Page 123 - VIVENDO E APRENDENDO
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WANDERLINO ARRUDA
gratificantes de um jovem que alcançava a idade adulta, já hóspede
em hotel, com uma individualidade e uma privacidade nunca antes
imaginadas como morador de pensões.
No Hotel São José, cuja placa dizia o maior e o melhor, ser
hóspede já era um grande privilégio, marcava, quer queira quer não,
um status de matar de inveja os estudantes de repúblicas, ou aqueles
que viviam desprezados nas casas de parentes, muitos em barra-
cões de fundo de quintal. Foi lá que tive, pela primeira vez, um quarto
só meu, com pia e guarda-roupa, inicialmente, no térreo, do lado de
dentro do pátio, na ala da praça Cel. Ribeiro, e, depois, no primeiro
andar, quase de frente para os dois mais importantes endereços: os
apartamentos de Ademar Leal Fagundes e do diretor do DNOCS, o dr.
José Correia Amorim Sobrinho. Foi uma melhoria de situação social
que quase não tinha limites, quando comprei, duas calças de tropi-
cal, uma meia dúzia de camisas, novas meias e... realização de velho
sonho, um rádio de segunda mão, rabo quente, que tocava músicas
e dava notícias todas as manhãs.
O Hotel São José era um mundo à parte, bom, alegre, im-
portante, chique, principalmente depois que “seu” Juca assumiu a
direção e realizou uma grande reforma. A saudade marcada com a
ausência de D. Laura foi compensada com a elegância de D. Emília
e a descontraída presença dos filhos, principalmente de uma menina
que era a mais bonita da rua Doutor Santos, a Mercesinha, já quase
em início de namoro com o João Walter Godoy. Zé de Juca, Lauro,
Bernadete, todos eram também bastante simpáticos com os hos-
pedes. A hora do jantar era quase sempre uma festa, exigindo-se a
melhor roupa de cada participante do banquete diário, uma etiqueta
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