Revista
do
Instituto Histórico e Geográfico de
Montes Claros
Fundado em 27 de Dezembro de 2006
VOLUME VII
MONTES
CLAROS
MINAS GERAIS – BRASIL
2010
COMISSÃO
FUNDADORA 2006-2007
Dr. DÁRIO TEIXEIRA COTRIM
Dr. HAROLDO LÍVIO DE OLIVEIRA
Jornalista LUIS RIBEIRO
Dr. WANDERLINO ARRUDA
DIRETORIA
2010- 2011
PRESIDENTE
DE HONRA |
Dr.
LUIZ DE PAULA FERREIRA |
PRESIDENTE |
Dr.
DÁRIO TEIXEIRA COTRIM |
1º
VICE - PRESIDENTE |
Dr.
WANDERLINO ARRUDA |
2º
VICE - PRESIDENTE |
Dr.
HAROLDO LÍVIO DE OLIVEIRA |
DIRETORA
EXECUTIVA |
ROBERTO
CARLOS M. SANTIAGO |
DIRETOR-SECRETÁRIO |
Dr.
PETRÔNIO BRAZ |
DIRETOR-SECRETÁRIO ADJUNTO |
Profa.
MARTA VERÔNICA V. LEITE |
DIRETOR DE FINANÇAS |
Coronel
LÁZARO FRANCISCO SENA |
DIRETOR
DE FINANÇAS ADJUNTO |
Profa.
KARLA CELENE CAMPOS |
DIRETORA
DE PROTOCOLO |
Dra.
MARIA DA GLÓRIA C. MAMELUQUE |
DIRETORA
CULTURAL |
Profa.
FELICIDADE PATROCÍNIO |
DIRETORA DE BIBLIOTECA |
Profa.
RUTH TUPINAMBÁ GRAÇA |
DIRETORA
DE MUSEU |
Profa.
MARIA LUÍZA SILVEIRA TELLES |
DIRETOR DE RELAÇÕES PÚBLICAS |
Jornalista
REGINAURO R. DA SILVA |
DIRETORIA
DE JORNALISMO |
Jornalista
BENEDITO DE PAULA SAID |
DIRETORA
DE CURSOS |
Profa.
MARIA GERALDA DE SENA SOUZA |
CONSELHO
CONSULTIVO
Dr. JOSÉ GERALDO DE FREITAS DRUMOND
Dr. WALDYR DE SENA BATISTA
Profa. YVONNE DE OLIVEIRA SILVEIRA
COMISSÃO
DE GEOGRAFIA E ECOLOGIA
Prof.
IVO DAS CHAGAS
Profa. ANETE MARÍLIA PEREIRA
Profa. MARIA APARECIDA COSTA
COMISSÃO
DE HISTÓRIA E ARQUEOLOGIA
Profa.
MARTA VERÔNICA VASCONCELOS LEITE
Prof. CÉSAR HENRIQUE DE QUEIROZ PORTO
Profa. FELICIDADE PATROCÍNIO
COMISSÃO
DE ANTROPOLOGIA, ETNOGRAFIA
E SOCIOLOGIA
Prof.
GY REIS GOMES BRITO
Profa. CLÁUDIA REGINA ALMEIDA
COMISSÃO
DE CLASSIFICAÇÃO E DE
ADMISSÃO DE SÓCIOS
Jornalista
MAGNOS DENNER MEDEIROS
Profa. MIRIAM CARVALHO
Dra. FELICIDADE VASCONCELOS TUPINAMBÁ
Profa. ZORAIDE GUERRA DAVID
Dr. WANDERLINO ARRUDA
Dr. DÁRIO TEIXEIRA COTRIM
COMISSÃO
DA REVISTA DO INSTITUTO HISTÓRICO
E GEOGRÁFICO
Dr. PETRÔNIO BRAZ - coordenador
Dr. DÁRIO TEIXEIRA COTRIM
Dr. ITAMAURY TELLES DE OLIVEIRA
Dr. WANDERLINO ARRUDA
Prof. JUVENAL CALDEIRA DURÃES
Profa. MARTA VERÔNICA VASCONCELOS LEITE
Jornalista LUIS CARLOS NOVAES
COMISSÃO
REVISORA DA REVISTA
Dr.
DÁRIO TEIXEIRA COTRIM
Dr. HAROLDO LÍVIO DE OLIVEIRA
Coronel LÁZARO FRANCISCO SENA
Dr. WANDERLINO ARRUDA
LISTA
DE SÓCIOS EFETIVOS DO IHGMC
CD |
Sócios |
Patronos |
01 |
Dr José Santos Rameta |
Alpheu
Gonçalves de Quadros |
02 |
Escritora
Milene A. Coutinho Maurício |
Alfredo de Souza Coutinho |
03 |
Padre
Antônio Alvimar Souza |
Antônio
Augusto Teixeira |
04 |
Professora
Claúdia Regina Almeida |
Antônio
Augusto Veloso (Desemb.) |
05 |
Profª
Yvonne de Oliveira Silveira |
Antônio
Ferreira de Oliveira |
06 |
Prof Marcos Fábio Martins Oliveira |
Antônio
Gonçalves Chaves |
07 |
Professora
Maria Aparecida Costa |
Antônio
Gonçalves Figueira |
08 |
Professora
Anete Marilia Pereira |
Antônio
Jorge |
09 |
Professora
Isabel Rebelo de Paula |
Antônio
Lafetá Rebelo |
10 |
Professora Maria Florinda Ramos Pina |
Antônio
Loureiro Ramos |
11 |
Jornalista
Reginauro Rodrigues da Silva |
Ary
Oliveira |
12 |
Dr
Antônio Augusto Pereira Moura |
Antônio
Teixeira de Carvalho |
13 |
Dr
Cesar Henrique Queiroz Porto |
Ângelo
Soares Neto |
14 |
Professora
Karla Celene Campos |
Arthur
Jardim Castro Gomes |
15 |
Jornalista
Magnus Denner Medeiros |
Ataliba
Machado |
16 |
Dr
Waldir de Senna Batista |
Athos
Braga |
17 |
Profa.
Marta Verônica Vasconcelos Leite |
Auguste
de Saint Hillaire |
18 |
Dr Petrônio Braz |
Brasiliano
Braz |
19 |
Dr Luiz de Paula Ferreira |
Caio
Mário Lafetá |
20 |
Professora Felicidade Patrocínio |
Camilo
Prates |
21 |
Profa.Terezinha
Gomes Pires |
Cândido
Canela |
22 |
VAGA |
Carlos
Gomes da Mota |
23 |
Historiador
Hélio de Morais |
Carlos
José Versiani |
24 |
Dr
João Carlos Rodrigues Oliveira |
Celestino
Soares da Cruz |
25 |
Dr
Ronaldo José de Almentida |
Corbiniano
R Aquino |
26 |
Profa.
Maria Rejane Rodrigues Ruas Colares |
Cyro
dos Anjos |
27 |
Professora
Regina Maria Barroca Peres |
Dalva
Dias de Paula |
28 |
Escritora
Amelina Chaves |
Darcy
Ribeiro |
29 |
Professora Filomena Luciene Cordeiro |
Demóstenes
Rockert |
30 |
VAGA
|
Dona
Tirbutina |
31 |
Professora
Clarice Sarmento |
Dulce
Sarmento |
32 |
Dr
Edgar Antunes Pereira |
Edgar
Martins Pereira |
33 |
Dr
Wanderlino Arruda |
Enéas
Mineiro de Souza |
34 |
Profa.
Geralda Magela de Sena e Souza |
Eva
Bárbara Teixeira de Carvalho |
35 |
Dr.
Antônio Ferreira Cabral |
Ezequiel
Pereira |
36 |
Dra. Felicidade Vasconcelos Tupinambá |
Felicidade
Perpétua Tupinambá |
37 |
VAGA |
Francisco
Barbosa Cursino |
38 |
Professora
Maria Inês Silveira Carlos |
Francisco Sá |
39 |
Professor
Ivo das Chagas |
Gentil
Gonzaga |
40 |
Drª
Maria da Glória Caxito Mameluque |
Georgino
Jorge de Souza |
41 |
Dr
Reinine Simões de Souza |
Geraldo
Athayde |
42 |
Professora
Maria Luiza Silveira Teles |
Geraldo
Tito da Silveira |
43 |
Professor
Benedito de Paula Said |
Godofredo
Guedes |
44 |
Hist.
Roberto Carlos Morais Santiago |
Heloisa
V. dos Anjos Sarmento |
45 |
Jornalista
Angelina de Oliveira Antunes |
Henrique
Oliva Brasil |
46 |
Professora
Eliane Maria F Ribeiro |
Herbert
de Souza – Betinho |
47 |
Jornalista
Paulo César Narciso Soares |
Hermenegildo
Chaves |
48 |
Professora
Raquel Veloso de Mendonça |
Hermes Augusto de Paula |
49 |
Dra.
Maria Fernanda M. Brito Ramos |
Irmã
Beata |
50 |
VAGA |
Jair
Oliveira |
51 |
Dr
José Carlos Vale de Lima |
João
Alencar Athayde |
52 |
Profa.
Maria Isabel M. F. Sobreira |
João
Chaves |
53 |
Dr
João Carlos M. Sobreira de Carvalho |
João
Batista de Paula |
54 |
Adnauer
Denarte Dávila |
João
José Alves |
55 |
Cel.
Lázaro Francisco Sena |
João
Luiz de Almeida |
56 |
Escritor
João Aroldo Pereira |
João Luiz Lafetá |
57 |
Jornalista
Luiz Carlos Novaes |
João
Novaes Avelins |
58 |
VAGA |
João
Souto |
59 |
Jornalista
Luiz Ribeiro dos Santos |
João
Vale Maurício |
60 |
VAGA |
Jorge
Tadeu Guimarães |
61 |
Jornalista
Girleno Alencar Soares |
José
Alves de Macedo |
62 |
Profº
José Geraldo de Freitas Drumond |
José
Esteves Rodrigues |
63 |
Historiador Pedro de Oliveira |
José
Gomes Machado |
64 |
Professora
Palmyra Santos Oliveira |
José
Gomes de Oliveira |
65 |
Dra.
Maria de Lourdes Chaves |
José
Gonçalves de Ulhôa |
66 |
Arqueólogo
Fabiano Lopes de Paula |
José
Lopes de Carvalho |
67 |
Dr
Elias Siuffi |
José
Monteiro Fonseca |
68 |
Professora
Rejane Meireles Amaral |
José
Nunes Mourão |
69 |
Cordelista
Josecé Alves dos Santos |
José
(Juca) Rodrigues Prates Júnior |
70 |
Jornalista
Márcia Sá |
José
Tomaz Oliveira |
71 |
VAGA
|
Júlio
César de Melo Franco |
72 |
Jornalista
Theodomiro Paulino Correa |
Lazinho
Pimenta |
73 |
Dra.
Maria das Mercês Paixão Guedes |
Lilia
Câmara |
74 |
Professor
Laurindo Mekie Pereira |
Luiz Milton Prates |
75 |
VAGA
|
Manoel
Ambrósio |
76 |
VAGA |
Manoel
Esteves |
77 |
Profª
Maria Jacy de Oliveira Ribeiro |
Mário
Ribeiro da Silveira |
78 |
Jornalista
Américo Martins Filho |
Mário
Versiani Veloso |
79 |
Professora
Maria José Colares Moreira |
Mauro
de Araújo Moreira |
80 |
Jornalista
Hélio Machado |
Miguel
Braga |
81 |
Prof. Juvenal Caldeira Durães |
Nathércio
França |
82 |
Dr
Haroldo Lívio de Oliveira |
Nelson
Viana |
83 |
Historiador
Paulo Costa |
Newton
Caetano d’Angelis |
84 |
Dr
Itamaury Telles de Oliveira |
Newton
Prates |
85 |
VAGA
|
Armênio
Veloso |
86 |
Professora
Zoraide Guerra David |
Patrício
Guerra |
87 |
Profa.
Marta Edith Sayago M Marques |
Pedro
Martins de Sant’Anna |
88 |
Professora
Miriam Carvalho |
Plínio
Ribeiro dos Santos |
89 |
Jornalista
Rosângela Silveira |
Robson
Costa |
90 |
Hostoriador
José Henrique Brandão |
Romeu
Barcelos Costa |
91 |
Dr
Wesley Caldeira |
Sebastião
Sobreira Carvalho |
92 |
Professor
Roberto Pinto Fonseca |
Sebastião
Tupinambá |
93 |
Dr
Dário Teixeira Cotrim |
Simeão
Ribeiro Pires |
94 |
Dr
Luiz Pires Filho |
Teófilo
Ribeiro Filho |
95 |
VAGA |
Terezinha
Vasquez |
96 |
Professora
Ruth Tupinambá Graça |
Tobias
Leal Tupinambá |
97 |
Professor
Gy Reis Gomes Brito |
Urbino
Vianna |
98 |
VAGA |
Virgilio
Abreu de Paula |
99 |
VAGA |
Waldemar
Versiani dos Anjos |
100 |
Professora
Maria Clara Lage Vieira |
Wan-dick
Dumont |
Sócios
Correspondentes
Dr.André
Kohene |
Caetité
-BA |
Prof.
Regente Armênio Graça Filho |
Rio
de Janeiro- RJ |
Dr.
Ático Vilas-Boas da Mota |
Macaúbas
- BA |
Dr.
Augusto José Vieira Neto |
Belo
Horizonte - MG |
Dr.
Avay Miranda |
Brasilia
- DF |
Jornalista
Carlos Lindenberg Spínola Castro |
Belo
Horizonte - MG |
Escritora
Carmem Netto Victória |
Belo
Horizonte - MG |
Historiadora
Célia do Nascimento Coutinho |
Belo
Horizonte - MG |
Historiador
Daniel Antunes Júnior |
Espinosas
- MG |
Dr.
Enock Sacramento
|
São
Paulo - SP |
Dr.
Fernando Antônio Xavier Brandão |
Belo
Horizonte MG |
Dr.
Eustáquio Wagnar Guimarães Gomes |
Belo
Horizonte - MG |
Escritor
Flávio Henrique Ferreira Pinto |
Belo
Horizonte - MG |
Jornalista
Geraldo Henriques (Riky Tereze) |
New
York - USA |
Prof.
Herbet Sardinha Pinto |
Belo
Horizonte - MG |
Jornalista
Jeremias Macário |
Vitória
da Conquista - BA |
Jornalista
João Martins |
Guanambi
- BA |
Dr.
Jorge Lasmar |
Belo
Horizonte MG |
Prof.
José Eustáquio Machado Coelho |
Belo
Horizonte MG |
Prof.
Dr. Jorge Ponciano Ribeiro |
Brasília
- DF |
Dr.
Marco Aurélio Baggio |
Belo
Horizonte MG |
Profa.
Dra. Maria da Consolação M. Figueiredo Cowen |
London
- England |
Prof.
Moisés Vieira Neto |
Várzea
da Palma - MG |
Jornalista
Paulo César Oliveira |
Belo
Horizonte - MG |
Jornalista
Paulo César Oliveira |
Belo
Horizonte - MG |
Escritor
Reynaldo Veloso Souto |
Belo
Horizonte - MG |
Prof.Thiago
Carvalho Makiyama |
Gunma-Ken
- Japão |
Prof.
Wellington Caldeira Gomes |
Belo
Horizonte - MG |
Historiador
Zanoni Eustáquio Roque Neves
|
Belo
Horizonte - MG |
NOTAS
DOS COORDENADORES DA EDIÇÃO
............A
ordem de publicação dos trabalhos dos sócios
efetivos obedeceu à seqüência alfabética
dos nomes dos autores. Em seguida, foram ordenados os trabalhos
dos sócios correspondentes; A Revista não se responsabiliza
por conceitos e declarações expedidos em artigos
publicados; A revisão dos disquetes originais foi feita
pelos próprios autores dos artigos publicados.
Art. 2º - O IHGMC tem como finalidade a promoção
de estudos e a difusão de conhecimentos de história,
geografia e ciências afins, do município de Montes
Claros e da região Norte de Minas, assim como o fomento
da cultura, a defesa e a conservação do patrimônio
histórico, artístico e cultural.
APRESENTAÇÃO
“Todos
sabem fazer história - mas só os grandes sabem escrevê-la.”
(Oscar Wilde)
............O
Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros
está lançando agora o sétimo volume da sua
Revista. É um trabalho custoso e gratificante. Entretanto,
com a compreensão e a boa vontade de todos é que
estamos conseguindo realizar essa importante tarefa, a de publicar
uma revista – histórico e geográfico - e cada
seis meses. É a história de Montes Claros e região
que está sendo escrita para a posteridade. Por um lado,
resgatamos fatos históricos de nossa terra, e, por outro,
registramos os novos fatos, complementando assim o que Antônio
Augusto Veloso, Urbino Viana, Nelson Viana, Hermes de Paula, Brasiliano
Braz, Arthur Jardim de Castro Gomes, Henrique de Oliva Brasil,
Simeão Ribeiro, Olyntho Silveira e João Vale Maurício
escreveram no passado. Montes Claros é uma cidade feliz.
Disso não há dúvida. Pois muitos de seus
filhos ainda estão escrevendo a sua história. História
de lutas e de glorias. Temos consciência que é um
trabalho pouco reconhecido por “uns” mas que, de futuro,
“outros” estarão sendo beneficiados com as
fotos e os fatos aqui publicados. Tanto nos trabalhos escolares
como nas pesquisas de historiadores que certamente continuarão
com a incumbência de registras os fatos históricos
e nossa terra.
Dário
Teixeira Cotrim
Presidente do IHGMC
HOMENAGENS
EPITÁFIO
Para um túmulo de amigo
“A morte vem de manso, em dia incerto
e fecha os olhos dos que têm mais sono...”.
(Alphonsus de Guimaraens – ossa mea, I.)
Revista
do Instituto Histórico e Geográfico de
Montes Claros
Fundado em 27 de Dezembro de 2006
MEMÓRIA
DE MONTES CLAROS
Dário
Teixeira Cotrim
Cadeira N. 93
Patrono: Simeão Ribeiro Pires
............Tudo
começou no largo da Igreja da Matriz. Assim, numa certa
manhã, onde o silêncio reinava com absoluta soberania,
chegava para cá a tropa do valente preador de índios,
o jovem Antônio Gonçalves Figueira com centenas
de nativos aprisionados e uma quantidade considerável
do gado vacum, para se instalar às margens de um pequeno
rio por onde escorriam as suas águas cristalinas. Em
vista disso e, por alvará de doze de abril de 1707 foi
concedido ao jovem Figueira uma Carta de Sesmarias aonde ele
veio criar a fazenda dos montes mais belos e mais claros dos
gerais, depois de uma frustrada experiência com os investimentos
malfeitos na propriedade do Brejo Grande.
............Esta propriedade do
Brejo Grande ficava às margens do rio Peixe Bravo, por
onde passava a primitiva Estrada Real que ligava a vetusta vila
de Grão Mogol à antiga fazenda de Tranqueiras,
na Chapada Diamantina. Aqui, na passagem das formigas de cima
fora montado um ponto de pouso onde os destemidos vaqueiros
pudessem aliviar o cansaço das intermináveis jornadas
de tanger o gado. Durante algum tempo os agregados de Figueira
recebiam e
despachavam o gado para o abate na zona de mineração
do arraial do Tijuco. Houve uma época em que os negócios
andavam muito bem e por isso necessário se fez abrir
outra estrada, desta vez para a região do rio dos meninos
indígenas (Pitangui) na sétima vila do ouro das
gerais, onde a distribuição do boi de corte direcionava
lucratividade acima da média desejada. Com a invasão
dos currais de gado, pelos intrépidos baianos, no vale
do rio São Francisco, o jovem Figueira praticamente veio
à falência. Depois, como não viesse o resultado
imediato de tamanho esforço, ele foi perdendo o entusiasmo
com os seus negócios, retornando-se em seguida para a
Vila de Santos, na província de São Paulo, onde
exerceu ali o cargo de conselheiro municipal. Pouco a pouco
a doença o afligia e por isso nunca mais Figueira retornou
aos montes claros de sua adolescência perdida.
............Ficou como se vê
a estrada para Pitangui conhecida pelo nome de Estrada das Boiadas.
Em pouco tempo iniciava-se às suas margens um pequeno
aglomerado de casas residenciais que recebeu o nome de Cruzeiro.
Eram algumas dezenas de casinhas de sapê, e todas elas
tendo a parte frontal pintadas com o barro da tabatinga e alguns
quintais com cercas enjambradas. Neste pequeno povoado existia
uma vetusta capelinha onde o padre Teotônio Gomes de Azevedo
dizia missa todos os domingos e também nos dias santificados.
Cruzeiro ficava muito próximo à antiga sede da
fazenda dos Montes Claros. Devido a uma peste de varíola,
que dizimou mais da metade da população daquele
pequeno povoado, inclusive vitimando o padre Teotônio
Gomes de Azevedo, vigário que cuidava das almas ali existentes,
o povoado entrou em estado de perecimento. Os sobreviventes
foram fincar suas moradas nas adjacências da nova sede
da fazenda já de propriedade do alferes José Lopes
de Carvalho. Antes, porém, o seu proprietário
já havia solicitado uma licença para a imediata
construção de outra pequena capela (esta iniciada
em 18 de junho de 1769) e, posteriormente autorizava aos seus
servos a construção da nova sede (que foi por
muito tempo a morada de dona Eva Bárbara Teixeira da
Carvalho).
Primeira casa de Montes Claros, construída
por José Lopes de Carvalho,
em 1768 e foi morada de Dona Eva Bárbara Teixeira da
Carvalho.
Largo da Matriz em dia de festa religiosa.
............Por
esse tempo, nascia a vila de Formigas do centro nervoso da fazenda
dos Montes Claros de Lopes de Carvalho. E isto se concretizou
posteriormente com a assinatura da lei de 13 de outubro de 1831,
por Francisco de Lima e Silva, tornando este município
independente do distrito de Serro. Não houve nenhuma
comemoração neste importante momento, apenas reuniões
políticas para assim definir os rumos dos acontecimentos.
Um sem números de pessoas, as mais influentes com o poder
político e social, manifestava com o intuito de organizar
as papeladas que deveriam sacramentar de uma vez por todas a
autonomia da vila. A vila de Montes Claros de Formigas iniciava
ali os seus primeiros passos. Ainda não eram passos firmes,
mas já era o bastante para obter vida própria.
Na véspera do dia 13, no proscênio da Praça
da Matriz e nos canteiros das sinuosas e empoeiradas ruazinhas,
morriam tristemente flores amarelecidas à medida que
outras iam nascendo viçosas e coloridas, para saudar
um novo tempo. Um tempo de um novo sonho!
............Um ano e três
dias depois, exatamente na data de 16 de outubro de 1832, era
instalado festivamente o município de Montes Claros de
Formigas, com Câmara Municipal, Cadeia Pública
e o nefasto Pelourinho que imputava respeito e medo. A primeira
Câmara Municipal de Montes Claros de Formigas era composta
pelos seguintes vereadores: José Pinheiro Neves (presidente)
Lourenço Vieira de Azevedo Coutinho, Luis de Araújo
Abreu, Antônio Xavier de Mendonça, Francisco Vaz
Mourão e Joaquim José Marques. Neste dia a folia
tomou conta das poucas ruas do vilarejo, fogos de artifícios
estouravam pelos ares e os coloridos balões subiam aos
céus para saudar o novo amanhecer. Era a vila de Montes
Claros de Formigas uma filha nobre que trazia no seio o vigor
da juventude. A sua alma de menina-moça desmanchava em
felicidades com o primeiro albor do dia seguinte e também
à esperança que envolvia as pessoas sem mágoas
e sem contestação. Nas comemorações
das Bodas de Prata, por determinação da Lei provincial
de número 802, de três de julho de 1857, o se nhor
Joaquim Delfino Ribeiro da Cruz, oficial da Ordem da Rosa e
vice-presidente da província de Minas Gerais, presenteava
a vila com o seguinte artigo: “Fica elevada a categoria
de Cidade a vila de Montes Claros de Formigas coma a denominação
de Cidade de Montes Claros”. Um século depois foi
comemorado o seu Centenário. Naquela ocasião,
por solicitação do prefeito municipal, todas as
casas da zona urbana foram repintadas a cal virgem com bisnaga
‘xadrez’ de cores diferenciadas o que levou o poeta
Luiz de Paula Ferreira a compor uma linda canção,
vejamos:
Montes
Claros, vovó centenária
tu estás tão bonita de vestido novo
vê tuas ruas, vê tuas igrejas
olha só a alegria do povo!
Eu relembro teu nobre passado
de lutas e glórias e tantas belezas,
teu luar, tuas serenatas
e o labor de teus filhos criando riquezas.
............ Este ano foi comemorado
o sesquicentenário em que a vila de Montes Claros de
Formigas se transformou na Cidade de Montes Claros, e por isso
é justo o prolongamento das pesquisas sobre as origens
de nossa terra. Pensando assim, os acadêmicos do Instituto
Histórico e Geográfico de Montes Claros estão
com a incumbência de resgatar fatos novos para a preservação
da memória de nossa terra.
CANHÃO
DE GUERRA
Dário
Teixeira Cotrim
Cadeira N. 93
Patrono: Simeão Ribeiro Pires
............A
história é uma ciência fascinante em todos
os sentidos. Ela nos proporciona entretenimentos e o conhecimento
do antes, sem prejuízo para os projetos do futuro. Nota-se
que nela a pesquisa e a garimpagem nos arquivos e nas gavetas
são ferramentas indispensáveis para a construção
das narrativas pertinentes aos fatos desejados pelo historiador.
É preciso muita paciência, determinação,
abelhudice e discernimento nas buscas das preciosas raridades
contidas nos velhos baús e nas prateleiras das bibliotecas
e dos arquivos públicos. A história é um
segmento do conhecimento repleno de controvérsias. Estudar
e pesquisar são, entre outras coisas, as palavras de
ordem para uma boa e proveitosa construção histórica.
............Sendo assim, este intróito
se torna necessário para que possamos explicar, com segurança,
as indagações que temos recebido a respeito do
canhão de guerra, que foi doado para o Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros, pela família do
Dr. Simeão Ribeiro Pires. Qual mesmo foi a origem dessa
peça do nosso antiquário? O que disse o Dr. Simeão
Ribeiro Pires e o que disse José Geraldo de Mendonça
a respeito dele? Para que possamos dirimir essas dúvidas,
devemos, antes de mais nada, ir aos fatos documentados nos livros:
Raízes de Minas, de Simeão Ribeiro Pires e Grão
Mogol, de Jorge Lasmar e Terezinha Vasques.
............O historiador José
Geraldo de Mendonça, em informação direcionada
ao nosso confrade, Dr. Jorge Lasmar, do Instituto Histórico
e Geográfico de Minas Gerais, disse-lhe que o canhão
de guerra, de posse do Dr. Simeão Ribeiro Pires, foi
encontrado na gruta do “Quebra Coco”, em Grão
Mogol. Nessa mesma linha de raciocínio, o historiador
Manuel Esteves, no seu livro “Grão Mogol”
assevera que a gruta aqui citada fica a doze quilômetros
da cidade de Grão Mogol e “rezam as tradições
locais, que ela [a gruta de Quebra Coco], encerra, escondida
em um dos seus recantos, valiosíssimo tesouro, representado
por uma coleção de diamantes do mais subido valor”.
............No livro Grão
Mogol, de Jorge Lasmar e Terezinha Vasques, página 50,
nós encontramos a seguinte afirmativa: “desta gruta,
o historiador [José Geraldo Mendonça] trouxe um
canhão que foi doado a Simeão Ribeiro Pires, ilustre
cidadão de Montes Claros, autor do excelente livro Raízes
de Minas”. Pois bem, nos escritos do doutor Simeão
não há nenhum registro sobre a doação
do referido canhão. Mas, no seu livro “Raízes
de Minas”, página 37, está ali identificado
como sendo o “Canhão - vindo de Penedo, das lutas
contra os holandeses, que foi artilhado pelo façanhudo
NECO, nas barrancas do alto São Francisco, pelos idos
de 1879”. Não obstante encontrarmos, nas palavras
do confrade Jorge Lasmar, crédito sobre as anotações
de José Geraldo Mendonça, em relação
ao canhão, vale-nos dizer que entendemos de forma totalmente
diferenciada.
............Há uma possibilidade
de que Francisco Sabino Vieira, que terminou os seus dias na
Fazenda Jacobina, no sertão de Canudos, ter levado este
canhão até Penedo. Isso, tempos depois da invasão
dos holandeses no nordeste brasileiro. O assunto não
se esgota aqui. Teremos que pesquisar muito para que possamos
entender melhor e com mais clareza o aparecimento deste canhão
no Norte de Minas. Voltaremos ao assunto.
Canhão de Guerra do IHGMC doado pela família
de Simeão Ribeiro Pires.
DOIS
CONSTRUTORES DO FUTURO
Fabiano
Lopes de Paula
Cadeira N. 66
Patrono: José Lopes de Carvalho
............O
nosso conterrâneo Sr. Chiquinho Guimarães, ou nada
menos que o montesclarense, Francisco José Guimarâes,
o grande arquiteto, mais do que das construções
e dos projetos, da própria vida. Embora já falecido,
ele não passou. Suas obras estão a testemunhar
toda a sua dedicação no trabalho e a história
que ele construiu se faz visível no reconhecimento dos
moradores de Montes Claros. Voltando à frase do grande
mestre da língua e parodiando-a, pode-se dizer que esse
homem, saído do sertão, a subverte porque ele
foi, de verdade, um grande arquiteto sem nunca ter freqüentado
os bancos da escola com essa finalidade. Deixou sinais de sua
genialidade, mesmo após quase 69 anos de sua morte.
............Líder da arte
de produzir tijolos, da carpintaria, do cimento armado, líder
político e social e líder de uma família
de 14 filhos. Apesar de ter falecido novo ainda, aos 55 anos,
sua história é de um gigante vitorioso. A partir
do esforço, da vontade, da simplicidade e do exemplo
da persistência, colaborou, sem o saber acadêmico,
com a história do crescimento, da cultura, da vida político-social,
econômica, educacional e da saúde de Montes Claros
com sua caminhada.
............É
da autoria de Lao-Tsé, importante filósofo e pensador
da China antiga, a frase: ”Para alcançar conhecimento,
adicione coisas todo dia. Para alcançar sabedoria, elimine
coisas todo dia”. A trajetória de Chiquinho Guimarães
é um reflexo desses dizeres. Com tantos atributos, acrescentou
à sua memória sua veia para a política,
seu exemplo de vida e de trabalho, faceta que se consolidou
com sua liderança junto à classe operária,
como reorganizador do União Operária e Patriótica,
instituição de cunho social e, inclusive, com
sua eleição para a Câmara de Vereadores.
Além disso, foi membro ativo de várias outras
organizações. Apesar de suas grandes realizações
e pelo respeito que adquiriu da sociedade, desvestiu-se da vaidade
e da ambição de poder pelos seus feitos. Os louros
da glória? Encontram-se na concretude de suas realizações
que atravessou o século XX e produz efeitos no XXI.
............Gênio surgido
no século XIX (1886), vislumbrou, além de seu
tempo, os sinais da modernidade. Àquela época,
já dera um toque de sofisticação, de vanguarda
e de bom gosto as suas construções. Seu senso
estético apurado passeou pelo gosto neocolonial: as antigas
residências de Nozinho Colares e outras de grande porte,
bem como pelo eclético: o grupo escolar Gonçalves
Chaves, as também antigas residências de Dr. João
Pimenta de Carvalho e de Francisco Ribeiro, onde, por muitos
anos, funcionou o colégio Imaculada Conceição
e parte do conjunto que circundava o mercado municipal.
............A catedral Nossa Senhora
Aparecida é outra obra marcante desse grande artista
tal é o senso estético de suas linhas traçadas
no estilo neogótico. Com sua capacidade criadora, venceu
o desafio de desenvolver o projeto da planta, arquitetado pelo
Cônego Jerônimo Lambin, numa atividade que se considera
árdua assim como é o fazer a obra poética,
na visão de Olavo Bilac que, no afã de retratar
o Belo em seu texto, diz que o poeta “(...) trabalha e
teima e lima e sofre e sua!” , mas que na obra final se
disfarce o emprego do esforço e não se mostre
na fábrica o suplicio do mestre. Assim é a imponente
catedral, este monumento de alta inspiração criadora
lhe exigiu dedicação, incansável
1º
- Catedral de Montes Claros - Estilo neogótico.
2º - Conservatório Lorenzo - Fernandez - Estilo
art decó.
3º - Residência do Sr. Domingos Lopes - Estilo art
decó.
1
-Milinardo Gomes dos Santos, Di Gomes e Geraldinha Gomes
2
- Francisco José Guimarães
tenacidade,
que agora encanta pela imagem, pura, sóbria sem lembrar
ao povo as agruras do trabalho e os andaimes do edifício
e justifica: ”Porque a Arte pura, inimiga do artifício,
é a força e a graça na simplicidade.”
É claro que o nosso mestre não conviveu com o
grande vate, mas foi, sem dúvida, seu grande interlocutor.
............O Art Déco,
estilo lançado na França em 1925, caracterizado
pelo rigor geométrico de suas linhas, além de
formas aerodinâmicas, inspiradas nas máquinas e
navios, se entremostra nos detalhes de muitas das fachadas de
suas obras. O hotel São José, o antigo Clube Montes
Claros, hoje o Conservatório e várias residências,
como a de seu amigo Domingos Lopes, dentre outras, são
exemplos desse arrojo para a época que se encontram no
cenário urbano de Montes Claros, como marcas identidárias
de seu talento.
............Por tudo isso é
sempre momento de reverenciar seu nome. Um homem dessa qualidade,
com carisma inigualável, indescritível e responsável
por grandes realizações, foi, ao mesmo tempo,
avançado e discreto; empreendedor, criativo, progressista
e compenetrado por sua fé católica e espírito
voltado para o bem comum. Para ele, não havia barreiras
intransponíveis; além das construções,
tinha suas convicções políticas, era fiel
à filosofia governista de Getúlio Vargas a quem
considerava um grande estadista. Sua grande escola foi a do
trabalho, da experiência, da busca constante pelo melhor
para a sua família e para a sociedade de Montes Claros.
............Foi, na verdade, um
autodidata pelas suas realizações. Personagem
fascinante, de um exemplo de vida inacreditavelmente grandioso,
representou um estilo de vida marcante, pelo cumprimento do
dever, pelos serviços prestados, Outros líderes
virão, com sua personalidade, visão, filosofia
de vida, mas nenhum empanará o brilho do saudoso Francisco
José Guimarães, pois cada ser é único
e irrepetível. Sua história foi feita com alma,
daí o fato de sua memória se impor e não
se deixar apagar na poeira do tempo.
MILINARDO
GOMES DOS SANTOS - UMA AUTÊNTICO CONTINUADOR
............Natural
de Coração de Jesus, MG., ainda menino, passou
a residir em Montes Claros. Filho de família simples,
afeiçoada ao trabalho, de bom relacionamento e dotada
da capacidade de conquistar as pessoas pelo sentimento de bondade.
............Discípulo do
Mestre Chiquinho, quando, sob sua orientação,
iniciou seu ofício na construção da Catedral
de Nossa Senhora Aparecida, participou da construção
da R.F.F.S.A, juntamente com seu irmão, Juventino Gomes,
a convite dos engenheiros Dr. Valadares Roquete, Dr. Novais
e Dr. Zimbord.
............Construíram
o trecho entre Montes Claros e Monte Azul e concluíram
as estações Orion, Capitão Enéas
(antiga Burarama), Dr. Valadares (Janaúva), Caçarema
e Mato Verde. Essa construção serviu a todo norte
de Minas com transporte de baixo custo. Dentre as suas muitas
construções, tem-se no interior a escola de Grão
Mogol; outro de seus feitos foi, nos idos de 1940, a construção
da saudosa União Operária e Patriótica
de Montes Claros da qual foi um dos líderes e por diversas
vezes presidente. A União Operária era um reduto
para reuniões da construção civil, reuniões
ordinárias aos domingos, onde a classe debatia suas questões
políticas, realizavam cursos de especialização,
bailes familiares, reuniões sociais, práticas
esportivas e outras atividades de assistência aos associados.
Num período ainda em que nem se mencionava a existência
de sindicatos, a classe operária da época era
dotada de grande representatividade.
............Seguidor do Mestre
Chiquinho, Milinardo foi, com seu dinamismo e visão de
futuro, um brilhante autodidata não só na engenhosidade
do projeto, do cálculo, da arquitetura, sem, na verdade,
nunca ter se habilitado formalmente para essa função
que exige, além de conhecimento, gosto e, sobretudo,
o dom da arte, que, no seu caso, era natural. Ele reunia todos
esses atributos, na simplicidade como sempre foi sua vida.
............Mestre
Chiquinho e Milinardo fazem parte da história de Montes
Claros e, como dois construtores do futuro, não podem
ficar esquecidos, pois seus feitos foram o ponto de partida
para as melhorias que recebem a cidade até os dias de
hoje. Esquecê-los seria fechar os olhos para o passado
e sem o passado é impossível continuar a caminhada
e direcionar os feitos pósteres. Montes Claros já
assumia feitos da modernidade com essas raras personalidades
que, sem interesses políticos e sociais, pavimentaram
seus empreendimentos de projeção política,
de feitos sociais e por que não dizer culturais? Se os
gostos se apuravam, as melhorias na cidade aumentavam, a arte
se fazia visível nas construções, os operários
começaram a conhecer seus direitos?
............Os dois, Milinardo
Gomes e Francisco José Guimarães, foram praticamente
os responsáveis pela existência de todas as casas,
mansões e prédios de até três andares
que formavam o centro urbano da cidade.
............Lembrar e reverenciar
pessoas e fatos é um dever de todos, pois não
há vida, nem história sem passado. Diz F. Dostoiewiski
“Se queres ser universal, canta a tua terra” e cantar
essas personalidades fenomenais é cantar Montes Claros,
pois eles foram, antes de exímios profissionais, dois
amantes da terra.
YARA
TUPYNAMBÁ
Felicidade Patrocínio
Cadeira N. 20
Patrono: Camilo Prates
............Cognominada
“a primeira dama da arte mineira” Yara Tupynambá
nos surpreende pelo gigantismo da sua obra. Talvez seja a artista
que pintou o maior número de painéis no Brasil.
Buscando conhecer as particularidades da sua personalidade,
chegamos ao significado do seu nome, em dicionário de
língua Tupis. Yara; “aquela que se sobrepõe
e se supera”. Expressão que se tornou real. Superar-se,
é o que ela faz, a cada dia, a cada passo, a cada gesto,
a cada projeto. Com os pés no chão de Minas a
nutrir-se de suas raízes, suas tradições,
cultura, mas com os olhos no mundo, vem construindo
um acervo artístico que a identifica com o seu tempo.
............É que, arte
para Yara é dever, é sal, é história.
A história das Minas e dos Gerais, figura no seu desenho
perfeito, animado por colorido especial. Suas obras estão
nas mansões, nas casas simples e médias, nas galerias,
nos museus, nos grandes edifícios, nos espaços
públicos, ruas, praças, igrejas, universidades.
E são poéticas, afrontantes, místicas e
fortes. Suas mãos ambidestras deram vida a várias
matérias inertes: telas, papéis, tecidos, paredes,
concreto, madeira, cerâmicas e outras. E assim ela elevou
o nome da sua cidade, Montes Claros.
YARA
TUPYNAMBÁ SE FAZ
............Sua história
começa há muitas décadas atrás,
na viagem de um tropeiro viajante nas estradas da Bahia, quando
este acolhe em seus braços uma índia guerreira
desgarrada da tribo dos Tupinambás. Fêz-se o casal,
do casal três filhos.
............Morre nas epidemias
brancas (varíola), ainda jovem, a índia guerreira
e o cavaleiro andante a homenageia no nome dos filhos: Tupynambá.
Um deles avô de Yara.
............Dando continuidade
ao processo miscigenatório brasileiro, nasce em Montes
Claros-MG Yara Tupynambá, neta de avô europeu (espanhol)
e mãe de descendência indígena brasileira.
A fusão das etnias, por certo será um dos componentes
responsáveis pela universalidade expressiva da artista
Yara, pois, enquanto os seus pés firmes fincam raízes
profundas no solo das “Minas Gerais” bem brasileiras
e seu coração bombeia a seiva da cultura do seu
povo e da sua ancestralidade, os seus olhos perscrutam o mundo.
............Na
infância, Yara percorreu cidades, morou em casas grandes,
casas típicas mineiras, iguais aquelas, que pinta em
suas telas. Yara menina rodopiou e deu risadas em quintais imensos,
cheios de arvores onde subia para olhar mais longe. Liberdade,
pés descalços, alegria. Yara desde a infância
desafiou as distancias. Seguia a linha férrea que seu
pai engenheiro plantava, andava quilômetros e quilômetros,
as vezes reflexiva, buscando talvez, descobrir os limites do
horizonte.
............Foi aluna travessa,
mas inteligente. Na escola já pintava os cartazes, desenhava
os convites. Mais tarde, entre criança e adolescente,
Yara conhece em Itaúna (onde morou) o ex-professor de
universidade alemã, Padre Oscar Bitner que aportara no
Brasil fugindo da guerra. Era culto, tinha uma vasta biblioteca,
gostava de falar da Europa, dos seus costumes, da sua arte.
Yara ficou fascinada. Tornou-se sua ouvinte assídua e
folheava com curiosidade e entusiasmo os seus livros. Desta
forma conheceu muito cedo a História das Artes, através
de um legítimo professor universitário
europeu.1
............Aos dezessete anos,
na década de cinqüenta, com sede de arte, Yara aporta
em Belo Horizonte para estudar. Ingressa na Escola Guignard
que já formara numa primeira geração nomes
como: Maria Helena Andrés, Amilcar de Castro, Farnese
e outros. Fêz-se colega de Álvaro Apocalipse, Jarbas
Juarez Antunes e outros. Conviveu com Chanina e Wilde Lacerda.
A escola foi um impacto. Yara emocionada conta que nunca se
esquece da primeira aula de desenho com o Mestre Guignard no
Parque Municipal, quando ele mostrou de maneira clara a linguagem
diferente entre uma árvore e outra. Foi com Guignard
que aprendeu a importância do olhar e do desenho. Foi
na disciplina, no treino deste olhar que a artista aprendeu
a acuidade de reproduzir.2 Como aluna
brilhante viveu na escola um período glorioso. Graças
a sua dedicação à arte, passa de aluna
à amiga zelosa e companheira de batalha do mestre, tornando-se
uma das discípulas da sua predileção. E
este a estimulava, abria horizontes, despertava-a para a pesquisa
dos grandes pintores. Alberto da Veiga Guignard era ameno, afável,
cavalheiro, amava a escola e os alunos, um
grande mestre, todos sabem. Suas aulas fugiam da metodologia
convencional e sempre continham grandes doses de entusiasmo.
Sob a sua orientação, durante três anos,
Yara desenhava e pintava diariamente; o parque, naturezas mortas
e a figura humana.
YARA E A GRAVURA
............Yara descobre a xilogravura.
Faz gravações com Misabel Pedrosa, depois continua
gravando sozinha até 1957. Em 1959 vai para a Escola
Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro e passa a estudar
com o grande mestre da gravura brasileira Oswald Goeldi. Yara
já possuía um estilo próprio, mesmo assim
foi com Goeldi que aprendeu a importância do entalhe,
passando a valorizar a madeira como o elemento mais importante
da xilogravura. Descobre a importância das texturas, o
valor do corte, libertando-se das margens da madeira. Foi na
gravura que Yara aprendeu a imprimir na matéria inerte
a dramaticidade da vida e foi Goeldi que a ensinou o espírito
da síntese. Yara diz ter aprendido arte como se deve
aprender. Primeiro a fazer os objetos como tais, depois simplificá-los
e após anos de trabalho a distorcê-los.3 Ligada
à natureza, procura sempre expressar o que sente, diante
do que vê: - o brotar da planta, a vida subterrânea
do solo, suas raízes, as saúvas da terra, o nascer
e o por do sol. Para transmitir tudo isto, fez-se figurativa,
buscando a compreensão de si e do mundo, na poeira distante
dos mitos e nas imagens de infância. Diz o filósofo
da arte Moacyr Laterza, que Yara aprendeu “a decifração
da aparência simples das coisas, imposta por Guignard
a seus discípulos”. A gravura deu a ela, muitas
alegrias além dos vários prêmios em salões
e projeção na esfera nacional e internacional.
............Apesar de todo este
sucesso Yara, em diálogo informal, citou-nos algumas
dificuldades geradas por preconceitos no início da sua
carreira, como: - a incompreensão de uma mulher que se
interessava em fazer arte ao invés de aprender corte
e costura, a concepção de que todo artista era
boêmio e depravado, a dificuldade de se sustentar exclusivamente
deste ofício e a ausência de galerias e falta de
incentivo por parte das autoridades dificultando o contato com
o público. Por tudo isto, Yara brinca e faz metáfora
ao dizer que “o artista tem que ser artista” para
viver, principalmente a mulher artista que já carregar
alguma glória.
___________________________
1 - Entrevista Yara - Programa “Gente”
- Vídeo gravação: 13/06/2000. Rede Horizonte
- Produção: Wanderley Timóteo.
2 - GIRAN, Helenice. Op. cit. Pg. 72.
3
- Id. Ibid. Pg. 73.
___________________________
PINTURA
............Na década de
70 Yara passa a se dedicar mais a pintura inclusive a pintura
muralista. Sobre esta passagem, ela diz literalmente:
Yara Tupinambá
“O
meu encontro com a cor, corresponde ao encontro
com o meu EU. Arte é oxigênio para mim, então
a cor é
vital, porque corresponde aos anseios e idéias que expresso
com a ajuda delas. Meu trabalho sou eu mesma.”
............Aqui,
abrimos um parênteses para analisar o contexto filosófico-artistico,
espaço-temporal deste momento de Yara. A primeira fase
da arte mineira se caracteriza pelo Barroco e esta artista surge
na segunda fase, a do movimento de modernização,
cuja analise do filósofo Moacyr Laterza diz: “a
meta era alinhar-se com o espírito de modernidade e o
desafio maior foi reconhecer que o sentido interior do mundo
é enigmaticamente apreendido através do EU do
artista”.
............Sabendo a artista das
suas raízes barrocas, passa a estudar obsessivamente
a obra dos mineiros do tempo colonial, assim, alcança
a força expressionista que a inspirou. Por outro lado
ainda com base no expressionismo barroco, a artista consegue
alcançar o sincretismo típico do nosso povo, ligando
a religiosidade ao sentimento social de solidariedade que o
leva a participar dos dramas de sua terra e de seu povo.4
Acalentada no seio de Minas e bebendo nessa fonte, deixa, fortemente
registrada em sua obra, a luta que se trava entre o que pertence
as “minas” e o que provém dos “gerais”,
os gerais de sua terra natal, Montes Claros. “Mais do
que antes, Yara assume o saibro, a caliça, a terra, as
saúvas da terra, a solidão e os cactos da terra.
Yara recupera (para si e para nós) alguns avos de esperança”.5
............O
fato de ser originária dos sertões, assim como
o contato com as minas de Vila Rica e as demais cidades do ciclo
do ouro vão determinar os temas que a levam a uma figuração
entre o dramático e o poético, o real e o onírico
entre o histórico e o individual, consubstanciadas tanto
nas obras de pequeno, como de grande porte.
............Uma característica
forte do seu trabalho é a historicidade. Observamos que
grande parte da sua obra são documentos artísticos,
onde permeiam uma temática intencionalmente aplicada
dos motivos históricos e sociais. Para esta artista,
arte é produto social. Reconhece que a criação
parte do estímulo do meio ambiente, tornando-se impensável
fora do quadro social que a produz, ao mesmo tempo em que é
impossível sem o indivíduo. De maneira figurativa
ou abstrata é certo que refletirá o pensamento
e a problemática do século que a determinar.
............Diante desta reflexão
Yara se obriga a estudar e pesquisar diariamente, renovando
suas vivências. Reflete “O homem deve ser o grande
tema de todo artista”. A partir de então, preocupa-se
em fazer um trabalho mais dirigido ao povo e este deverá
conter uma mensagem educativa.
............Surgem os murais onde
encontraremos a força das “Minas” e a poesia
dos “Gerais” que habitam nesta montes-clarense.
A ampliação do espaço suporte, o poder
do concreto e da cor, a natureza dos elementos que doma sob
as minúsculas mãos traduzem “sagesse, demonstrando
a força de que é capaz a dimensão humana
e a força das figuras retratadas que surgem desta dimensão.
Yara busca na história brasileira, mais especificamente
na mineira os momentos mais significativos. A artista sabe que
“é natureza”.6 Por isto toda a sua obra mostra
a pulsação do coração humano no
tempo.
............Lateralmente aos quadros
para ambientes interiores, surgem os grandes painéis
para espaços públicos. Só em Belo Horizonte
já são mais de 80, ao todo, mais de 90 painéis.
Na impossibilidade de registrar todo o seu acervo, citaremos
como exemplo o painel da Reitoria da UFMG que se constitui de
uma síntese iconográfica da história da
Inconfidência Mineira e que a artista considera como a
grande obra da sua mocidade.
............Yara demonstra capacidade
de recriação constante. Não só cria
representativamente os fatos significativos, mas versa sobre
a obra de outros artistas, como é o caso da poesia de
Antônio Gonzaga através da série “Liras”
e através da série “Drumonianos” inspirada
na poesia referencial a Minas, do grande poeta brasileiro Carlos
Drumond de Andrade.Uma série de sua autoria fala sobre
a obra, “A Mesa” de Drumond. Hoje, ela enriquece
o Memorial Carlos Drumond de Andrade construído em Itabira
fruto de um projeto arquitetônico de Oscar Niemayer. Nada
há de estranho neste conluio. O artista é livre
para estabelecer relações entre as coisas e aquilo
que elas significam. Lembra-nos Moacyr Laterza que as coisas
existem duas vezes: como coisas e como sinal. Para o artista,
o aspecto significativo das coisas refulge mais, por isto se
impõe com primazia. É no refulgir da coisa sinal,
que tudo o mais é visto medido e valorizado pelo poeta.
A esse respeito disse Portinari: “A poesia é uma
espécie de aura mágica que pode iluminar um poema,um
quadro, um gesto, um momento”.
__________________________________________
4 - Id. Ibid. Pg. 68.
5 - Id. Ibid. Pg. 68.
6 - MARITAIN, Jacques. A Intuição Criadora. A
poesia, o homem e as coisas.
Trad. Laterza, Moacyr. Laterza, Léia. Belo Horizonte.
Ed. PUC Minas. 1999.
________________________________
CONTEMPLANDO
A ARTE DE YARA
............Em
suas diversas fases criativas, coloridas ou não, através
da mágica da sua prancha ou dos seus pincéis,
Yara nos transporta às montanhas, aos campos e jardins,
aos casarões, às ruas estreitas e curvas, à
lua e ao sol do sertão, aos braços abertos dos
tropeiros e à esperança das moças nas janelas.
Faz-nos sentir o vento no rosto, o cheiro da terra, a beleza
da flor. Vemos nas suas figuras históricas, a integração
do real com o mundo onírico, a afirmação
da raça, dos costumes, do povo, unidos a um fragmento
de sonho.
............Observação:
Os temas históricos encontram-se mais condensados nos
Grandes Murais. Como exemplo, todo o caminho histórico
percorrido por Minas até a atualidade. Muitas reservas
florestais pintadas por Yara foram extintas ou existem em uma
mínima porcentagem, portanto, essas séries especificas,
podem também se destinar a preservação
das imagens que um dia aqueles locais foram.
............Sua obra foi analisada
por importantes nomes da crítica nacional, apresenta-se
na maior parte numa forma figurativa muito particular com um
colorido inusitado e esfusiante. Nas últimas séries
ela começa a geometrizar o seu figurativo, eliminando
curvas e sintetizando o desenho. Esta mudança acrescenta
beleza à sua obra.
YARA
ARTISTA E EDUCADORA
............Tão logo terminou
seu curso, Yara passou a lecionar arte nas faculdades de Belo
Horizonte. Destaca-se o seu trabalho na UFMG, em sua Escola
de Belas Artes cujo corpo docente era constituído de
23 professores: duas mulheres e vinte e um homens. No ano de
1966 Yara foi eleita por unanimidade para a direção
desta Escola. É considerada a melhor professora de gravura
de sua época. Como professora mostrou-se (de acordo com
o depoimento de alunos) comunicativa, aberta, personalidade
forte, sempre pronta para qualquer batalha. Grande incentivadora
dos alunos, exigente e extremamente generosa. Jamais omitiu
ensinamentos, dividiu com os alunos tudo que sabia, o que lhe
rendeu muita admiração e respeito. Registram seus
alunos, que a sua dedicação e garra na escola
e para a escola, ficaram gravadas nas suas obras que hoje ali
estão (mural, painéis, quadros)e na memória
e coração de quem com ela convive.
ALGUMAS
PREMIAÇÕES
............Aos olhos do mundo
não passou despercebido o empenho dessa arte e principalmente
aos olhos do seu povo que buscou formas de homenageá-la.
Yara foi incluída em numerosos livros de arte. Dentre
eles, destacamos o livro de arte de sua autoria, com variados
textos da crítica especializada, com fotos magistrais
de boa parte da sua obra, feitas por Sylvio Coutinho.
............O reconhecimento do
seu trabalho efetivou-se também através de honrarias,
medalhas e prêmios de participações. Citamos
aqui parte desta premiação: II Prêmio de
Escultura no Salão de Belo Horizonte, I Prêmio
gravura no XVI Salão de Belo Horizonte, I Prêmio
de desenho TV Itacolomi entre artistas mineiros, I Prêmio
de ilustração – Diário de Notícias,
II Prêmio de desenho no Salão de Pernambuco, I
Prêmio de gravura no II Salão de Trabalho, Medalha
de ouro no Salão do Paraná, Prêmio “Aquisição”
no Salão de Porto Alegre, Prêmio Especial “Pascoal
Carlos Magno” no Salão do Pequeno Quadro, Palma
de Ouro pelo destaque artístico no Palácio das
Artes, Menção Especial no Salão do Paraná
com a equipe Estandarte, I Prêmio de gravura com a equipe
Estandarte no IV Salão de Arte Contemporânea de
Belo Horizonte.
............Algumas honrarias:
Comenda da Inconfidência Mineira do Governo de Minas Gerais,
Medalha da Ordem do Mérito Legislativo da Assembléia
Legislativa de Minas Gerais, Palma de Ouro da Fundação
Clóvis Salgado,, Grande Medalha de Ouro Santos Dumont,
concedida pelo Governo de Minas, Medalha de Ouro concedida pela
Agremiação amigas da Cultura de Montes claros,
Cidadã Honorária das cidades de Mariana, Belo
Horizonte e Ouro Preto.
O
INSTITUTO YARA TUPYNAMBÁ
............Trata-se
da realização de um sonho desta guerreira que
sempre esteve antenada com os problemas sociais deste vasto
e belo, ao mesmo tempo deficitário país. O seu
tempo que antes era todo para os pincéis, Yara passa
a dividir com ações que Revista do Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros 37 visam a melhoria da
condição humana. Atendendo aos objetivos de promoção
das artes e ofícios, através de cursos de qualificação
social e profissional criou em 1987 e está em pleno funcionamento
o com sede na Rua Espírito Santo numero 1481, centro
de Belo Horizonte, o Instituto Yara Tupinambá. Através
desta instituição, promove parcerias com órgãos
governamentais, visando qualificar trabalhadores nas áreas
do Artesanato, Confecção, Construção
Civil, Informática, Agronomia, Gastronomia, com muitas
especialidades dentro destas áreas, formando, as vezes,
mais de 5000 alunos por ano e promovendo a inclusão social,
e isto se estende a diversos municípios mineiros.
YARA,
SIMBOLO VIVO DE GRANDEZA
............Yara, não se
nega à vida, ao espaço e ao labor, a ela, predestinados.
A um só tempo valente e frágil, rebelde e doce,
dinâmica e infatigável, desde cedo determinou a
luta. Na busca daquilo que ama e em que acredita enriqueceu
espaços vazios e estruturou sua fortaleza com as pedras
encontradas pelo caminho. E o povo a reconhece, Minas, Brasil,
o mundo. Yara não se limita. Caminha na história,
tem história e é história. Mesmo com todo
este sucesso, não se deixou deslumbrar levianamente,
confirma-se como pessoa em processo e é muito sensível.
Gosta de outras artes também, por ex: a dança,
a escultura, a cerâmica, a poesia e literatura. Tem o
dom da palavra. Por onde passa, é presença contagiante.
............Yara tem entre 50 e
mais de 500 anos, já que seu sangue indígena habitava
o Brasil antes do seu descobrimento. Sua obra é o resultado
laborioso de uma consciência operária, uma obra
que contem em si uma virtualidade estética plena de valores
humanos. Yara, hoje, mora em Belo Horizonte, numa casa deliciosa
no Bairro Vila Paris e continua produzindo muito, nota-se em
seu trabalho contemporâneo, (últimas exposições,
já no séc.XXI) uma tendência à abstração,
através da geometrização do seu figurativo,
porém sem se descartar deste. Engajada social e politicamente
continua dedicando-se intensamente à defesa dos artesãos
mineiros e lecionando em cursos de História da Arte.
Defende a função social da arte. Defende o artista
como o porta-voz do povo, aquele que toca o coração
do povo, que leva a este povo a alegria de ver a criação.
............Por tudo isso e mais
Yara enche de orgulho a nós, seus conterrâneos
montes-clarenses.
............Como
vimos, faz-se de grandeza esses mitos das artes plásticas
montes-clarenses que aqui apresentamos nos volumes V, (Raimundo
Colares), VI, Konstantin Christoff e agora Yara Tupynambá.
Necessário se faz registrar as suas trajetórias
brilhantes, para o conhecimento e reconhecimento das gerações
futuras.
HISTÓRIA
REPETIDA
Num dia da Pátria
Geralda
Magela de Sena Almeida e Sousa
Cadeira N. 34
Patrono: Eva Bárbara Teixeira de Carvalho
7
DE SETEMBRO
............Era
7 de setembro e eu descia pela rua Dr. Veloso quase chegando
a Praça da Matriz, quando ouvi gemidos abafados. Olhei
ao redor e nada vi. Apurei os ouvidos. Por trás dos tapumes
à minha direita, já na esquina da praça,
um som dolente, sofriido se fazia ouvir debilmente.
............Atentei para o que
os meus olhos abismados então viam. Diante deles, por
trás dos tapumes a nossa história está
agonizando.
............E era um Dia da Pátria!!!
............Foi tanta indignação
e dor que venho repartir com você.
............Quem
sabe, você pode fazer pela memória da nossa Montes
Claros muito mais do que apenas partilhar sua indignação,
como eu.
Solar
da família Prates Oliveira
POR
QUE CERCARAM O CASARÃO DA PRAÇA?
Compraram o Casarão dos Oliveiras!
Será restaurado o Casarão da praça!
Quando a notícia
cintilou nos jornais
vibrou-me tronco e raízes.
Era a salvação!!
Pensei a vida continuada
na arquitetura
na história contada pelos telhados
pelas sacadas de parapeitos bordados
pela jabuticabeira renovada
em flores e frutos a cada estação
pelo chafariz com seu leão jorrando água pela
boca.
Vi luzes em festa
brilhando no interior
e derramando-se em sons e cores
pelas janelas.
Vi passos soando no assoalho
conduzindo aprendizes
de cultura e civilização.
Vi soberano
convivendo com as diferenças do tempo
um sobrevivente
um imponente baluarte:
o Casarão da Praça.
Mas não foi a salvação!!!
Por que cercaram o Casarão da Praça?!
Para calar o protesto público?
Esconder a vergonha do descompromisso
a perfídia de maléfico interesse?
Por que cercaram o Casarão da Praça?!
Para
sufocar suas queixas, seus lamentos
a cada chaga
que se abre e sangra
pelas paredes centenárias?
Por que cercaram o Casarão da Praça?!
Para que o despencar silencioso
da beleza
que a tantos encantou
desnudando sua intimidade
desfazendo seus contornos
clamando respeito, amparo, consideração
fossem abafados
pelos tapumes pincelados
de enganosas intenções?
Não foi a salvação.
Foi a condenação!!!
Cercado. Escondido. Camuflado
desfaz-se pouco a pouco
e leva consigo a nossa história!
Cercaram o casarão!...
Mais um tempo
e nem os tapumes estarão lá
para contar a história
dos homens sem memória
que habitaram um dia
naqueles montes claros.
Cercaram... Condenaram à morte solitária
o Casarão da Praça!
Como todos os que o antecederam...
Ninguém vê.
Tornou-se míope nosso olhar.
Até os jornais se calaram...
O
Fundador de Jornais
Haroldo Lívio
Cadeira N. 82
Patrono: Nelson Viana
............Ele
deve ter lido jornal, pela primeira vez em sua vida, na escola
de seu avô materno, dos Cavalcanti de Alagoas, onde foi
alfabetizado e encaminhado para o universo das letras e dos
números. Lá no ermo onde nasceu, Campo Redondo,
nos Gerais de São Felipe, imperava a lei do mais forte,
e ele aprendeu, muito cedo, a lutar contra a adversidade que
o destino coloca no caminho de quem quer crescer e subir na
vida. Foi, desde pequenino, prestando atenção
no mundo que o rodeava, nas pessoas, nos animais, na natureza
madrasta. Dessa observação, nasceu o sonho de
alterar o rumo traçado para sua caminhada na vida. Teria
de ser, inevitavelmente, fazendeiro, proprietário de
vastas extensões de terras, onde engordaria o gado e
exerceria o domínio senhorial, sucedendo ao avô
Teodoro do Condado e ao pai Adelino, que derrubaram a mata e
semearam o capim colonião.
Décio Gonçalves de Queiroz, que chegou ao marco
dos oitenta anos, no dia 21 ............de
novembro passado, ao completar dezoito anos de idade, em 1948,
tomou a decisão heróica de mudar o rumo traçado
para sua sina, de ser fazendeiro nos Gerais de São Felipe.
Mudou-se para a cidade, para aprender mais do que pôde
ensinar o avô nordestino e adquirir instrução
para exercer o mister do jornalismo. Desde o momento em que
se matriculou na primeira série ginasial, no Instituto
Norte-Mineiro de Educação, do Dr. João
Luiz de Almeida, ele decretou que seu futuro era ser jornalista,
fundador de jornais, como realmente procedeu, e deixou para
trás os campos natais, das invernadas, dos cantos de
aboio, das cavalgadas debaixo do sol e da chuva.
............Procurou espaço
mais amplo para realização de seu projeto pessoal
e pegou o trem para São Paulo, querendo recuperar o tempo
da juventude que passou fora dos bancos escolares, no batente
da produção rural, levando sua transferência
para o Colégio Independência. Lá chegando,
viu que o colégio não tinha jornal, como imaginou
que tivesse, e cuidou de fundar seu primeiro jornaleco, O Independente.
Estava ungido e sacramentado jornalista. Podia até se
considerar colega de Assis Chateaubriand, sendo fundador e proprietário
de um órgão de imprensa, que fatalmente deve ter
expirado por falta de anunciantes. Em seguida, teve a grande
oportunidade de adquirir tirocínio profissional, no período
em que trabalhou na redação das Folhas, na Paulicéia.
............A maré baixa
o trouxe de novo para o nosso meio e para o seio da família,
num momento em que sua presença era indispensável
no lar paterno, em face da perda do chefe. Aqui instalado, junto
da mãe, dona Adelina, e dos irmãos, retomou os
estudos, no curso científico, e fundou o segundo jornal
de sua vida, a Tribuna do Estudante, onde o conheci e publiquei
minha primeira matéria assinada. (Muita ousadia para
um “foca”). Era 1956. Preciso dizer que o quinzenário
faliu e obtivemos asilo - eu, ele e Lúcio Benquerer -
no O Jornal de Montes Claros, do jornalista Oswaldo Antunes,
onde já encontramos Waldyr Senna Batista na reportagem
política. Sempre fundando e, às vezes, afundando,
por culpa dos anunciantes, Décio participou, no ano de
1960, da fundação da Revista Encontro, que preencheu
uma fase gloriosa da história de nossa imprensa e circulou
durante quase dez anos. Em 196l, salvo engano, ele se associou
ao talentoso Júlio César de Melo Franco para dotarem
a cidade de mais um órgão de primeira linha, o
Diário de Montes Claros, ao qual dedicou os melhores
anos de sua vida e consolidou seu conceito de jornalista sério
e comprometido com o bem público.
............É claro que
se realizou como pessoa, principalmente se casando com sua querida
Chichica e constituindo bela família. Concederam a mim
e à minha esposa, Maria do Carmo, a honra de levar à
pia batismal o pequenino Cláudio. Daí para frente
é o repouso do guerreiro, que deu por cumprida sua missão
de fundador de jornais e retornou ao ponto de partida, no campo,
e hoje repete as vidas de Teodoro do Condado e Adelino, na labuta
da cria, recria e engorda de bovinos, na comarca do Brejo das
Almas, com o entusiasmo de quem, finalmente, descobriu sua verdadeira
vocação: o pastoreio do gado. Ora veja, o confrade
e compadre voltou a ser boiadeiro e está por demais felicíssimo!
Décio Gonçalves de Queiroz
ESBOÇO
DE KONSTANTIN
Haroldo
Lívio
Cadeira N. 82
Patrono: Nelson Viana
............O
romancista Santos Moraes, crítico literário do
Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro, e detentor do Prêmio
Machado de Assis, conferido pela Academia Brasileira de Letras,
mostrou a Herman Lima, autor da História da Caricatura
no Brasil, alguns desenhos do nosso artista Konstantin, publicados
na Revista Encontro. O historiador gostou imensamente do traço
de Konstantin e pediu ao romancista que conseguisse na fonte,
quer dizer, no ateliê do caricaturista, em Montes Claros,
exemplares de outros trabalhos assinados por K. Ch., para publicação
no próximo volume de sua obra, que é considerada
a enciclopédia da caricatura.
............Pouco tempo depois,
numa bacalhoada de Sexta-Feira Santa, em 1964, na casa de Santos
Moraes, fui incumbido por ele de conseguir de Konstantin os
trabalhos solicitados pelo historiador carioca. Retornando,
transmiti o pedido ao grande caricaturista, que se mostrou sensibilizado
com a atenção despertada por suas criações,
principalmente por ter sido reconhecido por um historiador de
renome nacional, e respondeu-me que iria providenciar o envio
dos desenhos solicitados. Caiu, porém, no esquecimento.
............Até
ontem, não tive notícia de que a encomenda tenha
chegado às mãos de Herman Lima. Já se passaram
quase dez anos.
............Konstantin Christoff
é assim mesmo. Poderia, se quisesse, ser um artista de
fama internacional, pois o que não lhe falta é
imaginação fecunda, gosto apurado e muito fogo
para suas traquinices de caricaturista, quando dá tudo
de sua criatividade no trato de tons, de imagens e de formas,
despertando emoções adormecidas e provocando risos.
Por mal dos pecados é um artista de venetas. Quando se
pensa que ele vai fazer um montão de charges para a revista,
ele sai de circulação e vai operar em outro ramo;
no bico-de-pena, no carvão, na aquarela, ou então
se transvia pelo labirinto da escultura. Faz a sandália
do tropeiro para o trevo do aeroporto, modela sua mansão,
esculpe a mater dolorosa para o monumento à Irmã
Beata. Espírito irrequieto, indócil, devia se
chamar Inkonstantin, no que tange às artes.
............Porque, quanto ao homem
de bem e médico virtuoso que exemplarmente é,
o próprio povo de Montes Claros é testemunha de
sua perseverança. Muito antes de gozar de sua amizade,
no convívio da confraria da revista, já admirava
sua personalidade singular. Minha geração de ginasianos
do extinto Colégio Diocesano o via com olhos de secreta
inveja, como modelo do jovem humilde que soube romper barreiras
na luta pela vida e vencer com a flama de um campeão
olímpico. Invejávamos sua peculiaridade de pessoa
diferente das pessoas comuns. A carreira de médico jovem
e vitorioso na arte de curar. O seu estilo de vida. A cidadania
de jardineiro búlgaro, que lhe dava um ar de aventureiro.
O seu carro conversível, que era o único da cidade.
Os cães de raças exóticas. O cachimbo de
raiz de roseira sempre fumegante e exalando o aroma do tabaco
importado. De todos os detalhes de sua personalidade fora de
série, o que mais excitava nossa imaginação
juvenil era o murmúrio de que ele desfrutava da primazia
de ser o único fotógrafo amador da cidade que
focalizava o nu artístico. Sua câmera documentava,
para a posteridade, a beleza plástica das cortesãs
daquela época, os primórdios da década
de 1950. O moço era um árbitro do bem viver. E
assim foi, pintando, rabiscando caricaturas, fotografando, filmando,
salvando vidas com o bisturi, que foi mudando com a idade.
............Viu-se, aos poucos,
transformado; feito bom burguês, casado, com família
nas costas, de pijama e chinelos, completamente domesticado.
Para encerrar o fenômeno de sua desmitificação,
acabou, solenemente, recebendo o título de cidadão
brasileiro naturalizado.
Konstantin Christoff
AO
MESTRE KONSTA, COM CARINHO
Itamaury
Teles de Oliveira
Cadeira N. 84
Patrono: Newton Prates
............Montes
Claros chorou, no início da tarde do dia 21 de março
de 2011, a perda de um dos seus filhos adotivos mais ilustres.
Após vários meses internado na Santa Casa de Misericórdia
da cidade, faleceu o mais montes-clarense dos búlgaros,
o médico e artista plástico Konstantin Christoff,
aos 87 anos.
............Nascido em Strajitza,
na Bulgária, no dia 18 de junho de 1923, filho de Chisto
Raeff e dona Russa Christova, fez o curso primário em
sua terra natal, e o secundário no Ginásio Municipal
em Montes Claros. Diplomou-se em Medicina pela Universidade
de Minas Gerais (atual UFMG), em 1948, e durante muitos anos
chefiou o serviço de cirurgia da Santa Casa de Misericórdia
de Montes Claros. Grande figura humana, nunca cobrava dos pobres,
nem dos amigos, como me revelou uma pessoa da família.
Integrou a equipe que criou, na década de 70, a primeira
Faculdade de Medicina da cidade, da qual se tornou professor
e onde desenvolveu técnicas próprias no campo
da cirurgia, divulgando-as em revistas e congressos médicos.
............Ainda
durante seu curso de medicina, em Belo Horizonte, começou
a desenvolver dom que se manifestara na sua infância:
a habilidade para o desenho e para a pintura. Como apoteose
de uma atividade artística de mais de sessenta anos,
suas séries de auto-retratos e da monumental e ambiciosa
Via-Sacra, pela originalidade e por imprimir visão inovadora
do conhecido acontecimento cristão, consagraram-no como
um dos mais importantes artistas brasileiros. As duas séries
foram mostradas em vários museus brasileiros e depois
reunidas em livros (“Konstantin” e “Via-Sacra”).
............Já ouvira falar
do médico Konstantin muito antes de conhecê- lo
pessoalmente, no início da década de 70, quando
me mudei para Montes Claros, e o via sempre ao volante de carros
diferentes, cabelos longos e com o indefectível cachimbo
preso aos dentes. Quando menino, em Porteirinha, vi muitos conterrâneos
saírem de lá para serem operados por ele. Era
artista também com o bisturi, tendo sido um dos precursores
da cirurgia plástica em Minas Gerais.
............Estreitei amizade com
o Mestre Konsta em meados da década de 80, quando voltei
a morar em Montes Claros, após uns tempos em Belo Horizonte
e Brasília. Ele me visitava sempre no Banco do Brasil,
mas o assunto nunca girava em torno de cifrões. Era puramente
artístico. Sabia que eu gostava de fotografia - como
gosto, até hoje - e queria que eu fizesse uma exposição
das minhas fotos no Centro Cultural. Relutei sempre, dizendo
serem minhas fotografias produção de um reles
amador.
............Numa dessas visitas,
em 20 de junho de 1987, quando levou para mim, de presente,
um livro autografado com as mais belas fotos dos melhores fotógrafos
da famosa revista LIFE, notou que eu estava diferente, meio
pálido, transpirando muito, com as mãos úmidas.
Preocupado, perguntou-me se eu estava passando bem. Disse-lhe
que não. Quis saber o porquê. Disse-lhe que estava
à espera de uma equipe de televisão, que viria
entrevistar-me
sobre crédito agrícola. Estava apreensivo com
a repercussão da crítica sobre o meu desempenho
na minha primeira entrevista te levisiva. Foi aí que
ele, com sabedoria, falou-me algo que mudou completamente o
meu comportamento: - Preocupado por que, Itamaury? Gerente do
Banco do Brasil, aqui, é só você. Ninguém
melhor do que você para falar das coisas do Banco. O repórter,
muitas vezes, não sabe nem como fazer uma pergunta apropriada
a você. Se fosse comigo, não. Sou médico
e teria mais de duzentos colegas em Montes Claros para avaliar
o que digo. Não é o seu caso. Fique tranquilo.
............Foi assim que, seguindo
a orientação do Konsta, passei a dar entrevistas
de forma absolutamente tranquila. Podia não ter muito
conteúdo, mas jamais aparentei estar nervoso à
frente das câmeras.
Konstantin Christoff gostava de receber os
amigos em seu ateliê
para uma prosa inteligente.
............Noutra
oportunidade, disse-me estar pintando uma tela para presentear
o Banco do Brasil. Quis saber se eu a exporia, no primeiro andar
da agência, onde o povão se aglomerava em frente
a mais de 30 guichês de caixa. Dei minha palavra a ele.
Poucos Revista do Instituto Histórico e Geográfico
de Montes Claros 52 dias depois, chega à agência
trazendo uma imensa tela, retratando montanhas mineiras e campos
verdejantes. Aquela paisagem era um colírio para os olhos
cansados de produtores rurais, que laboravam a terra bruta e
de vegetação seca norte-mineira.
............Com reformas na agência
Centro do BB em Montes Claros, em decorrência do processo
de automação bancária, a famosa tela do
Konstantin Christoff adorna agora a Superintendência Regional,
no terceiro andar do mesmo prédio. A vi por lá,
faz pouco tempo, e relembrei-me do velho Konsta e do carinho
que ele tinha por nós.
Konstantin em seu ateliê,
vendo-se ao alto o auto-retrato que ele dedicou a mim.
............Em
minha casa, tenho a honra de ter duas telas dele. Uma, adquiri
ainda na década de 80, em exposição feita
por ele no Automóvel Clube. A outra, da série
de auto-retratos, ela se pintou “transformado em bicho
por D. Lolo Goiana com suas mandingas”. No verso, a dedicatória:
“PARA ITAMAURY COM AMIZADE. Konstantin 28.III.05”.
Na época, fazia para mim a capa do meu primeiro livro,
o “Urubu de gravata e outras crônicas”, que
muito enriqueceu o meu trabalho e foi alvo de grandes elogios
da crítica.
............Numa outra oportunidade,
pude comprovar ser o Konstantin um homem visionário,
de ideias quiméricas e grandiosas, que pensava à
frente do nosso tempo. Quando me mudei para Belo Horizonte,
em 1991, para assumir nova agência na Capital, o Mestre
Konsta novamente veio estar comigo. E o que vou revelar dá
bem a dimensão da sua prodigiosa inteligência,
da sua capacidade singular para fazer leitura de cenários
futuros: sugeriu-me que, nas horas vagas, não perdesse
tempo e procurasse estudar o mandarim, a língua falada
pelos chineses. E concluiu: - eles vão dominar o mundo...
............Vinte anos depois,
quase realizado seu vaticínio - a China já ameaça
os EUA como primeira economia mundial -, Konsta parte para o
oriente eterno, após uma vida inteira como caridoso ateu,
e poucos meses depois de haver sido batizado cristão...
............Deixou uma lacuna impreenchível
na cultura montes-clarense.
COISAS
DO PASSADO III
Juvenal Caldeira Durães
Cadeira N. 81
Patrono: Nathércio França
............Nas
minhas leituras, encontro frases que merecem atenção
e até um pouco de reflexão. Uma afirma que: o
melhor lugar, as melhores pessoas e os melhores tempos de nossas
vidas são aqueles em que vivemos no presente. Outra diz:
o que passou, passou e hoje é o nosso dia ou então:
o ontem já não existe, o amanhã ainda virá
e o presente é o momento real em que vivemos. Concordo
plenamente com essas e outras assertivas semelhantes, porém,
não posso esquecer de um passado longínquo e saudoso,
cujas lembranças ainda navegam na minha mente.
............A década de
trinta foi a época mais sedutora e de encantos de minha
doce infância. Tempos alegres e felizes em que passei
ao lado de minha família, agregados e vizinhos, na nossa
inesquecível fazenda “Cantinho”, hoje encampada
pelo 55º Batalhão de Infantaria do Exército.
............Ali, eu vivi até
aos onze anos de idade. Fiz quase tudo que uma criança
do campo poderia fazer. Minhas irmãs descartavam os carretéis
após usar as linhas neles enroladas, para bordar suasbelas
e enfeitadas toalhas. Eu aproveitava as rodas dos carretéis
maiores na fabricação de pequeninos carrinhos
para meu divertimento.
............Após as fortes
chuvas de verão, eu saía puxando aquelas engenhocas
por cordões sobre as pequenas pontes que eu construía
em cima dos regos das enxurradas que corriam nos arredores do
terreiro.
............Aquela invenção
de criança despertou em mim a vontade de ser “guiero”
de carros de bois, não como se fosse um guião
na frente de uma procissão ou de tropas romanas conduzindo
estandarte, mas como criança entusiasmada e prosa com
varinha polida postada nos ombros, na frente dos bois que puxavam
o carro de lenha, para manter acesos os fogões das casas
da cidade de Montes Claros.
............Entrávamos na
cidade com alarde e orgulho, percorrendo as principais ruas,
pacatas e sem calçamentos, para vender a nossa mercadoria.
O carro, com os cocãos acochados ao eixo, cantava música
de toada monótona, mas que servia de arauto, anunciando
a nossa passagem e atraindo a atenção dos fregueses
desapercebidos. Falar sobre lenha, parece brincadeira e até
motivo de gracejos, dado a sua insignificância na atualidade.
Mas, no passado, era material importante e o combustível
que sustentava a sobrevivência das famílias. Sem
aquele produto, aparentemente simples, a vida era impossível.
............No livro, “Breve
história do Mundo” cujo nome de autor não
me lembro mais, conta-nos que a lenha foi grande preocupação
durante o crescimento da população européia,
dado a sua importância como elemento primordial e único
combustível da época para as cozinhas e aquecimento
nos rigorosos invernos.
Para manter os fogões em funcionamento e as casas aquecidas
com lareiras, eles desmatavam as suas poucas florestas para
tirar a lenha e consequentemente, formar pastos para manter
bois e cavalos
para puxar as carroças, único meio de transporte
na condução daquele produto, para manutenção
das aldeias, que deram origens às grandes e belas cidades
atuais.
............Com o aumento da população,
aumentava o desmatamento e as pastagens para manter o crescimento
da manada de bois e cavalos, em detrimentos ao cultivo de produtos
agrícolas imprescindíveis à alimentação
dos habitantes das aldeias e do campo. As matas em processo
de devastação, as melhores terras cobertas de
pastos para o gado e, com a redução paulatina
das áreas férteis para os plantios de cereais,
tudo indicava que iria faltar alimentos para atender o crescimento
da população. Esse estado de coisas criava ansiedade
e inquietação ao povo e com razão. Pois,
se não desmatasse, não produziria lenha; se não
usasse parte da terra com pastagem, não teria bois e
cavalos para o transporte de lenha e, sem a lenha viria o caos.
Na verdade, o povo não teria os fogões produzindo
alimentos cozidos para a alimentação e, além
disso, não teria as lareiras acesas para debelar o frio
intenso no inverno congelador, o que poderia levar à
morte aquele povo indefeso.
............Todavia, há
sempre uma saída. Quando Deus fecha uma porta, Ele abre
uma janela. É o que ouvimos dizer. Na historia da Matemática
aprendemos que as grandes descobertas aparecem, quase sempre,
nos momentos de dificuldades prementes e, quando todas as portas
estão fechando, a Ciência abre uma outra no fundo
do corredor para nos socorrer, principalmente, nos períodos
conflitantes de guerras, de catástrofes, de pandemias,
de momentos difíceis e turbulentos da humanidade.
............Nessa linha de pensamento,
acima colocado, a descoberta do carvão mineral veio,
em boa hora, na Europa para substituir o então escasso
produto das florestas e salvar o povo da fome e do frio rigoroso,
quando a lenha já estava chegando ao fim e sem solução
para o problema. Depois, a eletricidade, o óleo diesel
e outros recursos alternativos vieram, aos poucos, para o conforto
e comodidade daquele povo e, de todos nós.
............Deus
fez o Universo e todas as coisas dentro de uma perfeita harmonia
e perfeição. Não era, portanto, nas soluções
das coisas imprescindíveis à sobrevivência
dos seres humanos, Sua mais importante criação
que, Ele iria falhar com toda onipotência.
............No Brasil não
foi tão diferente, apesar das condições
diversas das povoações milenares européias.
Na minha comunidade, por exemplo, a lenha era também,
para nós, o único combustível existente
na década de trinta. Hoje um material de pouca necessidade
para o uso doméstico, todavia naquela época, era
elemento fundamental na vida da população. Era
um combustível doméstico imprescindível
e único disponível para fomentar as cozinhas da
comunidade. O gás era desconhecido entre nós,
como também, o carvão, os óleos mineral
e vegetal.
............As grandes matas das
fazendas vizinhas e circundantes eram derrubadas sistematicamente
para manter o processo de regeneração natural
das árvores tombadas e utilizadas como combustível
caseiro. Depois de secas e cortadas em tamanhos apropriados
para os fogões eram transportadas para a cidade em carro
de bois. Porém, nem todas as árvores dariam lenha
de boa qualidade. As preferidas eram: o angico, o tinguizeiro,
a cagaiteira, a mutambeira, a periquiteira, o murici, a pindaíba
e outras, também com nomes singulares e regionais.
............Os bois seguiam procedimento
sistemático, que merece atenção. Quando
o carreiro começava seus preparativos, os animais, por
iniciativa própria e com o intento de colaborar, juntavam-se
dois a dois, isto é, formando as “juntas”
habituais, para receberem as cangas e em seguidas entrarem em
suas devidas
posições para serem atrelados ao carro. Então,
depois de tudo pronto, o carreiro Juca dava a ordem, “
ei boi” e o carro começava a mover-se e tomar o
rumo à cidade, com naturalidade.
............As juntas eram formadas
da seguinte maneira: Na frente (ou na guia), -Suplente e Fidaldo-
e a segunda junta do cabeçalho (ou coice), -Benfeito
e Letrado- Aqueles animais obedeciam rigorosamente às
ordens e faziam parte de nossa sobrevivência. Ainda hoje,
sinto saudade daqueles companheiros de infância, que apesar
de irracionais, eram-nos úteis e fiéis.
............Ali, naquele lugar
sagrado, aconteciam também, coisas que chocavam a minha
sensibilidade. Certo dia, acordei bem cedo com uma movimentação
diferente dos empregados e familiares ao redor do boi chamado
de “redondo”, descartado dos serviços carreiros.
O animal, amarrado num mourão por uma corda, estava na
frente do seu carrasco, Matias, empregado de confiança
do meu pai, que com um facão de ponta afiado na mão,
aplicou no pobre animal um golpe certeiro no pescoço.
O boizinho, manso e “raposo” (cor cinza), com o
susto da fisgada inopinada, quebrou a corda e saiu girando em
círculo e esvaindo-se em sangue. Passou perto do carreiro
“Juca”, que presenciava a cena e lambeu suas calças
na altura do joelho direito como sinal de despedida. Continuou
o giro para lamber o sal contido no cocho ao lado, enquanto
o sangue jorrava com mais intensamente, até o seu tombo
de morte. Foi um dia pesado.
............Nas terras férteis,
as áreas derrubadas e queimadas eram preparadas e aproveitadas
para o plantio de roças no período chuvoso de
fim de ano. Antes desses preparativos, tiravam-se a lenha das
árvores tombadas, murchas e sapecadas pelo fogo, para
depois proceder o cultivo dos cereais, tais como: milho, feijão
e verduras. O arroz era plantado nos brejos e a cana nos baixios.
O campo era densamente povoado, produtivo e alegre. Homens,
mulheres, jovens e crianças viviam do trabalho, obedientes,
ordeiros, com simplicidade e vida sadia.
............Na véspera de
cada dia, enchíamos o carro de lenha e deixávamos
pronto para sair cedo no dia seguinte com destino à cidade,
para vendê-la por melhor preço, que variava de
dez a treze mil réis. Com esse dinheiro, comprávamos
algumas encomendadas feitas pela minha mãe, como: café,
sal, fósforo, querosene e outras bugigangas. A fazenda
produzia quase tudo que necessitávamos e não havia
necessidade de comprar muitas coisas.
............O resto do dinheiro
era entregue ao meu pai. Também, tínhamos o nosso
quinhão com a “lenha de banda” ou, “caixa
2”, comum nos nossos dias. Eu e o carreiro fazíamos
dois feixes de lenha e amarrávamos dos lados “de
fora” do carro para vender às pessoas de pouco
poder aquisitivo na entrada da cidade, hoje bairro do Cintra.
Cada feixe era vendido por um mil réis, para nossos gastos
pessoais. Eu ficava com um mil réis e ele com o outro.
Comprávamos doces, balas, pães e outras guloseimas.
Era uma farra agradável e inesquecível. São
tempos saudosos e de aprendizagem. Aprendi muito com essas aventuras
e travessuras que conto minuciosamente no livro “Experiências
de uma Vida”.
HOMENAGEM
A KONSTANTIN:
O DOCE SABOR DA STEVIA
E O CANIVETE SUÍÇO
Karla
Celene Campos
Cadeira N. 14
Patrono: Arthur Jardim Castro Gomes
............Um
dia, numa entrevista num programa local de televisão,
perguntaram ao grande mestre, médico e artista plástico
Konstantin Christoff qual seria, para ele, o conceito de felicidade.
Sorrindo como um menino, confessou que a felicidade para ele
estava nas pequenas coisas.
............Sua resposta despertou
sorrisos em mim, uma vez que vi confirmado, nas palavras experientes
daquela admirável figura, o meu próprio conceito
de felicidade.
............Para meu encantamento,
acrescentou:
............“- Outro dia,
vi escrito na embalagem de um adoçante que ele era feito
de uma tal stevia. Que diabo é isso? Sabia que era uma
planta, mas não a conhecia. Uma semana depois, andando
pelo mercado central de Belo Horizonte, vi a tal folha de stevia.
Roubei um pedacinho, levei à boca, mastiguei-a e... docinha,
docinha... Rapaz, eu quase morri de tanta felicidade ao mascar
aquela folhinha já quase seca...”
Continuou:
-
“Noutro dia, ganhei de um amigo um canivete suíço...
Olha, foram uns cinco dias da mais pura felicidade...”
............Não consegui
escapar. Senti-me imediatamente seduzida pela espontaneidade
do entrevistado, pela magia que vazava de sua figura de mago.
............Como consequência
desse paraíso tão próximo, as palavras
começaram a fechar um círculo à minha volta,
apertando o cerco, gritando, exigindo que eu traduzisse, em
versos, aquelas confissões... Transformá-las em
poesia... E o poema saiu num rompante:
............Busquei / Mundo afora
/ A Dona Felicidade. / Mundo afora busquei / Pessoas que me
dissessem onde mora / A tal Dona Felicidade. / Procurei por
todo canto - / Aqui dentro / Lá fora / Num crescente
de querer essa joia. / Busquei como louco, / Porque eu mereço
/ Conhecer-lhe o endereço! / Onde mora / Essa senhora?...
/ Dona Felicidade, / Onde mora?
............Até que um dia
encontrei / Num mercado, / Um senhor que auscultava a Vida e
a Arte / No cheiro das coisas / No cheiro de povo / No burburinho
revelador da alma dos homens. / Ele então me falou /
Que “a Felicidade está por toda parte./ Onde o
simples habita e se faz sagrado../ Que a Felicidade está
no cheiro da terra/ No doce sabor de uma folha de stevia / Numa
banca de mercado.”
............Espalhando sorrisos
pelas barbas brancas / Falou também que “a Felicidade
/ Está no homem que se faz menino,/ Na magia de quem
se entrega / A compor um hino, / A pintar um quadro.../ Enganam-se
os homens que pensam / Que Felicidade não é nada
disso.../ Porque Felicidade / É como presente de amigo,
/ Presente que pode ser.../ Um simples canivete suíço.”
A
BANDA DE MÚSICA DO 10º BATALHÃO
Lázaro Francisco Sena
Cadeira N. 4
Antônio Augusto Veloso (Desem)
............Para
se falar sobre banda de música em nossa cidade, é
bom fazer referência à Euterpe Montes-Clarense,
criada por Da. Eva Bárbara Teixeira de Carvalho em 1857,
cuja primeira apresentação em público aconteceu
a 3 de julho daquele ano, durante os festejos de elevação
da vila de Formigas à cidade de Montes Claros.
............Cem anos depois, em
1957, o Dr. Hermes de Paula, em sua monumental obra “Montes
Claros, sua História, sua Gente e seus Costumes”,
afirmou sobre a Euterpe: “A banda está bem organizada,
com 25 figuras, instrumental todo novo e um diapasão
único, com cadeiras e estantes portáteis individuais,
dois uniformes, sendo um de gala.” E ainda: “A Euterpe
Montes-Clarense está legalmente constituída, com
estatutos registrados, e é amparada por uma diretoria
externa sob a presidência do Sr. Hildeberto de Freitas.”
............Todavia, mesmo com
o otimismo de nosso venerável historiador, a partir de
1957 não se tem mais notícias da Euterpe, a não
ser do encerramento de suas atividades, ao completar um século
de belas apresentações. É voz corrente
dos mais antigos que ela teria sido absorvida pela nascente
banda de música do 10º Batalhão - instalado
em Montes Claros a 28 de julho de 1956 -, com aproveitamento
de grande parte de seus integrantes, inclusive o regente Nadir
Antônio da Cunha. Nada mais equivocado. É certo
que o saudoso Sub-Tenente Nadir, ainda civil e muito jovem,
assumiu a regência da Euterpe em Montes Claros, onde permaneceu
até 1951, quando ingressou na Polícia Militar,
em Belo Horizonte. Consta em seus registros pessoais que, em
1957, aquela banda estava inativa, e que teria sido reorganizada
para os festejos comemorativos do centenário da cidade,
com a sua participação. Conclui-se pois que, após
esse evento, a banda se desfez e Montes Claros adotou aquela
que veio a ser a sua substituta, sob os auspícios do
10º Batalhão da Polícia Militar.
Banda
Euterpe Montes-Clarense, vendo-se, à esquerda, o jovem
regente Nadir Antônio da Cunha, ao lado do ex-regente
Augusto Teixeira de Carvalho.
............No
programa das festividades comemorativas do primeiro aniversário
de instalação do 10º Batalhão em Montes
Claros, a 28 de julho de 1957, consta o toque de uma alvorada
pela banda de corneteiros da Unidade, sem fazer referência
a qualquer banda de música. Somente ao final daquele
ano, sob o comando do então Major José Geraldo
de Oliveira, foram adotadas providências efetivas para
a criação da banda, como a transferência
do Sargento Nadir Antônio da Cunha, do 6º Batalhão
em Governador Valadares, para o 10° Batalhão, com
a missão específica de ser o seu organizador e
regente, aproveitando-se a sua experiência anterior com
a Euterpe Montes-Clarense, além de ser possuidor de vários
cursos de formação musical e de regência.
............Tomando a banda de
corneteiros como embrião, o Sargento Nadir arregimentou
voluntários aprendizes entre os Recrutas e constituiu
a sua escola de formação musical em três
turnos: pela manhã, instrução militar;
à tarde, teoria musical; à noite, prática
instrumental. O esforço empreendido na preparação
dos músicos foi premiado com a aquisição,
na cidade de São Paulo, de instrumental novo e completo
para a Banda, compreendendo: 1 requinta, 6 clarinetas, 5 saxofones,
3 trompetes, 1 bugle,, 4 trombones, 3 trompas, 2 bombardinos,
1 bombo, 1 par de pratos, 1 tambor repique e 1 tambor surdo,
além de uma bateria para “jazz band”. À
época, em 17-07-58, foi designada uma comissão,
sob a presidência do Major Maestro Sebastião Viana,
da Orquestra Sinfônica da Polícia Militar, e integrada
pelo Capitão Mário Simões Soares de Souza
e pelo Tenente Agostinho Geraldo de Melo, ambos do 10º
Batalhão, para examinar e emitir parecer sobre o material
recebido, constatando-se que estava certo em quantidade e espécie,
era novo e estava perfeito, servindo pois para o fim a que se
destinava. Poucos dias depois, a 28 de julho de 1958, a Banda
já se fazia presente nas solenidades comemorativas do
segundo aniversário do Batalhão, inclusive com
a apresentação de uma retreta, à noite,
na Praça Coronel Ribeiro. Essa foi, sem dúvida,
a primeira apresentação pública da Banda
de Música do 10º Batalhão.
Banda de Música do 10º Batalhão,
com uniforme de campanha, em sua
primeira constituição, destacando-se, em primeiro
plano, o regente Sargento
Nadir Antônio da Cunha.
............Antes
da vigência da Constituição do Brasil de
l967, os Batalhões de Polícia tinham organização,
características e procedimentos essencialmente militares,
sendo portanto indispensável que possuíssem a
sua própria banda de música, não só
para abrilhantar as constantes solenidades cívico-militares,
mas também para ser fator de integração
comunitária com a população civil de sua
circunscrição. Não era difícil,
portanto, manter uma banda de música em cada Unidade,
pois grande parte da tropa era aquartelada e disponível
para os treinamentos específicos para sua principal missão
constitucional. Mas foi pela Constituição de 1969
que se consolidou de vez a competência exclusiva da Polícia
Militar para a execução do policiamento ostensivo
fardado, tornando-se necessário que todo o seu efetivo
fosse para o trabalho de rua. Daí que nenhuma banda foi
mais criada, chegando-se ao ponto de extinguir algumas delas,
em Belo Horizonte.
............A Banda de Música
do 10º Batalhão, ao longo dos seus cinqüenta
e três anos de criação e atividades, vem
cumprindo fielmente a sua missão, não apenas na
execução de hinos, canções e dobrados
em solenidades cívico-militares, com a tropa do Batalhão
ou junto a outras Unidades - até mesmo com o 55º
Batalhão de Infantaria de Exército -, mas também
em solenidades e festividades diversas em Montes Claros e região,
tais como: festas de formatura em escolas, eventos festivos
de modo geral, inclusive aniversários, concertos musicais,
alvoradas, retretas em praça pública, festividades
religiosas e folclóricas, dentre outras. Nos poucos intervalos
em que não está empenhada em qualquer uma dessas
atividades, a Banda cumpre uma rotina diária no quartel,
que compreende ensaios gerais, de bancadas e estudos individuais
e manutenção do instrumental, além da prática
de educação física e treinamento técnico-profissional
de segurança pública, pois, embora os seus integrantes
tenham por base essencial a formação musical específica,
mantêm-se como reserva para o serviço operacional,
não sendo raras as vezes em que são empregados
no policiamento ostensivo, para cumprir tarefas próprias
dos seus postos e graduações. Aliás, o
próprio uniforme do policial-militar músico não
traz qualquer distintivo que o faça diferente de seus
companheiros que trabalham no policiamento. Dessa forma, precisam
estar aptos para o exercício da atividade básica
da Polícia Militar, sempre que houver uma situação
emergencial.
Banda de Música atual do 10º Batalhão,
durante ensaio geral em sua sala
própria, sob a regência do Capitão Jomar
de Sousa Santos, seu penúltimo
regente.
............As
bandas militares, quando em treinamentos ou solenidades de tropa,
adotam a formação em três ou em quatro colunas,
dependendo do número de integrantes e instrumentos de
que dispuser. A atual Banda do 10º Batalhão, sob
a regência interina do Sub Tenente Roberto da Silva Dias,
compõe-se de 25 policiais-militares, todos possuidores
de cursos de formação musical e cursos específicos
para as bancadas de instrumentos e para a graduação
na carreira profissional,.assim distribuídos:
Trompete:
- 1º Sgt Luciano Xavier dos Santos,
- 3º Sgt Wilson Araújo Rodrigues,
- Sd Wanderson Silva Brito;
Clarineta:
- 1º Sgt Walace Alves Costa,
- 1º Sgt Josias da Silva Freitas,
- 2º Sgt Hebert Lenísio Costa,
- Cb Hudson José de Souza,
- Cb Geovanne Ribeiro de Souza,
- Cb Abmael Duarte,
- Sd Hernando Dias Guimarães Saraiva;
Sax Tenor:
- Sub Tem Jackson Moreira Duarte,
- 1º Sgt Carlos Alberto Vieira;
Sax Alto:
- 2º Sgt Ideílson Meireles Barbosa;
Sax Horn:
- 3º Sgt Ildenízio Meireles Barbosa;
Trombone:
- 1º Sgt Ricardo de Jesus Alves,
- Cb Washington Martins de Oliveira,
- Cb Marlen Porto Souza;
Bombardino:
- 3º Sgt Cláudio Ricardo Alves,
- 3º Sgt Brasilino de Jesus Alves;
Tuba:
- Cb Ronaldo Alves,
- Cb Wesley Ferreira Santos;
Percussão:
- 1º Sgt Antônio Márcio Reis do Nascimento,
- 1º Sgt Wellington Soares da Silva,
- 2º Sgt Eli Alves de Castro,
- Sd Aloísio Dourado Gomes.
............A
história de uma banda de música se faz no dia-a-dia
de suas apresentações, quer seja nos desfiles
militares, quer seja nas festas de formatura, nas retretas e
nos concertos, ou mesmo na comemoração de qualquer
data festiva. São eventos incontáveis que vão
se acumulando e se perdendo na inexorabilidade do tempo. Mas
a Banda do 10º Batalhão teve os seus momentos singulares
de sucesso que precisam ficar explicitamente registrados, para
conhecimento e reverência da posteridade.
............O
primeiro grande momento da Banda aconteceu na cidade de Pedra
Azul-MG, sob a regência do Sgt Nadir, pouco tempo após
a sua criação, quando foi homenageada pelos governadores
de Minas e da Bahia, pela brilhante apresentação
musical, com garbo e disciplina, durante os festejos de aniversário
de emancipação política daquele município.
............Em abril de 1964, durante
a permanência do 10º Batalhão em Brasília-DF,
face ao movimento revolucionário que impediu a implantação
do regime comunista no Brasil, sob a inspiração
do governo cubano de Fidel Castro, a serviço da extinta
e ditatorial
............União
Soviética, a Banda de Música foi convidada pela
TV Nacional, para apresentar uma retreta, em homenagem ao quarto
aniversário de fundação daquela Capital.
Ainda em Brasília, a 15 de abril daquele ano, a Banda
participou das solenidades de posse do primeiro presidente do
regime revolucionário, General Umberto de Alencar Castelo
Branco - eleito pelo Congresso Nacional -, integrada com as
Bandas do 12º Regimento de Infantaria de Belo Horizonte
e da Guarda Presidencial de Brasília, participando também
do desfile das tropas revolucionárias, em continência
ao Presidente recém-empossado.
............O momento maior da
Banda de Música do 10º Batalhão, até
os dias atuais, talvez tenha sido a sua participação,
em 1971, no programa Mineiros Frente a Frente, promovido pela
TV Itacolomi, quando, representando a cidade de Montes Claros
em final eletrizante com a Banda do 8º Batalhão
de Lavras-MG, conquistou o primeiro lugar na competição,
com reflexos positivos em todas as regiões do Estado.
A música apresentada e vencedora foi a peça clássica
Cavalaria Ligeira, de Franz Von Suppé, sob a regência
do Sub Tenente Rivadálver de Oliveira.
Banda
do 10º Batalhão na década de 1970, sob a
regência do Sub Ten. Rivadálver
de Oliveira, durante a passagem de comando do Ten. Cel. Cícero
Magalhães para o Ten. Cel. Smith Valentino.
............A
cidade de Montes Claros, nos últimos tempos, viveu um
crescimento vertiginoso para os padrões regionais, exigindo
também um aumento proporcional nos órgãos
policiais. Dessa forma, o 10º Batalhão, que à
época da criação da Banda, era a única
e necessária unidade da Polícia Militar responsável
pelo policiamento ostensivo, hoje divide essa responsabilidade
com o 50º Batalhão, além de sediar também
o Comando Regional, em nível superior, e outras unidades
especializadas e de apoio, para o fiel cumprimento de sua missão
específica. Mas a Banda, pelo menos por algum bom tempo
e na consciência da nossa gente, continuará exclusiva
do 10º Batalhão, mesmo porque, por uma questão
logística, permanece ali instalada e escrevendo a sua
história, através da leitura e interpretação
das mais belas partituras musicais de seu rico acervo.
A
CÉLEBRE JUSTIÇA DA VILA RISONHA
DE SÃO ROMÃO
Maria da Glória Caxito Mameluque
Cadeira N. 40
Patrono: Georgino Jorge de Souza
............Um
dos capítulos do livro “De Vila Risonha a São
Romão - história, tradições e lendas”,
é dedicado à Justiça de São Romão.
E uma das referências citadas é um texto do escritor
Simeão Ribeiro Pires, no livro “Serra Geral - diamantes,
garimpeiros e escravos”:
............“O arraial denominado
Manga, Santo Antônio da Manga, São Romão
ou Vila Risonha de São Romão surgiu nos primórdios
do Séc. XVIII.
............Em 1720 implantou-se
na povoação formada no local, já com muitos
vizinhos, o Julgado do Rio São Francisco. Esclarecemos
que Julgado tem a significação de sede da Justiça.
Em São Romão era composta por dois juízes
ordinários com alçada no civil, no crime e nos
órfãos; um tabelião e um escrivão
de órfãos e das execuções; inquiridor,
contador e distribuidor; meirinho do Julgado e seu escrivão;
meirinho do campo, também com seu escrivão. Todos
eles providos pela Junta da Fazenda Real.
............Ela
se tornou célebre e profundamente temida. Apenas pelo
apanhado rápido das leituras, vamos citar casos explicativos,
e por demais curiosos.
............Creio ter sido de Augusto
Saint-Hilaire a narração do seguinte fato:
............Adentrara Saint-Hilaire
por um dos recônditos da floresta do rio São Francisco,
para herborizar, quando encontrou em lugar bem distante de São
Romão, morando em uma tosca cabana, um solitário
cidadão privado de todo o conforto e sem vizinhos.
............- Por que mora aqui?
Perguntou Saint-Hilaire.
............- Estou correndo da
justiça de São Romão - respondeu o homem,
tremendo de medo ao ser interrogado.
............- Cometeste algum crime?
............- Não cometi
crime algum. Estou correndo de medo da Justiça de São
Romão. Ela persegue os inocentes de modo atroz.
............O engenheiro e escritor
Geraldo Rocha (In O Rio São Francisco -págs. 242,
3 e 4) dá algumas narrativas da célebre Justiça
da Vila Risonha de São Romão. Narra ele que a
Justiça constituia uma das pragas almejadas aos inimigos
pelos ribeirinhos do São Francisco. Acreditamos que a
corrupção da aparelhagem judiciária daquela
localidade tinha sido um dos fatores do seu aniquilamento.
............Correm de boca em boca.
Por todo o vale do rio, anedotas desopilantes sobre a capacidade
desmedida da Justiça de São Romão.
............Narra casos: Havia
outrora um abastado fazendeiro, morador dentro de tal jurisdição
e os juízes - em causa comum com os serventuários
do Foro, que ardiam em desejos de fazerem-lhe de qualquer modo
o inventário...
............Eis que, numa tarde,
estava o velho e opulento à janela da casa de sua fazenda,
quando, ao longe, avistou numerosa caval gada empoeirando toda
a estrada e que se dirigia exatamente para a sua propriedade.
Os recém chegados foram cordialmente saudados pelo fazendeiro
e convidados a descerem de suas montarias. Mas a apresentação
dos chegantes foi pronta e firme:
............-
Somos a Justiça de São Romão!
............Tais palavras soaram
como um tiro de canhão violento. A palidez tomou conta
do morador, de sua família e de seus agregados.
............- Mas, vieram a que?
- balbuciou o fazendeiro.
............- Tivemos notícia
na Vila de que o senhor havia falecido e, prontamente, para
estas situações, aqui estamos para fazer, com
o devido zelo, o seu inventário.
............- Mas, minha Nossa
Senhora, estou vivo e com boa saúde. Tal notícia
é profundamente falsa, como todos os senhores podem notar.
............- Para nós tal
argumento é secundário - retrucou o Juiz, um volumoso
mulato grosso, quase sem pescoço.
............E sem mais aceitação
de argumentos e comprovações no contraditório,
baixou ali, frente a todos, seu veredicto final.
............- A Justiça
de São Romão já se abalou nos conformes
para esta diligência e ninguém, ninguém
mesmo, poderá deter a Justiça de São Romão!
............E assim, narra a história,
fizeram em vida o inventário do infeliz fazendeiro, com
todos os detalhes dos seus bens, que legalmente passou a ser
um morto vivo... deixando viúva e, mais, a ficar de mãos
vazias no mundo dos viventes...
............Ainda é Geraldo
Rocha que conta um outro caso bastante sugestivo da Justiça
de São Romão:
............Os malvados Juízes
do julgado de São Romão não se contentavam
apenas em escorchar os moradores ribeirinhos. Assim aconteceu
quando o Governo Imperial resolveu recolher os velhos patacões
de cobre, ao tempo chamados de xem-xem, conforme denominação
popular. Era, em termos de economia pública, um saneamento
da moeda, pois o cobre de oitenta réis seria recunhado
para quarenta réis.
............Pela sua privilegiada
posição geográfica ao tempo da intensa
navegação do Rio São Francisco, São
Romão foi escolhida para ser a sede do recolhimento de
todo o cobre na vasta região, e que, depois, por embarcações
descendo o rio, seria levado para a cidade de Cachoeira, na
Província da Bahia.
............Desnecessário
dizer que a Justiça de São Romão, com toda
a presteza, não perdeu tempo em recolher os velhos patacões,
colocando-os em grandes pipas, costuradas em couro de boi pelas
bordas, formando grandes e pesados surrões. Até
que um dia, pelo volume assombroso dos recolhimentos, resolveram
embarcá- los. Sem medir esforços, também
a Justiça, antecipadamente mandara construir um grande
ajoujo ( espécie de embarcação formada
por duas ou três canoas emparelhadas) e deram-lhe o pomposo
nome de Montanha. E quando a Montanha já estava cheia
ao máximo dos surrões de cobre, foi posta a navegar
para o porto de Cachoeira.
............Mas, no noticiário
da época aconteceu uma grande tragédia, um grande
imprevisto, uma desgraceira danada. Exatamente bem no meio do
Rio São Francisco, em um ponto conhecido de todos como
o mais profundo, a embarcação naufragou, sem que
se conseguisse salvar coisa alguma, além da tripulação.
A célebre malta de piratas da Justiça havia enchido,
secretamente, todos os surrões de areia e pedra, ficando
com todas as moedas para o seu próprio uso.
............Além dos fatos
já narrados, centenas de outros ainda correntes pelas
margens do São Francisco foram apenas lendários?
Em maior investigação, documentada para validade
de assuntos sérios, fizemos várias pesquisas,
destacadamente em Revistas do Arquivo Público Mineiro.
Assim documentadamente podemos afirmar:
............Pelo
alvará régio de 1798, foi criada a Vila de Paracatu
e, pelo mesmo alvará, também foi criado o cargo
de Juiz de Fora, para o qual foi nomeado o doutor Gregório
de Morais Navarro. Aboliu-se, com tal criação,
o famoso Julgado de São Romão. Mas, da sua própria
sede partiram vozes solicitando a manutenção de
sua Justiça, em requerimentos datados de 1805:
............Os peticionários
salientavam:
............. Gravíssimos
prejuízos nos bens e negócios dos moradores;
............. Razões da
distância em que passaria a ficar a Justiça em
Paracatu, pois os moradores do Arraial ficariam longe cinquenta
léguas. E os moradores de fora, oitenta léguas.
Os confinantes com São Romão, na distância
de cem léguas;
............. As exorbitantes despesas;
............. Dificuldades em utilizar
os pleitos, pois notórias eram as deficiências
na condução das testemunhas;
............. Sérias dificuldades
para as causas dos órfãos, cujos patrimônios
seriam dissipados, principalmente os de reduzidos valores;
............Por tais motivos, finalmente,
as perdas dos feitos.
............O Juiz de Fora de Paracatu,
chamado a opinar sobre o mérito dos requerentes, visando
a volta do Julgado de São Romão, traz os seguintes
argumentos que aqui vão resumidos.
............As razões da
abolição do Julgado foram devidas:
............. À pequenez
do Arraial;
............. Às injustiças
e violências praticadas pelos juízes leigos, completamente
ignorantes da matéria, em decisões que não
se podem reparar ou corrigir;
............. Aos corregedores
da Comarca que nunca iam ali;
............. À falta de
homens habilitados para servirem à Justiça.
............Foram constatadas várias
irregularidades na inspecção:
............-
Houve um juiz leigo que, em um dia, devassou e inquiriu testemunhas
no arraial de São Romão. No dia seguinte fez o
mesmo no Brejo do Salgado, distante trinta léguas. No
dia subseqüente, outra vez deu audiência em São
Romão.
............Juízes que só
admitiam o livramento de criminosos de morte, julgando-os livres,
sem ao menos apelarem por parte da Justiça.
............- Os bens dos órfãos,
defuntos, ausentes, capelas e irmandades eram considerados patrimônio
dos juízes e escrivães, sendo que a maioria já
havia morrido ou fugido, sem deixar com que indenizar os gravíssimos
e incalculáveis prejuízos que causaram.
............- Solicitava ainda,
que fosse bem examinada a conduta do juiz leigo, João
Bernardes da Costa, que não sabia ler nem escrever e
apenas desenhava o nome. Ao ser convidado a restituir cinqüenta
mil réis que havia levado quando ali serviu de juiz,
e porque apareceram outras pessoas cultas para o trabalho desta
natureza, fugiu para a Bahia.
............- Deveria ser examinada
a conduta do antigo Juiz leigo, Antônio Rodrigues Pereira,
que ministrava a muitos e receava, com razão, que mandassem
fazer um seqüestro geral em todos os seus bens, como indenização.
............E
mais:
............No Município
de São Romão, não há, presentemente,
homem algum capaz de servir de Juiz.
............E finalmente: Pelas
péssimas experiências de juízes ordinários
e leigos, é bem melhor deixar como está, pois
quase no total as decisões são ditadas pelo ódio
e pela afeição.
............Melhor, bem melhor,
criar Juízes de Fora, pois os Sertões de São
Romão são quase desertos.
............Diante do exposto,
podemos, tranqüilamente concluir: a Justiça do Julgado
de São Romão... também chamada de Vila
Risonha, foi uma farsa que durou muitos anos.”
________________________________
(Pires, 2001, pág. 279 a 284)
________________________________
TEREZINHA
VASQUEZ
Marilene
Veloso Tófolo
Cadeira N. 95
Patrono: Terezinha Vasquez
............A
gente não escolhe nascer em uma família, em uma
cidade, em um país, e nesta coincidência da vida,
feita através de um propósito, que foge ao nosso
entendimento, o meu patrono foi uma escolha deste tipo, seu
nome: Terezinha Vasques.
............Recebi a indicação,
cadeira nº 95, e indaguei-me? Quem será? Como um
filho não questiona a sua escolha, sinto-me feliz por
tê-la como patrono e procurarei honrá-la, conhecer
a sua obra... Qual o seu propósito? É ser reconhecida?Desenvolver
a capacidade de aprender sempre? Saber que não sabe?
Ser humilde? Enfrentar o medo da mudança? Ser capaz de
inspirar pessoas? Projetos e situações? Esta busca
eu procurei fazer, conhecendo a sua obra, através do
seu livro “Grão Mogol”, junto com o escritor
Jorge Lasmar, porque através dele, tomei conhecimento
do seu pensamento!
............Terei que distinguir
o que é urgente do que é mais importante, para
traçar o perfil de Terezinha Vasques, professora, escritora,
mãe, esposa, amiga e nada melhor do que o relato de sua
filha Cecília Beatriz Vasques, que num desabafo, lutava
pela vida da mãe, como pude constatar, num depoimento
de um pedido de oração...
............Juntando fragmentos
procurarei ser fiel à sua imagem, conhecerei a sua vida
e procurarei retratá-la... Distinguirei o que é
essencial e enxergarei o outro, não como estranho, mas
como alguém próximo...
............Terezinha Vasquez nasceu
em Grão Mogol, cidade no Norte do Estado de Minas Gerais,
zona de Itacambira. Seus Pais: Washington Barbosa de Araújo
e Maria Nunes Carvalho. Filhos: Maria do Socorro, Cecília
Beatriz, Bernadette, Ronaldo e Geraldo Flávio.
............É a eterna professora
que sempre ensinou com alegria e esperança Atenta à
boa filosofia da Educação, soube harmonizar as
melhores técnicas da pedagogia para ensinar, aceitando
“ o novo que não pode ser negado ou acolhido só
porque é novo”. Aprendeu que o “critério
de recusa ao velho não é apenas cronológico”,
que preserva sua validade ou que encarna uma tradição,
ou marca presença no tempo e continua novo.
............Lecionou no Instituto
de Educação de Minas Gerais em todos os graus.
Especialista em Educação, tendo-se aposentado
como professora da Faculdade de Educação da Universidade
de Minas gerais. Bacharel em Direito pelas faculdades Milton
Campos. Advogada, Coordenadora da Área de pedagogia empresarial
do CEPEMG ( Centro Estadual de Pesquisas Educacional de Minas
Gerais).
............Coautora do Livro Grão
Mogol, juntamente com Jorge Lasmar, juntos preservam o passado
de Grão Mogol, para o conhecimento de futuras gerações.
............A extração
do diamante, o Distrito Diamantino, Itacambira e o Arraial da
Serra pertencem a História das Minas Gerais e não
podem ficar nas paginas de livros esquecidos ou empoeirados
nas bibliotecas.
............A
Estrada Real é uma realidade. Existe fundamento histórico
para incluir Grão Mogol no seu trajeto. Terezinha Vasquez
e Jorge Lasmar fizeram levantamentos históricos e genealógicos
buscando assinalar as condições turísticas,
tanto comerciais e culturais, para oferecer a oportunidade de
conhecer melhor o Estado e o próprio Brasil.
............De vez em quando não
entendemos nada, o porquê das coisas e elas nos levam
ao encontro de outras pessoas, que com sua presença silenciosa,
nos faz sentir, sem palavras, como, estamos acompanhados, e
é assim que me sinto ao tê-la Terezinha Vasquez,
como patrono, nesta escolha providencial, alguém que
gostou da Arte, da Cultura, que lutou pelos valores eternos,
que foi fiel à sua família, a sua religião,
aos seus ideais e foi querida pelos seus...
............Não poderia
ser agraciada com melhor escolha, e hoje presto a minha homenagem
a você Terezinha Vasques, como patrono da cadeira 95 do
Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros.
............As palavras às
vezes são pequenas demais para atingirem o nosso coração
e exprimir com exatidão os nossos pensamentos e é
por isso que a sua procura, a sua colocação torna-se
uma tarefa difícil, quando gostaríamos de falar
com a alma, com um sentimento verdadeiro...
............Terezinha, falar de
você, da sua missão, da sua vida, dos seus valores,
só posso dizer do seu amor, da sua fé, da sua
coragem, do seu trabalho, que consegui compreender através
do depoimento de sua filha Cecília.
Saudade
sim, tristeza não
............A
todos que hoje aqui comparecem para este momento de prece, movidos
pelo mesmo sentimento, todo o nosso carinho e gratidão.
............A saudade será
por certo, simplesmente momentos de terna espera, porque a VIDA
É eterna.
............Que a fé no
Amor Infinito e na Misericórdia Divina nos fortaleça
sempre, e que toda essa nossa saudade não se vista nunca
de tristeza.
............Que
o mesmo céu que se abriu para que ela ainda mais se iluminasse,
esteja velando sempre por sobre os nossos caminhos, consolando-nos
e enviando-nos sinais e bênçãos, iluminando-nos
com entendimento e resignação.
............Acalentando-nos com
Perpétuos Socorros de nossa Mãe celestial em nossos
momentos de fraqueza e dúvida.
............Perfumando-nos como
as delicadas pétalas das tão escolhidas rosas,
da sua tão amada Santa Terezinha; que a fazia assim na
fé, cada dia mais bela e radiante, como os jardins multicoloridos
dos céus e da terra, nesta plena, eterna e incansável
primavera celestial, onde agora estás certamente rodeada
de muitas flores, como sempre gostou, e se fez estar.
............Pelo poder do imenso
Amor e Fé em Deus de nosso amantíssimo São
Geraldo, que sempre a corou de graça, confiança,
simplicidade, e alegria, sabendo-a talvez sua mais fiel mensageira
de sorrisos e esperanças tão próprios de
Deus.
............Pela inquebrantável
força do Rosário, que a levava todos os dias,
um pouco mais para pertinho de Deus sob a doçura do olhar
de Nossa Senhora de Fátima.
............E por dom e carisma
de sua própria bondade e caridade, inegavelmente hoje
você desliza inefável, acolhida sob o manto de
sua querida e inseparável mãe, Nossa Santa Senhora
Aparecida, (como a tantos você mesma acolheu e consolou
incansavelmente enquanto por aqui esteve) percorrendo luminosa,
abençoada, coroada por sua fé e inocência
inabaláveis, caminhos para nós ainda desconhecidos,
mas dos quais estejamos sempre certos você soube como
poucos, mostrar a sublime direção.
............Esteja em plena paz,
mãe, irmã, avó, tia, cunhada, sogra, colega,
professora, amiga, vizinha, conhecida, querida, sem deixar nunca
este seu jeito de silenciosa coragem, de contida meditação
nas orações, de festiva anfitriã ou convidada,
de comunicativa agitação em eventos e trabalhos,
nossa loira e bonita menina de Grão Mogol.
............Inesquecivelmente linda,
doce, delicada, sensível e cheia de Graça para
todos nós, muitas indizíveis felicidades por todo
o sempre é o que lhe desejamos de coração
ainda em recuperação.
............Esteja para sempre
guardada e guardando-nos carinhosa, nos Sagrados Corações
de Jesus e Maria, de todo o mal, inveja e desamor.
............Por tudo e por todos,
o nosso muito obrigada pela oportunidade feliz que Deus nos
concedeu, de poder tê-la tido adornando de entusiasmo
vivo nossa convivência nesta vida.
............Por seus olhos, seus
sorrisos, sua presença, seus passos abrindo nossos caminhos.
Seja infinitamente feliz junto aos nossos saudosos que já
partiram, e que por fim, reencontra.
............Siga na Paz de Cristo!
............Juntando seu canto
ao de sua inseparável “Corte Celestial “,
cuja Santidade vislumbrava já e ainda nesta terra com
humilde convicção, e que tanto amou e a tantos
fez amar espalhando suas devoções.
............Continuaremos a amá-la
na lembrança permanentemente intacta ,e na esperança
do glorioso dia, escolhido por Deus, para nosso feliz reencontro.
............Paz, Amor e Bem !
............Beijos muitíssimos
saudosos de todos nós, inesquecível mãe,
inesquecível Té.
............Terezinha Vasques
............... e não se
esqueça de os repartir com tia Maria, que talvez tenha
partido um pouquinho antes para enfim poder, pela primeira vez,
agradecida preparar a sua recepção em sua nova
morada.
“Particularmente
não creio ser a morte vontade de Deus , mas resigno-me
na fé da verdade de que ainda não chegamos aos
tempos da total perfeição da Nova Jerusalém
aqui na terra . Aceitar é o que nos cabe , nos deve
, nos coloca ao lado do Pai , mesmo sem a total compreensão
ainda. Só Deus sabe o porquê de todas as coisas
e é na inabalável confiança nele que
me consolo”
............Cecília Beatriz
Vasques - Belo Horizonte/MG. - 01/11/2005
............Procurei,
não em uma palavra fria, mas no meu coração,
na minha alma, algo que pudesse expressar a minha gratidão,
a minha admiração, o meu reconhecimento, por ter
lutado por valores eternos, que ficassem perpetuados, após
a sua vida, e encontrei a sua fé. Fé em Deus,
fé em Maria, fé aos santos que a ajudaram a realizar
os seus sonhos em um mundo carente de devoção,
tão materialista, e pobre de sentimentos nobres...
............Terezinha Vasques,
a sua bandeira, foi a amizade, a solidariedade, a educação,
a paz, o predomínio dos valores eternos aos valores efêmeros.
O homem que está a procura de um bem maior, alguém
com que possa contar, nas horas difíceis e incertas,
naquele que busca uma maior compreensão do seu verdadeiro
papel no mundo, encontrou em você um porto seguro.
............A nossa parte material
passa, você encontrou o equilíbrio, na parte espiritual,
que é imortal... Deus, na sua infinita misericórdia,
precisava de você e agora entre as estrelas, no meio dos
astros, constelações, entre os planetas, em outra
galáxia, brilha como uma estrela maior, como um farol,
longe de guerras, maremotos, terremotos, tsunamis, radiações,
crimes, disputas pelo poder, em um mundo finito, que esqueceu-se
de Deus!...
O
TURISMO E O PATRIMÔNIO ARQUEOLÓ-
GICO: Uma Possibilidade de Desenvolvimento
Sustentável.
Marta Verônica Vasconcelos Leite
Cadeira N. 17
Patrono: Auguste de Saint Hillaire
RESUMO
Thiago
Pereira2
............O
artigo busca abordar o patrimônio arqueológico
e a atividade turística como possibilidade de desenvolvimento
sustentável para comunidades e seus visitantes.O turismo,
no caso pode funcionar como motivador para manutenção
da identidade local através da preservação
dos seus bens patrimoniais, sendo uma das grandes alternativas
econômicas para os núcleos urbanos do norte de
Minas Gerais, possuidores destes acervos culturais.
Palavras-Chaves: Patrimônio arqueológico - Preservação-
Turismo - Desenvolvimento Sustentável.
______________________________________
1 - Professora Mestre da Universidade Estadual
de Montes Claros - UNIMONTES e orientadora do trabalho.
2 - Acadêmico de História pela Universidade Estadual
de Montes Claros - UNIMONTES e bolsista ICV - Iniciação
Cientifica Voluntária UNIMONTES.
E-mail: thiagog144@hotmail.com
______________________________________
INTRODUÇÃO
............O
que é e como estudar a Pré-história? Necessário
se faz pesquisar os sítios arqueológicos, tanto
os ameaçados de destruição como os bem
preservados. A região norte do estado de Minas Gerais
foi tomada como exemplificação, para exposição
das considerações gerais a respeito do patrimônio
pré-histórico, a partir da metodologia de Micro-história
com seus procedimentos. O pesquisar se dá desde as grandes
prospecções a perguntas iniciais: como o sítio
pré-histórico se formou? Como pintavam as paredes?
O que comiam seus habitantes? Que caminhos percorreram até
aqui? São exemplos de perguntas que movem as pesquisas.
............Para o estudo do passado,
é necessário o acesso a ele, e no caso do passado
pré-histórico, necessita se basicamente dos vestígios
materiais e tem sido grande a destruição do patrimônio
arqueológico, os sambaquis que tem servido de matéria-prima
para diversas obras da construção civil, agricultura
ou sítios abandonados pelo poder público.
............O futuro dos sítios
arqueológicos pré-históricos da região
norte mineira e de todo o país depende do envolvimento
da comunidade na valorização deste passado como
parte da própria história. Essa atitude é
fundamental para a preservação do bem patrimonial,
por fortalecer a noção de pertencimento do indivíduo,
de ser parte de algo maior, o coletivo. Alguns conceitos serão
necessários para a compreensão do desafio dos
estudos e a possibilidade do turismo planejado para contribuição
de sua preservação, geração de recursos
e bem-estar dos moradores do seu entorno ou mesmo dos turistas
que o visitam.
1. BRASIL RUPESTRE: Possibilidades para o Turismo
............De acordo com o Ministério
do Desenvolvimento Agrário (MDA), turismo pode ser definido
como deslocamento e atividades que as pessoas realizam durante
as suas viagens com permanências em lugares que não
são os que moram; motivadas pelo lazer, eventos, compras
e outros. Vários são os motivos que movem as pessoas
a fazer turismo: busca de lazer, descanso, resgate de suas raízes,
contato com a natureza, curiosidade por culturas diferentes,
compras, participação em eventos e congressos,
práticas esportivas como Olimpíadas, copas do
mundo e crenças e fé.(referência)
............O turista visita os
atrativos e tem a necessidade de alimentação,
hospedagem, transportes, realizar compras, presentes. Como exemplificação,
se o turista se hospeda no hotel, este tem a necessidade de
comprar o pão, o leite na padaria para servir o café
da manhã; as carnes no açougue e estes geram impostos
que podem ser aplicados para o bem estar da comunidade (melhorias
de praças, parques, saúde e educação),
gerando melhorias tanto para os moradores quanto para os visitantes.
Turismo arqueológico pré-histórico é
o conjunto de atividades desenvolvidas no meio de lugares denominados
de sítios pré-históricos, promovendo o
patrimônio cultural e natural da comunidade, desde que
cercado de cuidados e embasado por um trabalho de educação
patrimonial.
2. PRÉ-HISTÓRIA: Conceitos, Sítios
e referências
............A começar pela
denominação empregada aos povos que habitavam
o território do atual Brasil, é necessário
conceituar o período da Pré-história. Para
Vainfas (2007), a história indígena é composta
por enganos e incompreensões como o vocabulário
construído no Ocidente para a identificação
desses povos. A palavra “índio”, que é
consagrada na atualidade, deriva do equívoco de Cristovão
Colombo, que acreditava ter chegado às Índias,
ou seja, empregou-se o termo “índio” para
designar uma infinidade de grupos étnicos com diversos
troncos linguisticos. A necessidade de considerações
como estas, ocorre por trata-se da Pré-história
e o emprego das divisões territoriais que foram construídas
posteriormente, com a chegada dos portugueses no Brasil em 1500
e demais europeus por toda a América.
............Os
conceitos de Pré-história na Europa e na América
diferem, sendo que na Europa o conceito é definido como
referência ao período da história humana,
anterior à escrita, ou seja, do aparecimento do homem
aos primeiros ideogramas cerca de 3.500 a.C. Para Funari e Noelli
(2006), na América, generalizou-se o termo como todo
o período anterior a 1492, porque os europeus chamaram
sua presença de história e reservaram ao período
anterior, o termo Pré-história, apesar de que,
atualmente, sabe-se que povos como os Maias, da região
do atual México e América Central, possuíam
espécie de escrita, bem elaborada e os incas, que desenvolveram
um sistema de cordas para o registro de eventos, os denominados
quipos.
............Apesar dessas considerações,
generalizou-se o uso do termo Pré-história, o
qual se é empregado de forma crítica e para sistematização
dos estudos do período que antecede aos europeus e utilizando,
inclusive relatos de viajantes e suas crônicas para apontamentos
dos povos encontrados nos “descobrimentos”. Quando
se busca conhecer as sociedades indígenas desaparecidas,
quase não se dispõe de textos escritos da forma
que é concebida atualmente, nem de métodos antropológicos
e sociológicos, como a observação. Dependendo,
dos vestígios materiais deixados por estes povos, porque
as sociedades ameríndias que sobreviveram à atualidade
são reduzidas e se modificaram demasiadamente, para adequação
ao território brasileiro.
............No século XIX,
a América do Sul era uma região pouco conhecida
do mundo e muitos viajantes europeus estiveram em terras brasileiras
como Von Martius e Auguste Saint-Hiliare, Charles Darwin. Além
de que, ocorreram os primeiros estudos dos vestígios
arqueológicos. O naturalista dinamarquês Peter
Lund, realizou pesquisas na região de Lagoa Santa, Minas
Gerais em 1843, onde foram encontrados em uma série de
grutas, restos humanos junto a animais extintos. O dinamarquês
convocou o desenhista e pintor norueguês Andreas Brandt
para registrar suas pesquisas e escavações. Em
21 de abril de 1843, a mesma data que há 343 anos antes,
o escrivão Pero Vaz de Caminha relatara ao rei de Portugal
sobre a terra “descoberta”. Peter Lund descobriu
os ossos fossilizados de homens pré-históricos.
Nas publicações, o naturalista desde aquela época,
demonstrou a preocupação de preservar os sítios
arqueológicos. Pelo seu legado é considerado o
pai da Paleontologia e da Arqueologia brasileiras, deixou seus
bens em testamento para o filho adotivo e seus empregados, mas
seu maior legado ficou doado à ciência: mais de
40 livros e inúmeros trabalhos de caráter cientifico
sobre a fauna e flora brasileira.
Os estudos de Peter Lund registrado pelo pintor
Andreas Brandt, século XIX.
Fonte: Prefeitura de Lagoa Santa - MG.
............Algumas
outras pesquisas aconteceram ao longo do século XIX,
somente para encontrar objetos. Apenas na segunda metade do
século XX, com a arqueologia implantada no país,
inicialmente sob orientação de pesquisadores e
estudiosos da França e dos Estados Unidos da América
entre os anos de 1950 a 1960, e posteriormente, com programas
independentes realizados por pioneiros formados por esses mestres
estrangeiros é que ocorreram significativos avanços.
Na década de 1960, o Projeto Nacional de Pesquisa Arqueológica
(PRONAPA), buscou elaborar um quadro preliminar da Pré-História
dos estados litorâneos, indo do Rio Grande do Norte ao
Rio Grande do Sul, a partir de sondagens rápidas e prospecções.
As principais “tradições” atuais foram
identificadas a partir deste trabalho e continuam sendo reconhecidas.
(referência)
Quadro
(mapa) com as principais tradições rupestres do
país. Fonte: GASPAR,
Madur. A arte rupestre no Brasil.(data)
............Houve
um crescimento dos pesquisadores a partir dos anos 1980, e atualmente
a maior parte das pesquisas são de equipes brasileiras,
apesar de que ainda há regiões que não
possuem pesquisadores. Nos anos 1980 houve ainda um significativo
avanço: a criação da Sociedade de Arqueologia
Brasileira (SAB).
2.1.
A Contribuição da Antropologia para conhecimento
e estudos da pré-história na região norte
do estado de Minas Gerais.
............O
homem primitivo no Norte de Minas deixou seus registros no que
se denominam pinturas ou inscrições rupestres
- designações mais populares, presentes por vários
municípios da região, nos painéis têm
figuras sem maiores mistérios como outras mais complexas.
De acordo com o arqueólogo André Prous citado
por Campos (1983, p, 48) a maioria das sinalizações
rupestres norte mineiras tem ente 4 a 6 mil anos a.C. Abordando
temas como a caça de animais reproduzidos nas superfícies
das rochas, armadilhas, os chamados jequis; animais como veados,
onças, tatus, cutias, jacarés e aves. Os peixes
ocupam lugar importante na temática geral próximo
aos rios. As figuras antropomorfas - representações
humanas, geralmente possuem traços lineares; motivos
geométricos (linhas retas, horizontais, verticais e paralelas,
interrompidas ou quebradas, simples ou duplas). Há também
círculos, simples ou concêntricos, espirais, retângulos
e triângulos, os motivos astronômicos.
............Segundo o antropólogo
Costa (1997), a região que atualmente é compreendida
como o norte de Minas, no período de ocupação
e povoamento do território pelos bandeirantes era habitada
por nações indígenas Tapuias e Caiapós,
que possuíam sua própria cultura, vivendo da caça,
pesca, coletas e cultivos de algumas espécies vegetais.
No século XVIII, em confrontos com os integrantes das
bandeiras, foram mortos, escravizados ou expulsos da região.
O antropólogo afirma ainda que baianos e paulistas capitaneados
pelos bandeirantes Matias Cardoso e Fernão Dias Paes
Leme demandaram para o norte de Minas na busca de pedras preciosas
e aprisionamentos de indígenas, o que tornou possível
o estabelecimento do homem branco com a ocupação
do território a partir de três formas diferenciadas:
as constituições de grandes fazendas dedicadas
à criação do gado, a mineração
em localidades como Grão-Mogol e Jequitaí, e em
muitos destes lugares, ocorreu as duas formas juntas. A população
que circulava por esta região foi gradualmente exterminada
ou banida, porém seus registros e de povos ainda mais
antigos, permanecem em toda a região.
3.
JUSTIFICATIVA DE PROTEÇÃO E GESTÃO DO PATRIMÔNIO
ARQUEOLÓGICO: Considerações da 9ª
Assembléia Geral de Lausanne, 1990.
............De
acordo com a carta internacional de Lasanne, Suíça
em 1990, é de fundamental importância para toda
a humanidade o conhecimento das origens e desenvolvimento das
sociedades humanas, por possibilitar o reconhecimento das nossas
raízes culturais e sociais. O patrimônio arqueológico
seria um testemunho essencial das atividades humanas do passado,
o que implica na sua preservação e gestão,
permitindo a arqueólogos, historiadores, geógrafos
e outros estudiosos se posicionarem em benefício das
gerações atuais e as vindouras.
............A proteção
deste patrimônio não pode se dá exclusivamente
de técnicas da arqueologia, mas em uma base mais ampla
do conhecimento e de competências profissionais e científicas.
O patrimônio arqueológico pré-histórico
é uma riqueza cultural frágil e não renovável
e sua política de proteção deve ser articulada
com o planejamento econômico, da cultura e do meio ambiente
em níveis nacional, regional e local, a criação
de reservas arqueológicas é uma possibilidade.
............A participação
da comunidade deve ser integrante da política de conservação,
sendo essencial o acesso ao conhecimento deste patrimônio,
o que de acordo com o Instituto do Patrimônio Histórico
e Artístico de Minas Gerais (IEPHAN/MG), (2008), são
quatro as etapas da educação patrimonial, esta
integrante da política de proteção: a observação,
o registro, a pesquisa e a apropriação.
............A proteção
do patrimônio arqueológico constitui em uma obrigação
moral para cada indivíduo, mas também é
uma responsabilidade do poder público, que deve ser expressa
em uma legislação que garanta fundos suficientes
para financiamento de programas eficientes, garantindo sua conservação
a partir das necessidades históricas e das tradições
de cada país.
4.
NORTE DE MINAS GERAIS: Sugestão para a prática
de Turismo Sustentável.
............A
cultura é o conjunto de modos de agir, costumes e valores
de um grupo social. A cultura de um povo mostra seu modo de
vida e expressões como danças, saberes, ritos,
literatura. Para Aranha (1993), são os modos de agir,
os costumes, as belezas e ritos, culinárias, celebrações,
as danças e tradições. Existe a possibilidade
da vinculação de uma cidade com a preservação
do patrimônio cultural, entendendo a cidade como fórum
privilegiado de decisões e planejamento local, o turismo
é percebido como uma das significantes alternativas para
viabilizar o desenvolvimento local.
............A atividade turística
possibilita a troca do conhecimento, porque seus praticantes
viajam para conhecer os diferentes modos de vida, além
de intercâmbios de valores. Uma preocupação
com o turismo é que o mesmo altere os modos de vida e
o patrimônio cultural, o que para a historiadora francesa
Choay (2001) deve ser pensado de forma planejada. A autora aponta
efeitos negativos do turismo empregado de forma desarticulada
em cidades italianas como Florença e Veneza, além
de exemplificar a cidade antiga de Kyoto, capital do Japão,
que se degrada a cada dia e o caso do Egito, onde foi necessário
fechar os túmulos do Vale dos Reis. O turismo deve ser
pensado como conseqüência de um planejamento e articulação
dos muitos setores da sociedade, necessitando ser entendido
como turismo para o desenvolvimento sustentável.
............O conceito de desenvolvimento
sustentável foi originado na década de 1960 e
1970, no modelo de Ignacy Sachs, voltado para o fomento das
potencialidades sociais, sendo estas econômicas ou não,
de cada país ou região e ultrapassando questões
naturais, para o alcance de questões sociais. Para o
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente (IBAMA), desenvolvimento
sustentável se dá na utilização
dos recursos naturais para fins sociais, de modo a garantir
as necessidades das gerações atuais, sem prejudicar
as futuras, objetivando pontos como: integração
e conservação da natureza e desenvolvimento, satisfazer
as necessidades humanas fundamentais e respeitar a diversidade
cultural.
............O que ainda de acordo
com o IBAMA (2008), o conceito pode ser vago, e gerar controvérsias
já que um ponto seria a satisfação das
necessidades fundamentais, e, por exemplo, a economia seria
uma destas necessidades, que traria um impasse, entre o padrão
vigente e uma nova proposta de desenvolvimento, mas que seria
natural do próprio ser humano, possuidor de sua dicotomia.
Na atualidade o conceito de desenvolvimento sustentável
compreende à múltiplas óticas e demonstra
o debate ecológico cada vez mais presente, dentre elas,
a sustentabilidade cultural que busca o respeito a diferentes
formações culturais como as indígenas da
Pré-história, propondo não conflito dos
vestígios destas sociedades, mas soluções
do seu potencial. (referência)
............O objetivo destas considerações
neste trabalho é o uso da educação como
instrumento de fomento e diálogo com a comunidade do
entorno ou inserida nos limites de sítios das cidades
norte mineiras, para que a população obtenha uma
situação em que a sustentabilidade das condições
gerais de vida, auxilie na preservação, minimizando
as pressões sobre o patrimônio arqueológico
que quase sempre o é, arqueológico e natural e
em muitas vezes, paleontológico. Para se pensar na realidade
do patrimônio arqueológico no Brasil, tem-se que
considerar a educação, que é um aprimoramento
do homem naquilo que pode ser aprendido e recriado de diferentes
formas, de acordo com a necessidade de uma sociedade.
4.1
Jequitaí - MG
............O estado de Minas Gerais
possui uma federação de circuitos turísticos
para incentivar o conhecimento da sua história, seus
atrativos e os próprios circuitos turísticos definidos
nas regiões do estado. A cidade de Jequitaí está
localizada na região norte, a 93 km da cidade de Montes
Claros, pólo regional e a 415 km de Belo Horizonte, MG,
é servida pela rodovia federal BR 365. A cidade é
uma das 08 que integram o circuito turístico Serra do
Cabral.
Quadro com o mapa do Circuito Turístico
Mineiro Serra do Cabral.
Fonte: FECITUR - Federação dos Circuitos Turísticos
do Estado de Minas Gerais.
............Com
vegetação típica do cerrado e significativa
quantidade de pinturas rupestres, pode atrair botânicos,
historiadores, arqueólogos e naturalistas amadores de
todo o país. São mais de dez sítios catalogados
no sistema de gerenciamento do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN).
Representação
de zoomorfo na Lapa Pintada de Jequitaí - MG.
Fonte: Arquivo Pessoal de Thiago Pereira, 2008.
............Jequitaí
pode utilizar seus recursos naturais no entorno da Lapa Pintada,
que já são conhecidos pelos seus moradores, para
atrair turistas de outras regiões. Mas é necessário,
estruturas como placas de sinalizações, melhorias
na estrada que leva ao rio, porque parte dela próximo
a Lapa Pintada não é pavimentada, o que torna
empecilho em tempos de chuvas ou mesmo pela poeira.
Grupo
de amigos às margens do rio Jequitaí. Fonte: Arquivo
Pessoal de Thiago Pereira, 2008.
............Ao
longo do rio Jequitaí, tem-se paisagens propícias
para fotografias ou mesmo o chamado turismo de contemplação,
trechos do rio para banho e caminhadas.
Paisagem
do entorno do sítio arqueológico da Lapa Pintada,
Jequitaí - MG. Fonte: Arquivo Pessoal de Thiago Pereira,
2010.
Moradores de Jequitaí - MG em banho no rio. Fonte: Arquivo
Pessoal de Thiago
Pereira, 2008.
............Por
estes motivos, deve-se ter um conjunto amplo e organizado de
procedimentos desde o trabalho com a educação
patrimonial, a pesquisas arqueológicas e um trabalho
de divulgação do patrimônio arqueológico,
culminando na preservação destes bens portadores
de valores que dão sentido a identidade da comunidade
local.
Grupo de amigos às margens do rio Jequitaí.
Fonte: Arquivo Pessoal de Thiago Pereira, 2008.
4.2
- Capitão Enéas - MG
............O
município de Capitão Enéas está
localizado no norte do estado, a 66 km da cidade de Montes Claros
- MG e a 492 km de Belo Horizonte, MG, é servido pela
rodovia federal BR 122.
A cidade possui vias largas, o que pode ser facilitador
para visitantes. Fonte:
Arquivo Pessoal de Thiago Pereira, 2009.
............Integra
o circuito turístico Sertão Gerais, o que a torna
de fácil acesso, por ser próxima a Montes Claros,
cidade pólo que é servida de serviços fundamentais
para o turismo como aeroporto e rede hoteleira. Capitão
Enéas possui significativo patrimônio arqueológico.
Quadro com o mapa do Circuito Turístico
Sertão Gerais. Fonte: FECITUR - Federação
dos Circuitos Turísticos do Estado de Minas Gerais.
............Pode-se
investir nas potencialidades do seu patrimônio natural
e cultural, necessitando melhorias nas estradas que levam ao
distrito de Santana da Serra, com suas importantes figuras rupestres
e demais vestígios materiais possíveis de existirem.
Trecho
da estrada para o distrito de Santana da Serra, Capitão
Enéas - MG.
Fonte: Arquivo Pessoal de Thiago Pereira, 2009.
............O
município necessita investir em ações de
educação patrimonial para que seus moradores conheçam
seu acervo arqueológico e seja ao lado do poder público,
seu guardião.
Gruta do Mercado, no distrito de Santa da Serra,
Capitão Enéas - MG. Fonte:
Arquivo Pessoal de Thiago Pereira, 2009.
............Segundo
Campos (1983), desde a década de 1980, o descaso com
o acervo arqueológico de Capitão Enéas
- MG tem permitido a depredação e o desaparecimento
de precioso material para estudos do norte de Minas.
Representação de antropomorfo e
zoomorfo na Gruta do Mercado de Capitão
Enéas - MG. Fonte: Arquivo Pessoal de Thiago Pereira,
2009.
............Em
visita às grutas, em 13 de junho de 1979, o naturalista
amador encontrou pedaços de cerâmica espalhados
pelo chão, que necessitariam de análises e pesquisas.
Naquela época, havia uma escada improvisada na Lapa de
Santo Antônio, sítio arqueológico que junto
com a Gruta do Mercado, estão localizados em terras particulares.
Em visita técnica de 2009 de alunos do curso de Publicidade
das Faculdades Pitágoras de Montes Claros - FIPMOC e
aluno do curso de História da Universidade Estadual de
Montes Claros - UNIMONTES, constatou-se a mesma realidade descrita
por Campos (1983), uma escada improvisada, para visualização
das pinturas rupestres na parte superior do paredão da
Lapa de Santo Antônio, o que também possibilita
o vandalismo. Para divulgação deste patrimônio,
será necessário estruturar os sítios para
visitação, bem como, articulação
entre o poder público local com os proprietários
da fazenda para receber os visitantes, além, de cursos
para guias e equipamento de segurança.
Grupo
da visita técnica a convite da administração
municipal. Fonte: Arquivo
Pessoal de Thiago Pereira, 2009.
............A
equipe da visita técnica sob orientação
das professoras Marta Verônica Vasconcelos Leite e Maria
de Lourdes Maia, desenvolveu uma pesquisa de opinião
pública, em que se constatou um desconhecimento por parte
da população de seu patrimônio arqueológico,
embora quase todos os entrevistados demonstrassem já
ter ouvido falar sobre a existência deste acervo cultural
no município. A cidade de Capitão Enéas
- MG possui todas estas possibilidades, havendo investimentos,
melhorias na qualidade de vida da população local
naturalmente atrairão visitantes, trazendo um desenvolvimento
articulado com a preservação dos bens citados,
portadores de referências à essa gente.
Gruta de Santo Antônio, na mesma propriedade
que se encontra a Gruta do
Mercado, distrito de Santana da Serra, Capitão Enéas
- MG. Fonte: Arquivo
Pessoal de Thiago Pereira, 2009.
1.4
- O TURISMO ARTICULADO: Alternativa de viabilizar o desenvolvimento
local.
............Para
Simão (2001), o papel da preservação do
patrimônio cultural, que inclui o arqueológico,
extrapola nos dias atuais, os limites da história e da
memória, por cumprir papel econômico e social,
ou seja, pesquisar sobre a preservação cultural
e compreender esses estudos, implica em esvendar as características
culturais, mas também avaliar possibilidades de ampliação
do leque das atividades econômicas dos municípios
possuidores de acervos culturais.
............É possível
vincular a vitalidade da cidade com a preservação
do patrimônio cultural, nesta perspectiva o turismo é
visto como fonte e alternativa para viabilizar o desenvolvimento
local. O crescimento do turismo e das indústrias ligadas
ao lazer tem reforçado as cidades como pólos de
compras e cultura, tornando uma base consolidada para o resgate
do passado, estruturas para melhorias e qualidade de vida.
............Este entendimento se
dá na própria atividade turística como
motivadora da manutenção da identidade local e
dos bens patrimoniais portadores destes valores.
............Com
o objetivo de referenciar as pesquisas somadas ao desenvolvimento
sustentável, foi escolhido o trabalho da Fundação
do Museu do Homem Americano (FUMDHAM) no Parque Nacional da
Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato, PI, considerado
exemplo e precursor da proteção cultural e arqueológica
internacional, como modelo de preservação incansável
e bem sucedida, que ao longo dos últimos 35 anos vem
sendo estudados pela equipe da arqueóloga Niède
Guidon; que obteve reconhecimento da importância dos sítios
que pertencem aos povos pioneiros que há milênios
habitaram a região de São Raimundo Nonato - PI,
a ponto de ser tombado pelo Conselho Executivo da Organização
das Nações Unidas (UNESCO) em 1991, como patrimônio
da humanidade; em nível nacional como Parque da Serra
da Capivara que ocupa uma área de 214 km. Considerado
o
parque nacional detentor da melhor infra-estrutura de toda a
América do Sul.
............O trabalho de inclusão
social realizada pela mesma equipe da arqueóloga Niède
Guidon, onde os moradores da região assumem parte da
responsabilidade de manutenção do parque turístico
que tem capacidade de atrair 3 milhões de pessoas ao
ano, gerando assim riqueza e qualidade de vida para a população
local se dá através da FUMDHAM, criada no ano
de 1986, como entidade cientifica, filantrópica, sociedade
civil, sem fins lucrativos e de utilidade pública.
............Recentemente, a pesquisadora
recebeu a medalha comemorativa do 60º aniversário
da UNESCO, pelas mãos do presidente da instituição,
Francesco Bandarin em Joanesburgo, África do Sul, pelo
trabalho de divulgação e preservação
do patrimônio cultural representado pela arte rupestre
brasileira, especialmente da Serra da Capivara.
............A região norte
do estado de Minas Gerais pode aprender com esta iniciativa
bem sucedida no sudeste do Piauí e tornar-se área
consolidada de pesquisas e do turismo arqueológico do
estado e do país. Uma conquista recente destes estudos
na região, foi a inauguração da primeira
etapa das obras do parque estadual da Lapa Grande, que de acordo
com o Instituto Estadual de Florestas - IEF, foi criado em 2004
pelo decreto estadual de número 44.204 com área
de aproximadamente 7.000 hectares em Montes Claros - MG, tendo
como objetivos, a proteção e a conservação
do complexo de grutas e abrigos da área delimitada do
parque, abrigando extenso patrimônio natural e arqueológico,
formado por grutas com destaque para a Lapa de mesmo nome do
parque com aproximadamente 2,2 km de extensão.
............A administração
é feita em parceria com a Companhia de Saneamento de
Minas Gerais (COPASA) como já ocorre no Parque estadual
do Rola-Moça, que abriga os mananciais que abastecem
a região do Barreiro, em Belo Horizonte - MG. A unidade
é uma das mais importantes para a conservação
do patrimônio natural,
arqueológico, cultural e histórico de Minas Gerais,
abrigando cerca de 50 grutas e 47 sítios rupestres, além
de reunir diversidade de espécies da fauna e da flora,
e possuir mananciais e nascentes como a do rio Pai João
que é responsável por 40% do abastecimento da
população de Montes Claros - MG.
............As ações
e administração do parque têm dentre seus
parceiros, a Universidade Estadual de Montes Claros,(UNIMONTES),
a Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e a Secretaria
municipal de educação de Montes Claros - MG. Inicialmente
o parque receberá visitas que já estão
em fase de agendamento prévio tendo como prioridade a
educação ambiental, que deverá contar com
a participação de estudantes, professores, pesquisadores
e demais interessados. As visitas deverão ter grupos
de 10 a 30 integrantes, e como primeiras medidas: foi elaborado
e iniciado um projeto pedagógico pelo departamento de
Geo-ciências da UNIMONTES oferecido por sistema on line
para professores de 10 escolas municipais próximas ao
parque. A carga horária prevista é de 180 horas/aulas,
divididas em seis módulos, sendo que 03 já foram
ministrados.
............Os temas variam de
“Gestão ambiental”, “Biodiversidade”
a “Usos das tecnologias de informação”,
tendo noções de informática e “Resgate
histórico”, até março de 2011, serão
ministrados os outros 03 restantes, dentre eles “Espeleologia
e Arqueologia”, o que de acordo com a gerente do parque,
Aneliza Almeida Miranda Mello, o projeto trará resultados
multiplicadores. Todos estes avanços no parque estadual
da Lapa Grande servirão como incentivo as outras cidades
da região, possuidoras de patrimônios semelhantes,
por Montes Claros ser pólo da região, poderá
servir de modelo para articulação de desenvolvimento
sustentável.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
............Os resultados preliminares
de pesquisa sobre o patrimônio arqueológico regional,
a partir da Micro-história que definiu Jequitaí
como exemplificação demonstra que a região
norte de Minas Gerais possui grande potencialidade para os estudos
arqueológicos, com áreas conhecidas a nível
internacional como o Parque nacional Vale do Peruaçu,
mas também por áreas não tão conhecidas
e necessitadas de políticas públicas efetivas
como Jequitaí e Capitão Enéas, não
esquecendo que a UNIMONTES, a UFMG e a Universidade de São
Paulo (USP) têm desempenhado estudos significativos na
região, necessitando ainda da conscientização
das administrações municipais para esses importantes
acervos.
............Os sítios pré-históricos
do norte de Minas fazem parte do patrimônio cultural do
país, integram à identidade dos diferentes povos
que compõem a sociedade brasileira, percebe-se a necessidade
de novos estudos e pesquisas, articulados à proposta
de educação patrimonial, porque não basta
sistematizar estudos restritos a academia como abordam as diretrizes
da carta de Lausane, 1990, deve-se extrapolar as técnicas
da arqueologia, articulando pesquisas com a comunidade e assim,
servir ao social. A proposta da pesquisa sobre o patrimônio
arqueológico regional é uma pesquisa acadêmica,
o que de acordo com Maria Clara Migliacio, diretora do centro
nacional de Arqueologia do IPHAN, apenas 10% das pesquisas arqueológicas
e pré-históricas no Brasil, é de motivação
acadêmica, enquanto os 90% restantes, representam projetos
da chamada Arqueologia de contrato, necessária para se
evitar perdas nas construções de rodovias e barragens,
portanto ainda estamos longe do ideal.
............Essa pesquisa acadêmica
trabalha com a possibilidade de estudo regional, podendo ser
este um projeto piloto para outras cidades norte mineiras como
Jequitaí e Capitão Enéas.
............Não esquecendo
as diferenças de realidades dos municípios e suas
diversidades culturais, possuidores de sítios de valores
arqueológicos do período da Pré-história,
mas nem sempre conscientes do valor que esses acervos significam
para sua própria história.
REFERÊNCIAS
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à Filosofia. São Paulo: Moderna, 1992.
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Rio de Janeiro: IBGE, 2007. p. 35 - 59.
UNIMONTES - Universidade Estadual de Montes Claros. Disponível
em http://www.unimontes.
DOUTOR
COUTINHO
Milene
Coutinho Maurício
Cadeira N. 02
Patrono: Alfredo de Souza Coutinho
............À
semelhança daquelas pessoas que se comprazem no revirar
seu passado, reviro o meu. Fatos e gente, tanta vez entrelaçados,
aquelas imagens do ontem trazido para agora, digo e aceito que
o quadro é um respiradouro para o espírito, cansado
ou não. Olhe o farol.
............Tempo de escola, vejam
bem o quadro... aquela meninada! Meu chefe, coincidentemente
um homem que nos aperta as mãos e sorri para nos fazer
crescer. Desta vez, eu procurava uma pessoa de presença
realmente muito marcante e precisei de ajuda para desenhá-la.
Encontrei sua filha Milene, que me liberou seus préstimos
e a quem devo agradecer pela ajuda clara para eu registrar um
pouco sobre meu grande mestre.
Luís Veloso
............Era
esta a simplificação para o nome do nosso diretor
Alfredo de Souza Coutinho. Ele, um raro somatório de
boas qualidades, aliadas a uma invejável modéstia;
na escola dirigida, o reflexo de muito esforço, de competência
e amor à causa.
............Aqui, estou falando
de um educandário chamado Ginásio Municipal de
Montes Claros e da pessoa que lhe gerenciou as estradas, durante
meus quatro anos de estudante no primeiro ciclo secundário,
este uma figura didática de reconhecido valor. Mas vieram
as modas e o belo instrumento foi abolido em favor de outras
denominações para alternativas diferentes. Contudo,
reconheço que 1945 -1946 -1947 e 1948 marcaram-me uma
respeitosa convivência, sobremaneira construtiva, ao lado
e à sombra de alguém devotado ao trabalho que
abraçara: educar, formar cidadanias.
............Filho do casal Augusto
de Souza Coutinho e Júlia de Freitas Guimarães
Coutinho, o menino Alfredo nasceu na antiga Vila Rica em 26
de maio de 1896. Aos dois anos, acompanhou a família
em mudança para Belo Horizonte, tendo, aí, feito
o curso primário no Grupo Escolar Barão do Rio
Branco e secundário no Colégio Estadual. Em 1919,
doutorou-se pela Faculdade de Direito da Universidade de Minas
Gerais.
............Veio de longe para
Montes Claros. Considerados os equipamentos para transporte
disponíveis naquelas épocas, englobando-se as
“estradas de rodagem”, as distâncias cresciam
em significado. De Belo Horizonte a Montes Claros, viagem de
trem, mundo civilizado com locomotiva a vapor, dezenove horas
de paciência. Mas o doutor andou um pouco mais de chão
e voltou para ficar.
............Primeiro, em 1920,
foi nomeado Promotor de Justiça para Rio Pardo de Minas,
onde exerceu o cargo pelo período de dois anos, tendo
ocorrido sua transferência para Montes Claros. Nesta cidade,
continuou no posto por mais um ano, quando decidiu por abrir
um escritório de advocacia.
............Aqui, enamorou-se da
terra e de uma donzela, casou-se, constituiu família
e firmou caminho profissional e político.
............Em 25 de julho de 1925,
uniu-se, em matrimônio, com Maria Antonieta Ribeiro Nascimento,
daí originando-se a plêiade formada pelos filhos:
Célia do Nascimento Coutinho, Maria Luiza Coutinho, Milena
Antonieta Coutinho, Antônio Augusto Coutinho, Alfredo
de Souza Coutinho Filho e Fernando Rodrigo de Souza Coutinho.
............No mundo político,
foi vereador, Presidente da Câmara e Chefe do Executivo
Municipal no governo Antonio Carlos.
............Em
3 de maio de 1928, juntava-se à Câmara Municipal,
na posição de mais votado entre os vereadores.
E, percorrendo seu currículo de atividades, um registro
importante informa que o Dr. Alfredo Coutinho coordenou as atividades
situacionistas locais, durante um dos episódios mais
significativos em futuras e não muito distantes adequações
institucionais brasileiras: a Revolução de 30.
Embora partidário da Aliança Liberal, parte não
vitoriosa do embate, sua postura nobre e firme conseguiu que,
fato consumado, alguns revolucionários exaltados deixassem
de praticar atitudes menos civilizadas.
............Em 1939, recebeu convite
da Mitra Diocesana para soerguer e dirigir o primeiro estabelecimento
de ensino secundário do Norte de Minas, o Ginásio
Municipal de Montes Claros, prestes a fechar-se naquela ocasião.
Recuperou a instituição e, por 11 anos, foi seu
diretor.
............Homem de atividades
múltiplas, ocupou diferentes cargos de relevo em Montes
Claros:
............Foi um dos fundadores
e Presidente do Clube Montes Claros, em 1928. Elaborou os estatutos
desse clube.
............Foi Presidente da Ordem
dos Advogados do Brasil em Montes Claros e da II Subseção
da Ordem dos Advogados do Brasil.
............Presidente
da Liga de Futebol e Fundador/Presidente do “União
Esporte Clube”.
............Vice-Presidente do
diretório do Partido Progressista. Durante sete anos,
foi professor da Escola Normal Oficial de Montes Claros, onde
lecionava Português, Francês e Literatura Brasileira.
............É Patrono da
academia Montesclarense de Letras, cadeira número 8,
que já esteve ocupada por seu genro João Valle
Mauricio.
............É nome de Avenida
em Montes Claros.
............É nome de Escola
Municipal em Montes Claros.
............De
sua atividade como prefeito (1928 a 1931), ficaram marcos consagrados
como :
............- Criação
de várias escolas municipais.
............- Ereção
de estátua em homenagem a Francisco Sá.
............Em 1954, foi Chefe
de Gabinete do então prefeito Enéas Mineiro de
Souza.
............A advocacia foi seu
exercício durante muitos anos e nunca perdeu uma causa.
***
............Como dirigente máximo
do Ginásio Municipal, mestre Coutinho ofereceu oportunidade
para que a Sociedade viesse a conhecer sadios procedimentos
de administração, ausentes daquelas tecnocracias
parcas em seu contexto de fertilidade, porém arrogantes
nos cacoetes de apresentação ao público
usuário. Às Boas-vindas do primeiro contato seguia-se
um tratamento civilizado e respeitoso para alunos, pais de alunos,
professores e serventuários.
............Pontualidade era questão
de honra e não somente encontradiça no Diretor
e na Secretaria, mas em todo o conjunto educativo. Não
faltava professor na sala de aula, porque o próprio Dr.
Coutinho se apresentava como substituto eventual naquelas matérias
que lhe eram afins. Quando Dona Joaninha, professora de Inglês,
teve de se afastar por contingências, imediatamente lá
estava o padre Gilberto a cobrir-lhe as faltas definitivas.
............Aos domingos pela manhã,
num hábito sistemático, lá estava o Dr.
Coutinho no pátio do Ginásio a enfileirar grupo
de alunos para uma caminhada até a missa na Igreja do
Rosário. Ida e volta, disciplinadamente.
............Também o sábado
não ficava de fora, cabendo-lhe um ritual de grande significado:
o Grêmio Lítero-Esportivo. Às nove horas,
o salão já estava arrumado e pronto para o exercício
intelectual da estudantada. Poemas eram declamados e peças
oratórias eram ouvidas para o realçar de algum
acontecimento novo mais importante, ou datas históricas.
O 13 de maio guardava sua folhinha marcada.
............Era mais trabalho para
o diretor, que se encarregava de gerenciar o esquema de cada
encontro, didaticamente auscultando as indicações
da plateia, inclusive na indicação de nomes para
desenvolverem papéis na sessão vindoura. Nomear
a mesa diretora do Grêmio foi, durante alguns anos, não
digamos um privilégio, senão um dever de quem
supervisionava todo o esquema. E, aí, mais uma grandeza
humana e educadora do Dr. Coutinho.
Vale contar.
............No início de
1948, os alunos do Ginásio deixaram crepitar a intenção
de, excluído qualquer gesto de rebeldia, assumirem a
gerência global do Grêmio, inclusive escolhendo
os componentes da mesa diretora. Nosso amigo professor recebeu
a idéia, digeriu-a com carinho e, através daquelas
nuvens cor de rosa, enxergou mais uma abertura para liberar
seu potencial formador de cidadania.
............Um sucesso! Anônimo
como convém aos nobres de alma.
............Rigoroso na ética
disciplinar, Dr. Coutinho tinha filho adotivo em cada um de
seus alunos. Zelava por todos os ginasianos e não escondia
cuidados. Pelas meninas, então... Pois aconteceu que
uma delas, ao caminhar na varanda assoalhada do prédio
e olhar para baixo, saiu gritando e fazendo denúncia
gravíssima: lá embaixo, havia alguém de
cara virada p’ra cima e, naturalmente, querendo ver o
que não devia. Resultou dessa aventura um memorando muito
bem escrito, no qual o rapaz ficava punido com uma suspensão
de 15 dias.
............O rapazola tomou o
trem para Bocaiuva, foi-se embora para cumprir a temporada,
porém o coração e o cérebro do Dr.
Coutinho combinaram um arranjo e, bem mais cedo do que constava
na sentença, mandaram o aviso: Pode voltar.
***
............Além
da linguagem bem nutrida quando estava conversando e da escorreita
frase escrita em seus documentos, nosso diretor também
passeava com liberdade franca pelo versejar. Aliás, tais
predicados costumam aflorar robustos nas pessoas nutridas em
Rui Barbosa, Machado de Assis, Castro Alves e vizinhanças
afins.
............Vamos a um exemplo.
GINASIANO
Alfredo S. Coutinho
Ama a Deus sobre todas as coisas.
-- Estima teu mestre e respeita a autoridade
Dentro da justiça.
-- Sê amigo do próximo e de todos os colegas:
Terá sempre um cumprimento cordial para
Eles e para os teus professores.
--Esforça-te por ser um perfeito cavalheiro:
No traje, nas atitudes, nos gestos e na
Linguagem, dentro e fora do ginásio.
-- Respeita os direitos alheios e terás
Respeitados os teus.
-- Não fujas à responsabilidade dos teus atos
E nunca te acovardes.
-- Não depredes a propriedade alheia:
Trata-a com o mesmo respeito com que
Tratas os teus próprios interesses.
-- Ama a liberdade e procura gozá-la
Dentro da ordem e da disciplina.
............Aí,
pequena amostra de carinho do mestre aos seus alunos, filhos
adotivos.
***
............A conclusão
do meu período ginasial em 1948 coincidiu com o encerramento
das atividades do Ginásio Municipal. Transferi-me para
Belo Horizonte a fim de continuar estudos e eu não pude
ou não soube evitar que as mudanças cumprissem
seu trivial papel no distanciamento de pessoas com bom relacionamento
mútuo.
............Por
sua vez, o ponto final do Ginásio mostrou clareiras abertas
nos campos advocatício e político para Dr. Coutinho.
Prestou serviços à comunidade nas lides profissionais
e chegou a posição importante na administração
municipal.
............Depois de sessenta
anos de uma vida íntegra e exemplar, faleceu em Belo
Horizonte, no dia 17 de setembro de 1956.
***
............Bom exemplo não
dá cansaço e este relato vai acabar andando mais
um pouco. O caso de agora ocorreu fora das lides escolares,
está bem ligado ao lado profissional, mas tem lá
o seu cheirinho educativo. Acontecia de Montes Claros, em final
dos anos quarenta, ter duas casas de ensino cujos alunos ouviam
ruídos de que os diretores, ambos advogados, não
se alinhavam bem. Verdade ou não, assim era o clima,
muito embora completamente pacífico.
............Dr. João Luiz
de Almeida, diretor do Instituto Norte Mineiro de Educação,
era advogado defensor de um cidadão para atuar num júri
de data marcada. A época do episódio, meio nebulosa
para mim, foi nas proximidades de 1947, mais tardar 1948, meu
derradeiro ano de morar em Montes Claros. Do contrário,
eu não seria assistente.
............Parecia trivial, porque
se tratava de um embate judicial em que a defesa de alguém
estava entregue a um profissional respeitado no assunto. Contudo,
as expectativas vestiam indumentária diversa. Alguma
lacuna deveria existir lá pelo lado oficial da Justiça,
que estava a requerer um promotor “de ocasião”,
cujo encargo recaiu sobre o Dr. Coutinho. Formado esse quadro,
curiosos e interessados alunos/torcedores de um lado e outro
marcaram presença na hora do julgamento. Espera ansiosa.
Tão logo o juiz considerou-se apetrechado para iniciar
a sessão, a palavra foi dada ao Dr. Coutinho e este,
sem teatro nem trejeitos, abriu a documentação,
leu algumas partes e deixou bem claro não haver encontrado
motivos para pedir a condenação.
............Em silêncio,
o mundo se enriqueceu de grandeza.
A
menina Clarice
Miriam Carvalho
Cadeira N. 88
Patrono: Plínio Ribeiro dos Santos
............Escrever
como se fala, eis a tarefa que se coloca a escritora, a querida
Maria Jacy Ribeiro, autora do texto literário-infantil
Clara, Clarice, Clarinha. Captando realidades do repertorio
folclórico, em especial do Norte de Minas, numa comunicação
sensível e direta, a autora acaba entrando para o mundo
da poesia onde as regras são ditadas pela projeção
do encantatório e uso das modalidades folclóricas:
a parlenda, a cantiga de roda, ciranda, adivinha, como decifração
de um enigma, as travessuras verbais das aves, representando
a lenga-lenga da voz dos bichos, a referência aos catopés,
marujos, caboclinho e pastorinhas. O livro compõe-se
de uma sucessão de elementos das produções
orais e populares.
............Clara, Clarice, Clarinha
é uma simbiose feita de colagens, citações,
referências das quais fazem parte as matrizes textuais
em diálogo. Uma das mais conhecidas é aquela que
vem dos contos de fada “Era uma vez uma menina...”
Expressão que indica por onde começar, imprimindo,
desde o inicio da narrativa, (o nascimento de Clarinha), a marca
do narrador, como a mão do oleiro na argila do vaso.
............O
livro é, por assim dizer, uma proposta de fusão,
marcado pelo encantamento da tradição popular,
pela riqueza de imagens e jogos sentidos existentes na poesia
que vem do povo. E Maria Jacy quer mostrar como os traços
da cultura popular na narrativa interagem, simultaneamente,
num intercâmbio de palavras reiteradas sob forma de refrões.
Um exemplo:
“Amanhã
ela vem!”
“Amanhã ela vem!”
............E a percepção
da escritora, voltada para essa realidade, nos remete ao fascinante
jogo de imagens, apontando para as variedades sonoras das palavras,
das rimas, dos estribilhos, das quadras, tudo que é tradicionalmente
cultivado pelo povo e que serve para expressar a alma infantil.
“Você
gosta de mim, ó Clarice
Eu também gosto de você, ó Clarice
Vou pedir ao seu pai, ó Clarice,
Pra casar com você, ó Clarice...”
............Criando uma personagem
singularmente marcada pela docilidade, a autora cria um elo
de cumplicidade de dentro e fora do livro com todos aqueles
que se sentem naturalmente à vontade no mundo da infância.
Assim, ela lança mão da personagem Clarice que
se define mais pelos atributos do que pelas ações
e vem, às vezes, evocada por outras vozes sob forma de
refrão:
“Amanhã
ela vem!
Amanhã ela vem!”
............Lembrando Carlos Drummond
de Andrade, Vai Carlos ser gauche na vida, a personagem Clarice
é apontada para o oposto da situação -
Ser gauche na vida: Vai, Clarice ser ternura na vida. Esta qualidade
básica - ternura - define o título do livro, elaborado
a partir da tríade: Clara - Clarice - Clarinha. O nome
sob uma cadência rítmica cumpre dentro do livro
a função de representar a imagem de admiração
pelas coisas contidas no folclore. É Clarice, com uma
mãozinha fofa apontando:
- “Cadê o toucinho que eu botei
aqui”
- “Gato comeu”
Mais
adiante, reforça a interpretação analógica
de ser luz - “E cadê a luz que eu coloquei aqui?”.
Brincando com o ato de escrever, a autora recorre às
adivinhações, parlendas e às cantigas
de roda, num resgate da poesia oralizante de velha tradição
popular. E participando do mundo de Clarice, os seres da natureza,
sob formas da onomatopéia, criam no texto tonalidades
rítmica e de fácil memorização,
imprimindo na narrativa marcas de imagens folclóricas.
Assim o sabiá implorava:
“Volte
logo, Clarice
Volte logo, Clarice.
Eu estou tão triste
Eu estou tão triste”
“Fogo acabô
Tudo acabô
Tudo acabô
E o cocá
Tô fraco
Tô fraco
Tô fraco
Tô fraco
E o sofrê
Sofrê, prá que?
Sofrê, prá que?”
............Já se afirmou
que enfrentar a oralidade é pôr em crise os tradicionais
discursos literários. É imaginar um novo modo
de narrar e de escrever. Narrar no mesmo tom e compasso do
viver-escreviver de tal forma que não haja mais distância
entre quem narra, o que narra e quem lê. Esta sintonia,
a escritora alcançou pela sua contínua experiência
em reciclagem, molecando na Fazenda Cabeça Torta em
Pedra Azul, aprendendo a movimentar o jogo das palavras. “Nessa
fluidez, da matéria imaginativa, a ilustração
de Claudio Martins aponta para novos contextos verbo-visuais,
entre o olho que vê e o que lê, imprevisíveis
ao leitor.” E agora, meus amigos, fiquemos com as brincadeiras
rimadas, exultemos com o temperamento poético de Clarice,
e deixemos dar razão à criança que nos
revela a ciranda da infância, ou cantemos como os seresteiros,
entregando-nos de corpo e alma às encantações
da linguagem da escritora, estrela-amante de Montes Claros,
Maria Jacy Ribeiro.
ANÁLISE
DE COMPORTAMENTO
EM “TUTAMEIA”
Petrônio
Braz
Cadeira Nº 18
Patrono: Brasiliano Braz
............Busca-se
aqui uma análise psicoliterária das motivações
de um conto da última obra do imortal Guimarães
Rosa, o grande Viator, o criador de uma linguagem de laboratório,
como quer Peregrino Júnior, “com a sábia
utilização da extraordinária capacidade
de conhecer idiomas que detinha, mas também na sua
estrutura íntima de criador da estru¬tura da ficção
brasileira”. Olhando, como disse Levy Carneiro, “o
manto diáfano da fantasia”, que ele viveu e escreveu
“com profundo sentimento de solidariedade humana”
ou “trabalhando a palavra até o sacrifício”,
como afirmou Afonso Arinos, inovando sem destruir, em absoluto
contraste com Mário de Andrade.
............Com Guimarães
Rosa o Brasil deixou de ser uma província cultural
no sentido spengleriano como acerta¬damente sustenta Assis
Brasil. Muito se tem de debruçar sobre a obra de Guimarães
Rosa, como afirmou Austregésilo de Athayde no seu discurso
de adeus ao imortal dos imortais, “para a percepção
da genialidade que dele transluz, no vigor das intuições
viris que perpassam por tantas páginas de SAGARANA
a TUTAMEIA com enigmas propostos à curiosidade e ciência
das gerações”.
............Não
será só em TUTAMEIA, de Guimarães Rosa,
nem em NOITE, de Érico Veríssimo, que os enigmas
se apresentam vivos a exigir propostas à curiosidade
e ciência das gerações. Apesar da crise
por que passa a literatura brasileira, depois de Guimarães
Rosa, como atesta Assis Brasil, muitas são as obras
literárias dignas de lugar de destaque no conceito
da geração presente.
............Literatura enquanto
arte é pouco razão e muita fantasia, mas fantasia
do imaginário em busca do real. É da divagação
pura e simples que nasce a dinâmica da imaginação,
onde o real e o imaginário convivem de forma convergente
como fatores determinantes da criação literária.
Dentro dessa conceituação genérica toda
literatura de ficção será uma psicoliteratura,
sem que seja necessário extrair-se da exegese do seu
conteúdo deduções freudianas. Da obra
de Augusto dos Anjos se escreveria um trata¬do
psíquico-exegético e o fundo psicológico
se assenta no acervo de Machado de Assis, voltado para a pessoa,
tendo o espírito como condutor do comportamento humano.
Todo texto literário, como quer Irene Sampaio, advém
da dinâmica criadora, que se instala na intimidade psíquica
do autor.
............Qualquer leitor bem
avisado pode adentrar através da observação
introspectiva de um personagem, fruto da criação
de um autor, explicações para seu comportamento
e, através dele, do comportamento do próprio
autor, sem necessidade de buscar em Descartes, Leibniz ou
Spinoza o socorro da metafísica, colocando-se no absoluto
para deduzir daí o comportamento humano.
............Em toda obra literária,
como quer Freud, está presente uma relação
entre o autor e o seu próprio devaneio, pois a alma
humana, dizia Leibniz, como produto desen-volvido de inúmeros
elementos, é o espelho do mundo.
............Na primeira leitura
de TUTAMEIA, preocupado com o enredo, escapou-me a percepção
dos fatores de comportamento dos habitantes de “Barra
da Vaca” ante a presença de Jeremoavo. Das quarenta
histórias de TUTAMEIA destaquei “Barra da Vaca”
para o presente trabalho, que ouso dar à luz da publicidade.
Sucedeu
então vir o grande sujeito entrando no lugar, capiau
de muito longínquo: tirado à arreata o cavalo
raposo, que mancara, apontava de noroeste, pisando o arenoso.
Seus bigodes ou a rustiquez - roupa parda, botinões
de couro de anta, chapéu toda a aba - causavam riso
e susto. Tomou fôlego, feito burro entesa orelhas,
ao avistar um fiapo de povo mais a rua, imponente invenção
humana. Tinha vergonha de frente e de perfil, todo mundo
viu, devia também alentar internas desordens no espírito.
Sem jeito de acabar de chegar, se escorou a uma porta, desusado
forasteiro. Requeria, pagados, comida e pouso, com frases
pálidas, se discerniu por nome Jeremoavo. Mesmo lá
a Domenha, da pensão, o velho deu à aldrava.
Desalongou-se, porém, e - de tal sorte que dos lados
dobrava em losango as coxas e pernas de gafanhoto - se amoleceu,
sem serenar os olhos.
............Era,
pela descrição, Jeremoavo (nome por ele colhido
provavelmente em Euclides da Cunha: Jeremoabo) um indivíduo
alto (sucedeu então vir o grande sujeito), de pernas
longas (pernas de gafanhoto), de onde se pressupõe
possuía, como componente do corpo, braços longos.
Pelas ca¬racterísticas descritas pelo autor-narrador
e, segundo Kretschmer, dentro de sua teoria tipológica
do comportamento humano, que o Autor necessariamente conhecia
por sua condição de médico e pela invejável
cultura geral, indicado ficou que era Jeremoavo taciturno
e pouco comunicativo, de comportamento tímido e insociável,
incluindo-se no tipo ectomorfo de Sheldon, de personalidade
introvertida. Protegido pela sugestão do prestígio
ou da influência que um ou mais elementos exercem sobre
o comportamento social, Jeremoavo foi sendo aceito pela comunidade.
Representando
homem de bem e posses, quando por mais não fora,
a ele razão era devida. Se’o Vanvães
disse, determinou. Visitaramno.
............A hipótese
levantada de ser Jeremoavo um jagunço de Antônio
Dó, nascida por acaso, de comentário indefinido,
como estímulo ou impulso promove uma agitação
coletiva excitando emoções variadas como fenômeno
consciente e dinâmico dos motivos que, por seu turno,
excita o sur¬gimento de uma frustração social.
............Sem donde se
saber, teve-se aí sobre ele a notícia. Era bravo
jagunço! Um famoso, perigoso. Alguém disse.
Se estarreceu a Barra da Vaca, fria, ficada sem conselho.
Somente alto e forte, seria um jerê, par de Antônio
Dó, homem de peleja. Encolhido modorroso, agora, mas
desfadigando podendo-se desmarcar, em qualquer repêlo,
tufava. Se’o Vanvães disse a Seo Astórgio,
que a Seô Abril, que a Seô Cordeiro, que a seu
Cipuca: - “Que fazer!? - nessas novas ocasiões.
Se assentou que, por ora mais o honrassem.
............Uma
excitação sobre outra desenvolvida conduz à
fantasia coletiva da imaginação de ser Jeremoavo
um jagunço bravo e famoso, conclusão que lhe
dava a condição de homem perigoso. O prestígio,
decorrente da hipótese, estabeleceu uma forçada
facilitação social para sua perma¬nência
na Barra da Vaca, sob custódia.
............Se’o Vanvães,
dada a mão, levou-o a conhecer a Barra da Vaca - o
rio era largo, defronte - povoação desguardada,
no desbravio. Seo Astérgio convido-o. Esti¬mou
a boa respondência, por agrado e por respeito.
............A frustração,
como processo de interação, antecedeu à
hostilidade, num crescendo. Sua permanência provocava
suspeita.
............Não aluía
dali, porque patrulho espião, que esperava bando de
outros, para estrepolirem.
............O
estado psíquico, pela narrativa de flagrante, nasce
com a própria naturalidade do conto, onde os estados
mentais se multiplicam a cada instante. Aqui se confirma o
conceito de emoção emitido por Woodworth como
um estado de agitação do organismo, nascido
de um impulso consciente, que leva a uma atitude definida.
Sua perma¬nência incomodava, mas continuava a receber
obséquios, pois nada tinham conscientemente contra
ele. Não existiam motivos reais, mas de forma inconsciente,
e Freud afirmou que os motivos são quase sempre inconscientes,
confa¬bularam um modo de se livrarem dele.
E
aquela aldeiazinha produziu uma ideia.
............A hostilidade não
levou a uma brutal agressão, mas a prevalência
do comportamento social determinado por impulsões inativas,
como quer McDougall, ou por reflexos prepotentes se ficarmos
com Allport, definiu a supremacia do instinto de conservação
sobre a razão. Em evidência “a primeira
lei da natureza”, que levou à rejeição,
um dos seis mais importantes reflexos prepotentes identificados
por Allport, produzindo a inconformidade com a presença
do intruso. Negligenciada a consciência, como querem
os behavioristas, o comportamento dos habitantes de Barra
da Vaca foi instintivo, por motivo inconsciente, conduzido
pela necessidade coletiva de autodefesa.
............Ocorre,
então, como disse Afonso Arinos, “o frêmito
coletivo e trágico da vida heroica”.
............De
pescaria, à rede, furupa, a festa, assaz cachaças,
com honra o chamaram, enganaram-lhe o juízo. Jeremoavo,
vai, foi. O rio era um sol de paraíso. Tão certo.
Tão bêbado, depois, logo do outro lado o deixaram,
debaixo de sombra. Tinham passado também, quietíssimo,
o cavalo raposo.
............Fazendo-o
bêbado, inconsciente, transportaram-no para a margem
oposta do rio, com esmerado cuidado, prenhe de precauções
para evitar represálias. Deixaram-no protegido pela
sombra de uma árvore qualquer tendo ao lado o cavalo
e seus pertences. De hóspede, transformou-se Jeremoavo
em intruso indesejável, à bala recebido se voltasse.
............Lá,
os homens todos, até o de dentro armados, três
dias vigiaram, em cerca e trincheira! Voltasse, e não
seria ele mais confuso hóspede, mas um diabo esperado,
o matavam. Veio, não.
............Vencidos
os reflexos ou os impulsos inativos, foram chamados à
realidade.
............Dispersou-se
o povo, pacífico. Se riam, uns dos outros, do medo
geral do graúdo estúrdio Jeremoavo. Do qual
ou da Domenha sincera caçoavam. Tinham graça
e saudades dele.
............Ausente
o forasteiro, por uma percepção emotiva consciente
do fato excitante, a expressão corporal do riso sucedeu
à alegria. O Atlas das Representações
Literárias de Regiões Brasileiras, Volume 2,
editado pelo IBGE em 2009, apresentando a literatura da região
dos Currais do São Francisco em Minas Gerais, observa
que o sertão, especialmente o sertão do Norte
de Minas, “está retratado em obras clássicas
da literatura nacional. Talvez a mais clássica delas
- Grande sertão: veredas, de João Guimarães
Rosa - seja também a mais emblemática dessa
região”.
ENCONTRO
CADAVÉRICO
Reginauro
Silva
Cadeira N. 11
Patrono: Ari Oliveira
............Ontem,
encontrei-me com meu cadáver. Sério. Lívido.
Compenetrado. Excessivamente gelado. Digo isto porque nada
me impressiona mais no meu cadáver do que sua extrema
frieza. Nem mesmo a rigidez...
............Encontrei
meu cadáver num corredor público. Quer dizer,
um encontro mórbido num cenário macabro. Como
sempre, meu cadáver chegou assim sem cerimônias,
estendeu a mão e ficou lá, cara de paisagem,
esperando que eu o imitasse. Vagarosamente, disse-lhe oi,
fitei seus olhos de imagem e ofereci-lhe as pontas dos dedos.
Tudo sem pressa, no compasso da lerdeza circundante.
............Vultos passavam ao
largo e não davam conta de nossa presença naquele
corredor burocrático. A sensação invisível
é de que não acrescentávamos nada à
pasmaceira ambiental, assim como aqueles fantasmas também
nada agregavam à nossa insensatez. Éramos dois
insossos flutuando num mar de isopores. Eu e meu cadáver.
Projetava-se
no horizonte o fim das vontades;
O
fim das querências;
O fim das liberdades;
O fim das carências.
Lia-se no semblante sem alma do meu cadáver a falta
de ação;
A falta de atenção;
A falta de tesão;
O excesso de ilusão.
Entre mim e meu cadáver imperava o amor que se foi;
A paixão que passou;
O beijo que marcou;
O gozo que miou...
Sorvíamos, eu e meu cadáver, o gosto amargo
do fel;
O torpor da anestesia ambivalente;
O silêncio da madrugada indormida;
O murmúrio do jazigo revisitado.
Algumas lições tiradas do encontro entre mim
e meu cadáver:
Não se pode tentar o imponderável;
Não se enxuga gelo no molhado;
Não se derrete toalha no sorvete;
Não se constrói sobre pilares de nada.
............Pensava
tudo isso enquanto meu cadáver fitava o horizonte como
se contemplasse a desconstrução da constituição.
Como se descomesse a epiderme espiralada do castelo ambíguo
da depressão acasalada.
............Por mais que assim
sugerisse, eu não conseguia de toda forma embalar-me
pela suavidade disforme daquele cadáver prostrado naquela
esquina administrativa, como se nem cadáver fosse.
Como se fosse uma coisa. Recusava-me, assim, a destruir minhas
partes como se imerso numa repentina serpentina de células
e neurônios congelados em massa de ectoplasmas.
............Meu cadáver,
va-ga-ro-sa-men-te, começou a adentrar o mundo depressivo
da aridez endêmica em que se transformara, mas eu relutava
em seguir-lhe os passos, por mais convincentes que fossem
seus desargumentos. Num quase inaudível sussurrar,
soletrou então meu cadáver que estava indo embora.
............E
se despediu sem maiores cerimônias.
HISTÓRICO
DOS MUNICÍPIOS
DO NORTE DE MINAS
Roberto Pinto da Fonseca
Cadeira N. 92
Patrono: Sebastião Tupinambá
INTRODUÇÃO
............O
desenvolvimento demográfico de Minas Gerais se deu
a partir das regiões mineradoras de ouro e diamante.
Em 1720, quando as Minas Gerais dos Cataguás foi elevada
à categoria de capitania, desmembrando-se de São
Paulo, já existiam no estado sete vilas: Mariana, Ouro
Preto, Sabará, São João Del Rei, Serro,
Pitangui e São José Del Rei (Tiradentes).
............A evolução
populacional e administrativa do estado se processou, sobretudo,
a partir desses centros, estabelecendo novos pontos de fixação
populacional em regiões diversas do estado.
............Para se ter uma ideia
da rápida expansão demográfica de Minas,
na época da Independência existiam apenas 15
municípios. Em 1889, com a Proclamação
da República, eram 111. Em l940 o estado contava com
288 municípios; em 1943, esse número subiu para
316. Em l948 eram 388 municípios e, em l953, existiam
485 cidades. Atualmente o estado é formado por 853
municípios.
............Para
se compreender melhor esse processo de crescimento, apresentaremos
uma série da formação histórica
das cidades que compõem o norte de Minas, ressaltando
suas antigas denominações. Adiantamos que esta
série terá continuidade nas próximas
edições da revista do IHGMC.
CURATO DE MACAÚBAS
Igreja Senhor do Bonfim
............No
início do século XVIII, entre os anos de 1710
e 1720, as terras férteis localizadas entre os rios
Jequitaí e Macaúbas começaram a ser ocupadas
por agricultores e pequenos fazendeiros, oriundos de regiões
vizinhas, em busca de novos espaços para expansão
de suas atividades econômicas.
............Outro fator importante
que contribuiu para o incremento da povoação
tem caráter religioso - aspecto que ainda reflete fortemente
na população. Naquela época, surgiu no
povoado uma
imagem do Senhor do Bonfim e, como ninguém soubesse
explicar o aparecimento da imagem, passaram a atribuir ao
fato um caráter miraculoso. Para o povoado, então,
afluíram muitos devotos, o que fez com que o lugar
passasse a ser alvo de culto.
............Para a fundação
da cidade de Bocaiuva, o marco fundamental consistiu na doação
de terras, por parte do fazendeiro Faustino Leite Pereira
e sua esposa Antônia Leite, para a construção
da igreja em homenagem ao Senhor do Bonfim. Inicialmente,
a localidade denominava-se “Curato de Macaúbas”
- curato significa povoação comandada por um
cura ou vigário. Posteriormente, foi chamada Freguesia
do Senhor do Bonfim.
............Em 1873, o Curato
foi elevado à categoria de Vila, passando a se chamar
Vila do Jequitaí. Em 14 de julho de 1888, passou à
cidade, com a atual denominação. Alguns estudiosos
apontam a escolha do nome Bocaiuva em homenagem ao abolicionista
Quintino Bocaiuva.
............Em 1947 a cidade
tornou-se notícia em escala mundial e alvo da atenção
da comunidade científica: foi o único local
no mundo de onde se poderia melhor observar e estudar o eclipse
solar ocorrido naquele ano.
CURRALINHO
Estação
da Central do Brasil - Curralinho.
............A
origem da povoação se deve aos tropeiros que,
no século XIX, atravessavam a região, descendo
principalmente da Bahia para o Rio de Janeiro. Devido ao estabelecimento
de pequenos currais e roças para abastecerem essas
tropas, a povoação passa a se chamar Curralinho.
............Em 14 de setembro
de 1891, o distrito foi criado com sede na povoação
de Pilar, depois transferido para a povoação
de Curralinho, em 1911. Já a partir de 1906, a comunidade
se desenvolvia bastante com a chegada da Estrada de Ferro
Central do Brasil, cujos trilhos avançavam para o extremo
norte do Estado.
............O nome da cidade
de Corinto, em substituição a Curralinho, foi
escolha do vigário local, em homenagem a famosa cidade
grega.
............Em 7 de setembro
de 1923, foi promulgada a lei estadual que criava o município
de Corinto, desmembrando-o de Curvelo. O município
foi instalado em 20 de julho de l924, englobando as localidades
de Andrequicé, Nossa Senhora da Glória, Contria
e Santo Hipólito.
FAZENDA
DO RIACHÃO
Av.
Engenheiro Belford
............As
terras da fazenda do Riachão, propriedade da família
dos Teixeira de Toledo, deram origem à cidade de Buenópolis,
quando, em 1912, chegaram àquelas paragens do Alto
São Francisco os trilhos da Estrada de Ferro Central
do Brasil, onde estabeleceu a 11ª. Residência.
Para lá afluiu grande número de ferroviários
e familiares. O nome Buenópolis foi dado em homenagem
ao Dr. Júlio Bueno Brandão, governador do Estado,
quando da inauguração da Estação
da Estrada de Ferro.
............Em 19 de maio de
1927, a povoação foi elevada à categoria
de distrito, pertencendo a Diamantina. Em 17 de dezembro de
1938, tornou-se município.
SANTO
ANTÔNIO DA ESTRADA
Igreja
Matriz de S. Geraldo
............O
núcleo gerador de Curvelo foi uma pequena capela, que
por volta de 1700 era referência para tropeiros e viajantes
que trafegavam sobretudo entre os sertões baianos,
Rio de Janeiro, São Paulo e o centro de Minas. Um dos
primeiros residentes na localidade foi o padre Antônio
Ávila Curvelo, oriundo da localidade de
Morrinhos, atual Matias Cardoso, onde exercia a função
de vigário. Esse personagem notabilizou-se no cenário
político, com embates inclusive com o poderoso Conde
de Assumar, em 1718.
............Em 1720 foi criada
a freguesia, passando a denominar-se Santo Antônio de
Curvelo. Em 13 de outubro de 1831 foi elevada à condição
de vila e, em 30 de julho de l832, foi estabelecida a primeira
câmara. Curvelo pertenceu a diversas comarcas: Rio das
Velhas, até 1833; Serro do Frio, até l840; novamente
à de Rio das Velhas, até 1870 e finalmente à
comarca de Pitangui, até 1872.
............Em 15 de novembro
de 1875, foi elevada à categoria de cidade. A divisão
administrativa do município, em 1911, integrava os
distritos de Almas, Lagoa, Morro da Garça, Silva Jardim,
Piedade do Bagre, Andrequicé, Traíras, Ponte
do Paraúna, Ipiranga e Cedro.
ARRAIAL
DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS
Vista parcial
............O
bandeirante Fernão Dias Paes Lemes foi pioneiro ao
chegar à região do município de Coração
de Jesus, estabelecendo as bases do povoado. Por volta de
1777, foi concedida a Antônio José da Costa a
primeira sesmaria. Este, juntamente com Francisco Ferreira
Leal, doou terras para a capela do povoado, já denominado
Arraial do Sagrado Coração de Jesus. Em seu
livro “Viagem pelas Províncias do Rio de Janeiro
e Minas”, Sant-Hilaire relata que em 1792 foi erguida
uma ermida em homenagem ao Sagrado Coração de
Jesus.
............Os primeiros habitantes
foram pessoas que fugiam das margens paludosas do Rio S. Francisco,
a procura de terras mais salubres. A partir de 1832, além
da criação de bovinos, o povoado teve um razoável
surto econômico com a exploração da borracha.
............Em 1832, a povoação
já era sede de distrito. A 30 de agosto de 1911, foi
criado o município de Inconfidência, tendo como
sede o povoado de Santíssimo Coração
de Jesus. A 20 de setembro de 1925, a sede do Município
de Inconfidência passa a cidade, recebendo o nome de
Coração de Jesus, conforme lei estadual de 20
de setembro de 1928. Em 1933, Ibiaí e Jequitaí
encontram-se incorporados à Coração de
Jesus, sendo que Jequitaí se emancipa em 1948. Em 1958
estão incorporados à Coração de
Jesus os distritos de: Ibiaí, Alvação,
Lagoa dos Patos, São Geraldo, São João
da Lagoa, São João do Pacuí e São
Joaquim.
ARRAIAL
DAS FORMIGAS
............A
origem de Montes Claros se remete aos bandeirantes quando,
a 13 de junho de 1553, parte de Porto Seguro a expedição
Espinosa-Navarro, sendo a primeira a penetrar no sertão
norte-mineiro, habitado então pelas tribos Tapuias
e Anaiós. No entanto, somente com a expedição
de Fernão Dias Paes Leme, que buscava esmeraldas na
“Serra Resplandecente”, é que os sertões
da Capitania de São Paulo e Minas de Ouro começaram
a ser conquistados. Antônio Gonçalves Figueira,
fundador de Montes Claros, era integrante da bandeira de Matias
Cardoso, que, por sua vez, era adjunto de Fernão Dias.
............No
início do século XVIII, após algum tempo
residindo em Ituaçu, na Bahia, onde administrava propriedades
dedicada ao plantio da cana-de-açúcar, Gonçalves
Figueira parte novamente em busca de metais e pedras preciosas,
estabelecendo no vale do Rio São Francisco as fazendas
Jaíba, Olhos D´Água e Montes Claros, estando
a última localizada às margens do Rio Verde
Grande, próxima a montes calcários, sendo talvez
esta a razão do topônimo local.
Praça Dr.Chaves - Igreja Matriz
............Em
12 de abril de 1707, foi concedida por alvará uma sesmaria
a Antônio Gonçalves Figueira, constituindo a
fazenda Montes Claros. Com o emprego de mão-de-obra
indígena e escrava, iniciou-se o cultivo da terra e
a criação de gado. Com o desenvolvimento dos
primeiros núcleos de população, fundou-se
o povoado de Cruzeiro, que foi devastado pela varíola
por volta de 1808. Os refugiados do surto da doença
se estabeleceram no Arraial de Formiga, o segundo povoamento,
que com o rápido aumento populacional e ponto referencial
de tropeiros passou a se desenvolver rapidamente.
............Em 13 de outubro
de 1831, por decreto imperial, a povoação de
Formiga é elevada à categoria de vila e instalada
a 16 de outubro de 1832, com a denominação de
Vila de Montes Claros de Formiga. A 3 de julho de l857, a
vila passa à categoria de cidade, com o nome de Montes
Claros, que contava com uma população estimada
em 2000 habitantes. Em 1830, a comunidade já contava
com uma escola; em 1834, com um juiz de direito, o Dr. Jerônimo
Máximo de Oliveira e, em 1884, publica o pioneiro jornal
“O Correio do Norte”. Em l879, foi criada a Escola
Normal. O processo de industrialização se inicia
em 1882, com a inauguração da fábrica
de tecidos do Cedro. O Mercado Municipal teve suas portas
abertas em 3 de setembro de 1899, beleza arquitetônica
que se localizava no Largo de Cima, atual praça Dr.
Carlos Versiani, em homenagem ao primeiro médico da
cidade, que se estabeleceu na cidade em 1847. A Santa Casa
foi fundada em 1871.
............Conforme a divisão
territorial vigente em 1954, o município de Montes
Claros era constituído pelos distritos de Mirabela,
Miralta, Patis, Santa Rosa de Lima, São João
da Vereda e São Pedro da Garça.
SÃO
JOAQUIM DA PORTEIRINHA
Praça
da Bandeira
............A
cidade de Porteirinha surgiu como referência e pouso
para os viajantes e tropeiros que percorriam a região
vindos da Bahia, de outros pontos do Nordeste e do Sul do
Brasil. A estrada de acesso, em determinado trecho da clareira,
se assemelhava a uma porteira - daí a origem do nome.
............Além dos viajantes,
os primeiros habitantes que se fixaram na região em
princípios do século XVIII, como todos os exploradores
da época, vieram em busca de ouro. Com a decadência
do metal, passaram a dedicar-se à lavoura, com emprego
de mão-de-obra escrava. Os primeiros proprietários
possuíam suas terras em lugares chamados Serra Branca
e Gorutuba. Ao aglomerado principal deu-se o nome de São
Joaquim da Porteirinha.
............Outra versão
sobre a formação da comunidade é a de
que habitantes da localidade de Nossa Senhora da Conceição
de Jatobá foram os primeiros a formarem o povoado de
São Joaquim da Porteirinha.
............Em 22 de setembro
de 1921, a sede do distrito de Jatobá transferiu-se
para o povoado de São Joaquim. Conforme a divisão
administrativa do Estado, e de acordo com a lei estadual de
07 de dezembro der 1923, o povoado pertencia ao município
de Grão Mogol.
............O município
de Porteirinha foi criado em 17 de dezembro de 1938, formado
por 3 distritos: a sede, Riacho dos Machados e Gorutuba. Em
1943 é incorporado o distrito de Serranópolis.
O Censo de 1950 apontava uma população de 27.081
habitantes.
SANTO ANTÔNIO DE SALINAS
............Foi
o bandeirante Antônio Luís dos Passos um dos
primeiros desbravadores da região de Salinas. Vindo
dos sertões baianos em busca de riquezas, encontrou
grandes jazidas de sal, produto ainda de difícil exploração
e de elevado preço.
............Com
essa descoberta, inicia-se o processo de povoamento da região.
Faustina Fernandes Pessoa, grande proprietária rural,
doa terras para que seja erguida uma capela em homenagem a
Santo Antônio. Os exploradores das jazidas de sal constroem,
então, suas casas em volta da capela. Desenvolve-se,
assim, o povoado de Santo Antônio de Salinas, ligado
a Rio Pardo de Minas.
Av. Oswaldo Cruz
............Em
16 de maio de 1855, criou-se a freguesia de Santo Antônio
de Salinas, emancipando-se de Rio Pardo de Minas em 18 de
dezembro de 1880. Com a decadência das minas de sal,
a economia da região se volta para a agricultura e
a pecuária, sendo Vicente Ferreira Costa um dos pioneiros,
que muito contribuiu para o desenvolvimento regional. A instalação
do município ocorreu em 19 de janeiro de 1883, e, finalmente
em 4 de outubro de 1887, a sede municipal recebe foros de
cidade. Em 1911, a divisão administrativa engloba 4
distritos: Salinas, Amparo do Sítio, Águas Vermelhas
e Santa Cruz de Salinas, sendo que o distrito de Taiobeiras
é incorporado em 1923, emancipando-se em 1953.
VILA
RISONHA DE SÃO ROMÃO
Av. Quintino Vargas
............O
Tráfego fluvial do rio São Francisco se tornou
uma das mais importantes vias de comunicação
com a Bahia, sobretudo com a descoberta das minas de ouro
no interior das Gerais. O “caminho dos currais”
passa, então, a ser alvo de interesses e proibições
da coroa portuguesa, que ainda não tinha uma administração
efetiva na região. Buscando minimizar os efeitos nefastos
aos os seus cofres em função do contrabando
de ouro, dos escravos fugidos, do livre comércio, dos
foragidos da justiça, dos constantes assaltos a caravanas,
dos índios, a coroa resolve intensificar o controle
regional. Para a tarefa de policiar e controlar a região,
foi destacado Januário Cardoso, sobrinho de Matias
Cardoso.
............Visando a pacificar
e conquistar uma ilha que dividia o rio em dois braços,
foi destacado Manoel Francisco de Toledo, guiado pelo português
Manoel Pires Maciel. Após violentos combates, os índios
Caiapós, que habitavam a ilha, foram derrotados e exterminados.
Essa primeira vitória pelo controle da área
ocorreu no dia 23 de outubro de 1719, dia de São Romão,
nome que passa a denominar a ilha conquistada e o povoado.
............O
povoamento foi palco do primeiro movimento de revolta contra
as autoridades portuguesas, que extorquiam as economias da
população com os altos tributos cobrados. Em
1736, surge uma série de revoltas que ficaram conhecidas
como “os motins do sertão do São Francisco”,
que foram duramente repreendidas pelas autoridades portuguesas,
prendendo as lideranças e dominando o arraial de São
Romão. Os revoltosos planejavam depor o governador
de Minas, Martinho de Mendonça, marchando contra a
capital, Vila Rica. As lideranças sertanejas não
tiveram as glórias póstumas dos inconfidentes,
mas os nomes de Dona Maria da Cruz, André Gonçalves
Figueira, Pedro Cardoso e Domingos do Prado e Oliveira serão
lembrados.
............A 13 de outubro de
1831, o arraial foi elevado à categoria de vila, denominando-se
Vila Risonha de Santo Antônio da Manga de São
Romão, um nome contraditório com o seu passado
de lutas. Em 1871, a sede da vila de São Romão
foi transferida para a das Pedras dos Angicos (São
Francisco). O município foi criado em 7 de setembro
de 1923, sendo instalado em 3 de março de 1924, englobando
Arinos, Formoso e Capão Redondo. Em 1955 é,
elevado à Comarca de Primeira Instância, sendo
reinstalada pelo Poder Judiciário em 1986.
GORUTUBA
Praça Dr. Rochert
............Conforme
a tradição, os primeiros habitantes da região
eram mestiços, de origem tapuia e negra. Ao povoarem
o Vale do Rio Gorutuba, ficaram conhecidos como gorutubanos.
............Em 1872, se estabelece
na região Francisco Barbosa, que com a família
ocupa a fazenda Gameleira, denominação que também
foi empregada para a povoação. Até o
ano de 1933, a atual cidade de Janaúba era um simples
povoado, formado basicamente por residências rurais
e conhecido na região como Gorutuba.
............Outros proprietários
se estabeleceram e foram importantes para o desenvolvimento
local, como Américo Soares de Oliveira, Antônio
Catulé, Mozart Mendes e Santos Mendes, que doou terras
para a formação do povoado.
............Em 1939, foi erguida
a capela do Senhor Bom Jesus. Com a chegada da Estrada de
Ferro Central do Brasil em 1943, acelerou-se o desenvolvimento
do povoado, sobretudo com o estabelecimento de operários
que trabalhavam na construção da ferrovia, que
seguia em direção à Bahia.
............Em 31 de dezembro
de 1943, a povoação foi elevada à categoria
de distrito, recebendo o nome de Janaúba. O engenheiro
Dr. Demóstenes Rochert, responsável pela construção
da estrada de ferro de Montes Claros a Espinosa, muito influenciou
para a emancipação do município, que
finalmente foi criado a 27 de dezembro de 1948 e instalado
em 01 de janeiro de 1949, desmembrando-se de Francisco Sá.
SERRA
DE SANTO ANTÔNIO DO ITACAMBIRUÇU
............A
primeira expedição que adentrou, em l553, o
atual território de Grão Mogol foi chefiada
por Francisco Bruzza Espinosa. Em 1674, foi a vez de Fernão
Dias, que em busca de esmeraldas percorreu a região,
onde fundou o arraial de Itacambira. Em 1781, foi descoberto
diamantes na Serra do Grão Mogol.
............Por esse tempo, partiu
do arraial do Tijuco (Diamantina) uma expedição
em direção a Serra do Itacambiruçu, com
a fina lidade de descobrir as riquezas em diamantes que ali
se calculavam existir. Toda essa movimentação
provocou a atração de aventureiros para a região.
Com o aumento do fluxo de pessoas, formou-se o povoado da
Serra de Santo Antônio do Itacambiruçu, posteriormente
arraial da Serra de Grão Mogol, região pertencente
ao município de Montes Claros.
Vista da cidade
............Diz-se
que o lugar também já se chamou “Grande
Amargor”, devido às lutas sangrentas, com grande
número de mortos, ocorridas entre os garimpeiros e
as forças portuguesas encarregadas de controlar e fiscalizar
essa rica região mineradora.
............Antes mesmo de sua
elevação a distrito, foi o povoado elevado à
categoria de vila em 1840, constituindo-se junto com os distritos
de Serra de Grão Mogol, Santo Antônio do Gorutuba
e São José do Gorutuba. A criação
do município deu-se em 1849, sendo a sede municipal
elevada à categoria de cidade em 1858.
............Em 1911, alterou-se
a constituição do município, que passou
a integrar-se dos distritos de Grão Mogol, São
José do Gorutuba, Itacambira, Santo Antônio do
Gorutuba, Extrema, Riacho dos Machados e Jatobá. Em
1923, desmembrou-se o distrito de Santo Antônio do Gorutuba
para dar formação ao novo município de
Brejo das Almas, atual Francisco Sá. Em 1938, perde
para o recém-criado município de Porteirinha
o distrito com essa denominação e também
os de Gorutuba e Riacho dos Machados, passando a compor-se
com o distritos de Cristália, Santo André e
Itacambira. Em 1943, estabelece-se o distrito de Botumirim,
com sede no povoado de Serrinha e terras desmembradas dos
distritos de Cristália e Itacambira. Também
se alterou para Catuni o nome do distrito de Santo André.
............Grão Mogol
é uma velha cidade formada pelos garimpeiros que outrora
revolviam o cascalho de seus córregos e ribeiros a
procura de diamantes. A origem da cidade explica o declínio
que sofreu durante décadas, mas com o advento do turismo
e novas perspectivas econômicas da região, os
tempos estão melhorando. Seu território é
atravessado de sul a norte pela cordilheira do espinhaço
ou Serra Geral. A cidade esta situada no dorso da serra que
lhe deu nome, com diversas elevações superiores
a 1550 metros. De forma justa cognominada “Cidade presépio”,
tem nas suas antiguidades e no seu clima ameno motivos de
atração para os visitantes.
BREJO
DAS ALMAS
............Por
volta de 1704, Antônio Gonçalves Figueira, proprietário
das fazendas Olhos D’Água, Jaíba e Colônia
Montes Claros, com a intenção de ligar essas
fazendas ao Gorutuba e aos currais da Bahia, promoveu uma
expedição rumando para o nordeste.
............Naquele mesmo ano,
no dia 2 de novembro, a expedição arma acampamento
às margens da Lagoa das Pedras, nas proximidades da
Serra do Catuni. Como era dia de finados, nomeou-se o local
Cruz das Almas das Caatingas do Rio Verde, erigindo no local
um cruzeiro.
............Também
se referiam ao local como Brejo das Almas, devido às
lagoas existentes na região e onde eram lançados
os corpos de viajantes e garimpeiros vitimas de salteadores
que infestavam o lugar. Posteriormente, erguem no local uma
capela em homenagem a São Gonçalo.
Igreja de S. Geraldo e atual prédio
da prefeitura
............Outra
versão para os primórdios do surgimento da localidade
se refere à instalação de um cruzeiro,
por um frei chamado Clemente. Desse local, nasceu o núcleo
da povoação, por onde passava a estrada em direção
a serra do Catuni.
............Em 1769, chegam à
localidade o major Antônio Gonçalves da Silva
e sua esposa Maria Pereira de Figueiredo. De posse de uma
Carta de Sesmaria, concedida pelo Governador da Capitania
de Minas Gerais, o Conde de Bobadela, tomam posse das terras
do arraial que então já se denominava Brejo
das Almas da Caatinga do Rio Verde. Em 1768, constroem a Igreja
Matriz.
............Também para
o arraial partiram influentes famílias do Serro do
Frio, como a de Joaquim Benedito do Amaral (1764), Manuel
Pereira e sua esposa Joaquina Pereira de Jesus (1806), o Capitão
Joaquim da Silveira (1810), todas comprando terras e construindo
casas de fazenda.
............A localidade de Cruz
das Almas, de acordo com o alvará de 23 de março
de 1823, fazia parte da freguesia de Itacambira, que por sua
vez foi anexada ao município de Minas Novas, fundado
em 2 de outubro de 1730. Minas Novas e Itacambira pertenciam
à comarca de Conceição de Jacobina, na
então Capitania de Porto Seguro, Bahia. Em 01 de maio
de 1757, essas regiões foram incorporadas a Capitania
de Minas Gerais, criada em 1720.
............Em 1839, o curato
de Brejo das Almas das Caatingas do Rio Verde foi elevado
a distrito, anexado à paróquia de São
José do Gorutuba, município de Grão Mogol,
que foi desmembrado em 1852 de Montes Claros. Em 5 de outubro
de 1870, o distrito de Brejo das Almas foi separado de Grão
Mogol e incorporado ao de Montes Claros.
............O distrito foi transformado
em Município de Brejo das Almas pela Lei 843, de 07
de setembro de 1923, desmembrando de Montes Claros e a sua
instalação ocorreu 01 ano depois.
............O topônimo
de Brejo das Almas foi mudado para Francisco Sá em
17 de dezembro de 1938, conforme decreto-lei estadual no.
148. A escolha do atual nome se deve a homenagear ao Dr. Francisco
Sá, engenheiro que exerceu a função de
Ministro da Viação e Obras Públicas.
___________________________
Bibliografia: Enciclopédia dos Municípios
Brasileiros - I.B.G.E. Ed. 1958 - Rio de Janeiro.
_____________________________________________
O
VELHO MERCADO
Ronaldo
José de Almeida
Cadeira N. 25
Patrono: Corbiniano R. Aquino
............Por
decreto municipal, nos idos de 1896, o senhor João
dos Anjos Fróis recebeu a incumbência de construir
o primeiro mercado municipal de Montes Claros; tratava-se
de pessoa altamente gabaritada para tal mister.
............A planta e o projeto,
moderníssimos, foram rigorosamente elaborados e executados
depois de muita negociação pelo engenheiro do
Estado, Frederico Gâmbara.
............João Fróis,
o encarregado da construção, não se sabe
o motivo, discordou do projeto do engenheiro Gâmbara
e, assim sendo, por sua própria iniciativa, decidiu
alterar as suas bases da construção e substituiu
pedras por peças de aroeira.
............No início
da tarde de 16 de novembro de 1897, poucos dias restavam para
a inauguração, quando então se ouviu
um grande estrondo, que colocou a população
da então sossegada Montes Claros em polvorosa. Várias
paredes do prédio, enfraquecidas devido à mudança
das bases da construção, ruíram. Alguns
operários se machucaram e um carneirinho morreu; felizmente
foi a única vítima fatal; o prejuízo
com o desabamento foi enorme.
............O
construtor João Fróis assumiu a culpa e, no
propósito de não se desviar mais do projeto
original, a partir de então, seguiu à risca
as especificações do engenheiro.
............O
mercado foi inaugurado sem a torre, que foi construída
tempos depois. Após ser erguida a torre, a senhora
Carlota dos Anjos doou um grande relógio para ali ser
instalado. Para tanto, o prefeito contratou na cidade de Curvelo
o relojoeiro Cândido Mena Barreto, profissional de enorme
prestígio. A chegada do relojoeiro foi precedida de
grande ansiedade e expectativa; era o assunto do dia.
............Não se tinha
notícia de nenhuma cidade do interior que ostentasse
um relógio de tal dimensão. Faziam comparações
com relógios públicos de cidades da Europa.
Mesmo ainda sem ser colocado na torre, o relógio já
causava orgulho nos moradores de Montes Claros.
............O relojoeiro Mena
Barreto trabalhava sob enorme pressão da população,
que exigia a brevidade do serviço, ignorando que a
atividade do expert obedecia rigorosamente ao prazo firmado
no contrato de trabalho.
............Cândido Mena
Barreto levantava-se cedo e dava início à lida,
sequer ia a casa para almoçar ou tomar café.
Quem lhe levava o lanche matinal e o almoço era sua
mulher, Miloca. A esposa do relojoeiro era uma mulher jovem,
de corpo escultural, cabelos longos e andar de gazela; despertava
olhares cobiçosos dos homens, por onde passava.
............O
vestido que trajava deixava à mostra, mesmo que pequena
parte, as suas pernas bem torneadas e grossas. Isso começou
a atrair os homens desocupados que plantavam-se ao pé
da escada e ficavam a olhar para cima, enquanto a zelosa mulher
fazia a dificultosa ascensão da escada, para entregar,
no topo, a marmita ao marido trabalhador.
............Alertada para o fato,
a dedicada esposa revoltou-se e passou a usar calças
masculinas na hora em que levava a comida ou café para
o marido. Vestida a rigor, caminhava até o local de
trabalho do
marido, causando revolta à assistência que protestava
inutilmente.
............Miloca, sempre austera,
embora ciente da sua beleza e do efeito que causava nos homens,
atravessava as ruas da cidade, sempre de cabeça baixa
e sem olhar para os lados; mesmo vestida com o traje masculino
a sua beleza imperava.
............Era de uma integridade
a toda prova; chegando ao mercado, galgava a escada e sentava-se
no último degrau, enquanto esperava o seu marido almoçar
e ou lanchar. Em seguida, descia os degraus e tomava o caminho
de casa, altiva como sempre. Não tomava conhecimento
da plateia mândria.
............Mesmo sem querer,
o fato de Miloca usar “calças de homem”
e transitar pelas ruas da cidade assim vestida provocava nas
“senhoras” da sociedade local, um espécie
de revolta; afinal, Montes Claros era uma cidade de férreas
tradições.
............As senhoras da sociedade
elaboraram, então, um severo manifesto de protesto
contra Miloca, pela a “falta de decoro”, afronta
à moral e aos bons costumes”.
............Para solucioonar
o problema, a jovem senhora abdicou da calça de homem,
voltando a usar os vestidos antigos; contudo, contou com a
compreensão de marido, que se dispôs a fazer
suas refeições ao pé da escada, evitando,
assim, que a sua bela esposa fizesse exposição
da sua linda figura subindo a escada para a alegria dos aficcionados
de plantão.
............Após a sua
instalação, o grande relógio tornou-se
uma espécie de atalaia dos habitantes da cidade; muitos
organizavam sua rotina norteando-se pelas badaladas sonolentas
que dele evolavam-se de hora em hora.
............Hoje o velho mercado
já não existe mais; foi demolido no ano de 1967,
por decreto do então prefeito municipal, Antonio Lafetá
Rebelo, em nome do progresso. Quanto ao velho relógio,
hoje se encontra instalado e mudo na torre da Catedral Metropolitana
Nossa Senhora Aparecida. Seus carrilhões já
não emitem mais nenhum som, certamente vencido pelo
banzo, dizimado pela inânia e fastio. Não tem
mais nenhuma valia.
DESCOBERTAS
INDÍGENAS
EM MONTES CLAROS
Simeão Ribeiro Pires
Patrono da Cadeira N. 93
............Por
curiosa coincidência, quase próxima à
data do centenário da cidade de nossa Montes Claros,
foi-nos agradável encontrar peças curiosas indígenas,
que remontam a recuados anos do passado.
............A nossa curiosidade
era mais que natural, pois, até então, nada
sabíamos de utensílios indígenas em nossa
cidade.
............Em pedreira próxima
à cidade (6 km.) na Fazenda do Cedro, em pequenas lapas
formadas pela erosão do calcário, foram encontrados
um pilão, ou almofariz, bem como uma ardósia
polida destinado à moagem no referido pilão.
............Embora já
conhecêssemos e até possuíssemos alguns
machados de pedra indígenas feito no granito e de outras
procedências distantes, achamos perfeitamente explicável
e natural, que os nossos antepassados, pela ausência
entre nós do granito ou gnaisse, se utilizassem de
material de menor dureza em seus utensílios, como no
caso, o calcário e a ardósia.
............Como, entretanto,
o sílex ocorre em grande quantidade na região
em torno de Montes Claros, achamos que não será
surpre sa, encontrarmos peças indígenas feitas
com o referido material, que é de grande dureza.
Utencílios encontrados na Fazenda do
Cedro - Montes Claros/Mg.
Um machado de pedra dos índios Botocudos, encontrado
nas margens do rio Verde Grande, no ano de 1975. Oferecimento
de Geraldo Alcântara.
............Mesmo
dentro da nossa cidade, em terrenos da fábrica de tecidos,
logo ao inicio de uma escavação interna, que
ali realizamos, encontramos um pedaço de ardósia
polida, que demonstra pelo seu desgaste o seu uso pelos indígenas.
............Posteriormente temos
sido informados de outros achados indígenas em nosso
meio.
............Seria interessante
que se concentrassem tais descobertas para o museu da cidade,
obra de relevo que já tarda e que será, se bem
conduzida, expressão de cultura do nosso povo.
............Aos estudiosos do
assunto podemos afirmar que existe entre nós farto
material para um estudo sério de pinturas rupestres
de curiosas interpretações, cemitérios
de índios e objeto de cerâmica indígena.
............Igualmente interessantes
seriam os estudos que se fizessem para determinação
dos índios que habitavam a nossa região.
............Seriam os Carijós,
Botocudos, os mesmos que no dizer do historiador Diogo de
Vasconcelos habitavam a região de Belo Horizonte?
............Que tenham a palavra
os entendidos no assunto.
_______________________________
Revista Montes Claros em Foco, nº 5, Setembro
de 1957.
O pilão de pedra, citado neste texto por Simeão
Ribeiro Pires, encontra-se
hoje na sede provisória do Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros,
uma vez que foi doado ao Instituto pela família do
Dr. Simeão Ribeiro Pires.
_______________________________
KONSTANTIN
CHRISTOFF e
SAMUEL FIGUEIRA
Wanderlino Arruda
Cadeira N. 33
Patrono: Enéas Mineira de Souza
............Leio
o bonito e completo texto do meu amigo e irmão Samuel
Figueira sobre o nosso amigo Konstantin Christoff, que acabou
nos deixando pela força dos 88 anos de vida, e me lembro
perfeitamente da primeira exposição de pintura
do Samuca, no prédio da Rua Justino Câmara com
Padre Teixeira, e da apresentação que fiz, com
palavras que soam até hoje na minha consciência,
como se aquele julgamento fosse eterno. Afinal, era a história
de um menino genial, que, adulto, se tornava mais genial ainda.
Abaixo, um pouco do que escrevi sobre o artista, a sua vida
e a sua arte:
............Um dia o garoto toma
coragem, veste a sua melhor roupinha, põe na cara o
melhor dos sorrisos, e corre pressuroso em busca do elogio
e do incentivo do já famoso futuro colega Konstantin
Christoff. Leva o mais trabalhado dos quadros, aquele mais
acadêmico, mais certinho, de pinceladas bem cuidadosas.
Pede a opinião e baixa a vista, modesto, temendo, antecipadamente,
as palavras de louvor. Mas tudo sai ao contrário, Konstantin,
jovem e fogoso, não sabe mascarar a verdade. Não
gostando, diz sinceramente ao menino que não gostou.
Faz mais: mando-o ir embora, esquecer o entusiasmo, jogar
fora os pincéis e as tintas e tentar fazer outra coisa
mais condizente coma sua vocação, que, de natural,
pelo que via, não seria a de pintor. O menino revolta-se,
fica com o espírito em brasa, assustado, coça
a cabeça e, em princípio, resolve aceitar o
conselho, a sugestão por mais terrível que ela
seja. Chateado, chateadíssimo, sai e volta para casa.
Triste e meditativo, raciocina melhor e conclui que está
diante de um grande desafio, o que até pode ter sido
o desejo de Konstantin. Analisa o passado, entrevê o
futuro, e toma uma decisão: nem Konstantin nem ninguém
pode ou vai sufocar o seu destino, sua vontade de ser artista.
Se com aquelas palavras Konstantin estava mesmo é querendo
despertá-lo, desafiá-lo, provocá-lo,
ele iria ver, iria conhecer a sua reação de
menino-homem, um grito de luta em busca de novo mérito.
E quem sabe, até de elogios!
............O que fez então
o menino? Voltou a sua energia em direção ao
próprio Konstantin, crítico ou conselheiro,
produzindo, de súbito, a sua primeira e revolucionária
composição moderna, uma mescla de variações
geométricas e instrumentais, em cores robustas e enérgicas,
pinceladas marcantes. Para compor o rosto, desenhou uma chave
inglesa, representando todo o conjunto facial; para traduzir
o cachimbo, enfiou-lhe um machado bem tosco na boca. Resultado:
uma figura chocante, mas de grande efeito. O crítico
Konstantin gostou. Gostou tanto, que o aconselhou agora a
buscar de novo, e com muito amor, os velhos pincéis
baratos. E que o garoto partisse para a realização
de novas e muitas tentativas. Procurasse ser menos Godofredo
e muito mais Samuel.
............Data daí a
nova fase da vida do artista Samuel. Pouca produção,
muito cuidado, mais procura de melhor qualidade. Ideias sobre
ideias. Formas sobre formas, transparências e coloridos
novos. Entusiasmo comedido, decidida concentração,
firmeza no ideal. Sem favor nenhum, pode-se considerar, em
face do tempo, que Samuel Figueira, também meu mestre
e crítico, é e será sempre um excepcional
desenhista e pintor, artista de primeiríssima linha.
Graças à inteligência, força de
vontade e talento, dos melhores da história de Montes
Claros. Sempre ele agradeceu isso ao amigo e colega Konstantin
Christoff. Eu também!
DOUTOR
RAMETA E
“OS MENINOS DO SAPÉ”
Wanderlino Arruda
Cadeira N. 33
Patrono: Enéas Mineira de Souza
............Nascido
em São Paulo, mas transmudado de vida e vivências
para a velha vila do Sapé, meio de mata e canteiro
de construção ferroviária, José
Rameta enriqueceu-se de realismo mágico e purificou-se
de simplicidade interiorana, qualidades endereçadas
à sua futura atividade literária. Acompanhando
Salvador, pai, no trabalho, e D. Lia, mãe, no trato
com as coisas de Deus e da casa, fez escola de humanismo,
preparou-se para conferir às pessoas e aos assuntos,
existência de eternidade. Observador sensível,
dotado de bondade e finura, nem a timidez lhe tira a capacidade
de construção do bem.Escrever, contar “causos”
tem sido um complemento das horas de trabalho do doutor ginecologista,
sempre muito ocupado, trabalhador que trabalha em área
de diversão de muitos, segundo poderia dizer a fala
alegre dos humoristas. O contista, é espelho refletindo
universos do consultório médico, das salas de
parto ou de cirurgia, que podem estar em qualquer parte do
mundo. Tem bom poder de enredar, criar, construir ambientes,
sugerir dramas, despertar emoções. Nele é
sempre perceptível a busca e a espera do clímax.Em
“Os Meninos do Sapé”, Rameta demonstra-se
um saudosista que sabe evocar cenas de encantamento tipo primeira
noite de um homem, recordos do garoto e do rapaz estudante.
Muitas são as visões que circulam entre o cômico
e o trágico, sempre temperadas de malícia comedida,
com doses de místico fatalismo. Um misterioso, muitas
vezes saudado pela maestria do balanço das frases e
das palavras, todas tão simples como o seu modo de
ser e de viver. Estas são as facetas que vão
despertar o leitor para uma leitura gostosa, transparente
como as águas do Rio Verde, que inspiraram o escritor,
a exemplo do rio da antiga Arcádia.Os lugares criados
pela escrita de Doutor Rameta são geográficos
e reais, embora universais e universalizantes, no ponto em
que estão isentos de fronteiras da política
ou da ideologia, uma contida cosmovisão da nossa pequena
humanidade. Seus dramas nunca constituem flagelos ou catástrofes,
porque, aí, a miséria e as fraquezas nunca se
mostram em clima de fratura exposta. A dor maior é
acidental e não causa gritos de estertor nem nos partos
difíceis, já que, com amor, quase religioso,
anestesiado. A dor menor, esta vem de fininho, matreira, solerte,
bem comportada, nunca ferindo nem corpo nem alma. Rameta trabalha
bem com as suas personagens, convive com elas, alegra-se e
sofre em fraterno companheirismo. Da-lhes foco de luz e boa
movimentação. Envolve-as com o toque cuidadoso,
escuta-lhes o coração, deixa-as em atmosfera
de confiança, sem barulho, sem pressões, cobrindo
com branco lençol as partes de maior pudor. Seu espaço
médico/poético/literário tanto pode ser
um hospital de estudantes em Belo Horizonte como a clínica
que divide com a doutora Maria de Jesus, sua mulher e colega.
Seu tempo/espaço pode ser também Montes Claros
ou as ruas poeirentas do Sapé, o bairrinho antigo de
onde nasceu Burarama, a cidade filha do Capitão Enéas
e de Salvador Rameta.Assim, não precisa nosso contista
criar um mundo fictício, não tem necessidade
de formar, inventar, machucar as palavras, para delas extrair
verdades ou meras ilusões. Filho de Dona Lia Rameta,
de suave misticismo, ele, sacerdote simpático de corpo
e alma, sabe mostrar fotografias mentais dos acontecimentos
sugestivos de sua profissão. Em torno dele, os fatos
simplesmente acontecem, encantados ou não, nem sempre
com sangue, os envoltos com placentas e cordões umbilicais.
Vindo à luz como artista da palavra e do bisturi, o
doutor José Rameta é, sobretudo, um doador de
existências, com choros e com sorrisos. Um agente de
felicidades. Os leitores de “Os Meninos do Sapé”
- ao contrário dos antigos romanos - dizem e poderão
dizer sempre: Salve, nobre Amigo, os que vão viver
te saúdam.
PREITO
AO PADRE MURTA
Zoraide
Guerra David
Cadeira N. 86
Patrono: Patrício Guerra
............Dentre
as lições dos evangelhos, analiso a que Jesus
reprova seus discípulos por sua falta de fé,
e se deixarem levar pela ansiedade e medo.
............Concluo: esse ensinamento
é dirigido ao cristão, alertando-o a não
vacilar diante das dificuldades que possam surgir. Em suma,
confiar em Cristo.
............Coloco-o em prática,
vencendo o desafio de resgatar sinteticamente uma longa e
rica história de vida.
Desafio, ante a imensidão do mar de amor e cultura
em que navegou o caro confrade
............CÔNEGO ADHERBAL
MURTA DE ALMEIDA - o saudoso PADRE MURTA.
............Sem conhecer o valor
dos construtores da cultura montes-clarense, torna- se difícil
fazer – lhes justiça, e seguir seus exemplos.
Por isso, necessário se faz propiciar-se um meio que
revigore a memória, porque se sabe que a memória
humana pode ser comparada a um arquivo fabuloso, que guarda
muitos fatos e conhecimentos, mas, com o passar do tempo,
ao envelhecer, pode relegá-los ao esquecimento.
............Na década
de 50, como interna no Colégio Imaculada Conceição,
de Montes Claros, conheci o Padre Murta, capelão daquele
educandário, graças à celebração
de missas diárias, e à convivência com
sua irmã Miriam, que ali também estudava.
............Ao longo do tempo,
oportunidades variadas aconteceram, para selarem uma amizade
profunda, na qual circulava a confiança em nossos diálogos.
............Confirma essa referência
a forma como ele se dirigia à minha pessoa ao me cumprimentar
ou até mesmo ao apresentar-me a alguém, cognominando
–me “capioa de Mortugaba” . Mortugaba é
meu berço amado! Cidade do sertão baiano, na
fronteira com Minas Gerais.
............Tive o privilégio
de, a seu convite, viajarmos juntos para sua terra natal.
Acredito que assim lançara mão de um meio para
despertar-me o desejo de escrever a monografia histórica
que exporia o valor de sua terra e sua gente, estimulado,
talvez, por ter prefaciado uma obra de minha autoria, honrando
–me sobremaneira com sua análise/ estímulo:
............“Parabéns,
Zoraide Guerra David, pelo seu trabalho - JACARACI ONTEM E
HOJE -, onde você registra para todos nós a rica
história construída pelos engenheiros que tão
sabiamente materializaram os sonhos dos filósofos jacaracienses.Cumpre-nos,
hoje, no lançamento da história desta Jacaraci,
(...) bater continência para os filósofos Gasparino
David e Francisco David, bater continência para os engenheiros
Mozart David e Antônio Evangelista Alves de Souza.
............Mas, diante da historiadora
Zoraide Guerra David, nós somos obrigados a nos ajoelhar.”
............Realmente, chegou
a revelar-me seu desejo, e acalentou seu sonho durante muito
tempo. Lamentável seu ideal não ter encontrado
acolhida pelo poder executivo daquele município, para
que
seu desejo se tornasse realidade, embora eu me tenha manifestado
oficialmente, dispondo – me a escrevê-lo. Infelizmente,
não houve respaldo.
............A realidade política
brasileira, no tocante a iniciativas literárias históricas
por particulares, sobressai-se pela falta de apoio.
Sempre que me era possível, visitava o Padre Murta,
para confirmar-lhe amizade e sorver suas lições
de vida.
............Por entre espaços
ornados com ricas e belas peças de arte em sua residência,
ele transitava descalço. Era a simplicidade personificada,
alegre e brincalhão. Delirava ao dar cocorotes nas
cabeças dos amigos, os quais perseguia, sorridente.
............Nas paredes de sua
residência, expunha quadros portando poesia, diplomas,
mensagens e homenagens recebidas.
............Em sua biblioteca,
rico arquivo através de pastas contendo recortes de
jornais, excelente fonte para pesquisa. Acolhia calorosamente
os amigos que o visitavam, e os conduzia até a cozinha
para brindar-lhes com farto e variado lanche, servido pela
fiel e zelosa Coló.
............Padre Murta nasceu
em Rubelita- MG, aos 8 de março de 1921. Estudou em
Salinas- MG. Em 1935, matriculou-se no Seminário Menor
Metropolitano de Pirapora do Bom Jesus –SP. A Antologia
da Academia Montesclarense de Letras- Vol. II – Edição
comemorativa dos vinte anos de sua fundação
13.09.66 – 13.09.86, registra o campo de atuação
cultural do Padre Murta:
............“Pertence à
Ordem dos Premonstratenses, tendo realizado o curso de Filosofia
Pura em São Paulo.
............Dedicando - se à
Educação, tem sido professor de Francês,
Latim, Filosofia da Educação, Psicologia da
Educação, Moral e Cívica e Problemas
Filosóficos, em diversos Colégios, Seminários
e Faculdades.
............No
mesmo setor, já dirigiu o Ginásio Brasil e o
Colégio Faria Tavares, em Ervália – MG,
o Colégio Padre Chico, e atualmente é o diretor
do Colégio São Norberto de Montes Claros, função
que exerce desde 1973.
............Grande orador dedicou-
se também às letras, colaborando nos diversos
jornais de Montes Claros.”
............Na década
de 90, o JORNAL DE NOTÍCIAS colocou à minha
disposição um espaço para publicar trabalhos
literários. Batizei-o com significativo título:
VITRINE DA AML.
............AML - Academia Montesclarense
de Letras, constelação a brilhar no setentrião
mineiro, caminha através do tempo, traçando
um rastro de luz, clareando a treva da desinformação,
elevando o espírito. Vivenciei vibração
total, pois nele eram expostas as joias literárias
que ornam aquele sodalício. Inaugurei o referido espaço
cultural ,expondo Cônego Adherbal Murta de Almeida,
com a mensagem por mim proferida no Centro Cultural Hermes
de Paula , ao ensejo das comemorações dos 90
anos de atuação benéfica da Ordem Premonstratense,
na Arquidiocese de Montes Claros:
............“Meu querido
Padre Murta:
............Considerando que
esta noite é uma noite de ternura (...). Considerando
que a criança e o jovem representam de fato um campo
onde, plantada a semente através da educação,
far-se-á uma colheita farta para o futuro; considerando
que o senhor é um semeador, dada a existência
do Colégio São Norberto, com suas edificantes
formaturas e da “Escolinha Pé no Chão”;
considerando que as manhãs montesclarenses acolhem
nosso espírito em prece se madrugarmos um pouco, e
chegamos juntos na Capela das Irmãs Mercedárias;
(...) considerando que o senhor sabe de forma incrível
tanta coisa, inclusive a divisão de tempo, é
que queremos gravar no coração e na história
de Montes Claros, a um só tempo, este momento de glória,
de graça e de beleza. E, antes de mais nada, devemos
dizer: Obrigada, Senhor!”
............E,
para esse registro, lanço mão de um soneto de
meu saudoso pai, Patrício Guerra, intitulado:
MÃOS
BENDITAS
Bendita seja a mão que a terra sulca e amansa,
E aduba, e fertiliza, e faz a semeadura,
E espera recolher feliz e sem tardança,
Os frutos que hão de vir na eclosão da fartura.
Bendita seja a mão que guia uma criança,
E imprime-lhe o dever como rija armadura;
Bendita seja a mão que grava uma lembrança,
Da prática do bem à geração futura.
Bendita seja a mão da mãe cristã que
faz juntar
As mãos de seu filhinho em são recolhimento,
E apontando-lhe o céu ensina-lhe a rezar.
Bendita seja a mão que em solene momento,
Pega a hóstia que benze e eleva sobre o altar,
E às almas distribui como eterno alimento.
............E
eu peço permissão a Patrício Guerra,
para acrescentar um pouco a seu poema: Bendita seja sua mão,
que, empunhando a caneta, deixou gravar no livro de posse
da AML, ADHERBAL MURTA DE ALMEIDA, para torná-lo sócio,
iluminando nossas almas, e fazendo-nos sequiosos da imensidão
do seu saber.
............Que Deus o conserve
na terra por muitos anos, para que a religião católica,
a educação de Montes Claros, a AML e todos nós,
que o amamos, possamos ser felizes. Mas... tenha certeza de
que, quando o senhor partir, continuará vivo, como
vivos estão S. Norberto, Pe. Chico e tantos outros
que o antecederam em sua caminhada apostólica.”
............Padre Murta, na AML,
ocupou a cadeira nº 42, Patrono Cônego Carlos Vincart;
e, no IHGMC – Instituto Histórico e Geográfico
de Montes Claros, a cadeira nº- 99, Patrono Waldemar
Versiani dos Anjos.
............Brindou
a muitos escritores com prólogos, epílogos e
apresentações de obras literárias, em
sessões de lançamentos.
............Em 2008, seu falecimento
causou profundo pesar e foi registrado por inúmeras
formas e pessoas. Minha homenagem póstuma, através
do acróstico LOUVOR E GRATIDÃO, retratou um
pouco de seu imenso valor e da lacuna causada pela falta de
sua presença física:
Pela sua presença neste mundo,
A fazer tanto bem a seus irmãos,
Dividindo a fortuna da cultura,
Realizando um plano de amor,
Elevamos nossa voz, em são louvor!
Marejamos
a face com saudade,
Unânimes sentindo sua partida.
Respeitando de Deus Sua vontade,
Tecemos louvor com gratidão,
A desejar-lhe só felicidade!
Montes Claros, maio de 2011.
PARABÉNS
AO “JORNAL DE LUZ”!
Zoraide
Guerra David
Cadeira N. 86
Patrono: Patrício Guerra
............Talvez
o leitor surpreso questione: - Jornal de luz? Jornal de papel
ou jornal falado, tudo bem. Mas... jornal de luz? E... a gente
consegue lê-lo? Será que não ofusca a
vista o brilho dessa luz?
............Elucidamos:
............Não. Seu nome
é peculiar!Não é apenas indicativo do
seu berço, mas de sua atuação espargindo
luz, através da seriedade de sua missão informativa.
............Trata-se de um veículo
histórico de comunicação, fundado por
Cândida Correa Cortes Carvalho – do qual é
diretora responsável e guardiã efetiva, para
que as notícias por ele divulgadas sejam vacinadas
contra matérias abjetas, como a pornografia que infesta
o mundo.
............Seu expediente expõe
dados que demonstram seu valor imensurável:
“JORNAL
DE LUZ
Comunicação e Cultura
A VOZ DO ALTO SÃO FRANCISCO
Reconhecido de Utilidade Pública pela Lei Municipal
nº 553/85 de 03/12/85”
............O
editorial do nº- 1120, de 22 de abril de 2011, deixa
explícita sua estrutura, bem como objetivos, através
de interessante
texto intitulado UMA HISTÓRIA DE AMOR,
............Cândida se
expressa:
............“Informar,
registrar fatos e eventos, cultuar a língua portuguesa,
a história de nossa gente, os valores do município
e da região, manter o luzense ausente, o amigo de Luz,
em sintonia com a nossa Terra. Deixar em cada edição
uma lição de vida. (...) Chegamos, hoje, no
30º- ano de circulação, com o mesmo entusiasmo
e amor pela nossa missão. Feliz por ter a honra e alegria
de dizer: jamais nos deixamos corromper. Chegamos a recusar
promessas vantajosas, mas falou mais alto a voz da nossa consciência.
Dividimos com os leitores, amigos, colaboradores e parceiros,
a alegria de comemorar o 30º- ano de circulação
do Jornal de Luz, jornal da Terra, até no nome –
igual a mim.”
............Na década
de 50, Cândida e eu estudávamos no Colégio
Imaculada Conceição de Montes Claros. Retornamos
a nossos pontos de origem: ela, para Cruzeiro da Fortaleza
– MG, e eu, para Mortugaba - BA. O correio teve importância
capital na sedimentação de nossa amizade, transportando
notícias e presentes.
............Mais tarde, passamos
a residir nas cidades mineiras de Montes Claros e Luz, permanecendo,
porém, um marco de identidade comum em nossa vida:
AMIZADE SINCERA.
............Cândida
é membro da Academia Municipalista de Letras de Minas
Gerais.
............Na
edição nº- 1048 do Jornal de Luz, contemplamos,
com vibração, sua imagem feliz, com discreta
alegria, ao ser condecorada com a Medalha Santos Dumont, em
26 de outubro de 2009.
............E o escritor Osório
Couto, seu confrade, registra:
............“-Assim é
a Medalha Santos Dumont, concedida pelo Governo de Minas Gerais,
àquelas pessoas que fizeram pelo Estado e sobressaíram
na vida profissional.”
............O escritor Ronaldo
Costa Couto, em substanciosa crônica (Jornal de Luz,
nº 971, de 25/4/2008, faz seu perfil: - “generosa,
criativa, ativa, incansável, uma guerreira do bem.”
............Sou agraciada com
sua leitura. Consta em meu arquivo uma pasta com significativo
título: “RETALHOS DE LUZ”. São vários
recortes que de fato iluminam o leitor.
............Graças ao
conteúdo dos fascículos da história luzense,
amplo leque informativo e cultural, considero-o parâmetro
para órgãos publicitários similares,
para informarem, fundamentando-se na verdade e respeito ao
tempo e à mente do leitor, perpetuando fatos e pessoas.
............Ronaldo Costa Couto
foi muito feliz ao perfilar a Diretora Responsável
do JORNAL DE LUZ:
“Cândida
é uma fada disfarçada de jornalista.
Sua magia é que dá vida e encanto ao Jornal
de LUZ”.
............Referendando seu
pronunciamento, asseguro o porquê: ética, justiça,
coragem, espiritualidade e amor são o quinteto responsável
pela vitória que ela experimenta.
............Parabéns Cândida!
Avante!
A
CONDECORADO UM MEMBRO
DO INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO
DE MONTES CLAROS
Ático
Vilas Boas da Mota
Sócio Correspondente
Macaúbas/BA
............Reportagem
de Alécio Brandão, diretor de imprensa da Fundação
Cultural Prof. Mota (Macaúbas).
............A
Embaixada Romena em Brasília realizou uma expressiva
solenidade de condecoração, quando foi agraciado,
no dia 18 de março do corrente ano, às 18 horas,
o Prof.Dr. Ático Vilas-Boas da Mota, veterano animador
cultural em Macaúbas, além de especialista em
assuntos culturais romenos. Ele recebeu a grande comenda intitulada
A Ordem Nacional, O Serviço Dedicado, no grau de Comendador,
o mais alto grau nessa matéria. A comenda foi entregue
pelo Embaixador e escritor Mihai Zamfir, após uma alocução
explicativa do alto gesto do seu país, levando em conta
o trabalho desenvolvido, no campo cultural,ao longo da vida
do homenageado, culminando com a recente publicação
do seu livro Brasil e Romênia, pontes culturais (1200
páginas), recentemente lançado na Academia Brasileira
de Letras (RJ).
............Vários diplomatas,
escritores e artistas compareceram àquela memorável
solenidade, destacando-se, entre outros, o Embaixador Gilberto
Vergne Saboia (Presidente da Fundação Alexandre
Gusmão / Itamarati), os embaixadores do Equador e do
Timor-Leste, escritores, artistas plásticos, o ministro
do STJ e escritor Fontes de Alencar, presidente da Associação
Nacional de Escritores (ANE), o editor Victor Alegria e sua
esposa Dona Isis, dedicada bibliotecária, o Sr. Constantin
Rusei, Ministro Conselheiro para assuntos culturais da Embaixada
Romena, acompanhado de sua descontraída esposa Dona
Tinca, o jovem Tagore Alegria, Superintendente técnico
da Thesaurus, além da presença honrosa do renomado
poeta João Carlos Taveira, membro da Academia Brasiliense
de Letras e do ilustre jornalista e escritor Dílson
Ribeiro, confrade do homenageado e representante da Academia
de Letras de Brasília, acompanhado de sua dileta esposa
Dona Gracinha.
............Da Bahia vieram participar
daquela reunião o magistrado Joaquim Coutinho, outro
animador cultural de Andaraí (BA), acompanhado de sua
esposa a educadora Tereza Coutinho, além do Prof. Alécio
Brandão, diretor de Imprensa da Fundação
Cultural Prof. Mota (Macaúbas - BA), que deu cobertura
ao evento.
............O condecorado usou
da palavra e fez uma espécie de declaração
de seu incondicional apreço pela Romênia, tomando
como pontos de referência os seguintes valores históricos
que muito dignificam aquele país:
1) Os geto-dácios, antepassados dos romenos, nunca
adotaram a escravidão. Muito pelo contrário,
abominavam-na, enquanto todos os seu vizinhos, ao lado de
outros povos em volta do Mediterrâneo, usaram-na sem
nenhum constrangimento, bastando lembrar Platão em
sua República que a considerava uma prática
muito normal;
2) A Romênia nunca fez uma guerra de conquista, sendo
todas aquelas que foi abrigada a enfrentar, apenas para a
sua própria defesa. Por isso mesmo, talvez somente
ela, na Europa, tenha o privilégio de olhar a história
sem sentir remorso!
............Em seguida, o editor
Victor Alegria usou da palavra para enaltecer a vida e a obra
do condecorado.
............Ao finalizar a solenidade,
o Prof. Dr. Ático com muita emoção apresentou
os agradecimentos ao Governo da Romênia pela concessão
de tão honroso titulo, à Embaixada pela realização
do evento, a Thesaurus Editora pelo ininterrupto apoio à
cultura romena no Brasil, finalizando com palavras de gratidão
ao Ex-Embaixador na Romênia, Sua Excelência Jerônimo
Moscardo, cuja interferência junto ao Itamarati foi
decisiva para que o homenageado fosse nomeado Professor de
Cultura Brasileira junto àquela Embaixada e outras
instituições bucarestinas, permitindo-lhe, dessa
forma, o prolongamento de sua permanência na Romênia
a fim de concluir as pesquisas naquele país.
Prof. Ático Vilas Boas da Mota e o presidente
do Instituto Histórico e Geográfico de Montes
Claros, Dr. Dário Teixeira Cotrim.
............Encerrou-se
a cerimônia com um jantar constituído somente
de saborosas iguarias romenas, sendo os convivas sempre orientados
pela embaixatriz Micaela Zamfir, uma inflação
de simpatia, pois ela é natural de Iasi, uma bela e
fidalga cidade romena, província de Mihai Eminescu,
o poeta nacional romeno!
COMEMORANDO
AS BODAS DE CARVALHO
(80 ANOS) AOS 100 ANOS DE IDADE
Avay
Miranda*
Sócio-Correspondente
Brasília/DF
............O
casal Isalino Miranda Costa e Elvira Mendes, de Taiobeiras
terá três eventos inéditos para comemorar,
com os familiares e amigos, entre os meses de dezembro de
2011 e abril de 2012. Ele completará 100 anos de idade,
no dia 2 de dezembro. Ela completará a mesma idade
no dia 17 de abril de 2012 e ambos completarão 80 anos
de casados, no dia 31 de janeiro de 2012. Portanto, Irão
comemorar as
bodas de carvalho.
............A história
do casal começou com o nascimento de Isalino Miranda
Costa, no dia 2 de dezembro de 1911, num sábado, às
9:00 da manhã, na fazenda Riinho, de propriedade de
seus avós paternos, Honorato José da Costa e
Maria Babara de Miranda, sendo o terceiro filho de João
Miranda Costa e Luíza Rosa de Miranda. Com três
meses de idade, foi batizado pelo Padre Salustiano Fernandes
dos Anjos, conhecido como Padre Salu, aos 9 dias março
de 1912, na Capela do Povoado de Taiobeiras, então
Município de Rio Pardo, sendo os padrinhos os avós
maternos Francisco Antônio Ferreira e Tereza Maria de
Jesus. Foi registrado pelo Escrivão Jéferson
Ferreira Soares, no dia 8 de dezembro de 1931, no Cartório
de Paz, do Distrito de Taiobeiras.
............Ele
faz parte de uma família de dez filhos. Pela ordem:
Hermínio, Genoveva, Isalino, Aurino, Alípio,
Floripes, Valdivino, Dalva, José e Maria, enquanto
na Fazenda Furados, de propriedade de Teodoro Ferreira Marques
e Maria Assunção da Cruz, no dia 17 de abril
de 1912, nasceu Elvira Mendes, a nona de uma prole de 14 filhos,
pela ordem: Deraldino, as gêmeas Maria e Maria Criatura,
que faleceram ao nascer, Euclides, Antonino, Plínio,
Alcindo, Jesuina, Elvira, Adelcino, Fidelzina, Mário,
Idalino e Maria Rita.
............Em julho de 1926,
Isalino Miranda perdeu o seu pai, João Miranda Costa,
que faleceu numa viagem a Montes Claros, a cavalo, a procura
de tratamento de sua saúde. Isalino foi administrar
a fazenda com sua mãe, Luíza Rosa de Miranda
e seus irmãos menores.
............Em janeiro de 1927,
faleceu Maria Assunção da Cruz, ainda jovem
com 47 anos de idade, ficando viúvo, Teodoro Ferreira
Marques, que não contraiu novas nupcias, foi criar
a grande prole.
............Isalino Miranda Costa
frequentou a primeira escola de dona Nazinha e seu marido,
Agostinho, em 1919. Esta escola funcionou por pouco tempo
em Taiobeiras. Depois surgiu outra escola, sendo Professor
o Sr. Trajano Rodrigues da Fonseca. Foi o que deixou mais
recordações nele, por ser o mais exigente e
severo. Entretanto, ele teve pouco estudo, uma vez que esteve
na escola apenas por alguns meses.
............Por causa de seus
afazeres na roça, Isalino Miranda não continuou
com os estudos. Entretanto, como é muito inteligente,
interessado e de uma memória prodigiosa, gosta muito
de ler jornais, revistas e livros, o que o levou a adquirir
uma boa cultura e está bem informado dos acontecimentos
nacionais e internacionais.
............Com o falecimento
de seu pai e não tendo sua mãe casado outra
vez, Isalino Miranda Costa assumiu, juntamente com ela, todas
as atividades familiares. Fez várias viagens, às
vezes até à localidade de Serra, para acertar
as contas que as pessoas deviam para seu pai.
............Nesta
ocasião, a sua mãe ainda tinha uma economia
de três contos de reis e resolveu propor ao irmão,
José Antônio Ferreira, conhecido como Zé
Cocá para negociar com este dinheiro e dividir os lucros.
Então o Zé Cocá propôs ao seu sobrinho,
Isalino, uma sociedade com aquele capital. Ele ficaria com
dois contos de reis e Isalino, com um conto de reis, nas mesmas
condições, tudo isto na base da confiança,
sem qualquer documento.
............Em seguida, ainda
em janeiro de 1927, Isalino fez a primeira viagem com seu
tio Zé Cocá e Avelino Rocha, ao Brejo das Almas,
hoje Francisco Sá, para fazer compras de miudezas para
revender na roça.
COMO
NASCEU O CASAMENTO
............Numa
das viagens que fazia, Isalino ouviu o senhor José
Maurício dizer que se ele não fosse tão
novo, queria que se casasse com uma de suas netas. Depois,
pela primeira vez, falaram com ele para casar com uma moça
de uma casa, onde pousava, nas suas viagens, porém,
a recusa foi imediata. Argumentou pela pouca idade e disse
que não tinha condições ainda para casamento.
............Logo depois, Isalino
Miranda Costa fez um passeio com sua tia Selvina, na Fazenda
Estrela, na Matrona e lá ficou sabendo que ia realizar
um casamento, dentro de 30 a 60 dias.
............Não sabia
o porquê de ter surgido um grande interesse de algumas
pessoas para a senhora Selvina participar da festa e que seu
sobrinho Isalino deveria estar presente. Eles foram à
festa e lá ele dançou com uma moça. Depois
apareceu uma irmã da primeira e ele passou a dançar
com ela. Uma terceira moça, irmã das outras
duas, apareceu em sua frente para dançar. Daí
em diante as outras não tiveram mais oportunidade.
Entretanto, na sua simplicidade, o jovem preferido pelas moças
não percebia nada.
............Dias depois a senhora
conhecida por Mariquinha de Valmiral, comunicou ao seu tio
Zé Cocá que a terceira moça queria casar-se
com ele, Isalino. Porém, ele não voltou lá,
pois, ainda não pensava em casamento. Pouco tempo depois,
recebeu outro pedido de casamento.
............Não deixou
de ser uma surpresa, pois não havia nenhum princípio
e nem interesse de namoro. Deste pedido em diante, ele começou
a pensar em casamento, porém, passou a analisar a procedência
e a igualdade das famílias, pois, nunca teve namorada
antes.
............Numa das atividades
com sua mãe, indo para a casa do seu tio Zé
Cocá, no Riinho, em 1931, em meio do carrasco, onde
passavam por um carreiro, que é um desvio, encontraram-se
com o senhor Teodoro Marques, na descida da ladeira do Coqueiro
para o Córrego de Lages, com destino à sua casa.
Como era costume os pais combinar o casamento dos filhos,
ele virou para a dona Luíza e disse: “eu ia lá
em sua casa.” Ela disse, “então vamos voltar?”
Ele respondeu: “o que eu ia falar lá, posso falar
aqui mesmo. Quero lhe pedir este filho seu para casar-se com
minha filha Elvira.”
............Ao ouvir estas palavras,
Isalino tomou um grande susto, pois foi a maior surpresa da
sua vida, uma vez que não houve nenhum motivo para
pensar em casamento com ela, ou com qualquer outra moça
da casa. Porém, o pai da moça continuou a conversa
e disse se der certo, esperava realizar o casamento dentro
de seis meses. Neste momento, sua mãe o interrompeu
e disse: “depende dele”. Consultado, Isalino disse
que ia pensar e depois dava a resposta.
............Pensou
por alguns dias, consultou o seu tio Zé Cocá
e deu resposta positiva, mas, queria construir a casa própria
porque não queria morar na casa do sogro e nem com
sua mãe. Em seis me ses construiu uma casa com cinco
cômodos, perto da casa de sua mãe, na Fazenda
Coqueiro, onde residiu até nascer os três primeiros
filhos: Delcy, Renay e Avay.
............O casamento foi realizado
no dia 31 de janeiro de 1932, na Igrejinha da sede do Distrito
de Taiobeiras, município de Salinas, às 17 horas,
sendo celebrante o Cônego Gilberto, de Salinas, servindo
de testemunhas seu tio José Antônio Ferreira,
o Zé Cocá e Trajano Americano Mendes. O casamento
civil foi celebrado pelo Juiz de Paz José Ribeiro Guimarães,
as testemunhas foram as mesmas e a festa foi realizada em
casa de dona Jovita Rêgo, tia da noiva, num dia de domingo.
A festa constou de muita comida e bebida e durou três
dias.
............Após o casamento,
Isalino e Elvira foram residir no Coqueiro, próximo
à casa de sua mãe. Mesmo casado, foi cuidar
de sua vida, mas, não deixava de colaborar com sua
mãe, nas atividades de administrar a fazenda, além
de cuidar das terras, localizadas no Córrego de Lages,
que a esposa Elvira herdara por falecimento de sua mãe,
Maria Assunção da Cruz, enquanto sua esposa
cuidava da casa e dos filhos, que começaram nascer
no ano seguinte ao do casamento, 1933.
............Deste casamento nasceram
13 filhos: Delcy, Renay, Avay, Doracy, Abias, Nely, Creusa,
Nilda, Zélia, Anísio, Luíza Nilza, Leni
e Elcy.
............Isalino Miranda Costa
sempre se dedicou aos afazeres da Fazenda. Na juventude, trabalhou
com sua mãe na Fazenda Coqueiro. Logo depois do casamento,
em 1933, sua mulher herdou uma Gleba de terras de seu tio
João Mendes Filho, junto com a parte que herdou de
sua mãe, no Córrego de Lages. Em 1937 adquiriu
uma parte da Fazenda Coqueiro, situada no lado direito do
Rio do mesmo nome, limitando-se com as terras de sua mãe.
Nesta Fazenda Coqueiro ele construiu uma casa residencial,
ampliou um pomar, que produzia as melhores frutas e ali instalou
uma fábrica artesanal de cachaça, em 1948, cujo
produto é muito apreciado pelos usuários e atualmente
a fábrica é dirigida pelo seu filho Dezinho.
Em 1954 adquiriu as terras das localidades de Lagoa do Mandacaru
e Barreiro Grande, neste Município. Com o falecimento
de seu sogro, Teodoro Marques, ele adquiriu as partes dos
outros herdeiros e ficou com a sede da Fazenda denominada
Furados, ligando todas as Glebas de terras desta fazenda,
Córrego de Lages e Coqueiro. Tudo isto foi adquirido
com muito sacrifício e economia.
............Em 15.01.1951, ele
efetuou o Alistamento Militar, de 3ª Categoria, cujo
certificado tomou o número 662.538. Em 25.09.1945,
retirou o seu primeiro Título Eleitoral. No dia 27.03.1957
requereu o Título Eleitoral que vinha com a fotografia
do eleitor.
............Já estava
na política e necessitava de aumentar os seus conhecimentos,
frequentou as aulas no Grupo Escolar Deputado Chaves Ribeiro
e concluiu o Curso Primário com média 9, tendo
recebido a Certificado no dia 08.12.1967.
VIDA PÚBLICA
............Um fato que aconteceu
com Isalino Miranda Costa ocorre com poucas pessoas no País,
que é servir nos três Poderes, pois, ele foi
Juiz de Paz, Vereador, Vice-Prefeito e Prefeito, em Taiobeiras.
............Durante o tempo em
que ocupou o cargo de Juiz de Paz, dirimiu muitas dúvidas
e resolveu conflitos e as partes ficavam satisfeitas, tanto
que ele estabeleceu um conhecimento muito grande das questões
jurídicas e foi, por muitos anos, uma espécie
de intermediário entre o povo de Taiobeiras e as autoridades
judiciárias de Salinas. Ele era procurado pelas partes
interessadas e levava as questões para o advogado,
Dr. Morais, em Salinas. Depois do falecimento deste advogado,
o seu filho, Dr. Ivo Morais, ficou como seu interlocutor.
Os advogados encaminhavam os problemas para serem solucionados
pela Justiça. Tudo isto, ele fazia sem nada cobrar
dos interessados.
............Assim,
Isalino Miranda Costa contribuiu para resolver muitos problemas
de terras, inventários, arrolamentos, atritos de vizinhos
e outras questões, pois, naquela época não
havia advogado em Taiobeiras e ele era o intermediário
entre as partes e os advogados em Salinas.
............Ele entrou na vida
pública, por causa de seu dinamismo e honestidade.
Em 1945 Ageu e Sidney Almeida resolveram construir um campo
de pouso de avião, com uma pista de 400 metros de comprimento
por 100 metros de largura em Taiobeiras, porque Natércio
França, do Aeroclube de Montes Claros, havia prometido
se houvesse uma pista daquela dimensão, ele desceria
de avião teco-teco para inaugurar o campo.
............Isalino Miranda Costa
foi procurado por Ageu e Sidney, que propuseram para ele administrar
o serviço, o que foi aceito. Eles foram procurar o
local e o terreno escolhido foi por sua sugestão. Logo
em seguida começou o serviço, no mês de
março de 1945. Um dia de serviço valia na época
5 mil reis e ele propôs pagar um mil reis por hora trabalhada,
de segunda a sexta-feira e apareceu tanta gente que dentro
de 60 dias a pista estava pronta, não de 400 metros,
como programada, mas de 800 metros de comprimento por 100
metros de largura. A nova extensão do campo foi resolvida
no decorrer de sua construção.
............No mês de maio
a pista foi inaugurada pelo avião Teco-teco de Natércio
França e outro, do mesmo tipo, dirigido pelo piloto
conhecido por Pontual.
............Durante o tempo em
que trabalhava na construção do campo, Isalino
teve algumas aulas de Português e Matemática,
ministradas por Ageu e Sidney Almeida.
............Logo depois da construção
do campo de aviação, ele foi procurado pelo
Sr. Arquimedes Moreira de Almeida, que era o chefe político
do Distrito de Taiobeiras, que disse: “Olhe Isalino,
eu quero que você seja o meu substituto na política.
Já estou ficando velho e não aguento mais. Você
fica conosco, que terá apoio total e na primeira eleição
você vai ser candidato a segundo suplente de Juiz de
Paz, pelo PSD”. Sem pensar, Isalino Miranda respondeu
que aceitava, porém, com uma condição,
que na primeira revisão do Estado, fosse feita a emancipação
política de Taiobeiras. Arquimedes Moreira, com sua
característica respondeu: “Por Nossa Senhora,
com você não há obstáculo”.
Naquele momento foi selado o acordo com um aperto de mão.
1 - Foto do casal Elvira e Isalino Miranda.
2 - Fotografia da família em formação.
Da esquerda para a direita:
Teodoro Marques, sua filha Elvira Mendes, com seu 3º
filho no colo Avay, a 2ª filha Renay, Isalino Miranda
e sua mãe Luiza Rosa, tendo no meio o 1º filho
Delcy.
3
- Uma reunião em Belo Horizonte, de Isalino Miranda
Costa e Francisco Vieira dos Santos, com autoridades de Salinas
e o Deputado José Chaves Ribeiro, tratando da criação
das Escolas Reunidas em Taiobeiras, antes de sua emancipação.
4
- Isalino Miranda, quando era prefeito, com o Deputado Cícero
Dumont numa
reunião da CODEVALE em fevereiro de 1972.
5 - Foto das quatro gerações: Assentada, Tereza
Rosa de Jesus, à direita Luíza Rosa
de Miranda, Isalino Miranda, ao lado do filho Delcy e com
o neto Avani.
6 - As quatro gerações, começando à
esquerda, por Luíza Rosa de Miranda, Isalino, seu filho
Delcy, o neto Avani e a bisneta Alba Valéria.
7
- Quatro gerações, começando à
esquerda, pelo patriarca Isalino, o filho Delcy, o neto Avani,
a bisneta Alba Valéria e o trineto João Vitor.
8 - Foto do casal e os filhos, por ocasião das Comemorações
das Bodas de Prata, em 1957.
9 - Foto do casal e dos 12 filhos, por ocasião da Comemoração
das Bodas de Ouro, em 1982.
10
- Foto da família reunida: o casal com filhos, noras,
genros, netos e bisnetos, por ocasião das comemorações
das Bodas de Platina, 65 anos de casados, em 1997.
11 - Foto de parte da família reunida, por ocasião
das comemorações das Bodas de Brilhante, 75
anos de casamento, em 2007.
Fotos deste Álbum de Avay Miranda.
............Veio
a eleição de 23 de novembro de 1947 e Isalino
foi eleito segundo suplente de Juiz de Paz, com 237 votos,
tomando posse no dia 12.12.1947 e em menos de um ano, já
estava bem relacionado com todas as autoridades do Município
de Salinas. Como não tinha prática, pegava orientação
com as autoridades, especialmente o advogado, Dr. Morais e
o Juiz, Dr. Pessoa. Este lhe sugeriu adquirir o livro “Justiça
de Paz”, onde aprendeu tudo sobre Juiz de Paz.
............Na eleição
de 3 de outubro de 1950, foi eleito Juiz de Paz, com 452 votos,
na mesma legenda do PSD. Naquele período fez tudo que
um Juiz de Paz podia fazer. Celebrava casamento, conciliava
as partes em litígio, acertava questões de limites
de terras, problemas familiares, questões de animais,
serviu como Delegado de Polícia e ficou responsável
até pelos Correios e Telégrafos. Era a autoridade
constituída do Distrito de Taiobeiras. Tinha apoio
total, tanto da situação, como da oposição.
............Entre 1951 e 1952,
um deputado conseguiu uma verba Estadual para ampliar a pista,
sinalizar e cercar o campo de aviação. Ele foi
procurado pelo Engenheiro, Dr. Gilberto de Almeida, encarregado
de executar a obra para administrar o serviço. Aceito
o desafio e depois de receber as instruções,
ele enfrentou de novo o serviço do campo.
............Quando terminou o
serviço, foi fazer a prestação de contas,
tendo sobrado um pouco de dinheiro da verba e o Dr. Gilberto
de Almeida disse: “É a primeira vez que vejo
sobrar dinheiro de serviço público”.
............Veio
o processo de emancipação política de
Taiobeiras e ele tomou parte em todas as discussões.
Na última reunião na casa de Idalino Ribeiro,
com a presença do Deputado Federal Clemente Medrado,
do Deputado Estadual José Chaves Ribeiro, de Albino
Teixeira e Conrado Veríssimo de Oliveira, representando
Berizal, em Salinas para definir os limites do novo Município,
somente ele de Taiobeiras que estava presente. Berizal pertencia
a Águas Vermelhas, ainda não era emancipada.
Como Salinas não abria mão de uma parte da Matrona,
ficou acertado que Berizal e a Serra ficariam para Taiobeiras.
............Conrado Veríssimo
de Oliveira e Albino Teixeira não aceitaram os novos
limites e começaram a construir um Grupo Escolar na
Serra, como se fosse no Município de Salinas. Foi necessário
ir um engenheiro para aviventar os limites do Município
para resolver a questão.
............Com a emancipação,
em 1953, Isalino sugeriu mudar o nome de Praça Cel.
Idalino Ribeiro para Avenida da Liberdade, como é conhecida
atualmente. A instalação do Município
se verificou em 1º de janeiro de 1954, com a nomeação
do primeiro intendente Lídio Ituaçu e depois
do segundo, Osvaldo Costa. Aí houve muitas dificuldades
até eleição do primeiro Prefeito do novo
Município.
............Em 3 de outubro de
1954, ele foi candidato a vereador, ainda na legenda do PSD,
que só fez quatro vereadores, sendo ele o mais votado,
com 114 votos. Ficaram na oposição, porque a
facção contrária ganhou a eleição
para Prefeito, com Lúcio Miranda da UDN/PR, mas Isalino
mantinha um bom relacionamento tanto na oposição,
como na situação. Sabia dos segredos de ambas
as facções, mas, não podia revelar a
ninguém. Por sua sugestão, o PSD lançou
o candidato Francisco Vieira dos Santos, porque era vereador
e foi o mais votado do Município de Salinas, no pleito
anterior, ficando Dezinho David na chapa como Vice-Prefeito.
............Na eleição
de 3 de outubro de 1958 foi novamente candidato a vereador
pela mesma legenda, sendo eleito com 74 votos, o mais votado
do Partido. No fim deste mandato, um dia o Dr. Uilton Costa
Mendes o chamou para um passeio. Saíram como se fosse
para a localidade do Mestre. Porém, foram parar próximo
a ponte de madeira do Rio Pardo. Lá, então,
o Dr. Uilton o convidou para passar para o seu grupo, informando
que ele seria, inicialmente, candidato ao cargo de Juiz de
Paz pela UDN. A proposta foi aceita e na eleição
de 7 de outubro de 1962 foi candidato a Juiz de Paz. Como
Jonas Tiago de Oliveira foi o mais votado, ele ficou na suplência,
com 476 votos, mas exerceu o cargo de novo.
............Por ter mudado de
facção política, foi muito criticado
pelos seus antigos companheiros do PSD, mas, ele tinha mais
apoio e era valorizado pelo pessoal da UDN e PR. No fim do
mandato, a UDN passou a ser ARENA. Na escolha de candidatos,
Isalino foi escolhido para Vice-Prefeito na chapa de Uilton
Costa Mendes. Naquela época o vice era votado normalmente
e Isalino foi eleito, com 1.580 votos, em 15 de novembro de
1966, pela ARENA.
............No fim deste mandato,
em 1970, surgiu o mandato de dois anos para Prefeito, sendo
ele o candidato único, tendo como vice, Renato Almeida.
Foi eleito com 1.753 votos. Com esta eleição
completou sete eleições consecutivas: duas vezes
como Juiz de Paz, duas vezes como vereador, outra vez como
Juiz de Paz, uma vez como Vice-Prefeito e uma vez como Prefeito,
encerrando aí a sua carreira política, ao finalizar
o mandato de Prefeito em 1972.
............Embora tenha ficado
apenas dois anos na Prefeitura e recebeu o Município
com um débito muito alto. A Prefeitura estava com as
prestações da Patrol atrasada, assim como várias
prestações do Trator. O orçamento da
Prefeitura era muito pequeno, apenas de Cr$-400.000,00 para
o ano de 1971, mas, o novo Prefeito passou a pagar todo o
débito, pagou todas as prestações atrasadas
e quitou a conta da balança.
............Sua administração
foi das mais progressistas, tendo conseguido muitas obras
para o Município, inclusive, começou a construção
do Hospital Santo Antônio e iniciou a colocação
de meio-fio e implantar o calçamento das ruas centrais
da cidade.
............Encaminhou
o projeto de convênio com o Departamento de Água
e Energia Elétrica - DAE, um Órgão do
Estado, para transferir a responsabilidade da eletrificação
do Município para aquele Departamento. O projeto foi
aprovado e foi ele quem firmou o convênio, somente a
execução do serviço que se verificou
no mandato seguinte, de Dr. Uilton Costa Mendes. No seu mandato,
ele pediu a encampação do serviço de
Água pela Companhia Mineira de Água e Esgotos
- COMAG, o Órgão estadual antecessor da Companhia
de Saneamento de Minas Gerais - COPASA, criada pela Lei Estadual
nº 6.475, de 14 de novembro de 1974.
............Foi o Prefeito Isalino
Miranda Costa que iniciou a arborização das
ruas de Taiobeiras e plantou as primeiras mudas em frente
ao mercado Municipal, numa solenidade, tendo ele plantado
a primeira muda e cada vereador presente plantou uma muda
de árvore. Dona Santa estava presente e também
planou uma muda. Ele conseguiu as mudas em Belo Horizonte
e trouxe no fundo da Rural que a Prefeitura tinha na sua administração.
Foram plantadas, naquela época, as mudas na Avenida
da Liberdade, na Praça José Americano Mendes
e na Praça da Matriz. As palmeiras imperiais da Praça
da Matriz foram plantadas na sua administração.
............Na sua administração
ele mandou desmanchar o Jardim da Praça da Matriz,
construído na época de Osvaldo Costa, para construir
ali o Jardim previsto
no Plano de Engenharia, do Plano Diretor da cidade.
............Na sua gestão,
a Prefeitura adquiriu uma gleba de terras, dos herdeiros do
senhor Elpídio Martins, onde ainda havia uma reserva
de mata virgem natural, abaixo da Escola Estadual Tancredo
Neves e próximo da Vila Cruz. Prosseguiu na construção
de estradas Municipais e na ligação com Rio
Pardo de Minas, construção de prédios
para as escolas municipais, entregou a Prefeitura sem débito
e com saldo em caixa.
............Depois de ter sido
Prefeito, assumiu a direção do Diretório
Municipal da ARENA, transformado em PDS. Continuou dirigindo
o Diretório Municipal, enquanto durou a união
dos compa nheiros. Logo que houve desentendimento entre eles,
deu por encerrada a sua carreira política, ficando
somente a amizade entre todos, especialmente com o Dr. Uilton
Costa Mendes e com o Dr. Geraldo Rodrigues de Oliveira, este
último taiobeirense e Juiz de Direito.
............Isalino Miranda foi
presidente da Cooperativa dos Produtores Rurais de Taiobeiras,
do Sindicato Rural de Taiobeiras, foi Presidente do Mobral
Municipal, da Comissão de Educação Municipal
e presidiu o Conselho Particular São Sebastião
da Sociedade de São Vicente de Paulo.
............É católico
praticante, muito ligado à Igreja, foi auxiliar direto
do Frei Jucundiano Kok e depois do Frei Constâncio.
É fundador da Liga Católica Jesus Maria José
e da primeira Conferência vicentina, ambas em 1938.
............Além dos cargos
enumerados acima, foi o Tesoureiro e praticamente o dirigente
da Liga Católica Jesus, Maria e José, desde
a sua fundação, em 1938, durante 52 anos. Foi
Presidente do Apostolado da Oração, por alguns
anos. Foi Ministro Extraordinário da Eucaristia, no
tempo do Frei Jucundiano e nos últimos dias de sua
vida, foi um dos principais auxiliares daquele sacerdote,
durante sua doença.
............Na ausência
do Frei Juca, celebrava culto na Igreja, juntamente com Elísio
Valter dos Santos, Sizino Araújo dos Santos e Sinvaldo
Mendes Rocha. Foi auxiliar direto do Frei Constâncio
Malles, durante o tempo em que ele atendeu a Paróquia
de Taiobeiras e ficava hospedado em sua casa. Continuou Ministro
Extraordinário da Eucaristia durante alguns anos com
o Frei Salésio Heskes.
............Em 24.12.1971 recebeu
o Diploma de Honra ao Mérito, pelo Ministério
da Educação e Cultura, por ter, como Prefeito,
participado do processo de erradicação do analfabetismo,
pelo Movimento Brasileiro de Alfabetização -
Fundação MOBRAL.
............O Grupo de Jovens
Beija Flor, de Taiobeiras, outorgou-lhe um Diploma de Honra
ao Mérito, em 01.05.1979, em decorrênde sua colaboração
na construção da sede própria, situada
na Rua Bom Jardim.
............Recebeu homenagem
da 50ª Festa de Maio, em 11.05.2006,
prestada pela Prefeitura Municipal de Taiobeiras.
............Em
27.05.2006, recebeu homenagem da Subseção da
Ordem dos Advogados do Brasil de Taiobeiras, pelos serviços
prestados ao Município para a criação
e instalação da Comarca em Taiobeiras.
............Foi homenageado pelo
Tribunal de Justiça do Estado de Minas Gerais, em 01.12.2007,
com a Medalha Desembargador Hélio Costa, pelos serviços
prestados à Justiça de Minas Gerais para a aprovação
e instalação da Comarca de Taiobeiras.
............Em 29.06.2008 recebeu
homenagem da Federação das Ligas Católicas
Jesus, Maria e José, pelos 70 anos de fundação
daquela Liga em Taiobeiras.
............A família
comemorou as Bodas de Casamento mais importantes, como Bodas
de Prata (25 anos), Bodas de Ouro (50 anos), Bodas de Diamante
(60 anos), Bodas de Platina (65 anos), Bodas de Vinho (70
anos), Bodas de Brilhante (75 anos) e está na expectativa
de comemorar as Bodas de Carvalho, 80 anos de casamento, em
janeiro de 2012, juntamente com as comemorações
de 100 anos de idade de Isalino Miranda Costa, em 2.12.2011
e de Elvira Mendes, em 17.04.2012.
............Da união do
casal, nasceram 13 filhos, sendo que 11 deles estão
vivos. Compõem a família, atualmente mais quatro
noras, dois genros, 30 netos, 33 bisnetos, 3 trinetos, doze
noretas e sete genretes e chegou-se à 4ª geração,
com o nascimento do trineto, João Vitor Batista Magalhães,
em abril de 2000, filho da bisneta Alba Valéria Batista
Miranda Magalhães, casada com Roberval Rodrigues Magalhães
Filho, que já tem outra filha, Lara Vitória
Batista Magalhães e o terceiro trineto, João
Gabriel Veríssimo Both, que é filho da bisneta
Marusa Batista Miranda e seu marido Nilmário Pereira
Both.
............O
casal possui descendentes espalhados por várias cidades
do país, além de Taiobeiras, Belo Horizonte,
Diamantina, Governador Valadares, Montes Claros, Teófilo
Otoni, Uberlândia, Petrolina-Pe e Brasília. Entre
os filhos, netos e bisnetos, vários fizeram o curso
superior, como pedagogia, advocacia, enfermagem, agronomia,
línguas, arquitetura, desenho industrial, comunicação,
biologia, administração de empresa, farmácia,
educação física, ciência da informática,
entre outras.
CONCLUSÃO
............Estes são
os traços biográficos do casal que comemorará
as Bodas de Carvalho, em janeiro próximo e 100 anos
de vida de cada um, sendo que ele comemorará no dia
2.12.2011 e ela completará no dia 17.04.2012. Os filhos
e netos, procuram beber nesta rica fonte os ensinamentos de
honradez, honestidade e moralidade. Foi esta linha de atuação
que eles transmitiram aos seus descendentes.
............A família
unida resolveu eleger o período de abril de 2011 a
abril de 2012, como o ano do centenário, durante o
qual haverá diversas comemorações, culminando
com uma reunião da família, parentes e convidados,
nos dias 6, 7 e 8 de janeiro, em Taiobeiras para comemorar
os três eventos.
___________________
*Avay Miranda é taiobeirense, Juiz aposentado e sócio
correspondente do
IHGMC.
JOÃO
EVANGELISTA NETO DA SILVA
JOÃO PINTOR
Terezinha
Teixeira Santos
Sócia Correspondente
Guanambi/Bahia
............Guanambi
ganhou brilho, colorido e alegria quando recebeu de braços
abertos o grande pintor e escultor João Evangelista
Neto da Silva, o famoso João Pintor.
............Com ele veio sua
esposa Georgina Maria de Jesus e seus dois filhos Rosalvo
Evangelista da Silva, também um exímio pintor
e Carmelita Evangelista da Silva, que quando criança
foi para Salvador levada por um casal.
............João Pintor,
natural do distrito de Brejinho das Ametistas, município
de Caetité – Bahia nasceu em 1908, filho de Joaquim
Evangelista da Silva, o seu Quinzinho. Sempre viveu na sua
terra natal, onde tirou proveito de sua infância e juventude.
Mas o destino um dia o fez filho de coração
da nossa Guanambi.
............Desde cedo, João
Pintor revelou suas características de homem inteligente
e sua vocação pela pintura e pela escultura,
desenhando com traços firmes, figuras com expressões
definidas, criadas no seu interior. Seu trabalho ainda em
fase inicial impressionou o Padre Luiz Pinto Bastos (Monsenhor
Bastos) quando o pai do pintor deu-lhe de presente uma imagem
de Santa Terezinha, esculpida hum bloco de tabatinga. O Padre,
encantado com a perfeição da obra, divulgou
o trabalho em diversas paróquias e, com a ajuda do
Bispo da Diocese de Caetité, Dom Juvêncio de
Brito, João Pintor foi levado para Salvador, sendo
matriculado na Escola de Artes Plásticas, onde permaneceu
pouco tempo.
Guanambi
no tempo de João Pintor.
João Evangelista da Silva João Pintor.
Pintura de parede - Casa de Dona Dedé - feita por João
Pintor.
............Manifestando
o seu espírito bucólico, preferiu retornar para
a sua terra natal, viver à maneira do sertanejo, buscar
inspiração nas coisas do sertão, dando
asas a sua imaginação.
............Era João Pintor
dono de mãos hábeis, nas quais prendia um pincel,
que levemente deslizava sobre papel, tecido, parede ou qualquer
outra configuração que lhe oferecesse condição
de registrar a sua criação, quase sempre rebuscando
a natureza, de aspecto inerte ou vivaz, com todos os seus
delicados detalhes. Em cada canto de nossa cidade, via-se
um pedacinho da arte do saudoso pintor.
............Eram de relevante
beleza seus quadros, painéis ou faixas para as festas
religiosas ou profanas. O seu trabalho na preparação
de cartazes anunciando a exibição de um novo
filme foi proeminente e marcante na vida de Guanambi de ontem,
carente de outros meios de comunicações. Eram
realmente convidativos e atraentes, distribuídos e
atados nos troncos de algumas árvores que embelezavam
a cidade.
............Até hoje temos
a glória de contemplar lindos quadros pintados a óleo
pelo nobre pintor na grande sala do sobrado, pertencente à
família Joaquim Domingues de Souza, situado na Praça
da Bandeira, nesta cidade, o que constitui uma exímia
e verdadeira obra prima.
............A sua habilidade
e sua maneira simples de viver eram retratados na beleza dos
seus trabalhos e na perfeição de suas obras.
............João Pintor
apreciava as cores fortes, e nos seus trabalhos dava preferência
às variedades de flores.
............Assim
que enviuvou, deixava transparecer a sua grande paixão
e sua eterna saudade da mulher amada, demonstrando na própria
fisionomia o desencanto pela vida. Tornou-se uma pessoa triste
e deprimida, procurando aliviar sua dor nas baforadas do seu
inseparável cigarro denso e tosco.
............Além da pintura,
passava horas esculpindo pedaços de madeira, transformando-os
em figuras de vultos importantes ou de imagens de santos protetores,
trabalhos que o imortalizaram no mundo das Artes Plásticas.
............Uma manhã
chuvosa, dia 4 de novembro de 1993, lhe trouxe a morte. Partiu
o velho pintor ao encontro de sua musa.
Oscar Lorenzo Fernândez - Patrono
............Oscar
Lorenzo Fenândez nasceu no Rio de Janeiro em 04 de novembro
de 1.897, vindo a falecer no dia 27 de agosto 1948, aos 50
anos. Filho de pais espanhóis, ainda rapaz começou
a tocar nas festas dançantes do centro galego. Deixou
a faculdade de medicina para seguir o seu impulso criador
musical, tendo ingressado na escola nacional de música
(Universidade Federal) em 1917. Após um curso de raro
brilhantismo em 1923, substituia seu mestre na catedra de
harmonia, contraponto e fuga e composição. Aos
20 anos estréia no cenário artístico
internacional, tirando o 1º prêmio com a sua composição
“Trio Brasileiro” que mereceu de Mário
de Andrade a seguinte crítica. O trio brasileiro revela
um artista em plena posse e emprego de sua personalidade poderosa.
Nele, Lorenzo Fernândez, inteiramente convertido nos
tipos melódicos e ritmicos nacionais, criou uma obra
de suma importância que não só marca a
etapa definitiva de sua carreira como serve para marcar uma
data na evolução musical brasileira. É
vastissimo o catálago de suas obras, sinfônicas,
camerísticas e para canto, piano, etc. Representou
o Brasil várias vezes no exterior como regente à
frente de várias orquestras e como conferencista. Sempre
esteve na liderança de associações coletivas
como a sociedade de cultura musical, acadêmia brasileira
de música. Foi fundador da revista ilustração
musical. Foi com Villa Lobos fundador do Conservatório
Brasileiro de Música no Rio de Janeiro, onde imprimiu
com sua força, dianamismo e brilho o êxito dessa
instituição educacional que se mantém
na liderança artística nacional há mais
de 50 anos. Pelo Conservatório Brasileiro de Música
passaram grandes nomes de compositores e interpretes fazem
a história da música brasileira dos nossos dias.
Lorenzo Fernândez casou-se com Irene Sotto e deixou
dois filhos, Oscar e Marina. Seu sucesso maior foi o do reisado
do pastoreio suíte em três partes que contém
o famoso batuque que encantou Toscanini e Koussevitzky. O
Conservatório Estadual de Música Lorenzo Lornândez,
inaugurado em 14 de março de 1961, foi nomeado em sua
homenagem. Como professor e educador deixou saudades. Como
criador permanece vivo. Marina Lorenzo Fernandez é
filha de Orcar Lorenzo Fernandez.
BIBLIOTECA
DO INSTITUTO HISTÓRICO E
GEOGRÁFICO DE MONTES CLAROS
LIVROS
RECEBIDOS
- O Sertão Norte-Mineiro - Antônio Ferreira Cabral.
Editora Polígono.
Montes Claros. 1985.
- Capitão Enéas: um Mauá no Norte de
Minas - Antônio Ferreira
Cabral. Ed. Litterra Maciel Ltda. Belo Horizonte. 1985.
- A Injusta Justiça - Antônio Ferreira Cabral.
Ed. Polígono. Montes
Claros. 1996.
- O Poder Feminino - Antônio Ferreira Cabral. Ed. Millennium.
Montes Claros. 2008.
- Um Poema Para Eulina - Dário Teixeira Cotrim. Ed
Cotrim/Millennium.
Montes Claros. 2011.
- O Cemitério das Loucas - Dário Teixeira Cotrim.
Ed otrim/Millennium.
Montes Claros. 2010.
- Além do Plenário - Presidentes da Câmara
Municipal de Belo Horizonte - 1936 a 2008.
- Rio São Francisco: vapores & vapozeiros - Domingos
Diniz/ Ivan
Passos Bandeira da Mota e Mariângela Diniz. Pirapora
- MG.
- Ciclones e Macaréus: o parlamentar na história
de Belo Horizonte.
-
As Dores da Seca - Terezinha Teixeira Santos. Ed. Giordani.
Guanambi - Bahia. 2010.
REVISTAS
RECEBIDAS
- Revista Integração - oferecimento do confrade
João Martins.
Guanambi - Bahia
- Revista Imagem - oferecimento do editor. Caetité
- Bahia.
- Revista da Arcádia de Minas Gerais. Volume V - novembro
de
2009. Oferecimento do confrade Daniel Antunes Junior.
- Revista da Arcádia de Minas Gerais. Volume VI - novembro
de
2010. Oferecimento do confrade Daniel Antunes Junior.
- Revista do Instituto Histórico e Geográfico
de Minas Gerais. Volume
XXXII - maio de 2009. Oferecimento do confrade Daniel Antunes
Junior.
- Revista do Instituto Histórico e Geográfico
de Minas Gerais. Volume
XXXIII - dezembro de 2009. Oferecimento do confrade Daniel
Antunes Junior.
- Revista da Câmara Municipal de Belo Horizonte. Lei
Orgânica
20 anos.
OBJETOS RECEBIDOS
- Um machado de pedra dos índios Botocudos, encontrado
nas margens do rio Verde Grande, no ano de 1975. Oferecimento
de Geraldo Alcântara.
- Um pilão de pedra dos índios (Conforme texto
de Simeão Ribeiro Pires, nesta Revista).
- Um canhão de guerra, doação da família
do Dr. Simeão Ribeiro Pires.
ÍNDICE
Diretoria
do Instituto Histórico e Geográfico de Montes
Claros - 3
Lista de Sócios Efetivos do IHGMC - 5
Apresentação - 9
Homenagens - 10
Dário Teixeira Cotrim
Memória de Montes Claros – 13
Dário Teixeira Cotrim
Canhão de Guerra - 18
Fabiano Lopes de Paula
Dois Construtores do Futuro - 21
Felicidade Patrocínio
Yara Tupynambá – 28
Geralda Magela de Sena Almeida e Sousa
História Repetida num Dia da Pátria –
39
Haroldo Lívio
O Fundador de Jornais – 43
Haroldo Lívio
Esboço de Konstantin – 46
Itamaury Teles de Oliveira
Ao Mestre Konsta, com Carinho – 49
Juvenal Caldeira Durães
Coisas do Passado III – 54
Karla Celene Campos
Homenagem a Konstantin:
O Doce Sabor da Stevia e o Canivete Suíço –
60
Lázaro Francisco Sena
A Banda de Música do 10º Batalhão –
62
Maria da Glória Caxito Mameluque
A Célebre Justiça da Vila Risonha de São
Romão – 71
Marilene Veloso Tófolo
Terezinha Vasquez – 77
Marta Verônica Vasconcelos Leite
O Turismo e o Patrimônio Arqueológico:
Uma Possibilidade de Desenvolvimento Sustentável –
82
Milene Coutinho Maurício
Doutor Coutinho – 106
Miriam Carvalho
A Menina Clarice - 113
Petrônio Braz
Análise de Comportamento em “Tutameia”
– 117
Reginauro Silva
Encontro Cadavérico – 122
Roberto Pinto da Fonseca
Histórico dos Municípios do Norte de Minas –
124
Ronaldo José de Almeida
O Velho Mercado – 142
Simeão Ribeiro Pires
Descobertas Indígenas em Montes Claros – 146
Wanderlino Arruda
Konstantin Christoff e Samuel Figueira – 149
Wanderlino Arruda
Doutor Rameta e “Os Meninos do Sapé” –
151
Zoraide Guerra David
Preito ao Padre Murta – 154
Zoraide Guerra David
Parabéns ao “Jornal De Luz”! – 160
Ático Vilas Boas da Mota
Condecorado um Membro do Instituto Histórico
e Geográfico de Montes Claros – 163
Avay Miranda
Comemorando as Bodas de Carvalho (80 Anos)
Aos 100 Anos de Idade – 166
Terezinha Teixeira Santos
João Evangelista Neto da Silva - João Pintor
– 184
Homenagem ao Conservatório Estadual de Música
Lorenzo Fernândez – 188
Biblioteca do Instituto Histórico e Geográfico
de Montes Claros - 190
Impresso
na oficina da
GRÁFICA EDITORA MILLENNIUM LTDA.
Rua Pires e Albuquerque, 173 - Centro
39.400-057 - Montes Claros - MG
E-mail: mileniograf@viamoc.com.br
Telefax: (38) 3221-6790
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e Geográfico de Montes Claros,
Rua Santiago Piaçenza, 757 - Bairro de Lourdes
39400-000 - Montes Claros - Minas Gerais
E-mail: ihgmc@gmail.com - Site: www.ihgmc.art.br
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