HOMENAGENS PÓSTUMAS
A SÓCIOS
NOTAS DOS
COORDENADORES DA EDIÇÃO
A ordem de publicação dos trabalhos dos sócios efetivos obedeceu à sequência alfabética dos nomes dos autores. Em seguida, foram ordenados os trabalhos dos sócios correspondentes e convidados;
A Revista não se responsabiliza por conceitos e declarações expedidos em artigos publicados, nem por eventuais equívocos de linguagem nela contidos.
A revisão dos disquetes originais foi feita pelos próprios autores dos artigos publicados.
FINS DO IHGMC
Art. 2º - O IHGMC tem como finalidade a promoção de estudos e a difusão de conhecimentos de história, geografia e ciências afins, do município de Montes Claros e da região Norte de Minas, assim como o fomento da cultura, a defesa e a conservação do patrimônio histórico, artístico e cultural.
Lázaro Francisco Sena
Cadeira N. 55
Patrono: João Luiz de Almeida
APRESENTAÇÃO
Conforme comunicamos em nosso “discurso de posse”, continuaremos
publicando, semestralmente, a Revista do IHGMC,
agora em sua 16ª edição, considerando a importância
deste veículo informativo para a divulgação de textos produzidos pelos
nossos associados e outros julgados de valor relevante. Mantendo
o mesmo padrão e formato dos números anteriores, fizemos apenas
uma pequena alteração de seu conteúdo, retirando dela as matérias de
cunho jornalístico, tais como as atividades desenvolvidas pelos associados,
para divulgá-las no boletim informativo mensal, onde certamente
chegarão ainda com o frescor dos acontecimentos. Fica pois,
a Revista, para publicação das matérias de caráter finalístico do Instituto,
enquanto o Boletim se destina a relatar os fatos do cotidiano de
seus associados.
Temos dito em algumas oportunidades que a simples leitura da
relação dos patronos do Instituto constitui uma “aula” viva sobre o
passado de Montes Claros e da região Norte de Minas. Convidamos
os leitores para verificar essa listagem nas páginas iniciais da Revista e
suscitar nomes ali omitidos, para que, de alguma outra forma, possamos
registrá-los e homenageá-los.
Na presente edição, não tivemos espaço para publicar todas as
matérias encaminhadas pelos associados efetivos, o que, de alguma
forma, aumenta o nosso orgulho pelo trabalho desenvolvido. Mas fica
o compromisso de publicá-las no próximo número. Pedimos ainda
a compreensão de todos, pela inclusão de matérias produzidas por
correspondentes ou por convidados, tudo pela maior amplitude e enriquecimento
de conteúdo.
Tenham todos uma boa leitura, enquanto vão descobrindo e
assimilando pedaços da história de nossa terra, marcados pelos costumes
e pela cultura de seu povo. As fotografias “de época” juntadas aos
textos são o aperitivo oferecido para sua melhor apreciação.
Clarice Sarmento
Cadeira N. 31
Patrono: Dulce Sarmento
Minhas primeiras letras
Minha primeira escola foi o Colégio Imaculada Conceição.
Aos três anos e meio fui matriculada no Maternal, na classe
de Irmã Estelina. A sala ficava ao lado do prédio principal e
estava localizada mais à frente deste, onde hoje está a entrada do salão
de festas.
Depois de tantos anos passados, algumas lembranças estão meio
difusas, mas outras ainda se encontram bem vívidas: o pátio de recreio
onde, enfileiradas, marchávamos cantando “Soldadinho inglês, que
se veste de amarelo, me visto de azul para ser o mais moderno. Se
eu fosse à Espanha, buscar o meu chapéu, azul e branco da cor
daquele céu... etc. (Todas as canções que ouvi e aprendi, desde as
cantigas de ninar, ficaram gravadas, letra e música).
Outros episódios, pela importância que adquiriram na ocasião,
também não foram esquecidos, pois foram traumatizantes e constrangedores:-
Chamadas á frente, uma a uma, para conferir o comprimento
das saias, que, segundo o regulamento, não poderiam ser curtas, ficamos amedrontadas pela postura da Irmã, de fita métrica na mão
e olhar ameaçador. Lembro-me da minha prima, Marli Guimarães,
com a barra da saia desmanchada, sendo censurada e recebendo um
cartão para os pais. (Nem se sonhava com mini saias...)
– Outro acontecimento traumatizante para mim, ocasionou
nossa saída da escola: pedi para ir ao banheiro e a Irmã disse-me para
esperar o recreio, que demorou a chegar. Na fila, maiores à frente,
fiquei em sofrimento. O episódio marcou-me tanto que vejo ainda
minhas perninhas trançadas e a pocinha que ia se formando no chão,
minha vergonha e meu choro ante o riso das coleguinhas que apontavam
e cochichavam... Nisto a Irmã se aproxima e diz: -Coitadinha,
pode passar na frente...Eu, humilhada, com os sapatos e meias encharcados,
levanto a mão e digo:- agora também não adianta mais,
sua diaba! -A freira ficou escandalizada! Buscou minha irmã de cinco
anos em sua classe e nos mandou para casa. Nunca tínhamos andado
sozinhas. Pudera! Com três e cinco anos... Não sei como chegamos,
pois morávamos na praça da Matriz. Aí foi outro espetáculo: Mamãe, de chinelos, como estava em casa, partiu para o colégio. Chamou
a Irmã Estelina de irresponsável, chamou a diretora e também a
responsabilizou. (Naquele tempo professores não estudavam psicologia,
nem didática, não havia orientador educacional... Acho que nem
imaginavam que crianças tinham sentimentos...).
Não voltamos ao colégio, claro. Eu e Nice passamos o resto
do dia assustadas, mas muito orgulhosas do papel principal em todo
aquele dramalhão, que foi lembrado por dias, na reunião da família
no café da tarde do sobrado de Vovó Bilu.
Mudamos de escola, fomos para o Instituto Don Bosco.
Era uma casa comum, com cômodos grandes, onde foram colocadas
carteiras, daquelas para duas crianças, com pés de ferro.
(Mais tarde, nesta casa, funcionaria o Conservatório Lorenzo
Fernândez, esquina de Coronel Prates com Presidente Vargas).
Os diretores eram Dona Alice e o Professor Raimundo Neto.
Era uma escola maravilhosa! Minha professora, Dona Lili Madureira
era adorada pela classe. Aprendemos ler no Livro de Lili. Impressionou-me tanto que, além de ter, como a Lili do livro, uma cachorrinha
chamada Suzete, quis aprender piano para tocar como Lili. Aos cinco
anos lia tudo, mas, só fui para as aulas de Piano de Seu Calixto, aos
sete. Lembro-me ainda de muitos colegas: Maria Luísa Costa(Biza),
Laíce Tourinho, Pedrinho Veloso e os Versianes, Geraldo Barata
(colega de Nice), José Augusto e Marilda, que abria a janela para o
sol bater em seus cabelos “de ouro”, invejados por toda a classe.
Na festa de fim de ano, eu e Biza, vestidas de organdi, eu de rosa, ela
de azul claro, com chapéus com enorme abas, de dentro de uma caixa,
cantamos no concurso das bonecas. Eu cantava: - eu como não tenho
boneca, sou galante e engraçadinha, vou entrar para o concurso,
como uma bonequinha...
Gostei demais daquela escola, mas, com a nossa mudança para
a Rua Melo Viana, ela ficava muito distante para nós. Ademais, logo,
logo, o Instituto fecharia suas portas. Nice foi para o Grupo Escolar Gonçalves Chaves, para o qual eu só iria no ano seguinte, já que,
mesmo sabendo ler e ter sido promovida, com seis anos não poderia
matricular-me no segundo ano. (Para diminuir meu constrangimento
ao confessar que não estava estudando, minha mãe exibia às visitas
minha prova escrita (o teste), com a nota 10.
Também no grupo escolar, minhas recordações estão todas
voltadas para as atividades, os bailados, os cantos e dramatizações.
Sou capaz, até hoje, de escrever as letras e a partitura das cantigas de
roda, das canções escolares cantadas nas Horas Cívicas, dos cantos da
Cruzada Eucarística, do Corinho Santa Terezinha, das músicas das
novenas e procissões. A música foi sempre muito importante para
mim e, no grupo escolar, ela estava sempre presente. Havia muitas
festas, dramatizações, bailados e ginástica rítmica. Formávamos grupos,
como o Pelotão da saúde, o Pelotão das enfermeiras que cantava:”Servas irmãs, dos que padecem, sem ver a quem, seja quem for...”
Marchávamos nas Horas Cívicas entoando hinos patrióticos: “nós somos
da pária amada, fiéis soldados, por ela amados...” Nem sempre as
letras saiam certas. Lembro-me do sufoco que passei para descobrir o
que era “marchando resolutos para a guerra“. Como não conseguia, já
que resolutos não fazia parte do meu vocabulário, ganhei um cartão
de propaganda de “essolube HD”. Não sabia o que era, o que não me
impediu de cantar, daí para frente “marchando essolube para a guerra”.
O importante era cantar...
Dona Quininha Chaves era nossa professora de canto. Batia
palmas para marcar o ritmo e dançava, pra lá e pra cá, sempre de sapato
alto. Terezinha Lima tocava piano e ensaiava os bailados. Dona Helena
Quadros era a diretora, Erotides a porteira. Professoras dedicadas
como D. Alice Figueiredo, D. Maria Rosa e a adorável Alba Alkmim.
Era mesmo “uma escola risonha e franca”! A praça vazia e empoeirada,
com um cruzeiro no meio, ao pé do qual Zú vendia suas “puxas”... Lá
ficaram meus verdes anos da infância, as doces lembranças da escola
e dos colegas...
Outro dia entrei no prédio. O pátio, que era em um nível inferior,
para o qual descíamos por uma escada, foi aterrado. Achei tudo
tão pequeno, acanhado...
Tem razão quem diz que não se deve voltar aos lugares onde foi
feliz. Os quadros guardados na memória registram melhor o que foi
visto com os olhos do coração....
Dário Teixeira Cotrim
Cadeira N. 93
Patrono: Simeão Ribeiro Pires
HELENA LIMA SANTOS
A historiadora, professora Helena Lima Santos, nasceu na antiga
Vila Velha – depois Livramento do Brumado e atualmente
Livramento de Nossa Senhora – que ficava exatamente numa
baixada à jusante da cachoeira do rio Brumado, que desce a Serra
das Almas, no estado da Bahia, no dia 23 de agosto de 1904. Ela era
filha de Manuel Pedro de Lima e de dona Leonídia Maria de Lima.
Em Caetité, ainda menina, ela aprendeu as primeiras letras numa escola
pública. Diplomou-se em magistério na cidade de Salvador, no
Educandário Sagrado Coração de Maria no ano de 1925, assumindo
no ano seguinte, mesmo com todas as manifestações de desagravo
da Coluna Prestes no sertão baiano, a disciplina de Geografia Geral
e do Brasil, na Escola Normal de Caetité, cadeira na qual foi titular
e catedrática, aposentando-se em 1964. A sua nomeação na Escola
Normal de Caetité aconteceu por determinação do Secretário da
Educação, o Dr. Anísio Teixeira, que era amigo pessoal do seu irmão
Hermes Lima. Tendo ainda exercido nos anos de 1952 a 1953 o cargo
de Diretora Geral da Instituição.
Dez anos mais tarde, já no ano de 1936, ela casou-se com o
telegrafista José Sátyro dos Santos (falecido em 1976), com quem teve
três filhos: Fernando Lima Santos, que faleceu ainda criança, Roberto
Lima Santos e Maurício Lima Santos.
Pretendendo apenas suprir a lacuna de informações escritas sobre
a história de Caetité e das suas principais famílias, editou despretensiosamente
em 1976, o livro “Caetité: Pequenina e Ilustre”, em sua
primeira edição, já esgotada. Escreveu, além de “Caetité: Pequenina
e Ilustre”, agora em sua segunda edição, o livro didático “Geografia
da Bahia”, que não chegou a ser publicado pela retirada do currículo
escolar desta disciplina.
A obra trouxe-lhe uma avalanche de informações adicionais sobre
a história caetiteense, seus detalhes, as histórias de suas famílias e
toda sorte de informações, orais, escritas e mesmo fotográficas, que
a autora soube com zelo e disciplina, ir compilando, dando forma e
recheando com sua prosa envolvente, até que, finalmente, plasmou-se
a segunda edição.
“Vê-se que Dona Helena Lima Santos não pretendeu esgotar
Caetité no singelo e valioso estudo que acaba de oferecer-nos. Mas,
seguramente, Caetité pulsa e vibra nestas páginas tão cheias de evocação,
tão rica em presença e de fatos significativos” (José Newton
Alves de Souza)
Caetité é cidade por mais de duzentos anos e todo esse tempo
comandou o processo político, administrativo e religioso do todo o
Alto Sertão da Bahia, pela sua história desde a sua fundação, pinta
a autora em verdade, um retrato da história regional com a chegada
dos primeiros homens para estas plagas, sendo assim, indispensável
aos que pretendam, conhecendo o passado, entender melhor o nosso
futuro, sendo, além disso, um livro fundamental aos que desejam conhecer
esta rica e histórica região do Estado da Bahia.
“Mergulhava nas pesquisas, devorando livros – principalmente
as obras que foram publicadas pelo Instituto Geográfico e
Histórico da Bahia, a partir de 1932, dentre as quais se destaca
o trabalho do Professor Pedro Celestino da Silva, cujo título é
“Notícias Histórica e Geográfica de Caetité”, que exerceu grande
influência na sua carreira e nas dos seus contemporâneos. A sua
dedicação beneditina nas pesquisas lhe fez uma professora exemplar
e atualizada”.
Genealogista calorosa, a autora detalha o registro das primeiras
famílias da região, sendo, também, neste campo, uma indispensável
leitura aos interessados sobre o assunto e, evidentemente, àqueles que
pretendem traçar as suas próprias origens familiares. Hoje o seu retrato
orna, brilhantemente, a Galeria da Câmara Municipal de Caetité,
a cidade tem uma rua que traz o seu nome nas placas indicativas e é
patronesse da Cadeira N. 17 da Academia Caetiteense de Letras. (trecho
das orelhas do livro “Caetité: Pequenina e Ilustre” com algumas
adaptações).
Nesta foto, durante no lançamento do livro “Caetité: Pequenina e Ilustre”, os amigos
Ayer David Cerqueira, Ivanilde Teixeira da Silva – a autora do livro Helena Lima
Santos – Dário Teixeira Cotrim e Lázaro Francisco Sena.
Helena Lima Santos
DEDICATÓRIA
“Ao Dr. Dário Cotrim, baiano vitorioso em Minas, que não se esquece do sertão baiano,
com admiração Helena Lima Santos – Caetité: Pequenina e Ilustre 21-06-1999”.
Edvaldo de Aguiar Fróes
Cadeira N. 01
Patrono: Alpheu Gonçalves de Quadros
DR. ALPHEU
GONÇALVES DE QUADROS
Ao assumir, com grande entusiasmo e honra, a cadeira de número
1 de INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO
DE MONTES CLAROS, no dia 11 de março de 2015, tive a
grata surpresa de ter como patrono o ilustre médico Dr. Alpheu Gonçalves
de Quadros, irmão do meu saudoso sogro Geraldo Gonçalves
de Quadros, portanto, tio da minha esposa Maria Elaine Gonçalves
Godinho Fróes e do meu cunhado o Dr. João Jacques Gonçalves Godinho.
Recordo-me perfeitamente do Dr. Alpheu da disputada campanha
eleitoral para a Prefeitura de Montes Claros, em 1955, quando
meu pai levava para assistir aos famosos comícios nas praças, ás vezes,
com inflamados discursos, intercalados com música adaptadas para o
evento.
Eis as letras de algumas delas cantadas pelos correligionários
dos dois candidatos, evidentemente citando o nome de um ou outro,
nos seus comícios e nas ruas.
Pisa na fulô, Pisa na fulô
Pisa na filô, o Dr Alpheu (ou Dr. Simeão) já ganhou
Pisa no pneu, Pisa no pneu
Pisa no pneu, o Dr Simeão (ou Dr. Alpheu) já perdeu
Alerta minha gente, que três de outubro vai chegar
O povo montes-clarense, em Dr. Alpheu (ou Dr. Simeão) vai votar
Ele promete de braços fortes
Que Montes Claros vai ser Rainha do Norte
Ele promete de coração
Que Montes Claros vai ser Rainha do Sertão.
Naqueles memoráveis comícios não faltava a presença de apaixonados
correligionários, tais como o amigo do Dr. Alpheu, o popular
Lionel Beirão de Jesus, pois os principais partidos políticos, naquelaépoca eram o PSD (Partido Social Democrático), liderado por JK e
o PTB (Partido Trabalhista Brasileiro) fundado por Getúlio Vargas e
os de oposição representados pela UDN (União Democrática Nacional)
e o PR (Partido Republicano). O Dr. Alpheu era candidato do
PSD, coligado com o PTB e o Dr. Simeão Ribeiro Pires candidato do
PR-UDN.
O Dr. Alpheu venceu as eleições naquele pleito de 1955, tendo
como vice o Dr. João F. Pimenta.
Ele, com a sua esposa Maria Helena Prates Gonçalves foram
padrinho do nosso casamento a convite de Maria Elaine.
Tive o privilégio de conhecer e participar dos bate-papos com o
Dr. Alpheu na casa do meu sogro, inúmeras vezes, tornando-me seu
amigo, pois sou um admirador de sua brilhante carreira de médico
clínico-cirurgião, político honesto e competente, fazendeiro dedicado.
Foi um grande cirurgião na sua época, por exemplo, a técnica
do Pneumotórax Terapêutico (injeção de ar na cavidade pleural, com aparelho apropriado) para tratamento de casos avançados de tuberculose
pulmonar, com múltiplas cavernas, cujo objetivo era colapsar
o pulmão afetado e, consequentemente, fechá-las, tudo isso numa era
pré-antibióticos.
Convidei, então, meu cunhado Dr. João Jacques Gonçalves
Godinho para escrever os dados biográficos mais marcantes sobre o
seu tio, o Dr. Alpheu, transcrevendo-os abaixo:
Dr. Alpheu Gonçalves de Quadros
BIBLIOGRAFIA
Texto de João Jacques Gonçalves Godinho
Alpheu Gonçalves de Quadros nasceu no dia 11 de abril de
1900, em uma fazenda hoje denominada fazenda São Paulo, nas margens
do rio Canoas, município de Juramento, na época distrito de
Montes Claros, onde viveu sua infância.
Primeiro filho de João Gonçalves dos Santos e Honorina de
Quadros Sá e Santos, neto do coronel Ângelo de Quadros Bittencourt
(Barão de Gorutuba), tropeiro e fazendeiro, que construiu próximo a
Montes Claros, na região denominada Cedro, uma Fábrica de Tecidos
e uma Usina Hidroelétrica, sendo o primeiro fornecedor de energia
elétrica para a acidade de Montes Claros.
Bisneto de Francisco José de Sá, líder republicano do Norte
de Minas, no século dezenove. Dos seus descendentes, vários foram
homens públicos importantes, ocupando cargos políticos relevantes
no cenário nacional, como Francisco Sá, Camillo Prates, Alfredo Sá,
Francisco Sá Filho e Lincon Prates.
Dez irmãos: Ângelo Gonçalves de Quadros, Francisco Gonçalves
de Quadros, Geraldo Gonçalves de Quadros, Ana Luzia Gonçalves
de Quadros (Nazinha), Jandira Gonçalves de Quadros, Adacy
Gonçalves de Quadros, Jacinta Gonçalves de Quadros (Sinhá), Astor
Gonçalves de Quadros, José Gonçalves de Quadros (Zeca), Maria da
Conceição Gonçalves de Quadros (Lia).
Quando completou sete anos foi estudar em Montes Claros,
morando com seus tios Jacinta de Quadros Quintino (Zizinha) e
Donato Quintino, completando o curso primário no Grupo Escolar
Gonçalves Chaves.
Mudou-se para o Rio de Janeiro onde foi morar com outra tia,
Nazinha de Quadros Sá, deslocando a cavalo até Buenópolis, final da
linha de trem de ferro da Central do Brasil, na época onde desembarcou
rumo à Capital Federal.
No Rio de Janeiro completou o Curso Básico e ingressou na
Faculdade de Medicina.
Foi colega de turma, monitor de anatomia e companheiro de
estudos de José Ribe Portugal, também mineiro, que foi o primeiro
neurocirurgião do Brasil e fundador da Sociedade Brasileira de Neurocirurgia
e da Academia Brasileira de Neurocirurgia.
Nos encontros que tive com o Dr. José Ribe Portugal, por ocasião
de Congressos, pude ouvi-lo falar de sua admiração e amizade
por Alpheu e dos tempos que estudaram e viveram no Rio de Janeiro.
Diplomou-se em 1927 e foi trabalhar em Agudos – SP a convite
do seu tio-avô Gasparino Bittencourt de Quadros Sá, então prefeito
do município, onde exerceu a profissão como cirurgião, ortopedista,
clinico, pediatria e obstetra.
Voltou para Montes Claros, onde exerceu a medicina em toda a
sua plenitude, durante trinta anos.
Casou-se com Maria Helena Prates Gonçalves, educadora, que
foi diretora do Grupo Escolar Francisco Sá, durante vários anos.
Do casal nasceram duas filhas Suzana Thereza Prates Gonçalves
de Quadros que foi advogada e professora na Faculdade de Direito da
FUNM, hoje Unimontes, e Sônia Prates de Quadros Lopes, educadora
e professora da Fafil e diretora da Escola Normal Plínio Ribeiro.
Clínico competente e perspicaz, cirurgião habilidoso, espírito
empreendedor para melhor exercer a sua profissão, associou-se a dois
colegas: Antônio Pimenta e Paulo Roberto para construir o Sanatório
Santa Terezinha, na Rua Dr. Veloso esquina com a Rua Dom João
Pimenta, sendo seu diretor por mais de vinte anos.
Na época, um hospital de primeira grandeza, com todos os recursos
disponíveis, pode realizar sua atividade cirúrgica, ortopédica,
traumas, apendicectomias, hemorrágicas, colecistectomias, cirurgias
ginecológicas, pneumotórax para tratamento de formas graves de tuberculose
pulmonar.
Paulo Roberto, carioca, voltou posteriormente para o Rio de
Janeiro, onde além de médico, era radialista da Rádio Nacional, onde
ficou nacionalmente famoso como apresentador da Lyra de Xopotó.
Foi presidente do Clube de Montes Claros, construindo e inaugurando
sua sede na Rua Dr. Veloso, esquina com a Rua Presidente
Vargas, onde hoje funciona o Conservatório Lorenzo Fernandez.
Quando inaugurada a Praça de Esportes, foi nomeado seu presidente
pelo então governador Benedito Valadares.
Em 1936, por insistência do Dr. Santos – Dr. Antônio Teixeira
de Carvalho – ingressou na política, foi conselheiro da Prefeitura de
Montes Claros e, posteriormente, vereador e presidente da Câmara
Municipal.
Com o falecimento do Dr. Santos, então prefeito municipal
de Montes Claros, foi nomeado para seu substituto até o final do
mandato.
Em 1947 foi reconduzido a Prefeito Municipal, onde permaneceu
no cargo até 1950.
Durante as duas gestões, foram realizadas importantes obras na
cidade. As primeiras pavimentações com paralelepípedo nas ruas Dr.
Santos e Presidente Vargas. Também a captação de água no rio Pacuí
e construção da estação de tratamento de água nos Morrinhos.
Em 1955 foi eleito Prefeito Municipal de Montes Claros e exerceu
pouco tempo o seu mandato para dedicar com mais intensidade
a sua profissão, Passou o cargo para o vice-prefeito João F. Pimenta,
que por sua vez demitiu-se e foi substituído pelo presidente da Câmara,
Geraldo Athayde, que exerceu a função de prefeito durante as
comemorações do Primeiro Centenário de Montes Claros, período
em que realizou a pavimentação com bloquete de várias ruas, com a
construção de avenidas e praças.
Em 1966, a fim de conciliar a congregação de todos os partidos
num candidatura única de Antônio Lafetá Rebello, aceitou ser o candidato
a vice-prefeito, proporcionando a Montes Claros um períodoáureo e dos mais prósperos.
Dr. Alpheu Gonçalves de Quadros, homem dotado de grande
capacidade de trabalho, senso de honestidade e ética, humilde, caridoso,
educado, extremamente cortes, sempre bem humorado, incapaz de ofender alguém. Foi um conciliador nato, admirado e respeitado
até pelos seus adversários, como dizia Dr. Mário Ribeiro da Silveira.
Aposentou-se da política e da medicina para retornar as suas raízes
rurais, dedicando à sua fazenda, às margens do rio São Lamberto,
município de Claros dos Poções, onde a partir de então passou feliz
maior parte do seu tempo, sem deixar de participar das decisões políticas
e das entidades de classe, como conselheiro e exímio conciliador.
Foi também um fazendeiro próspero e dedicado, conquistando
muitas amizades na região de Claros dos Poções, Jequitaí, Água Boa,
Coração de Jesus, Brasília de Minas e Mirabela.
Amigo pessoal de Juscelino Kubitscheck de Oliveira e José Maria
de Alkmim, que hospedavam em sua casa quando vinham a Montes
Claros.
Meu tio, meu padrinho, um dos meus ídolos e inspiradores,
com quem, ainda menino, tibe a felicidade de conviver de perto nas
viagens que fazíamos, durante vários dias, juntamente com meu pai,
seu irmão, Geraldo Gonçalves de Quadros e seu sobrinho, meu primo
e grande amigo João Gonçalves Godinho, pelo interior de Coração de
Jesus, Ibiaí, Brasília de Minas, Água Boa, Mirabela, fazendo compras
de bois para engorda.
Certo dia, quando estava em sua fazenda, chegaram alguns homens
trazendo um rapaz que havia caído sobre uma enxada muito
amolada, cortando o abdômen, sangrando e com os intestinos em
uma bacia, amarrado com um pano. Usando os recursos que tinha,
ali mesmo fez a assepsia e a cirurgia, recolocando as vísceras no local,
fazendo hemostasia, reconstruindo o abdômen e salvando a vida daquele
valente sertanejo.
Nos seus últimos anos de vida, já enfermo e sob meus cuidados
médicos, ainda pude absorver muito dos seus ensinamentos, da sua
experiência e da sua enorme sabedoria.
Não se julgava religioso e viveu pensando ser ateu, porem, com
grande respeito às religiões e acreditando na eternidade, nos últimos
dias de sua vida disse para mim que já estava na hora de mudar para
outro plano da existência.
Não passou em vão pela vida. Fez acontecer, e muito, ajudando
escrever a história de Montes Claros, proporcionando aos seus concidadãos
(palavra que usava sempre ao iniciar seus discursos nos comícios)
uma cidade melhor de se viver e um grande legado às futuras
gerações, de exemplo e realizações.
Felicidade Patrocínio
Cadeira N. 20
Patrono: Camilo Prates
CLARICE SARMENTO
O CANTO QUE ENCANTA
Os anos se passaram, mas eu nunca me esqueci do impacto da
primeira visão daquela beleza bem definida e delicada, mesmo
porque ela continua, apesar da pátina do tempo.
Eu tinha verdes anos e já buscava uma arte. Com um endereço
nas mãos atravessei ruas de uma cidade progressista mas ainda bucólica
em busca da larga avenida Melo Viana. Era lá, numa casa aconchegante,
de jardim, que tinha um objeto ainda raro na cidade, um
piano que soava magicamente. Era lá que morava a minha primeira
professora de música, falo de Clarice Sarmento. Quando ela surgiu na
minha frente, pensei estar diante de uma fada, tal a beleza do seu rosto.
Com delicadeza apresentou-me o teclado, tocando uma valsinha.
A seguir, as notas musicais, a escala, um acorde. Mesmo despojado de
acompanhamentos ou de elaboradas melodias, aquele primeiro som
entrava nos meus ouvidos e acordava a minha sensibilidade estética
como o fazem hoje as grandes sinfonias. Embora fosse o que eu buscasse,
era tudo novo para mim; a arte, e o seu poder de fazer-me elevar
os olhos. Intermediando-a, uma fada cujos movimentos dos braços,em harmoniosa regência, sempre fez, e ainda faz, soar e ressoar pelos
ares desta terra calcinada, uma grande musicalidade. Foi esta fada,
com o seu bastão de regência, verdadeira vara de condão, que fez o
montes-clarense cantar. Despertou-o para a beleza e as possibilidades
de uma transcendência estética, através do recurso da própria voz.
Tornou-se um ícone do ensino da música.
EM BUSCA DA COMPETÊNCIA
Batizada Clarice Augusta Guimarães Teixeira por acréscimo
Gorayska, devido a seu casamento com Yan Michal Goraisky, popularmente
conhecida como Clarice Sarmento (sobrenome do pai),
para atender às necessidades musicais da terra, tornou-se pianista,
compositora, maestrina, professora, escritora, folclorista, fundadora
e regente de muitos corais, também uma das fundadoras e diretoras
da Faculdade de Educação Artística, hoje Faculdade de Artes da Unimontes.
Companheira contumaz de D. Marina Lorenzo Fernandez,
Clarice foi um dos pilares fundamentais da criação e consolidação do
Conservatório de Música Lorenzo Fernandez, de Montes Claros, o
qual considera um filho. Está lá desde a sua criação, passou pela festa
de 50 anos do mesmo e assim continua até hoje, mesmo depois de
aposentada, pois é sempre necessária e solicitada. Nesse educandário,
o primeiro em numero de alunos do Brasil, (atualmente 5.600), por
onde passou, cantando ou tocando meia população de Montes Claros,
mudando a face cultural do norte de Minas, Clarice ”jogou “em
todas as posições”, transformando-se em tudo que fosse preciso no
exercício e ensino da música para o montes-clarense. À Musicalidade,
vocação nata, herança da família do pai clarinetista, membro da
Banda Euterpe, assim como os tios, parte deles instrumentistas de sopro,
parte deles pianistas, Clarice acrescentou competência buscando,
além dos limites da sua cidade, a graduação e as especializações que o
seu metier requeria.
Suas primeiras experiências musicais ecoam lá na mais tenra infância,
pois, ainda criança já cantava no Corinho de Padre Murta, da
Igreja dos Morrinhos. Nos meses de maio de sua meninice, vestia-se
de anjo e soltava a voz nas coroações a Nossa Senhora que sua mãe organizava.
Seu primeiro professor de Piano foi o Sr. Calixto Vasconcelos,
a seguir foi aluna de D. Marina Lorenzo Fernandez, que, antes da
criação do Conservatório, lecionava piano em sua casa. Clarice tinha
colegas como Leila Paculdino, Iraides Peixoto, Artur Ramos e outros
que se tornaram, sob a direção de D. Marina, os primeiros pianistas
do Conservatório de Montes Claros, que tocavam em audições no
Clube Montes Claros e cinemas da cidade.
Paralelo às aulas de piano, D. Marina criou bandinhas para o
desenvolvimento do ritmo, Clarice fez parte da primeira delas.
Mais tarde, no Rio de Janeiro, Clarice graduou-se em piano
e concluiu Especialização em Iniciação Musical para Crianças. Na
Universidade de Uberlândia, pós-graduou-se em Música e Indústria
Cultural. Em Ouro Preto e Belo Horizonte, fez Estudos Adicionais
de Regência e Técnica Vocal com os maestros Carlos Alberto Pinto da
Fonseca, com Eládio Perez Gonzáles, com o Maestro Ernani Aguiar.
O mesmo curso em Brasília, com o maestro Alberto Grau e ainda o
mesmo, no Rio de Janeiro, com o Maestro Gregório Allegri. Também
em Montes Claros, com o Maestro Sérgio Magnani.
No Conservatório Lorenzo Fernandez, de Montes Claros, ao
mesmo tempo em que lecionava várias matérias, frequentou e concluiu
os cursos de Formação em Canto e Flauta Doce, Estudos Adicionais
de Teatro e Artes Plásticas, fez todos os cursos de extensão
oferecidos na área musical, por exemplo: Didática de Piano, Didática
de Canto Coral, História das Artes, História da Música e Estudo Adicional
de Folclore com o Prof. Saul Martins. Tornou-se, por acréscimo,
uma grande pesquisadora de Folclore.
FAMÍLIA
Família, para Clarice é tudo, é o legado maior. Tem lembranças
inefáveis dos pais e irmãos que já se foram. Seu pai, Adail Sarmento,
do qual cuidou na velhice, levando-o para morar consigo, foi músico,
tocador de clarineta, membro da Banda Euterpes, a primeira banda
de música de Montes Claros. Era formado em Magistério, dizia-se“normalista”. Foi comerciante, proprietário de Agência lotérica e do
Bar e Café Sarmento. Sua mãe, Maria Guimarães, era habilidosa em
prendas domésticas, fazia artísticos bolos de aniversário, por encomenda,
pintava tecidos e trabalhava em costura e bordados artesanais
para entidades carentes. Sua natural inclinação ao serviço social levou-a a prestar serviços para o Asilo de São Vicente de Paula, a Casa
das Pobres e à paróquia dos Morrinhos, cuja igreja a teve por zeladora
durante muitos anos. Era lá, nessa Igrejinha símbolo da terra, que
promovia leilões beneficentes, organizava festas, procissões e coroações
onde suas filhas Cleonice e Clarice coroavam Nossa Senhora.
Cleonice, irmã mais velha de Clarice, desde muito nova optou
pela vida religiosa, ingressando na ordem das Irmãs da Imaculada
Conceição, começando pela unidade de Araguari. Mesmo dentro
da Ordem graduou-se duas vezes em Universidades de Uberlândia,
terminando os seus dias em Montes Claros a serviço de Deus e do
magistério no Colégio Imaculada Conceição.
O irmão José formou-se em Engenharia Elétrica em Belo Horizonte,
residiu um tempo no Rio e depois mudou-se com a família
para S. Paulo, onde viveu muitos anos. Morreu ainda novo. Restoulhe
a companhia do irmão Geraldo Sarmento que, já formado em
contabilidade, transferiu-se para B. Horizonte onde formou-se em
Economia. Este também morou um tempo em São Paulo e depois retornou
para sua terra natal, diminuindo assim as saudades de Clarice
dos demais que já se foram.
Do seu casamento com Yan Komorowsky Goraisky - polonês,
de família nobre, e cuja mãe Kristyna era condessa, radicados em
Londres, desde os 5 anos de idade de Yan, devido à invasão da Polônia
pelos alemães e Russos na 2° guerra mundial -, nasceram 3 filhos,
duas mulheres e um homem. Todos os três filhos estudaram no Conservatório
de Montes Claros, mas tomaram outros rumos. Seu filho
Dymitr, formou-se em Ciências Políticas e Relações Internacionais,
graduação e mestrado na Polônia. Reside hoje na Inglaterra, onde
trabalha. A filha mais nova casou-se com um francês e hoje reside em
Saint Etiéne na França, é especializada em culinária Internacional,
Cordon Bleu.
Mais próxima da mãe ficou Maria Tereza, formada em contabilidade
pela FAFIL, residente em Montes Claros.
Clarice confessa, bastante emocionada, que todos os três são
filhos muito bons e carinhosos, lhe telefonam diariamente. A Maria
Tereza a visita, levando os netinhos brasileiros, para ver a vovó Clarice.
O que se percebe em redor de Clarice, além deste amor, é a admiração
e amizade de muita gente, sentimentos justos para quem sempre
amou e se doou integralmente à sua cidade.
AMOR, AMORES
Viveu muitos amores, confessa ter sido namoradeira, mas a
grande paixão, aquela que nunca teve fim foi com o marido Yan (pronúncia
John), pai de seus três filhos, que também a amou até a morte,
o que ocorreu muito cedo, aos 49 anos, num coma de diabétes,
sem nunca ter sido informado que era diabético. Hoje seus grandes
amores são os três filhos e os três netos. Destaca o amor pelos netos
como muito especial; é um amor redobrado, é um amor que só quer
amar. Para ela, o que levamos da vida, o que constitui o sentido da
mesma é o amor, a família e as amizades. Ama também, com toda a
intensidade a cidade em que nasceu e a qual escolheu para morar, embora
tivesse condições de ser vencedora lá fora. Reconhece ter Montes
Claros o mérito de ser classificada como Cidade da Arte e da Cultura,embora seja sempre menosprezada pela classe política. Lembra que
Montes Claros, cidade de mais de 450.000 habitantes, não tem ainda
um teatro, nem um museu, nada que garanta de fato uma vida cultural
rica. Montes Claros deve esta vocação somente ao povo que reúne
ao talento, esforço, e ao Conservatório, que já forneceu e continua
fornecendo ao Brasil grandes artistas. Critica aqueles que de maneira
deturpada, elegem como beneméritos da cidade, os “Tuias” e “Manés
Quatrocentos”.
CLARICE, POR CLARICE
A resposta dada à pergunta “Quem é Clarice?”, ela respondeu:
PROFESSORA. Sou professora de música. Em face da carência de“mão de obra” especializada na área musical, Clarice começou o seu
magistério muito cedo, com 16 anos, quando ainda não era formada.
Durante toda o período formalmente produtivo lecionou os 3 turnos,
diariamente.
Com o fruto de seu trabalho, e numa demonstração de pioneirismo,
aos 19 anos de idade, e ainda solteira, comprou carro próprio,
naquela época, isto foi um fato inédito. No Conservatório de Música,
lecionou quase todas as disciplinas ao longo do seu exercício musical.
Foi, por muitos anos, professora titular de Música, Regência, Canto
Coral e Folclore da Unimontes e do Conservatório, por competência
e por ter sido aprovada em concursos. Foi professora de Educação
Artística do Curso de Pedagogia Musical, um dos melhores que o
Conservatório já ministrou, de Canto Coral e Folclore em diversos
outros estabelecimentos de ensino. Professora fundadora do Conservatório
de Música Lorenzo Fernandez, Professora Fundadora e diretora
(1989/1983) da Faculdade de Educação Artística na Unimontes,
para a qual lutou com garra e determinação evitando sua extinção
devido às dificuldades de ensino tão especializado e de alto custo. E
nós concluímos que ela marcou a alma de meia cidade com o fogo
da arte, proporcionando muita felicidade já que a arte de fato liberta.
CLARICE E OS CORAIS
Clarice considera o Canto Coral a sua grande obra. Começou
como pianista e como tal teve um grande momento quando executou
com a Orquestra Sinfônica da Polícia Militar de Belo Horizonte, nessa
mesma cidade o Concerto nº 1 de Beethoven. O mesmo concerto
iria acontecer em Montes Claros, para onde se deslocaria a Orquestra
o que foi impedido devido se instaurar na data a revolução de 1964.
Criou também bandinhas, mas sua identidade com o canto coral
foi se fortalecendo.
Fundou e regeu: o Coral Lorenzo Fernandez (CELF), o Coral
Lidy Mignone (CELF), Coral Dulce Sarmento (EEPPR), Coral Villa
Lobos(CELF), Coral Júnia Neiva (CELF), Coral Sérgio Magnani
(CELF), Coral Ceci Tupinambá (CELF), Coral Masculino (CAAVA),
Coral Irmã Olga (CIC), Coral Luz dos Empregados da CEMIG, Coral
Elos/Clube, Coral Infantil “Bem-te-vis do Sertão (Escola Municipal
Sebastião Mendes), Coral AABB, Coral da Prefeitura de Montes
Claros. Dentre todos, ela destaca o Coral Lorenzo Fernandez. A formação
de corais da mais alta qualidade e a consagração dos mesmos
em grandes recitais despertou o respeito e admiração pela maestrina
do canto. Através desta arte, ela elevou o nível estético de muita gente,
dos que cantavam e dos que ouviam. Viajou muito pelo Brasil e até
para o exterior, levando grupos e participando de Concursos. Seus
corais participaram dos seguintes eventos: Femaco VII e XIV em São
Luís (MA), no qual o CELF arrebatou o 1° lugar; ENCORAMA VII
e VIII em Maceió (AL); ENACOSE em Aracaju ((SE); Festival de
Arte de São Cristóvão(SE); FEMÚSICA VII e X em Campos (RJ);
Festival de Verão, Guarujá (SP); V Encontro Nacional de Corais em
Natal (RN) e das Festividades do Ano do Brasil na França (França).
Por onde passaram deixaram boas impressões e a marca da musicalidade
montes-clarense.
Criou e organizou os 1°, 2° e 3° Encontro Nacional de Corais
em Montes Claros, trazendo para a cidade grupos de várias partes do
País.
Grandes emoções foram vividas diante de desafios vencidos e
diante da beleza das apresentações. Com lágrimas nos olhos Clarice
lembra o recital promovido com 180 vozes, acompanhado pelo Instrumental
Marina Silva, em 1986 no Cine Montes Claros, quando
executaram “A Missa da Coroação de Mozart”; explica ela que fazer
Mozart com 180 vozes é uma “temeridade” devido à dificuldades da
partitura; isto foi conseguido com ensaios diários durante 6 meses.
Considera esta apresentação como o ápice da sua obra. Outro grande
momento foi a execução da “Missa de Glória de Puccini” em 2001,
também a “Missa em sol M de Schubert em 2006, com coral e Orquestra
Sinfônica. No entanto, a coroação do seu trabalho musical
aconteceria em 2005 na apresentação do Coral Lorenzo Fernandez
na França, nas comemorações do ano do Brasil na França quando
recebeu das autoridades europeias a Medalha de Honra.
COMPOSIÇÕES E LIVROS
Clarice publicou vários livros; um deles foi uma coletânea de
partituras musicais de CANTOS DE COROAÇÃO, outros constituem-se em coletâneas de partituras musicais de “CANTOS INFANTIS
REGIONAIS”, outros constituem-se em boletins de pesquisa e
divulgação do Folclore do Norte de Minas: títulos: “LITERATURA
FOLCLÓRICA “ e “JANUÁRIA CANTA”, SABENÇAS E CRENÇAS
DO NORTE DE MINAS. Tem muitos artigos publicados nos
jornais da Montes Claros, de Belo Horizonte, no Boletim Catarinense,
no Boletim Pernambucano, na Revista Verde Grande, na Revista
do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros e na Revista
da Academia Montes-clarense de Letras. Sua monografia de “Folclore
sobre Medicina Popular” valeu-lhe o troféu “Maria Custodinha”. Já
deixou registrado em gravações o disco “Vozes de Minas”, o CD Bemte-
vis do Sertão, 45 ANOS DE MÚSICA, participou de algumas faixas
do CD dos 3° e 4° “Encontro de Corais Mineiros”. Colaborou
como diretora musical do disco “Cantando Saudades” do Grupo de Serestas João Chaves. Suas composições são entoadas em muitas cerimônias
da cidade, pois algumas delas tratam-se de hinos. Quem
não conhece o Hino de Montes Claros resultado de sua parceria na
composição da melodia com D. Yvonne de Oliveira Silveira na letra.
Da mesma forma, o Hino da Unimontes. É de sua autoria o Hino do
Colégio São José. Como palestrante foi a expositora representante do
Brasil na “PRIMEIRA CONFERÊNCIA SUDAMERICANA DE
EXPERTOS EM CULTURA POPULAR” em Lima /Peru.
Clarice é sempre convidada para participar das entidades culturais
de relevância na cidade, onde sempre marca de maneira produtiva
a sua presença.
Atualmente é sócia da Academia Montes-clarense de Letras, da
Academia de Letras, Ciências e Artes do São Francisco (ACLÉCIA),
sócia do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, e sócia
do Elos Clube da Comunidade Lusíada. Foi Presidente da Fundação
Marina Silva por dois anos e é, no momento presidente da Associação
Cultural “Amigas da Cultura”.
UM ENCÔMIO À CLARICE
Clarice confessa não ter visto o tempo passar, não percebeu a
aproximação da velhice que se avizinha. Discordo dela quanto à velhice.
Clarice jamais envelhecerá porque sua alma transbordante sempre
iluminará seu corpo matéria.
Concordo ser impossível para quem se deu na febre do amor a
arte, prestar atenção no escoar de um tempo monótono de quem o
deixa escapar vazio. Clarice merece um monumento, aliás, ela é o monumento,
uma ode ao canto montes-clarense, um encômio à música.
Clarice é música, sua vida é música. Clarice será sempre uma fada,
uma musa cantante, cuja beleza impar será vista sempre à frente de
uma sala de aula, ao lado de um piano, ou à frente de um grupo vocal,
transferindo o seu rico tesouro. Eu que a vejo agora e com ela dialogo,não percebo diferença de como a via no verdor dos meus anos, quando
estudei e me formei no curso de Pedagogia Musical do Conservatório,
na época em nível de 2° grau; no entanto, bem mais completo
do que o de artes do 3° grau da Universidade hoje. Nunca me esquecerei
das excelentes aulas de Apreciação Musical, quando recebíamos
experiências e instruções para conhecer isoladamente o som de cada
instrumento de uma orquestra sinfônica, para reconhecer o estilo dos
clássicos, para estreitar a familiaridade com os grandes compositores
do Período Clássico, Barroco e outros. Foi através de suas aulas que
conheci a História das Artes, a História da Música e aqueles a quem
amo tanto e que fazem a minha vida mais bela: Wolfgang Sebastian
Bach, Beethoven, Vivaldi e outros tantos compositores maravilhosos.
Foi ela que me ensinou o tempo da semibreve, a solfejar o som do Dó
re mi, o valor do sustenido, do bemol. Foi sob sua regência magistral
que senti uma das maiores emoções estéticas, ao cantar num coral que
reunia todos os corais da cidade, com mais de 180 vozes, a música ”O
Trenzinho” de Villa Lobos. Foi ela que me fez descobrir na música,
a maior expressão do homem. Talvez por isto eu seja um pouco menos
animal e um pouco mais humana. Nós, montes-clarenses, temos
muito a agradecer à Clarice, a inesquecível Clarice Sarmento, cujo
exemplo nos confirma que mesmo sendo breve a vida, a arte que é
longa, através da sua obra, a sobreviverá.
José Ferreira da Silva
Cadeira N. 49
Patronese: Irmã Beata
Irmã Maria Beatriz
(Irmã Beata)
Irmã Beata, uma grande religiosa das irmãs do Sagrado Coração
de Maria Belaer nasceu no dia 29 de janeiro de 1879, na cidade de
Etten, Holanda. Veio para o Brasil no dia 28 de outubro de 1911,
como Missionária para servir aos doentes e as parturientes. Irmã Beata
foi uma personalidade, uma chefe, ela sentia ser chefe, uma líder. Ela
chegou ao Brasil em 1911, acompanhada de outras freiras passou a
trabalhar na Santa Casa que foi criada por Lei Provincial em 1877.
A Santa Casa, ainda que de modo precário, tinha a função de dar
refúgio aos pobres, dar assistência de alimentos curativos em alguma
ferida.
Daniel Costa, homem abastado, deixara sua herança à Irmandade
N. S. das Mercês, fundada por pessoas generosas, sob a direção
de um provedor escolhido. Com a chegada das irmãs de caridade da
Europa, a Santa Casa teve um desempenho mais desenvolvido, inclusive,
por ser Irmã Beata uma parteira. A irmã já na direção da Santa
Casa fazia o parto das mulheres pobres e também a domicílio, das que
tinham melhores condições. Com a entrada do Dr. Antônio Pimenta para provedor, cresceu na Irmandade Nossa Senhora das Mercês
o almejo de um hospital. Dr. Antônio, um visionário trabalhador,
persistente, honesto, construiu um espaço, o maior edifício do Norte
de Minas. Com a chegada de Dr. Konstantin Christoff em 1948 e a
compra do instrumental cirúrgico necessário, a Santa Casa começou
a ser um hospital geral, principalmente em cirurgia, preenchendo,
neste setor, com ajuda de outros médicos, tudo que se fazia e Belo
Horizonte. Daí por diante os pobres eram tratados em todos os casos,
e os ricos aflitos não precisavam precipitar-se na lentidão do trem de
ferro, para ir tratar-se em BH. Até a sua morte no ano de 1952, a Irmã
Beata dirigiu o hospital e um cem número de crianças entraram neste
mundo por suas mãos.
Hoje, o povo, principalmente de Montes Claros, continua a ter
grande veneração pela memória de Irmã Beata, recordando às vezes
o seu auxílio em seus sofrimentos; pois os casos mais difícil sempre
eram resolvidos pela presteza de suas mãos eficientes. Todos se sentiam
agradecidos engrandecendo-a. O respeito eu tinham por ela passou
ao milagroso que veio aumentando, a cada dia após a sua morte
em 08/08/1952.
Salientamos que a Irma Beata dirigiu o hospital, segundo fontes,
sempre com a mesma atitude segura, o olhar tranquilo e a mesma
firmeza de uma crença em algo inabalável. O povo de Montes Claros
considera Irmã Beata uma Santa. Ela vinda de um país rico e desenvolvido,
adaptou-se à situação de uma cidade pequena. Atuou sempre
com caridade discrição, energia, naturalidade, disponibilidade, decidida
e paciente, sem intrometer nos assuntos inferiores daquela gente
ainda pouco civilizada e incapaz de maiores expectativas.
Por tudo que a irmã fez por Montes Claros, ela merece sem dúvidas
ser conhecida e admirada por todos que veem no seu semelhante
a figura do nosso salvador Jesus Cristo.
Fonte: Konstantin Christoff
José Ponciano Neto
Cadeira N. 24
Patrono: Celestino Soares da Cruz
DONA YVONNE E EU
Dona Yvonne de Oliveira Silveira, mulher que ensinou filosofia
pedagógica para mestres e educou por muitos anos os
jovens que hoje estão se destacando no mundo da literatura
e nas mais variadas profissões, encantou-se dia 17 de abril de 2015.
Viveu exatamente 100 anos, 3 meses e 17 dias. Foram muitos
anos de vida e de muito ensino para a humanidade.
Não tive o privilégio de ter sido aluno da mestra, mas os seus
ensinamentos soaram como uma chuva de letras nesta cobiça pela
leitura que carrego comigo.
A primeira vez que me aproximei da Mestra Yvonne foi em
sua casa, na Rua Padre Augusto. Fui para pegar o molde de um ferro
de marcar boi, que o Sr. Olyntho pediu para o meu pai confeccionar.
Também fui uma vez em sua fazenda, próximo de “Francissá” e da
Barragem de Santa Marta.
Yvonne de Oliveira Silveira e José Ponciano Neto
Apesar de conhecer Dona Yvonne há mais tempo, aproximarme
dela era muito difícil. Uma professora inteligente, bem conceituada
e, para nós, “muito rica”. Era difícil porque o acanhamento era
excessivo. Muito mesmo.
Certo dia, cheguei meio ressabiado à sua casa, bati palmas, e
logo veio a mestra com sua voz rouca e seu coque habitual. Afobado,
nem mesmo completei minha frase: - Vim buscar um molde de
...de... E ela, solícita: “Entre. meu filho, fique à vontade”. Sentei-me
em uma cadeira, entre a parede e o fusquinha verde (sua relíquia).
Enquanto o Sr. Olyntho providenciava o molde, ela começou a me
perguntar pelos meus avós, pelo meu tio padre e pela tia Aparecida,
professora. Fiquei tranquilo ao perceber que Dona Yvonne conhecia
minha família mais do que eu.
Outro dia, encontrei com Dona Yvonne numa loja de óculos.
Enquanto esperávamos o ajuste dos nossos aparelhos ópticos, começamos a conversar sobre os Centros Integrados de Educação Publica
- Ciep, um projeto do antropólogo, etnólogo, sociólogo e Senador
Darcy Ribeiro, filho ilustre da Professora Josefina Augusta da Silveira
Ribeiro (Mestra Fininha).
Para Dona Yvonne, os Cieps do Darcy eram a maior obra já
feita no campo da educação pública de base que já conheceu. Teceu
vários elogios ao Professor Darcy e ao Leonel Brizola.
Ela era muito justa nas suas considerações. Muito determinada
na sua posição como educadora.
A mestra sempre foi muito atenciosa comigo. Um dia, fui à sua
casa para convidá-la para participar - como jurada - de um concurso
de cartilhas, que a empresa onde trabalho tinha promovido. Mais
uma vez, recebeu-me muito bem. Antes, todavia, fez questão de mostrar-me o seu “jardim suspenso”, que mantinha sobre sua garagem.
Demonstrou uma satisfação impressionante. Conversei um pouco
com “seu” Olyntho, ali mesmo no alpendre. A mestra me garantiu
que iria participar do juri e nos reencontramos no dia das avaliações.
Só de estar na banca ao lado da mestra me senti o mais premiado.
Passaram-se os anos. Um dia, encontrei-me com Dona Yvonne
e ela logo me parabenizou por um artigo que eu havia escrito sobre
o meio ambiente (“Meio Ambiente, moda ou necessidade”). Para
mim foi como se tivesse recebido o Oscar.
Tempos depois, fui convidado pelo escritor e jornalista Itamaury
Telles para ser membro do Instituto Histórico e Geográfico de
Montes Claros- IHGMC. Aceitei o convite e tive meu nome aprovado.
No dia da minha posse, quem eu encontro por lá? Dona Yvonne
de Oliveira Silveira. Minha satisfação foi tão grande que não acreditava
que a mestra, que tanto admirava, seria doravante minha confreira.
Cada reunião junto daqueles monstros consagrados da literatura
norte-mineira e do Brasil era, para mim, mais um prêmio.
Como se não bastasse, quando tomei posse na Academia Maçônica
de Letras do Norte de Minas, a Mestra Yvonne estava lá. Junto
com ela, a conterrânea do Sr. Olyntho Silveira, a escritora Amelina
Chaves. As duas passaram a ser sócias honorárias da Academia Maçônica.
Só não compartilhavam das reuniões ordinárias.
Entre as inúmeras homenagens que a Dona Yvonne recebeu,
durante sua vida, a que mais me chamou atenção foi a recebida na
Assembléia Legislativa de Minas Gerais. Saí de Montes Claros especialmente
para participar da solenidade.
Além do clã dos Peres e dos amigos de Francisco Sá (conterrâneos
do Sr. Olyntho), eu e a Maria do Carmo Veloso Durães (membros
do IHGMC), todos ficamos admirados com o desempenho da
mestra durante seu pronunciamento de agradecimento. Foram mais
de trinta minutos de maravilhosas palavras, quando destacou todas as
academias e institutos de que fazia parte. No final, arrancou aplausos
demorados do público presente à solenidade.
Os trabalhos literários da Dona Yvonne Silveira ficarão para
sempre, enriquecendo a cultura do nosso Brasil.
Muito Obrigado, Deusa das Letras!
Leonardo Álvares da Silva Campos
Cadeira N. 97
Patrono: Urbino Vianna
O Falso Dr. Douville
Foi bem no lugar em que a parasita matou a rameira. Quem melhor
literalizou essa árvore assassina, que é a designação comum
a diversas plantas do gênero Ficus, foi Monteiro Lobato com
sua obra imbatível Urupês, que surgiu em 1918, parto sem precedentes
e lançando luzes novas, ou estilos a serem grassados, a tantos escritores
que lhe seguiram, valorizando nossa língua com a palavra jeca e
derivados, não faltando nos bons dicionários.
No conto O mata-pau da obra citada, descreve ele a sina homicida
da planta: “Aquele fiapinho de planta, ali no gancho daquele
cedro, continuou o cicerone, apontando com dedo e beiço uma parasita
mesquinha grudada na forquilha de um galho, com dois filamentos
escorridos para o solo. Começa assinzinho, meia dúzia de folhas
piquiras; brota p’ra baixo esse fio de barbante na tenção de pegar a
terra. E vai indo, sempre naquilo, nem p’ra mais nem p’ra menos, até
que o fio alcança o chão. E vai então o fio vira raiz e pega a beber a
sustância da terra. A parasita cria fôlego e cresce que nem embaúba.
O barbantinho engrossa todo dia, passa a cordel, passa a corda, passa a pau de caibro e acaba virando tronco de árvore e matando a mãe –
como este grampudo aqui, concluiu, dando com o cabo no relho do
meu mata-pau.”
Em Formigas, mais precisamente no ano de 1836, apareceu
em Formigas um impostor do explorador e naturalista francês João
Baptista Douville. O verdadeiro Dr. Douville, nascido em 1794 e
falecido em 1837, efetuou viagens de exploração à África Central e à
América do Sul, com resultados profícuos mostrados por toda a Europa.
A história não registra como, mas o embusteiro obteve por meios
fraudulentos papéis, diplomas e títulos do famoso naturalista francês,
exibindo mesmo a todos que quisessem ver até mesmo uma medalha
de ouro recebida pelo outro da Sociedade Geográfica de Paris, após a
edição de sua obra.
Tirando proveito de tudo que não lhe pertencia, mas que os nativos
do lugar acreditavam ser dele, o charlatão conseguiu hospedar-se
na própria casa do então vigário do lugar, Dom Antônio Gonçalves
Chaves, ganhando muito dinheiro praticando a medicina, mormente
cobrando preços exorbitantes.
Era exímio comerciante de cavalos, apesar de ressaltar que se
encontrava no Brasil mandado pelo rei da França, com o objetivo de
estudar seus produtos naturais e costumes, devendo também traçar
um mapa das porções do Império que julgasse necessárias visitar e
estudar, em suas viagens, e sem nunca perder o hábito de ufanar-se de
incursões anteriores pela África.
Contudo, como se diz, aqui se faz e aqui se paga, o falso Douville,
certa ocasião, recebeu um chamado urgente para cuidar de um
fazendeiro abastado, em estado terminal, pelos lados do Rio São Francisco,
para onde se dirigiu prontamente. Contratou salvar o doente
pelo preço de duzentos mil réis, aproximadamente vinte e cinco libras
esterlinas. Mesmo vindo a óbito o paciente, o falso médico insistiu
em receber a importância pactuada, com o que os seus herdeiros, mesmo relutantes, acabaram pagando, mais porque não pretendiam que
aquela soma astronômica ficasse muito tempo em seu poder.
O trapaceiro embarcou rio abaixo, ao mesmo tempo em que
saía em seu encalço um capanga. Este o assassinou já na boca da noite,
quando o mesmo dormia em uma canoa, roubando-lhe, além dos duzentos
mil réis, tudo o mais que mantinha em seu poder. Não muito
adiante, incólume, a tudo testemunhava, mudo, um mata-pau, essa
parasita que tanto encantou Monteiro Lobato.
A história do falso Dr. Douville ficou registrada por outro naturalista
viajante, o médico, também versado em botânica, George
Gardner, em seu livro Viagens ao Brasil, principalmente nas Províncias
do Norte e nos Distritos do Ouro e do Diamante, durante os anos de
1836-1841, tendo sido hóspede do mesmo religioso Antônio Gonçalves
Chaves, que foi quem lhe relatou a desventura do charlatão que ali
estivera pouco tempo antes e com vida de desfecho trágico.
Histórias de tal naipe, em verdade, se multiplicam aqui e alhures.
Desde que o Mar Morto começou a adoecer, temos emergente
submergindo, dando lugar a outro pretenso emergente, achando-se
o último espermatozoide na terra e com inteligência suficiente para
enganar os de boa-fé.
Mesmo os mata-paus acabam um dia, de uma forma ou de outra,
ante a marcha célere do tempo - e o nosso tempo não passa de
uma juventude, pois a velhice nos iguala -, ou por um infortúnio
qualquer. Além da desdita do falso Douville, vamos enumerar dois
outros exemplos. O playboy Doca Street deu cabo da vida de uma socialite
rameira, findando-se assim seus tempos de parasita, e também
o suposto parapsicólogo Orieth Bay, que no setentrião mineiro apareceu
do nada para enganar quase toda a sociedade montes-clarense,
sendo flagrado, já ostentando todos os louros da vitória, dançando nu
nos lupanares do folclórico Zé Coco, verdadeiro incidente ginecológico,
dali mesmo levantando poeira para nunca mais voltar!
Laranjeira azeda não dá laranja lima, observou Monteiro Lobato
bem no lugar em que a parasita matou a rameira, arrematando:“Imaginação envenenada pela literatura, pensei logo nas serpentes de
Laocoonte, na víbora aquecida no seio do homem da fábula, nas filhas
do rei Lear, em todas as figuras clássicas da ingratidão. Pensei e calei.”
Manoel Messias Oliveira
Cadeira N. 60
Patrono: Jorge Tadeu Guimarães
Elogio
Jorge Tadeu Guimarães que, para os íntimos, era apenas “Jorge
Bodão”, nasceu em Montes Claros, em 7 de junho de 1951, filho
de José Xavier Guimarães e Eva Dias Guimarães. Estudou no
Grupo Escolar Francisco Sá e na Escola Normal Oficial Plínio Ribeiro,
onde concluiu o Curso Primário; cursou o Ginasial na Escola
Apostólica São Norberto e fez o Curso Secundário no Colégio Marista
São José, todos em sua terra natal. Ainda jovem, enamorou e se
casou com Jussara Maria de Carvalho, em 17 de junho de 1976, com
quem teve quatro filhos: Ramon, Maria Clara, José Xavier e Samuel.
Foi um pai de família exemplar, nos moldes da família tradicional;
como “cabeça da família”, cuidou com inteira dedicação da prole
proporcionando-lhe educação ímpar, para o enfrentamento dos percalços
da vida. Seu filho Ramon Guimarães, em 2008, por ocasião das
eleições municipais, concorreu a uma cadeira no Legislativo, conquistando
a suplência para o cargo de vereador, e sua filha Maria Clara de
Carvalho Guimarães é pós-graduada em Engenharia Agrícola.
Jorge Tadeu Guimarães tinha grande afinidade com a política
e foi reconhecidamente uma das mais atuantes lideranças do PMDB
em Montes Claros, mérito que lhe rendeu o honroso convite para
compor a equipe de assessoria do ex-prefeito Luiz Tadeu Leite, em
dois mandatos, como titular da Secretaria Municipal de Serviços Urbanos,
no período de 1982 a 1988. Como secretário de Serviços Urbanos,
deu atenção especial ao meio ambiente, cuidando mais dos
parques e jardins, e foi o idealizador do Parque da Sapucaia.
No ano de 1988, pelo sufrágio dos seus concidadãos foi eleito
vereador, para ocupar uma cadeira no Legislativo de Montes Claros,
obtendo expressiva votação. Durante o mandato de vereador, no período
de 1989 a 1992, apresentou importantes projetos e requerimentos
que proporcionaram inconteste melhoria da qualidade de vida
da população do município. No terceiro mandato do prefeito Luiz
Tadeu Leite, retornou à Prefeitura a convite; desta feita, para ocupar
o cargo de Secretário de Governo, cumulativamente com o de Obras
Públicas.
Em face de sua austeridade e dedicação para com o serviço público,
justificadas escusas e após enaltecer a confiança que lhe fora depositada,
decidiu não mais concorrer ao cargo eletivo de vereador ao
Legislativo ou de nomeação no Executivo. Mesmo assim, não afastou
totalmente da política.
O escritor, Jorge Tadeu Guimarães, escreveu e editou em 1997,
o livro “Faces do Legislativo”, que conta com riquezas de detalhes a
história da Câmara Municipal de Montes Claros, quando era presidida
pelo ex-vereador Ivan Lopes. Naquela época aflorou sua vocação
para a literatura. Além do livro “Faces do Legislativo”, escreveu “O
Portador dos Jacintos” e também o inédito “Inhaúma”, que participou
do Concurso de Contos “Guimarães Rosa”, versão 1997, promovido
pela Rádio France Internacionale, de Paris – França.
Cabe aqui ressaltar que, além de escritor, desenvolveu imenso
trabalho de pesquisa sobre a política em Montes Claros e, por extensão,
em outros municípios do Norte de Minas.
Jorge Tadeu Guimarães, faleceu na madrugada de 26 de maio
de 2004, no Hospital São Lucas, em Montes Claros, com 53 anos de
idade, vítima de cirrose hepática, causada por xistose e foi sepultado
no mesmo dia, no “Cemitério do Bom Fim” O velório aconteceu no
plenário da Câmara Municipal com as presenças de representantes de
diversos segmentos da sociedade montes-clarense, principalmente das
lideranças e militantes políticos.
Mara Yanmar Narciso
Cadeira N. 98
Patrono: Virgílio Abreu de Paula
Afonso Celso Guimarães,
nosso Professor do qual
não me esqueço
O segundo sinal após o recreio soa. O Professor Afonso acaba
de entrar na sala. A aula de Física vai começar. Os mais de
trinta alunos estão em burburinho. Faz calor naquela manhã
em Montes Claros. O ano de 1971 vai quase pelo meio. Porte
pequeno, magro, pele morena, sorriso fácil em sua “boca de godê”,
voz afável, cabelos pretos, finos e anelados, passa por entre rapazes e
moças. Está de botas marrons de cano curto, calça de tergal bege de
boca estreita, camisa social branca com as mangas arregaçadas, e leva
o caderno de chamadas debaixo do braço. Raramente traz um livro.
O saber está guardado em seu cérebro privilegiado. Sem beleza, mas
dono de um carisma peculiar entra pela porta à direita, atravessa a
sala ampla e de paredes amarelas, vai até a janela que dá para o imenso
jardim da Rua Padre Champagnat. Espia por ela, volta-se para a sala.
Os alunos já estão sentados. Um quadro verde o espera. Sobre o tablado
há uma pequena escrivaninha de madeira clara. Os alunos têm
entre quinze e dezessete anos. Os estudantes do Colégio Marista SãoJosé formam salas mistas há três anos, invadindo os bem construídos
salões e corredores, numa construção em formato de u, circundando
um belo jardim, ao fundo um campo de futebol e mais além uma floresta
de eucaliptos. Na frente, um pátio de estacionamento com amplos
canteiros. Tudo ali enche os olhos, mas principalmente o espírito.
O assoalho da sala de aulas é de ladrilho hidráulico, as carteiras
são individuais, de madeira clara, que cabem duas pessoas, sem aperto.
O banco de placas de madeira é acoplado por uma barra de ferro
a uma mesa tipo escrivaninha, com um pequeno baú que se abre para
frente. Na parede, acima do quadro e bem no centro da sala há uma
Bandeira do Brasil emoldurada. Estamos na Ditadura Militar. Após
a chamada feita com voz pausada, enfrentando o silêncio, a aula começa.
O Professor Afonso oferece ensinamentos que os mais espertos
levarão para a vida toda. As leis da Física e os problemas são destrinchados
com paixão, porém com estética precária devido à má letra. A
arte do Professor Afonso é outra: esculpir gente de bem.
Depois de limpar o quadro e usando o giz como único recurso
além da voz, os princípios da Física e da vida são ensinados de forma
simultânea. Muitos estão atentos, outros não conseguem acompanhar.
Caso aconteça uma brincadeira, esta é levada com bom-humor
até certo ponto. Passado desse limite, o aluno pode ser convidado a
sair da sala, mas sem estremecer a amizade entre ambos.
Aparência de quase menino, à época com trinta anos, o jovem
engenheiro mecânico formado em Belo Horizonte, é um amigo compreensivo,
que entende e fala a língua dos jovens. Sensato, não perde
tempo nem o caminho, chegando a dar conselhos com dons de psicanalista.
A sua caminhada atua de maneira positiva, sem lição de moral
e com o poder de convencimento dos grandes exemplos. Mais do que
incentivar seus alunos, instiga-os para que estudem. Moças e rapazes
são chamados a opinar, participam, gostam do espaço que lhes é dado.
Demonstra conhecimento, segurança e inteligência emocional,
que resultam numa estratégia boa de ensinar. Generoso, acredita que todos possam aprender. Não ostenta vaidade intelectual, e com naturalidade,
aceita ajuda- necessidade rara- no seu confuso quadro-verde.
O seu brilho é coisa natural.
Escreve distribuindo mal o espaço, tendendo a apertar tudo do
lado direito, subindo serra, braço esticado, na ponta dos pés, explica
e a turma o segue. Não tem preguiça, e o raciocínio é claro. Pontual,
faz o tempo render, sendo ora exigente, ora compreensivo, de acordo
com o momento.
Lá fora o sinal soa aos berros, então o Professor Afonso vai para
outra sala dar a sua última aula. Sai de cabeça baixa e rapidamente,
ainda que o cerquem na porta, indo distribuir seus conhecimentos
mais à frente e para sempre.
Numa roda de ex-alunos, que se encontrassem por acaso, e o
nome do Professor Afonso fosse mencionado seria possível ouvir elogios
bem semelhantes. Cristina Mesquita, hoje psicóloga, estudou,
mas fracassou em sua primeira avaliação de Física. Conta ela que,
vindo do Colégio Imaculada Conceição, onde costumava enfeitar os
cadernos com florzinhas matizadas e destacar-se nos testes, assustouse
com o resultado. Conversou com Afonso, e ele, vendo as flores
desenhadas na prova, e sabendo de qual colégio Cristina tinha vindo,
explicou que ali teria de estudar e não desenhar, coisa de menor importância.
Ela, sentindo-se desafiada, retrucou: “você vai ver de onde
eu vim. Vou te mostrar que além de florzinhas, vou ter bom resultado
nas provas”. O estímulo fez efeito, conseguiu tirar boas notas daí para
frente, tornou-se seu amigo, um alguém que queria participação nas
suas aulas. “Tais lembranças me fazem sentir saudade e gratidão por
esse verdadeiro Professor”, diz a ex-aluna.
Geraldo Lopes Macedo, engenheiro eletricista, administrador e
advogado, foi aluno de Afonso em 1971, e numa ocasião o ajudou a
decifrar um problema de Física. Vejam o que recorda: “Tenho poucas
lembranças dele, apenas aquelas da sala de aulas. Era simpático, modesto,
sem ser humilde, brincalhão, sem excessos, falava baixo e nunca
se alterava. Ficava envergonhado e até se ruborizava caso surgisse
algum comentário feminino não pertinente à aula. Quando alguém
dava um palpite sobre o teor do que ensinava, lembro-me dele falar
assim: “não é que você tem razão?”
Wiltom Soares, ex-professor de Matemática do Colégio Marista
São José, também ex-aluno, recorda-se que quase nunca o Professor
se irritava com os alunos. Era calmo, discreto e um mestre quando falava
das coisas da vida. Entre suas lembranças, Wiltom refere-se a uma
previsão de Afonso de que chegaria o dia em que haveria dinheiro,
mas não mercadoria para se comprar, devido à escassez de produtos.
Aconselhava aos alunos que vandalizavam os bens comuns do colégio
a escrever o que sentiam num papel, amassá-lo com raiva e jogá-lo nolixo. Assim, gastariam sua revolta sem prejudicar aos demais. “Noutra
ocasião”, fala Wiltom, “durante uma viagem, encontrou engenheiros
diante da obra paralisada de uma ponte. Havia um impasse num detalhe
do cálculo da estrutura metálica, sua especialidade, e muito prestativo,
mostrando suas credenciais, ajudou a resolver o problema”.
Afonso também lecionava Matemática e uma vez, na última
aula do dia, quando o sinal já havia soado, a solução do último problema
não vinha. Suando, mas aparentando tranquilidade, o mestre
se sentou, respirou fundo, e logo retomou a questão, enquanto enfrentava
a desconfiança dos alunos. Wiltom recorda de algo espetacular:“de repente levantou-se e disse: está morto, virou defunto!” E
depois, com a solução pronta no quadro completou: “fiquem sabendo
que eu nunca almocei sem antes ter na mão a solução do problema”.
A empresária Dulcemar Soares tem uma memória de fã para
com seu ídolo: “para mim não foi apenas o melhor de todos os professores,
que sabia tudo referente à Física e muito de comportamento.
Nesse quesito também foi brilhante e comprometido com o que fazia.
Foi principalmente amigo e confidente”. Afirma não ter encontrado
defeitos nesse amigo sempre presente, e considera um privilégio
ter tido esse convívio só de boas lembranças. Uma vez, num gesto
de rebeldia, durante a aula de Física, ela se sentou sobre a mesa do
Professor, e Afonso permitiu, continuando a sua aula. A irreverência
não o incomodava, talvez pelo fato de ser jovem e entender os gestos
desafiadores dos alunos. Lamentando sua morte precoce, Dulcemar
continua: “Afonso foi uma figura admirável, um exemplo. Com sua
sensibilidade e sabedoria, nos fazia refletir, nos confortava. Confiável,
ajudou-me a manter o equilíbrio quando tive uma fulminante decepção
numa amizade equivocada. Certa vez fez-me sentir valorizada,
afirmando que eu era um manancial. Isso vindo de quem veio teve
um valor dobrado”.
Formado em Física e Matemática, José Luiz Maia, também ex-aluno, rememora: “falar sobre o Afonso Celso, meu professor de Física do científico, não é uma tarefa fácil. Vários são os motivos para tal,
em particular o risco de perder a fidelidade dos fatos, seja pelo tempo,
por um lado, seja pela incapacidade de compreender a profundeza dos
sentimentos que o alimentavam”. E continua: “Afonso era um mestre
da sensibilidade, sabia ler nas entrelinhas os turbilhões que motivavam
a alma dos adolescentes, sem jamais perder a serenidade, própria
daqueles que procuram entender o próximo como um universo não
necessariamente regido pelas mesmas leis que o seu próprio. Acredito
que muito contribuiu para isso sua alma de piloto forjada no fogo da
sua escolha e estimulada pelas leituras de filósofos/pensadores, como
Antoine de Saint Exupéry e Gibran Khalil Gibran. O piloto observa
do alto o mosaico da vida como vê a própria geografia que o guia ao
seu destino, uma efervescência de buscas, acertos e desacertos, mas
sabe dar aos detalhes a necessária importância. Para ele uma árvore
frondosa ou um córrego que serpenteia em busca da imensidão do
mar, são os referenciais de confiança e que trazem segurança, em épocas
em que GPS e telemetria eram meros sonhos. Assim, de coisas
como essas, dizia o meu amigo: o corte de uma árvore, ou a perda de
um córrego que deixou de correr, desnorteia o piloto, colocando-o em
dificuldades tão sérias quanto seriam a perda de um AMIGO. Levei
muito tempo para entender sua mensagem, se é que a entendi com a
plenitude que ele desejava. Todas as suas palavras eram ornamentos
para uma mensagem especial!”
Como se vê pela poesia das suas lembranças, José Luiz encantou-
se com o Professor. Desapontado com sua derrota no 1º vestibular,
ouviu dele um estímulo: “um homem não é feito apenas de vitórias.
E mais forte será aquele capaz de limpar e afiar as ferramentas, já
gastas pela batalha anterior, e reunindo forças já exauridas reiniciar a
luta! Concentre-se no que você quer e recomece!” José Luiz completa:“Sinto-me grato ao Afonso, não apenas pelo que aprendi com ele,
mas pelo que ainda não consegui aprender, embora me tenha honrado
com sua generosidade, à espera, quem sabe, de que a maturidade
fizesse sua parte.”
Minhas próprias recordações de Afonso são felizes, e minha memória
me traz a grata imagem da sua pessoa, alguém humilde e sábio,
que acolhia, compreendia e reconfortava seus alunos. Era um homem
confiável, com uma passagem marcante pela vida, cheia de trabalhos
executados com total envolvimento.
Eu era uma aluna regular, nos três anos em que tive aulas com
ele, e me sentia bem atendida em minha curiosidade pelos mistérios
das Leis de Newton. Consegui entender o essencial dessas teorias, levando-as para o vestibular. Tenho saudades de tudo, até mesmo de ter
sido convidada três vezes a esperar a aula terminar lá fora. Namorava
o colega Geraldo Macedo e estava atrapalhando. Também me recordo
de um fato desagradável acontecido durante a sua aula. Como as
carteiras eram largas, permitiam que dois alunos se sentassem juntos.
Um dia o Diretor Ladislau Figueiredo chegou e não gostou do que
viu: Geraldo e eu, dividindo o livro de Dalton Gonçalves e a mesma
carteira, na aula de Afonso. Irado, disse para mim: “você deveria ter
um pouco mais de decência”. Nosso querido Professor não se perturbou.
Voltei para minha carteira e a aula continuou.
“Afonso Celso Guimarães nasceu em Montes Claros no dia 28
de dezembro de 1940, e hoje, se estivesse vivo, teria 75 anos, revela
Geralda Magela Guimarães, funcionária pública aposentada, sua
irmã. Conta que foi um filho muito desejado porque nasceu depois
de duas filhas mulheres, sendo que o primeiro filho morreu com sete
anos. A ordem de nascimento dos irmãos foi Antônio, Vicentina, Geralda,
Afonso, Maria Cristina, Antonina, Sônia, Rita, Jorge, e Cláudio.
Dos dez irmãos, apenas quatro estão vivos.
Gêra, como gosta de ser chamada, refere que seus avós Francisco
José Guimarães, o Chiquinho Guimarães, e a avó Guilhermina
Medeiros do O, eram pais do seu pai José Xavier Guimarães, dono
de um amplo terreno naquele lugar, assim, a Vila Guilhermina, hoje
uma área central, tem esse nome em homenagem a sua avó. Seu pai
era construtor e tinha uma fazenda em Nova Esperança. No terreno
da Avenida Cula Mangabeira construiu sua casa com muitas salas e
quartos, que ia crescendo à medida que a família aumentava. Dentro
do mesmo terreno e sob frondosas mangueiras havia outra casa. Parte
da família ainda mora nesse local, próximo ao Hospital Universitário.
A sua mãe se chamava Eva Dias Guimarães.
Afonso foi criado entre sete mulheres, contando com a mãe, e o
pai era muito rígido para com ele. Ainda pequeno, enquanto as irmãs
dormiam divididas aos pares em grandes quartos, ele dormia sozinho,
num quarto menor. A casa era em local afastado, e parecia uma fazenda.
Tinha muitos galos, e, quando algum deles batia as asas, para cantar,
acordava o menino, que, naturalmente, tinha receio e corria para
terminar a noite num dos quartos das irmãs. Isso aborrecia ao pai.
Inteligente e bom aluno fez o curso primário na Escola Estadual
Carlos Versiani e o curso ginasial no Ginásio Diocesano. Lembra-se
que o uniforme era na cor cáqui e um dos cachorros da casa roeu
a ponta do paletó e por um tempo Afonso, envergonhado, usava o
uniforme avariado.
Afonso foi servir o Exército em Lins, no Estado de São Paulo,
onde ficou por um ano, indo depois fazer cursinho em Belo Horizonte.
Clarice Fialho Sena Guimarães, sua viúva, recorda desse tempo,
ocasião em que já namoravam. Morando numa república com
estudantes hoje bastante conhecidos: João Jaques Godinho, Hélio
Guimarães e Antônio Maia, se tornaram grandes amigos. Fez dois
vestibulares e passou nos dois, sendo Engenharia Civil na UFMG e
Engenharia Mecânica na Pontifícia Universidade Católica. Escolheu,
ainda que a civil desse mais status, a mecânica e se tornou um dos
primeiros engenheiros mecânicos da cidade de Montes Claros. “Essa
engenharia foi escolhida devido ao seu talento para Física e Matemática”,
explica Clarice.
Falando a linguagem dos jovens e agindo de forma moderna, os
ex-alunos não sabem, mas Clarice faz uma revelação: “quando Afonso
estudava em Belo Horizonte, eu esperava a autorização expressa dele,
por carta, para sair à rua para comprar alguma coisa. Proibia-me de
cortar os cabelos e exigia fios nas cartas para medi-los e ver que eu não
os havia cortado. Dizia que queria me colocar numa redoma, só para
ele”.
Formado engenheiro, voltou para Montes Claros para trabalhar
na indústria de um tio, a Indumetal, que produzia estruturas metálicas
de todos os feitios, especialmente telhados. Foi ele quem projetou
e construiu o teto do Cine Montes Claros.
Depois de oito anos de namoro, Afonso se casa com Clarice
em 27 de janeiro de 1968, na Igreja Matriz, no modelo tradicional,
indo passar a lua-de-mel no Pentáurea e morar na outra casa ao lado
do pai. Também começou a lecionar Física no cursinho para Medicina
no Colégio São José e depois nas turmas regulares. Em pouco
tempo vieram os três filhos: Franco nasceu em 1969, André em 1971
e Afonso Júnior em 1973. A escolha dos nomes tinha um ritual. Era
preciso fazer uma lista para ser votada. O nome Franco foi escolhido
por ser nome imponente, André Luiz foi uma homenagem ao escritor da Doutrina Espírita. Colocar o nome dele no terceiro filho não era
uma coisa que queria, em princípio, e dizia: “de sofrido, basta eu”,
pois achava que seu nome não lhe dava sorte.
Era antigo e ciumento em demasia, superprotegendo a esposa
e os filhos. Quando saíam, tentava impedir a esposa de olhar para os
lados. Não lhe era permitido fazer a feira. Quando havia uma festa,
juntos compravam uma roupa para que ela fosse a mulher mais bonita.
Prometia que a ensinaria tudo que precisasse, assim, não haveria
necessidade de fazer faculdade. E confessa: “Eu não tinha liberdade
nem autonomia. Não protestava, achava bons esses cuidados todos
e até gostava dele sentir ciúmes. Eu não me importava, porque não
tinha consciência de que era controlada por ele. Dizia me amar e estar
apaixonado, no que era correspondido. Nunca brigávamos e nos
completávamos em tudo. Era um sentimento profundo, de difícil explicação.
Eu tinha muito amor-próprio e total confiança em Afonso”.
A sogra a alertava, mas ela não ligava para as caronas que ele dava para
as secretárias da Biobras.
Gêra confirma: “quando lembram Afonso, dizem que ele era
carismático, uma simpatia. As pessoas queriam estar perto dele por
ser uma alma boa demais. Era vaidoso, gostava de ter admiradoras, de
ficar cercado pelas suas alunas, e embora não fosse bonito, seu sorriso
frequente as atraia”. Ainda hoje, quando os ex-alunos se encontram
com seus filhos, pela semelhança física se lembram imediatamente
dele, falando da saudade que sentem e do dom de ensinar. “A sua boa
obra foi a sua marca”, diz a viúva.
Quando foi trabalhar na fábrica de insulinas Biobras houve
uma melhora financeira, e, devido à falta de tempo, acabou se desligando
do Colégio Marista São José. Lecionou Física e Matemática
na Unimontes, e o laboratório de Física de lá tem o seu nome e seu
retrato. Recebeu essa honraria, em reconhecimento ao seu trabalho,
em contraposição ao seu estilo despojado. Outra homenagem foi dar
nome a uma importante Rua no Bairro Jardim São Luís, iniciativa de
um vereador, sem nenhuma interferência da família.
Praticava aeromodelismo, - lembram Clarice, Afonso Júnior e
Wiltom -, idealizava aviões, foguetes, fazia os projetos, construía as
miniaturas, e as colocava para funcionar. Certa vez, fez uma asa delta
e voou nela saltando de uma pedra na saída de Pirapora, na presença
de amigos. Nadava, mas não fazia nenhum outro esporte.
Sincero e fiel acudiu muitas pessoas. Caso visse um mendigo
doente, dava um jeito de conseguir-lhe tratamento. Uma vez, no Hospital
Clemente Faria, hoje Hospital Universitário, havia um suicida,
próximo a uma árvore, com uma corda no pescoço. Com habilidade,
Afonso, que morava próximo, conseguiu convencer o homem a desistir,
este se recuperou e ficou amigo dele. Mencionaram esse episódio
Afonso Júnior, que conhece o ex-suicida, Clarice e Wiltom.
Deixou seu lugar no Colégio Marista São José para seu ex-aluno
Geraldo Roberto, que ficou bom em Física sob sua orientação. Um
primo de Clarice, Adelelmo Fialho gostava tanto de Afonso que estudou
Engenharia Mecânica para agradá-lo.
Era um pai dedicado que brincava com os filhos nas horas vagas,
levava para passear, dava atenção e presentes. Frequentavam o
Clube Lagoa da Barra e lá, nadava com eles. Prevenido, tinha um
medo exagerado de infecções. Não deixava os meninos andar descalços,
e só podiam tomar água em seus próprios copos. Não usavam
nem os da casa da avó. Quando algum dos meninos adoecia, Afonso
adoecia junto. Eram tratados na Clínica Infantil Branca de Neve,
pelos seus amigos, os pediatras Hélio Guimarães e Antônio Maia.
Deixava-os com Clarice esperando no carro e ia perguntar se havia
alguma criança com doença contagiosa. Mesmo com esses excessos,
Franco teve meningite virótica e André foi mordido por Lobinho, o
cachorro da família.
A esposa trabalhava fora, dando aulas no pré-primário da Escola
Presidente Bernardes. Para isso sempre teve babá, empregada e
lavadeira. Afonso a levava e buscava. Na despedida dava um beijo na boca e ia embora. Caso tivesse alguma reunião e precisasse se atrasar,
telefonava para a servente ficar com ela. Não permitia que Clarice
saísse antes dele chegar.
“Desde os 14 anos fumava cigarros Minister”, relembra Clarice.“Chegou a fumar 60 cigarros por dia, para abandonar totalmente o
vício por um período depois de uma pneumonia”. Em 1976 apresentou
tosse e febre. A radiografia do tórax mostrou uma mancha
suspeita. Financiado pela Biobras, foi encaminhado para Belo Horizonte
para ser submetido à broncoscopia e biópsia. Assustado, Afonso
chegou a chorar nesse dia, diante da suspeita de doença grave, ainda
que falassem poder ser tuberculose. Fez o exame no antigo Hospital
Santa Mônica. Na época, por ter parado de fumar, estava acima do
seu peso habitual, e contava 78 kg (ele media 1 m 68 cm). A biópsia
deu o diagnóstico de câncer no pulmão. Inicialmente pensaram em
operá-lo, mas a equipe recuou ao detectar uma metástase. Iniciou-se o
tratamento radioterápico e quimioterápico. Foram aplicações diárias
de remédios fortes, que causavam vômitos e queda de cabelo, ocasião
em que ele usou uma boina bege à moda de Milton Nascimento.
Clarice ficava ao lado dele na capital e as crianças, ignorando o que
acontecia, ficavam com a avó paterna. Diante do sofrimento, Afonso
perguntou ao médico: “é possível pensar que eu tenha horizontes?”
Ele afirmou que sim. “Em caso contrário eu largaria tudo para ficar
ao lado da minha família”.
Durante o tratamento, Afonso decidiu construir outra casa. Por
influência dos amigos Valdeci Fialho e Cláudio Pereira, que também
fizeram negócio semelhante, optou por comprar uma casa pronta,
financiada pela Caixa Econômica Federal. Com voz embargada, Gêra
fala: “o meu irmão morreu muito cedo. A radioterapia o queimou e a
doença fez dele pele e ossos. Logo que adoeceu, soube de tudo e sentiu
ser remota a possibilidade de cura. A doença evoluiu tão rápida, que
quando se mudou, já estava grave, chegando a morar na casa nova por
apenas três meses”.
O tumor se espalhou para a coluna e ele parou de caminhar.
Sentia dor, mas não precisou usar morfina. Acamado, ainda trabalhava,
e poucos dias antes de morrer, dava ordens pelo telefone. Wanderlino
Arruda, com o qual frequentava o Centro Espírita Canacy, o
visitava com outros amigos da fé espírita e às vezes tinha sessão. Sobre
a mesa, uma grande toalha branca, ao seu redor pessoas benziam umaágua para Afonso beber. O enfermo, enrolado num lençol, esperava
no quarto. Inexplicavelmente, o copo escapuliu da mão de quem o
levava e se espatifou. “Foi uma imagem tão impressionante, que me
fez entender que tínhamos chegado ao fim e nada mais poderia ser
feito”, recorda-se Gera. “Eu perdi muitas pessoas queridas, mas esta
morte foi a mais sofrida para mim. Eu perdi meu irmão para sempre,
uma morte precoce, traumática, terrível. Minha memória falha. Sinto
saudades, mas tenho dificuldade em trazê-lo de volta à minha mente.
São muitos anos já, só não sei quantos.”
Depois do copo espatifado, Afonso ficou lúcido por cerca de
um mês. No último dia em casa, não reconheceu os meninos, e tinha
o olhar parado. Foi quando foi levado ao Prontocor, na Rua Dr. Santos,
numa época em que não havia CTI. Confuso, fraco e com apenas
37 quilos, se tanto, seu cabelo renascido parecia uma poeira fina, e
ele não sabia onde estava. Ficou ligado por uns dias a uma máquina
que lhe fornecia oxigênio. A esposa estava ao lado dele, não percebeu
nenhuma alteração, mas, de repente a mandaram sair, e quando voltou,
ele estava morto. Descreve o momento doloroso: “Desligaram o
aparelho, certamente quando deram o diagnóstico de morte cerebral.
Quando entendi, me descontrolei, fiquei fora de mim, caí sobre o
corpo dele e não vi mais nada. Foi no dia16 de julho de 1978, ele
tinha 37 anos”.
Com apenas duas prestações pagas, a casa foi quitada. Aos 34
anos Clarice, segundo avalia, ficou uma viúva completamente despreparada
e dependente. Quando foi ao banco, o gerente a cumprimentou
como se tivesse ganhado na loteria, o que a deixou chocada,pois, mal havia enterrado o marido. Ficou uma boa pensão e a casa,
vendida quando os meninos eram quase adultos. Foi preciso aprender
a viver, dirigir, e voltar a trabalhar, desta vez na Escola Estadual Deolinda
Ribeiro. O casamento foi uma lua-de-mel de dez anos. Ficou
um buraco do qual ela só conseguiu sair quatro anos depois.
Para Clarice, como os filhos não acompanharam a doença do
pai, ficaram muito traumatizados com a perda, sendo necessário ser
submetidos a tratamento psiquiátrico. Um deles chegou a culpar o pai
pela morte prematura, pelo cigarro e principalmente pelo abandono
do tratamento convencional e a utilização de terapêuticas alternativas,
ocasião em que seu estado se deteriorou rapidamente. Hoje os
filhos estão bem, sendo que Franco fez Direito e é oficial da justiça
do Tribunal Regional do Trabalho, André fez Sociologia e Jornalismo
e Afonso Júnior fez Enfermagem e trabalha no Ministério Público.
André Luís escreveu para o pai em 2014: “Estranho é que não
sei se posso chamar de saudade o que sinto por você. É infinita sem
dúvida a falta que você me faz. O que acontece é que às vezes tenho a
impressão de que você está em algum lugar, e que vou encontrá-lo. O
tempo nesta hora não faz nenhum sentido. É como se ontem eu estivesse
com você. Seus ensinamentos me foram passados e juro que jamais
conheci um ser humano com tamanha sabedoria, inteligência e
solicitude. Sinto sua presença sempre. Se algum dia falar que alguma
coisa deu errada ou não saiu do jeito que deveria ser pela sua ausência,
estarei cometendo a pior das injustiças, pois você é o pai mais presente
que já conheci”.
Agora, André escreve: “Embora tenha perdido meu Pai para a
morte, aos sete anos de idade, sou orgulhoso por possuir o cunho de
seu nome. Conheci seus feitos pelos diversos personagens que passaram
por mim, e ao constatarem de quem eu era filho, queriam contar
a importância do meu Pai e de como ele e seus conselhos haviam
mudado as suas vidas.” Muitos profissionais consideram que os ensinamentos
do seu Pai definiram seus futuros. “Foi alguém adiante do seu tempo, um engenheiro capaz, um psicólogo, amigo e gestor de
extrema maestria, mesmo com seus poucos anos de vida.” André Luis,
igualmente ao seu irmão Afonso Júnior, se refere ao doloroso momento
em que médicos amigos avisaram a eles que o Pai tinha feito uma
viagem, e que não voltaria. Nunca mais!
“Meu Pai foi um homem extremamente simples”, avalia Afonso
Júnior. “Talvez tanta simplicidade na forma de viver estivesse diretamente
ligada à sua sabedoria e inteligência pouco comuns aos jovens
da sua idade. Ouvi relatos de pessoas que o procuravam em busca
de palavras de alento que lhes trouxessem um pouco de esperança. E
incrivelmente, aqueles que o buscavam retornavam para agradecer”.
Um ex-aluno de Afonso desistiu de estudar, mas um dia se encontraram
e o ex-professor “lhe mostrou o universo dos estudos, deu
conselhos que o fizeram retornar”, conta Afonso Júnior. Hoje, dentista
formado em renomada universidade, e bem sucedido, se emociona
falando das aulas de Física. “Meu pai foi um engenheiro competente
e respeitado, que amava a liberdade e com seu jeito modesto tinha sonhos
bem altos. Tão altos que sua paixão era a aviação, sendo membro
do aeroclube de Montes Claros, onde foi tesoureiro. Ainda que não
tivesse brevê, sabia pilotar. Projetou e executou o protótipo de um
monomotor, junto com outro colega e a intenção era montar duas
aeronaves do mesmo modelo. Infelizmente o plano de vôo fora precocemente
interrompido”. Esforçando-se fala: “Lembro-me de poucos
flashes, da sua imagem, sorridente, forte. Passava-me a figura da força,
do indestrutível, do pai herói que toda criança quer ter. Era o esteio
não apenas do lar que construíra, mas também, de toda a família, que
sofreu junto com ele desde o terrível diagnóstico até os seus últimos
dias de vida.”
Eu sabia que meu amigo estava doente, mas quando ele me
parou na rua, para falar comigo, fiquei muda de susto. Estava irreconhecível.
Cumprimentou-me com seu sorriso acolhedor, fez-me perguntas
sobre mim, não reclamou de nada, desejou-me sorte e partiu.
O corpo estava destruído, mas o interior se mantinha intacto. Quanta
grandeza de caráter! O homem Afonso foi um ser de alma iluminada
e de espírito gigante!
Maria Aparecida Costa Cambuy
Cadeira N. 07
Patrono: Antônio Gonçalves Figueira
Da Beleza Natural Do Parque
Estadual da Lapa Grande
“De fácil acesso, dotada de modernos equipamentos de segurança e
espaço maravilhoso para o turismo da cidade, a encantadora gruta Lapa
Grande faz parte do acervo do Parque”.
Felipe Gabrich.
Sou apaixonada pelas belezas naturais, tendo olhos e ouvidos sensíveis
aos encantos do mundo natural e cultural, retorno a mesma
paisagem física, mental ou intelectualmente, observando e
levantando informações. Assim, foi também para obter conhecimentos
geográfico, arqueológico e espeleológico do espaço Lapa Grande,
desde 1967, época da minha primeira visita, ao que hoje constitui a
U.C - Unidade de Conservação Parque Estadual da Lapa Grande.
Os maciços calcários, as grutas e os sítios arqueológicos do
Complexo Lapa Grande constituem um patrimônio natural valioso,
distante, cerca de oito quilômetros da zona urbana de Montes Claros,
situado a 16°42’23’’S e 43°56’25 W e, ou conforme o INPE está
Lapa Grande - 1967, Montes Claros/MG, Visita de Campo. Cursos de Geografia e
História, FAFIL/FUNM e foto atual/2015. Acervo fotográfico da autora.
compreendido pelas coordenadas UTM 604400 a 617000 de latitude
e 8143000 a 815800 de longitude, perfazendo a área do Parque
Estadual, 7.864 hectares, conforme o decreto Estadual nº 44. 204 de
10/01/2006.
Local este visitado por cientistas estrangeiros, entre eles Saint
Hilare (1817) e Eschevege. Na década de 1950, do local foram retiradas
ossadas por “amadores” de Montes Claros, na verdade, visionários,
profissionais estudiosos interessados em conhecer o Município.
Pesquisadores canadenses, na década de 1970, encontraram objetos,
que foram datados de 8.500 anos atrás, o que levou os engenheiros e
doutores Simeão Ribeiro Pires e Artur Jardim a sugerirem a instalação
de um parque no local, se empenhando para realizá- lo.
O pesquisador e professor Lucas Bueno do Museu Natural da
UFMG, com recursos do CNPE e o apoio do IEF /MG, em escavação
no local desde 2006, identificou 47 sítios arqueológicos e mais de
60 grutas e abrigos que foram cadastrados.
O historiador e arqueólogo Rodrigo K. Júnior (USP) encontrou
uma espécie de lança de madeira em uma de suas escavações.
Segundo Bueno (2009), nos abrigos, as ótimas condições de preservação possibilitam a conservação de vestígios vegetais, onde coletou
amostras que remontam a 1200 anos.
Em 2008, utilizando técnicas de Geoprocessamento e Sensoriamento
Remoto foram cobertas nascentes, grutas, rede elétrica, vias
de acesso, casas de antigas fazendas, cobertura vegetal e outros, com
o objetivo de se fazer levantamentos para futuro planejamento. Em
2011, no XV Simpósio de Sensoriamento Remoto (Curitiba), estas
informações foram apresentadas.
O Município de Montes Claros encontra- se localizado no Cráton
São Francisco, na Bacia hidrográfica do mesmo nome, que geologicamente
apresenta sedimentos proterozóicos e fanerozóicos do grupo
Bambui, subgrupo Paraopeba indiviso e formação Lagoa do Jacaré
(CETEC/IGA-1978). Nesse grupo de estratigrafia bem definida,
predominam as rochas carbonatadas, do ambiente marinho
como: calcários, ardósia além de siltitos e margas. A retirada manual
e mecanizada dos calcários fazem a exploração econômica, o que
vem causando danos ambientais como assoreamento do “Pai João” e
o comprometimento do sítio espeleológico e arqueológico. Ocorre o
arenito, geralmente avermelhado e amarelado da formação Urucuia
que capea as rochas do Bambui. Os afloramentos calcários, embora
pontuais, exibem formações cársticas, típicas de regiões tropicais, com
presença de cavernas e superfícies ruiniformes. Existe ainda, cobertura
detrito-lateríticas coluviais e às margens dos rios, há presença de
areia, argila e cascalho (CPRH -2002).
Quanto ao Relevo, Barbosa fala em uma grande estrutura de
plataforma, transformada em planaltos residuais. A U.C. é uma seção
do planalto residual com superfícies bem compartimentadas, apresentando
formas originárias da dissecação fluvial e interflúvios justificados
por nascentes nas superfícies terciárias. É um centro de dispersão
de água com escoamento direcionado sudoeste-nordeste.
Através do processo de dissolução, notam-se espelhos de subsidência
e formação de dolinas, estando ai presentes inúmeras grutas tais como: Lapa Grande, Lapa D’agua, Lapa Pintada e Lapa Pequena
que serão adiante abordadas. A evolução carstica com a corrosão e a
dissolução forma lapiez, goufre e cristas nos afloramentos mais anunciados
do calcário puro. Há rupturas de declives, possivelmente do
terciário (Chagas-2003).
Algumas elevações residuais são notadas como: Serra do Sapé,
Bocaina, Mel, Dois Irmãos (símbolo da cidade) e Alfeirão. A menor
altitude da U.C. é de 680m, correspondendo a 0,89% da área. As
altitudes entre 800 e 960 m correspondem a quase 70% da área total
do Parque. Na região central, nordeste e leste estão as cotas altimétricas
mais baixas, enquanto, as maiores altitudes estão a oeste. A declividade
de 2% a 20%, corresponde a 81% da área total do Parque,
enquanto as maiores declividades estão a nordeste.
Diante do interesse de muitos sobre a questão sismológica em
Montes Claros, abro uma pequena abordagem sobre a mesma. As
feições sismológicas, devido a ocorrência de sismos intraplacas tem
levado a existência de tremores de terra na região de Montes Claros
(Oliveira,2008).
Até 1978, esses abalos, de conhecimento público só tinham registro
histórico, porém a partir desta data, as informações de sismos
passaram a ser registradas por instrumentos. O Observatório Sismológico
da Universidade de Brasília registrou os eventos, todos na Escala
Richter : 1999 (3,5), 2008 (2,3). Em 2009, quatro eventos foram
registrados pela estação JAN 7 em Caraíbas com epicentro a 10km
de Montes Claros. Em 2010 e 2011, foram registradas atividades sísmicas,
com eventos de 2,4/2,3 e 3,2, respectivamente, para (Oliveira-2010) zonas de falhas ou reativação de falhas.
A sismicidade intraplaca é instigadora e desafiadora, assim, estudos
e monitoramentos desses eventos para avaliação dos riscos para
a população e o Parque, devem ser efetivados (Barros-2010).
Fica clara a necessidade da instalação de uma estrutura sismológica
em diversos pontos da região.
Existe um esforço neste sentido realizado pela Universidade
Estadual de Montes Claros com o objetivo de monitorar e informar.
BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A DRENAGEM
As características geomorfológicas exercem função primordial
no mecanismo de escoamento superficial, com penetração de água
no solo de modo acelerado, no período chuvoso, dependendo da estrutura
das rochas. Detritos desagregados mecanicamente, como resultado
das águas pluviais, revestem as encostas, além da existência de
cascatas.
A drenagem é predominantemente superficial, embora sejam
presentes rios ou trechos subterrâneos, nas áreas calcárias mais puras,
formando sumidouros e ressurgências, que se integram ao aqüífero (A
Lapa Grande e Seus Entornos- 1993). Esse espaço abriga nascentes
do rio Pai João/Bois, que se integra ao Vieira, Verde Grande e São
Francisco. Ai está o córrego Lapa Grande (abastecimento), que se integra
ao Pai João. A drenagem endorréica se faz presente, representada
por microbacias de escoamento, onde podem ser encontradas dolinas.
(Chagas-2003)
QUANTO AO CLIMA E VEGETAÇÃO
Em estudos de Climatologia Dinâmica de Montes Claros (Almeida,
1990) apresenta a classificação de clima tropical semi-úmido
(NIMER e Brandão, 1989), com chuvas mais concentradas de novembro
a fevereiro, pluviosidade média anual de 1151 mm e períodos
secos (outono e inverno).
As temperaturas anuais, variando de 23,4°c (1979) a 25,1°c
(1984), o que caracteriza sua condição de clima quente do tipo tropical,
sendo outubro, o mês mais quente.
A vegetação do Parque apresenta cerrados na área de metaxistos
e mata seca, floresta decídua com xerofilia associada aos afloramentos
rochosos de calcário, possibilitando o tom acinzentado, na época
seca (Rizzini, 1979). Da flora podemos citar: Jatobá, Gonçalo Alves,
Barriguda, Sucupira, Aroeira, Mutamba, Cedro, Embaúba, Ipê, Macaúba
e Bambu,além de espécies de porte mais baixo, Mandacaru e
Gramíneas.
A área nordeste do Parque constitui-se de vegetação nativa
preservada entre Cerrado e Mata Seca. A diversificação da flora e os
abrigos possibilitam a existência de mamíferos e aves, alguns ameaçados
de extinção como: Lobo-Guará, Seriema, Mico-Estrela, Veado,
Morcego, Calango e Cascavel, constituindo fauna de valor ecológico
(Diniz, 2006). A U.C. apresenta ainda gramíneas induzidas, constituindo
pastagens. A ação antrópica efetuada por fazendeiros que
ali residiam alterou significativamente a vegetação, pois, atualmente
40% da área apresenta pastagens e solo exposto.
BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE OS SÍTIOS ARQUEOLÓGICOS,
PALEANTOLÓGICOS E ESPELEOLÓGICOS
Levantamentos realizados para caracterização da U. C. Parque
Estadual da Lapa Grande cadastraram 54 grutas e abrigos, sendo a
Lapa Grande (2,2km) de extensão a maior, e teve seu solo remexido
para extração do salitre, utilizado na fabricação de pólvora. A Lapa
D’água (1500m) de extensão apresenta estalactites e estalagmites, cascata
e cortinas. Para a arqueologia, a Lapa Pintada é a mais importante,
pois apresenta anfiteatro com 40 m de altura e que guarda vestígiosde fogueiras e ossos de animais (7800 anos) e amostras da vegetação
(1200 anos). (Lucas Bueno, 2008/2009). Na Lapa da Ossada onde
foram encontradas ossadas de animais e cerâmicos. “São pelo menos
mil pinturas rupestres diversificadas, retratando animais, aves e
mamíferos da Tradição Planalto e elementos geométricos da Tradição
São Francisco, além de uma gravura em baixo relevo.” Melo 2006.
TURISMO E ECOLOGIA
O Complexo que constitui o Parque da Lapa Grande tem grande
interesse científico, turístico e ambiental. Além do cadastramento,
para que seja aberto ao Eco Turismo torna-se necessário um projeto
de proteção e preservação de toda a área. A localização de áreas degradadas
e de solo exposto deverá receber recursos financeiros e atenção
dos gestores do Parque para reequilíbrio ecológico e conservação do
ecossistema.
O plano de manejo para a visita do grande público ao Parque
está sendo elaborado pelo IEF. As áreas de maior declive já caracterizadas
sugerem aos gestores do Parque uma classificação das trilhas para
visitação pública, além de servir de base para os estudos de vulnerabilidade
do solo. O Parque já se encontra aberto à visitação.
O Centro Excursionista Mineiro, através do seu boletim “Escaladas
de Minas 01/07/2012”, publicou informações sobre a área
de escaladas no Parque Estadual da Lapa Grande. A principal área
de escalada é o maciço da Lapa Pintada, com vias entre 20 e 30 mde extensão por fora do abrigo. A esquerda do abrigo, mais a frente,
há uma pedra que é escalada em livre e dá acesso ao platô, onde
iniciam outras vias. Ainda no Complexo da Lapa Grande está a cachoeira“Cosme e Damião”, que é de difícil acesso. Muitas vias foram
denominadas com nomes pitorescos: Aprendiz de Feiticeiro, Tocaia,
Jibóia, Faísca e Fumaça.
Inicialmente, o Instituto Estadual de Florestas, recebeu R$ 18
milhões, em recursos financeiros, sendo que, a maior parte foi aplicada
na desapropriação de áreas das fazendas onde foi instalado o
Parque.
A gruta Lapa Grande, segundo a Secretaria de Estado do Meio
Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, receberá, no futuro, iluminação
através do sistema de Led. Futuramente a área do Parque
deverá ser ampliada para 12 mil hectares, alcançando a nascente do
rio Cedro. A antiga Fazenda Quebradas, de Seu Pedro e Dona Arinha
Veloso com seu secular casarão, aguarda uma restauração, pois irão
compor o Complexo Turístico do Parque, e uma parte de nossa memória
histórica seria preservada. Impedimentos burocráticos legais e
financeiros, se não impedem, atrasam, consideravelmente, essas ações.
É importante lembrar que o acesso ao Parque precisa ser melhorado,
o que, certamente, facilitará visitas.
Visite o Parque Estadual da Lapa Grande em Montes Claros
conhecendo seu rico ecossistema.
Referências Bibliográficas
- CETEC/ IGA. Mapeamento Geológico/ Geomorfológico,
Projeto RADAR, 1978.
- NIMER E BRANDÃO, Edmond e AMPN – Balanço Hídrico
e Clima da Região dos Cerrados – IBGE/ EMBRAPA, 1989.
- Anais do XV Simpósio de Sensoriamento- SBSR, Curitiba,
PR, INPE, 2011.
- Instituto Estadual de Florestas/MG - Instalação da U.C Parque
Estadual da Lapa Grande, 2006.
- ALMEIDA, Maria Ivete. Análise da Precipitação Atmosférica
de Montes Claros – Mímio – UNIMONTES, 1990.
- OLIVEIRA, Roi ET alli. Abalos Sísmicos: Considerações
sobre sismos em Montes Claros.Revistas Cerrados, UNIMONTES,
2012.
OUTRAS PUBLICAÇÕES
- Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros,
volume XIV, 2015.
- CHAGAS, Ivo ET alli. A Lapa Grande e seus Entornos, Caderno
Geográfico,vol. II,UNIMONTES, 1993.
-DINIZ, Ana Elizabeth. Parque Estadual da Lapa Grande.
Google, 2012.
-Parque Estadual da Lapa Grande. Escaladas de Minas,Informativo
online, 2012.
-Turismo Lapa Grande. Google, 2012.
-Revista Verde Grande, Montes Claros, 2005.
____________________
NOTA: Acervo fotográfico da autora.
Maria da Glória Caxito Mameluque
Cadeira N. 40
Patrono: Dr. Georgino Jorge de Souza
A TRANSNORTE
uma história pouco conhecida
O grupo Transnorte iniciou suas atividades em 25 de março de
1971, contando com apenas 17 carros e 60 funcionários e
muita vontade de consolidar o transporte coletivo regional,
através da aquisição da Empresa de ônibus Irmãos Tolentino. Eram
nove linhas que ligavam a cidade de Montes Claros a Pedra Azul, Espinosa,
Salinas, Januária, Guaraciama, Francisco Dumont, Brasília de
Minas e Varzelândia.
Sem dúvida, pode-se garantir que ao longo de sua existência a
Transnorte vem transportando progresso e dinamismo para o Norte
de Minas. Tendo como lema a determinação e coragem de seus fundadores,
a Transnorte contribui para que muitas cidades deixassem
de ser apenas um ponto distante, esquecido no mapa de Minas. E foi
com esse espírito empreendedor e dinâmico que o grupo consolidou
suas atividades , conquistando a posição de líder no setor do transporte
regional.
- Após alguns anos, a Transnorte adquiriu a Empresa de ônibus
Imperial, aumentando a sua frota de 40 ônibus à época para 120.
Atualmente conta com 180 veículos , estendendo os seus serviços para
fora do Norte de Minas, como Belo Horizonte, Rio de Janeiro e outras
cidades.
Em 1972, Henrique Sapori Neto adquiriu a empresa de transporte
coletivo urbano “Faixa Branca”, transformada em Transmoc no
ano de 1973. Tinha sua garagem no bairro Alto São João com oitoônibus e, objetivando um visual mais agradável, providenciou a mudança
de cores dos ônibus.
A necessidade de crescer fez com que a empresa, em agosto de
1981 adquirisse a garagem do Distrito Industrial, atual endereço da
Transmoc.
Com uma frota moderna e atualizada, a Transmoc, conta com
uma frota de setenta lotações que atende a cidade de Montes Claros.
No final da década de 70 fazia-se referência a região norte de
Minas como sendo do Polígono da Seca, onde foram destinados recursos através de projetos da antiga SUDENE para o desenvolvimento
da mesma.
Em 1977 a Fiat Automóveis S/A inicia a sua produção de veículos
e peças com uma rede, que a princípio era restrita às capitais
partindo posteriormente para o interior em suas principais cidades.
Naquele ano a Fiat Automóveis enviou a Montes Claros seus
representantes, para estudar a viabilidade da implantação de uma
concessionária nesta cidade.
Vários grupos foram selecionados para o referido empreendimento,
sendo escolhido o grupo TRANSNORTE/TRANSMOC/POLÍGONO em virtude de sua solidez e de grande capacidade empresarial
de seu fundador HENRIQUE SAPORI, neto de imigrantes
italianos.
A POLIGONO VEICULOS E PEÇAS LTDA foi inaugurada
em 1º junho de 1978. Idealizada pelo seu fundador HENRIQUE
SAPORI NETO, e seus sócios TRANSNORTE TRANSPORTE E
TURISMO NORTE DE MINAS LTDA, ANTÔNIO SAPORI,
HONORIVAL VIANA DE MOURA, THALES TEIXEIRA DE
OLIVEIRA, MANOEL COSTA, que apostaram no crescimento de
uma nova marca no mercado brasileiro, a FIAT, e também no crescimento
e desenvolvimento do Norte de Minas, com o surgimento
de novas empresas, aumento de emprego e aumento no potencial de
vendas e prestação de serviços, a POLIGONO se consolidou no comércio
de veículos novos, seminovos, peças e acessórios, bem como
prestação de serviços de assistência técnica, consertos e reparos de veículos
e afins.
A empresa estabeleceu sua marca acreditando que “Só é possível
fazer mais quando se faz junto”, confiantes neste ponto como fator de
sucesso e permanência neste segmento, faz acreditar que solidificará
cada vez mais a marca POLÍGONO, promovendo assim, resultados
para todos os sócios e colaboradores que se dedicam ao trabalho realizado por esta empresa. Cultivando um ambiente de integridade,
criatividade, cortesia, credibilidade, respeito e busca constante pelo
conhecimento, os seus sócios têm plena convicção de que crescerão
vertiginosamente contando sempre com a participação de todos.
Mas essa história começou anos atrás com a vinda de italianos
para o Brasil.
“Que entendeis por uma Nação, Senhor Ministro? É a massa
dos infelizes?
Plantamos e ceifamos o trigo, mas nunca provamos pão
branco. Cultivamos a videira, mas não bebemos o vinho. Criamos
animais, mas não comemos a carne. Apesar disso, vós nos aconselhais
a não abandonarmos a nossa Pátria? Mas é uma Pátria a
terra onde não se consegue viver do próprio trabalho?”
(Fala anônima de um italiano para o Ministro de Estado
da Itália. Séc.XIX)
Ano de 1887: a nação brasileira estava passando por um período
de ebulição com as idéias abolicionistas. Membros do Partido
Liberal e do Conservador defendiam a libertação dos escravos, também
defendida por intelectuais e jornalistas da época. Em 1850, a Lei
Eusébio de Queiroz já proibia o tráfico de negros e começava a surgir
a falta de mão de obra nas zonas cafeeiras . Ao mesmo tempo surge
um grupo de fazendeiros que defende o uso de mão de obra livre nas
plantações de café. A Lei do Ventre Livre em 1871 e a Lei dos Sexagenários
em 1885 anunciavam que não demoraria o fim da escravidão.
Na mesma época, a Itália passava pelas guerras da Unificação
Italiana e após o fim dessas, a economia italiana se encontrava debilitada,
associada a problemas de alta taxa demográfica e desempregos.
Os Estados Unidos passaram a criar barreiras para a entrada de estrangeiros.
Tais fatores levaram ao início de maciça imigração de italianos
para o Brasil, já iniciada a partir de 1870.
Os primeiros imigrantes vindos da Itália instalaram-se no sul
do Brasil, onde agruparam-se em colônias agrícolas, muitas vezes
compostas exclusivamente por italianos. Dessa maneira, o doloroso
fato de abandonar sua terra natal se tornava mais ameno, a partir do
momento em que o imigrante tentava recriar em terras brasileiras características
de seu país de origem.
Embora tenha sido a região sul a pioneira na imigração italiana,
foi a região Sudeste que recebeu o maior número de imigrantes, por
causa da expansão das lavouras de café em São Paulo. Com o fim do
tráfico de negros e o sucesso da colonização italiana no Sul, o Governo
Paulista passa a incentivar a imigração italiana para trabalho nos
cafezais. A imigração subsidiada de italianos começou na década de
1880. Os próprios donos das fazendas de café tratavam de atrair imigrantes
italianos para as suas propriedades. Os proprietários de terras
pagavam a viagem e o imigrante tinha que se propor a trabalhar nas
fazendas para devolver o valor da passagem paga.
Dessa forma, atraídos por benefícios anunciados pelo governo
brasileiro, grande número de italianos aportaram no Brasil, para substituírem
os negros na lavoura cafeeira, notadamente após a abolição
da escravidão. São Paulo concentrava a maior parte das lavouras, mas
Minas Gerais tornou-se um dos maiores redutos da colônia italiana
do Brasil, sendo que colonos agricultores foram atraídos para os arredores
de Belo Horizonte e trabalhadores para o café, atraídos para o
sul de Minas.
Os imigrantes italianos, na sua maioria, imigravam para o Brasil
em famílias e eram chamados de colonos. Os fazendeiros, acostumados
a trabalhar com escravos africanos, passaram a lidar com trabalhadores
europeus livres e assalariados. No entanto, muitos italianos nas
fazendas de café foram submetidos a jornadas de trabalho maçantes
como as enfrentadas pelos escravos e muitos eram tratados como se
o fossem. Essa situação gerou muitos conflitos entre os imigrantes
italianos e os fazendeiros brasileiros, causando rebeliões e revoltas. As notícias do trabalho semi-escravo chegaram á Itália, e o governo italiano
passou a dificultar a imigração para o Brasil.
São Paulo recebeu 70% dos imigrantes italianos e muitos conseguiram
escapar das abusivas fazendas de café e se instalaram nos
centros urbanos. O imigrante italiano participou ativamente do desenvolvimento
do comércio e de atividades urbanas. Em 1900, 81%
dos operários fabris de São Paulo eram italianos. Assim, membros da
comunidade italiana passaram a compor a elite paulista.
Minas Gerais tornou-se um dos maiores redutos da colônia
italiana no Brasil. A imigração ficou dividida em dois segmentos:
colonos agricultores que foram atraídos para os arredores de Belo Horizonte
e trabalhadores para o café, atraídos para o sul de Minas. Em
1900 já viviam no Estado, mais de 70 mil italianos.
O imigrante italiano normalmente vinha para Minas Gerais
acompanhado de sua família (com uma média de 3 a 7 pessoas),
oriundos do norte da Itália. Houve um ligeiro predomínio de homens
e de pessoas solteiras (55%) seguidas por casadas (43,3%). O
restante era viúvo. Ao contrário do que sucedeu no resto do país, onde
predominou o imigrante miserável e analfabeto, o italiano em Minas
gerais era melhor instruído e mais rico, de forma que permanecia
uma média de dez anos no campo e depois migrava para os centros
urbanos, como Belo Horizonte e Juiz de Fora, em busca de melhores
condições.
Os imigrantes e seus descendentes contribuíram ativamente
para o desenvolvimento da agricultura, urbanização, da indústria, do
comércio e da identidade cultural do Estado, inclusive sendo fundadores
do Cruzeiro Esporte Clube, antigo Palestra Itália.
E foi nesse cenário, que apinhados em navios que saiam da Itália
em direção ao Brasil, muitas famílias italianas chegavam, na esperança
de conseguirem trabalho, atraídas por promessas de melhores dias e
alimentando o sonho de encontrar no Brasil a terra onde poderiam
reconstruir suas vidas.
O Século XIX foi marcado por uma intensa imigração de europeus
para o Brasil. O alto crescimento da população e o acelerado
processo de industrialização afetaram diretamente as oportunidades
de emprego naquele continente. Estima-se que mais de um milhão de
italianos emigraram para o Brasil, tendo como ápice a faixa de tempo
entre os anos de 1880 e 1930.
O COLOMBO era um dos navios que fez por muitas vezes a
rota Gênova/Santos. Construido na Inglaterra em 1873, servia como
cargueiro sob o nome BRAZIL, até ser adquirido pelo italiano Giácomo
Cresta em 1888. Após sofrer uma reforma que o transformou
em navio misto, foi rebatizado como COLOMBO e em setembro
de 1888, comandado pelo capitão Antônio Mangini fez sua primeira
viagem transportando imigrantes para o Brasil.
O COLOMBO tinha capacidade para transportar cerca de
700 passageiros em acomodações comuns e 80 a 100 em classe cabina
(alojamento individual) e não obstante dispusesse de instalações
frigoríficas para armazenar víveres frescos – no que foi pioneiro – o
transporte dos imigrantes era feito em precaríssimas condições. (pesquisa
feita por José Carlos Rossini, a pedido de David Pilatti Montes
in “Esperança de uma nova vida”)
Fez muitas viagens na rota Gênova-Lisboa-Rio de Janeiro-Santos,
tendo sido palco de várias epidemias a bordo, com registro de
muitas mortes. Em 1898 o Colombo foi cedido à empresa Ligure
Brasiliana, recém-criada pelo também italiano Giulio Gavotti, que
como armador autônomo já o fretava para acudir a seus compromissos
de fretamento. Foi ainda utilizado para transporte na linha Norte
do Brasil, rota em que permaneceu até o final de 1900, quando foi
colocado nos estaleiros para uma ampla reforma. Ainda singrou os
mares em direção a Belém e Manaus, com imigrantes e carga até 1904
e em 1905 foi vendido para sucata, tendo sido desmantelado no ano
seguinte.
Em uma dessas viagens, no ano de 1897, encontravam-se entre
centenas de famílias, relacionados nas listas de passageiros as seguintes:
Evangelista Sapori , sua esposa Rosa Sapori e os filhos: Carlo, de
23 anos, com sua esposa Virgínia; Maria, de 17 anos; Marina, de 14
anos; Elena, de 12 anos; Enrico, de 10 anos; Ângela, de 04 anos; Clélia,
de 02 anos e Adolfo, de um ano, embarcados em Gênova Eugênio
Gibelini, sua esposa Luigia e os filhos: Cesira, de 21 anos; Ida, de 16
anos e Ernesto, de 08 anos.
Domenico Demaria , sua esposa Teresa e os filhos: Alberto, de
18 anos; Emílio, de 16 anos; Augusto, de 13 anos; Giusepe, de 12
anos e Genoveffa, de 07 anos.
Em outro navio, o Les Andes . no mesmo mês e ano, chegava
ao Brasil uma outra família de italianos: Lorenzo Faluba, sua mulher
Modesta e seus filhos: Maria, de 16 anos; Francesco, de 13 anos; Beniamino,
de 12 anos; Caterina, de 07 anos; Pietro de 02 anos e Ângelo,
de 04 meses apenas.
As quatro famílias foram acolhidas na Hospedaria de Imigrantes
em Juiz de Fora, em setembro de 1897, conforme consta em certidão
exarada pelo Arquivo Público Mineiro a pedido de Rosângela
Gibelini. Da mesma certidão consta que as três primeiras famílias
deram entrada na Hospedaria em 25 de setembro e saíram em 27 de
setembro de 1897, procedentes de Gênova, na Itália, constando no
registro, de profissão: agricultores, de religião católica. Contratante:
José de Figueiredo Neves e destino: Fazenda das Pedras, município de
Sete Lagoas, em Minas Gerais. Natureza da lavoura: café.
A família Faluba deu entrada na mesma Hospedaria em 01 de
setembro e saída em 05 de setembro de 1897, também de profissão
agricultores, de religião católica, sendo contratante o mesmo José de
Figueiredo Neves e o mesmo destino, ou seja, Fazenda das Pedras em
Sete Lagoas, Minas Gerais.
Algumas famílias desembarcavam em Santos, outras em Vitória
-ES e outras no Rio de Janeiro. Vieram porque o governo prometeu
trabalho, mas quando chegaram aqui, sentiram-se enganadas por
falsas promessas. Na Itália a situação era difícil e para aqui vieram
alimentando um sonho . Lá trabalhavam em fábricas e ao desembarcarem
foram conduzidos para as lavouras de café que precisavam de
homens e mulheres para substituírem a mão de obra escrava, de vez
que libertos, os escravos deixavam as fazendas, com grande prejuízo
para os senhores da terra.
De Sete Lagoas, depois foram para a Fazenda Monjolos, nas
proximidades de Ribeirão das Neves, de propriedade de João Gonçalves,
onde começaram a trabalhar.
Entre os filhos do casal Evangelista e Rosa Sapori, encontrava-se
o menino Enrico de dez anos de idade. Cresceu trabalhando com o
dono da Fazenda que gostava muito dele. Toda a família trabalhava
na lavoura do café.
Segunda filha de Eugênio e Luigia Gibellini, a menina Ida que
veio no mesmo navio, chega ao Brasil, com 16 anos. Mais tarde,
Henrique casa-se com Ida, pois havia um costume entre eles de se casarem
dentro da família, porque como sonhavam voltar para a Itália,
quando isso acontecesse, não haveria problemas, porque faziam parte
de uma só família.
Do casamento de Enrico Sapori e Ida Gibellini vieram os filhos:
Luiz, Antônio, José, Maria, Anita e Amélia e do casamento de Francisco
e Helena Maria, Gigio, Vicente e Henrique.
Elena era irmã de Enrico, filha de Evangelista e Rosa Sapori,
tendo se casado mais tarde com Francesco Faluba. O primeiro filho de
Enrico e Ida, Luiz, casa-se com Maria, a primeira filha de Francisco e
Helena e deste casamento nascem os filhos: Maria, José Luiz, Antônio,
Henrique, Luiz e Francisco.
Parece uma história complicada, mas necessária para chegarmos
a Henrique Sapori Neto, o protagonista deste relato, cujos antepassados
vieram da Itália para trabalharem nas lavouras de café no Brasil.
HENRIQUE SAPORI NETO foi casado com Dona Maria da
Conceição Guimarães(Dona Nenzinha) e pai de quatro filhos : Henrique
Rachel, Renata e Rosana.
Nasceu em 08 de abril de 1939 e faleceu em17 de agosto de
1985, com 46 anos. Sua vida foi curta, mas intensa e cheia de muitas
realizações. Idealizador e fundador da Transnorte e outras empresas,
deixou uma semente que deu frutos e permanece até hoje.
Para escrever sua história, a pedido e um sonho de sua filha
Rachel, entrevistei grande número de pessoas, todos unânimes em
afirmar que ele foi um homem à frente do seu tempo, trabalhador,
idealista. Viajamos a Ribeirão das Neves e Belo Horizonte, para entrevistar
parentes amigos e o jogador de futebol Wilson Piazza que
conviveu com ele nos tempos de juventude. E em Montes Claros parentes,
amigos e funcionários.
Narra o seu irmão Antõnio Sapori: “ Quando tinha 21 anos,
morando em Ribeirão das Neves, uma pessoa o chamou na porta
da Igreja Metodista oferecendo a ele uma empresa de transporte. Ele
gostava era de fazenda, de hipismo, mas o avô falou que ele não devia
fazer as coisas só pra ele, tinha que olhar pelos irmãos. Aconselhou-o
a fazer o negócio: a entrada era 500 mil réís e ele tinha esse dinheiro,
da venda de feixes de lenha. Vovô dizia: “Cavalo passa arreado uma
vez só...Tem que ficar boneco e pegar”.
“Eu tirava a lenha, ia para o IAPI e vendia o feixe a quatro contos.
Fui juntando; cheguei a juntar 500 mil réis . Um dia falei com
meu avô:’ Vou comprar a empresa. O senhor queria fazer salário pra
nós, mas não precisa se preocupar, nós vamos trabalhar.’’ Resolveu
fechar o negócio: aí chamou Henrique e disse que o negócio era com
ele, que gostava de carro. A Empresa chamava Viação Nossa Sra. dasNeves. Na hora do contrato, surgiu um impasse: o dono disse que
queria de avalista o pai e o avô. Antônio não concordou e fez uma
contraproposta: se não pagasse as três prestações , devolveria a Empresa.
Disse que quem estava negociando era ele e não o seu pai ou
o avô. . “Assim não dá” – retrucou o vendedor. Antônio respondeu:“Se você não quer, acabou o negócio.” Henrique, o principal interessado
ficou triste. “E eu disse pra ele pra ficar frio, que o negócio ia
ser meu. Ele vai voltar; ele vai analisar minha proposta e vai ver que
não estou brincando. Passou uns 15 dias, ele me chamou outra vez.‘É agora!’ E aí eu aproveitei para fazer corpo mole: coloquei defeito
nos carros e propus aceitar o negócio, com um desconto de 10 contos
em cada prestação. Aí fizemos o contrato e Henrique ficou doido “.
“Eu chamei Henrique e disse pra ele: ‘Henrique, papai está doente,
você é mais novo do que eu. Eu tenho mais experiência, você fica
com papai na fazenda, ajuda ele lá ‘; mas ele não aguentou e começou
a trabalhar como mecânico, que era um sonho dele, orientado por“Madeira”, um mecânico experiente, e depois passou a trabalhar na
parte administrativa.”
A Empresa de ônibus adquirida fazia viagem de Neves a Belo
Horizonte; no início eram poucos passageiros. Depois Antônio usou
uma estratégia: levar estudantes de Neves a BH, e com isso foi aumentando
o fluxo de passageiros. Henrique era muito amigo do jogador
Wilson Piazza, que foi do Cruzeiro e posteriormente campeão
na seleção de 1970. O pai dele trabalhava na Penitenciária e a mãe
era servente do grupo Escolar. Antônio ofereceu a ele um trabalho de
trocador do ônibus em troca da passagem e foi contagiando outros
estudantes. Com isso, o fluxo de passageiros aumentou consideravelmente.“
E Dona Nenzinha:
Tempos depois, já em 1971, a família veio para Montes Claros:
primeiro vieram Antônio e Henrique, já tendo em vista a compra da
Empresa Tolentino , ficando hospedados no Hotel Rocha. A Empresa
tinha onze carros, sendo que cinco estavam no estaleiro.
Depois que Henrique veio para Montes Claros foi que deslanchou.
Os pais vieram depois de cinco anos, já em 1976. Em Montes
Claros comprou a Empresa Tolentino e montou a Transnorte. Passados
cinco anos, o transporte urbano era feito em Kombis velhas. Ele
comprou a empresa que fazia o transporte urbano e convidou várias
pessoas para serem sócios dele e ninguém quis, porque não acreditaram.“Eu fui com ele numas três casas de pessoas amigas, mas ninguém
quis. Aí ele falou comigo: ‘Nenzinha, nós não fizemos nossa
casa até hoje. (Nós levamos 18 anos para fazer a nossa casa) Nós não
temos casa. Você quer fazer a casa ou quer comprar a outra parte do
lotação que estão vendendo no Major Prates? É o filé da empresa. Aí
eu disse: ‘Nós não estamos morando no tempo, vamos comprar. Mas
agora você não vai chamar ninguém. Você me perguntou, acabou. Eué que vou ser sócia.” Essa hora ele me abraçou e disse: ‘Eu sabia, eu sabia’.
“Quando ele me consultava, ele me escutava. Nós conversávamos
muito, às vezes até a noite inteira. Eu estudei tanto, comprava revistas
de política, só para conversar com ele. A nossa vida foi muito boa.”
Na entrevista com Manoel Costa, assim ele descreveu Henrique
Sapori Neto:
“É difícil descrever Henrique Sapori Neto em uma frase. Era
uma pessoa boa, não sabia falar não. Era um pai, um pouco explosivo,
como qualquer italiano, mas de coração muito grande, que ajudava
os outros. Era um cara extremamente humilde, mas tinha visão. O
que mais marcou o Manoel foi a oportunidade que deu a ele, uma
pessoa simples. É muito reconhecido ao que Henrique Sapori fez por
ele, passando-lhe experiência, o que aprendeu com ele, em termos
de vida, de negócios, valeu tudo. Tinha conhecimento de tudo: de
política, de negócios. Não fazia bobagem. Tudo o que ele fazia era
com muita segurança e quando fazia um negócio, preocupava com a
outra pessoa, com quem estava negociando. Era muito consciencioso.
A essência dele ficou nas empresas. “Segundo Manoel, Henrique foi
um pai para ele.
O amigo Artur Ferreira Leite:
Para o entrevistado, Henrique Sapori foi um homem que nasceuà frente do tempo, um homem iluminado. Conheceu Henrique
quando recém-chegado a Montes Claros. É psicólogo, mas como não
havia ainda mercado de trabalho , foi dar aulas na FUNM (Fundação
Norte Mineira de Ensino Superior, hoje Unimontes) e trabalhar na
Rádio e no seu programa criticava o transporte coletivo, porque na
Morada do Parque onde morava, não havia linha de ônibus.
Ano de 1979. O Henrique mandou chamá-lo para conversar
com ele e daí nasceu uma grande amizade. “Ele tinha uma sede social
muito grande, não gostava de injustiça e isso fazia que ele questionasse
os homens públicos. Ele como empresário, incomodava o poder.
Se estivesse ainda entre nós, não estaria por aqui não, estaria muito
mais longe. Chovia de políticos atrás dele para ele candidatar. Ele
olhava na alma da gente; sabia se a pessoa estava vacilando ou não.
Antevia os fatos. Na sua visão futurista ele dizia que aqui em Montes
Claros ainda não tinha computadores e que era preciso informatizar
como em São Paulo, em Nova York, nos Estados Unidos. É impressionante
que ele sabia o movimento das empresas num olhar. Falava
assim: há um problema nos pneus e ia ao setor e de fato havia mesmo.
Era preocupado com a situação do país porque acabava o atingindo.
Enfrentou um período de turbulência: o governo do Estado multava
a Transnorte nas 24 horas do dia , multando, multando, pra quebrar
mesmo. Ele reuniu a imprensa, deu entrevistas. Era um homem especial,
além do tempo dele.”
Wilson Piazza compara a vida dele com a de Henrique Sapori,
afirmando que “Henrique já vislumbrava o que iria acontecer no futuro.
Como empresário na acanhada Viação Nossa Sra. das Neves, talvez
tenha enxergado mais do que ele, que não esperava que alcançasse
o sucesso profissional que alcançou no futebol brasileiro. Acha muito
merecido falar de Henrique Sapori Neto, pelo seu mérito, adiantando
que nada caiu do céu por acaso, mas que foi conquistado com muita garra, fazendo a parte dele. E conservou a humildade. Quando ele
morreu, os filhos seguraram porque quando a obra é grande, precisa
continuar. É uma questão de honra e o ideal é a pessoa fazer o que
gosta.”
Muitos outros entrevistados estão no livro “Henrique Sapori
Neto – Um homem à frente do seu tempo” (Ed.Cuatiara).
Esta é uma história de garra, trabalho e determinação, pouco conhecida, mas que precisa ficar registrada nos anais do Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros.
Marilene Veloso Tófolo
Cadeira N. 95
Patrono: Terezinha Vasquez
Os Sertões do Vale
do Jequitinhonha e
circunvizinhanças
INTRODUÇÃO
A cultura do Vale do Jequitinhonha não é a cultura de Minas,
mas sim do sertão, a cultura do vale não é unitária, mas tão
múltipla quanto aos distritos e povoados.
- Boqueirão é um pequeno vale ou microbacia hidrográfica, formado
por um curso d´àgua (que por vezes seca, conforme estejam o
manancial das chuvas).
- A população branca do Brasil não era tão grande. Os índios
haviam sido dizimados. O maior continente populacional era o negro.
- O índio é o senhor do local, conhece os lugares, os bichos e
as plantas. O branco é o dono da cultura, com a sua língua, religião,
costumes, ética, tecnologia. O negro se impõe nesse cenário; as sociedades
congo e afins têm suficientes associados para impor seu poder,
Suas festas, sua cultura. Foi grande o êxodo escravagista da África para
as Américas.
Trazendo a cultura da Europa, para estes sertões, primeiro vieram
os portugueses, bahianos, pernambucanos, que conduziam o
gado bovino. O bandeirante, Fernão Dias Paes, deve tê-los encontrado,
sendo o distrito das esmeraldas. Vizinho ao Rio São Francisco,
já então colonizando em suas margens. Já havia colonos ali, com o
fim da guerra holandesa, adentraram mais. Subiam o São Francisco
e afluentes, eram colonos arrendatários dos grandes latifúndios, neste
caso, da Casa da Ponte.
- Esses primeiros colonos deviam ser portugueses, gente ligada à
corte portuguesa, pessoal de variada etnia (judeus, negros alforriados,
personagens no ambiente cortesão e na administração lusitana). Não
traziam muitos escravos, e junto com os índios, as vezes se agregavam
a propriedade numa posição servil, mas não escravo. O espaço davalhe
liberdade.
- Do sul, uns cinqüenta anos mais tarde, preferindo a área montanhosa,à do campo, chegaram os bandeirantes, os paulistas, aos bandos.
Bandos de predadores de escravos tapuias. Tradição formada com
mescla cultural na qual entram (banditismo, lusitano, organização bélica
dos visigodos, e a caçada de escravos tupinambás. Eles conviviam
na sociedade tupinambás de forma amigável. Ao cabo de um tempo,
que podia ser meses ou anos, o escravo era imolado em sacrifício destinado
a vingar a honra familiar mortos em combate.
- Os paulistas se valiam da língua nhengatu do Padre Anchieta.
A indumentária deles se restringia ao calção, a camisa, um chapéu de
abas largas. Andavam descalços. Traziam cintos com grande número
de armas, espingardas, pistolas, munições, facas e facões. Em guerra
usavam contra as flechas, o gibão de algodão (viking brasileiro). O
bandeirante é similar ao clássico bandido mexicano (ambos em bando).
Tampouco trouxeram muitos escravos, vinham em excursões e
só se estabeleciam em terras mineiras, goianas e mato-grossenses, após
a descoberta do ouro nestes sertões.
- Com a descoberta do outro, as minas recebem um intenso
fluxo de gente.
Não só galegos, mas toda sorte de gente, pessoas que não eram
dados aos sertões tropicais e foram apelidados de emboabas pelos paulistas.
Vinham em busca de riqueza fácil, o ouro.
- Os paulistas foram os descobridores do ouro, mas os emboabas
eram maioria, e unidos aos baianos entraram em atrito com os
paulistas em 1708 (guerra dos emboabas), e os paulistas foram expulsos.
Quase todos, alguns ainda permaneceram em suas datas e redutos.
Com a descoberta de novas jazidas mais ao norte, no Tijuco, um
pouco mais tarde em Minas Novas, sempre pelos sertanejos paulistas.
CONCLUSÃO
Embora a mineração seja mais desgastante que a agricultura dos“plantations” e dos engenhos, nos sertões mineiros, o negro era mais
livre. Os escravos achavam os diamantes, pequenas pepitas e o outro
em pó e compravam a liberdade. As montanhas, os boqueirões profundos
e as vastidões desabitadas, levava-os a fugir para os quilombos,
ou tornar-se ricos com a exploração ilegal e contrabando.
BIBLIOGRAFIA
SANTIAGO, Luis. O Vale dos Boqueirões, História do Vale do
Jequitinhonha. Volume I.
O CANTO DO NEGRO
Do fundo da senzala,
o grito vara a noite longa,
o lamento de alguém que sofre
chega aquele que dorme...
Dormir porque, se a consciência
daquele que levantou o chicote
não consegue esquecer o lamento,
do que jaz no chão da senzala...
Tristeza, canto, choro, solidão,
musica triste das casas do quilombo
redendo dos negros foragidos,
que levam a sua dor e nostalgia...
Por que cantar, se saí um lamento doído
de dores, saudades, tristezas,
de um povo sofrido e nostálgico,
saudades da mãe África distante...
É o povo que teima em sobreviver,
é um mundo novo e desconhecido,
que deu seu sangue e suor,
para a construção de Novo Mundo...
É o lamento do negro, a solidão do sertão
são os ais que atravessam fronteiras,
onde o porvir distante,
espera novos dias e horizontes...
A melodia invade os campos,
a solidão atravessa as montanhas
o sol não brilha, a escuridão é grande,
nada se vislumbra do amanhã!
Correntes, ferros, senzalas e gritos,
povoam este mundo dolorido,
a fé perdeu-se na distância
de uma esperança que não vem...
Os gritos ecoam na vastidão,
mas ele não desiste de sonhar,
de esperar a sua libertação,
de um mundo que insiste em açoitar!
Sebastião Abiceu dos Santos Soares
Cadeira N. 11
Patrono: Ary Oliveira
JOSÉ SALGADO SOBRINHO
(ZÉ GRANDE)
“A humildade é um aroma que conserva as virtudes.
O orgulho é um veneno que corrompe e estraga”
Marcelino Champagnat
Na manhã do dia 3 de outubro de 2010, enquanto a população
brasileira participava da festa da democracia e nós
montes-clarenses nos preparávamos também para a festa da
poesia (o Psiu Poético,que teve início na manhã do dia 04 de outubro,
dia de São Francisco de Assis e dia municipal da poesia),recebi,
no sítio Canaã dos amigos/irmãos David Vítor dos Santos e Elenice
Soares Vítor, em Mandacaru, pelo rádio, a noticia do falecimento do
herói anônimo da construção civil de Montes Claros, que infelizmente
não conheci pessoalmente, mas que aprendi a admirar através dos
irmãos Roque Plínio Loss e Benedito Odeto de Lima (Irmão Bené),
que sempre referiam-se a ele com muito carinho e gratidão. Estou
falando do construtor de obras, Sr. José Salgado Sobrinho, mais conhecido pelo apelido de Zé Grande, que nos deixou depois de mais
de 80 anos de vida. Para quem não sabe, esse cidadão foi o construtor
responsável por uma das obras mais importantes, inaugurada durante
as comemorações do Centenário de Montes Claros (1957), o Colégio
Marista São José.
Durante o mês de julho de 2010, em viagem de estudo a Belo
Horizonte, alunos Maristas de Montes Claros, visitando o CEM –
Centro de Estudos Marista, localizado no Colégio Dom Silvério na
capital mineira, tiveram a oportunidade de ouvir um pouco sobre
a história do Colégio Marista São José de Montes Claros, tendo o
apresentador destacado a importância da pessoa do Sr. José Salgado
Sobrinho, o Zé Grande, na história da construção desta instituição
de ensino.
Nosso homenageado, Sr. Zé Grande ( José Salgado Sobrinho),
terminou sua missão aqui entre nós, partindo com certeza para atender
a uma outra convocação: compor o seleto grupo de auxiliares do
Construtor do Universo. Pelas marcas deixadas pelo Sertão, continuará
sendo lembrado por nós e pelos seus familiares.
O Colégio Marista São José de Montes Claros foi erguido para
atender aos jovens da região que precisavam dar continuidade aos
seus estudos, já que na época eram obrigados a buscar os grandes centros,
ficando na maioria das vezes por lá. Em 1947, senhor Antônio
Fraga, sócio do Rotary Club de Montes Claros, levantou a questão do ensino secundário em Montes Claros. Dom Aristides de Araújo
Porto na época bispo em nossa cidade convenceu o Irmão Mário
Cristovão, Superior Provincial dos Irmãos Maristas, a implantar uma
unidade de ensino em Montes Claros.
Após receber resposta positiva dos Irmãos Maristas - seguidores
dos princípios do Padre Marcelino Champagnat, canonizado
pelo vaticano no ano 2000, que defendia dentre seus princípios que “para bem educar as crianças é preciso antes de tudo amá-las” - em
fundar um colégio aqui em Montes Claros, um grupo de homens
empreendedores, liderados pelo Rotary Club de Montes Claros, foi
fundada a Sociedade dos Amigos do Progresso de Montes Claros com
a finalidade de construir o prédio para o colégio dos Irmãos Maristas.
Devido à atuação dos diretores desta sociedade: o Monsenhor Osmar
de Novais, Sr. Gentil Gonzaga e Dr. Hermes de Paula e da supervisão
da construção desse empreendimento, pelo Irmão Júlio Batista, Ecônomo Provincial. Depois de longos dez anos do lançamento da pedra
fundamental, em 1957 foi inaugurado o Colégio Marista São José,
fato que ocorreu no ano do centenário de Montes Claros.
Vale lembrar que em 1948, a sociedade Amigos do Progresso,
tendo como presidente, Monsenhor Osmar de Novais Lima, adquiriu
do senhor Gregório Soares Caldeira o terreno onde foram iniciadas as
obras de construção do referido colégio. As obras de construção inicialmente
foram confiadas ao senhor Levy Pimenta, do Rotary Club
de Montes Claros e ao mestre de obras, Sr. José Salgado Sobrinho (Sr.
Zé Grande). Após a inauguração a direção do educandário foi entregue
ao Irmão Ernesto Panini, seu primeiro diretor.
A inauguração do Colégio Marista em Montes Claros é um
marco importante na história da cidade. Tanto, que a festividade contou
com a presença de autoridades da maior relevância, civis, religiosas
e militares, tais como: o Exmo. Sr. Presidente da República Dr.
Juscelino Kubitschek de Oliveira, o Exmo. Governador do Estado de
Minas Gerais José Francisco Bias Forte, o Exmo. Sr. Geraldo Athayde,
Prefeito de Montes Claros, o Exmo. Sr. Dr. Jair Renault de Castro,
Juiz de Direito da Comarca, o Revmo. Sr. Dom José Alves Trindade,Bispo Diocesano, o Revmo. Sr. Irmão João de Deus, Superior Provincial
dos Irmãos Maristas e o Revmo. Irmão Ernesto Panini.
O tempo passou e o Colégio Marista São José continua firme
no seu propósito de contribuir na construção de uma sociedade mais
humana, mais fraterna através de uma educação de formação integral.
Hoje contando com a participação de grande número de colaboradores
leigos, denominados de Maristas Novos em Missão, comprometidos
com os princípios de São Marcelino Champagnat, fundador
do Instituto dos Irmãos Maristas, tem realizado inúmeros projetos,
visando atender as necessidades do processo ensino/aprendizagem,
como atender comunidades da região através da Missão Marista.
Em 2017, o Colégio Marista São José de Montes Claros, completará
60 anos, enquanto o Instituto Marista no dia 2 de janeiro
do mesmo ano estará completando 200 anos de existência. O Instituo
Marista é uma obra iniciada pelo padre Marcelino Champagnat,
quando acolheu dois jovens como formandos para viver em comunidade
em La Valla no interior da França. Dois séculos de atuação
no mundo e 60 anos em Montes Claros é, sem dúvida, motivo de
celebração e orgulho. Que o ideal de São Marcelino Champagnat
continue vivo em cada um de nós, “formar bons cristãos e virtuosos
cidadãos”, sendo Missão Marista “tonar Jesus Cristo conhecido,
amado e seguido, especialmente junto a seus principais destinatários:
crianças, adolescentes e jovens”.
___________________________
FONTES:
http://maristas.org.br/bicentenario
http://marista.edu.br/saojosemc/nosso-colegio/quem-somos/historico-do-colegio/
Informativo Marista - Ano 10 – Número 26 – Ano 2014 – p. 58 - 61
Wanderlino Arruda
Cadeira N. 33
Patrono: Enéas Mineiro de Souza
PALMYRA SANTOS DE OLIVEIRA
No dizer de Howard Whitman, “Todos nós temos três necessidades
emocionais básicas: sentirmo-nos estimados, importantes
e seguros. É preciso que alguém goste de nós. Precisamos sentir
que valemos alguma coisa. E precisamos sentir-nos a salvo de incertezas”.
Esta uma preciosa lição que aprendi em uma Seleções de setembro
de 1952, pouco menos de dois anos depois da minha chegada para
viver e muito conviver em Montes Claros. Tenho absoluta certeza de
que foi uma página da maior importância em todos os momentos
de minha vida, principalmente na observação e no acompanhamento
das pessoas que realmente gostam e desfrutam desta cidade, como é
o caso da escritora Palmyra Santos de Oliveira, irmã do meu amigo
José Gomes e mãe de quase uma dúzia de moças e rapazes, que tanto
bem têm feito a este mundo de meu Deus. D. Palmyra é árvore, é
ramo, é flor e também é fruto de um tudo de bom que a vida oferece
e nos pode oferecer. Gosto dela, de como é, de como se mostra, de
como administra cada minuto de existência. Amada-amante de todas
as realidades e de todos os sonhos!
O livro “MONTES CLAROS, PORTEIRINHA E OUTROS
AMORES MEUS...”, segundo da lavra de D. Palmyra, que você, leitor/
leitora, vai ler, em seguida, é um fiel atestado do muito que ela
sabe e da enormidade de bons sentimentos com que ela viveu bons
tempos de Montes Claros e excelentes tempos de Porteirinha, sedes
dos seus domínios de amor, de serviços à cultura e de um importante
plantar de amizades e carinhos. Tudo tem sido como um abrir janelas
e respirar todos os azuis dos dias e das noites de uma vida de encantos.
Tudo uma luminosa saudade para colorir santas lembranças, santíssimos
sentimentos que ela soube nutrir em cada olhar que teve e que
provocou, em cada passo que deu ou que chamou para perto de si.
Nenhum mistério, porque a realidade tem que ser bonita, tem que
ser visível, à luz do sol ou ao pisca-piscar da lua e das estrelas... Que
cidade agradável e gostosa era a Montes Claros dos seus tempos de
menina e de menina-moça: ricos quintais, doces brinquedos na porta
da rua, vizinhos alegres e bem informados, tudo um universo para
aprender e ensinar, eterno palco em meio de um empolgado auditório,
ninguém sabe se mais de crianças que de adultos, hoje somatório
de lembranças com dezenas de nomes de pessoas e de famílias: D
Consuelo, D. Inhá, Fani Maurício, Neusa, Nivaldo e Benedito Maciel,
Juca de Chichico, Natália Peixoto, Píndaro, Maria Inês, Tatá,
Umbelina, Artimínia, os tios Ulisses e Ambrosino, o avô Viriato, o pai
Manuel, a mãe D. Laura...
História, estórias, casos e causos, muito ou tudo da mineiridade
de D. Palmyra, tudo. Lindos momentos de pura amizade, evocações
de sabores, evocações de saberes, sons e cores, afirmações de fé, perspectivas
que só a paixão montes-clarense de início de século pode
aflorar. Neste livro a autora não faz economia de amor, não deixa
qualquer sentimento para depois. Tudo, tudo mesmo, é um constante
hoje, um agora, uma sempiterna visão de quem sabe apreciar o mais
apreciável de cada segundo vivido e amado. A Rua Doutor Veloso, o
largo São Sebastião, mais tarde Praça Coronel Ribeiro, a Rua Bocaiúva,
o centro da cidade, os bairros, as cercanias, as subidas e descidas,
Palmyra Santos de Oliveira
assim como as casas de comércio e as residências, cada coisa tem um
valor, marca um sentimento, representa uma virtude. E as pessoas
mais próximas do seu relacionamento – como a Gringa, José Galinha,
Francisca, Tereza, Niqueda, Santa, Silvéria, Maria Violão, Bela, D.
Josina, assim como a feira, a viagem a Bom Jesus da Lapa, os passeios,
os fatos surpreendentes, até os registros de genealogia, que coisa mais
interessante! O tempo não para, mesmo que a saudade faça as coisas
pararem ou as fixe para a eternidade de quem ama e, em verdade,
gosta de amar. Um momento de poesia vale tanto quanto um milênio
de sentires, principalmente quando esse momento é escrito e descrito
por minha amiga, D. Palmyra, autora e dona deste Livro. O segredo– bem lembrou Mário Quintana - não é cuidar das borboletas, mas
cuidar do jardim. Havendo jardim, muito haverá de borboletas. Importante
que o valor seja dado ao que realmente importa! Devemos
sair à rua ou ao mundo abertos aos caminhos e ao caminhar, sempre
dispostos ao que possa acontecer - melhor dizendo - dispostos às venturas
e aventuras.
Penso em D. Palmyra na mesma medida que penso em Cora
Coralina, porque para ambas a vida seria curta ou longa demais - e
sem sentido - se não tocasse o coração das pessoas. Marcante é o colo
que acolhe, o braço que envolve, a palavra que conforta, o silêncio
que respeita, a alegria que contagia, a lágrima que corre, o olhar que
acaricia, o desejo que sacia, o amor que promove. E isso não é coisa
de outro mundo, é o que realmente dá sentido à vida. É e será! E que
este livro da minha companheira de Instituto Histórico, mãe do presidente
Itamaury, seja um precioso presente, um importante momento
de leitura para você, leitor/leitora, acredito gente boa também do meu
coração!
Parabéns, sempre menina-moça, PALMYRA SANTOS – Santos,
Teles, Oliveira - glória de Montes Claros, magnífica glória de
Porteirinha, cidade mãe dos seus filhos Irani, Itamar, Iolanda, Itajahy,
Iracy, Ítalo, Ilacir, Itamaury, Isani, Ivan e Ilmar.
Alan José Alcântara de Figueiredo
Sócio Correspondente
Macaúbas - Bahia
Homenagem ao Professor
Ático Vilas -Boas da Mota
Ático Frota Vilas-Boas da Mota foi o primogênito do casal professor
José Batista da Mota e dona Aída Frota Vilas-Boas da
Mota, nascido em 13 de outubro de 1928 na cidade de Livramento
de Nossa Senhora – Bahia, onde seu pai lecionava. Nessa
cidade, nasceu o segundo filho – Atlas. Em 20 de março de 1933, o
professor Mota assumiu uma cadeira nas Escolas Reunidas de Macaúbas
para onde fora removido.A família fincou raízes nesta cidade
que tornou-se o “doce país de infância” do professor Ático Mota. Seus
outros irmãos – Arabela, Aristóteles e Aristófanes – nasceram em Macaúbas
e nela seus pais faleceram.
Em 1942, concluiu com destaque o Curso Primário no Grupo
Escolar Cônego Firmino Soares, conforme registrou A Tribuna,
de 15/12/1942. Viajando muitas léguas em lombo de animal até a
estação ferroviária de Machado Portela – Bahia, o menino ganhou o
mundo, ou o mundo ganhou uma pedra preciosa a ser lapidada pelas
lides acadêmicas. Fez o Ginásio como interno do Liceu Salesiano.
Enquanto estudante secundarista residiu no pensionato do Padre Torrand, SJ. No Rio de Janeiro fez o curso de Letras Neolatinas pela Universidade
Federal, em 1957. Seguiram-se vários cursos de extensão e
de especialização na Europa e na Argentina, onde foi um dos leitores
para Jorge Luis Borges.
Integrou o corpo docente da nascente Universidade Federal
de Goiás, na década de 1960. Em 1972 doutorou-se em Letras pela
Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo.
Fundou a Cadeira de Literatura Oral (pós-graduação e mestrado)
na Universidade de Goiás.
Em 1988, voltou para Macaúbas onde deu impulso novo à
Fundação Cultural Prof. Mota, que criara em 16/09/1972 para cultuar
a memória de seu pai morto naquele ano. Os dois projetos que
deram maior visibilidade à entidade foram a Biblioteca Pública de
Macaúbas, implantada logo após a instituição da Fundação, e o Museu
Regional de Macaúbas, implantado em 11/12/1988.
Participou de diversas
entidades culturais como sócio
efetivo ou correspondente,
a exemplo do Instituto
Histórico e Geográfico Brasileiro,
Academia Baiana de
Letras e Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros.
Publicou vários livros sobre
assuntos variados comoFolclore, Ciganologia, Romênia e Poesia, sendo sua obra de maior
fôlego Brasil e Romênia: Pontes culturais. Deixou inacabado um dicionário
de gírias.
Faleceu em 26/03/2016, um mês e meio após a esposa Alzira
dos Reis Mota, ambos sepultados no jardim de sua residência, que deverá ser transformada em memorial.
José Walter Pires
Sócio Correspondente
Brumado - Bahia
SERÁ QUE RESTA ESPERANÇA?
Estamos a uma semana do Natal. Não sei se por mera intuição,
na melhor das hipóteses, o tradicional clima natalino e de boas
festas, mostram-se em tons de cinza. Tudo prenuncia que algo
irreversível está mesmo acontecendo. No Brasil, em particular. Já não
falo de esperança, porém não renego os sonhos, embora isso pareça
uma atitude de puro pessimismo. Não o é, entretanto, mesmo que
pensasse egoisticamente. Isso não é matriz do meu senso de solidariedade
e de desejo de uma vida melhor para todos.
Contudo, é neste momento que o meu otimismo cambaleia
para indagar: até quando, José, essa realidade continuará a mesma,
sem que se encontre as vislumbradas e verdadeiras soluções de paz e
progresso social?
Difícil resposta, sem dúvida!
Estudiosos de todo naipe têm se debruçado nessa incontida
busca, com análises, diagnósticos, relatórios, congressos, conferências,
além de semelhantes expedientes, mas sem alcançarem os resultados almejados, salvo pelos paliativos, vícios, engodos, manobras, ações
políticas, enfim, que mantêm o nosso status quo, como mecanismo de
sustentação da práxis arraigada nas entranhas das Instituições corroídas
e desacreditadas como as desta pátria amada.
Aqui e alhures não é diferente.
O jargão de que é na crise que surgem as soluções, tem ares de
fantasia. Enquanto a crise se agiganta, as soluções passam, permanecendo
repetição dos acontecimentos, a rotina dos fatos, a paixão dos
incautos e a pregação dos gurus sobre as miragens de um novo tempo. Fui um desses escribas anos seguidos.
Um amigo dileto em uma das suas reflexões me dizia em texto
recente que a esperança não morre; e em resposta disse-lhe: mas
desbota-se. Então, ele falou em perspectivas e eu lhe falei sobre o
horizonte no topo da serra. Calamo-nos em nossas dissenções e continuamos
amigos.
De que “amanhã será novo dia”, como diz a canção, não discordo.
O que discuto é o que será mesmo novo nas contingências em
que vivemos. Por exemplo, será que a última conferência ambiental
de Paris, que reuniu lideranças políticas de todo o mundo, nos garante
pelo menos o retardamento do aquecimento global? Que desastres
ecológicos não continuarão ocorrendo? Que as Nações beligerantes
assinarão um acordo de paz e de prosperidade entre os povos, independentemente
das crenças e ideologias? Ou quem poderia delinear
um futuro não muito distante diante de todas as mazelas que nos
assolam na atualidade?
Sinceramente, jamais fui tão sombrio em toda a minha vida.
Mas não quero transformar isso na premonição apocalíptica, pregado
nas doutrinações de porta em porta. A minha mensagem pretende
refletir, em forma de denúncia reiterada, sobre a proximidade, em
tempo real, da nova era que já nos ofusca e incide sobre o que vamos
experimentar para a frente. O processo será mesmo de sobrevivênciaenquanto vida tivermos. Não haverá mais uma reversão, mas sim um
progressão desastrosa desses incidentes por toda parte.
Portanto, restarão pálidos natais e as promessas de um ano novo
não tão venturoso, salvo em momentos circunstanciais, porém sem a
real universalidade desses sentimentos.
Sinto muito, mais é o que nos espera!
Dóris Araújo
Convidada
NO CANO DE
MINHA ESPINGARDA
Volto ao tempo de minha infância, tempo das casas sem muros,
de janelas escancaradas e portas fechadas com trêmulas
tramelas. Tempo de fantasia e simplicidade na cidadezinha
que já não existe mais, engolida que foi pelo progresso. Tempo de
dengos e peraltices. Tempo onde todas as coisas pareciam conspirar
para a nossa felicidade.
Nesse tempo, todas as noites, minha avó fazia deliciosos biscoitos
fritos, ou assados em panela de ferro com brasas por cima da tampa.
Tempo em que nós crianças encarapitávamos no fogão de lenha,
objeto que se tornava naqueles momentos o instrumento congregador
da família, para ouvirmos as histórias que vovó nos contava.
Histórias que nos faziam rir, histórias que nos faziam chorar, histórias
que nos faziam sentir medo, histórias que nos faziam refletir sobre a
vida. Enfim, histórias, histórias, histórias. As mais belas, as mais comoventes,
as mais intrigantes, as mais variadas. Contadas, recontadas
ou cantadas por minha avó.
Naquele tempo, os cheiros das gostosuras, sendo carinhosamente
preparadas, despertavam-nos os sentidos, nos deixavam acesos e
receptivos às histórias que nos eram narradas com entonação perfeita.
O tom de voz , os gestos, a expressão facial da minha avó animavam
os distintos personagens, davam-lhes vida. Aqueles foram momentosímpares, de puro encantamento, de transbordamento de emoções.
As guloseimas, quando prontas e servidas com café com leite,
eram avidamente saboreadas ainda quentinhas. Hummm... Que delícia!
Muitos desses aromas, desses sabores e dessas histórias conservo
vivos em minha memória. “
Dizem que,”quem conta um conto, aumenta um ponto”. A
minha avó também fazia os seus acréscimos. Criativa como era, não
somente aumentava (um, dois, três ou mais pontos), mas rebordava
o já bordado. Usando linhas novas, avivando-lhe as cores, dava-lhe
muitas vezes outras texturas.
Dentre as inúmeras histórias ouvidas, esta, em particular, até
hoje encabula - me, pois, dela, fiz-me também personagem. Nítida
em minha mente vive esta historia contada pela minha avó. Ainda
hoje penso ver a sua imagem e ouvir a sua voz modulada nos narrando:
Já era boquinha da noite, quando os tropeiros resolveram parar
para um descanso merecido, após o longo tempo escanchados na sela de
suas montarias.
Assim que terminaram de cuidar dos animais, o fogo foi aceso.
Primeiro, para afugentar os bichos selvagens, que porventura rondassem
por ali; depois, para espantar o frio... E, por fim, para fazer o de- comer,
preparado com toicinho, arroz, carne-seca e farinha de mandioca.
Depois da comida e de um dedo de prosa, cada qual estendeu seu
pelego no chão e deitou-se. O sono bateu, pesado. Em minutos, estavam
todos dormindo um sono de chumbo. Inclusive aquele que deveria fazer
a primeira vigília da noite. Todos foram transportados para o país de
Morfeu.
Em hora mais avançada, um grupo de bandoleiros invadiu o arranchamento.
Haviam combinado entre si, que, cada um se aproximaria
de um tropeiro adormecido e, o imobilizando, perguntaria pelo dinheiro
da tropa que provavelmente estaria sob a guarda de um deles. Porém,
quando o primeiro bandoleiro aproximou-se do primeiro tropeiro adormecido
e o indagou sobre o dinheiro, ele, o tropeiro, que era sonâmbulo,
respondeu com uma voz trovejante: “O dinheiro está no cano de minha
espingarda!”. A resposta inesperada fez com que todos os bandidos se
pusessem em debandada. O que eles não sabiam, é que todo o dinheiro
que buscavam fora realmente escondido, ali, no cano de uma espingarda.
Lembro-me de que toda vez que minha avó terminava de nos
contar tal história, ríamos até, imaginando aquele quadro hilário: o
sonâmbulo, com sua de voz trovão, gritando que o dinheiro estava no
cano de sua espingarda e os ladrões correndo, apavorados.
Relatava-nos ainda a minha avó, que, na primeira vez que ela
nos contou essa história, eu ficara bastante impressionada. Naquele
dia, no meio da noite, ela acordara, muito assusta, por causa da barulheira
medonha que eu, dormindo, fazia conversando com ninguém.
Vale aqui ressaltar, que, na ocasião, minha cama ficava num canto do
amplo quarto de vovó, do lado oposto à sua. Sobressaltada, ela levantou-se e , dirigindo-se até minha cama, viu que eu, tal qual o tropeiro
de sua história, estava em meio a uma crise de sonambulismo. Minha
fala era desconexa, incompreensível, e minha voz infantil, estranhamente,
oscilando entre o agudo e o grave. Mais tranquila, naquele
momento, ocorreu-lhe uma brilhante ideia: curvando-se sobre mim e
comprimindo-me levemente o estômago com suas mãos, perguntoume
onde era que eu guardava meu dinheiro. Para seu espanto, respondo-lhe com prontidão e clareza que o meu dinheiro estava guardado
debaixo da bigorna. E prossigo dormindo.
Pela manhã, quando vovó nos relatou o acontecido comigo durante
a noite, demos boas e sonoras gargalhadas. Vovó afirmara que se
existisse em nossa casa uma bigorna, naquela época, ela teria ido até
lá para conferir.
Jeny Canela Perosso
Convidado
LEIO, LOGO APRENDO
E APREENDO
Absolutamente convencida da veracidade da temática e amante
fervorosa da leitura apraz-me, uma vez mais, sublinhar a
importância incomensurável dessa prática social de natureza
deliciosamente política para o desenvolvimento integral das pessoas.
Isso não apenas pelo deleite naturalmente proporcionado pelo
delicioso ato de ler mais também e principalmente, pelas inúmeras
possibilidades que traz de incorporação de aprendizagens mais abrangentes
e significativas de conteúdos, conceitos e valores. Fato que justifica
e reforça além da generosidade peculiar a leitura, posturas cada
vez mais voltadas para o caráter mais humanístico nas relações cuja
tendência é a de nos fazer melhores como pessoas e como filhos de
DEUS.
A leitura se constitui, portanto, em um instrumento político
de aprendizagem dos mais eficazes e do qual não podemos abdicar a
medida que se efetiva inquestionavelmente como fonte inesgotável de
informações e conhecimentos. Fonte que desperta para os prazeres da autonomia e de descobertas de horizontes novos somente possíveis de
serem visualizados e alcançados com o hábito mais frequente do ato
de ler.
Nessa perspectiva faz-se necessário considerar os papeis da escola
e da família no processo de ensino aprendizagem da leitura sobretudo
no que concerne ao fator preponderante para melhores percepções
e compreensões da importância absolutamente inquestionável
dessa prática social que é a motivação de alunos, dependentes, professores,
gestores, sistemas e comunidades. No sentido de incorporarem,
inicialmente, da importância absolutamente incontestável da leitura
como possibilidade e janela que se abre também para garantia da realização
e manutenção dos sonhos, alicerce e sustentação de todas e
quaisquer pretensões.
E isso requer, dentre outros aspectos, um envolvimento e uma
intencionalidade maiores a serem estabelecidos e formalizados no
Projeto Político Pedagógico da escola não apenas como registro mais
como pretensão e eficácia de diretrizes que primem pelo objetivo
maior de contribuir para que o desejo de ler possa ser incorporado e
interiorizado nos exemplos a serem dados e instigados permanentemente.
Numa responsabilidade a ser assumida tanto pela escola como
pela família e traz a convicção de quão esta parceria pode ser determinante
para disseminação dos benefícios a serem auferidos pelo
delicioso e gratificante ato de ler que nos favorece aprendizagens mais
significativas e proporciona, ao mesmo tempo, um desejo incontrolável
de ler cada vez mais. E nos dar a certeza de que se leio aprendo e
apreendo muito mais e com muito mais qualidade.
Yury Vieira Tupynambá de Lélis Mendes
Convidado
Dr. Romildo Borges Mendes
Comemora-se no dia 09 de abril de 2016 a efeméride do Centenário
de Nascimento daquele que foi um dos grandes nomes
da política, educação e saúde do Norte de Minas durante o
século XX. Trata-se do Prof. Dr. Romildo Borges Mendes, cujo nome,
para que justiça seja feita, está por merecer o patronato de algum
estabelecimento educacional ou hospitalar no Município de Montes
Claros (MG)...
Sua biografia encontra-se imortalizada nas obras “Efemérides
montesclarenses: 1707-1962”1, de Nelson Viana, às páginas 181-
182; e “A Medicina dos médicos... & a outra”2, de Hermes de Paula,
____________________
1 - VIANNA, Nelson Washington. Efemérides montesclarenses: 1707-1962. 1 ed. Rio
de Janeiro: Irmãos Pongetti, 1964, p. 181-182; ou
VIANNA, Nelson Washington. Efemérides montesclarenses: 1707-1962. Reedição na
Coleção Sesquicentenária (coordenação: Profª Marta Verônica Vasconcelos). Montes
Claros: Editora Unimontes, 2007, p. 181-182.
2 - PAULA, Hermes Augusto de. A Medicina dos médicos... & a outra”. Montes Claros:
Imprensa Universitária da UFMG, 1982, p. 68.
_____________________
à página 68. Recentemente, o Jornal de Notícias3 publicou matéria
com sua biografia, em resgate à sua memória.
O Dr. Romildo Borges Mendes nasceu às 03h do dia 09 de
abril de 1916, na capital do Estado Federado do Ceará, a Cidade de
Fortaleza, enchendo de alegria o Lar do então jovem casal, recémconjugado
(1915), Sebastião Mendes dos Santos (*20.06.1889−†fevereiro/
1972), natural de Itapipoca/CE, e sua esposa, a luso-brasileira
dona Julieta Borges Mendes (*03.01.1898−†13.01.1978), natural de
Fortaleza/CE. Além de Romildo, o casal Sebastião e Julieta teve, ainda,
duas filhas mais novas: 1) Dra. Maria Nemaura Borges Mendes,
que, como o irmão Romildo (Turma de 1938), também diplomou-se
em Medicina pela Faculdade de Medicina da Bahia – FAMEB, atual
UFBA (Turma de 1941), mudando-se depois para o Estado de São
Paulo, onde exerceu a Medicina sob o CRM/SP de n° 2960 (cancelado)
e depois 18340 (aposentado); e 2) Marlene Borges Mendes, que
fez-se professora e psicóloga.
Seu pai, Sebastião Mendes, era da parentela materna de Antônio
Vicente Mendes Maciel (mais conhecido como “Antônio Conselheiro”),
e foi notável exemplo de servidor público, enquanto Fiscal
de Rendas da Secretaria da Fazenda (SEFAZ) do Estado do Ceará,
carreira à qual ele se dedicou por mais de 50 anos contínuos (ocasião
em que foi merecidamente homenageado pela sociedade, igreja, maçonaria
e imprensa cearenses, pelo “Meio Século de Honestidade e Devotamento
ao Estado” – e, quatro meses depois, seu filho Dr. Romildo
Borges Mendes batizaria ao primeiro filho homem de seu segundo
casamento em sua homenagem: Sebastião Mendes Neto, nascido a
15 de setembro de 1956), sem nunca ter gozado de férias nem tirado
licença, desde seu ingresso, aos 16 anos, no dia 02 de maio de 1906.
Cidadão probo e ilibado, de notória e incontestável honestidade, merecimento
e honradez, Sebastião, que era membro atuante da Loja
____________________
3 - Jornal de Notícias, Página 02, Memória, Terça Feira, 09 de Abril de 2013, Montes
Claros, Minas Gerais.
_____________________
“Deus e Liberdade” de Fortaleza (CE), ilustrou os altos quadros da
Maçonaria cearense, ocupando os seus mais altos postos.
Seu pai, Sebastião Mendes dos Santos (faixa da Maçonaria)
Foram avós paternos de Romildo os fazendeiros cearenses Joaquim
Mendes dos Santos e Maria Evelina dos Santos (filha do Padre
José Rodrigues com uma cabocla, era tia materna de Florinda
Bolkan); e seus avós maternos os comerciantes portugueses, que vieram
para o Brasil no final do século XIX, Ernesto Borges da Silva4 e
Josepha Borges da Silva.
Pela linhagem varonil, o Dr. Romildo Borges Mendes – que é
filho de I) Sebastião Mendes dos Santos e, portanto, neto de II) Joaquim
Mendes dos Santos – é bisneto de III) Antonio José dos Santos
e Francisca Carolina Mendes dos Santos; trineto do IV) capitão-mor Joaquim José dos Santos (nascido a 22 de agosto de 1789), que foi
figura de destaque na política de seu tempo, e sua esposa (casamento
a 18 de novembro de 1834), Margarida de Castro Viana (filha de
Ponciano José de Oliveira e Maria José); tetraneto do V) capitão Antonio
José dos Santos (português, natural de São Salvador, do bispado
do Porto / Portugal) com sua esposa (casamento em Amontada, onde
possuía fazenda, a 31 de Março de 1787), Rita Maria do Nascimento
(nascida em 1768 e falecida a 2 de outubro de 1812, sendo sepultada
na Capela de São João da Imperatriz, hoje Vila Velha), que era filha
do Capitão Gregório Pires Chaves5 com sua esposa (casamento na antiga
Vila de Fortaleza / Ceará, em 23 de agosto de 1752), Ana Maria
da Assunção (nascida em 1731, em Aquiraz / Ceará), que era filha de
Manoel Nunes de Meira (natural de Tijucujajo, Pernambuco, viveu
em sua fazenda “Santana de Cima”, na ribeira do Rio Choró, termo
da Vila de Aquiraz, onde faleceu em fevereiro de 1737) com sua esposa
(casamento a 3 de junho de 1728), Maria Madalena Gomes
(natural do Aquiraz); e pentaneto de VI) Bento Antonio dos Santos e
Mariana Francisca dos Santos, ambos do bispado do Porto (Portugal).
_________________
4 - Ernesto Borges da Silva era proprietário da Fábrica de Distillação, situada na rua
Formosa, n° 30, Cidade de Fortaleza (CE). Ele também ocupou diversos cargos na
Sociedade Beneficente Portuguesa “Dous de Fevereiro”, sociedade de auxílios mútuos,
fundada pela colônia portuguesa de Fortaleza (CE) a 2 de fevereiro de 1872 e até hoje
existente. Acreditamos que tenha sido um de seus fundadores, porém efetivamente tomamos
nota de sua participação nos cargos de: Vice-Presidente (década de 1920), Relator
da Commissão Fiscal (década de 1920), e Conselheiro Fiscal (várias vezes, dentre elas
1881-1882, 1919-1920, 1922-1923 etc.). A Sociedade Beneficente Portuguesa “Dous
de Fevereiro” localizava-se na Rua Coronel Bezerril, n° 187, estando hoje situada na
Rua Dioguinho, n° 2493 (Praia do Futuro), ou na Rua Professor Otávio Lobo, n° 755
(Cocó), todos na Cidade de Fortaleza (CE).
5 - O capitão Gregório Pires Chaves era natural de Santo Estevão, arcebispado de Braga
(Portugal), sendo filho de Gregório Pires, natural de Chaves (Portugal); e veio para
o Ceará no 2º Quartel do século 18 – onde foi homem de rejusentação e relativa fortuna,
como se verifica do seu inventário, que se encontra no Cartório de Órfãos de Sobral
(Ceará): no ano de 1758 serviu de Almotacé; em 1760, de Procurador da Câmara e nos
de 1763, 1766 e 1770, de Juiz de Órfãos de Fortaleza (Ceará); faleceu a 20 de maio
de 1803.
________________________
Sua grande inspiração e mentor político foi o seu tio paterno,
o ilustre político cearense Antônio Mendes dos Santos, que como o
irmão Sebastião Mendes (pai de Romildo), foi também Fiscal de Rendas
da SEFAZ, carreira em que iniciou aos 14 anos de idade, dando
início a uma longa carreira de funcionário dedicado e competente.
No Setor fazendário, Antonio Mendes ascendeu dos mais modestos
aos mais elevados postos da carreira, dentre os quais os de Diretor–
Geral do Estado e Diretor–Geral do Tesouro. Politicamente, elegeuse
por diversas vezes Vereador à Câmara Municipal de Fortaleza/CE,
tendo chegado a presidi-la em dois momentos diferentes (no biênio
1936/37 e durante a legislatura 1951/55). Chegou, ainda, a se tornar
Prefeito Municipal de Fortaleza-CE (1952) e Secretário de Estado da
Fazenda (SEFAZ) do Ceará (no biênio de 1931/1932).
Os irmãos Sebastião Mendes e Antonio Mendes, pai e tio do Dr. Romildo
Romildo fez o curso primário no Colégio Nogueira e o secundário
no Liceu do Ceará, no Colégio Castello Branco e no Ginásio
São João, todos em sua cidade natal. Foi aluno de Dom Helder Câmara. Aos 16 anos, em 1932, ingressou à tradicional Faculdade de
Medicina da Bahia – FAMEB (UFBA), onde atuou em sua política
estudantil, por meio do Diretório Acadêmico da Faculdade de Medicina
da Bahia, e recebeu faixa de reconhecimento de mérito. Ainda ali
na FAMEB, diplomou-se em Medicina, em 1938, aos 22 anos, com
o título de doutor, por ter defendido tese. Exerceu a Medicina no
Estado de Minas Gerais sob o CRM/MG de n° 2929.
Dr. Romildo Borges Mendes em sua formatura na FAMEB-UFBA (Turma de 1938)
O Dr. Romildo Borges Mendes (Fortaleza, CE, Brasil, 9 de abril
de 1916 — Montes Claros, MG, Brasil, 5 de setembro de 1990) foi:
• Médico (CRM/MG 2929) formado pela Faculdade de Medicina
da Bahia, da UFBA (1938), de cujo Diretório Acadêmico participou,
e onde recebeu faixa de mérito e título de doutor;
• Médico Sanitarista com Curso de Saúde Pública (1945) pelo
Instituto Oswaldo Cruz, no Rio de Janeiro (RJ);
• 2° Tenente da Reserva de Segunda Classe, Médico, do Exército
Brasileiro (1944), por ato do então Presidente da República, Dr.
Getúlio Dornelles Vargas, e do então Ministro da Guerra, o Generalíssimo
Eurico Gaspar Dutra (que, dois anos depois, viria a se tornar
o próximo Presidente da República), que subscreveram sua Carta-Patente6;
• Médico nos Estados Federados do Amazonas, Ceará, Piauí,
Bahia, Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo (conforme tomamos
nota);
• Chefe do Posto de Higiene do SESP, em Teresina (PI);
• Chefe do Hospital do SESP, em Fortaleza (CE);
• Diretor da Maternidade “Senhora Juvenal de Carvalho”, em
Fortaleza (CE);
• Chefe da S.A. da Delegacia do SAPS, em Fortaleza (CE);
• Chefe do Posto da D.O.S., em Coração de Jesus (MG);
• Médico Sanitarista da Secretaria de Estado de Assistência e
Saúde Pública de Minas Gerais, em diversos municípios mineiros,
notadamente em Montes Claros (MG);
• Médico-Chefe de Unidade Sanitária (Tipo “C”) do Município
de Montes Claros (MG);
• Chefe do Centro de Saúde de Montes Claros (MG)7;
• Diretor do Departamento Municipal de Saúde e Assistência
de Montes Claros (MG) – equivalente à atual Secretaria Municipal
________________________
6 - Em 12 de Junho de 1944 (122º da Independência e 55º da República), o Presidente
da República do Brasil, Dr. Getúlio Dornelles Vargas, faz saber que, por Decreto de 22
de Abril de 1943, resolveu, de acordo com o disposto no Decreto-Lei nº 4271, de 17
de abril de 1942, nomear Segundo Tenente da Reserva de Segunda Classe, Médico, o
Doutor Romildo Borges Mendes, conferindo-lhe Carta-Patente (assinada por ele e pelo
seu Ministro da Guerra, o General Eurico Gaspar Dutra), confirmatória do gozo das
Honras, Direitos, Regalias e Vantagens inerentes ao posto, nos termos da Lei.
7 - PAULA, Hermes Augusto de. A Medicina dos médicos... & a outra. Montes Claros:
Imprensa Universitária da UFMG, 1982, p. 257.
_______________________
de Saúde, foi titular da pasta nas duas gestões do Dr. Pedro Santos à
frente do Município;
• Médico da Prefeitura Municipal de São João da Ponte/MG
(1945-1948);
• Médico Sanitarista no Posto de Saúde de Conquista (MG);
• Chefe do Posto de Higiene de Conquista (MG);
• Médico no Posto de Higiene de São Gonçalo do Pará (MG);
• Licenciado pelo Ministério da Educação para lecionar a disciplina
de “História Natural” (Biologia) em qualquer parte do Território
Nacional;
• Professor de Higiene e Biologia do Colégio Estadual do Ceará
(1939-1942), em Fortaleza (CE);
• Professor da Cadeira de Higiene da Classe de Direito do
Curso Complementar do Lyceu do Ceará, em Fortaleza (CE);
• Professor Titular da Cadeira de Biologia da Escola Estadual“Prof. Plínio Ribeiro” (Colégio Normal de Montes Claros);
• Vice-Diretor (Gestão de Sônia Prates de Quadros Lopes) da
Escola Estadual “Prof. Plínio Ribeiro” (Colégio Normal de Montes
Claros);
• Professor no Colégio Imaculada Conceição de Montes Claros
(Rede Berlaar);
• Co-Fundador (1967) e co-proprietário, juntamente com o
Padre Aderbhal Murtha de Almeida e outros, do Colégio São Noberto,
em Montes Claros (MG);
• Professor do Colégio São Norberto, em Montes Claros (MG);
• Proprietário da Rádio “Vera Cruz”, em Conquista (MG);
• Jornalista e Articulista em diversos jornais, notadamente nos
jornais “Tribuna de Montes Claros” e “Diário de Montes Claros”;
• Co-Fundador (1963) e Suplente do Conselho Técnico-
Administrativo da primeira Diretoria (1963) da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras (FAFIL)8 da Fundação Universidade do
Norte de Minas (FUNM), atual Universidade Estadual de Montes
Claros (Unimontes);
• Primeiro Professor da Cadeira de Biologia da Faculdade de
Filosofia, Ciências e Letras (FAFIL)9 da Fundação Universidade do
Norte de Minas (FUNM), atual Universidade Estadual de Montes
Claros (Unimontes). Conforme o Ofício Circular nº 15, de 17 de
setembro de 1974, da FAFIL, o nome do Prof. Dr. Romildo Borges
Mendes foi aprovado pelo Conselho Federal de Educação por meio do
Parecer nº 2.506, de 05 de dezembro de 1973, quando da aprovação
dos cursos de Ciências Sociais, Filosofia e Matemática (depois de duas
diligências);
• Co-Fundador (1964) da Faculdade de Direito (FADIR)10 da
Fundação Universidade do Norte de Minas (FUNM), atual Univer-
________________________
8 - MAIA, Cláudia de Jesus; CORDEIRO, Filomena Luciene. As Faculdades da
FUNM (Capítulo 2). In: CALEIRO, Regina Célia Lima (org.); PEREIRA, Laurindo
Mékie (org.). Unimontes: 40 anos de história. Montes Claros: Editora Unimontes,
2002, p. 56, 63 e 64.
9 - MAIA, Cláudia de Jesus; CORDEIRO, Filomena Luciene. As Faculdades da
FUNM (Capítulo 2). In: CALEIRO, Regina Célia Lima (org.); PEREIRA, Laurindo
Mékie (org.). Unimontes: 40 anos de história. Montes Claros: Editora Unimontes,
2002, p. 63-64.
10 - MAIA, Cláudia de Jesus; CORDEIRO, Filomena Luciene. As Faculdades da
FUNM (Capítulo 2). In: CALEIRO, Regina Célia Lima (org.); PEREIRA, Laurindo
Mékie (org.). Unimontes: 40 anos de história. Montes Claros: Editora Unimontes,
2002, p. 72
VIEIRA NETO, Augusto José. Casa do Direito: Ano XV. Montes Claros: Polígono Artes
Gráficas, 1979, p. 02, 03 e 05.
VIEIRA NETO, Augusto José. A “Casa de João Luiz de Almeida” (Capítulo – páginas
86-98). In: MAGALHÃES, Anala Lelis; MENDES, Yury Vieira Tupynambá de Lélis.
Antologia Jubileu de Ouro da Unimontes: prosas & versos. São Paulo: Editora Catrumano,
2012, p. 88-89.
___________________________
sidade Estadual de Montes Claros (Unimontes) – sendo um dos valorosos
homens que, ao dia 09 de novembro de 1964, assinou sua
ata de fundação, na assembléia realizada na Associação Comercial,
Industrial e de Serviços de Montes Claros (ACI);
• Primeiro Professor (1965-1968) da Cadeira de Medicina
Legal da Faculdade de Direito (FADIR)11 da Fundação Universidade
do Norte de Minas (FUNM), atual Universidade Estadual de Montes
Claros (Unimontes);
• Co-Fundador (1969) da Faculdade de Medicina (FAMED)12
da Fundação Universidade do Norte de Minas (FUNM), atual
Universidade Estadual de Montes Claros (Unimontes), para a qual
apresentou seus títulos para reconhecimento da Faculdade – juntamente
com os primos de sua esposa (Terezinha de Lélis Mendes), Dr. Mário
Ribeiro da Silveira e Dr. Antônio Augusto Tupynambá; do Dr. Hermes
Augusto de Paula, e muitos outros asclepianos de notável valor, foi
um de seus idealizadores, pré-fundadores e fundadores (1969), além
de integrar, por muitos anos, seu Corpo Docente;
• Primeiro Professor da Cadeira de Medicina Preventiva da
Faculdade de Medicina (FAMED)13 da Fundação Universidade do
Norte de Minas (FUNM), atual Universidade Estadual de Montes
Claros (Unimontes), aprovado pelo Parecer de n° 26/69, do CEE-MG
(Conselho Estadual de Educação de Minas Gerais), de 04/03/1969,
publicado no “Minas Gerais” em 01/04/1969;
_______________
11 - VIEIRA NETO, Augusto José. Casa do Direito: Ano XV. Montes Claros: Polígono
Artes Gráficas, 1979, p. 03 e 05.
VIEIRA NETO, Augusto José. A “Casa de João Luiz de Almeida” (Capítulo – páginas
86-98). In: MAGALHÃES, Anala Lelis; MENDES, Yury Vieira Tupynambá de Lélis.
Antologia Jubileu de Ouro da Unimontes: prosas & versos. São Paulo: Editora Catrumano,
2012, p. 89.
12 - PAULA, Hermes Augusto de. A Medicina dos médicos... & a outra. Montes Claros:
Imprensa Universitária da UFMG, 1982, p. 345-346.
13 - PAULA, Hermes Augusto de. A Medicina dos médicos... & a outra. Montes Claros:
Imprensa Universitária da UFMG, 1982, p. 345-346.
____________________
• Vereador à Câmara Municipal de Montes Claros (MG)14,
onde tomou posse em 15 de junho de 1963, pela UDN;
• Procurador (1959) da Prefeitura Municipal de Montes Claros,
junto à Campanha Nacional de Educação Física do Ministério
da Educação e da Cultura, onde conseguiu recursos para a construção
dos vestiários para o Campo de Esportes, e pela complementação das
instalações do Play-Ground, unidades existentes no Centro de Educação
Física de Montes Claros;
• Cidadão Honorário de Montes Claros15 (Câmara Municipal
de Montes Claros, 18 de novembro de 1980), “título a que fez jus, pelos
relevantes serviços prestados à centenária Princesa do Norte”, por
requisição de autoria do nobre Vereador Humberto de Souza Lima
Pereira, aprovada como Resolução de n° 170, de 29 de maio de 1974.
______________________
14 - Arquivo Público Municipal da Câmara Municipal de Montes Claros (MG).
GUIMARÃES, Jorge Tadeu. As Faces do Legislativo. Montes Claros: Sociedade Educacional
Arapuim, 1997.
15 - PAULA, Hermes Augusto de. Montes Claros: sua história, sua gente e seus costumes.
2 ed. Montes Claros: Volume I, 1979, p. 197; ou
PAULA, Hermes Augusto de. Montes Claros: sua história, sua gente e seus costumes.
Reedição na Coleção Sesquicentenária (coordenação: Profª Marta Verônica Vasconcelos).
Montes Claros: Editora Unimontes, Volume I, 2007, p. 197.
Cidadãos de Honra (1953-1999). Editado pela Câmara Municipal de Montes Claros
– MG. Montes Claros: ImpreSet, 1999, p. 26.
___________________________
Carta-Patente de 2° Tenente do Exército Brasileiro
Carteira de Vereador à Câmara Municipal de Montes Claros (MG)
do Dr. Romildo Borges Mendes (UDN)
Título de Cidadão Honorário de Montes Claros (MG)
Prof. Dr. Romildo B. Mendes e seu filho Prof. Romildo Ernesto de L. Mendes,
ambos professores da UNIMONTES
Prof. Romildo Ernesto de L. Mendes, Reitor Maurício,
Profª Aparecida Bispo e Prof. Dr. Romildo Borges Mendes
Santinho da candidatura do Dr. Romildo Borges Mendes a vereador
à Câmara Municipal de Montes Claros (MG)
Desde sempre muito bem relacionado, o Dr. Romildo Borges
Mendes sempre figurou nas altas rodas políticas mineiras, inclusive
mantendo amizade pessoal com grandes homens públicos brasileiros,
como os ex-governadores Dr. Francelino Pereira dos Santos (tal como
ele, também um dos fundadores da Faculdade de Direito da Unimontes,
em 09 de novembro de 1964), Dr. José de Magalhães Pinto (também
um dos fundadores tanto da FUNM/UNIMONTES, quanto de
sua Faculdade de Direito), Dr. José Francisco Bias Fortes, Dr. Rondon
Pacheco, etc.
(...) Como dos velhos políticos dos ex-partidos
muito pouca coisa resta no município, já que vários morreram
(Deba, Capitão Enéas, Neco Santamaria) e outros
se desligaram da política (Lezinho, Loyola, Romildo
Mendes, Simeão, Maurício), os novos partidos (se e quando
surgirem) irão congregar os jovens, que nos últimos anos
se aventuraram a ingressar no estreito túnel da Arena e do
MDB, todos eles inteiramente bitolados ao bipartidarismo,
e, por isso, sem muita convicção ideológica. Não tem, pois,
muito sentido pesquisar para onde irão Hamilton, Aristóteles,
Deosvaldo, Machado Filho e outros, já que, de qualquer
forma, não representam nenhuma liderança de muita
expressão (...)16
O Dr. Romildo Borges Mendes casou-se em primeiras núpcias
com Maria Vanda Gomes, de cujo consórcio nasceram-lhes os seguintes
filhos:
1) Romildo Ernesto de Leitão Mendes (historiador, professor
da Unimontes, poeta, teatrólogo), casado com Nely Rachel Veloso
(professora da Unimontes). Filhos: Marcelo Veloso Mendes (militar),
Tatiana Veloso Mendes (jornalista) e José André Veloso Mendes;
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16 - SILVEIRA, Jorge. “Como ficam os políticos com os novos partidos?”. In: Revista
“Montes Claros em foco”, Ano XII, n° 36, Agosto de 1979.
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2) Romildo Charles de Leitão Mendes (agente da Polícia Federal),
casado com Maria Elizabeth Rocha Mendes (historiadora e professora).
Filhos: Cynthia (jurista) e Júnia (geógrafa e professora);
3) Luiz Carlos Prestes de Leitão Mendes (jurista), casado com
Maria Laura Cristina Côrtes de Azevedo Mendes (professora). Filha:
Ana Luíza de Azevedo Mendes (jurista), mãe de Alice Mendes da
Costa;
4) Maria do Socorro Zoya de Leitão Mendes, casada com Fernando
Dutra (piloto de avião). Filhos: Alexandre Mendes Dutra e
Fábio Mendes Dutra (psicólogo).
O Dr. Romildo Borges Mendes casou-se, em segundas núpcias,
com dona Terezinha de Lélis Mendes (*05.10.1933), em 1950. Sua
esposa, de tradicional família montes-clarense, nasceu em Coração
de Jesus (MG), sendo filha do fazendeiro Cristino Lorde, como era
mais conhecido Cristino Pereira de Melo17, e de sua esposa (casados a
22/11/1930), dona Adelaide Augusta de Lélis (*1911−†30.01.1964),
que era a segunda filha do casal de fazendeiros Álvaro Augusto de Lélis18
e Felicidade Perpétua Leal Tupinambá19 (casados a 14/09/1907),
ambos professores – ele, embora formado pelo Colégio Normal de
Montes Claros, não lecionava; já ela, com estudos realizados em Diamantina
(MG), lecionava na Escola Municipal de Bom Jesus do Pacuí
(Rural).
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17 - Nascido aproximadamente em 1888, em Coração de Jesus (MG), era filho de José
Pereira das Neves e de Maria Pereira de Melo Chaves; morreu em 1949, aos 61 anos.
Era irmão de Altino Pereira de Melo (Cel. Altino Lorde).
18 - Álvaro Augusto de Lélis (*28.02.1886−†25.06.1965) nasceu em Coração de Jesus
(MG), sendo filho do capitão Camillo Cândido de Lélis (nascido no atual Município
de Turmalina/MG, a 15 de julho de 1845, era filho do vereador, professor e delegado
de polícia em Minas Novas/MG, o Capitão Paulo Cândido de Souza, e de sua esposa,
a professora dona Benvinda Carolina de Souza; o capitão Camilo foi Herói da Guerra
do Paraguai, 1864-1870, e 27° Agente Executivo do Município de Montes Claros/
MG, 1893-1894; além de Emancipador dos atuais Municípios de Brasília de Minas,
1894, e Coração de Jesus, 1912) com dona Adelaide Odília de Medeiros (*1862– †12.04.1949), filha do tenente-coronel Cypriano de Medeiros Lima (*1829–†1891), o
Barão de Jequitahy (25.09.1889), com dona Bernardina Felippina de Oliveira. Álvaro
formou-se Normalista pelo Colégio Normal de Montes Claros, exerceu o cargo de 1°
Secretário da Liga Operária Beneficente (1908) e foi Vereador Especial, representando
o Distrito de Jequitahy, fundado pelo seu avô materno (Barão do mesmo nome), na primeira
Legislatura (1912-1914) da Câmara Municipal de Coração de Jesus, edilidade
na qual exerceu, depois, outros 04 (quatro) mandatos legislativos ininterruptos (5ª,
6ª, 7ª e 8ª legislaturas, de 1927 a 1954), todos estes pela Cidade de Coração de Jesus,
totalizando 29 anos e meio como legislador municipal. Fazendeiro, político e professor,
o erudito Álvaro Augusto de Lélis, que era cultor das línguas francesa e latina, veio a
falecer, aos 79 anos, de Bronco-Pneumonia, no Hospital São Vicente, em Montes Claros/
MG, tendo sido o Dr. Romildo Borges Mendes, marido de sua neta Terezinha, o médico
que o atendeu e assinou seu atestado de óbito.
19 - Felicidade Perpétua Leal Tupinambá (*30.08.1893−†28.06.1989) nasceu em
Montes Claros/MG, sendo filha de dona Felicidade Perpétua da Silveira (nascida, em
1857, em Rio Pardo de Minas, sendo filha de Francisca Cardosina da Silveira e de
Florentino José da Silveira [trisavô dos Senadores Darcy Ribeiro da Silveira e Carlos do
Patrocínio Silveira], juiz de paz no Distrito de Serra Nova – Município de Rio Pardo
de Minas/MG; e, portanto, neta do inconfidente da Conjuração Mineira de 1789, João
José da Silveira; faleceu, aos 50 anos, em sua fazenda em Montes Claros, em 1907)
com o major Domingos Garcia Leal Tupynambás (1829-1902), membro do Partido
Conservador, Major Cirurgião-Mór da Guarda Municipal da Comarca de Boa Vista
do Tremedal (atual Monte Azul-MG), Fundador e Subdelegado do atual Distrito de
Tauape (antigo Furados) – Município de Licínio de Almeida (BA), que era filho de
dona Laudelina Januária de Novaes com seu marido Clemente Garcia Leal, Herói da
Guerra da Independência do Brasil (1822-1824), ao lado do major Silva Castro e de
seus primos da Casa da Torre de Garcia d’Ávila – de quem também descendia –, pelos
quais foi chamado à guerra: os futuros Visconde da Torre de Garcia d’Ávila, Visconde de
Pirajá e Barão de Jaguaripe, grandes vultos da Independência e do Império do Brasil.
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Dr. Romildo Borges Mendes, sua esposa
Terezinha de Lélis e sua filha
Maria das Graças |
Dr. Mendes, Terezinha de Lélis,
Romildo Ernesto, Romildo Charles e
Maria das Graças |
De seu segundo casamento, com Terezinha de Lélis Mendes,
nasceram-lhes os seguintes filhos:
1) Maria das Graças Mendes (normalista), casada com Eloísio
Oliveira de Sousa (militar). Filhos: Cláudia (tecnóloga em processos
gerenciais), Carla (pedagoga) e Cássia (administradora).
2) Julieta Adelaide de Lélis Mendes (historiadora e professora),
solteira;
3) Sebastião Mendes Neto (matemático e professor), casado com
Josélia Batista Mendes (professora de literatura). Filhos: Renat Nureyev
Mendes (jurista, historiador e professor), Yury Vieira Tupynambá
de Lélis Mendes (jurista) e Victória Maria Vieira de Lélis Mendes.
4) Romildo Mendes Filho, solteiro;
5) Evelina Maria Mendes, casada em primeiras núpcias com o
fazendeiro Gilson Peres Corrêa Machado. Filhos: Cristina (pedagoga
e bancária), Hugo (jurista) e Hélder (empresário). Casada em segundas núpcias com Roberto Soares. Filho: Renato Mendes Soares (estudante
de Ciências Econômicas);
6) Carlos Ernesto Mendes dos Santos (jurista e administrador),
casado com a Profª Dra. Maria Aparecida Colares Mendes (pedagoga
e professora universitária). Filhos: André (jurista e empresário) e Caio
(estudante de Direito);
7) Maria de Lourdes. Com geração.
8) Guilherme Lellis Mendes (técnico em Contabilidade). Filhos:
Guilherme Henrique e Maria Clara, estudantes.
Teve ele, ainda, outra filha: Waleska Rodrigues Mendes, casada
com Givanildo Passos (professor universitário). Filha: Camila Mendes
Passos.
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