Page 99 - VIVENDO E APRENDENDO
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WANDERLINO ARRUDA
Tudo representava uma experiência incrível, principalmente no gosto
de ler, escrever e fazer discursos. Ainda bem novo, sem completar
quinze anos, era eu autor de palavras cruzadas, bom fazedor de cha-
radas, reconhecido por habilidade na escrita Morse, mesmo sendo
o meu trabalho, no correio, feito por telefone. Era mestre na arte de
engraxar, de vender biscoitos, fumo de rolo e pinga, e por correr de
bicicleta e ganhar campeonatos em jogos de pião. Por ter aprendido
muito de filosofia, história e até de política em conversas de botecos
e de farmácia, considerava-me – sem favor de terceiros - um hábil
intelectual, e muito pouco me prendia às pregações do jovem padre
Newton D’Ângeles, culto e admirado, mesmo sendo a religião o meu
centro de interesse. Só faziam sentido as leituras que me atendessem
à curiosidade e pudessem marcar um mínimo de lógica na liberdade
de pensar e agir, nenhuma peia para o livre arbítrio, que eu ainda nem
sabia o que era. Por muitas vezes ao entrar em conversas de adultos,
fui repreendido e até censurado, nem sempre com educação, minha
ou dos concorrentes nas ideias.
Com certeza e muito encanto, mesmo com o calendário uns
quarenta anos depois, continuo ligado a Mato Verde já cidade, área
urbana incomparavelmente maior, muito mais recursos, mais esco-
las, muito mais nomes de pessoas, bem mais sobrenomes de fa-
mílias. Queiramos ou não, o viver e conviver acabam sendo uma
curiosa reescrita, fatos e personagens se superpondo, ganhando as
mesmas tonalidades, repetindo os mesmos gestos, desenhando ma-
pas bem parecidos.
Concluo as minhas lembranças, dizendo o que escrevi o pre-
fácio do livro de Jorge Luiz Almeida, nada difícil de esquematizar,
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