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VIVENDO E APRENDENDO
que tinha na época dezoito anos, número da minha diferença de ida-
de com ela. Casou-se com treze, e eu só vim nascer cinco anos de-
pois, ela praticamente sem experiência de lavar e limpar menino. Aí,
Silvina chegou para cuidar de tudo, da casa e do filho. Começando
por mim, toda a filharada dormia no mesmo quarto que Silvina. Ela
carregava e lavava os urinóis, dava banho, vestia as roupas, pentea-
va os cabelos, dava os remédios, ensinava a rezar, dava verdadeiras
aulas de religião, pois sabia quase tudo de bíblia. Aprendemos a co-
mer pelas mãos dela, que adorava fazer capitão e colocar na boca de
cada um. Nunca nos deixou esconder carne debaixo do angu, nem
comer com uma colher maior do que as dos outros, porque saber vi-
ver honestamente era coisa séria. Sabia muito da história hebraica e
cristã, porque, criancinha na casa de um parente (Clemente Batista),
ele lia a Bíblia em voz alta e gostava de comentar tudo para que todos
guardassem na memória. E Silvina guardou tudo na consciência e
no coração, tornando-se assim uma competente professora de fé,
de uma didática que nunca esquecemos, principalmente Nair e eu,
os mais velhos.
As roupas dela foram sempre diferentes, preferindo um tipo de
saia comprida com franzidos e pregas, além de um babado na barra.
A blusa sempre branca, que ela chamava de camisa de morim ou de
americano, conforme o tecido. As saias podiam ser de qualquer cor,
quase sempre escuras, de um só tom, que podiam ser pintadas com
tintol em água fervendo. As blusas, com gola arredondada, eram em-
belezadas com rendas de vários modelos, que ela mesma fazia na
almofada de bilros. Para ir às missas, aos domingos, só serviam as
saias e camisas consideradas novas, pois tinha que ser roupa de ver
Deus. Depois de lavadas com sabão feito por ela mesma, com óleo
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