Page 120 - VIVENDO E APRENDENDO
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VIVENDO E APRENDENDO
dos, quase que de centímetros, tão curtas eram as dimensões pelo
lado de dentro e pelo lado de fora. Quando passava de uns cinco
fregueses, necessário era que alguns já ficassem de pé, no passeio,
encostados ou não na parede velha e pintada de verde. Havia umas
duas mesas pequenas e algumas cadeiras para o pessoal que gosta-
va de jogar damas, tomando cerveja ou bebendo pinga.
Foi por volta de cinquenta a cinquenta e um que o Vadinho,
Vadiolano Moreira, chegou a Montes Claros, um dos poucos rapazes
de Taiobeiras que não veio para cá para estudar, mas, para ganhar
dinheiro. Renato, Murilo, Nenzinho, Dedé, Valtinho, Alfredão, Tone,
Quincas, eu, todos nós viemos para enfrentar a realidade e os sonhos
dos livros. Vadinho não. Vadinho veio para trabalhar muito, trabalhar
dia e noite, trabalhar o quanto fosse necessário para ficar rico, se
possível muito rico. Foi assim que o Vadinho botou o olho no Bar
Guarani, simpático, gostoso, e não teve dúvida, ali estava a primeira
mina de sua vida montes-clarense.
Nunca conheci melhor comerciante que o Vadinho. Costumo
dizer que, se ele instalar um boteco, um barzinho ou mesmo um res-
taurante encima de um pé-de-mandacaru, ainda assim teria constan-
tes e eternos fregueses e amigos para todas as horas. É que ele vive
cada momento, participa interessadamente de todos os assuntos,
respeita reverente a alegria ou a tristeza de todos que dele se apro-
ximam. Quando o Vadinho comprou o Bar Guarani, fez as primeiras
mudanças, ampliou-o com mais um espaço lateral, foi como se uma
luz nova iluminasse a paisagem e iniciasse um novo sistema viven-
cial para velhos e novos, pobres e ricos, principalmente para os que
gostavam de futebol e de cervejas e batidas de limão. Por lá passa-
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