Page 39 - VIVENDO E APRENDENDO
P. 39
WANDERLINO ARRUDA
menos se espera, vem um detalhe pitoresco e pura surpresa. A Rua
Dr. Santos, que homenageia o médico Antônio Teixeira de Carvalho,
conhecido como Doutor Santos, era o caminho do menino Wanderli-
no Arruda. Passava indo e vindo, seja como comerciário, seja como
trabalhador da notícia, ou morador de uma pensão naquela rua, e
depois do Hotel São José, sendo capaz de, fotograficamente, de-
senhar com palavras cada edificação, detalhando os personagens
dentro dela. O Mercado Central, ser inanimado, ganha vida, cheiros
e balbúrdia, nas lentes amorosas de Wanderlino Arruda, que lhe vê
grandioso, bem construído, cheio de atrativos, ainda que consistisse
num ambiente infecto, verdade relativamente ocultada, já que o amor
tende a minimizar qualquer falta de qualidade.
A energia, vitalidade e jovialidade de Wanderlino Arruda sa-
be-se de onde vêm, da sua literatura e vice-versa. Um alimenta o
outro de forma siamesa. Ainda que o toco que ficava em frente à sua
casa tenha ganhado ares de protagonista vivente, seu entusiasmo é
grande quando fala das pessoas que admira. Há um crescendo no
encontrar as palavras exatas, chegando-se ao apogeu de materia-
lização corporal e psicológica, através da sua fácil adjetivação. Os
colegas do Colégio Diocesano, alguns compenetrados com os es-
tudos, outros não, a solenidade no trato com os mestres, pessoas
austeras, distantes, exceto monsenhor Gustavo, um doce de pessoa,
estão lá, nos escaninhos da saudade. O Clube Minas Gerais ganha
destaque em sua memória, por ser próximo ao local onde o menino
Wanderlino Arruda fora morar quando aqui chegou. O lugar luxuoso,
cheio de glamour, mistérios, música, jogo, mulheres e frequentado
pelos homens de dinheiro, atiçava a imaginação e curiosidade do
39