Page 112 - VIVENDO E APRENDENDO
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VIVENDO E APRENDENDO
vesse minerando ouro ou falseando diamantes. Aí, Pedro Martins de
Sant’Ana era o mestre do bom gosto.
Lembro-me de que o professor Pedro Sant’Ana era bom, hu-
milde quase nunca, algumas vezes arrogante, consciente do seu pró-
prio valor durante todo o tempo. Jamais concedia a si mesmo uma
dúvida por menor que fosse. Era um monumento de saber, na His-
tória, nas Ciências Naturais, no Inglês. Primeiramente na História. Aí
era inesgotável sua eficiência. Falava dos Césares e dos Antoninos,
de Aníbal e de Alexandre, de Ramsés ou de Napoleão, de Gêngis Kan
de César Bórgia como se fosse ele, Pedro, colega de campanha ou
vizinho deles. Como percorríamos as ruas de Atenas e de Esparta,
de Roma e de Alexandria, de Tebas ou Jerusalém, vivendo suas pa-
lavras! Com Pedro Sant’Ana, lutamos em Dardanelos, corremos em
Maratona, navegamos no Rio Nilo, atravessamos o Mar Vermelho,
fizemos nossa a Mesopotâmia!
Pedro Sant’Ana, que grande professor! Não me consta que ja-
mais tenha trabalhado pelo ordenado, pelo vil dinheiro, somente pelo
pão de cada dia. Trabalhava muito mais pelo entusiasmo, pela visão
multissecular dos heróis da História, pela experiência milenar dos
sábios. Alimentava-se, parece, pela retórica, tendo, como material
da vida, a palavra, a palavra viva, sonora, marcante nas consciências
jovens. Para nós, seus alunos, o verdadeiro descobridor do Brasil,
o homem que abria as selvas, rasgava estradas, construía escolas,
levantava templos, era ele Pedro Sant’Ana, o grande Pedro. O mestre
com carinho de um velho guerreiro!
Pedro Sant’Ana, sem favor nenhum, teve outro mérito: culto,
vibrante, polêmico, destemido, desaforado, foi um dos dez melhores
oradores da história de Montes Claros. Merece um lugar importante
em nossa galeria de personagens!
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