Page 131 - VIVENDO E APRENDENDO
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WANDERLINO ARRUDA
men, vendo do outro lado bons colegas de trabalho, tendo como
destaque em mais de meio auditório o charme de Ângela Momm.
Curioso que tenha prevalecido em grande parte a cor verme-
lha, um vermelho forte, vivo, flamejante. Entre nós, e muito feliz, de
vestido, bolsa e sapatos vermelhos, a Ivone. iria, mais feliz ainda,
com um rosa choque que, à luz da noite, ninguém diria que não era
vermelho. Valquíria, Daniel, Eduardo, Roberto, Cardenas, todos de
camisas vermelhas. O Carlos, não sei se menos ou mais, também
com vários detalhes de vermelho. Quando acende a iluminação do
palco, o fundo espouca em vermelhidão intensa, vivíssima como um
campo de luta, formando conjunto com o foco avermelhado que ilu-
minou Bibi durante todo o tempo. Em contraste, como num romance
francês, o negro das roupas do luxo e da pobreza que, de início,
apavoram a consciência e a visão do espectador. Para compor, de
nosso lado, a negritude da camisa do muito mineiro Moacir. De lá e
de cá sempre o negro e o vermelho.
A voz de Bibi Ferreira, a presença, os gestos, o pessimismo,
o lado difícil da vida que ela faz explodir a todo instante, o minúscu-
lo físico sem nenhum traço de beleza, tudo marca a alma de Edite
Piaf. É Piaf purinha com a visão de contemporaneidade, é realmente
como se estivéssemos em presença dela. Aliás, mais do que isso: as
duas, se parecem, quase uma mesma pessoa, todas duas famosas,
marcadas visivelmente pela muita idade, com desgaste que a própria
vida artística impõe e provoca. A voz, a princípio, miudinha, pedindo
desculpas por existir, de repente enche e preenche o ambiente e vai
tomando volume, ganhando corpo, envolvendo, límpida, num cres-
cendo admirável como se representasse toda a força da sonoridade
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