Page 109 - VIVENDO E APRENDENDO
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WANDERLINO ARRUDA

               de nós. Ninguém fugia da luta, tirar o corpo de banda, em qualquer
               tarefa, era um sacrilégio. Matar aulas era pecado capital. Durante a
               semana não valia nem cinema nem namoro. A ordem era estudar!

               Uma única transgressão era permitida e só ao Miranda, porque ele
               havia inovado o sistema, inventado uma saída, namorando com a
               professora Lourdes, inteligentão que era. O Dezinho Dias, já mais
               velho um pouco, falava de fazendas, de vez em quando. O Raimundo
               Santana era um importante, pois tinha bicicleta e tomava uísque an-
               tes das provas de matemática. Ivan impunha grande respeito: de vez
               em quando jantava em restaurante, sábado à noite depois do grêmio.

               A maioria, como eu, não tinha dinheiro nem para picolé ou quebra-
               queixo, e quando muito, bebíamos caldo de cana. Cafezinho era luxo!
                     Professor bom mesmo era o Pedro Santana, vibrante, grã-fi-
               no, dominante nas cadeiras de História, Ciências e Inglês, um terror

               para quem não tivesse as matérias na ponta da língua, a capacidade
               de responder, falando ou escrevendo, sem gírias. Pedro era tão im-
               ponente, que não repetia ternos e gravatas durante um mês, cada
               dia uma nova cor, hoje um três-botões, amanhã um jaquetão, tudo
               dentro do melhor figurino de Vavá ou Wilson Drumond. O cabelo, ah!
               O cabelo era que merecia o maior cuidado! A barba, de um barbear
               diário na barbearia de Antônio Guedes, com massagem facial, na

               mesma hora em que também estavam sentados os grã-finos Júlio
               de Melo Franco e Nelson Vianna, fregueses de manhã cedinho. Errar
               com Pedro ou com o Padre Agostinho – outro elegante – era imper-
               doável. A nota menor que um bom aluno podia tirar era dez. O nove
               era um feito vergonhoso!





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