Page 83 - VIVENDO E APRENDENDO
P. 83
MEU PROFESSOR JOAQUIM ROLLA
inha primeira lembrança é do dia em que meu pai me condu-
ziu para a sua escola, na rua de baixo. Foi no início de 1942,
Macredito no mês de janeiro. O mestre Joaquim Rolla vestia
uma bata de professor de cor clara, não sei mais se branca ou em
tom cinza. Um homem alto, magro, rápido nos passos, olhar firme
e penetrante o tempo todo, com uma régua de madeira, pronta para
descer no lombo de quem não estudasse direito ou não desse as
respostas certas nos algarismos ou na pronúncia das palavras. No
bolso, um lenço grande para secar o cuspe e limpar as lousas que
todo nós tínhamos desde o primeiro dia de aula.
As lousas, também chamadas de pedras, eram de ardósia,
com moldura de tábuas, utilizadas dos dois lados com lápis do mes-
mo material. Serviam para escrita de pequenos textos e principal-
mente para as contas, somas, subtrações, multiplicação e divisão.
Os exercícios eram tantos, que nenhum pai podia comprar todos os
cadernos necessários, naquele tempo muito caros. Com seis meses
de aprendizagem, eu multiplicava e dividia por doze números, coisa
difícil de fazer hoje até com as maquininhas eletrônicas. As somas
chegavam a trinta parcelas, conferidas pelo menos duas vezes para
evitar o impacto da régua e da palmatória. Só não apanhávamos, se
tudo estivesse certo para merecer nota dez. Um nove dava puxão de
orelha e coques na cabeça.
83