Page 73 - VIVENDO E APRENDENDO
P. 73
JOÃO MORAIS, MEU AVÔ
Abílio Morais
e todas as pessoas que tenho conhecido mais de perto, o ve-
lho João Morais, meu avô, parece ter sido o único homem a
Dviver oitenta e muitos anos de alegria em tempo integral. Era
assim como se tivesse carteira assinada numa firma de felicidade,
com todos os direitos, menos o de ficar triste e de deixar de ser
alegre. Era, não tenho dúvida, como um papai Noel de ano inteiro,
a distribuir presentes de fraternidade a todas as criaturas. Fazia ele
da convivência de todos os dias um painel harmonioso e de rica
sabedoria.
Conheci-o desde os meus primeiros anos, em sua fazenda
perto de Salinas, numa casa sede que ficava rodeada de pomar e
jardim, entre o “Ribeirão”, de águas cristalinas, e a estrada princi-
pal, onde ninguém tinha direito de passar sem uma visita ainda que
ligeira. Ali, cada visitante era recebido prazerosamente e, depois dos
cumprimentos de praxe, levado para lavar a poeira do rosto, tomar
café-com-leite e biscoitos de tapioca e participar de uma gostosa
73