Page 94 - VIVENDO E APRENDENDO
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VIVENDO E APRENDENDO

          seria um ladrão, que diferença teria de uma pessoa normal. Pelas
          notícias, Salinas tinha era muitos, havendo até um prédio da cadeia,
          com grade de ferro e soldados de vigia. O que eu mais precisava era

          me preparar para tantas novidades, ênfase para tomar sorvete bem
          geladinho em taças de vidro.

               Agora, pensando em termos de perdas e ganhos, o que eu ia
          perder, deixando São João do Paraíso para trás? Muitas coisas, pelo
          menos algumas. Por exemplo, o doce de marmelo feito em tacho de
          cobre e guardado em caixas de madeira. A gente olhava a parte que
          ia comer. O doce de goiaba com casca e semente, adoçado com
          mel de jataí. O pão sovado que não era feito em padaria, assado em
          forno de adobe, esquentado com toras de jatobá. A praça de São
          João, onde nasci era todinha gramada, tão grande que era lá que
          armavam os circos e instalavam os parques de diversão, feita do

          tamanho certo para ter cavalhadas duas vezes por ano. Melhor ainda:
          era lá que meu padrinho Afonso Pena, de quatro em quatro meses,
          apresentava seu teatro de rua, em que Otacione e eu éramos atores,
          ele o pai, eu o filho, todas as falas mais do que decoradas. São João
          tinha o marido de D. Adelina, Leonídio Capuchinho, com toda fama
          de sabido, porque escrevia com caneta Parker e era maçom, mestre
          de todos os segredos, coisa rara em qualquer lugar. Do lado de cima

          da praça, o consultório e a farmácia do dr. Osório Rocha, formado na
          Universidade da Bahia, a melhor do Brasil, diploma que tinha antes
          do nome dele o “doutor” escrito por extenso, por causa da defesa de
          tese. A fama era de ser o melhor médico, de dar a consulta e fazer o
          remédio, só superado por um ou outro de Belo Horizonte.





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