Page 114 - VIVENDO E APRENDENDO
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VIVENDO E APRENDENDO
Padre Marcos, para a Pensão de D. Tonica, lugar de gente muito mais
séria. De lá para a Loja Imperial, durante o dia, ou para o Colégio
Diocesano, durante a noite, era um pulinho, e bem a salvo da malan-
dragem ou da perdição... Assim era mais seguro, pensava ele.
Engraçado é que, apesar de todo esse cuidado, por ser eu ami-
go de Aníbal Rego, que, por sua vez, era amigo de Ana Reis, raro
foi o dia em que eu não passava pelo Alhambra, para ouvir rádio ou
escutar conversas do mulherio de luxo, não sei que tempo eu en-
contrava para isso. O cassino eu via por cima, da sacada, lá dentro
a orquestra ou um tipo de conjunto musical dirigido por Godofredo
Guedes, um mestre da clarineta, a dedilhar e soprar boleros, tangos e
velhas músicas de jazz. Com dezesseis anos apenas, entrar na festa
estava fora de qualquer cogitação. Este direito ficava com os rapa-
zes mais velhos como Geraldo Borges, Geraldo Avelar, Dudu Cunha,
Ildeu Gonzaga, Carlúcio Athayde, ou meninos ousados como Bebeto
Prates.
De todos os frequentadores das casas de mulheres, o mais
importante, o maior galã, era Dudu Cunha. Rico, bonitão, vivia a épo-
ca de ouro dos donos de caminhão. Na noite em que ele chegava de
Taiobeiras, toda a Pensão de D. Ismênia só falava nas suas aven-
turas, no cuidado que ele tinha com as roupas, com os sapatos,
com o perfume, no demorado barbear. Os filhos de Nego do 0, que
vinham de Salinas, Gildásio Ramos, que parece, já morava em Mon-
tes Claros, todos ficavam alvoroçados para acompanhá-lo, tirando
uma casquinha do seu sucesso. Era um espetáculo para todos nós,
os mais novos, mais sensacional do que um episódio de seriado
do Cine Cel. Ribeiro. Dizem que, com Dudu, até Nivaldo e Benedito
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