Page 59 - VIVENDO E APRENDENDO
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WANDERLINO ARRUDA
do aí punhais de bronze e de prata. Foi minucioso o seu planejamento
e realização da nossa primeira viagem de turismo: preparou, com ab-
soluto conforto e decoração, um enorme carro de bois, com um guia
andando a pé, que nos levou – ele, minha mãe, Nair, Derci e eu – para
uma visita a Condeúba, na Bahia, onde ficamos hospedados numa
casa de três moças muito bonitas e de fino trato. Foi lá que minhas
irmãs e eu experimentamos pela primeira vez o gosto de azeitona e
leite condensado… Pelo menos duas vezes por ano, fazíamos via-
gens às fazendas dos velhos Vicente Arruda e João Morais, quando
nossas avós Senhorinha e Ritinha se desdobravam em ordens para o
capricho das cozinheiras no fogão a lenha e no forno. Para as visitas
a melhor galinha ao molho pardo e o melhor bolo de farinha de trigo
ou de mandioca puba, coco ralado por cima.
Quando moramos em Coqueiros, foi grande a sua luta para que
eu aprendesse a tocar cavaquinho. Chegou a contratar um professor
particular com várias horas de aula por dia. Mas não passei da pri-
meira posição, aquela em que a gente firma as cordas com os dedos
da mão esquerda e sacode os da direita para tirar os sons do “besta
-é-tu”. Valeu, porque aprendi o do, ré, mi, fá, sol, lá, si, tornando-me
quase um intelectual em música. Foi voltando de Coqueiros para o
São João, em 1941, que vimos e ouvimos passar o primeiro avião,
um barulho de assombrar todo tipo de viventes. A notícia que correu
depois é que haviam morrido duas pessoas: um rapaz correndo de
medo, caiu numa cisterna, e uma velhinha que, assando biscoitos,
resolveu se esconder dentro do forno em brasa. Duas vítimas do
progresso dos tempos de guerra…
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