7 com o nome de Maria Marly. Era de boa aparência, muito inteligente, tendo concluído o Curso Normal no Colégio Imaculada Conceição, em 1935, com apenas 15 anos de idade. Regressando a Montes Claros, D. Nina procurou logo “seu” Hildebrando, já comuma carta de recomendação de D. Umbelina, sua irmã. Foi então feita uma entrevista. Em verdade apenas por formalismo, porque ele já a conhecia como cantora da ZYD-7. Afinal de contas, “seu” Hildebrando, mesmo afastado, era funcionário dos Correios e Telégrafos. Onde o formalismo é a nota maior. O primeiro salário de Lili foi de 60 (sessenta) mil réis.
Aqui faço uma pequena pausa para contar uma passagem da jovem Lili com o seu empregador. Um dia ela pediu um aumento,“seu” Hildebrando respondeu que não podia dar. Ela disse que estava apenas perguntando. Ele então respondeu que também estava respondendo. Cada um para o seu lugar. No mês seguinte ela receberia aumento salarial. O horário de trabalho era o seguinte: entrava às 10 horas da manhã. Havia um intervalo de uma hora para o almoço. Voltava às 13 horas e a jornada de trabalho continuava até às 19 horas. Ela saiu da telefônica em 1946.
Recordo-me muito bem de Lili Fernandes, quando jovem, fazendo“footing” na Rua 15. Tanto que a reconheci logo, após quase 30 anos sem vê-la. Falei até com quais as moças que ela andava nos dias do apogeu da Rua 15. Ela cantava na ZYD-7, ao lado de sua prima, a grande Eunice Fialho, que mais tarde se projetaria nas rádios da capital mineira. Era o tempo de Urze de Almeida, Marcos Alexandre, a lendária dupla sertaneja Chico Pitomba e Mané Juca, interpretada pelos poetas Cândido Simões Canela e Antônio Rodrigues. Este, hoje, esta morando em Belo Horizonte.
Aparece de vez em quando em Montes Claros. Cândido Canela continua dando aquele show de conhecimentos àqueles que o visitam no seu templo, ali na Praça Honorato Alves. Lili Fernandesé de família de músicos e cantores. Seu irmão Asclepíades Alcântara Ferreira, grande violonista e cantor dos anos 20 aqui em Montes Claros, tocando e cantando ao lado de Ducho, Adair Sarmento e a inesquecível Dulce Sarmento, nos cinemas e saraus daqueles distantes dias. Ducha, sua falecida irmã era do coral da Matriz. Tinha uma belavoz. Sua outra irmã Maria Piedade Fernandes Fialho, D. Zinha, sogra de meu velho amigo Dr. Humberto Ribeiro, cantava também no coro da Matriz. E sobrinha de Sinval Pereira Fialho, casado com D Zinha, regente já aos 14 anos de idade na Banda de Música de São João da Ponte. Era também Sinval um exímio violonista. Era funcionário da Prefeitura Municipal de Montes Claros. Lili Fernandes é prima das irmãs Lucrédio, trio de cantores da antiga ZYD-7, da década de 40, formada por Feli, hoje professora de canto do Conservatório Marina Lorenzo, Alda e Normanda Fialho, filhas de Arabela Fialho, casado com o falecido Horácio Fialho: D. Bela, como é mais conhecida D. Arabela, desde fins de 1947, mora em Belo Horizonte. Quando meus vizinhos, os Fialho moravam na Rua Bocaiuva, 860. Esta casa esta hoje completamente modificada. Embora distante no tempo e no espaço, mantenho até hoje estreito laço com a família Fialho. Ia me esquecendo de registrar o nome de outra prima de Lili Fernandes. A Nadeje Ferreira Fialho, casado com o meu velho mestre, o hoje professor Heráclides Leite Ferreira, atualmente Governador do Rotary, em Belo Horizonte.
O professor Heráclito esteve no domingo último em Montes Claros, para a inauguração da Praça Rotary, no Bairro Jardim São Luiz. Nadeje é possuidora de uma bela voz. Não sei se cantou na ZYD-7, mas que participava das serestas que as irmãs Lucrécio faziam ali na Rua Bocaiuva não resta a menor dúvida. Naquela época, eu não saia da casa de D Bela, já que o meu falecido mano, o Gonzaga, tinha um namorice com a Normanda, hoje morando em Nova Lima.
A segunda telefonista foi a jovem e inteligente e bela baiana de Rio de Contas, Esmeralda Ramos Maia, na intimidade Zizinha, filha de Abílio Cândido Ramos, integrante da família Ramos/ Teixeira/Pinto/ Viana, das mais tradicionais de Rio de Contas. Ela nasceu em 1925.
Zizinha entrou no Centro Telefônico, em 1939, através d sua amiga Lili Fernandes. Esta já trabalhando com “seu” Hildebrando,
Hildebrando Mendes
Esmeraldina no trabalho.
soube por ele mesmo da necessidade de mais uma telefonista, para fins de revezamento, já que o serviço estava muito para ela. Uma só não era suficiente para a demanda. Encontrando-se as duas numa noite de sábado no “footing” da Rua 15, Zizinha perguntou a Lili se lá na telefônica não havia uma vaga para uma moça, tendo Lili respondido que o “seu” Hildebrando haviatocado no assunto com ela, por isso sugeriu a conveniência de ver o problema, na segunda-feira seguinte, com “seu” Hildebrando. Lili não havia mentido. Zizinha foi à Telefônica confirmou a informação da amiga. Ele já conhecia também a Zizinha. Afinal de contas, Montes Claros era uma cidade de 25.000 mil habitantes. Todo mundo conhecia todo mundo, de sorte que a entrevista foi mais uma vez uma mera formalidade. É bom registrar que por essa época, Zizinha também possuidora de uma bela voz, convidada para cantar na ZYD-7, não aceitou por imposição do velho Capitão Cândido Ramos, seu pai.
Zizinha entrou na Telefônica em fins de dezembro de 1939, dias depois de Lili Fernandes. Ficou no emprego até 1946, já que se encontrava em preparativos para casar-se com o jovem Laurindo Azevedo Maia, filho de uma das mais tradicionais famílias de Montes Claros, residindo o casal hoje na Rua Cel. Luiz Pires, 181, ao lado da Avenida Sanitária. Com a criação do Conservatório Marina Lorenzo, a hoje D. Zizinha fez o curso de violão e educação artística, sendo convidada pela Clarice Sarmento para integrar o seu coral, mas não aceitou, preferindo continuar curtir a família e os netos.
BATOM
Fazendo uma espécie de higiene mental, ou talvez um descanso da leitura, escreve aqui ao leitor uma passagem de Zizinha, quando telefonista, com o “seu” Amaral – Antônio Franco do Amaral Neto. Naépoca não havia esta Telefônica. Tudo era na base da memória. Havia também apenas duzentos aparelhos na cidade. Um dia “seu” Amaral,então proprietário da Casa Amaral, situada na época no cruzamento da Rua São Francisco com a Rua Juramento, hoje Rua Cel. Antônio dos Anjos, procurou D. Zizinha para ver se ela poderia fazer para ele um caderno com todos os números de telefone da cidade. Não havia por que não o atender. Fez então aquele caderno, do jeito que no“seu” Amaral desejava. É bem verdade que ela não esperava nenhuma recompensa, mas como era uma moça bonita, jovem, vistosa, é obvio que lá no fundo esperasse alguma coisa. Isto é mais do que natural. Mandou um menino levar o dito caderno. Horas depois aparece o antigo dono da Casa Amaral muito sorridente, alegre, satisfeito, com uma caixinha e deu a Zizinha. Ela agradeceu dizendo que não precisava daquilo. Fazia apenas sua obrigação. Quando “seu” Amaral se despediu ela abriu a caixinha. Era um batom.
A família de Zizinha veio para Montes Claros em 1932. Na época ela contava com sete anos de idade. D. Zizinha tem cinco irmãos, hoje eles estão na seguinte situação: Anacleto, aposentado como funcionário dos Correios e Telégrafos. Dr. Getúlio Romeu Ramos, advogado, aposentado elo Departamento Jurídico do Banco do Brasil S.A. Após sua aposentadoria no Banco do Brasil foi assessor jurídico do Quartel-General do Exercito no governo Geisel, em Brasília, hoje a convite do senador Maciel, então Chefe da Casa Civil, encontra-se como assessor jurídico da Casa Civil na Presidência da Republica.
Em Montes Claros fez apenas o curso primário. Quando ingressou no Banco do Brasil, mudou-se para o Rio de Janeiro, onde formou-se em Direito; Nívia, professora; Anísio aposentado como inspetor dos Correios e Telégrafos, morando, hoje, em Juiz de Fora; Arquimênio, funcionário aposentado do Banco do Brasil.
SANGUE CIGANO
O velho Capitão Abílio Cândido Ramos parecia correr em suas veias um pouco de sangue cigano. Gostava muito de viajar. A cidadede Rio de Contas embora uma das mais antigas da Bahia, era muito pequena para assegurar o futuro de sua família. Um dia chegou em casa, dizendo que iam embora da Bahia. Iriam para o Estado de Minas Gerais. Veio inicialmente para Monte Azul, a terra do lendário Levi Silva e Souza, na época chamada de Tremedal. Não ficou muito tempo. A cidade era muito pequena para a sua ambição. Ficou apenas dois anos. Um dia em Monte Azul reuniu a família para dizer que iria para Salinas, a terra do Dr. João Cardoso, do Coronel Procópio, do coronel Idalino Ribeiro. Não demorou também muito em Salinas. Lá passou apenas dois anos. Em início de 32, de tanto ouvir falar em Montes Claros, a cidade do futuro, reuniu mais uma vez sua família, para dizer que iriam para Montes Claros. E aí D. Efigênia concordou com o marido, desde que ele desse um basta nesta vida de andarilho.
Zizinha logo que chegou à Montes Claros foi matriculada no Grupo Escolar Gonçalves Chaves, no segundo ano primário, já que fizera o primeiro ano em Salinas, no Grupo Escolar Idalino Ribeiro. Sua primeira professora em Montes Claros foi D. Aurora, sogra do “seu” Pinheiro, ex-proprietário do Hotel Santa Cruz. D. Mundinho Athayde foi sua professora no terceiro ano. E, por último, Maria Celestina de Almeida. Começou a fazer o curso Ginasial no velho Instituto Norte Mineiro de Educação, ali na Praça João Alves, logo que terminou o primário em 1938. Sei irmão Sinhô (Anacleto Ramos) foi colega de tio Ubaldino. E, por sua vez, sua irmã Nívia (Sinhá) foi colega de Nilcéa Veloso Assis, hoje infelizmente viúva de tio Ubaldino.
Zizinha ali no extinto Instituto Norte Mineiro de Educação, teve como colega seu, do curso Ginasial, Binhô Maia, que seria seu cunhado, e Reinaldo Higino que entraria para a história de Montes Claros como um dos seus maiores boêmios e dançarinos, ao lado de Fábio Parrela e Benedito Maciel.
Falei ainda sobre Anísio Ramos, irmão de Zizinha. Anísio, na intimidade Naná, foi um dos grandes nadadores e saltadores de trampolim nos áureos tempos da Praça de Esporte. Hoje esta no anonimato, porém se perguntarem a um Zim Bolão, Zabu, Gilberto dos Anjos, esportistas do passado, lembrarão logo seu nome.
D Zizinha vem de família ilustre da velha cidade de Rio de Contas. Sou também testemunha deste alta qualificação, pois, além de conhecer quase todo o Estado da Bahia, conheço também o nome das famílias tradicionais da Boa Terra, uma vez que um dos meus passeios predileto em Salvador era visitar o Instituto Geográfico e Histórico.
O avô de D Zizinha, o Tenente-coronel José Policarpo Ramos, foi da Guarda Nacional; seu tio coronel Arlindo Ramos foi também da Guarda Nacional; seu pai Abílio Cândido Ramos era capitão reformado em tal posto. D. Zizinha ainda mantém objetos relacionados às patentes dos seus ilustres parentes.
Contando já com 63 anos de idade, o Capitão Abílio Cândido Ramos veio para Montes Claros, falecendo aqui aos 79 anos, exatamente no dia do seu aniversário, 31 de março de 1947.
Além de militar, foi o Capitão Abílio Cândido Ramos um grande ourives. Reformado do Exército dedicou-se à elaboração de obras
de arte, por onde passou. Em Montes Claros, por exemplo, dedica-se ao ramo de ourives, tanto que fez, dentre grandes obras, o Resplendor da Imagem de São Sebastião, para a igreja da Matriz. Esta obra prima, em ouro, ficou por muitos anos exposto, depois desapareceu como num passe de mágica. Creio que a própria Igreja da Matriz o guardou para evitar ser roubado. A verdade mesmo é que ela não está lá mesmo na Igreja.
Quando a família Ramos chegou a Montes Claros foi morar na Rua Justino Câmara, nº 14, casa hoje de propriedade do fazendeiro Zizi Rocha, casado com Bela Oliveira, neta de Viriatinho, irmão do meu falecido padrinho Manoel Viriato de Oliveira.
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(*) JORNAL DO NORTE – Montes Claros, 12 e 13 de agosto de 1987. Página 2
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2º semestre de 2015
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