Page 88 - VIVENDO E APRENDENDO
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VIVENDO E APRENDENDO
ajuizado, o defensor intransigente do patrimônio, já quase em ponto
de se casar, o Armindo Morais. Todos contam, ainda hoje, da peque-
na viagem, como uma grande saga, um ato de alegre heroísmo, um
descontraído sacrifício de velhos e jovens, de patrões e agregados,
Mamãe conta que, mesmo nas paradas para o descanso das mulas
de carga, o sanfoneiro tinha de tocar e a dança era obrigatória. Para
qualquer fomezinha, morria logo uma leitoa, o arroz com carne, cozi-
nhava fumegando de gostoso. Todos gozavam a vida e só o Armindo
dava o toque de responsabilidade no verdadeiro serviço, só ele co-
mandava para assunto sério.
Conto esta estória para dizer que talvez tenha sido nesse im-
previsto contrarrevolucionário de 1926 o grande início de vida do
meu Tio Armindo, um homem de sessenta anos de trabalhos, do dia
que se entendeu por gente até a hora final por acidente numa fazenda
do Pará. Todo o tempo de sua existência foi tempo sem férias ou fe-
riados e, como não podia deixar de ser, a última viagem era também
de serviço. O melhor descanso – dizia – era um bom exercício, uma
atividade para ocupar a cabeça, dar tratos ao juízo. Quando sentiu
terminar sua tarefa de fazer as fazendas de Salinas, Cachoeira de
Pajéu e numa espécie de sesmaria que comprou de Filomeno Ribeiro
pelas bandas do Rio Ribeiro pelas bandas do Rio Caititu, pulou de
fronteiras e iniciou um novo império nas matas da Amazônia. Não
era homem de pequenos lotes de terra, era um bandeirante e um
colonizador.
Foi conversando com Tio Armindo, aconselhando-o e dele re-
cebendo conselho, interrogando-o sempre sobre a importância de
terra e da vida, sobre a pragmática do trabalho e a vantagem de saber
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