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curricilo
 

 


 

 



DIRETORIA DO INSTITUTO HISTÓRICO E
GEOGRÁFICO DE MONTES CLAROS

Fundado em 27 de dezembro de 2006.

COMISSÃO FUNDADORA 2006-2007
Dr. Dário Teixeira Cotrim
Dr. Haroldo Lívio de Oliveira (in memoriam)
Dr. Wanderlino Arruda

DIRETORIA 2024 - 2025

PRESIDENTE DE HONRA Terezinha Gomes Pires
PRESIDENTE José Francisco Lima de Ornelas
1º VICE - PRESIDENTE Leonardo Alvarez Rodrigues
2º VICE - PRESIDENTE Wanderlino Arruda
1º DIRETOR-SECRETÁRIO Mara Yanmar Narciso Cruz
2º DIRETOR-SECRETÁRIO Hermildo Rodrigues
1º DIRETOR DE FINANÇAS José Ferreira da Silva
2º DIRETOR DE FINANÇAS Lázaro Francisco Sena
DIRETORA DE PROTOCOLO Osmar Pereira Oliva
Diretor de Comunicação Social Silvana Mameluque Mota
Diretor de Arquivo, Biblioteca e Museu Dário Teixeira Cotrim

CONSELHO CONSULTIVO

Membros Efetivos
Maria de Lourdes Chaves
Landulfo Santana Prado Filho
Virgínia Abreu de Paula
Membros Suplentes
Juvenal Caldeira Durães
Gessileia Soares Cangussu
Dorislene Alves Araújo

CONSELHO FISCAL

Membros Efetivos
Carlos Renier Azevedo
André Luiz Lopes Oliveira
Eduardo Gomes Pires
Membros Suplentes
Maria do Carmo Veloso Durães
Maria da Glória Caxito Mameluque
João Nunes Figueiredo

ASSOCIADOS HONORÁRIOS

Alberto Gomes Oliveira
Carlos Henrique Gonçalves Maia
Carlúcio Pereira dos Santos
Edilson Carlos Torquato
Expedito Veloso Barbosa
Irany Telles de Oliveira Antunes
Itamaury Teles de Oliveira
João Carlos Rodrigues Oliveira
José Antônio Corrêa Mourão
José Catarino Rodrigues
José Emídio de Quadros
Josecé Alves dos Santos
Lorena Álvares da Silva Campos
Monalisa Álvares da Silva Campos
Noriel Cohen
Paulo Roberto Xavier da Rocha
Pedro Ribeiro Neto
Raquel Veloso de Mendonça
Valeriano Wandeick

ASSOCIADOS EMÉRITOS

Juvenal Caldeira Durães
Maria das Dores Antunes Câmara
Maria Jacy de Oliveira Ribeiro
Milene Antonieta Coutinho Maurício
Petrônio Braz
Waldir Sena Batista


LISTA DE SÓCIOS EFETIVOS DO IHGMC

CD
Sócios
Patronos
01
Edvaldo de Aguiar Fróes Alpheu Gonçalves de Quadros
02
Leonardo Álvarez Rodrigues Alfredo de Souza Coutinho
03
Waldomiro Alves Santos Antônio Augusto Teixeira
04
Maria do Carmo Veloso Durães Antônio Augusto Veloso (Desemb.)
05
Dorislene Alves Araújo Antônio Ferreira de Oliveira
06
Marcos Fábio Martins Oliveira Antônio Gonçalves Chaves
07
Syomara Tereza Dias Rocha Antônio Gonçalves Figueira
08
Gesiane Aparecida Medeiros Mota Antônio Jorge
09
Daniel Gonçalves Rocha Antônio Lafetá Rebelo
10
Maria Florinda Ramos Pina Antônio Loureiro Ramos
11
Sebastião Abiceu dos Santos Soares Ary Oliveira
12
Antônio Augusto Pereira Moura Antônio Teixeira de Carvalho
13
Cesar Henrique Queiroz Porto Ângelo Soares Neto
14
Norivaldo Alves da Silveira Arthur Jardim Castro Gomes
15
Magda Ferreira de Souza Ataliba Machado
16

Gilsa Florisbela Alcântara

Athos Braga
17
Carlos William Pereira dos Santos Auguste de Saint Hillaire
18
Frederico Assis Martins Brasiliano Braz
19
Paulo Hermano Soares Ribeiro Caio Mário Lafetá
20
Felicidade Maria do Patrocínio Oliveira Camilo Prates
21
Terezinha Gomes Pires Cândido Canela
22
Silvana Mameluque Mota Carlos Gomes da Mota
23

Landulfo Santana Prado Filho

Carlos José Versiani
24
José Ponciano Neto Celestino Soares da Cruz
25

Isabela de Andrade Pena Miranda

Corbiniano R Aquino
26

Orozimbo Veloso P. Cyro dos Anjos

Cyro dos Anjos
27
Eduardo Ferreira Oliveira Dalva Dias de Paula
28

Guilherme Matias Silva Peixoto

Darcy Ribeiro
29

VAGA

Demóstenes Rockert
30
Jonice dos Reis P. Dona Tiburtina Dona Tirbutina
31
Augusta Clarice Guimarães Teixeira Dulce Sarmento
32
Carlota Eugenia Martins Soares Edgar Martins Pereira
33
Wanderlino Arruda Enéas Mineiro de Souza
34
Andrea Cristina Gomes Milo Simões Eva Bárbara Teixeira de Carvalho
35

Hermildo Rodrigues

Ezequiel Pereira
36
Roberto Wilton Garcia Felicidade Perpétua Tupinambá
37
Evaldo Gener de Fátima Francisco Barbosa Cursino
38
Maria Inês Silveira Carlos Francisco Sá
39
José dos Santos Neto Gentil Gonzaga
40
Maria da Glória Caxito Mameluque Georgino Jorge de Souza
41
Reinine Simões de Souza Geraldo Athayde
42
José Geraldo Spares de Souza Geraldo Tito da Silveira
43
Leonardo Linhares  Frota Machado Godofredo Guedes
44
Roberto Carlos M. Santiago Heloisa V. dos Anjos Sarmento
45
Gustavo Mameluque Henrique Oliva Brasil
46
Eliane Maria F Ribeiro Herbert de Souza – Betinho
47
Abgail Maria Atayde Marques Dias Hermenegildo Chaves
48
Virgínia Abreu de Paula Hermes Augusto de Paula
49
José Ferreira da Silva Irmã Beata
50
Antônio Félix da Silva Jair Oliveira
51
Osmar Pereira Oliva João Alencar Athayde
52
Maria de Lourdes Chaves João Chaves
53
David Ferreira dos Santos João Batista de Paula
54
José Dirceu Veloso Nogueira João José Alves
55
Lázaro Francisco Sena João Luiz de Almeida
56
Ivana Ferrante Rebelo João Luiz Lafetá
57
Vera Lúcia Santos de Souza Prado João Novaes Avelins
58
Maria Ângela Figueiredo Braga João Souto
59
Márcio Adriano Silva Moraes João Vale Maurício
60
Joaquim Fernandes Pena Soares Jorge Tadeu Guimarães
61
Ildeu Soares Caldeira Jr. José Alves de Macedo
62
José Jarbas Oliveira Silva José Esteves Rodrigues
63
Carlos Renier Azevedo José Gomes Machado
64
Palmyra Santos Oliveira José Gomes de Oliveira
65
Laurindo Mékie Pereira José Gonçalves de Ulhôa
66
Fabiano Lopes de Paula José Lopes de Carvalho
67
Marcionílio Martins Rocha Filho José Monteiro Fonseca
68
Benjamim Ribeiro Sobrinho José Nunes Mourão
69
Lúcio Rosevert Magalhão Maldonado José (Juca) Rodrigues Prates Júnior
70
José Roberval Pereira José Tomaz Oliveira
71
Manoel Pereira Fernandes Neto Júlio César de Melo Franco
72
Laríssa Paixão Durães Lazinho Pimenta
73
Terezinha de Souza Campos Neves
Lilia Câmara
74
Filomena Alencar Monteiro Prates Luiz Milton Prates
75
Eduardo Gomes Pires Manoel Ambrósio
76
Aparecido Pereira Cardoso Manoel Esteves
77
Maria Denize de Oliveira Barros Mário Ribeiro da Silveira
78
Gilberto Aparecido Soares Medeiros Mário Versiani Veloso
79
Antônio Pereira Santana Mauro de Araújo Moreira
80
Isau Rodrigues Oliveira Miguel Braga
81
VAGA Nathércio França
82
José Afonso Gomes Cordeiro Nelson Viana
83
Daniel Oliva Tupinambá de Lélis Newton Caetano d’Angelis
84
Ricardo Fernandes Lopes Newton Prates
85
André Luís Lopes Oliveira Armênio Veloso
86
Zoraide Guerra David Patrício Guerra
87
Elzita Ladeia Teixeira Pedro Martins de Sant’Anna
88
João de Jesus Malveira Plínio Ribeiro dos Santos
89
José Francisco Lima Ornelas Robson Costa
90
VAGA Romeu Barcelos Costa
91
Wesley Soares Caldeira Sebastião Sobreira Carvalho
92
Jaime kenji Takei Sebastião Tupinambá
93
Dário Teixeira Cotrim Simeão Ribeiro Pires
94
Gessileia Soares Cangussu Teófilo Ribeiro Filho
95
Carlúcio Gomes Ferreira Terezinha Vasquez
96
Walisson Oliveira Santos Tobias Leal Tupinambá
97
Oneide Ribeiro de Queiroz Torres Urbino Vianna
98
Mara Yanmar Narciso Virgilio Abreu de Paula
99
João Nunes Figueiredo Waldemar Versiani dos Anjos
100
Maria Clara Lage Vieira Wan-dick Dumont

ASSOCIADOS EMÉRITOS

Juvenal Caldeira Durães
Maria das Dores Antunes Câmara
Maria Jacy de Oliveira Ribeiro
Milene Antonieta Coutinho Maurício
Petrônio Braz
Waldir Sena Batista

ASSOCIADOS HONORÁRIOS

Alberto Gomes Oliveira
Carlos Henrique Gonçalves Maia
Carlúcio Pereira dos Santos
Edilson Carlos Torquato
Expedito Veloso Barbosa
Irany Telles de Oliveira Antunes
Itamaury Teles de Oliveira
João Carlos Rodrigues Oliveira
José Antônio Corrêa Mourão
José Catarino Rodrigues
José Emídio de Quadros
Josecé Alves dos Santos
Lorena Álvares da Silva Campos
Monalisa Álvares da Silva Campos
Noriel Cohen
Paulo Roberto Xavier da Rocha
Pedro Ribeiro Neto
Raquel Veloso de Mendonça
Valeriano Wandeick

ASSOCIADOS CORRESPONDENTES

Adilson Cézar Sorocaba

 SP

Alan José Alcântara Figueiredo Macaúbas

 BA

André Kohene Caetité

 BA

Antônio de Oliveira Mello
MG

Avay Miranda Brasília

 DF

Carlos Lindemberg Spínola Castro Belo Horizonte

 MG

Célia do Nascimento Coutinho Belo Horizonte

 MG

Clarice Maciel Souza Chaves
MG

Daniel Antunes Júnior Espinosa

 MG

Dêniston Fernandes Diamantino Januária

 MG

Eustáquio Wagner Guimarães Gomes Belo Horizonte

 MG

Felicíssimo Tiago dos Santos Rio Pardo de Minas

 MG

Fernanda de Oliveira Matos Caetité

 BA

Fernando Antônio Xavier Brandão Belo Horizonte

 MG

Helson Jorge
MG

Honorato Ribeiro dos Santos Carinhanha

 BA

Ivonildo Teixeira
ES
Jeremias Macário de Oliveira
BA
João Martins
BA

Jorge Ponciano Ribeiro Brasília

 DF

José Walter Pires Brumado

 BA

Liacélia Pires Leal Feira de Santana

 BA

Manoel Hygino dos Santos Belo Horizonte

 MG

Maria do Carmo de Oliveira Porteirinha

 MG

Maria Teresa Parrela
Holanda

Moisés Vieira Neto Várzea da Palma

 MG

Neide Almeida da Cruz Feira de Santana

 BA

Paulo Roberto de Souza Lima São João Del Rei

 MG

Pedro Oliveira Várzea da Palma

 MG

Silio Jader Noronha Brito São Paulo

 SP

Tânia Dias Freitas Santos

MG 

Terezinha Teixeira Santos Guanambi

BA 

Tiago Valeriano Braga
BA
Valdivino Marques da Silva
 MG
Virgínia de Lima Palhares
MG

Wellington Caldeira Gomes Belo Horizonte

 MG

Yury Vieira Tupinambá de Lelis Mendes Porto Alegre

 RS

Zanoni Eustáquio Roque Neves Belo Horizonte

 MG

Zélia Patrocínio Oliveira Seixas Aracajú

 SE

Zilda de Souza Brandão (Bim) Belo Horizonte

 MG


PRESIDENTES

Wanderlino Arruda
2007-2009 / 2014-2015
Dário Teixeira Cotrim
2010-2011 / 2018-2019 / 2020-2021
Itamaury Teles
2012-2013
Lázaro Francisco Sena
2016-2017
Francisco Ornelas
2022-2023 / 2024-2025

PRESIDENTES DE HONRA

Luiz de Paula Ferreira
2006 - 2020
Palmyra Santos Oliveira
2020 - 2023
Terezinha Gomes Pires
2023


EDITORIAL

Dário Teixeira Cotrim
Editor Chefe da Revista do Instituto

Esta é mais uma Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, que o leitor tem em mãos, para uma leitura saudável sobre a pungente trajetória da terra sertaneja, muito próprio aos interesses de cada associado. Como sempre acontece, os textos aqui publicados obedecem criteriosamente a data de postagem para o redator e são impressos na disposição alfabética, até o complemento de cento e cinquenta páginas contratuais com a Editora Millennium. Neste compêndio fazem parte os seguintes associados: Benjamim Ribeiro Sobrinho, Dário Teixeira Cotrim, Fabiano Lopes de Paula, Glorinha Mameluque, Guilherme Matias Silva Peixoto, José Jarbas Oliveira Silva, José dos Santos Neto, José Geraldo Soares e Souza, José Ponciano Neto, Landulfo Santana Prado Filho, Lázaro Francisco Sena, Leonardo Álvares Rodrigues, Lola Chaves, Mara Yanmar Narciso da Cruz, Márcio Adriano Morais, Vera Lúcia Santos de Souza, Virgínia Abreu de Paula, Walisson Oliveira Santos, Wanderlino Arruda e o presidente do IHGMC José Francisco Lima de Ornelas.

A história aqui contada é um tropel de exasperados sentimentos de amor à terra natal. O homem é presente em todas as faces da evolução cultural e política de sua cidade e, por consequência, o amor torna-se cada vez mais um símbolo, não só como paisagem física de um lugar, mas de compromisso no cuidado e zelo aos acontecimentos fortuitamente em relevo. Em resumo, o leitor tem em mãos as páginas douradas de sua própria história. Boa leitura!



O PÉ DE LARANJA

Lá pelos idos dos bons tempos das décadas de quarenta e cinquenta, era comum os amigos, aos domingos, darem um passeio nas imediações da Fazenda Pequi. Naquela região havia muita água escorrendo no caminho da roça, sempre nas épocas das chuvas, quando a mata nativa estava carregada de frutas: os araçás, as goiabas, os muricis, além das frutas cultivadas pelos pequenos agricultores.

Eram comuns as nossas aventuras. De certa vez, dois amigos passeando pelas matas da fazenda Pequi, e tendo eles tomando o estreito e sinuoso caminho da roça, lá se foram eles, quando já passava mais de meia hora de caminhada, avistaram pela cerca de arame farpado, uma velha goiabeira exibindo seus frutos de dar água na boca. Mas, por que ninguém colhia os seus frutos? Então eles resolveram entrar por debaixo da cerca para verificar a delícia daquelas goiabas viçosas. Já, no alto de uma galha, um enxame de abelhas fez com que eles desistissem de suas investidas. Com aquele zunido característico das abelhas, e as suas picadas infernais, e como se não bastasse, um cachorro apareceu para escorraçar os intrusos do momento.

As abelhas não desistiam de persegui-los e o cachorro não lhes dava trégua na fuga. Passado algum tempo, quando tudo parecia acomodado, o temor de uma onça, nas suas imaginações, era o que mais que poderia acontecer.

O gostinho das goiabas ficava na boca de cada um deles e o cheiro
do fruto da mesma forma. Desistir, jamais!

Continuaram eles no caminho da fazenda Pequi. De repente avistaram um pé da laranja, apinhado de belas e doces laranjas! Que visual maravilhoso, meu Deus! Por que ninguém colhe essas laranjas? Havia uma explicação para o fato. Um deles sentenciou: Se ninguém pega laranja neste pé é porque elas são azedas. Será?

Resolveram tirar prova da situação. Enquanto um ficava pelo lado de fora da cerca de arame, e outro escalava a laranjeira para retirar os frutos. Nisso, dois homens apareceram de repente chamando a atenção
dos rapazes que exclamaram: fica quieto aí que lá vem gente, escondendo numa moita de capim.

As pessoas que chegavam eram os proprietários da fazenda Pequi. Tratava-se do senhor João Maurício e seu dileto filho, o jovem Jovalcio Maurício. Este denunciou, imediatamente, ao pai a queda das laranjas, dizendo: Pai, as laranjas estão caindo, o chão está forrado delas, vou para casa e voltar com uma cesta para apanhá-las e levá-las para nós. E eles, pai e filho, seguiram viagem para o casarão da fazenda Pequi sem se dar conta da presença dos intrusos.

Imediatamente o filho de João Maurício voltava com a cesta e, enquanto isso, os dois rapazes debandaram para a cidade, queixando-se da sorte: ferroada de abelhas, corte com o arame farpado, latidos de cachorro e espinhos de laranjeiras, nada disso valeu a pena para a nossa aventura. O caminho de volta era a solução mais interessante para ambos.


ONTEM E HOJE À BEIRA-MAR

Nas minhas idas a Porto Seguro - Bahia, era comum um passeio pelas areias da praia à beira-mar, sempre pela parte da manhã. Ali, solitário, contemplando a vastidão das águas atlânticas e, em questão de segundos, era possível visualizar as caravelas de Pedro Álvares Cabral descortinando os seus mastros, num balanço interminável, com destino às terras da província de Santa Cruz. Isso, não obstante o domínio das sinistras hipupiaras, ou seja, aqueles tão falados e tão temidos demônios-das-águas oceânicas de outrora, assim como deve ter acontecido com as embarcações, sem os devidos apetrechos tecnológicos de orientação. Os homens do mar eram atrevidos, valentes e obcecados pelo desejo da conquista. Eu, sozinho ali, questionando o inquestionável das grandes descobertas dos navegantes. Quantas besteiras! Mesmo assim, a sensação que eu tinha era de que, naquele momento eles já teriam avistado a silhueta do monte Pascoal, em terra firme, e os índios, felizes e nus como sempre, se acomodavam nas


Dário e Júlia visitando a Torre de Belém em Lisboa/Portugal.

pedras espumarentas, resultante da ação permanente dos ventos na rebentação das ondas marítimas, preparando-se para uma recepção inesquecível.

O tempo passa. Passa o tempo sem que ao menos a gente perceba ele passando. O sol já não mais está no mesmo lugar, adiantou-se um pouco. Neste interim, lembro-me de uma pequena toada, chorosa, de um lindo trovar... “Muitas noites se passaram/ muitos dias já são idos/ meus bens todos se acabaram/ somente não se findaram/ dona minha, os meus gemidos...”. A razão volta a dominar a situação. Agora, muita gente brincando, conversando, jogando bola e/ou peteca, sem os mareantes barbudos e sem os marujos trigueiros senão grupos de pessoas em busca do lazer com os amigos e com a família.

Sempre que eu voltava ali, lá estava o paraíso das doçuras e purezas da terra moça e morena, onde tudo é ainda frescura e doce virgindade. Entretanto, o desenvolvimento econômico do lugar reproduz, nos dias de hoje, um quadro totalmente devastador, sem o alinhamento com os sonhos de outrora. Assim, para cá vieram os portugueses e espanhóis, velhos homens do mar, incutidos nas histórias cheias de assombrosas singularidades, sem nunca questionarmos as suas temerárias audácias nas águas pelágicas. A história dá meia-volta no próprio calcanhar e de simples espectador passei a fazer parte do elenco cinematográfico.

Estou em Lisboa! O meu primeiro compromisso é conhecer a Torre de São Vicente, ou a formosa Torre de Belém, igualmente, o Padrão dos Descobridores e o Mosteiro dos Jerônimos. Desse modo foi feito. Eis porque, naquela manhã, renteando a solitude branca das praias alentejanas, entre o rio e o mar, a minha visão singrava no além-mar e percorria quilômetros de distância rumo ao novo mundo. Era dali que as caravelas e as naus ibéricas partiam, quase sem destino, mas sempre na esperança de um dia voltar. Como era gostoso a brisa marítima bater de frente no meu rosto. Tudo isso em estado da adversidade sentimental. Como era gratificante saber do sucesso alcançado pelos marinheiros daquela época.

Hoje, ouvindo Amália Rodrigues dizer que a “... canoa... conheces bem, quando há norte pela proa, quantas docas tem Lisboa, e as muralhas que ela tem”. Um lampejo de austeridade, basta-nos para estabelecer o tempo no espaço e o espaço no tempo e assim, compreendermos melhor a verdadeira história dos descobrimentos. O livro nos transfere para lugares distantes, conta-nos histórias emocionantes e, outras vezes, capacita-nos com conhecimentos sobre essas histórias. Mas, talvez, nada é melhor do que a missa de corpo presente. Eu fui lá à beira-mar e lá estive com os meus sonhos em razão dos meus anseios e desejos.


TÉO AZEVEDO: UM ENGENHOSO GENIAL!

Morreu um gênio, um engenhoso genial do mundo artístico. Morreu um irmão-amigo. Morreu um homem de todos os mundos. Por isso, o luto está em todas as partes de nossa comunidade. Hoje, o povo sofrido do sertão montes-clarense tem motivo de sobra para lamentar a morte de Téo Azevedo. Agora fica somente a imagem de um cantador, de um exímio tocador de viola, de um trovador de versos catrumanos a nos despedir, com a alma e a calma do artista norte-mineiro. Lá fora o mundo não para e, nem por isso a voz melodiosa do cantador emudece por completo, mesmo com os ternos pingos de saudades. Morreu Téo Azevedo e morreu dizendo para todos nós que: amo-te muito! Ah! Téo, nós também amamos muito você.

O céu certamente não impressiona com as expressões de um povo em total lamúria com a partida do Téo. Não era a hora de partir, partir para aonde? Eu não nem sei. Por que? Também nem sei. Mas, agora é a hora da partida. E lá vai Téo Azevedo alçando voo pelas nuvens rosadas de um céu azul-celeste em doce vertigem. Na sua bagagem uma viola imaginativa. No coração, uma canção que emociona. Na sua alma, a espiritualidade do lazer e do bem fazer para um povo choroso e saudoso da terra que o viu nascer. O espaço celeste, na sua imensidão, não será capaz de esconder o sofrimento daqueles que por aqui vão ficar, num lugar comum a todos os seus admiradores.

Os associados do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros têm razões para chorar. Aliás, é triste a partida, mas por outro lado, o legado deixado por Téo Azevedo tem um valor muito mais valoroso do que se pode imaginar. O homem morre e a sua imensidão dos afazeres permanece viva. Assim, Deus levou o homem, mas deixou os seus afazeres para que nos tornemos um discípulo dos seus ensinamentos. Obrigado, Téo!

Chora Montes Claros! Montes Claros chora! Assim, Téo Azevedo, sorrindo para todos, silenciosamente se ajeita na urna funerária para a sua última despedida. O momento é triste para todos nós, os seus admiradores. Entretanto, para ele talvez não seja assim tão triste, haja vista a sua alegria em permanecer na memória de todos. Quem sabe, se no outro mundo ele não será mais importante e muito mais necessário para o projeto divino das obras do senhor meu Deus?

Portanto, adeus Téo Azevedo e descanse em paz!


UM RISCO NA PAISAGEM

“Tudo quanto fere a terra,
fere também os filhos da terra ...”
(Cacique Seattle)

Com a epígrafe do legendário Cacique Seatlle/Touro Sentado em sua famosa carta ao Presidente Americano, por ocasião da Conquista do Oeste Americano, expectamos a seguinte premissa: até que ponto podemos alterar o sentido de um rio, sufocá-lo, retirando-o do seu meio, de sua paisagem, de suas planícies e de suas vazantes?

Falo do rio Verde Grande, que ainda nos serve muito, abastece as nossas mesas, embora caxingando entre as curvas que lhe restam, lindado em suas margens, algumas já bulidas, outras, de uma vegetação que lhe é tão peculiar. Resguardado por projetos de manejo, e de técnicos ambientais que, vigilantes, diminuem a agonia do nosso rio, ou, caso contrário, o rio não passaria de um corte vazio, um risco na paisagem.

Neste vale de histórias, o nosso rio Verde vai perdendo o seu ritmo, o seu desalinho, cativo em necessária barragem e permissiado nas suas comportas. Lá vai ele, testemunho de nossa história, no murmúrio silencioso de suas águas.

Nas suas margens, deu-se prioridade aos primeiros assentamentos nos tempos coloniais: Arraial do Cruzeiro, Mocambinho, Arraial de Morrinhos, Retiro, além das primeiras fazendas, dos que chegavam e posseavam das terras dos nossos povos originários. A conquista do Sertão chegava! A passos de largas botas. No meu tempo de grupo escolar, no velho casarão do D. João Pimenta, tínhamos aulas de geografia física do município de Montes Claros. Lembro-me vivamente de esboçarmos em mapa o que era relevante, como marcos topográficos e orográficos, o rio Verde Grande, que fazia fronteira com nosso município, o rio Pacuí, então caudaloso, e, da mesma forma, o rio São Lamberto, o Carrapato, Lages, o Cedro, Cintra e o Rebentão, também o sofrido rio Vieira. E a famosa Lagoa das Traíras que, na verdade, nunca soube onde se localizava.

Os rios de Montes Claros, décadas atrás, demarcavam territórios, alguns, naquela época ainda inexplorados. O rio Vieira marcava o núcleo urbano de antigas fazendas, como, por exemplo, a fazenda dos Pires, que cedeu parte ao Bairro Todos os Santos, a Manga, de Salvador Perez, onde hoje se situa o Mercado Municipal, entre outros. O bairro Melo, cortado pelo rio. Naquela época, o orfanato era um local distante, ermo, ao qual, para se chegar, era preciso atravessar uma ponte rústica. Enfim, a cidade era desenhada pelos rios, que definiam as fronteiras entre o público e o privado. A retificação do rio Vieira, e a abertura da avenida Dep. Esteves Rodrigues, ou a Sanitária, nome que pegou popularmente, pontuando um conceito de saneamento e de modernidade que, creio, fazia parte de um Plano Diretor para a cidade. Foi uma conquista de espaços, que levou a uma urbanização decorrente da nova ocupação.

O rio Verde sempre foi o repositório de histórias e lembranças, o imaginário do montesclarense sempre passava pelo rio. A sua mata ciliar supriu de dormentes a estrada de ferro no início do século XX, a terra abundante pouco valia para alguns, ao ponto de um bocado de hectare ser trocado por uma carabina. Não sei quem saiu logrado nesta negociata.

Faz parte da memória familiar que meu avô teve uma propriedade no local, que meus tios e primos tinham terras no Canacy, e meu colega Caius passava as férias na bela fazenda Sanharó. Na fazenda Macela, o nosso amigo Ariosto Correia Machado trazia vivências. O mesmo se pode dizer de Victor Veloso e dos meninos Guerra Mauricio, lá onde o rio e as lagoas protagonizam as histórias. Um mundo de segredos, abundante em recursos naturais. Vários outros amigos tinham o rio como um suporte, que parecia ligar os Rebello aos Machado, aos Souto, aos Figueredo, aos Lopes, aos Rocha, e trazia notícias dos Maia e dos Quadros, junto ao seu nascedouro, por aí criando elos nesta trama de sentidos, onde a natureza se mistura às entranhas do simbólico e das lembranças. A invernada de janeiro, ampliava e fertilizava seu contorno, o leito era pequeno para tanta fartura!

Nosso conterrâneo, o grande escritor Arthur Lobo, descreve em seu poema O Ajoujo dos Barcos, um rio que lhe era muito familiar, que certamente fez parte de sua história, e nos mostra uma paisagem de outrora que, transportada para os nossos dias, serve como uma reflexão

Amplo, profundo, túrgido, sombrio
Ora estreitando-se, ora apartando mais
O leito - desce o caudaloso rio...
Desce por entre trêmulos juncais

Há muito não acompanho o rio Verde, e sequer sei da sua saúde ambiental, e de quem o fere, sangrando-o. O Dayrell fez uma campanha intensa, que acompanhei pelo jornal, campanha essa que serviu de alerta, e o rio está monitorado.

Aquela velha ponte de madeira, que dividia as duas cidades, não existe mais, a região tornou-se próspera, com atividades diversificadas, o Sertão pulsa progresso, com novos personagens e novas ideias. A malha rodoviária diminui as distâncias, o lendário Grão Mogol e Itacambira tornaram se próximos! A Bahia é logo ali, facilitando a nossa ida para Bom Jesus da Lapa, quando ao sacrifício da promessa se somavam os quatro dias de viagem necessários para lá chegar.

Deixo estas impressões, saudosas eu diria, pois homenageio os amigos e a fruição daquela natureza que a mim parecia quase intocada. Ao mesmo tempo exalto a capacidade transformadora decorrente de novos empreendimentos ali instalados.

Concluo, parafraseando o atual Papa Francisco, cuja mensagem dialoga plena e caudalosamente com a epígrafe acima do Cacique Touro Sentado

“Os rios não bebem sua própria água; as árvores não comem
Seus próprios frutos. O Sol não brilha para si mesmo;
E as flores não espalham sua fragrância para si.
Viver para os outros é uma regra da natureza (..)

(trecho extraído do site do Centro Espirita Eurípedes Barsanulfo)

_____________________________________
NOTA: Para os irmãos Valeriano e Domingos Lopes da Silva, nossa gratidão.
Belo Horizonte abril de 2024 .


AS CASAS DA MINHA VIDA
EM MONTES CLAROS


Carnaval de 1973. Terminada a segunda gestão do meu marido na Prefeitura de São Francisco, decidimos nos mudar para uma cidade maior onde nossos filhos tivessem melhor oportunidade de prosseguir nos estudos. Decisão muito difícil! Filhos pequenos, clientes perdidos com o tempo da Prefeitura, era começar de novo mesmo. Consegui minha remoção para a o órgão da Secretaria da Fazenda, onde já trabalhava como concursada. Embora tivesse deixado a Prefeitura, não tínhamos nada. Apenas um fusca que eu tinha ganhado em um consórcio e meu parco salário. Colocamos a mudança em cima de um caminhão e nós seis, eu, meu marido e os quatro filhos saímos em direção a Montes Claros, “sem eira nem beira”. Alugamos uma casa na Avenida Ovídio de Abreu, 351. Casa pequena, apenas com dois quartos e uma pequena área de serviço. Ela foi testemunha dos nossos primeiros anos em Montes Claros, dos tempos mais difíceis. Matriculamos os meninos na Escola Estadual Armênio Veloso, que era bem pertinho e eles não teriam que deslocar muito. Além disso, o material pedido era mais simples e cabia no nosso orçamento. Pedro viajava todas as semanas para São Francisco até se adaptar em Montes Claros, onde já havia grande número de advogados conhecidos e competentes, até que uma mão generosa se estendeu para ele e o convidou para trabalharem juntos. Nessa casa da Ovídio de Abreu moramos durante quatro anos. Tendo eu passado no vestibular do Curso de Direito na antiga Fadir, que era no casarão onde hoje encontra-se no Corredor Cultural, tinha que me desdobrar. Saia do serviço às 18h, corria até à Ovídio de Abreu para dar uma olhada nos meninos e corria novamente à Faculdade, porque as aulas começavam às 19h10. Morávamos nessa casa quando eu passei no vestibular, Christina e Patrícia fizeram a primeira comunhão no Santuário e concluindo o primário ou ensino fundamental, foram para o Polivalente. Não tínhamos carro e todos os percursos eram feitos à pé. Os meninos no sol quente, indo e voltando, e eu saindo da Faculdade quase à meia noite e vindo a pé para casa, passando
pela antiga Rodoviária até chegar à minha casa.

Carnaval de 2023: 50 anos se passaram e os meninos tiveram a ideia de repetir aquela viagem. Conseguimos um fusca, fomos a São Francisco e repetimos o trajeto. Agora éramos apenas 05 porque nosso querido Pedro já partiu para outra dimensão. Chegamos na porta da casa da Ovídio de Abreu. A frente é a mesma: as grades na janela do quarto, que era o do casal, a grade na varanda da frente. Apenas uma diferença: construíram mais um pavimento acima, onde hoje funciona uma escola de forró. Mas a fachada ainda é a mesma.

Eu estava no penúltimo ano do Curso de Direito, quando o dono da casa a pediu. Teríamos que arranjar outra e eu optei por alguma que ficasse perto da Faculdade. Ia facilitar a minha vida. Mudamos para a Rua Gonçalves Figueira. De lá eu ouvia a sirene anunciando o início das aulas se tinha algum horário livre, eu corria lá em casa para ver os meninos.

Era uma casa bem antiga, com apenas um quarto, o banheiro ficava depois da cozinha, bem pequeno, após uns degraus que levavam a ele. Fiz cortinas bem grandes para esconder as janelas da sala que eram muito velhas e feias. Como não havia outro quarto, os meninos dormiam na sala, nos sofás. Quando às vezes chegava uma visita um pouco mais tarde, antes de eu abrir a porta, eles tinham que sair correndo com as cobertas e ficavam esperando até a visita sair. Vivemos nessa casa alguns bons momentos. Os meninos participavam dos eventos na Matriz e iam para o Polivalente passando pelo fundo, onde hoje é a Avenida sanitária. Quando meu pai adoeceu lá em São Romão, fomos busca-lo para morar conosco e tivemos que dar a ele o nosso quarto. Como havia um pequeno corredor, compramos uma “cama de campanha”, que abríamos à noite para dormirmos (eu e Pedro).

Tempos apertados em todos os sentidos, mas muitos momentos
felizes. Morávamos lá na época da minha formatura e Pedro já tinha um pequeno escritório na Rua Cel. Antônio dos Anjos. Como ele viajava menos, decidimos vender o fusca e dar uma entrada na Caixa Econômica Estadual para adquirirmos um apartamento no Edifício Ciosa, com financiamento em dez anos.

Conseguimos! Arrumei o apartamento do meu gosto. Afinal as meninas teriam um quarto só pra elas. Gustavo e Leopoldo já haviam passado no vestibular e moravam fora. No dia em que nos mudamos para o apartamento na Rua Lafetá, 166 e frente para a Praça Dr. Carlos, quando todos foram dormir, eu sentei em um sofá n sala e agradeci a Deus, murmurando baixinho: “Esse agora é nosso! Ninguém vai nos mandar sair... obrigada, Senhor!

Nesse apartamento Christina e Patrícia comemoraram seus 15 anos, receberam a notícia que haviam passado nos vestibulares,
Gustavo, Leopoldo e Patrícia se prepararam para casar e recebemos o primeiro neto, Fernão Gabriel. O fato triste é que meu pai faleceu em seu quarto, dentro dele, porque pedia para não morrer no hospital, após longa doença que o acometeu.

Transformamos a sala em escritório e começamos a construir nossa nova casa na Morada do Sol, Rua Dr. Luiz França de Souza, 351. Por ironia do destino, o número que a Prefeitura nos concedeu é o mesmo da nossa primeira casa, na Avenida Ovídio de Abreu, 351.

E assim tem sido a nossa trajetória nas casas em que vivemos e moramos em Montes Claros. Muitas lutas, muitos desafios, alegrias e dores, mas a coragem, a fé e a esperança em tempos
melhores sempre foram nossos companheiros de jornada nessa caminhada.


UMA VIAGEM INESQUECÍVEL,
VIVENDO UMA HISTÓRIA DE AMOR EM PORTUGAL

Ano de 1986. Completávamos 25 anos de casados, ou seja, eram as nossas Bodas de Prata. Como eu e meu marido sempre sonhamos ir à Europa, e ainda não tinha sido possível, era hora de realizar o sonho, em uma nova lua de mel.

Passagens compradas, roteiro feito, lá fomos nós na nossa primeira aventura internacional. O ponto de chegada foi Portugal e o sonho estava se tornando realidade. Como é do meu feitio, escrevi um diário da viagem:

“!5 de julho de 1986: Estamos em Lisboa. Chegamos às 07h de Lisboa e 3h do Brasil. Liberadas as bagagens, nos hospedamos
no Hotel Roma. O dia foi excitante. Após descansarmos um pouco, saímos a andar por Lisboa, porque o dia é livre. Desgarramos do grupo e fizemos nosso “tour” particular. Passeamos pelas Avenidas, entramos em várias lojas, fazendo as conversões do cruzado pelo escudo. Tomamos o metrô para o Rossio, que é a parte mais importante de Lisboa. Pagamos 35 escudos por cada bilhete. No Rossio lanchamos, andamos por muitas ruas, fomos ao porto do Rio Tejo, que pensamos que fosse o mar, de tão grande. Do outro lado vimos Setúbal e Almada e a gente pode ir de barca, mas não fomos porque estávamos cansados de andar. Conversamos muito com os portugueses que são muito gentis. Os monumentos de Lisboasão imensos e grandiosos. Jantamos em um restaurante perto do Hotel.

16 de julho de 1986: Ainda estamos em Lisboa e junta-mo-nos ao grupo e fomos visitar pontos turísticos, como vários monumentos, o castelo de São Jorge, o Mosteiro dos Jerônimos, a Igreja de Nossa Senhora de Belém e ainda o monumento aos navegadores e suas descobertas. Vimos emocionados a descoberta do Brasil. O monumento é em forma de barco com as esculturas dos descobridores, no porto do Rio Tejo. Vimos ainda a Torre de Belém que o rei mandou erguer quando Vasco da Gama descobriu o caminho das Ìndias. Dentro do mosteiro visitamos os túmulos de Vasco da Gama e Camões. Passamos pela ponte 25 de abril que é uma construção moderna e que parece a Golden Gate, em San Francisco. À noite fomos a uma casa de fados, para jantar, ver e ouvir a música e dança portuguesas. Lisboa tem a parte nova e a parte antiga que nos faz voltar aos livros de história.

17 de julho de 1986: Estamos em GUARDA. Saímos de manhã de Lisboa, passamos por várias vilas e paramos em Nazaré que é uma aldeia típica de pescadores. Os homens vivem no mar e as mulheres que perdem seus maridos no mar, usam luto fechado. Seguimos para BATALHA onde visitamos o mosteiro de Santa Maria da Vitória. Construído no século XV em cumprimento à promessa que o rei da época fez caso ganhassem a batalha com a França. O mosteiro é lindíssimo, a nave mais alta de Portugal com muitos vitrais e muitas capelas, onde se encontram os túmulos dos reis, suas esposas e seus filhos.


Glorinha e Pedro visitando a Torre de Belém em Lisboa/Portugal.

Ainda visitamos a sala do túmulo do soldado desconhecido com os restos mortais de dois soldados mortos na primeira guerra. Há guarda permanente, desde 1924, trocada de hora em
hora. Nesse local há um Cristo todo mutilado pelos bombardeios,
chamado Cristo das trincheiras e ainda o museu do soldado desconhecido. Daí seguimos para FÁTIMA onde visitamos o santuário e o local onde a Virgem apareceu aos pastores. Rezamos e seguimos viagem para COIMBRA. Visitamos a Universidade e continuamos a viagem passando pela região dos rios Mondejo e Dão, ricas e famosas pelas suas vinhas. Chegamos à noite em GUARDA. É a cidade mais alta de Portugal e tem neve no inverno. Andamos pelas ruas e nos lembramos de Diamantina: casas coloniais, igrejas, ladeiras e becos. Chegamos em Guarda com apenas 300 escudos. Fizemos as contas e procuramos um lugar para jantar. Conseguimos dois pratos de sopa e uma garrafa de vinho por 225 escudos. No dia
seguinte, saímos de Guarda para Madrid, na Espanha.”

Voltei outras vezes a Portugal, mas nada comparável àquela primeira viagem.

Vivemos em Portugal a coroação da nossa história de amor que completava 25 anos e que foi inesquecível na nossa vida.


ANTÔNIO RAYMUNDO PEIXOTO – “TU PEIXOTO”

Antônio Raymundo Peixoto, ou “Tu Peixoto”, nasceu em três de fevereiro de 1930 em Montes Claros. Filho de Mathias Peixoto e Maria da Conceição Santana Peixoto, sua madrinha de batismo foi a grande amiga dos seus pais, a pianista e professora de música na escola normal Dulce Sarmento, uma das primeiras mulheres de Minas Gerais a receber a Medalha da Inconfidência. Antonio cursou os estudos iniciais no Colégio Imaculada Conceição até os treze anos de idade, não concluindo o ginásio na época, pois, como ele mesmo relata em uma de suas crônicas,.. “há onze anos passados quando ainda transpunha o portão do colégio, sentia, o que deve sofrer um condenado ao galgar os degraus que o conduzem a fôrca. Naquela época, não ia ali para voltar, e sim para o que achava o meu maior martírio: o estu do”...

Autodidata não porque se desfazia da importância de um professor, mas porque, pelo seu interesse por vários assuntos, ia fundo no aprendizado, sempre buscando o maior conhecimento possível sobre vários temas por seus próprios meios. Possuía uma biblioteca com inúmeros volumes em várias línguas, estudava muito e sozinho, dominava bem o inglês, francês e espanhol lendo muitas obras nesses idiomas.

Faleceu aos 38 anos de idade em Montes Claros, no dia 26 de maio de 1968, vítima de uma depressão que o levou ao alcoolismo, causando-lhe uma cirrose hepática. Deixou uma única filha (Áurea Tatiana Santos Peixoto, na época, com apenas seis anos de idade) do seu matrimônio com Zélia de Lourdes Santos.


Colunismo social

Os anos 50, época também conhecida como “anos dourados”, foram marcados por mudanças culturais e sociais, como a inserção da televisão na sociedade como meio de comunicação e o boom das musas e atores do cinema, como Marilyn Monroe, Audrey Hepburn, Brigitte Bardot, Marlon Brando e James Dean.

A moda da década teve grandes contribuições para a época. Montes Claros, nos anos 50, possuía pouco mais de 50 mil habitantes – ainda era uma cidade provinciana. Algumas moças aderiram e utilizavam a feminilidade do New Look, criado por Christian Dior no final da década de 40, que transformou a época em uma das mais glamorosas da história da moda, pois o consumo de luxo era sim estimulado pelos colunistas. A meia de nylon, o uísque, o cigarro, as piteiras e o champagne eram vistos como algo chique lançado pela produção hollywoodiana da época.

Nas matinês dançantes, o que na época foi um começo muito difícil, pois a FTM – Família Tradicional Mineira estava atenta e regrava certos avanços dos colunistas no noticiário e promoção das festas. Na época que acontecia das dez da manhã às treze horas da arde, na sede social do Montes Claros Tênis Clube – Praça de Esportes, frequentada pela nova geração da época, que se vestia elegantemente, eram citados as irmãs Mary Wanderley e Terezinha Wanderley (na época, noiva do Dr. Hélio Alcântara), Marlene Almeida e seu noivo Ênio Pacífico de Faria, Alair Almeida e sua noiva Maria da Conceição Vieira, Daisy Soares da Veiga, Miracy Barbosa, muito elegantes com seus vestidos bonitos, os elegantes Walduck Wanderley, Geraldo Gomes, Ataene Amorim e Carlos Colares, nosso colega social Antonio Raimundo Peixoto, Gilberto Barbosa,
entre outros, conforme cita Fernando Oliveira em sua primeira crônica social intitulada “COCK – TAIL” no jornal Gazeta do Norte de 01/01/1955.


12431 – Jovens montes-clarenses na saída da boate da Praça de Esportes, ao final da década de 1950. Pessoas identificadas na foto: Iracy Froes, Clarice Sarmento, Vilma Alkmim, Terezinha Froes, Toninha Alkmim e Yolanda Fróes (foto tirada do Facebook de Maria das Dores Guimarães Gomes, a “Dorzinha”).

As colunas sociais são verdadeiras vitrines do que acontece de mais quente na sociedade que retratam. Por “quente” entende-se quem faz a diferença na sociedade: pessoas influentes, artistas, formadores de opinião, empresários e até políticos estão em fotos de festas, atos e cerimônias que os reúnem, sendo julgados partes do que acontece de mais importante na alta roda.

Todavia, essa pode ser uma definição desatualizada do que realmente se transformou o espaço surgido ainda em meados do século XIX na imprensa americana e sua penny press, iniciado no Brasil na década de 30 por meio de notas curtas sobre fatos sociais. A coluna social demorou algum tempo até o estilo maturar e atingir sua época de ouro com Ibrahim Sued, o “Turco ”, um dos nomes mais expressivos e assinalados como referência e figura dinamizadora do modo de fazer o colunismo social. Com sua estreia no jornal O Globo em 1954, muito provavelmente, Sued foi o mais prestigiado , tirando a coluna de uma cobertura mundana e dando a ela um ar de sofisticação.

O colunismo social em Montes Claros se iniciou na época do jornal Gazeta do Norte com Fernando Oliveira, que, em primeiro de janeiro de 1955, publicou a primeira crônica social intitulada “COCK - TAIL”, em que registrava como vivia socialmente Montes Claros. Filho de Jair de Oliveira, proprietário do Jornal Gazeta do Norte, Fernando Oliveira e Antônio Raymundo Peixoto (Tú Peixoto), no O Jornal de Montes Claros, foram os primeiros cronistas sociais da cidade. Com o nome A.R. Peixoto, Antônio escrevia crônicas sociais, crônicas e poesias com publicações também no O Jornal de Montes Claros. Em 1955, segunda fase dirigida pelo jornalista Osvaldo Antunes, este o adquiriu, como colaborador na Revista Montes Claros em Foco, de Ataliba Machado.

O escritor Dr. Wanderlino Arruda, idealizador e primeiro presidente do IHGMC – Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, em sua crônica “Rua Dr. Santos vista de perto”, relata que, em seu acompanhamento como um jovem repórter, em que acompanhava o Dr. Luiz de Paula (grande amigo de Tu Peixoto; Luiz de Paula o considerava, além de cronista, um grande e estimado esportista de sua época), considerava-o o melhor presidente do Rotary que conhecera. Uma dessas reuniões rotarianas deu tanto assunto a ponto de, no dia seguinte, o Dr. Wanderlino Arruda escreveu todo o Jornal de Montes Claros, com exceção da página policial. Até para a crônica de A.R. Peixoto e, mais tarde, a dos J e J, fornecia dados para fazer sucesso, o que, segundo ele, era uma festa e tanto – nenhum assunto importante poderia ser sugerido ou resolvido sem passar por lá.

O dileto confrade do IHGMC, o Dr. Wanderlino Arruda, prestou o seguinte depoimento em memória de Antonio Peixoto: “Tú Peixoto era muito dedicado ao jornalismo social, tanto na Gazeta do Norte, de propriedade do Sr. Jair Oliveira e que funcionava na Rua Presidente Vargas, como no “O Jornal de Montes Claros”, do Sr. Osvaldo Antunes, com sede na Rua Dr. Santos . Tu Peixoto frequentava praticamente todas as festas, nas quais tomava notas para escrever as crônicas sociais daquele tempo. Possuía uma vasta lista de aniversários, incluindo os de casamentos, sempre tendo muito que escrever, relacionando-se bem, tanto quanto possível, com as pessoas da família do aniversariante. O normal das festas naquela época era ir a caráter: paletó e gravata.

Exímio datilógrafo, redigia os textos para publicação nos jornais, passando-os logo para os diretores, para a revisão final, antes de sua publicação”. (Depoimento do Dr. Wanderlino Arruda em 09 /06/2023).

Minha avó materna, Maria da Conceição Peixoto, relatou-me
muitos fatos da vida social da época em que Tú Peixoto foi cronista. Lembro-me dela dizendo que, nas manhãs ensolaradas de domingo, na sede social do Montes Claros Tênis Clube, com o salão cheio e uma orquestra que agradava a todos, reunia-se a nova geração da época para as reuniões dançantes. Ela destacava a figura de Amélia Prates Barbosa (“Amelinha”), que irradiava alegria com sua mocidade em qualquer festa a que comparecia, como também a dos amigos mais chegados que faziam parte do seu seleto grupo de amizades, como Yêde Ribeiro, Zezé Colares, Marlene Almeida (minha saudosa e querida amiga, colega na Secretaria de Cultura e depois na Casa do Artesão, onde foi diretora e muito fez pela valorização e divulgação do artesanato de Montes Claros), Mercezinha e sua irmã Bernadete (filhas de dona Emília e do Sr. Juca de Chichico, grandes amigos dos meus avós), Maria Inês Alves, Zembla Melo, Alair Almeida, Moacir Almeida, Miltinho Almeida, Teresino (“Terê”), Nery, João da Silva Prates (“Zim Bolão”), Clemente, Ângelo Soares Neto, entre outros amigos que tomariam muitas páginas, se aqui fossem citados.

Lazinho Pimenta, após dar continuidade ao trabalho iniciado por Fernando Oliveira na Gazeta do Norte, assumindo a coluna “COCK – TAIL” em 04/12/1955, permanecendo na Gazeta do Norte até 1961, quando, no mesmo ano, ingressou no O Jornal de Montes Claros através do Dr. Mário Ribeiro da Silveira (“Marão”, grande amigo da família Peixoto, sempre que me encontrava, relatava-me as reminiscências em consideração à pessoa do meu avô paterno Mathias Peixoto, pois, na sua infância, este o ajudava na antiga Estação Ferroviária a transportar as malas dos passageiros que chegavam de trem em Montes Claros). No “O Jornal de Montes Claros”, substituindo A.R. Peixoto (Tu Peixoto), que deixou o colunismo social, Lazinho Pimenta permaneceu no O Jornal de Montes Claros de 1961 até a data do seu fechamento em nove de outubro de 1992, estreando no moderno e vibrante Jornal de Notícias fundado pelos irmãos Edgard e Ernane Pereira, (in memoriam), como ele mesmo relatou na crônica de sua autoria “35 anos de um co-lunista social”, em que cita Fernando Oliveira e A. R. Peixoto (Tu Peixoto), de 10-11 /10/1990.

Lazinho Pimenta foi o primeiro colunista social a permanecer nos jornais, firmando seu nome e tornando-se querido pela
sociedade montes-clarense, conforme relatam as escritoras Yvonne Silveira e Zezé Colares (grande amiga de Tu Peixoto , ela o considerava como um irmão) no livro “Montes Claros de ontem e de hoje”. Na página 94 deste livro, TuPeixoto é citado, cuja foto está impressa e grifada na página 96. Outros grandes nomes do colunismo são citados, como Theodomiro Paulino, Magnus Medeiros (in memoriam), meu querido amigo produtor cultural, ator de teatro e ex-diretor do Centro Cultural Hermes de Paula, João Jorge Soares, que neste ano completou trinta anos de jornalismo social, entre outros.

Rádio ZYD7
Na Rádio ZYD7, na década de 50, Tu Peixoto foi sonoplasta e contrarregra de diversos programas transmitidos pela rádio, como as apresentações de cantores preferidos da época, como Nivaldo Maciel, entre outros que se apresentavam, as radionovelas, imitando as das rádios da capital, com Neuza e Argentina Dias, América Nogueira, Diógenes Vasconcelos, Geraldo Prates, entre outros, e o programa de sucesso pela dupla caipira formada por “Mané Juca” (Antônio Rodrigues) e “Chico Pitomba” (Cândido Canela) (livro “Montes Claros de ontem e de hoje”, pág. 81). Com seu carisma e simpatia, Tu Peixoto conheceu vários artistas e cantores da época de ouro que vieram a Montes Claros, como Grande Otelo, Dalva de Oliveira, Emilinha Borba, Cauby Peixoto, Ângela Maria, Nelson Gonçalves, Lolita Rodrigues, Ivon Cury, entre outros.


Foto tirada em uma sexta-feira, 13/04/1952, nos estúdios da Rádio ZYD7. Acervo particular de Guilherme Peixoto.

 

DNOCS - Departamento Nacional de Obras Contra as Secas


Montes Claros, 07/05/1953. Aguiar (irmão do médico Dr. Áflio Mendes Aguiar), Alceu, Tú Peixoto e Messias (ao fundo). Fonte: foto acervo Guilherme Peixoto. Departamento de Obras Contra as Secas – DNOCS. Foi funcionário do Departamento Nacional de Obras Contra as Secas – DNOCS, de 1953, permanecendo até o seu falecimento, em 26/05/1968.

Esportes

Grande esportista, Tu Peixoto praticou vários esportes na Praça de Esportes de Minas Gerais – Montes Claros Tênis Clube, inaugurada em 1942, na gestão do Dr. Santos – Antônio Teixeira de Carvalho, fazendo parte da seleção de basquete, vôlei, natação, futebol de salão, entre outros, disputando vários campeonatos em várias cidades mineiras, como Uberlândia, Corinto, Belo Horizonte, Caxambu, Diamantina e Salvador. Ficou famoso como goleiro do time de futebol João Rebello – Ateneu. Em 1951, foi considerado o melhor goleiro do interior de Minas Gerais, o que o levou a ser convidado pelo time Vila Nova Atlético Clube de Belo Horizonte, fundado em 28/06/1908, o segundo clube mais antigo de Minas Gerais em atividade, sendo superado apenas pelo Atlético Mineiro, fundado três meses antes.

No Vila Nova naquela época, foi treinado pelo técnico Martim Francisco, considerado um dos maiores treinadores do futebol, o
qual dirigiu os melhores times do Brasil. Esse técnico também era conhecido como o “cientista do futebol” por ser o inventor do 4-2-4 – tal fato foi destacado no livro “Pirâmide invertida”, de Jonathan Wilson, considerado a bíblia da história tática no futebol.

O técnico Martim Francisco Ribeiro de Andrade Sobrinho foi um dos primeiros brasileiros a atuar como treinador na Europa. Após ter permanecido por um período em Belo Horizonte no Vila Nova e retornando a Montes Claros, Martim Francisco veio em sua residência para convidá-lo para jogar na Espanha, tendo recusado o convite.

Foi um dos maiores goleiros do futebol montes-clarense de todos os tempos, conforme cita Wagner Gomes em sua página no Facebook (Maria das Dores Guimarães Gomes – Dorzinha).


Em pé: Josias Loyola, Milton Ramos, Tú Peixoto, Alair Almeida, Alexandre Macedo, Zé Maria Melo e Vivaldo Macedo. Agachados: Moacir Almeida, Expedito Guarinello, Julião, Edgar Lagoeiro e Miltinho Almeida. Foto: acervo Guilherme Peixoto.

ESPORTE CLUBE JOÃO REBELLO – ATENEU
BICAMPEÃO INVICTO 1952

Muitos que viram Tu Peixoto jogar se encantavam com a sua jogada, conforme o depoimento de Gelson Dias, com mais de 53 anos dedicados à rádio e um dos maiores comunicadores do Norte de Minas:

“Quando aportei em Montes Claros em 1949 vindo de Joaíma no Vale do Jequitinhonha, tive a felicidade de ver um futebol bonito, vistoso e que era jogado em um campo de terra, ou seja, o campo Francisco José Guimarães, o famoso ‘campinho do asilo’. Foi lá que eu vi um dos goleiros mais elegantes até hoje. Após eu começar a fazer narração esportiva, eu só via posteriormente Arizona, que jogou no Vila Nova e foi também companheiro do Tú Peixoto no mesmo time. A elegância dele era fora do comum; dava-se a impressão de que ele possuía a bola debaixo da sola da chuteira de tanta elegância que transmite no momento de fazer o Alão e pegar uma bola alta, que chamamos de pote. Ele levou essas defesas bonitas e a elegância de sempre para o vôlei e o basquete que ele dominava muito bem. Eu, garoto na época, ficava impressionado com as defesas que o Tu Peixoto fazia, mesmo jogando em um campo de terra.

Juntamente com minha família convivemos com toda a família Peixoto. Peixoto foi uma boa pessoa, de bom coração e que fez
sempre o bem, e fez bem-feito. Um excelente atleta, boa pessoa, possuía uma inteligência ímpar e uma cultura rica e maravilhosa.

Para mim, foi uma alegria muito grande e um aprendizado que levarei para a vida toda, porque eu também pratiquei esportes e via no Tu Peixoto uma referência na prática do bom esporte que
serviu para minha prática esportiva”.
Depoimento fornecido em 11-06-2023



Tu Peixoto, o sexto em pé, da esquerda para a direita. Acervo Guilherme Peixoto. Fluminense Futebol Clube x Ateneu. Jogo de inauguração do Estádio João Rebello. Montes Claros, 02/05/1954.

Antônio Raimundo Peixoto – Tú Peixoto
03-02-1930 - 26-05 -1968


Foto: acervo Guilherme Peixoto.

Onze anos depois...

Aos meus mestres do Colégio Imaculada Conceição
A.R. Peixoto

Depois de passados onze anos, voltei a visitar o Colégio Imaculada Conceição. “Voltei a visitar” não é o termo apropriado, porque, há onze anos, quando transpunha o portão do colégio, sentia o que deveria sofrer um condenado a galgar os degraus que o conduzem à forca. Naquela época, não ia lá para voltar, e, sim, para o que achava o meu maior martírio: o estudo. Depois de onze anos, tudo mudou.

Naqueles dias, se passássemos em frente ao educandário, pela tarde, tínhamos a vista cheia por um espetáculo que nos dominava e comovia sinceramente, mas que não avaliamos assim naquele tempo. Só hoje compreendemos, na sua simplicidade, algo de grandioso e arrebatador nele. Quem procurou o colégio naquela época para aprender as primeiras letras, certamente, lembra-se do quadro a que me refiro.

Ao chegarmos em frente ao colégio, deparamo-nos com um jardim pequeno e simples, mas que não deixava de ser tratado
como foram os jardins da antiguidade .

Suas flores eram bem cuidadas. Muitas vezes, aventurávamonos admirando uma visão que nos extasiava e que, naquele ambiente singelo, tinha algo de celeste. As irmãs Blanda e Eloína, per com seus costumeiros Hábitos Negros , porém, protegidas por um contrastante avental branco, procuravam, com suas mãos angelicais, enfeitar aquele pequenino pedaço do céu na Terra.

Onde vemos hoje erguida a Belíssima Capela , víamos outrorauma fila de portas servindo de entrada para algumas salas.

Na porta, sempre víamos, com seu eterno sorriso de bondade que nunca abandonava seus lábios, a figura esbelta e esguia da
irmã Generosa. Na porta seguinte, víamos a figura alta e simpática do reitor do estabelecimento: o padre “Chico”, como o chamávamos na intimidade. Por mais ocupado que estivesse, o pastor de almas sempre encontrava um momentinho para dirigir-nos algumas bondosas palavras.

Mais adiante, deparávamo-nos com as flores, que pareciam perder seu colorido exuberante com a preocupação que tinham de tornar mais bela a gruta que enfeitavam, onde, no fundo, entrevemos a imagem da Virgem Maria.

Sempre que levávamos flores para depositar aos pés da Virgem Santíssima, ouvíamos, acima de nossas cabeças, o som argentino do órgão, que vinha da Capela Velha. Era a irmã Efigênia que, naquela hora, ensaiava o coro para as rezas que deviam realizar-se mais tarde.

Como tudo, depois de onze anos, estava mudado lá!

Vemos, ainda, o jardinzinho na entrada. Mas, se olharmos
para o lado onde outrora víamos as figuras simpáticas de nossos
mestres queridos, vemos erguendo majestosamente sua cúpula,
como se quisesse atingir as nuvens, a nova capela.

Não mais vemos as figuras das irmãs Blanda e Eloína cuidand das flores do jardim. Não mais vemos a figura do padre Chico com suas palavras bondosas. Não mais vemos o sorriso de bondade da irmã Generosa. Não mais vemos a gruta, onde outrora veneramos a Virgem Maria. Se ouvimos o órgão na nova capela , as notas que saem dele não mais são executadas pela irmã Efigênia.

Como tudo, depois de onze anos, está mudado lá!

Olhando para tudo aquilo, involuntariamente duas lágrimas rolaram pela minha face, fazendo-me recordar do passado que se foi e não mais voltará.

Revivendo tudo isso, lembrei-me dos seguintes versos:

“Oh! Que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais…”.

Transcrito do original publicado no Jornal Gazeta do Norte em onze de abril de 1954.

Festa de aniversário do IT CLUB em 03/11/1954, realizada na residência do Sr. Luiz de Paula. Fonte:Transcrito da Revista Montes Claros em Foco – dezembro de 1954.

Em três de novembro de 1954, reuniu-se a sociedade montes-
-clarense na residência do Sr. Luiz de Paula para comemorar o primeiro aniversário do IT CLUB em uma festa de gala que continua em foco nos comentários elogiosos, apontada, com razão, como o acontecimento social de maior expressão neste fim de ano . Efetivamente, desde muito não nos era dado presenciar uma festa tão alegre e elegante. Naquele ambiente colorido e ricamente ornamentado, davam-se as mãos a elegância e o bom gosto, sobressaindo agraça da mocidade montes-clarense e a beleza das toilettes. Está de parabéns a simpática agremiação, à qual endereçamos os nossos votos de novos e brilhantes sucessos.

A.R. Peixoto (Revista Montes Claros em Foco – nov. dez/1954).


Da esquerda para a direita, Heleninha Melo Franco, Carmélia Barbosa, Neuza AthaydTereza Barbosa, Terezinha Souto e Cibele Veloso Milo. Foto: acervo Guilherme Peixoto.

Luiz de Paula no microfone com seus amigos Hernani Tribuzi, Tú Peixoto e Edilson Carneiro.

Tu Peixoto no fundo à esquerda, e Edilson Bernardes Carneiro recebendo um arranjo com um abacaxi de Hernani Tribuzi.

Tu Peixoto, Edilson Bernardes Carneiro, Hernani Tribuzzi, Luiz de Paula e Maria Inês Silveira, que se tornou a senhora Luiz Antônio Medeiros, engenheiro-chefe do DNOC - Departamento Nacional de Obras Contra as Secas.


 

ITAGIBA DE CASTRO FILHO

É com imenso prazer que apresentamos ao Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, o discurso proferido pelo Doutor Itagiba de Castro Filho, por ocasião do seu reconhecimento como CIDADÃO MONTESCLARENSE. A cerimônia solene
aconteceu no dia 29 de novembro de 2023, no auditório da Câmara Municipal de Montes Claros. Eu estava presente a convite do próprio homenageado. Gostaria de escrever algo sobre o médico Dr. Itagiba, mas ele já o fez em seu discurso. Ouso apenas completar que ele é natural de Divisa Nova, Minas Gerais, nascido aos 26
de janeiro de 1947; o conheci em sua plena atividade de médico pediatra, no Hospital Branca de Neve, onde os meus filhos, quando necessário, foram prontamente atendidos. Passaram-se muitos anos, eis que, certo dia, o doutor Itagiba adentrou em minha sala na JC Contabilidade e Associados Ltda. Era a minha vez de servi-lo profissionalmente. Parabéns, doutor Itagiba! O título é seu, todavia, Você é um presente para Montes Claros.

ÍNTEGRA DO DISCURSO

Excelentíssimo Sr. Vereador Júnior Martins.

DD. Presidente da Câmara de Vereadores de Montes Claros.

• Excelentíssimo Sr. Vereador Reinaldo Barbosa, autor do requerimento que me concede o honroso Título de Cidadão Montes-clarense.

Em nome dos quais homenageio todos os demais Vereadores desta Casa Legislativa.

• À minha família, aqui presente, minha esposa e companheira Ângela Vera, minhas filhas Mariana, Carolina e Juliana, meus genros Marden e Rodrigo, meus netos Henrique, futuro colega médico, Letícia, futura advogada, Gabriela e Vitóri.


Itagiba de Castro Filho
Presidente do CRM - MG

CITAR OUTROS PRESENTES

Passados 76 anos vividos, 51 deles aqui nesta cidade, tenho
a absoluta convicção de que a minha trajetória de vida foi profundamente marcada pela formação ética e moral que recebi de minha família e os alicerces da minha formação política e social de meu pai.

Acredito que a homenagem que hoje recebo é fruto desta
minha trajetória, à qual se interage com a minha atividade aqui
em Montes Claros.

Durante a minha passagem pelo Colégio de Aplicação da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas UFMG e pela Faculdade de Medicina da UFMG, estes marcos formadores da minha personalidade e caráter foram reforçados. Nesta época, conheci e convivi com personalidades que se destacaram no cenário científico, cultural e humanístico no estado de Minas Gerais e que muito influenciaram na minha trajetória.

Dos 7 aos 15 anos de idade morei em Teófilo Otoni, para onde meu pai, Coletor Estadual, havia sido transferido. Estudei em
escolas públicas no antigo curso Primário (Grupo Escolar Teófilo
Otoni) de onde guardo em minha memória, os nomes de minhas
professoras. Fiz o Curso Secundário também em escola pública no Ginásio Estadual Alfredo Sá, quando então fui morar em Belo Horizonte para fazer o Curso Científico no Colégio de Aplicação da FAFICH- UFMG.

II- O CURSO DE MEDICINA:

Foi na Faculdade de Medicina que tive o privilégio de conhecer brilhantes nomes da Medicina que marcaram a minha vida pela oportunidade de convívio pessoal com figuras que moldaram a formação como cidadão e como médico.

Durante o curso médico participei do movimento estudantil contra a ditadura. Nunca participei de grupos organizados e nem da luta armada.

III- A PEDIATRIA

“E agora, José?”

As incertezas iniciais, as indefinições, opções e compromissos me acompanharam após a graduação. Ante muitas alternativas, optei pela Residência em Pediatria do Hospital das Clínicas da UFMG, que, contudo, não seria concluída em virtude de um convite inesperado... mudar para Montes Claros.

Recém-casado, tinha em mente o ideal de trabalhar em uma pequena comunidade, onde sonhava exercer a Medicina em contato direto e pleno com os habitantes. Era algo bem próximo de uma utopia.

O convite partiu do Professor Clóvis Boechat de Menezes, responsável pela elaboração do 1º Regimento Interno da FAMED e à época Superintendente de Saúde da SES, para eu conhecer uma proposta da SES de criação de um sistema de prestação de serviços para o Norte de Minas, em convênio com a Faculdade de Medicina local e a Universidade de Tulane- EUA. Fui apresentado ao Dr. Eugênio Vilaça e ao Prof. Charles Scofield. O Prof. Clóvis Boechat já sabia dos meus interesses e sentia que a proposta poderia contemplar a minha expectativa

Estava certo.

Assim, transferi-me para Montes Claros, depois de uma conversa demorada com os professores Ennio Leão e Roberto Assis Ferreira para decidir interromper a residência. Lembro-me que o Prof. Ennio me disse: “Acho que vale a pena tentar”.

Assim ungido, iniciei uma fase importante na minha carreira como docente da faculdade local, onde permaneci até 2016, quando me aposentei antecipando em poucos meses a constrangedora situação da aposentadoria compulsória, como Prof. Titular da Universidade Estadual de Montes Claros.

Em 1973, recém-chegado a Montes Claros, fui eleito em lista sêxtupla para o cargo de Diretor da Faculdade de Medicina (FAMED), sucedendo outros renomados médicos, como o Dr. Mário Ribeiro, o Dr. José Rametta, o Dr. Cláudio Pereira e o Dr. Geraldo Machado.

Durante este período, acumulavam as minhas funções no Instituto de Preparo e Pesquisa para o Desenvolvimento da Assistência Sanitária Rural (IPPEDASAR) instituição tripartite responsável pelo desenvolvimento do projeto ambicioso e inovador.

Montes Claros se tornou, à época, a “Meca” da Saúde Pública no Brasil e não se passava uma semana sem que tivéssemos visitas de professores e sanitaristas de todo o Brasil e eventualmente, de países estrangeiros.

O resultado deste projeto foi um documento que propunha um sistema integrado de ações, baseado na regionalização, coordenação interinstitucional, máxima cobertura, financiamento multilateral, hierarquização de serviços, participação da comunidade e equipe multiprofissional de saúde, de resto, muito semelhante aos Princípios e Diretrizes do Sistema Único de Saúde (SUS) - Equidade, Universalidade, Integralidade, Regionalização e Hierarquização.

Como era costume dizer, o SUS nasceu em Montes Claros.
EXEMPLAR PARA A BIBLIOTECA DA CÂMARA

Eu era o responsável pela coordenação do Programa Materno Infantil, juntamente com o Prof. João Batista Silvério que, a meu convite, mudou-se para Montes Claros para ingressar no Projeto do IPPEDASAR.

Posso afirmar que esta opção, corajosa à época, certamente influenciada pelos “arroubos e idealismo da juventude”, marcaram em definitivo a minha trajetória na Medicina. A equipe responsável pelo projeto era multiprofissional e contava com um grupo de assessores da Universidade de Tulane - EUA, da Secretaria de Estado da Saúde de Minas Gerais (SES) e de docentes da Faculdade de Medicina local.

O ambiente era de intensas discussões acadêmicas, resultando na elaboração de um Sistema Integrado de Prestação de Serviços do Norte de Minas, que veio a ser a base para a implantação do Programa de Interiorização das Ações de Saúde e Saneamento (PIASS), vinculado ao Ministério da Saúde, cujas diretrizes englobavam um conjunto de princípios, conceitos e concepções fundamentais constantes no Projeto Montes Claros.

IV- ATIVIDADES PROFISSIONAIS
Exerci a pediatria, primeiramente como atividade docente-assistencial na Santa Casa de Montes Claros e no Ambulatório da FAMED.

Posteriormente em uma clínica implantada com uma proposta muito eficaz, com sete colegas pediatras, mantendo plantão permanente à noite e aos finais de semana. (OBS- CITAR A PRESENÇA DO JB E OUTROS)

Com o aumento da demanda, tivemos que construir um prédio próprio, com área de 1.300 m², com local adequado de internação, lactário, isolamento, sete consultórios e demais instalações necessárias. A demanda progressiva de pacientes da cidade e da região obrigou a equipe a fazer especializações em várias áreas, cabendo a mim a área de Gastroenterologia Pediátrica.

Foram realizados, assim, procedimentos inéditos, tais como a primeira Nutrição Parenteral total e a primeira exsanguíneotransfusão em Montes Claros

Juntamente com a atividade profissional em consultório, também era membro do corpo clínico da Santa Casa, com atividade tanto no Pronto Socorro como na enfermaria, sendo eleito Vice-Diretor Clínico em 1984.

Fui o primeiro Provedor da Fundação Hospitalar de Montes Claros - Hospital Aroldo Tourinho em 1984, criada para suceder a então Fundação Hospital Municipal de Montes Claros.

V- A CARREIRA DOCENTE: ATIVIDADE DE GESTÃO DOCENTE E ENSINO MÉDICO.

O exercício do cargo de Diretor da Faculdade de Medicina do Norte de Minas – FAMED, foi um período de grandes desafios.
Dentre eles, o difícil, complexo e trabalhoso processo de reconhecimento do curso pelo então Conselho Federal de Medicina. A empreitada foi bem sucedida, com o reconhecimento em dezembro de 1974 e com a publicação do decreto em 11 de abril de 1975, já com a primeira turma formada, destacando-se aqui, o Dr. Raimundo dos Santos Sobrinho.

Para que fosse reconhecida haveria que ter um corpo docente qualificado, tarefa das mais difíceis considerando o reduzido número de médicos na cidade com habilitação para tal. Assim, foi necessária a importação de profissionais, especialmente para as disciplinas básicas como: fisiologia, histologia, anatomia patológica, farmacologia e outras na área clínica.

A minha atividade de gestão e docência na FAMED necessitava de dedicação intensiva decorrente das responsabilidades de uma faculdade localizada em uma distante região e com a desconfiança disfarçada de que poderia não ser uma escola de qualidade.

Diversos professores da Universidade Federal de Minas Gerais-UFMG contribuíram para reforçar esta responsabilidade.

Porém, para o reconhecimento final da FAMED pelo MEC, houve a necessidade de contratação de professores residentes em Montes Claros. Fui aprovado para assumir a função de Professor Titular, responsável pela disciplina de Pediatria, pelo então Conselho Federal de Educação.

Destaco ainda o pioneirismo da FAMED, durante a minha gestão, em implantar o primeiro Internato Rural na região no ano de 1974, em convênio com a antiga Fundação Serviços de Saúde Pública (FSESP) do Ministério da Saúde, realizado nas cidades de Pirapora e Bocaiúva, bem antes do início do internato da Faculdade de Medicina da UFMG, este iniciado em 1978

Em 1978, fui novamente eleito para Diretor da Faculdade de Medicina (FAMED) da então Fundação Norte Mineira de Ensino Superior (FUNM). Assumi a coordenação por vários mandatos do
Departamento de Saúde da Mulher e da Criança. Nesta época, iniciei os estudos para implantar o programa de aprendizagem ativa, conhecido como PBL (Problem Based Learning), hoje largamente adotado em diversos cursos de Medicina do país.
Nos anos de 1988 a 1989, participei ativamente na transferência do Hospital Regional da FHEMIG (Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais) para a UNIMONTES, afinal concretizado, tendo sido escolhido pela Universidade como o 1º Diretor (1989 a 1993).

OBS- CITAR PRESENÇAS
Implantamos pioneiramente em Montes Claros, o Projeto Mãe Acompanhante, permitindo que as mães permanecessem integralmente com seu filho internado, durante toda a internação, sendo-lhes asseguradas alimentação, lavagem de roupa e uma poltrona reclinável para dormir. Foi uma revolução na cidade e posteriormente realizada em todo o Estado.

No segundo mandato à frente da Direção do Hospital foram implantadas a Residência Médica em Clínica Médica, Pediatria, Cirurgia Geral e Ginecologia e Obstetrícia, credenciadas pelo MEC e, em seguida, iniciados os preparativos para a Maternidade Segura e o Hospital Amigo da Criança, além da Residência em Saúde da Família, em colaboração com a Universidade de Toronto/Canadá, já no final do meu mandato.

Cumpre aqui registrar a valiosa contribuição de um benemérito e benfeitor, Dr. Aloysio Faria, filho de banqueiro, médico pela Universidade Federal de Minas Gerais – UFMG, tornou-se o mais importante benfeitor do Hospital Universitário Clemente de Faria (HUCF).

A unidade hospitalar leva o nome do pai dele, Clemente de Faria, que nasceu em Pedra Azul. A menção ao Dr. Aloysio deve ser obrigatoriamente associada a outro grande cidadão montes-clarense, o Dr. Mário Ribeiro da Silveira, esposo de D. Jacy, prima do Dr. Aloysio.

Foi durante a minha gestão como Diretor do HU que recebi o chamado do Dr. Mário Ribeiro para ir a sua casa, onde me disse que o Dr. Aloysio poderia dar uma contribuição financeira para o HU. Com sua orientação, e a seu pedido, já acamado em sua residência, redigi uma correspondência ao Dr. Aloysio solicitando ajuda para implantar o primeiro CTI Neonatal/Pediátrico em Montes Claros.

O pedido foi muito bem acolhido pelo Dr. Alouysio, que, além da construção do CTI, providenciou o completo conjunto de equipamentos necessários ao seu funcionamento. Posteriormente construiu e equipou o Centro “Mais Vida” de Referência em Assistência à Saúde do Idoso Eny Faria de Oliveira – CRASI e muitas outras obras daquele Hospital.

Minha homenagem ao Dr. Mário e sua família, da qual tenho o privilégio da convivência e da amizade desde que aqui cheguei. OBS- CITAR PRESENÇAS

Em 2001, assumi a Pró-Reitoria de Extensão da agora Universidade Estadual de Montes Claros (UNIMONTES). Dentre algumas realizações, destaco o Festival Grande Sertão: A Arte e a Cultura do Norte Minas. O Festival aconteceu em Montes Claros e na histórica cidade de Grão Mogol e teve ampla repercussão no meio artístico e cultural da cidade e região. Cumpre destacar a minha participação ativa na elaboração do 1º Estatuto da Universidade Estadual de Montes Claros, juntamente com a Professora América Eleutério, Ilva Ruas Abreu dentre outros que a minha memória me falha. A sugestão da sigla UNIMONTES, bem como a logomarca da instituição foi por mim sugerida e aceita. A logomarca foi posteriormente estilizada.

Em 2003 recebi o convite para assumir a Direção Acadêmica da FUNORTE, onde permaneci por 8 meses, tendo alcançado o objetivo de implantar 5 cursos na área da saúde, todos autorizados pelo MEC: Nutrição, Enfermagem, Biomedicina, Fisioterapia e Farmácia.

Em 2005 assumi a Direção Acadêmica da FASI – Faculdade de Saúde Ibituruna, onde permaneci até o início de 2010, com a missão de implantar os Cursos de Nutrição, Enfermagem, Biomedicina, Psicologia e Farmácia, também muito bem avaliados e autorizados pelo MEC

VI- PARTICIPAÇÃO NAS ENTIDADES DE CLASSE:

Fui um dos fundadores do Sindicato dos Médicos de Montes Claros e Norte de Minas (1975).

Atualmente sou Conselheiro do Conselho Regional de Minas Gerais.

Em 2013 fui eleito Presidente do Conselho Regional de Medicina - CRM-MG (2013 -2015).

Merece ser destacado que esta eleição rompeu uma tradição de mais de 50 anos, sendo o primeiro conselheiro do interior a ocupar o cargo máximo da entidade.

Foi um período bastante conturbado, tendo em vista o início do Programa Mais Médicos, exatamente no mês da posse. Por força, mandado Judicial, os CRMs do Brasil foram obrigados a promover a inscrição dos Intercambista, mesmo sem revalidação dos diplomas.

Ao assumir a Presidência em 01 de outubro de 2013, haviam sido inscritos cerca de 54 intercambistas. Fizemos uma revisão completa dos documentos apresentados e constatamos a absoluta fragilidade dos mesmos, com cópias xerográficas de péssima qualidade, sem reconhecimento de assinaturas, sem transcrição juramentada dos documentos.

Por dever de ofício, foi feita uma representação ao Poder Judiciário para contestar a documentação, representação esta que perdeu o objeto quando o Ministério da Saúde optou por fazer ele próprio o registro do Intercambistas (Registro Ministério da Saúde- RMS) sem necessidade de inscrição no CRMMG. As inscrições até então realizadas, por força de decisão judicial, foram canceladas.

VII- CONDECORAÇÕES E HONRARIAS:

Fui paraninfo da 2ª turma de Medicina da UNIMONTES 1975, da Turma de Sistemas de Informação-2002, da Turma do Curso de Enfermagem em 2003, da Turma de Odontologia 2003 e da turma de Letras – Espanhol 2004.

Recebi a Medalha Carlos Chagas – 1º Centenário do cientista- Governo do Estado de Minas Gerais, por relevantes serviços prestados à Educação em Saúde (1980).

Recebi com muito orgulho, a Medalha CIVITAS - Construtores de Montes Claros 150 anos (2007) e a Medalha comemorativa dos 100 anos de fundação da Junta Central de Saúde da Policia
Militar de MG.

E também com muito orgulho, a Ordem do Mérito Legislativo da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (2015). CITAR O DEP. ARLEN

VIII- DAS RAZÕES:
Este relato descritivo de memórias é um escrito em que se registram os fatos importantes da minha vida. É possível imaginar esta honraria como um acontecimento ímpar na vida de um cidadão nascido em outro município e ser acolhido como Cidadão Honorário na cidade que escolheu para constituir família e a carreira profissional.

De fato, ao rebuscar tudo aquilo que encontrei nas gavetas da minha memória, restou-me a certeza de que cumpri uma missão com dignidade, com humildade e com convicção, um novo desafio para dar continuidade àquilo que sempre fiz neste meu caminho: servir à causa da Medicina e da educação médica, onde quer que esteja.

IX- CONSIDERAÇÕES FINAIS:
Hoje, revendo a minha trajetória, com intensa atividade de gestão acadêmica, de docência e assistencial, pouco tempo me sobrava, mesmo para atividades sociais e para a família. Não tenho
remorsos pelas decisões tomadas, ao contrário, tenho orgulho desta trajetória e acredito que trilhei o caminho que me competia e que era factível à época.

Tenho 3 filhas, uma delas, a caçula, foi acometida de uma rara e grave enfermidade autoimune, progressiva ao longo dos últimos 27 anos e que a deixou cadeirante há 13 anos. O diagnóstico final, Neuromielite Ótica ou Doença de Devic, levou cerca de 5 anos para ser fechado.

Neste período, de 1996 até 2011, foram inúmeros exames, inicialmente só realizados em Belo Horizonte, onde era, e ainda é, acompanhada pelo Professor Francisco Eduardo Cardoso. Nesta época recebemos incontáveis manifestações de apoio e carinho de inúmeros cidadãos e cidadãs desta cidade, muitos deles desconhecidos da nossa família. Hoje ela encontra-se estável, mas ainda demandando nossos cuidados afetivos e físicos.

Quando recebi o honroso convite do Excelentíssimo Vereado Reinaldo Barbosa, refleti que a minha história, com humildade e modéstia, tem muito a ver com esta cidade e seu povo, seja na
atividade profissional, na atividade docente e gestão, seja na atividade associativa.

Assim é que, com humildade e imensa alegria, posso agora afirmar que sou MONTESCLARENSE. Obrigado.


A CRUZ DO FIM DO MUNDO
ORIGEM DE LIOBAS E GABIROBAS

Foi um dia muito importante, tumultuado e comentado. Aconteceu em 1939, ano em que ocorreu uma das mais devastadoras estiagens no norte de Minas. Presume-se que aconteceu no dia de Santos Reis, em 06 de janeiro, ou no dia de São Sebastião em 20 de janeiro ou ainda no dia de São José, em 19 de março. Essas eram as datas mais apropriadas para o povo rezar o terço, o ofício e ladainhas. Tudo em penitências pedindo chuvas.

A região de Porteirinha era uma das que mais sofriam. Choveu em outubro de 1938 e só voltou a chover em setembro de 1939.
As aguadas secaram; o rio Mosquito secou, mas ainda era o lugar onde o povo furava cacimbas e tirava água no pote para gente e animais. A lagoa do Tamanduá foi das poucas que preservaram água porque ela era protegida por densa mata de frondosas árvores.

Com o desmatamento, morreu também.

Naquele dia centenas de famílias oravam pedindo chuva.

Sem qualquer aviso, um barulho estranho e ensurdecedor cruzou o céu do norte de Minas. Muitas pessoas não viram nada e apenas ouviram o barulho, mas ficaram impressionadas com aquilo. O pavor se espalhou pela região. A notícia correu como fogo em rastilho pólvora. Os que não viram nem ouviram nada, também ficaram assombrados com a boataria. O que teria causado todo aquele rebuliço?

A resposta é simples. O desespero generalizado foi provocado por um teco-teco que, pela primeira vez, cruzou o céu da região em um dia de sol muito quente. Apenas isso! O problema é que ninguém conhecia avião.

Vamos começar com a história de uma família que estava reunida em uma casa grande com alguns amigos. Tinham acabado de rezar o terço e oferecê-lo ao santo do dia com muitos pedidos de chuva. Os donos da casa começavam a servir o café com burundangas para os visitantes.

Quando apareceu a zoeira estranha, todos se olharam assustados sem compreender o que estava acontecendo. Alguns tinham a impressão de que o ruído vinha do centro da terra. O medo tomou conta. Em dois minutos estavam todos assombrados. Saíram para o terreiro tentando descobrir. Olhavam para as estradas, para a mata sem entender nada de nada. Uma menina foi a primeira a avistar:

- Óia lá, mãe! Uma cruz lá in riba! Lá no céu!

- É mermo! Ô meu Deus do céu! É a cruz de Nosso Sinhô! Ela
tá avoando pra cá! Evém no rumo de nós! Ramesconder!

A avó quase morreu de susto quando avistou aquele cruzeiro
enorme fazendo um barulho maior ainda, no meio de céu:

- Vixinossa! Chegô a hora! Diz que Deus falô que na hora da
morte nós tudo vai ver a cruz onde ele foi pregado! Ô minha Nossinhora, nós vai morrer tudo! É o fim do mundo! Ô meu sinhô Bão Jesus da Lapa, ô minha vige Maria mãe de Nossinhô, ô minha nossa Sinhora do Prepéte Socôrre! Tem piedade de nósi!

Saiu todo mundo correndo, cada um para um lado, sem rumo, parecendo um bando de malucos. Uns se esconderam debaixo dos catres ou dos jiraus, outros correram para o mato deixando as crianças sem proteção. Um que se dizia brabo chamado Liobino correu e se enfiou no forno de assar biscoitos. A mulher dele, grávida, veio logo atrás e tentou entrar. Não coube. Ela começou a gritar desesperada:

-Acocha, Lióba! Eu também quero entrar! Acocha! Ispreme!

(Um cidadão que viveu aqueles momentos de desespero contou que por causa daquele episódio, o nome de Lioba transformou-se em termo pejorativo, significado de medroso, cagão. Acontece que Liobino, ou Lioba veio a ser cabo eleitoral fanático de Anfrísio Coelho, duas vezes prefeito de Porteirinha. Logo, logo todos os aliados de Anfrísio foram apelidados de Liobas. Para rimar, os adversários se apelidaram de gabirobas. A ideia se encaixou como luva. O informante era lioba muito bem humorado e soltava gostosas gargalhadas ao contar esse causo)

Depois que o avião desapareceu, voltaram todos a rezar novos terços. Ficaram de joelhos em penitência por várias horas, não para pedir chuva, mas para pedir a Deus perdão e proteção para as possíveis almas perdidas que estavam naquela cruz. Também para que o Criador não deixasse o mundo acabar.
Lá perto de Rapadura (atual cidade de Mato Verde), um grupo de mulheres e crianças subia lentamente uma ladeira íngreme em fila indiana. Era a conhecida procissão da penitência. Elas levavam sobre rodilhas nas cabeças, potes cheios d’água para molhar o pé de um cruzeiro erguido no ponto mais alto do morro. Acreditavam que com aquele sacrifício São Pedro ficaria comovido e mandaria chuvas generosas.

Estavam quase no topo da montanha quando ouviram o barulho do avião. Olharam-se espantadas e curiosas. Ficaram quietas, em silêncio, virando-se para todos os lados! Quando uma delas enxergou o avião, bateu o desespero e começou a gritaria:

- Cumade Bastiana do céu! Óia lá uma cruz avoando. Dizque
Deus falou que no fim do mundo a gente vai ver coisa do arco da véia. Aquele cruzeiro deve tá vindo do céu trazendo os aviso de Nossinhô Jesus Cristo!

- Sei não, cumade Zifirina! Acho que já é o fim do mundo!

Ramo sumir daqui!

Por via das dúvidas, elas fizeram o que parecia ser o mais conveniente. Tacaram os potes d’água no chão e desceram o morro na mais desabalada carreira. De ladeira abaixo todo santo ajuda. A dona que seguia na frente tropeçou, bateu a cara no chão. Alguns dentes ficaram lá. As que vinham em seguida não conseguiram parar, nem se desviar. Foi um tal de cair mulher que em menos de meio minuto havia quase uma dúzia delas estiradas no chão.

Não muito longe dali, três irmãos estavam campeando na mata. Um deles acabara de derrubar um boi velhaco e estava segurando o bicho caído, enquanto os outros chegavam com as cordas para amarrar. Ouviram o barulho e os três se olharam espantados. Nem se lembraram de olhar para cima. Um deles ainda teve tempo de gritar:

- É o mundo qui tá acabando! Vamos fugir!

Soltaram o boi, jogaram as cordas para o lado, montaram em
seus cavalos e saíram num galope doido, buscando o rumo de casa. Chegando lá, encontraram os parentes excitados, comentando que tinham visto uma grande cruz no céu. Um dos vaqueiros era mais sabido e matou a charada:

- Ah, então era isso? Deve ser o tal do areoplano qui avoa!
Areoplano, gente, é a mesma coisa que avião. Ele avoa lá inriba do céu e não cai! Eu já vi falar! Ô meu Deus porque é que eu não oiei pra riba, para ver também? (Areoplano em vez de aeroplano. Era como ele dizia).

Aquele grupo foi privilegiado porque descobriu na mesma hora que todo aquele alvoroço foi provocado por um simples “areoplano”. Outras comunidades não tiveram a mesma sorte e continuaram acreditando que aquela cruz voando no céu fosse o anúncio do fim do mundo. O medo foi tanto que no mesmo dia começaram as novenas, terços e mais terços, orações do ofício, de Salve Rainha, do “crém” Deus Padre, confissões de tudo que é tipo de pecado, pedidos de perdão, penitências e qualquer reza que conheciam, porque a hora tinha chegado.

Um sujeito foi pedir perdão ao vizinho pela galinha que surrupiou. Outro pediu perdão ao compadre pelo furto do cavalo dele. Se Deus o perdoasse e não o levasse naquela hora, ele ia trabalhar dia e noite até comprar outro cavalo ainda melhor e pagar pelo pecado.

- Ancê, cumpade? Tem vergonha não? Cuma foi que ancê levô
ele e num deixô rastro, sinal nenhum?

- Eu andei meia légua com ele por dentro do rio.

A história não acaba aí.

**********************

Ainda na década de 1980, em conversa com o Doutor Simeão
Ribeiro Pires, ex-prefeito de Montes Claros as coisas se esclareceram. Ele possuía fazenda em Janaúba e vinha à nossa cidade com muita frequência. Eita sujeito da conversa agradável aquele Simeão! Toda vez que o encontrava, tínhamos sempre tempo para um cafezinho e trocar um dedo de prosa. A cada vez aumentava a minha admiração por ele.

Para quem não o conhecia, Doutor Simeão passava a figura de um sujeito muito sério, carrancudo, triste, caladão. Ele era caladão sim! Mas se a pessoa puxasse prosa, encontrava ali uma pessoa de cultura refinada, um grande pesquisador da história e dos costumes do nosso povo, desde as suas mais antigas origens. Nunca deixei de manifestar a minha admiração por ele. O doutor Simeão Ribeiro foi uma figura ímpar.

Numa daquelas oportunidades eu contei o causo do avião que deixou muita gente assombrada. Doutor Simeão completou elatando mais alguns episódios ocorridos no mesmo dia com o
tal “areoplano”. Com a autoridade de quem vivenciou de perto os episódios ele forneceu alguns detalhes surpreendentes da história.

Em 1938, Getúlio Vargas decidiu construir um campo de aviação e mandar alguns aviões para o norte de Minas. Inicialmente não constituíam forças de combate, eram apenas de vigilância para cobrir o vasto sertão norte mineiro até os rincões da Bahia. Se houvesse levante de outra Coluna Prestes, ela seria rapidamente localizada e combatida.

Por lógica, aquele aeroporto deveria ser construído em Montes Claros, a maior cidade da região. Ocorre, porém, que José Maria
Alckmin era natural de Bocaiuva, deputado federal muito bem votado, amigo de Juscelino, amigo de Benedito Valadares e de Getúlio Vargas. Pela forte influência política de Alckmin, o campo de pouso em terra batida foi construído em Bocaiuva e alguns teco-tecos, de vez em quando, pousavam lá.

O piloto Nathércio França, foi designado para comandar um daqueles aparelhos. Ele era amigo do universitário Simeão Ribeiro Pires, que cursava engenharia em Belo Horizonte. Logo que chegou a Bocaiuva com o aparelho, em janeiro de 1939, França recebeu a incumbência de sobrevoar a região pouco povoada que ficava ao norte e nordeste de Montes Claros. O objetivo do sobrevoo: levar o doutor Othon de Souza Novais, engenheiro da Estrada de Ferro Central do Brasil para reconhecimento aéreo da área que se estende desde Montes Claros até perto da divisa com a Bahia. O doutor Simeão era amigo do doutor Novais também.
O Governo Federal pretendia reiniciar as obras de construção da ferrovia que estava estacionada em Montes Claros desde 1926. A pedido do diretor da obra, o doutor Demóstenes Rockert, o doutor Othon Novais deveria fazer observações e traçar o possível trajeto da estrada, procurando sempre os lugares mais planos e sem obstáculos.
Com aquela obra, o governo queria atingir três objetivos: 1º - Estratégico. Uma ferrovia pelo interior do país facilitaria o transporte de tropas com rapidez. 2º - Econômico. Estabelecer intercâmbio comercial e cultural do sul com o norte e o nordeste. 3º - emergencial. Gerar empregos e evitar o aumento do êxodo rural dos sertões de Minas e da Bahia, castigados pela pior seca que se abateu sobre a região em todo o século XX. O piloto França e o Dr. Novais saíram de Bocaiuva perto das nove horas, depois que diminuiu a neblina sobre a serra. Isso porque o avião não dispunha de nenhum equipamento e o piloto tinha que se virar tanto na decolagem, quanto no voo ou na aterrissagem. A autonomia do aparelho era limitada a aproximadamente 3 horas ou 900 quilômetros. Por isso, eles foram até a região de Monte Azul, fizeram um giro por lá e retornaram. Quando acabaram de cruzar a serra que separa Bocaiuva de Montes Claros, o piloto diminuiu a altitude. Estavam sobrevoan
do a Fazenda Boqueirão onde se situa atualmente o 55º Batalhão de Infantaria do Exército. Ali existia uma escola particular onde a professora era tão baixinha quanto exigente e brava. A mulher não tolerava nenhum tipo de indisciplina. Por qualquer deslize o moleque tinha que passar algumas horas de joelhos sobre caroços de milho. Ainda agradecia a Deus quando não caía na palmatória.
Mal, mal a escola foi invadida pelo barulho estranho e ensurdecedor do motor do teco-teco, deu a louca na professora e nos alunos. Saíram todos correndo procurando suas casas. Perto da escolinha havia um rio perene de águas limpas com mais de um metro de fundura. Muitos alunos e a própria professora tinham que atravessar o rio que ficava entre a escola e suas casas. Havia uma pinguela para passagem de pedestres.
Alguém se lembrou de pinguela? Que nada! Vieram correndo,
jogaram-se no rio e o atravessaram com água pela cintura ou pelo pescoço com roupa e tudo. Chegaram às suas casas desesperados, contando histórias confusas sobre um estranho barulho que ouviram na escola. A confusão aumentou ainda mais quando outras pessoas, meio atarantadas disseram ter visto um “trem grande, esquisito, avoando lá no meio do céu”.
Um carroceiro que levava várias cabaças de leite viu de perto e ouviu o barulho doido daquela coisa que mais parecia assombração. Chegou a taca no cavalo e disparou para a cidade. O núcleo urbano de Montes Claros se estendia aproximadamente naquele polígono formado pela Praça da Catedral, a estação da Estrada de Ferro, o bairro Morrinhos, a Santa Casa e a cidade velha nos fundos da Igreja Matriz.
A Praça de Esportes e o bairro São José ainda eram mangueiros de bengo da fazenda do Coronel Filomeno Ribeiro. A “Maiada” de Santo Reis, atual bairro Santos Reis, ficava lá em cima do morro
ao redor da Igrejinha, a quase uma légua do centro da cidade.
A informação do carroceiro bateu com o zum-zum-zum sobre o barulho estranho que muitos ouviram e não viram nada. Muita gente de Montes Claros já conhecia grandes cidades. Portanto, sabia o que era avião. Mas a maioria era ignorante a respeito do assunto. Não é difícil imaginar o tamanho do pânico que tomou conta das pessoas. Para complicar as coisas, a todo instante chegavam novos comentários assombrados do pessoal lá do Boqueirão e imediações sobre o estranho fenômeno.
Centenas de panelas de ferro com feijão catador, arroz de pilão, abóbora de porco, jerimum, maxixe, carne de bode ou de boi temperadas com toucinho, viraram carvão e cinza sobre os fogões aquecidos pela lenha que era trazida dos gerais em lombos de jegue ou carros de bois. Duas horas depois do primeiro acontecimento, os ânimos já começavam a serenar quando ressurgiu a assombração. De ouvidos atentos, quase todos perceberam quando o barulho começou a incomodar pelos lados do atual Parque de Exposições da cidade. Uns queriam ver. Outros se escondiam porque tinham medo. Pensavam que aquilo fosse uma mensagem divina ou do diabo. O piloto França, querendo mostrar aos amigos que era realmente ele quem pilotava aquele avião, fez um voo rasante sobre a cidade. Aí o
pau quebrou. Pessoas correndo para lá e para cá, atordoadas, atropelando-se umas às outras sem saber que destino tomar.
Comerciantes fecharam suas lojas, vendas e armazéns, temendo o fim do mundo. Empregados abandonaram seus serviços e correram para casa querendo ficar perto das famílias.
O boato de duas horas atrás deixou muita gente assombrada
na Santa Casa, único hospital que havia na cidade. Quando o avião fez o tal voo rasante sobre o centro da cidade, doentes, visitas, funcionários do hospital saíram apavorados para a rua. A Praça da
Santa Casa ficou cheia porque até pacientes de pernas quebradas e com muletas saíram correndo com medo. Mais dramática e constrangedora foi a situação de um casal lá na roça que tinha muitos filhos e quase uma dúzia de netos. Em
prantos, na frente da família reunida, a mulher se ajoelhou aos pés do marido e pediu perdão pelos chifres que tinha colocado nele. Chorando com medo da morte, ele respondeu que perdoaria se ela também o perdoasse pelo mesmo pecado.

- Eu perdoo Zé Cornélio, mas me fala quem foi a safada! (Prantos, soluços, arrependimento).
- Foi cumade Terezinha! (Choro de fazer dó).
- Cumade Terezinha minha prima?
- Sim, ela mesma!
- Uai! Mas já tem quase cinco anos que ela morreu!
- Pois é, mas foi só ela, pode creiar! E ocê, Raimunda, fala com quem foi que ocê botou chifre ni eu?!
- Deixa eu alembrar, Zé Cornélio porque foi muita gente.

Cumpade Tiodoro, cumpade Missião, cumpade Jinuaro, cumpade
Davi, Seu Firmino Caôi, Seu Lamberto, cumpade Bilizaro, Seu Cardoso, Seu Quelemente do pé troncho, cumpade Vicentão, Seu Nicácio Carpinteiro! Ah, Zé Cornélio, perdoa eu assim mesmo, sem falar os nomes dos outros. Eu tô com tanto medo de morrer que não consigo nem alembrar de tudo!
A gozação maior aconteceu quando descobriram que todo aquele alvoroço foi provocado por um simples teco-teco.


ESTIVE POR AÍ...

Esse país chamado Brasil, com suas dimensões continentais,
comporta dentro do seu território vários países, fascina todo
mundo, tanto estrangeiros e brasileiros, as belezas de nossas paisagens, a cultura e o povo, o povo, esse personagem é sem
dúvida o maior patrimônio deste país. A vontade de sair sem rumo acaba sendo o desejo de todo mundo, o tédio e as preocupações, viram rotina na vida de quem procura descanso paro corpo e a alma.
Foi assim que vi minha curiosidade virar realidade, deixei Montes Claros pra trás, entrei num velho caminhão abarrotado de entregas de colchões com destino ao nordeste brasileiro, o guia
rodoviário, me mostrava a grande quantidade de cidades que eu
iria encontrar pela frente, além da extensão do trajeto a ser percorrido, com milhares de quilômetros incluso no pacote, o tempo parecia estar parado, o cansaço saiu de cena, e no lugar dele a empolgação, ah, a empolgação nos traz energia, revigora nossas
forças e nos faz sentir vivos, com uma sensação de liberdade indescritível.

Atravessamos o norte de Minas Gerais, entramos no estado da Bahia, com o sol virado pra tarde, era chão que não acabava mais, mesmo sabendo que a viagem estava apenas no começo, salvo alguns cochilos, no mais, era só apreciar a estrada e o fluxo intenso de caminhões na Br 116, mais conhecida como Rio-Bahia, realmente, o país não é nada sem o transporte rodoviário, cargas vão e vem dia e noite, sem contar o grande número de automóveis e ônibus, que circulam pra lá e pra cá, levando pessoas até o destino escolhido. Atrás do volante, personagens desconhecidos, oriundos de lugares distantes, cada um carrega consigo sua história de vida, vivendo sua grande paixão, a estrada...mesmo com seus perigos, a fascinação pela profissão fala mais alto, pra muitos, é uma cachaça difícil de largar.

E assim, passando por cidades, cruzando divisas entre estados, seguimos. Fizemos várias entregas em algumas cidades do interior de Alagoas, para então finalizarmos os nossos trabalhos, na capital do estado, Maceió, fundada em 1591, cidade banhada pelo mar, com suas praias paradisíacas, destacando a praia do Francês, com uma população acima de um milhão de habitantes, total este, no qual inclui-se a população de outros dez municípios que compõe a região metropolitana da capital. Como em toda grande cidade brasileira, a população da periferia, a qual visitei durante meu trabalho, sofre com a falta de infraestrutura, deixando a população sem acesso ao básico, asfalto e principalmente rede de esgoto, vi com meus próprios olhos, esgoto a céu aberto, escorrendo pelas ruas em frente aos portões das residências. Após o término das entregas em Maceió, retornamos pra Aracaju (que na língua Tupi quer dizer cajueiro das araras) capital de Sergipe, a praia de Atalaia é destino certo pra quem chega e pra quem reside aqui, sua fundação foi em 17 de março de 1855, a exemplo da capital alagoana, os números do censo, informa que Aracaju, possuía 940 mil habitantes, incluindo nessa contagem os municípios que formam a região metropolitana da capital, sendo esta, a que possui a menor população entre as capitais nordestinas, apontada também, como a capital com menor desigualdade do nordeste brasileiro, outro dado importante, Aracaju está entre as capitais com menor custo de vida do país.

O estado de Sergipe é o menor do país, tem a cana-de-açúcar
como sua principal atividade agrícola, destaca-se também outras culturas, como a produção de coco, laranja e mandioca. O extrativismo mineral tem grande importância na economia do estado, petróleo, gás natural, calcário e potássio.

Observei durante o trajeto, o qual me trouxe até aqui, campos de petróleo sendo explorados a beira da Br, bem visível aos olhos dos transeuntes, cena esta, vista por mim em alguma reportagem da TV, está sendo utilizado aqui na exploração, o método chamado cavalo mecânico, um sistema simples, porém, muito eficaz no bombeamento do petróleo presente naquele poço até a superfície, essa cena me lembrou a famosa gangorra, tão disputada em nossas brincadeiras nos tempos de criança, durante os passeios ao nosso parque municipal.

Usamos o pátio do posto de combustível como hospedagem, ficamos dois dias estacionados esperando carga para então voltarmos pra casa, nesse pouco tempo, observei e ouvi muita coisa, dentre elas, a combinação de quatro frentistas, dividindo o valor da compra de uma caixa de charque, e fiquei pensativo, como é que iriam consumir aquela carne tão salgada! “é só colocar na água pra tirar o sal, depois coloca na panela de pressão, aí, não sobra nem pros cachorros” palavra do Lima, o frentista mais comunicativo da turma, responsável pelo dinheiro, não usava uniforme como os outros, para evitar ser rendido em caso de assalto, apesar que, seguranças fortemente armados rondavam a área do posto, inibindo a ação dos bandidos.

Fiquei parado a beira do asfalto observando o fluxo de carretas carregadas que passavam naquela rodovia, senti saudade de casa... a tarde caia, a noite chegava rapidinho, é hora da fila do banho, alguns amigos conversavam durante a ducha fria, faziam planos de voltar rápido pra casa e carregar novamente, os compromissos tinham que ser honrados, “o patrão fica na cola” o pouco tempo com a família é sagrado

A rotina do estradeiro é assim mesmo, entre uma parada e outra, uma noite mal dormida, um café requentado, a fila demorada da descarga, um número de telefone anotado num pedaço de papel, sela então a amizade entre duas pessoas que mal se conhecem, mas que, em breve o destino os colocará frente a frente, quem sabe, talvez em outro posto de combustível a beira da estrada. Fiquei parado imaginando, enquanto criava coragem para enfrentar a água fria do chuveiro, e me perguntei, como seria meu retorno pra Montes Claros, terra da carne de sol, não querendo desmerecer o gosto dos frentistas sergipanos, o que teria eu para contar, e o que ficaria marcado em minhas lembranças, as paredes do meu tempo, provavelmente se encarregará da missão de proteger minhas lembranças, não permitindo que as mesmas, fujam de
minha memória, ou desapareçam com o passar do tempo.

Após o banho fui até o restaurante, o salão estava cheio de pessoas, rostos desconhecidos, alguns apressados querendo seguir viagem na tentativa de ganhar tempo, outros querendo descansar depois de um dia cansativo, enquanto uns iam, outros chegavam, me chamou a atenção naquela noite, quando um caminhoneiro, usando boina e camiseta com frases escritas em inglês, parou em frente ao restaurante, desceu, e deixou a porta semi¬aberta, o sujeito acredito tinha a mesma idade que eu, no som do caminhão tocava Yesterday da banda Beatles, Yesterday é uma canção composta por Paul McCartney, para o álbum Help no ano de 1965. Como tantos naquela noite, pediu um café, acendeu um cigarro, aumentou o volume do som e seguiu viagem.

Pela manhã, apareceu um homem com sua longa barba branca, veio trazendo seu caixote cheio de pincéis e latas de tinta, tinha uma certa dificuldade, devido a bebida, em negociar com o motorista, o desenho de uma paisagem na lameira traseira do caminhão, no fim acabaram se acertando, de longe o vi meio trêmulo, com um copo de bebida na mão enquanto se preparava para fazer o serviço. O artista caprichou! a tela com uma garça no meio do mangue com o mar aberto ao fundo, mostrava ainda, um céu azul com nuvens brancas em formato de bolas de algodão, chamava a tenção de todos que passavam, o mais interessante de tudo, é que aquela paisagem desenhada, era a mesma representada na tampa do gavetão do meu caminhão, pintada tempos atrás, entendi então o sentido da frase que diz, “até as pedras se encontram” O artista que conheci naquela manhã com um copo de bebida na mão, deixou seu nome gravado ao término do serviço, dei uma observada e achei legal aquela obra de arte, notei então, em pouco tempo notei que o artista desconhecido se fora... inebriado, com seu caixote de pincéis e latas de tintas, saiu sem dizer palavra alguma, o grande movimento de caminhões, fez com que o mesmo desparecesse entre eles sem deixar vestígios.

Ainda pela manhã, um agenciador de cargas me aborda, e me oferece uma carga de papel higiênico, com o seguinte trajeto,
começando por Feira de Santana, e finalizando em Valença, região da costa do dendê, aceitei a proposta, sabendo que meu retorno pra casa ainda demoraria alguns dias.

Assim como cheguei até aqui, comecei a fazer meu caminho de volta. Para minha grata surpresa, a vida me ofereceu a chance de conhecer um pouco desse país maravilhoso, com sua gente simples, sem medo de mostrar sua realidade, escrevendo sua história de maneira natural, enfrentando grandes desafios, tentando sobreviver num país onde o trabalhador não é reconhecido e valorizado como deveria.


Foto ilustrativa - internet

MAIS UMA DEMOLIÇÃO
EM MONTES CLAROS

Mais uma casa antiga no Centro de Montes Claros foi demolida. O palacete, em estilo neoclássico, provavelmente construído entre as décadas de 40 e 50, virou entulho nas últimas horas do ano de 2023. Localizado na Rua Dr. Santos nº
214, ele estava desocupado há bastante tempo.

Foi construído pelo mestre de obra Levi Pimenta para abrigar a família de Dominguinho Braga, depois foi adquirida pelo um dos maiores empreendedores do Brasil, o várzeapalmense Luiz de Paula Ferreira.

Palacete grandioso, com pórticos de colunas colossais – pilastras despojadas de capitéis– com belos lustres nas fachadas e no interior – janelas e portas de ferro fundidos– ladrilhos cerâmicos – nobres mármores e granitos- serviu de cenário para vários books de fotos para muitos casais e glamour girls.

Agora, sem compaixão nem piedade foram destruídos sem retirar quase nada-me parece que somente os lustres de cristal estilo francês foram poupados.

As pessoas que trabalharam na demolição nos informaram que os herdeiros possuíam licença da Prefeitura e do “Conselho Municipal do Patrimônio Histórico, Artístico e Cultural de Montes
Claros” para demolir o palacete histórico com área de800 metros
quadrados.

A demolição começou nas primeiras horas do dia 31 de dezembro por uma retroescavadeira possante, iniciando pela fachada enfrentando algumas dificuldades para derrubar as grandes colunas com seus capitéis jônicos.

Os transeuntes indignados acompanhavam a destruição das portas; janelas; colunas e telhados. Eu particularmente montes-
-clarense nato, assistia à cena com certa dor no coração, pois, desde criança conheço aquela mansão – lamento profundamente que a memória arquitetônica da cidade esteja se perdendo.

Uma senhora, “bem-vestida”, parou seu carro, fez alguns comentários acerca do grande visionário que ali morou. Dentre os comentários, diz: - “que não havia nada a ser feito, por se tratar de uma propriedade privada”. Mas, com um semblante de desaprovação, lamentou a grande perda cultural.

Os montes-clarenses de verdade sabem da importância histórica dentro do conjunto arquitetônico.

Muitas pessoas– já de madrugada – paravam para assistirem a voracidade da retroescavadeira -consideraram a demolição como truculenta e lamentável.

Sem dúvida era um imóvel de grande valor histórico! Desdenhar a história e o patrimônio cultural de Montes Claros, é o mesmo que COMPACtuar com aqueles insensíveis aos valores da memória.

“É A FORÇA DA GRANA QUE ERGUE E DESTRÓI COISAS BELAS”.

VIDA SOCIAL

Montes Claros tem em sua importância nas páginas do campo cultural, político, esportivo e artístico. Nesta atual conjectura, um polo cultural. E acreditamos um promissor futuro para a cidade.

Desenvolvimento com a valorização de sua gente. Formada pela sua grande população hoje em uma vida social e etnográfica da
região norte mineira. Traz-nos de volta o orgulho de sermos Montes-clarenses, inserida neste contexto social pela cultura histórica.

É neste contexto que a nossa história se inicia com a vida social e de um povo para construir uma cidade prospera no sertão das Gerais.

Investida nesta cultura social Montes-clarense, em princípio num desdobrado trabalho, de firme propósito, elaboramos com grande entusiasmo, está anotação sobre a cidade e que nestas páginas escrito o roteiro traçado de nossos acontecimentos remotos. Sem entender o tempo que passa, pesa às nossas lembranças, queremos prender o tempo que foge indo com nossa saudade pela nossa passagem na vida profissional, laboral e familiar. Temos um universo comum de lembranças calorosas. O que resta nos são fotografias, retratos registradas e encontradas em nosso acervo especial e particular.

‘Nós’ e o tempo. Tentamos escrever não para ganhar de novo o
mundo, mas pela conquista da posteridade. Em nosso coração ainda vive as imagens dos amigos, familiares e a parentela.

Passamos pela vida com dignidade, justo motivo para sermos lembradas pela filha, neta, genro, familiares e íntimos amigos.

Montes Claros cresce com esforços permanente preocupação de conquista de poder econômico, e tornar-se expoente política no Norte de Minas.

As tradições familiares montes-clarense e da elite cultural, está neste roteiro dos nossos descendentes e acontecimentos do estampado passado. A cidade ligada à nossa história, está no registro do nosso acervo pessoal inserido no álbum fotográfico de mais de 2.578 fotografias, Audi – vídeos, armazenados em CD DVD, Blu-ray e portfólio e demais informações de conteúdo digitalizado. Olhando cada uma das fotografias organizada em mais de 30 pastas, resgatamos um pouco da nossa história e daqueles que amamos e não deixamos esquecer aqueles que nós fomos um dia.

Ver fotos antigas e´ o tipo de atividade que a gente faz com menor frequencia do que deveria e, honestamente, não sabemos por que.

E´ gostoso, e´ divertido, e´ como um mini filme pessoal passando na nossa frente, revivendo momentos ta~o especiais quanto corriqueiros, relembrando dos lac¸os afetivos e mostrando para gente de onde viemos. E nessa mesma linha de pensamento um letreiro vivo no verdadeiro panorama da vida.

Levantamos bem cedo, com a bruma da manhã aos primeiros
raios do sol nascente, e vivamos o resto do dia de modo tal que arranjamos nobres motivos que as nossas memo´rias, registradas em fotografias, objetos, cartas e outros, sa~o como as pedrinhas do conto d
e Joao e Maria, que indicam o caminho de volta para casa, de volta para o nosso ‘eu’ mais puro. Faz a gente valorizar aqueles que estao ao nosso lado por tantos anos e tambe´m as nossas conquistas, a nossa histo´ria, os nossos afetos e toda a trajeto´ria ate´ aqui. As nossas memo´rias sao como os tijolinhos que constroem dia apo´s dia, a nossa identidade atrave´s de tudo o que passamos e aprendemos ao longo da vida. Moldura elementar e necessária, lembrado pelo caminho neste mundo.

E´ gostoso ver nossos pais sorridentes com a idade que temos
hoje e relembrar das festas de aniversa´rios. Principalmente os anos mais marcantes 2013 em diante. Estão em nosso álbum os registros de fotos nossos melhores amigos de relevância, familiares e a parentela. É especialmente delicioso encontrar com os respeitosos amigos aqui dentro desta majestosa história. Somos felizes todos esses anos, muito mais de pureza de sentimentos, na verdade o único material com que se pode construir a solidariedade e o amor neste diapasão vivo por nós argumentado.

As fotografias em nosso arquivo pessoal “memória social e afetiva de nossa convivência” possam contar com os amigos de melhores relevâncias e considerações; os Defensores Públicos de Montes Claros, representando a Defensoria Pública do Estado de Minas Gerais, que nos fazem a história. Fazendo parte da história do grupo familiar Montes-clarense. ‘Nós’ fomos privilegiados, pois, somos muito bem representados com muito carinho pela Instituição Estadual. Resgatamos os momentos vividos juntos as ilustres autoridades estadual, estagiários e servidores. Os anos mais marcantes dos nossos aniversários
de 2013 consagrado até o ano de 2017, todos eles, aqui em nossa residência estiveram presentes ao nosso lado. Marca da nossa vida que seguirá de geração em geração e nos fazem entender quem somos e de onde viemos nesta grande narrativa particular. Este nosso álbum fotográfico é para nós muito preciosos, permite a tradições e
características de como a gente era em determinada época. Este álbum fotográfico guarda um montão de informações valiosas que nos ajudam a perceber as relações e as práticas familiares. E mais do que isto: álbuns de família contam histórias. Reveste-se de caráter
de ritual de passagem. É uma cerimônia oficial, promovida e realizada na maioria das vezes pela própria Instituição Estadual e Municipal, com caráter formal, festivo e administrativo, organizado de acordo com as orientações estabelecidas pela Coordenação Local e a Câmara Municipal de Montes Claros. Nesse sentido, as fotografias avulsas revestem-se de marcante aspecto simbólico. Esse momento significativo e solene da nossa vida pública é registrado em fotografias que são geralmente organizadas e apresentadas em álbuns com o acabamento.

E é a partir dessas fotografias possibilita-nos a construção desta nossa narrativa histórica montes-clarense. Este nosso acervo no arquivo pessoal de tantas fotografias é um espelho do nosso estampado passado e uma projeção para o nosso futuro. Lugar que favorece os encontros e reencontros, a revelação e a presentificação do passado familiar e de tantos amigos presente, possamos realizar e sentir pertencimento com o digno grupo.

As inúmeras fotografias e imagens, acima expostos, registros visuais gravados em audi-vídeos e portfólio, dezenas de 30 pastas, na galeria do aparelho celular, guardadas as imagens capaz de provocar a nossa curiosidade e nos remeter ao que nos constitui como sujeito. Armazenado o registro dos eventos sociais, ganha um simbolismo ainda maior: ‘lembrar em detalhes de coisa que efetivamente aconteceu nos nossos aniversários em casa, no próprio local na Instituição, são recordações que ficam registradas de felicidade na nossa memória. ’ A possibilidade de mostrar as imagens que ilustram esta nossa fala são salvas no computador, pen-drive, e CDs, cenas que poderemos assistir na televisão, por enquanto é este o instrumento de uso. Junto das imagens, documentos e outras lembranças guardadas que são muitas fotografias antigas do século passado, século 20. Último ano do 2º milênio.

Atravessando o século 20 para o 21, registramos os retratos,
fotografias e os Audi-vídeos junto aos organizadores, influentes literatos e poetas do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, desde o ano de 2020, época de posse de associado(a). Eventos sociais como o do colunista social João Jorge Dias Soares mais conhecido como ‘JJ’, desde o ano de 1994. Por isso, agora, se algum momento o marca ou nos divertimos, já vale o registro, para materializar as novas memórias de vida. Para nós a fotografia e imagens é uma das melhores formas de contar nossa experiência, convivência, uma trajetória inteira com os melhores amigos, familiares e os pares.

O tempo da cura e um olhar afetuoso para o passado, tentativa de ressignificar essa experiência e apoiar na criação de novas memórias, pessoas, momentos e lugares, lembrar de momentos vividos apesar de passado tanto tempo. A reunião para comemorar aniversários, comemorações natalinas, confraternizações, os eventos sociais de café da manhã com os assistidos e o dia do Defensor Público, foi de grande importância para nossa vida. O importante é celebrar a vida e estar juntos desses melhores amigos e familiares.

Os nossos mais sinceros agradecimentos a todos eles. Relação social de sublime consagração. E desta asserção, as visitas em nossa casa de renome e tantos outros de cérebros altamente ilustrados, sustenta o armazenamento de rico acervo próprio, distintivo por animação e essência de gratidão sentimos gratíssima satisfação.

Este arquivo respectivo de fotografias e filmes nos emocionamos muito e que lembramos que existem na nossa cabeça e no nosso coração os nossos mais afetuosos agradecimentos a todos que participaram dos nossos eventos. Uma importância histórica - compõem álbuns, as fotos avulsas e muitas impressas em foto-livro datadas.

E nesta formalização, contamos neste nosso artigo, contando um pouco da história dos entes queridos em texto e fontes históricas.

É para nós uma valorização como objetos de coleção e raridade, hoje está registrado com palavras e as reproduções exatas, contando agora a história através do texto


Para a posteridade, esta matéria e álbuns são importantes artigos históricos de análise e de estudo da vida histórica desta determinada época, em meio o nosso ambiente profissional, social e do bem-viver-social, celebração familiar e nas nossas viagens.

Arquivo pessoal e individual e de estampadas ilustrações, um documento que se caracteriza primordialmente pela completude e pela lógica devidamente organizada.

Narrativa sobre determinado assunto documental. Articulando imagens e textos. Esse texto que se apresenta indentificatória e de acompanhamento, conduz a narrativa, preenche as lacunas do outro.

De modo que estabeleçamos condição para que este Álbum exista. Assume ao mesmo tempo a função de arquivo, pois é uma forma de guardar as imagens de objetos iluminados, e a de contar histórias, porque tem uma “vocação narrativa” já está presente.

Acrescentando que, além da narrativa, esse pré-requisito também estabelece uma série documental.

Pois bem, escrito fica investido o brilhante inventário na Revista do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, construído pelo álbum fotográfico encadernadas outras digitalizados e outras em portfólio, é invariavelmente motivado pela intenção de preservação da memória, pelos apontamentos fotográficos e pela mensagem apresentada, caracterização da organização narrativa do livro.

Visto que, o caderno em branco chama-se tempo. Assim, um álbum é um arquivo, pois, além de preservar dados, apresenta-os de modo organizado e sistematizado. Quando vemos através dos retratos nos álbuns, emocionamos, dado que percebemos que o tempo passa e a noção de passado nos torna de fato concreto. Novos depósitos da memória familiar em uma dimensão privada e familiar. Coligidas na preservação da relação das personagens na lente da memória, embora bastante generalizado. Tornam-se relíquias familiares. Boas lembranças que ficam no consciente imaginário montes-clarense.

À luz desse enfoque, assume como prova do real e da ordem estabelecida nos álbuns encadernados, digitalizados, cronologia e objetivamente, identificadas precisamente das escolhas selecionados dos elementos que estão presentes na composição do álbum. De modus operandi “cenários” no discurso hoje inteligível – aquilo que é propriamente ‘fazer história’.

Nesta contextualização da história sobre nosso álbum fotográfico, guardadas no arquivo específico das nossas famílias tradicionais, produzida para circular neste nosso ambiente doméstico e particular. Costumamos revisitar da passagem da vida. São mais imagens dos caros amigos do que dos próprios parentes.

Neste contexto é uma abordagem descritiva do cenário, objetos e acontecimentos das festas, comemorações, confraternizações, narramos o espetáculo orquestrado em que familiares imagens de autoridades e personagens do meio cultural encenam em conjunto, tendo em vista também a experiência como servidores fiéis. Sempre dedicamos na produção visual de festas, tendo em vista a nossa experiência nos estabelecimentos educacionais de ensino na região sul da capital paulistana. Explorando a experiência estética dos eventos sociais e as relações com a Instituição.

Com um projeto gráfico minimalista, este livro se destaca pela
exploração da fotografia como ferramenta de investigação das relações, símbolos e tradições que permeiam o ambiente familiar, intervindo de maneira explícita para afirmar “o caráter performático da existência humana”, talvez é essa a oportunidade de nos conhecer o território de nossa história fisgada da memória.

Assim contribuo para a publicação nesta prestigiosa Revista do IHGMC, produção ativa na escolha dos retratos, fotos e audi-vídeos.

Mesmo vivendo em uma era tão digital, não podemos negar a importância e a singularidade de uma fotografia revelada, eternizada, palpável. As fotografias contam histórias, e é como dizem por aí:

UMA IMAGEM VALE MAIS DO QUE MIL PALAVRAS. Singulares palavras que constatam com a revelação do texto e a admirada força de compreensão. Elementos distintivos contidos na perfeita produção desta realização: revelação progressiva dos fatos afirmados por imagens e a interpretação desta revelação propriamente dita na razão direta do conhecimento aos olhos do estudo no quadro da vida, descortina a realidade neste exato momento e nesta oportuna época recordamos os nossos próprios passos.

Por mais que tenhamos consciência de que as fotos são registros que duram muitos anos, quando fazemos uma fotografia ou retrato, não imaginamos a carga de história que ela terá ao longo do tempo.

As fotografias reveladas são como um filme passando na nossa frente, revivendo momentos especiais e outros corriqueiros, relembrando laços afetivos e, muitas vezes, despertando saudade.

Um sentimento, um pensamento, e muitas vezes até cheiro, remetidos pela nossa memória afetiva. Basta lembrarmos as fotografias que já nos encantaram durante toda nossa vida. Patrimônio intelectual, agrupando os seres e as coisas.

Mesmo vivendo numa era tão digital, em que raramente vemos porta-retratos com fotos nas casas de nossos amigos, e álbuns
com fotos impressas, não podemos deixar de assumir que nada se compara a uma fotografia impressa, eternizada, palpável.

Contar histórias nada mais é que organizar os lapsos de história que cada imagem nos transmite e montar uma narrativa completa, atraente e de grande valia.

Enfim, para finalizar encerro com uma mensagem a se refletir. A tentativa de tornar o efêmero em eterno. Hierarquizar momentos e criar um inventário de memórias há um valor sentimental, envolvendo parentes, amigos, datas importantes ou uma série específica de momentos. “Perceber que cada momento é único e urgente em cada pessoa”.

Diante dos avanços na fotografia digital e da facilidade do armazenamento em nuvem, deixamos de nos dedicar ao velho hábito de trazer registros para as mãos. Uma forma de preservar essas riquezas.

Onde estará guardada nossa história?
Ganhamos o prazer em rever instantes em que nossa relação
com a fotografia era tátil. Hoje, até podemos ter um grande volume de registros guardados em um HD, computador, celular ou armazenado em cartão de memória.

Fazendo com que eles acabem flutuando num lugar somente digital.

“Nos perguntamos”: e se esse espaço digital ruir? E se o HD queimar, e se perdermos a senha do backup? Onde estará guardada a nossa memória, história e vivências?

Asseguramos essa anotação imprimida, um tipo de foto-livro criado especificamente através desta sublime edição, concretizamos a narrativa visual do acervo cheio de pastas de fotografias em que o texto predomina a imagem.

É bom notar que precisamos saber viver cada momento, tirar da vida os encantos que a vida tem, agradecer a Deus por cada
momento bom que a existência nos oferece, nos proporciona, nos permite. Valendo a pena ou não, é gratificante aproveitar cada momento feliz. É neste particular privilégio maravilhoso dizer: sorrir, amar, sonhar e viver.

 


PLÍNIO RIBEIRO DOS SANTOS

Quando se criou o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, não foi difícil encontrar 100 (cem) pessoas notáveis do passado da cidade, para compor o quadro de patronos das cem cadeiras de associados efetivos. Se alguma dificuldade houve, foi no sentido de selecionar, dentre tantos nomes importantes, aqueles de maior merecimento, sem incorrer em falso julgamento do mérito de cada um.

A partir desta edição do nosso boletim informativo mensal, daremos uma ligeira notícia biográfica desses patronos, escolhidos aleatoriamente, para conhecimento de todos os associados de nossa instituição cultural.

PLÍNIO RIBEIRO DOS SANTOS, patrono da cadeira nº 88, atualmente ocupada por João de Jesus Malveira, é o primeiro escolhido para esta singela lembrança. Mas, quem foi ele? Ora, a sua memória está minimamente preservada no nome da “Avenida Deputado Plínio Ribeiro”, uma das mais longas e importantes da cidade, e no “Colégio Estadual Professor Plínio Ribeiro”, sem dúvidas o maior estabelecimento de ensino fundamental e médio de toda a região.

Em sua monumental obra “Efemérides Montes-Clarenses”, o renomado historiador Nelson Viana traça um rápido perfil do homenageado, informando que ele nasceu em Montes Claros-MG, a 16 de maio de 1892, filho do major Simeão Ribeiro dos Santos, que dá nome à rua Simeão Ribeiro (Quarteirão Fechado) da cidade, e de dona Deolinda da Silva Santos. Casou-se com Felismina Pimenta Ribeiro e faleceu em 8 de dezembro de 1967. De seu currículo, consta ter feito o curso primário em Bocaiúva, o curso de humanidades (atual ensino médio) no Colégio Benjamim Dias, em Belo Horizonte, onde também se formou em Medicina, em dezembro de 1925. Sua carreira profissional inclui atividades comerciais, ainda em sua juventude, quando morava em Coração de Jesus, atuando também como viajante e representante de empresas do Rio de Janeiro, então capital do país. Não se acomodando nessa profissão, mudou-se para Belo Horizonte, a fim de continuar seus estudos.

Nesse ínterim, ainda na capital, foi professor particular de línguas e Matemática, além de ter sido amanuense e funcionário da Secretaria de Agricultura de Minas Gerais. Voltando para Montes Claros, sua terra natal, aqui exerceu a Medicina, enquanto desenvolvia inúmeras outras atividades em favor da comunidade local. Foi um dos fundadores do Hospital Santa Terezinha, hoje desativado. Participou da fundação do Clube Montes Claros, do qual foi presidente. Foi fundador da Associação Comercial e Industrial de Montes Claros, da qual foi o primeiro presidente. Fez várias doações de terreno para obras sociais, destacando-se a área onde hoje se encontra o estabelecimento de ensino que leva o seu nome, “Colégio Estadual Professor Plínio Ribeiro”. No magistério local, começou
como professor da “Escola Normal Melo Viana”, para continuar le
cionando na sua continuadora, a “Escola Normal Oficial”, que veio a adotar o seu nome, por reconhecido merecimento. Para não fugir aos costumes da terra, foi fazendeiro e industrial, tendo sido proprietário da fábrica de tecidos “Santa Helena”, nesta cidade. Em 1954, elegeu-se deputado federal pelo PSD de Minas Gerais, vindo a destacar-se no exercício de seu mandato, principalmente pelo restabelecimento da “Escola Normal Oficial” e pela criação da Escola Agrícola de Montes Claros, matriz do atual Instituto Federal do Norte de Minas. Finalmente vem a pergunta que não quer calar: “Plínio Ribeiro não foi escritor"


Segundo o ilustre professor or?”Wanderlino Arruda, mestre consagrado e admirado do nosso Instituto, Plínio Ribeiro foi autor de uma única obra literária, “O Juramento de Toledo”, um verdadeiro poema épico, capaz de resgatar os valores e costumes de um passado que vai ficando distante, a Idade Média da civilização.


NOTA LIMINAR

Dário é Advogado, Jornalista, Articulista Político, Professor de Literatura e História, Artista Plástico, e Escritor. Detentor de enorme cultura e talento literário, ele tem mais de 50 livros publicados dos mais diversos gêneros literários como Cordel Conto, Crônica, Biografia, Genealogia, História Regional, Poesia, Teatro. Cito apenas essas, pois não caberiam aqui as inúmeras outras habilidades e expertises de Dário.

Contudo, é como Historiador que ele nos traz este relato primoroso da viagem que fez para conhecer a Península Ibérica, terra de nossos antepassados que dali saíram rumo ao desconhecido e fizeram desta terra sua nova casa.

Muito mais que uma “Viagem Prometida” essa foi a realização de sonho. Dário pôde conhecer os locais que já havia estudado
e citado em diversos artigos e livros escritos ao longo dos anos, esteve lá e pôde trazer para nós um pouco da História de cada cidade e vila que visitou – e não foram poucas! São 18 cidades e vilas em
Portugal e 4 cidades na Espanha – assim como dos muitos museus em que esteve.

Ele pisou onde nossos ancestrais pisaram e com este livro nos transporta até lá. Visitamos com ele monumentos que marcaram história e conhecemos cidades fortificadas, castelos, palácios, um templo romano, conventos, museus, um autódromo, aquedutos romanos, pontes modernas e uma ponte natural, assim como o berço dos Cavaleiros Templários, posterior Ordem de Cristo. Obviamente, ele não deixaria de nos relatar também sobre a boa comida, os bons vinhos e as demais deliciosas iguarias ibéricas que apreciou.


O grupo da Família Cotrim reunido para a foto em frente do Solar mais antigo dos Cotrins, em Ferreira do Zêzere.

O objetivo primário desta viagem foi participar do encontro mundial da família Cotrim, uma “das poucas que sabe onde fica o seu berço, a sua casa e o seu reduto ancestral: Dornes”, município de Ferreira do Zêzere. Posso apenas imaginar a emoção sentida por Dário, que após ter se debruçado com tanto afinco sobre a his tória de sua família – tema de diversos dos seus livros – finalmente conseguiu cumprir sua “Viagem Prometida” e atendeu pessoalmente ao “III Encontro Mundial da Família Cotrim”. Mas Dário não só compareceu como foi convidado de honra e responsável por descerrar a placa do encontro. Junto aos primos que lá estavam ele pôde visitar o Museu da Família Cotrim e conhecer o Solar dos Cotrim localizado na Quinta do Souto do Ereira em que moraram os primeiros Cotrins, o casal Lopo Martim Canas Cotrim e Isabel. Lopo foi Senhor dessa Quinta, Monteiro-mor de Dornes e Fidalgo
de Cota de Armas (carta de 9 de novembro de 1504). Curiosamente, na fachada desta Quinta ainda existe o Brasão dos COTRIM esculpido em mármore lavado embutido nos xistos do paramento.

Um Historiador, autor de “História Primitiva de Montes Claros”, estando em Portugal não poderia deixar de visitar e nos trazer o relato do local onde foi travada a Batalha de Montes Claros, que pôs fim a Guerra da Restauração, que já durava 28 anos e que talvez seja a razão de Antônio Gonçalves Figueira ter colocado esse nome em uma de suas fazendas, que veio a ser nossa atual Montes Claros.

Talvez Dário tenha me convidado para fazer o prefácio deste
livro por eu ter estudado sobre a família Cotrim e ter uma extensa árvore genealógica sobre os Cotrins do Rio, da Bahia e de Portugal. A princípio recusei pois não tenho competência para tal, mas como não me foi dado direito a recusa me debrucei sobre a tarefa. Demorei mais para entregar estas poucas linhas do que o Dário demorou para escrever este livro inteiro, mas aqui está.

Para mim foi uma honra ter sido convidado a fazer o prefácio do livro sobre essa viagem dos sonhos de qualquer apaixonado
por genealogia. Obrigado meu amigo!

Espero que você, leitor, aproveite essa viagem tanto quanto eu.


GODOFREDO GUEDES, O ESQUECIDO

Quem foi Godofredo Guedes? Registro aqui dois casos sobre o ilustre artista plástico Godofredo Guedes: o primeiro foi quando os “anjinhos”, em uma coroação na Matriz de Montes Claros, catavam dele uma linda canção. Entretanto, o cônego Marcos Van In determinou que fosse interrompida aquela apresentação, alegando que se tratava de uma música sobre a Segunda Guerra Mundial, portanto, inadequada para se apresentar no coral da Igreja. E, o seguinte caso foi quando a esposa de Godofredo Guedes (dona Júlia), que era amiga de dona Olga Prates, queixou-se com ela, dizendo-lhe que não gostava de saber que o seu marido tocava no Cabaré de Sinval Amorim. Respeitosamente dona Olga lhe retrucou: “Júlia, você não devia se importar com isso, pois é de lá que o Godofredo recebe o dinheiro para ajudar nas suas despesas”. Entre outros, há centenas de casos envolvendo o mestre Godofredo Guedes. Nesta oportunidade eu faço um apelo aos escritores de Montes Claros, que são muitos e todos competentes, para que escrevem mais histórias sobre Godofredo Guedes, um dos maiores artistas de nossa terra.


Godofredo Guedes


RAÇA IRMÃ BEATA A praça em frente à Santa Casa está de roupa nova, fato que atraiu a atenção de fotógrafos e cinegrafistas. Essa praça viu acontecer a história da Santa Casa, assistiu doentes e parturientes passando e também presenciou os passos ágeis de Wilhelmina Lauwen, Irmã Maria Beatrix ou simplesmente Irmã Beata. Baixa, forte, de faces rosadas quase totalmente cobertas pela touca, de olhos azuis, com seu hábito preto de muitos panos, que a cobria da cabeça aos pés, e com a sua maleta de parteira, onde levava tesoura, ataduras, vidros com iodo e álcool e demais objetos, riscava toda a cidade prestando serviços.

Nascida em Etten, na Holanda, em 29 de janeiro de 1879, a freira, que faleceu em 1952, após uma malsucedida cirurgia de vesícula em Belo Horizonte, veio do Velho Continente de navio, dirigindo-se para Minas de trem, e chegando a Montes Claros a cavalo. A data da sua chegada foi 1º de fevereiro de 1912, estando no Brasil desde dezembro do ano anterior. Pertencia a Congregação Irmãs do Sagrado Coração de Maria de Berlaar, e morava no hospital. Sorridente e amável, falava pouco, num Português enrolado e difícil, porém compreensível. Era uma figura diferente, firme e marcante, e costumava ter uma palavra de ânimo para as pessoas, dando assistência e carinho a todos, especialmente aos mais pobres. Foi incansável, fazendo partos no hospital e também nas casas. Chegava, perguntava os nomes das crianças, abençoava cada uma e ia fazer o seu serviço. Os meninos achavam que ela era um anjo, uma santa, toda coberta pela sua roupa negra e misteriosa.

Quando a mulher grávida achava que já estava na hora do parto, a Irmã Beata era chamada, e vinha correndo da Santa Casa. Pedia uma chaleira com água fervendo, uma bacia e uma toalha, esterilizando tudo. Como a criança já estava nascendo, os meninos eram afastados, sendo levados para o quintal. Não podiam fazer barulho e nem perguntar nada. Não se ouvia nenhum choro ou grito, e nem se via marcas de sangue. O pai ficava no quarto assistindo. Quando a criança já estava lavada e arrumada - uma trouxa de roupas sujas já tinha deixado o quarto-, o pai chamava os irmãos e mostrava o novo membro da família.

Terminado o parto, um ritual muito cerimonioso, coisa só de gente grande, a Irmã Beata ia embora, mas voltava para curar o
umbigo do recém-nascido. Os partos eram algo escondido e secreto. No hospital poderia ter sala de parto, mas era muito fechado, e não se via nada. Quando o parto ali se dava, as mulheres ficavam uma semana no hospital, até poderem cuidar da criança, e nesse período a freira passava a noite olhando o recém-nascido para deixar a mãe descansar.

Irmã Beata era esperta no andar, num instante se deslocava, sendo rápida e dinâmica. Diziam que era brava, mas outros não têm dela essa imagem. Não era vista brigando. Era enérgica, sem ser grosseira. Não tinha vida própria e a sua existência era só para servir. Consta que não gostava de atender pessoas “caídas em pecado”. Havia uma distância entre as pessoas e as freiras, que faziam votos de pobreza, castidade e renúncia, até de si própria, inclusive com mudança de nome. Eram atitudes de completo desprendimento.

A religiosa inspirava calma e segurança, atuava como conselheira de casais, indicava livros, ensinava como educar as crianças, orientava sobre a alimentação e cuidados com saúde e higiene. Crianças prematuras foram salvas graças aos conhecimentos de Irmã Beata, que montava um ninho de algodão, mandava colocar um fogareiro no quarto para aquecer e facilitar a respiração. Caso de varíola não se alastrou devido ao isolamento montado pela Irmã Beata. Quando ganhava frutas de presente, não era vista comendo. Cedia para outros, pois era pura bondade. As pessoas criadas por ela eram mansas e gostavam dela. Dizem que Irmã Beata os colocava para trabalhar, mas ela trabalhava junto, ensinando e ajudando. Não dava ordens e não explorava os meninos que criou, apenas orientava, dando exemplo.

Cuidava dos doentes, lavava roupas em enormes caldeiras quentíssimas, cozinhava, desinfetava, fazia hóstias, cuidava da
igreja, trabalhava em tudo, inclusive na administração. O serviço não terminava e parecia não dormir.

Quando era perguntada sobre de onde veio, ela dizia: “D’além mar”, e mais nada. Nas suas conversas, nunca mencionava parentes na Holanda e nunca falou a palavra saudade. Deitava-se no chão em sacrifício, na verdade era uma entrega, um despojamento, uma negação da individualidade.

Havia outras freiras, mas a firmeza de Irmã Beata a destacava entre as demais, que tinham menos brilho. Ela chamava a atenção pelo carisma e por trabalhar muito. Transmitia calma, e isso tranquilizava, sendo mais um dote na sua bondade.


Obra de Konstantin Christoff

Santa para alguns, humana para outros, o centenário da chegada de Irmã Beata em Montes Claros precisa ser comemorado. A reinauguração da praça é um começo. O artista plástico e médico Konstantin Christoff, que conviveu com a freira, fez uma escultura moderna que representa a maternidade, em homenagem à Irmã Beata e foi colocada naquela praça. Embora alguns repórteres e pessoas comuns a chamem de Praça Irmã Beata, o nome dela é Honorato Alves. Uma escola no Bairro Jardim Brasil e a rua atrás do hospital é que se chamam Irmã Beata, merecedora de todas as nossas homenagens


Obra de Konstantin Christoff

Texto baseado em depoimentos de Maria Josefina Narciso Mendonça, Ruth Tupinambá, Maria de Jesus Felícia Mota e Maria Eunice Leite – 08 de julho de 2010


RAFFAS PIZZARIA

Ficava ali, bem do lado do Chicos, que ainda resiste. O aroma da pizza ainda suaviza minhas narinas de boa lembrança. O gosto era mais gostoso com a espera nos brinquedos. Em um gramado, aquele escorrega, a gangorra, havia uma estrutura de
ferro para a gente se equilibrar. Com meu irmão e primos fazíamos um mundo de brincadeiras. Até ouvir a voz da mãe chamando: “a pizza chegou”. O sabor não importava, qualque que seja o ingrediente, a gente comia com satisfação. Quanta saudade tenho do Rafas.

Estamos na década de oitenta e início da década de noventa. Não sei precisar quando fechou. O impacto hoje é até maior do
que naquele tempo. Eu menino vi um dos meus restaurantes preferidos sair de cena. E não dei por essa saída. Um dia eu comi pela última vez uma pizza no Rafas sem saber ser a última. Um dia eu brinquei naquele gramado sem saber que era o último. O progresso é como uma roçadeira que vai podando aos poucos. E, muitas vezes, é como uma chibanca arrancando tudo pela raiz. O Rafas foi
ceifado em sua completude. Não há mais resquícios do que fora. Somente na memória vive de quem por ali viveu naquele tempo.

Lembro-me também do sábado de feijoada. Lá havia vários caldeirões ou panelas para servir. Em cada um, um ingrediente diferente. Eu achava aquilo o máximo. Diferente das feijoadas que eu estava acostumado a ver com tudo junto e misturado. Ali não. Havia a panela do feijão, a do pezinho, a da linguiça paio, a da carne. Você escolhia suas preferências e montava o seu prato. Eu menino, obviamente, não tinha noção de preço nem de como era o processo. Se pagava por quilo ou um valor único. Eu só sei que enchia o meu prato de feijão com linguiça. Naquele tempo eu não comia outros pedaços. Hoje, não. A feijoada, eu a devoro por inteira. Menino sempre demora para descobrir os sabores da vida.

Não tenho fotos. Não me lembro de ninguém da família registrando algum momento no Rafas. Uma falha do tempo que não medimos. Sou capaz, porém, de enxergar aquele espaço ao fechar dos olhos. Sou capaz de parar ali do lado do Chicos para lembrar do Rafas. E olhar em volta e ver que, além do Rafas, outros bares e restaurantes também viraram memória. A Avenida Sanitária daquele tempo também. Uma outra hoje com sua modernidade. A Pizzaria Papaula com sua fachada única. Ela também não existe mais. Lembrança dela? Tenho demais. Mas é tema para outra crônica. Como há outros montes bares claros que só permanecem na canção de Wanderdaik.

O Rafas Pizzaria alimentou mais que o corpo de um jovem do século passado. Alimentou também este coração de poeta que vive cá dentro. De homem que não deixou que seus passos ficassem perdidos pelo caminho. Mas que fossem sempre traçados em um espaço-tempo abstrato. O bonito da vida é saber que ainda se vive. E que a vida está lá fora e está cá dentro. É saber que experiências sentidas permanecem. O bonito da vida é saber que momentos foram vividos e que, por isso, continuam vivos.


REENCONTROS FAMILIARES

No dia 17 de setembro de 1969, uma promissora quarta-feira, moça mesmo, apenas saída da adolescência, aos 21 anos de idade, fui morar residir na capital paulistana (bandeirante). Durante muitos anos minhas atividades foram exercidas nos Institutos Educacionais da Região Sul. Conheci de perto as adversidades da vida de ritmo frenético, da grande cidade destinada na dinâmica e no tumulto do século 20.

No final do segundo semestre do ano de 1988, retornei para Montes Claros fixando definitivamente a minha residência. Além
de minhas diversas atividades do setor de serviços foi muito importante a visita obrigatória no augusto Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros (IHGMC) e por extensão, neste momento, sinto-me honrada integrar aos elevados associados efetivos.

Com esse objetivo, é um privilégio o meu reencontro com os familiares afetivos que também compartilha desta consagrada Instituição.

Os ínclitos organizadores do Instituto promoveram na noite do dia 04 de janeiro de 2024, a comemoração festiva no auditório Cândido Canela, no Centro Cultural Hermes de Paula. Neste acontecimento inicialmente foram apresentados à nova diretoria
2024/2025, a diplomação de novos associados, iniciada de manhã na sede a inauguração da sala no Instituto na justa homenagem em memória do expoente seresteiro regional Nivaldo Maciel. Ouvidas as proclamações valorosas de delegadas autoridades investidas e entusiasmadas, constitui uma das famílias contemporâneas mais admiradas de Montes Claros, além de ser daquelas que mais traduz a autêntica cultura montes-clarense. No átrio do IHGMC, Murilo Maciel ao encontro com Landulfo se identificou como primo de Vera Lúcia. Examinado a passagem do artigo editado na Revista XXXI do Instituto, destacada foto da D. Jovelina sua tia. Ele agradece e falou da tia e sua saudosa mãe D. Sofia.

Nesse elóquio me levo ao alcance do livro de Nivaldo Maciel, encontros de vida e arte – 2012, lido com muito carinho, descreve a Árvore genealógica de toda a família Maciel. Percebi como a família tem multiplicado. Uma obra que clarifica e informa carinhosas mensagens da família. Com respeito, muita gratidão e alegria, de gáudio reconheci, identifiquei o nome de minha saudosa prima Sofia Leal Maciel, chamada carinhosamente por todos de (D. Ceci) casada com Nivaldo Maciel (pg. 41, capítulo II na árvore genealógica da Família Maciel.). Famílias tradicionais dotadas de maiores virtudes e de deslumbrante inteligência.

Com acerto acima exposto, reitero a minha saudosa vó Jovelina Rosa da Silva é tia da Dona Sofia Leal, espelha aqui o registro da profunda afinidade afetiva em grau de parentesco incluindo na sequência, amplia a minha vó Jovelina, mãe da Dona Jandira Rosa dos Santos, minha saudosa mãe materna.

Pois bem, esse reencontro permanece o sentimento nascido e rodeado pelos meus primos, à vista de suas profundas afinidades afetivas. Convivi intensamente com a música em companhia da prima Clarice Maciel no Conservatório Estadual de Música Lorenzo Fernandez. Um tempo feliz da mocidade dos faustosos e alegres dias da remota época. Este artigo instrumentalizado tem por referência as precisas e claras informações do renomado escritor montes-clarense Doutor Hermes Augusto de Paula, em sua obra intitulada: Montes Claros – sua história, sua gente, seus costumes, volume dois (2) de 1979, no acervo do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, que me proporcionou os dados necessários para materializar os meus descendentes. Foi dado informações sobre algumas das principais famílias que construíram, através do tempo, a nossa comunidade montes-clarense. E ao notável escritor Montes-clarense Nelson Viana, Efemérides Montes-clarenses – 1964.

O conceito de enraizamento e de pertencimento ‘Eu’, Vera
Lúcia Santos de Souza e o pensamento do esposo Landulfo Santana Prado, associados efetivos do IHGMC, sobre a retratação e a bonita satisfação familiar social, referentes às relações de origem, dedicada questão concernente a linhagem das duas respeitosas famílias e parentes de sangue. Entes queridos que subiram para o andar de cima e passaram a habitar a eternidade infinita. Perpetrando compreender os tesouros do tempo, nossos costumes com resgate perene da nossa história.

A descendência do Coronel Eduardo José Pereira e os descendentes de Nivaldo Maciel. Uma referência literária. Informações da nossa história, que ilustra neste momento associado a este reecontro novamente.

Um processo de memórias, histórias, sociabilidades e partilhas que nos aproximaram das tradições e da descendência. Marco simbólico nos convida a refletir que nossos familiares sobrevivem
com ações de ajudar e a responder as inquietações que iniciam
essa escrita imbricando conhecimentos diversos. Temos trazido o olhar para trás e o assegurar-se nas lembranças como pontos de reflexões e de possibilidades para um viver digno que retraz as experiências de um povo que sobreviveu e sobrevivem e continuam até os dias atuais. Sem dúvida, reconectar às práticas organizativas baseadas nas tradicionais famílias montes-clarense é ponto fundamental que move e moverá sempre nosso futuro. Os laços familiares formados, fios de amor que tecem a história de encontros e reencontros nas diversas dimensões estampado no espaço e tempo, compartilhando momentos de carinho, admiração e muito amor.

É um feito muito mais de sentimentos puros e felicidade, de riqueza no poder cultural, aprendemos a ver o mundo e reconhecer que temos uma identidade. É no seio familiar que valores morais e sociais serão formados e sustentarão as relações sociais de toda a vida.

Então, vemos que, a fonte genealógica dos descendentes de todos meus primos e primas mais esclarecidos. Marcus Murilo Maciel e todos os outros primos, que são muitos, incontinente,
essência distinta no conceito elegida pelo historiador brasileiro,
Doutor Hermes Augusto de Paula, elementos autênticos para as
últimas gerações dos parentes. Reunidas é agradável e saudável
para todas as gerações: avós, mães, pais, irmãos, primos, tios…
Para as crianças, então, ainda é mais importante. Além do mais,
este é o tipo de convívio que nos acompanha pela vida toda em
nossas lembranças afetivas. Compreensível reavendo durante o
evento promovido pelos organizadores do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, tendo de volta todos meus afetuosos primos, a alegria o abraço emocionado de velhas lembranças este sentimento presente no processo de restabelecimento das relações familiares. Neste certame, se faz uma necessária digressão pleiteia falar um pouco para se criar a história da família real das tradições e dos costumes para o nosso deleite. Um reencontro agradável reunia toda a família Maciel. Comemorar significa trazer à lembrança, recordar. A comemoração uma ocasião em que se faz a evocação de algo que nos faz felizes.

Evidência histórica descrita genealogicamente pelo autor montes-clarense Doutor Hermes de Paula, constituídas em nossas mais queridas afeições. Fortalecem-se e valorizam a ancestralidade com um valor estruturante onde pessoas da mesma família se encontram espaço e fôlego para se apoiar e defender o que lhe resta da compatibilidade na constelação familiar. Unido a família meu esposo Landulfo Prado, ganha mais irmãos de coração e mais uma vó de coração.

Concluída a árvore genealógica percorre a linha sanguínea do tempo e firma-se na existência. Ela é uma forma respeitosa de honrar e (re)lembrar dos nossos antepassados. É mais que uma
reflexão, antepassado é um princípio filosófico que rompe os muros da academia e chega até a cadeira da avó ou do avô como voz de sabedoria que conta através de suas oralituras – leituras de oralidade – a compreensão da sua existência. Cultuar as tradições que compõem a vida de cada um. Possibilita a continuidade do saber acumulado, para usufruto das gerações sucedâneas.

O quão gratificante é poder chegar a um local em que a nossa história iniciou? É como ter a oportunidade de abrir um portal, e reviver tudo novamente, - voltar no tempo. Sem perder tempo, - ou melhor, sem deixar-se perder no tempo.

De mostrar para as novas gerações, como era como construímos nossa história. É uma emoção que não cabe dentro da gente”. Gente de bem e do bem.

O brilhantismo da festa justificou plenamente reavendo toda a família. No glamour, todos se reuniram para registrarem o momento, com a foto oficial na festividade. As pessoas se abraçavam e cantavam acompanhando o grupo de seresta João Chaves, panegírico, cultuando o passado e extravasando esperanças. Uma doce e gostosa gratidão de todos no espetáculo.

O encerramento da reunião foi revestida de aspecto festivo
e o ambiente cheio de alegria servido com um lauto Buffet. Fraternal estima reinou a todos.

Nota: O presente é perene traço de união entre os resquícios
do pretérito e uma vida futura melhor, em suma um senso de análise e observação dos reencontros deste artigo primordial.
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Referências:
HERMES, Augusto de Paula. Montes Claros, sua gente, sua gente e seus costumes: Rio de Janeiro: Editora IBGE 1957. (pgs. - 302, 329 – 1979) VIANNA, Nelson. Efemérides Montes-clarenses. Belo Horizonte: UNIMONTES –(p. 231 – 1964)
SOUZA, Vera Lucia Santos de. ACERVO PESSOAL. Família. Árvore genealógica em formato digital. Referência importante sobre o estampado passado da história de Montes Claros.
ARRUDA, Wanderlino.Eloquente Diapasão produzido e veiculado no Youtube. Palestra Reencontros Familiares do dia 30.01.2024. Nesta mesma linha de pensamento, um letreiro vivo no verdadeiro panorama da vida.


VIRGÍLIO ABREU DE PAULA

Filho de Hermes Augusto de Paula e Josefina de Abreu Paula, nasceu no dia 26 de maio de 1946, ao som da voz de Vicente Celestino cantando “Acorda Patativa”, que tocava no rádio ao lado da cama de dona Fina. Chegou apressado, sem dar tempo de sua mãe ir ao hospital. Era o terceiro filho do casal. Antes dele, vieram Valéria e Walmor. Depois dele, veio Virgínia, autora deste texto. Fez o pré-primário (incompleto) com as irmãs Mercedárias. Curso primário, no Grupo Escolar Gonçalves Chaves. Muito querido pelos colegas, recebeu o prêmio “ Meu Melhor Companheiro”.

Na infância, participa de peças de teatro, com destaque para “A Descoberta do Espelho”, de Plínio Ribeiro. Faz o curso ginasial no Ginásio e Escola Normal Oficial de Montes Claros, revelando jeito para ciências. É escolhido pelo professor Francolino, para ser o seu secretário durante as aulas. Aos 14 anos, vai para Belo Horizonte, onde cursa o científico no Colégio Santo Antônio. Faz um ano de cursinho no mesmo colégio, e presta vestibular para mediina ou odontologia. Passa em medicina, mas não pode se matricular, por falta de vaga. Recebe o conselho de estudar em Coimbra, Portugal, que estava recebendo brasileiros com problemas como o dele. Prefere ficar e fazer odontologia.

Logo vê que não era o seu destino. Por excesso de sensibilidade, não suporta o curso, vindo a desmaiar ao ver que a bandeja que carregava para a aula, levava um crânio. Voltando para Montes Claros, começa a lecionar ciências na Escola Dulce Sarmento e no Colégio São Norberto. No final dos anos sessenta, vai trabalhar com o pai no laboratório de Análises Clínicas da Clínica Santa Mônica.

Casa-se em 1969, com Gláucia Almeida Leão. O casamento, embora de curta duração, lhe dá a alegria de ter uma filha, Patrícia, e uma neta, Anna Victória. Em 72, trabalha no IMPSI – Instituto Médico de Psicologia – realizando exames psicotécnicos, sem, porém, deixar seu trabalho como laboratorista.

Seu próximo emprego é no DER, no início dos anos 80. Nessa ocasião, conhece Vera Lúcia de Oliveira, de quem fica noivo. Infelizmente, o seu segundo casamento não se realiza, devido ao falecimento de sua querida Verinha.

Deixando o DER, faz concurso para a prefeitura, passando em excelente posição. Finalmente, nos anos 90, é chamado para ocupar o cargo de assessor cultural no Centro Cultural Hermes de Paula, onde permanece até sua aposentaria em 2004. Ali, ele participa com entusiasmo do Projeto Pró-memória, com a finalidade de realizar o projeto começado por seu pai: o Museu da Imagem e do Som.

Muito cedo, descobriu que deveria seguir os passos do pai, não na área médica, e sim na área da história, do folclore e da cultura popular. Em Belo Horizonte, aprendeu a tocar viola, e chegou a se preparar para se apresentar na peça “Oh, Minas Gerais”, como violeiro. Ignoro por qual razão isso não aconteceu. Talvez por não se considerar bom o suficiente nesse instrumento, que encarava como hobby. Sua viola recebe o nome de Rosa Hortência Margarida, como na música.

Era insuperável na caixa. E é como tocador de caixa, que ele entra para o Grupo de Seresta João Chaves de Montes Claros, em 1967, e mais tarde, no grupo Curriola Mineira, de Jorge Santos. Em 92, aceita ser “caixista” do terno de Folia de Reis, do Centro de Tradições Mineiras. Sua caixa também recebe nome feminino: Maria Júlia.

Após o falecimento do pai, passa a cuidar do histórico do Grupo de Seresta João Chaves de Montes Claros. Faz uma coletânea de “casos” engraçados ocorridos nas viagens, editados em 1992, no seu único livro: “Serestórias e Outros Escritos”. Os “outros escritos” são poemas, e crônicas, já publicados nos jornais da cidade. Um desses poemas, ganha música de Theo Azevedo sendo gravado em CD. Conheço apenas duas de suas composições musicais: uma moda de viola, e um blues em parceria com Santoro. Colaborou para o Jornal do Norte com uma coluna em parceria com Luiz Carlos Novais (Peré), usando o pseudônimo Fátima Moura Imperial.

Também vem a ser colaborador no site Montesclaros.com de Paulo Narciso.

Por gostar de carnaval, entra na bateria do bloco carnavalesco. “Biô e Salomé” criado pelos irmãos e parentes de sua primeira esposa.

Em 1974, representa o Norte de Minas em encontro da Funarte no Rio de Janeiro, onde apresenta palestra sobre a música dos nossos catopés, marujos e caboclinhos, com grande aceitação. Faz diversas palestras semelhantes, aqui em Montes Claros, geralmente em escolas do segundo grau. Vem a ser o primeiro presidente do Conselho do Patrimônio Histórico de Montes claros. E é eleito como membro da diretoria do Centro de Tradições Mineiras, (CTM). Esse centro, fundado em 1980 pelo seu pai, Hermes de Paula, com a finalidade de ampliar os objetivos do seu grupo de seresta, tinha como sede, sua própria residência, na Avenida Coronel Prates, 106.

Em casa, Virgílio prestava serviços de informações sobre História de Montes Claros e sobre Folclore, inclusive para pessoas de outras cidades. E sem precisar de recorrer a livros para dar respostas, por saber tudo, todas as datas e eventos marcantes, na ponta da língua.

Depois de aposentado, Virgílio dedica-se ainda mais à cultura. Seu mais ambicioso poema, “A Flor de Granada”, é de 2005. Um
poema com ilustrações e capa. Nesse mesmo ano, aceita com entusiasmo minha ideia de celebrar os 50 anos da Chacrinha, nossa casa, com um livreto de textos escritos por membros da família. No ano seguinte, o livreto vira CD com bela capa ilustrada, feita por sua filha. Ele mesmo fez a edição, sendo craque em computação. A escritora Amelina Chaves, toma conhecimento do nosso trabalho, pedindo permissão para incorporá-lo a seu livro “ Hermes de Paula, Passado e Presente”. Permissão concedida. Obrigada, Amelina.

Ainda em 2006, escreve o poema “Iracunhã”, seu preferido. E grava um CD com diversos poemas declamados por ele. Fica perito em gravações no computador, conseguindo a proeza de reunir praticamente todas as músicas gravadas pelo Grupo de Seresta em apenas três CDs, no seu pequeno “estúdio” doméstico. Os profissionais diziam ser impossível.

Nasce novo projeto para um livro, a ser escrito juntamente comigo: as lembranças de dona Fina, sua infância e juventude na “Rua de Baixo.” Falece antes de ver, que algo bem parecido tornou-se realidade. Seu primo, Fabiano de Paula, organizou e editou o livro “Rua de Baixo” dando-me espaço para contar um pouco do que ele tinha sonhado.

Mesmo com a saúde debilitada, Virgílio permanece atento e sofrendo, ao ver nossa história sendo deturpada, nossas casas
e sobrados sendo demolidos, nossos antepassados sendo esquecidos. Continua escrevendo, arquivando documentos e fotos, retocadas por ele excepcionalmente bem. Em outubro de 2006, faz sua última viagem com o grupo de seresta, indo tocar sua caixa em Patis. Entristecido pela descontinuidade do C.T.M. e pelas mudanças estranhas acontecendo no grupo, porém, ainda dando tudo de si na sua missão, honrando o nome de seu pai. De novembro em diante, fica acamado, vindo a falecer no dia 3 de dezembro de 2006. Houve quem ouvisse o som de sua caixa, naquela madrugada. Vem também, no ar, a música “Acorda Patativa”, assim como no dia que chegou. Eu ouvi.


DISCURSOS SOBRE MONTES CLAROS: UMA INTERPRETAÇÃO DE “CABARÉ MINEIRO”, DE CARLOS DRUMMOND DE ANDRADE

O presente ensaio trata de uma breve análise do poema “Cabaré mineiro”, de Carlos Drummond de Andrade, presente no livro Alguma poesia (1930). A proposta é explorar os discursos que permeiam a cidade de Montes Claros no campo literário. Não se limitando à mera descrição do ambiente urbano, busca-se também investigar as diferentes camadas de significado presentes na construção discursiva da sua imagem. Conforme Renato Cordeiro Gomes (1994, p. 34) salienta, em seu livro Todas as cidades, a cidade, “ler a cidade consiste não em reproduzir o visível, mas torná-la visível”. Dessa forma, a leitura da cidade almeja compreendê-la como um espaço moldado pela imaginação humana, além de reconhecê-la como um cenário onde se desdobram relações de natureza econômica, social e cultural entre o indivíduo e os seus semelhantes, assim como entre o indivíduo e a própria cidade (Gomes, 1994).

O poema “Cabaré mineiro” apresenta versos que variam de 10 a 12 sílabas poéticas, sugerindo uma simetria visual. Apesar de exibir poucas rimas consonantais, como em “direita/satisfeita”
e “despindo/seguindo”, o poema se destaca pela criação de uma sonoridade marcante nas últimas palavras dos versos, destacando a tônica com a vogal “i”: “mestiça/despindo/mosquito/seguindo”. Essa sequência quebra a monotonia sonora presente nos versos. No primeiro, o poema finaliza com o nome da cidade de Montes Claros, no sexto com “dente de ouro”, no oitavo com “amarelas!” e no último com “tetas”.

Analisemos os versos do referido poema:

CABARÉ MINEIRO

A dançarina espanhola de Montes Claros
dança e redança na sala mestiça.
Cem olhos morenos estão despindo
seu corpo gordo picado de mosquito.
5 Tem um sinal de bala na coxa direita,
o riso postiço de um dente de ouro,
mas é linda, linda gorda e satisfeita.
Como rebola as nádegas amarelas!
Cem olhos brasileiros estão seguindo
10 o balanço doce e mole de suas tetas...
(Andrade, 2013, p. 64).

O poema começa com a descrição da dançarina, identificando-a como espanhola e de Montes Claros. A combinação desses dois adjetivos permite duas interpretações: ela pode ser uma dançarina originária da Espanha e que residia ou trabalhava em Montes Claros. Ou então, pode ser que a dançarina esteja imitando o estilo das dançarinas espanholas, mas seja natural de Montes Claros. Além disso, ao contrastarmos o primeiro com o último verso, criando uma oposição que sugere um sentido satírico, podemos entender os “Montes Claros”, como as duas tetas de “balanço doce e mole”.

Os versos 1, 6 e 9 estabelecem uma relação semântica vinculada ao campo da simbologia das cores. Os montes são claros, os dentes da dançarina são de ouro, e suas nádegas em movimento são amarelas. Essa predominância do amarelo e do dourado está intimamente ligada à ideia de claridade. As cores, segundo René-Lucien Rousseau (1995), em A linguagem das cores: energia, simbolismo, vibrações e ciclos das estruturas coloridas, se distinguem pelo seu caráter luminoso que as aproximam “da inteligência e do coração” (Rousseau, 1995, p. 99), assim como “manifesta as coisas, não só por torná-las perceptíveis, mas por representar a extensão do ponto principal, por medir o espaço” (Chevalier; Gheerbrant, 2012, p. 836).

Além disso, sob uma perspectiva histórica, os versos em questão também evocam o Ciclo do Ouro¹. Este ciclo remete ao
período em que ouro e diamantes foram descobertos no estado
de Minas Gerais, marcando o início da mineração como atividade
econômica durante a era colonial. Conforme apontado por Paul
Ferrand (1998), em O ouro em Minas Gerais, o Ciclo do Ouro atraiu uma grande quantidade de habitantes para Minas Gerais.
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¹ O Ciclo do Ouro foi um período econômico marcado pela mineração no Brasil durante o século XVIII, com sua base concentrada em três regiões: Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás. A descoberta do ouro ocorreu em 1695, próxima a Sabará, por bandeirantes paulistas. Os portugueses impunham altos impostos sobre o ouro extraído de Minas Gerais, sendo o quinto a principal taxa. Isso gerou uma série de revoltas e conflitos na região mineradora, destacando-se a Inconfidência Mineira. (Ferrand, 1998).
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A chegada em massa de pessoas resultou no surgimento de diversas cidades em Minas Gerais, como Ouro Preto, Sabará, Diamantina, São João del Rei, Tiradentes, entre outras, como a cidade de Montes Claros, transformando a capitania em uma das regiões mais urbanizadas do Brasil Colônia, como destacado por Hermes Augusto de Paula (1979) em Montes Claros: sua história, sua gente, seus costumes. Segundo o historiador montesclarense, no século XVII, o sertão do Norte de Minas também começou a ser explorado e, consequentemente, ocupado pelas expedições dos baianos, que se dedicavam à expansão da pecuária e ao cultivo do algodão, e pelas expedições paulistas, que buscavam ouro e pedras preciosas (Paula, 1979).

Quanto a Montes Claros e à dançarina, seus traços poético -históricos representam a intensidade e a ampliação da “sala mestiça”, ou seja, refletem a expansão de Minas Gerais, composta por indivíduos em busca de oportunidades na mineração e de enriquecimento por meio dessa atividade, assim como por um grande contingente de africanos escravizados, que foram trazidos para desempenhar diversas tarefas na região (Ferrand, 1998).

Ao considerarmos o traço da dançarina como gorda, mencionada duas vezes no poema – “seu corpo gordo picado de mosquito” e “mas é linda, linda, gorda e satisfeita” – é possível estabelecer uma ligação entre o campo das cores e o da gordura, já que as nádegas são descritas como amarelas, sugerindo que a gordura dessa dançarina é associada à cor amarela.

Já a repetição da expressão “cem olhos”, no poema, individualiza a parte de um todo da dançarina que, por sua vez, é apenas parte de um conjunto maior; um todo dentro do todo, uma realidade dentro de um conjunto. E essa entidade – de olhares para o corpo da dançarina – assim individualiza possui propriedades distintivas, que a tornam de uma eficácia particular dentro de um conjunto mais vasto, o qual o eu poético deixa nas entrelinhas do cabaré à mineira. Por exemplo, os olhos são morenos e desnudam o corpo da dançarina, depois, esses “cem olhos” são brasileiros e seguem o ritmo das “tetas” dela.

No verso 2, o eu poético situa a dançarina na “sala mestiça”, provavelmente devido à presença dos “cem olhos morenos”. Após essa contextualização, o eu passa a delinear o corpo dela,
descrevendo-o com marcas de várias picadas de mosquito. Além de revelar características intrínsecas à natureza tropical e noturna da cidade e do cabaré, a “picada” pode ser interpretada no duplo sentido, relacionando-se à profissão da dançarina. Portanto, a dançarina espanhola de Montes Claros tem suas imperfeições, todavia, essas picadas de mosquito são o resultado do ambiente em que ela realiza sua arte.

A dançarina exibe “um sinal de bala na coxa direita”. Ali, claramente perceptível, está a baliza de um passado de conflitos, intensidades trágicas ou uma realidade física, talvez até uma vulnerabilidade ou exposição às condições do ambiente “mestiço” no qual ela se encontra. Essas intensidades combinadas oferecem uma imagem multifacetada da dançarina, mergulhando em sua identidade, movimento noturno e, até mesmo, suas experiências passadas e presentes. Suas pernas são essenciais para sua arte. O eu poético ressalta que ela não sofreu ferimentos na face, nas costas ou nas mãos; pelo contrário, a marca de bala está na coxa, uma região do corpo que pode receber atenção frequente durante a dança, quando é observada pelo olhar do espectador.

No verso seguinte, o sinal trágico na coxa direita direciona o olhar do eu poético para o rosto da dançarina, em busca de algum elemento expressivo que possa complementar uma visão mais abrangente sobre a vida dessa mulher. E, no rosto, há um “riso falso de um dente de ouro”. A ambiguidade do adjetivo “falso”, pode se referir tanto ao dente implantado quanto à falta de autenticidade desse sorriso, revela-se pela marca de bala que estava recentemente em foco.

A dançarina, entretanto, nos é apresentada no verso seguinte como “linda, linda”. A repetição do adjetivo antes dos outros dois no verso (gorda e satisfeita) relativiza essa beleza em relação a certos elementos. Um deles é a intensidade com que os olhares curiosos dos frequentadores da “sala mestiça” expõem o corpo da dançarina, buscando realizar suas fantasias sexuais ao transformar um corpo considerado feio de uma dançarina gorda em algo belo. Ao descrevê-la como satisfeita, a dançarina talvez esteja satisfeita por ter sobrevivido ao tiro que marcou sua perna, continuando viva e, por isso, sente-se satisfeita. Além disso, essa satisfação pode derivar de ser o foco de atenção de uma multidão de olhares que a desejavam.

Vale pontuar ainda que o poema performatiza uma dança, já que é linguagem para além da palavra. Assim, a dança das palavras do corpo da dançarina é uma febre, capaz de apoderar-se de uma criatura – ou os cem olhos, metonimicamente – e de agitá-la até o frenesi, senão a

[...] manifestação, muitas vezes explosiva, do Instinto de Vida, que só aspira rejeitar toda a dualidade do temporal para reencontrar, de um salto, a unidade primeira, em que corpos e almas, criador e criação, visível e invisível se encontram e se soldam, fora do tempo, num só êxtase (Chevalier; Gheerbrant, 2012, p. 319).

Nesse sentido, o ordenamento da dançarina, o ritmo do poema, representa a escala pela qual se realiza e se contempla a libertação. Da Grécia e seus mistérios, da África, pátria dos orixás,e até nas danças mais livres do nosso tempo, por toda parte o Homem exprime (como a dançarina de Montes Claros) pela dança a mesma necessidade de livrar-se do perecível, porque todas essas “figuras exprimem e pedem uma espécie de fusão num mesmo movimento estético, emotivo, erótico, religioso, ou místico, que é como que uma volta ao Ser único de onde tudo emana, para onde tudo retorna” (Chevalier; Gheerbrant, 2012, p. 320).

A dançarina espanhola de Montes Claros também pede fusão de movimento estético, emotivo, erótico, religioso ou místico, como descreve os autores. Seus movimentos retornam ao seu estado nascente de liberdade e leitura corporal do mundo, e, sobretudo, leitura da cidade e do ambiente no qual se encontra inserida no tecido urbano.

A imagem da dançarina é complexa de ser interpretada. Fruto das inquietações de um corpo recolhido de Alguma de poesia,
sua dança é seu Norte de Minas. Do cabaré à mineira à história da personagem que dança com um olhar que a contempla, de um eu que a descreve para além do que se vê – a beleza nas cicatrizes, o estranhamento na beleza “mestiça” mineira, os traços de um passado experienciado pelo corpo e pela palavra –, a representação da figura bíblica de Salomé assume um caráter místico no contexto do poema de Drummond.

No poema “Cabaré mineiro”, a principal atração é a dançarina, vista por todos como linda, apesar de sua condição física ser gorda, ter a pele marcada por picadas de mosquitos e um ferimento de bala na coxa. Assim, a percepção da dançarina pelos “cem olhos” revela uma falha, uma vez que reflete mais o que as pessoas desejam ver do que aquilo que é efetivamente observado pelo eu. Os clientes do olhar, brasileiros e morenos, que frequentam o Cabaré mineiro buscam concretizar suas fantasias e desejos sexuais, projetando esses elementos na imagem da dançarina. Enquanto seus olhos “despem seu corpo gordo”, simultaneamente a cobrem com a visão de beleza que procuram na “sala mestiça”.

A dançarina espanhola de Montes Claros encena uma caricatura da dança de Salomé. A dança representa uma estética inversa à da dançarina bíblica, mas essa falta de sensualidade não é percebida pelos “cem olhos” que a observam. Esses olhares “cegos” se esforçam para enxergar na dançarina do Cabaré mineiro a Salomé que cada um procura para sua própria satisfação. A analogia com a figura bíblica se torna mais cativante e menos distorcida quando consideramos um aspecto sonoro intrigante do poema.

No verso 1, percebemos que a expressão “de Montes Claros” contém um anagrama de “Salomé”, em que o nome da dançarina
bíblica aparece invertido, da esquerda para a direita: “SorALc setnOM Ed”. Nos versos 2 e 6, há ecos menos precisos do nome da dançarina bíblica, visto que faltam alguns fonemas para compor integralmente o nome”. No verso 7, a profusão desses fonemas permite a composição do nome “Salomé” duas vezes, semelhante ao primeiro verso: “cOmo rebola as nádEgas aMarELAS”, com pequenas variações na ordem dos fonemas. No décimo verso, encontramos, assim como no primeiro, um anagrama invertido perfeito do nome buscado: “docE E MOLe de suAS tetas...”.

Não é possível afirmar se Carlos Drummond de Andrade planejou deliberadamente essa construção fonética em seu poema, mas os dados encontrados parecem estar em consonância com o tema do poema. Isso nos possibilita uma interpretação mais profunda da obra, sugerindo uma harmonia entre diferentes estratos, tornando essa poesia uma realização notável. Além disso, ao mencionar “cem olhos” despindo a dançarina do “Cabaré mineiro”, metaforicamente nos incluímos entre esses olhos. Observando “o balanço doce e mole” de suas letras, buscamos, assim como os morenos brasileiros do poema, encontrar a beleza que a dançarina, com sua descrição física marcada, pode apenas sugerir com a ajuda imprecisa de nossos sentidos.

A dualidade na descrição da dançarina, entre seus atributos considerados imperfeitos e sua beleza ressaltada pelo olhar do
eu poético, traz à tona a complexidade das percepções humanas. A associação com a figura bíblica de Salomé e a possibilidade de ecos fonéticos do figura no poema adicionam camadas de interpretação, sugerindo uma intertextualidade que amplia o espectro de significados com a dançarina de Montes Claros
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REFERÊNCIAS
ANDRADE, Carlos Drummond de. Cabaré mineiro. In: ______. Alguma poesia. Posfácio de Eucanaã Ferraz. São Paulo: Companhia das Letras, 2013, p. 64.
CHEVALIER, Jean; GHEERBRANT, Alain. Dicionário de símbolos: mitos, sonhos,
costumes, gestos, formas, figuras, cores, números. Trad. Vera da Costa e Silva,
Raul de Sá Barbosa, Angela Melim e Lúcia Melim. 26. ed. Rio de Janeiro: José
Olympio, 2012.
FERRAND, Paul. O ouro em Minas Gerais. Trad. Júlio Castañon Guimarães. Belo
Horizonte: Fundação João Pinheiro, 1998.
GOMES, Renato Cordeiro. Todas as cidades, a cidade. Rio de Janeiro: Rocco, 1994.
PAULA, Hermes Augusto de. Montes Claros: sua história, sua gente, seus costumes. Belo Horizonte: Minas Gráfica, 1979.
ROUSSEAU, René-Lucien. A linguagem das cores: energia, simbolismo, vibrações
e ciclos das estruturas coloridas. Trad. J. Constantino K. Riemma. São Paulo: Pensamento, 1995

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TIO ABÍLIO MORAIS

Sempre fico imaginando no jeito de ser das pessoas que foram as mais importantes na minha longa vida. De como elas eram e como se comportavam quando sozinhas ou no convívio com a gente de casa e as pessoas da rua e do mundo. Penso na postura em geral, na forma de falar e conversar, na posição de ficar quando em pé ou quando sentadas. Sempre alegres? Tristes, preocupadas, ansiosas, cheias de cuidados? De bem ou de mal com a vida? Chegadas às rotinas, cheias de aventuras? Pensativas, falantes, sensíveis à aprovação das pessoas? Tenho um mundo de ideias de como eram ou poderiam ser.

E é pensando assim, no todo e em geral, que imagino meu tio Abílio Morais, irmão de minha mãe e de quase uma dúzia de irmãos, homens e mulheres que tiveram excelente criação por parte do meu avô João Morais e minha avó Ritinha, mulher de todas as prendas, principalmente para fazer requeijão e doce de leite. Só em ser filho de João Morais, marca uma grande vitória, porque ninguém melhor do que o meu avô, que foi príncipe da alegria e do bom viver, seja com o embornal na roça, seja, à noite, deitado na rede, a contar estórias e narrar sonhos, multidão de gente ao redor, ouvindo cada palavra, sentindo cada pausa.

Aí é que viveu meu simpático Tio Abílio, de boa altura, nem alto nem baixo, tamanho de que pode pegar peso e andar com pressa ou com calma. Sempre fazendeiro bem de vida, dos primeiros a acordar, pela manhã, o lugar certo de encontrá-lo era no curral, vacas já apartadas para tirar o leite. Uma acertada tarefa chefiada por ele, todos respeitando sua competência diante dos latões que tinham que estar cheios. Na vasilha de apara, aquela brancura maravilhosa, o mundão de espuma a cada puxada no peito da vaca. Falo com muita autoridade sobre esses momentos, porque era lá que eu chegava, acredito em primeiro lugar, já com o copo esmaltado limpinho, para receber a minha cota de cada manhã. Quentinho o leite que espirrava no copo, era só a gente ficar
sorvendo e lambendo os beiços. De gostosura maior não me lembro. Encantador tempo de infância!

Muitas e muitas vezes viajei com o calmo e otimista, Tio Abílio, saindo de São João do Paraíso para Salinas, ou de Salinas, de volta para casa no São João. Mula bem arreada, Tio Abílio, para me dar tranquilidade, colocava um pano acolchoado no cabeçote, onde eu me assentava com todo conforto, as costas apoiando em seus braços, rédeas do lado direito ou do lado esquerdo. Ele, de esporas prateadas, usava um cabrestinho leve para animar o cavalgar, quando preciso. Atrás da cela, os alforges com a matula, o cantil de água e alguma fruta para a sobremesa nos intervalos da viagem. A partida era sempre bem cedinho, depois de um fornido café com leite, bolos de puba e biscoitos cozidos e assados e espremidos, além da broa e do biscoito fofão, este entre o sabor doce e o salgado, uma delícia que mamãe colocava quentinho na mesa, em cima de uma toalha bordada. A viagem era mais gostosa que uma de carro de bois, de fordinho ou de caminhão. Além de tranquila, integrava a natureza, a gente vibrando com cada pedaço de estrada, vendo e sentindo os verdes da paisagem. Paradas, só para dar água aos animais ou mesmo para nos confortar, quando em momentos de sede.

Nas chegadas em Salinas ou em João do Paraíso eram sempre uma festança, com muita comida e muito café com leite. Bem melhores do que as passagens por Coqueiros e Taiobeiras, mesmo havendo muito o que comer e beber, além das prosas, dos casos e dos comentários sobre política e acontecimentos da vida diária. Nas chegadas, a primeira coisa que Tio Abílio fazia era desarrear os animais e colocá-los na sombra, para o merecido descanso. Tio Abílio era, de natureza, um homem bom, sempre pensando no bem, das pessoas e dos bichos.

Para os meus leitores, principalmente os de Montes Claros, a melhor forma de identificar o meu Tio Abílio é dizer, que temos
como nossos amigos, dois filhos queridos que ele criou e educou
com todo cuidado: o doutor Oswaldo Morais, oftalmologista, e nossa querida professora Maria Inês Morais Ferreira, mãe das sempre meninas, Maíra e Talita, minhas primas, que coloquei como centro material e espiritual do meu poema “Quinze anos, menina-moça”.

Bom concluir, reafirmando minha admiração pelo sempre calmo e importante fazendeiro, tio Abílio Morais, de inesquecíveis olhos claros. Declaro-me feliz e agradecido por ter participado por bom tempo da sua vida. Valeu!


TÉO AZEVEDO: UMA LENDA!

A cultura montes-clarense, mineira e brasileira está de luto. Morreu aos 81 anos, na madrugada de sábado, 11 de maio de 2024, em Montes Claros, o ilustre artista, compositor, escritor, repentista, cordelista, poeta, cantador, consagrado e premiado produtor Téo Azevedo, considerado uma das maiores expressões da cultura popular do país. Mais de 2,5 mil músicas gravadas, cerca de três mil trabalhos e mil histórias de cordel escritas, além de doze livros lançados. Téo também se notabilizou pela luta em defesa da “música de raiz” e da natureza, tendo levantado a voz pela preservação do pequizeiro, o fruto símbolo do Cerrado.

Entre os cantores que gravaram as suas criações estão Sérgio Reis, Milionário & José Rico, Zé Ramalho, Genival Lacerda, Zeca Pagodinho, Jair Rodrigues, Pena Branca & Xavantinho, Tonico & Tinoco, Caju & Castanha e dupla Cristian & Ralf. Conviveu e firmou parcerias com Sérgio Reis, Zé Ramalho e Luiz Gonzaga, entre outros. Em 2013, ganhou o cobiçado prêmio Grammy Latino com “Salve Gonzagão – 100 anos”, categoria Melhor Álbum Raiz, Las Vegas, Estados Unidos.

Em 1997, graças ao produtor e músico americano Michael Grossman, que conheceu quando fazia um programa na Rádio Atual, em São Paulo, Téo se aproximou de Bobby Keys, saxofonista da banda Rolling Stones. Logo depois, fez uma composição em homenagem ao saxofonista, “For Bobby Keys (Music and life)”, que entrou em um disco de Keys, em versão de Michael Grossman. A gravação foi patrocinada por Ronnie Wood, guitarrista dos Stones.

Detentor do título de Doutor Honoris Causa concedido pela UNIMONTES, Resolução do seu Conselho Universitário, assinada e publicada em 26 de julho de 2023, em virtude do “seu valioso trabalho em prol da valorização e difusão da cultura, da arte e do conhecimento, especialmente, das nossas tradições, como a Folia de Reis”. Foi responsável por lançar vários artistas e trabalhos diferentes, tendo ele o descobridor Zé Coco do Riachão, também figura artística norte-mineira muito admirada.

Téo Azevedo, pelo seu notável valor intelectual, era membro efetivo da Academia Montes-clarense de Letras e do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, posição exercida com absoluto destaque, frequente às reuniões mensais e às festivas, sempre ao lado da sua esposa Maria de Lourdes Chaves (Lola), também sócia efetiva das duas instituições.

Além da Unimontes, a Prefeitura Municipal de Montes Claros divulgou nota, lamentando a morte do compositor, que ela “considera ícone da cultura popular, um Menestrel Sertanejo que, por meio da sua arte, espraiou a cultura norte-mineira por este mundo afora, em milhares de canções e dezenas de livros”. O sepultamento, com todas as honras e múltiplos louvores, ocorreu na sua terra natal, Alto Belo, município de Bocaiuva, no Memorial Téo Azevedo.


MENSAGENS DO PRESIDENTE

MEMORIAL DO RÁDIO AMADOR
Marcelo Mameluque Mota

Mais uma vez, debruço-me sobre o papel pautado para vos dizer, em caligrafia rebuscada, da minha imensa alegria em apresentar, neste importante folder explicativo do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, a relevante participação do saudoso radioamador Marcelo Mameluque Mota, em nossa cidade e região do norte de Minas.

O memorial do Rádio Amador, neste museu, tem em exposição vários objetos que foram utilizados nos tempos que, o radioamadorismo exercia papel de fundamental importância nas comunicações entre os povos, e para isso, era necessário conhecimento na operação os aparelhos e o apreço no trabalho desenvolvido para este mister. Pois, sabe-se que, o radioamadorismo é uma atividade praticada no tempo livre das pessoas, sempre a serviço da telecomunicação, e sem fins lucrativos.

Hoje, nós sabemos que o radioamadorismo foi o responsável pelo avanço de muitas tecnologias, em especial a internet e a telefonia celular. Também teve ele importante tratamento na composição dos radares, ou até mesmo no sistema de fornos de micro-ondas. Em vista disso, o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros teve a feliz ideia de homenagear o radioamador Marcelo Mameluque Mota, com um espaço destinado às suas memórias, com a gratidão de sua filha, e nossa associada, Silvana Mameluque Mota.

MEMORIAL NIVALDO MACIEL

Para nós, do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, entendemos que a realização deste alentado espaço da história, homenageando o seresteiro e tocador de viola Nivaldo Maciel de Araújo, tem um significado muito importante para a cultura de Montes Claros e da região do Norte de Minas.
Na verdade, o nosso Instituto ficou, agora, muito mais robusto e interessante em fazer parte deste resgate oriundo do espelho do tempo e ornamentado com as imagens da alma de um povo, povo forte e valente, assim como o magistral canto do aboio. Dos incontáveis afazeres de Nivaldo Maciel, sob o ponto de vista cultural, se tem escrito muito pouco na mídia de nossa terra e, por vezes, somente alguma coisa superficial, não transferindo a ele o real valor de suas conquistas. Nota-se que, por iniciativa de seus filhos, hoje estamos concluindo a vitrine especial deste memorial para mostrar aos nossos associados e visitantes o significado do amor maior e do carinho axiomático que Nivaldo Maciel nutriu por esta benquista terra, e pela conservação das tradições e dos costumes de nossa gente.

Desse modo, o Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros, através de seus membros efetivos, vem a público para agradecer o apoio, o empenho e a forma espontânea na realização deste pequeno espaço cultural. Aqui a gente ainda escuta a voz maviosa do seresteiro montes-clarense nas belíssimas modas e modinhas como “Amo-te muito”, “O bardo”, “Lua branca” e outras mais da coletânea cantadas no inesquecível grupo de seresta “João Chaves”. Agora, revive-se, nos seus pormenores, toda uma época de êxtase musical, encarada nos seus múltiplos aspectos político, social e cultural, onde Nivaldo Maciel, juntamente com outros seresteiros, encantou e ainda encanta (in memoriam), na magia de sua voz, toda a população da sociedade montes-clarense.


MEMORIAL NIVALDO MACIEL

É com muita alegria que concluímos o Museu Leonardo Campos, uma homenagem ao renomado intelectual e incansável pesquisador, Leonardo Álvares da Silva Campos e entregamos, solenemente, ao povo de nossa terra nesse momento especial em que celebramos o legado de um grande pesquisador, cujo amor pela história e dedicação à preservação do patrimônio cultural são exemplos inspiradores.

O Museu representa um espaço dedicado à preservação do patrimônio histórico-cultural do Norte de Minas, capturando suas diversas facetas por meio do legado deixado pelo pesquisador montes-clarense.

A exposição do Museu Leonardo Campos nos levará a uma envolvente jornada no tempo, explorando nossas raízes e as descobertas realizadas pelo ilustre pesquisador ao longo de sua vida.

Esta será uma oportunidade única para vivenciarmos de perto o acervo, composto por peças descobertas em sítios arqueológicos da região, além de fotografias e documentos que revelam as fascinantes características do Norte de Minas.


EPITÁFIO
PARA UM TÚMULO DE AMIGO

‘‘ A morte vem de manso, em dia incerto e
fecha os olhos dos que têm mais sono...’’
(Alphonsus de Guimaraens - ossa mea, I.)


ÍNDICE
Benjamim Ribeiro Sobrinho
O pé da laranja –13
Dário Teixeira Cotrim
Ontem e hoje à beira-mar – 16
Téo Azevedo: um engenhoso genial –20
Fabiano Lopes de Paula
Um risco na paisagem – 23
Glorinha Mameluque
As casas da minha vida em Montes Claros - 27
Uma viagem inesquecível – 31
Guilherme Matias Silva Peixoto
Antônio Raymundo Peixoto: Tu Peixoto – 35

José Jarbas Oliveira Silva
Itagiba de Castro Filho – 54

José dos Santos Neto
A cruz do fim do mundo – 67

José Geraldo Soares e Souza
Estive por aí... – 77
José Ponciano Neto
Mais uma demolição em Montes Claros – 83
Landulfo Santa Prado Filho
Vida Social – 86
Lázaro Francisco Sena
Plínio Ribeiro dos Santos – 95
Leonardo Álvares Rodrigues
Nota Liminar – 98
Lola Chaves
Godofredo Guedes: o esquecido – 101
Mara Yanmar Narciso da Cruz
Praça Irmã Beata – 103
Márcio Adriano Morais
Raffas Pizzaria – 108
Vera Lúcia Santos de Souza
Reencontros familiares – 110
Virgínia Abreu de Paula
Virgílio Abreu da Paula – 116
Walisson Oliveira Santos
Discursos Sobre Montes Claros – 122
Wanderlino Arruda
Tio Abílio Morais – 131
Téo Azevedo: uma lenda – 134
José Francisco Lima de Ornelas
Mensagens do Presidente – 137
Obituário – 143

 

Este livro foi impresso em Montes Claros-MG, no ano de 2022. Miolo com fonte Adobe Garamond Pro, corpo 12; título fonte Times New Roman, corpo 16; papel Ap 75g. e capa em papel triplex 250 g

Impresso na oficina da
GRÁFICA EDITORA MILLENNIUM LTDA.
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(38) 3221-6790