Page 93 - VIVENDO E APRENDENDO
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MUDANÇA PARA SALINAS









                    ensando em tempos de hoje, setenta e sete anos depois, foi
                    uma multidão de sonhos o preparo para a mudança para Sa-
              Plinas, cidade que eu já conhecia nas viagens a cavalo, garupa

               do meu pai e de Tio Abílio. Lá era muito grande, o maior município
               de Minas Gerais, cidade que tinha um coronel, a exemplo de Pedra
               Azul, Rio Pardo e Montes Claros: o coronel Idalino Ribeiro, compadre
               do governador Benedito Valadares, pai de deputado, riquíssimo, dono
               de minas de pedras preciosas, a casa assobradada mais bonita da
               região. Salinas tinha juiz de direito e promotor de justiça, um enorme
               grupo escolar, uma igreja do tamanhão do mundo com padre holan-

               dês.
                     Salinas tinha sorveterias, padarias e armazéns grandes, e até
               lojas com vitrines, papelarias que vendiam papel carbono, lápis de

               cor,  cadernos  importados  e  até  livros  escolares,  enquanto  o  São
               João,  cidade  recém-emancipada,  tinha  interventor  nomeado  pelo
               Governo do Estado, em Salinas o prefeito era escolhido em eleição
               administrada pelo Juiz. Tudo, tudo mais moderno, que aguçava por
               demais as minhas ideias. São João tinha só um sapateiro, um selei-
               ro, um salão para fazer cabelo e barba. Uma vez houve um furto em
               uma casa e, pela primeira vez, ouvi a palavra ladrão, o que foi uma

               grande novidade. Fiquei doido para ver, porque queria saber como

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