Page 129 - VIVENDO E APRENDENDO
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WANDERLINO ARRUDA
Falando nestas coisas, lembro-me com saudades de uma
experiência que tive em 1979 bem no século passado, no Rio de
Janeiro, período em que ministrava um curso de Linguística para ad-
ministradores do Banco do Brasil. Sempre que chegava do almoço,
via no elevador, nos corredores e na entrada do auditório do Centro
de Treinamento um vasto mundo de mulheres elegantes e bonitas,
lindas-lindas, cada uma mais educada do que a outra. Num local
em que a grande maioria era sempre de homens, aquela quantidade
de belezas no mínimo parecia curioso, logo não tardando as expli-
cações: estava sendo realizado ali um curso de etiqueta com uma
professora da Socila, contratada pelo Banco para treinamento das
secretárias de alta direção. Era isso a razão do belo visual e de toda
finura de trato. Reunião de alta importância, reunião de gente fina,
o que é outra coisa. Time de primeira linha, mesma professora que
treinava as equipes internacionais da Varig.
Dispondo da metade do tempo, pois só lecionava pela ma-
nhã, por um caminhão de razões, não tive outro jeito senão pedir ao
chefe Dalton, que por sua vez pediu à elegante professora, para que
eu fosse aceito como ouvinte e fiel observador de todas as lições.
Imagine, minha senhora, que situação! Um homem só no meio de
quarenta mulheres mais do que civilizadas. Mesmo pegando o bon-
de já em meio de caminho, não houve alternativa, tive que aprender
tudo ou quase tudo. É que nas discussões sobre o papel da mulher,
nunca pude deixar de representar o papel do homem, estabelecer o
contraste de posições. Por mais educação que houvesse, foi briga
de nunca acabar: “machista chauvinista, representante da tradicional
família mineira, bandido!” Foi um sucesso de aprendizagem. E como!
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