Page 82 - VIVENDO E APRENDENDO
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VIVENDO E APRENDENDO
Nítida a lembrança de uma figura interessante, o açougueiro
Otacílio Serafim, na esquina de Antônio Capuchinho, e do sacristão
do padre Horácio, chamado Bertolino Cruz, um homem bom que
ajudava, nas missas, batendo o sino e sacudindo um turíbulo que
cuspia fogo. Revejo, como se fosse hoje, o elegante e bonito padre
Horácio, velhinho italiano de cabelos branquíssimos, sempre muito
querido. Havia uma história de que ele tinha morado no México e
voltado para a Itália, para depois vir para o Brasil e trabalhar no Rio
Grande do Sul com o bispo Dom João Pimenta, que o trouxe para Rio
Pardo, ao mesmo tempo que assumiu a diocese de Montes Claros.
Vivi com intensidade os passeios pela casa de Maria de Silvina, na
Argola, estrada que ia para a fazenda de doutor Osório, onde, aos
domingos, comprávamos de João de Nico um pé de jabuticaba todo
carregado por cinco mil réis e comíamos até ficar entupidos. Entre o
desfilar de memórias, o meu apelido de “padre Horácio”, posto por
Antônio Batista, pelo fato de meus cabelos serem quase da cor dos
dele, ou seja, de um intenso louro esbranquiçado, coisa de guri bran-
quelo. Que bom lembrar do meu São João em plena primeira metade
do Século XX, um tempo de sonhos mais que coloridos, dias e tardes
de mil seduções, imensa multidão de encantos. Tudo inesquecível e
grato à alegria do viver e conviver!
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