Page 36 - VIVENDO E APRENDENDO
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VIVENDO E APRENDENDO
São João do Paraíso e não tem onde acabar, e opera com habilidade
para captar o flagrante do cotidiano, com a luminosidade, a nitidez
e o ângulo recomendados pelos manuais da arte de bem fotografar.
Neste livro, ele abdicou de seu direito de selecionar a matéria
e cedeu a incumbência a leitores, inovando. Franqueou seu arquivo
de recortes a colegas de magistério, que lecionam na Universidade
do Banco do Brasil, o Departamento de Seleção e Desenvolvimento
(DESED), e pediu-lhes que fizessem a triagem das crônicas. A rigor,
creio sinceramente, caberia aos integrantes da luzida equipe a honra-
ria do prefácio. Porém, o Autor, que é dado a atitudes que fogem ao
convencional, escolheu um dos muitos personagens do livro anterior
para prefaciar a obra.
Só tem que isto aqui não é prefácio, segundo a forma tradicio-
nal, significando apenas mera apresentação da obra, despojada da
ambição de analisá-la com profundidade e erudição. Neste volume, o
cronista edita o que é reputado de mais valioso em sua obra (inédita)
de colaborador da imprensa, e o faz muito bem, porque receia que
toda essa produção se perca na efemeridade do jornal, que depois de
lido vai para a pilha de papéis usados, cai no esquecimento.
Sobre a natureza descartável do que sai nos jornais, recordo
ao leitor um episódio ocorrido na juventude do romancista Ernest
Hemingway. Aconselhado pela escritora norte-americana Gertrud
Stein, ele abandonou o jornalismo e abraçou a carreira literária. Ela
simplesmente o convenceu de que o jornalismo é como o texto es-
crito de giz, no quadro-negro. Basta passar a esponja para que desa-
pareça ao passo que o livro é feito para ficar, para ser lido, guardado,
relido, guardado...
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