Page 78 - VIVENDO E APRENDENDO
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VIVENDO E APRENDENDO
Era no centro da praça que os fereiros da roça amarravam
cavalos e bois e meu padrinho Antônio Pena realizava as cavalhadas,
a dança de trança-fitas e o teatro de rua. Num deles, fiz o papel de
filho de Otacione, que atuava como um fazendeiro rico e podero-
so. Era também no meio da praça, que a meninada pulava corda,
brincava com bolinhas de gude, jogava futebol com bola de pano
e as companhias armavam os circos, para onde todo mundo tinha
que levar as cadeiras. Foi imitando um salto mortal de um trapezista
palhaço, que ralei o nariz e dei o maior trabalho a Silvina e D. Anália,
minha mãe, por uma semana de curativos. Levou anos para acabar a
vermelhidão. Como a praça ficava num alto, era uma maravilha con-
templar o verde dos canaviais localizados depois do rio, onde havia
um engenho, uma fábrica de rapadura e de marmelada, além de um
alambique de fazer cachaça, tudo pertencente a Clemente Batista.
Um panorama de verdadeiro luxo, que a geração mais nova não pôde
conhecer!
Volto aos moradores da praça do mercado, porque foram eles,
os seus nomes, os seus jeitos de ser que marcaram a minha infância,
a forma em que comecei a ver o mundo e todas as suas injunções.
Artur Trancoso, por exemplo, foi um quase vizinho de que nunca me
esqueci. Filho do major Pedro de Almeida, morava na esquina, ao
lado da casa de D. Elvira, mãe de Regina. Será que era importante
porque gostava de violão e tocava muito bem, chegando a atrair os
rapazes para as farras? Para mim, ele era realmente um sucesso de
vida, tanto que depois de ser secretário da prefeitura por convite do
doutor Osório, chegou ao cargo de prefeito em 1951, mesmo ano
que cheguei para trabalhar e estudar em Montes Claros. Outra pes-
soa que aviva a minha lembrança é o de Dionísio Santos, o primeiro
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